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\JNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA CURSO DE ODONTOlOGIA BIBlIOTECA PROF, DR. FRANCISCO G. AY11RO No.~9~L,8'2 DATAQjOS:,O.9 Nossos conhecimentos basicos acerca do crescimento e desenvolvimento craniofacial sao fundamentais para 0 diagn6stico, planejamen- to, tratamento e avalia<;;aodos resultados da te- rapia ortodontica. As complexas modifica<;;6espor que passam os diferentes segmentos corp6reos do indivi- duo nas distintas fases de sua vida, nos orien- tam para tipos diversos de tratamento, com aparatologia ortodontica ou ortopedica ade- quada ao caso, visando a urn progn6stico favo- ravel da correr;ao. Sucedendo-se, no tempo e no espa<;;o,a co- ordena<;;ao perfeita de fatores de incremento e desenvolvimento craniofacial, caminhamos para 0 estabelecimento da oclusao dental, inse- rida em uma bem proporcionada face. A rigor, como profissionais da saude que somos, compete-nos uma supervisao peri6dica destes eventos, a fim de que possamos prevenir ou interceptar desvios da normalidade inci- pientes que, se nao tratados precocemente, po- derao evoluir para displasias esqueleticas de maior ou menor gravidade. As mas posir;6es dentais muitas vezes encon- tram-se associadas a irregularidades no posicio- namento espacial da maxila e da mandibula e destes ossos com a base do cranio, refletindo-se diretamente nos objetivos do tratamento. Cres- cimento e desenvolvimento craniofacial dentro dos padroes normais sao essenciais para uma harmoniosa estetica facial. I-CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO E claro que nao podemos compreender os processos correlatos de crescimento e desenvol- vimento do cranio e da face, se nao nos repor- tarmos aos conceitos basicos de crescimento e desenvolvimento, que muitas e frequentes ve- zes sao tornados num mesmo sentido. E preci- so, como assevera Tood, diferencia-los, pois que, enquanto 0 crescimento representa urn aumento de volume permanente e irreversivel, porem limitado, no tempo e no espa<;;o,em du- ra<;;aoe grandeza, 0 desenvolvimento nada mais e do que urn progredir no sentido da maturida- de. Urn exemplo claro destes dois fenomenos nos e dado pelo crescimento do cerebro que se completa precocemente na vida p6s-natal; po- rem 0 desenvolvimento de suas fun<;;oespsiqui- cas s6 e alcan<;;ado tardiamente. Contudo, a complexa natureza destes processos biol6gicos nos mostra que crescimento e desenvolvimento sao fenomenos praticamente inseparaveis, ra- zao por que seus termos sao comumente torna- dos como sinonimos. A atividade fisico-quimica formadora, teori- camente igual em todos os sentidos, deveria tornar as celulas esfericas, como e 0 6vulo. To- davia, pressoes mutuas e necessidades funcio- nais diversas condicionam urn crescimento em determinada dire<;;ao, assumindo as celulas as mais variadas formas. Os fenomenos de crescimento que se pas- sam nos tecidos tambem sao validos para os 6rgaos e para todo 0 soma, pois 0 aumento do tamanho corp6reo decorre do aumento de suas partes constituintes. Estes fatos enunciados sao de grande impor- tancia clinica para 0 entendimento, como vere- mos mais adiante, das modifica<;;oesvetoriais do crescimento. o aumento da massa celular nao e ilimita- do, pois, enquanto 0 volume cresce com 0 cubo, a superficie cresce com 0 quadrado (Fig 2.1). Ha, por esta razao, uma progressiva redu- <;;aoda superficie absorvente, para as trocas metab6licas, em rela<;;aoa massa. A superficie absorvente nao sendo suficiente para as suas necessidades assimiladoras torna a celula ma- dura e portanto pronta a dividir-se (Lei de Spencer). Como vimos, crescimento significa aumento do volume, quer devido a multiplica<;:aocelular, quer devido ao aumento do volume celular. 0 Fig. 2.1. Esquema mostrando que se a superficie absorvente da ce/ula for insuficiente para as trocas metab6/icas, h6 a divisoo celular. V3 volume celular crescendo com 0 cubo e 5' superficie celular crescendo com 0 quadrado. crescimento do todo e devido, em ultima analise, ao crescimento das partes. Daf poderemos dizer que os tecidos crescem devido aos seguintes pro- cessos: hiperplasia, hipertrofia e hipertrofoplasia. { - Hiperplasia Proc~ssos de _Hipertrofia crescrmento _Hipertrofoplasia A hiperplasia consiste no aumento do nume- ro de celulas; a hipertrofia no aumento do tama- nho da celula ou da massa de substancia inter- celular por ela produzida; f a hipertrofoplasia na a<;:aoconjunta e coordenada dos dois proces- sos assinalados. Ainda com referencia ao cresci- mento dos tecidos e dos orgaos e necessario que se fa<;:areferencia a tres outros processos: intersti- cial, aposicional e intersticioaposicional { -Intersticial Proc~ssos de _Aposicional crescrmento _Intersticioaposicional o crescimento intersticial consiste na anexa- <;:aode novos elementos celulares nos interstfci- os dos ja existentes. A maioria dos tecidos cresce desta maneira - exemplo 0 tecido epitelial. o crescimento aposicional baseia-se na ane- xa<;:aode novos elementos em camadas super- postas aos ja existentes. It 0 caso tfpico do teci- do 6sseo (Fig. 2.2). Fig. 2.2 . Esquema mostrando a crescimento em largura do ossa, cujo mecanismo baseia-se na aposic;iio (+) de novas camadas na superficie externa e reabsorc;iio (-) na superficie interna. No crescimento intersticioaposicional os dois processos anteriormente citados funcionam co- ordenadamente como ocorre, por exemplo, nas cartilagens, onde notamos crescimento aposicio- nal as expensas do peric6ndrio e intersticial a custa de prolifera<;:aoe divisao celular dentro de sua matriz. Este crescimento e, pois, diverso do crescimento osseo, unicamente aposicional. Isto porque, a medida que a matriz ossea vai sendo elaborada pelos osteoblastos (celulas formado- ras do osso) , estes vaGse enclausurando no inte- rior do novo tecido ca1cificado, ficando impossi- bilitados de se multiplicar. It de se notar que 0 tecido cartilagfneo, por ter a possibilidade de crescer aposicional e in- tersticialmente, tern sua velocidade de cresci- mento maior que a do tecido osseo, razao por que ele situa-se nas areas denominadas de areas de ajuste incremental. As diferentes partes do corpo humano cres- cern com diferentes velocidades. Estas se modi- ficam com a idade. As propor<;:oes sao obtidas porque os tecidos e orgaos crescem com dife- rentes ritmos e em diferentes epocas. Embora o crescimento seja urn processo ordenado, ha momentos em que ele se intensifica e outros de relativa estabilidade. o crescimento de urn organismo caracteri- za-se por altera<;:oes progressivas da forma e das propor<;:oes tanto internas como externas. It 6bvio que 0 crescimento uniforme jamais poderia produzir modifica<;:oes de tal ordem, uma vez que a diversidade morfologica resulta das diferentes velocidades de crescimento que operam nas varias partes e dire<;:oes.Essas ve- locidades podem variar, num mesmo indivf- duo, de acordo com as circunstancias, porem as propor<;:oes do aumento de suas partes sao relativamente constantes. Sao essas rela<;:oesfi- xas que produzem uma forma final semelhan- te nos inumeros indivfduos de qualquer espe- cie, a despeito do fato das distintas partes cor- poreas aparecerem e crescerem em epocas di- ferentes. Scammon e colaboradores mostra- ram, no esquema que se segue, 0 crescimento diferencial dos diversos tecidos organicos, agrupados em quatro padroes razoavelmente distintos: padrao geral, padrao neural, padrao linfatico e padrao genital (Fig. 2.3). %200 / \ If \ J \ J ~ I \ I \ I J "I "-. ~ --- / ~ I /~/ I / I I / I I I I II J I / ./"....",.,. .....-- Tipo Linf6ide _ Tipo Neural _ Tipo Geral Tipo Genital _ 6 8 10 12 14 16 18 20 idade em anos Fig. 2.3. Crescimento e Desenvolvimento Geral do Corpo. Gr6(Ico de Scammon relativo ao crescimento diferencial de distintos tecidos orgonicos, denominados tip os. o padrao geral engloba ossos, musculos e visceras que crescem mantendo uma certa pro- porcionalidade com 0 crescimento das dimen- soes externas e massa corporea. o padrao neural esta representado pelo ce- rebro, medula espinhal, bulbosoculares, par- te do ouvido interno e neurocranio, os quais crescem muito rapidamente antes do nasci- mento e durante os primeiros anos de vida. o padrao linfatico abrange timo, linfonodos, tonsilas e tecidos linfoides do tubo digestivo. To- das estas estruturas saGproeminentes no recem- nascido, crescem rapidamente durante 0 periodo da infancia e atingem 0 tamanho maximo urn pouco antes da puberdade. 0 timo e as tonsilas, apos a puberdade, entram em involw;,:ao. No padrao genital os ovarios, testfculos, or- gaos reprodutores acessorios e a genitalia exter- na crescem lentamente durante a infancia e ra- pidamente no periodo da puberdade. Segundo Graber, 0 neurocranio se ajusta ao quadro de crescimento neural; 0 esplancnocra- nio (face) ao padrao geral. A base do eramo, pela sua complexidade, pode possuir fatores ge- neticos intrinsecos assim como urn padrao de crescimento semelhante ao esqueleto da face, pelo menos em algumas de suas dimensoes. Se as celulas pudessem viver sem sofrer as influencias ambientais, ou pelo menos em am- biente favor<lve1constante, a sua capacidade multiplicativa seria inexaurivel e 0 crescimento infinito. Com efeito, nas culturas in vitro, onde se tern urn ambiente favoravelmente constante, a multiplica<;,:aocelular e ilimitada. Varios tipos de tecidos tern sido mantidos em culturas por urn tempo muito maior que a dura<;,:aoda vida do individuo de onde foram retirados, conser- vando a mesma velocidade inicial de multipli- ca<;,:ao,0 que equivale a dizer, produzindo enor- me massa celular. Entretanto, esta imponente energia de desenvolvimento vai decrescendo e depois de atingir urn determinado limite cessa, regulando-se assim a forma e 0 volume dos in- divfduos. A limita<;:aodesta energia, no tempo e no espa<;:o,e, em parte, devida as in£luencias frenadoras do meio, porem sempre fixadas para cada especie pela hereditariedade. Portan- to, os fatores do crescimento, ou da constru<;:ao corp6rea, sao de duas categorias a saber: pri- manos e secundarios. . { primarios Fatores de crescrmento d' . secun anos A -Primarios: relacionados a hereditariedade que provoca 0 embalo evolutivo inicial, intervindo no prosseguimento do fenomeno, condicionando e deterrninando as diferen<;:asetnicas e sexuais. Do ponto de vista genetico e conveniente lembrar que uma ligeira altera<;:aona constela<;:aode gran- de numero de genes pode ter considecivel efeito sobre 0 crescimento das diversas partes do corpo (efeito que pode ser grandemente in£luenciado por fatores externos, tal como a nutri<;:ao),ou a acentua<;:aoprogressiva de urn efeito primario do desenvolvimento. Assim, a altera<;:aodo gene que controla 0 desenvolvimento das cartilagens pode revelar-se por enorrnes modifica<;:oesem quase todos os sistemas corp6reos, como ocorre no na- nismo acondroplistico. Os fatores geneticos que controlam 0 cres- cimento 0 fazem pelo menos parcialmente, atuan- do sobre 0 metabolismo das ceIulas em multi- plica<;:ao (alterando suas exigencias nutritivas, varian do a capacidade das ceIulas de aproveitar certas vitaminas). Estes fatores geneticos sao, presumivelmente, responsaveis por perturba- <;:oesno controle que os 6rgaos end6crinos exercem sobre os processos de crescimento, e pelas altera<;:oes na sensibilidade dos tecidos que respondem a estimula<;:aohormonal. B - Secundarios: dentre os multiplos fatores se- cundarios que in£luem no crescimento corp6reo e preciso citar: a idade dos genitores e sua even- tual consangiiinidade, 0 tipo de funcionalidade sexu- al da mae, primiparidade ou multiparidade (du- ra<;:aoda pausa entre os perfodos gravfdicos); con- dir;oes socioeconomicas dos genitores (alimenta<;:ao, repouso ou trabalho durante a gravidez, trabalho industrial, envenenamentos profissionais, etc.); as doenr;as (sobretudo a tuberculose e a sffilis); as intoxicar;oes (alcoolismo), etc. As doen<;:ase as into- xica<;:oespodem atingir os gerrnes nos primeiros escigios do desenvolvimento (blastoftoria) ou atuar sobre a mae e 0 filho durante toda a gesta- <;:ao(embrioftoria). a vida p6s-natal e mister considerar, alem das condi<;:oessomaticas prO- prias do indivfduo recem-nascido (prematuro, macrossomo, microssomo, mediossomo), a disto- cia (parto diffcil), a localidade (se marftma ou continental, montanhosa ou planfcie, cidade ou campo), 0 clima e as esta<;:oes.Outros fatores - os culturais - como as condi<;:oessocioeconomi- cas, a alimenta<;:ao, considerando-se nao s6 a quantidade e a qualidade das protefnas, gorduras e carboidratos, mas tambem as substancias qufmi- cas, minerais-calcio, f6sforo, potissio, s6dio, iodo, ferro, magnesio - as vitaminas, a habita<;:ao(ilumi- na<;:ao,aera<;:ao,espa<;:o),os misteres e profissoes e o exercfcio fisico. Dentre as doen<;:asque influen- ciam 0 crescimento temos de mencionar aquelas que atingem popula<;:6esinteiras (b6cio endemi- co, malaria, etc.) 0 adenoidismo (hipertrofia do anellinfatico da regiao farfngica) provoca dificul- clade respirat6ria com conseqiiente deformidade craniofacial. A minora<;:ao respirat6rio-circulato- ria perturba 0 crescimento geral, que se torna deficicirio nos seus tres aspectos: morfol6gico, funcional e psfquico. Os fatores primarios e secundarios, que in- £luem no desenvolvimento corp6reo, podem ser assim catalogados: Constituiyio (fator genetico) - Toda e qual- quer especie animal tem velocidade e limite de crescimento com caracterfsticas pr6prias. Sob identicas condi<;:6esde desenvolvimento a veloci- dade de crescimento e aproximadamente a mes- ma para todos os indivfduos de uma mesma espe- cie. Por isso 0 tamanho final atingido varia muito pouco. Esta particularidade e devida a urn padcio genetico que governa 0 crescimento com uma ve- locidade bisica e definida para a divisao celular. Temperatura - Dentro de certos limites, a velocidade de crescimento varia com as tempe- raturas. Cada especie tern seu desenvolvimento controlado por uma temperatura maxima e' mfnima, alem ou aquem das quais 0 desenvolvi- mento cessa. Em algum ponto, dentro dos limi- tes maximo e mfnimo, acha-se a temperatura mais favoravel para 0 desenvolvimento. Nutri~iio - Durante a vida do indivfduo, novo protoplasma deve ser criado, e os acidos aminados constituem 0 material de constru<;:ao empregado para as sfnteses das protefnas. 0 organismo humano pode fabricar alguns de seus pr6prios acidos aminados, porem outros devem ser obtidos das protefnas alimentares. Alguns acidos aminados favorecem 0 cresci- mento, mas nao intervem na diferencia<;:ao teci- dual. A quantidade e a qualidade dos alimentos que sao consumidos durante e ap6s 0 perfodo do crescimento exercem profunda influencia sobre a velocidade de crescimento e 0 tamanho do corpo. Sabe-se, por exemplo, que 0 melho- ramen to da nutric;:ao que vem ocorrendo nos pafses ricos e industrializados leva a uma acele- rac;:aodos processos de maturac;:ao do corpo. A velocidade de crescimento da crianc;:adimi- nui progressivamente desde 0 momenta do nasci- mento. Por unidade de peso corp6reo a crianc;:a necessita de muito mais alimento do que 0 adul- to. Urn homem adulto em atividade moderada necessita, aproximadamente, de 40 calorias por quilo de peso (supondo-se a unidade cal6rica in- cluindo todos os alimentos necessanos); uma cri- anc;:a,durante 0 seu primeiro ano de vida, neces- sita pelo menos de duas vezes mais calorias. As deficiencias nutricionais, por fome ou por doen- c;:a,exercem efeito deleterio sobre 0 crescimento da crianc;:a,podendo resultar no nanismo. Fatores embriomirios - Os tecidos cultivados in vitro crescem melhor e mais rapidamente quando se adiciona ao meio nutritivo sueos ou extratos embrionarios, que funcionam como fatores de acelerac;:ao do crescimento. Esses ex- tratos aumentam 0 numero de mitoses e dimi- nuem 0 tempo gasto para cada mitose. Fatores hormonais - Algumas das secrec;:6es hormonais elaboradas pelas glandulas end6cri- nas saD reguladoras do crescimento, e destas, as mais importantes saD: hormonio do crescimento (somatotrofina, elaborada pela adeno-hip6fise),hormonio tir6ideo e os hormonios gonadais. A somatotrofina controla 0 crescimento dos tecidos corp6reos, aparentemente por estimulac;:ao da sfntese proteica e a partir dos acidos aminados. A somatotrofina e capaz de estimular 0 crescimen- to de indivfduos mantidos em dietas que, sem 0 hormonio, nao cresceriam absolutamente. Quan- tidades excessivas de somatotrofina, atuando em certas fases do crescimento, podem provo car dis- rurbios do desenvolvimento que se revelam como gigantismo ou acromegalia. Esta, resultante de urn excesso de estimulac;:aoap6s a puberdade, caracte- riza-se por crescimento exagerado das maos, pes e mandfbula. No gigantismo, que e devido a urna superestimulac;:ao pela somatotrofina ocorrendo antes da puberdade, os ossos longos sao afetados anteriormente ao fusionamento das suas epffises, alongando-se exageradamente, embora sem qual- quer outra maior deformidade esqueletica. As secrec;:6esda tir6ide modulam 0 metabolis- mo de todos os tecidos e e quase certo que a normalizac;:ao do crescimento e diferenciac;:ao de- pendem da sua ac;:aonormal. A insuficiencia tirof- dea durante a meninice conduz as perturbac;:6es ffsicas e mentais denominadas cretinismo. Os dis- rurbios mentais dos cretinos sao decorrentes do insuficiente desenvolvimento dos axonios e den- dritos dos neuronios corticais, bem como de alte- rac;:6esda vascularidade do c6rtex cerebral. Os hormonios gonadais exercem acentuada influencia sobre 0 crescimento do corpo. 0 an- dr6geno estimula a sfntese tecidual em geral, e, na epoca da puberdade, responde pelo desen- volvimento dos caracteres sexuais secundarios do indivfduo do sexo masculino. 0 estr6geno inibe 0 crescimento, provavelmente por acelera- c;:aodo processo de fusionamento epifisario. Alguns dos hormonios adrenocorticais (co- mo a cortisona) sao tidos como inibidores do crescimento, funcionando como antagonistas da somatotrofina da adeno-hip6fise. 6 - CRESCIMENTO FiSICO E DESENVOLVIMENTO o crescimento ffsico esci intimamente relacio- nado a altura, peso, velocidade de crescimento, puberdade, enfim, ao crescimento organico e corp6reo. Por sua vez, 0 desenvolvimento, como pondera Arey, associa-se a urn processo gradual para se alcanc;:ar urn fim estrutural e funcional, ou seja, urn progredir no sentido da maturidade. Como assevera Moyers, nem todos os indivfduos com urna determinada idade cronol6gica estao em urn mesmo escigio de desenvolvimento biol6- gico. Daf a proposic;:ao de diferentes idades de de- senvolvimento tais como a idade esqueletica ou 6s- sea (IE) relacionada a calcificac;:aocarpal; a idade denciria (ID) associada a calcificac;:ao,erupc;:ao e completac;:ao dental; a idade cronol6gica (IC) ba- seada no numero de anos ou meses contados a partir do nascimento e a idade mental (1M) calca- da na maturidade intelectual do indivfduo. A regulac;:ao dos eventos de crescimento e desenvolvimento apresentam significativo di- morfismo sexual. Assim e que as meninas pa- ram de crescer e amadurecem mais precoce- mente que os meninos. Segundo Woodside, os momentos de maior intensidade de crescimento diferem nos meni- nos quando comparados as meninas. Embora seja aos 3 anos que notamos os maiores incre- mentos primarios de crescimento em ambos os sexos, e aos 6 e 7 an os nas meninas e aos 7 e 9 anos nos meninos, que observamos 0 segundo momenta de intenso crescimento. Dos 11 aos 12 anos nas meninas e dos 14 aos 15 an as nos meninos e que constatamos a terceiro periodo de crescimento (Fig. 2.4 A e B). Curvas de Velocidade Maxima de Crescimento para Mulheres I 1 I I i I---- - ---~I-- ---t--'- - I I \1 /' ....•.. J )",,1 ./ I \ I ! ! I •••..... I I , II Estes fatos apontados tern significativa im- portancia cIinica, como veremos adiante. Curvas de Velocidade Maxima de Crescimento para Homens I ! --~ ._-- --- j r I r \ V \ / I\. /1 "I !I II I I Fig. 2.4. A. CUfVasde velacidade maxima de crescimenta de interesse dinica, para mulheres, evidencianda as tres periados de acelera~ao do evento (aproximadamente entre 6, 7 e /2 anos), segundo Woodside. B. Curvas de velocidade maxima de crescimento de interesse dinico, para homens, evidenciando os tres periodos de acelera~ao do evento (aproximadamente 7, 9, /5 anos), segundo Woodside. 8 - DIVISAO CRONOLOGICA DA VIDA HUMANA A historia fisica do homem, au melhor, a historia de sua vida fisica, e semelhante a da maioria dos vertebrados superiores, caracteri- zando-se par continuas modifica<;oes do seu ci- cIo vital, que se inicia com a ova fecundado e termina com a morte. 0 tempo de dura<;ao do cicIo, variavel com a hereditariedade, a ra<;a,a sexa e as condi<;oes mesologicas, pode ser divi- dido em periodos au fases, a saber: A - Periodo pre-natal ou de vida intra-uterina - correspondendo a fase do desenvolvimento an- terior ao nascimento. Este periodo tern a du- ra<;ao de 10 meses lunares (cerca de 280 dias contados apos a inicio da ultima menstrua<;ao, au 266 dias contados da data presumida da ovula<;ao) au de 9 meses solares. Pode ser sub- dividido nas fases seguintes: a) Ovo ou germe, que se estende da anfimixia (copula dos gametas) ate a fase de segmenta- <;ao (cIivagem), a que dura cerca de 14 dias. b) Fase embrionaria (vai do 14° dia ate 0 fim do segundo mes), que se inicia com a forma<;ao do disco embrionario e termina quando as principais orgaos do corpo come<;ama diferenciar-se. Nesta fase da vida, as melhores indica<;oessabre a idade do embriao sao fomecidas pelo seu aspecto exter- no e organiza<;ao estrutural. A mensura<;ao do embriao fomece dados muito menos precisos. c) Fasefetal (inicia-se no 60° dia e se estende ate a completa<;ao do feto), durante a qual se diferenciam as principais sistemas e orgaos, bem como se estabelece a forma externa do corpo. Esta fase pode ser subdividida em pas- embrionaria, que se estende do 60° dia ate 0 fim do 6° mes solar, e fetal propriamente dita (de maturidade relativa), que do 7° mes e se esten- de ate a fim do 9° mes solar. Durante 0 periodo germinal, 0 ova goza de urn estado de vida aut6noma, mas passa para a vida parasitaria cia logo se inicia a fase embrio- naria, prolongando-se ate a fim da fase fetal. Terminando a nono mes de vida uterina a feto e expulso e recebe a nome de recem-nasci- do. 0 nascimento e uma etapa que marca a passagem da vida parasi taria do feto para a se- miparasitaria do recem-nascido, quando se ini- cia 0 periodo pos-natal. B - Periodo pos-natal - que se estende do nasci- mento ate a senilidade. Pode ser dividido em va- rios estagios, cuja dura<;aovaria com a ra<;a,sexo, constitui<;ao fisica e condi<;oesmesologicas. a) Fase neojetal, corresponde as duas pri- meiras semanas apos a nascimento, quando a crian~a perde peso em virtude da emissao de urina e meconio e da evapora~ao cutanea e pulmonar. b) Infancia, corresponde ao periodo que resta do primeiro ana de vida. No decorrer do primeiro semestre, tambem chamado pre-den- tal, a crian~a e lactante, nao se mantem ereta e nem deambula. Durante 0 ultimo quadrimes- tre a crian~a, ja com alimenta~ao mista, man- tem-se em posi~ao ereta e come~a a andar. c) Meninice (puericia), compreende 0 perio- do que vai desde 0 inicio do 2° ana ate a puber- dade. Este periodo pode ser subdividido em va- rias fases, embora seus limites nao sejam preci- sos e, na maioria dos casos, com dura~ao bas- tante variavel. Estas fases sao: - turgor primus (segunda infancia) - que se estende dos 2 aos 6 anos, fase de completa modifica~ao do regime alimentar, com substi- tui~ao da suc~ao pela mastiga~ao do alimento e completa~ao da dentadura decidua. - proceritas prima (pequena puberdade) - que se desenvolve por volta dos 6 anos, com 0 apa- recimento, na maioria dos casos, do primeiro molar permanente. - turgor secundus - corresponde a idade de 8 a 10 anos, quando se inicia a muda dos dentes, com a erup~ao dos incisivos permanentes. d) Adolescencia (que vai dos 10 aos 20 anos mais ou menos). Caracteriza-se por uma serie de modifica~oes morfologico-funcionais e psi- quicas, que dizemrespeito nao so ao estabeleci- mento do dimorfismo sexual, mas tambem da constitui~ao individual. Este periodo pode ser dividido em varias fases: - pre-puberdade (proceritas secunda) - que se estende dos 10 anos ate a puberdade. - puberdade - caracterizada pelo inicio das fun~oes sexuais e 0 aparecimento dos caracte- res sexuais secundarios. Esta fase, que tern du- ra~ao muito variavel, inicia-se nas meninas com o aparecimento da menstrua~ao (menarca), que ocorre aos 13 anos ± 2. Para os meninos nao existe urn criterio tao definido, mas consi- dera-se que a puberdade se inicia aos 15 ± 2, tendo em vista a idade ossea correspondente a das meninas por ocasiao da menarca. - pospuberdade (turgor tertius ou nubilida- de), que se estende da puberdade ate os 18 anos na mulher e ate os 20 anos, no homem. 0 individuo que era adolescente e depois jovem cresce em estatura, porem muito pouco (aos 15 anos ele ja deve ter atingido 90% da sua altura total); 0 crescimento transversal e ponderal continua, com 0 consequente arredondamento das formas externas; a capacidade de produzir novos individuos e melhorada e os processos morfofuncionais que levam a plena maturidade fisica e psiquica sao acelerados. e) Maturidade (virilidade) - que se estende dos 20 aos 60 anos, e pode ser subdividida nas fases de virilidade crescente, ate os 35 an os para a mulher e 40 para 0 homem; viri- lidade constante, ate os 40 anos para mulher e 50 anos para 0 homem; virilidade decres- cente, ate os 50 anos para mulher e 60 para 0 homem. Durante a primeira fase da maturi- dade, 0 adulto continua crescendo, tanto no sentido transversal, como em peso, sobretudo pelo aciimulo de gordura, por causa da hi- pertrofia muscular e crescimento de algumas visceras. Entretanto, os valores ponderais, es- pecialmente devidos a gordura, oscilam por varios motivos. Terminada a fase anaplastica, de energia crescente, 0 adulto entra na fase do equilibrio dinamico. Na fase decrescente sobrevem a menopausa. Com esta castra~ao natural verifica-se, em muitas mulheres, urn aumento do paniculo adiposo, que tambem aparece ou pode aparecer no homem depois dos 50 anos. f) Decadencia (Aetas terminalis) - e a fase cata- plastica, de energia decrescente, distinta em velhice (ate os 80 anos) e senilidade (decrepi- tude, senescencia ou longevidade). Ja na velhi- ce (e ainda mais na senilidade), acen tua-se a diminui~ao da estatura, iniciada no periodo anterior e decorrente de encurvamento da co- luna vertebral, do adelga~amento dos discos in- tervertebrais e de altera~oes nas junturas dos membros inferiores. Diminui 0 peso corporeo e 0 volume da maior parte das visceras, atingi- dos que sao por processos de esclerose e atro- fia. 0 individuo torna-se emaciado e as modifi- ca~oes do seu tegumenta e da cabe~a configu- ram 0 facies senil. Todos os periodos e fases do ciclo da vida humana se sucedem com ritmo e velocidades nao uniformes, intercalados por momentos cri- ticos, mas encadeados e coordenados de ma- neira a nao haver interrup~oes durante todo 0 seu curso. Da fecunda~ao ao nascimento, da puberdade a maturidade e desta ate a morte (etapas que marcam 0 inicio, as fases criticas e o fim da vida), tudo e urn fluir continuo. Periodo pre-natal ou vida uterino ovo ou germe fase embrionaria fose fetal { pas-embrionario fetal propria mente dita : noscimento I fase neo-natol Periodo pas-natal inf6ncia {,",go< p,;mo; (",gccdo Icl6ccio: meninice procerifas prima (pequeno puberdade) turgor secundus r"PCbe;dOd, [pw";ilo, "gccdo: adolescencia puberdade pas-puberdade (turgor tertius) {""lldOd' ""cecj, maturidade (virilidade) virilidade constante virilidade decrescente decadencia { velhice senilidade II -CRESCIMENTO DO ESQUElETO CRANIOFACIAL Os conceitos anteriormente emitidos sac fundamentais para 0 entendimento do cresci- mento craniofacial, tema dos mais cativantes no contexte da ciencia ortodontica. Inumeras mas oclusoes sac consequencia de altera<;oes do crescimento normal de pe<;as esqueleticas localizadas a distancia dos arcos dentais. Reves- te-se, pois, de grande significa<;ao clinica 0 co- nhecimento do crescimento normal e da possi- bilidade de sua modifica<;ao veto rial. Frequentemente tratamos crian<;as na fase de crescimento e desenvolvimento dos ossos maxilares, por entendermos ser muito mais fa- cil moldarmos estes ossos neste periodo do que apos ter sido concluida sua matura<;ao. Analo- gamente pudemos dizer que somente consegui- mas redirecionar a crescimento do tronco de uma arvore quando este e tenue e em vias de crescimento; nao quando ja totalmente forma- do e na fase adulta. o ossa e um tecido altamente metabolizado e, a despeito de sua dureza, apresenta-se como um dos mais plasticos e maleaveis tecidos orga- nicos. Par ser um tecido vivo, com vasos, nervos e linfaticos, revestido externa e internamente pelo periostea e endostea, respectivamente, tem uma atividade continua e equilibrada durante toda vida do individuo. E necessaria, pais, que a ortodontista desde cedo aprenda a conhecer e respeitar este tecido sabre a qual exercera gran- de parte de suas atividades clinicas (Fig. 2.5). Fig. 2.5. Representa~ao esquematica de um segmento osseo mostrando sua arquitetura interna t e 0 revestimento periostal 2 altamente vascularizado, emitindo ramos arteriais para a intimidade do tecido.