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CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA W B A 04 38 _v 1. 0 2 Eugenio Roballo Montoto Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Gisele Zanardi Polizel Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Montoto, Eugenio Roballo M798c Contabilidade tributária/ Eugenio Roballo Montoto. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020. 44 p. ISBN 978-65-87806-22-8 1. Contabilidade tributária 2. Planejamento tributário 3. Tributos I. Título. CDD 657 ____________________________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 6/2786 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Contabilidade e tributação _________________________________________ 05 A lógica dos tributos e sua contabilização __________________________ 24 Fenômenos tributários e os impactos nas demonstrações contábeis ______________________________________________________________________ 42 Planejamento tributário ____________________________________________ 59 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 5 Contabilidade e tributação Autoria: Eugenio Montoto Leitura crítica: Gisele Zanardi Polizel Objetivos • Ressaltar aspectos mais relevantes da Contabilidade no Brasil e no mundo a partir de 1973. • Descrever como o Brasil adotou as normas IFRS. • Explicitar as bases do sistema tributário brasileiro. • Enumerar a quem pertencem as competências tributárias. 6 1. Introdução A partir de 2008, com a promulgação da Lei n. 11.638 no dia 28 de dezembro de 2007, o Brasil iniciou o processo de convergência às normas internacionais para elaboração de relatórios contábil-financeiro IAS/IFRS emitidas pelo IASB, que é uma entidade europeia. A contabilidade brasileira até 2007 tinha forte influência americana e do regulamento de imposto de renda vigente. A partir de 2008, ocorreu um descolamento claro da Contabilidade em relação às normas fiscais, e esse fato tornou as demonstrações das empresas brasileiras muito mais transparentes perante o cenário internacional. 2. A contabilidade contemporânea no Brasil e no mundo A Contabilidade é a linguagem dos negócios, e seria fundamental que fosse entendida por todos. A globalização, a partir de 1973, já era uma realidade visível. A seguir faremos um breve histórico dos cenários brasileiro e internacional sobre as normas para elaboração de demonstrações contábeis. 2.1 Histórico da Contabilidade no Brasil A base legal da regulamentação da Contabilidade no Brasil tem origem na Lei de Sociedades por Ações (Lei n. 6.404/76). Na maioria dos seus artigos, esta lei regulamenta a escrituração contábil, critérios de avaliação e elaboração das demonstrações contábeis das sociedades por ações. 7 O Regulamento do Imposto de Renda (RIR) de 1977 (alterado pela Lei n. 1.598), em seu art. 274, obrigou todas as empresas que fazem a opção pelo lucro real, a elaborar o balanço patrimonial, o demonstrativo de resultado e o demonstrativo de lucros e prejuízos acumulados de acordo com a Lei n. 6.404/76, independentemente do tipo jurídico de constituição da empresa. O CFC, por meio das normas técnicas de contabilidade, sempre fez grande esforço para que as demonstrações retratassem o patrimônio sob a ótica dos bons princípios contábeis, entretanto não tinha poder formal. Sempre existiram no Brasil diversas outras entidades, além do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que emitiam normas contábeis setoriais. Porém, muitas vezes tornavam a contabilidade confusa, inclusive com orientações conflitantes e muito focada no fisco, dentre elas a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a SUSEP (Superintendência de Seguros Privados), o BACEN (Banco Central), as agências reguladoras e o Instituto Brasileiro de Contadores (IBRACON), que era o principal emissor de normas contábeis no Brasil. Já prevendo que o Brasil adotaria as normas internacionais, CFC, Bovespa, IBRACON, ABRASCA, APIMEC e a FIPECAFI criaram O CPC em 2005. O órgão emitiu duas normas e não teve atuação prática até a promulgação da lei 11.638 em dezembro de 2007. A partir de 2008, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis passou a ter papel fundamental no Brasil para a convergências das normas emitidas pelo CFC em relação às normas IFRS emitidas pelo IASB. 2.2 Histórico da Contabilidade no mundo O fenômeno da globalização foi possível em função dos avanços das telecomunicações, que tornaram as distâncias entre países, nações e 8 culturas muito menores, ampliando a internacionalização dos negócios. Neste contexto, surgiram as normas internacionais para elaboração e apresentação dos relatórios contábeis financeiros, desta forma as empresas passaram a ter uma linguagem única no mundo dos negócios, e isso facilitou muito o conhecimento mútuo de empresas. A compreensão das demonstrações financeiras é muito relevante nesse cenário globalizado de intensos negócios internacionais, que englobam exportações e importações de mercadorias, serviços e operações no mercado financeiro internacional. Em 1973, foi criado o um comitê de pronunciamentos contábeis internacionais, IASC (International Accounting Standards Committee). A criação deste comitê foi iniciativa de representantes de nove países europeus e dos EUA. Os pronunciamentos contábeis publicados pela IASC foram designados como International Accounting Standard (IAS). Com o objetivo de ter maior adesão internacional, em 1º de abril de 2001 foi criado o IASB (International Accounting Standards Board), na estrutura do IASC. As normas emitidas a partir do IASB têm o nome de International Financial Reporting Standards (IFRS). 2.3 Adesão brasileira à contabilidade internacional O alinhamento brasileiro às normas internacionais para elaboração de demonstrações contábeis somente aconteceu após a edição da Lei n. 11.638/2007, da MP 449/2008 e da Lei n. 11.941/2009. Essas legislações alteraram a Lei n. 6.404/76, adequando os artigos desta que dizem respeito às demonstrações financeiras, no sentido de harmonizar nossa Contabilidade com os padrões internacionais. O órgão brasileiro que tem assento no IASB é o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC; www.cpc.org.br). A partir da Lei n. 11.638/2007, o CPC passou a traduzir as normas internacionais de 9 Contabilidade, adequando-as a particularidades brasileiras. Assim, passamos a ter normas unificadas para elaboração de demonstrações contábeis. Em junho de 2010, a Lei n. 12.249 (BRASIL, 2010) alterou o art. 6º da Lei n. 9.295/46, incluindo o item f: Art. 6º São atribuições do Conselho Federal de Contabilidade (CFC): [...] f) regular acerca dos princípios contábeis,[...] e editar Normas Brasileiras de Contabilidade de natureza técnica e profissional. (BRASIL, 2010) A partir desta alteração, as normas técnicas emitidas pelo CFC passam a ter força de lei como jamais tiveram no Brasil. As normas emitidas pelo IASC/IASB são as designadas como normas IAS e IFRS. No Brasil, essas novas normas contábeis são traduzidas e adequadas e têm o nome de “pronunciamentos do CPC”. Em seguida, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) aprova esses pronunciamentos do CPC transformando-os em normas brasileiras de contabilidade (NBC) de aplicação obrigatória pelos profissionais e empresas. 3. As bases do sistema tributário brasileiro Tributo é uma prestação pecuniária em moeda como está definido no código tributário nacional no seu terceiro artigo, transcrito a seguir. Conforme a Lei n. 5.172 (CTN) (BRASIL, 1966), art. 3º: Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. (BRASIL, 1966) 10 Não se pode confundir tributo com uma penalidade ou multa (sansão). Aquele se aplica em função da obtenção de renda, ganhos, posse de propriedades e outras situações legais que sejam consideradas base de fatos geradores em relação a um determinado contribuinte. O tributo só pode ser criado por uma lei específica, de acordo com o artigo quarto do CTN, transcrito a seguir. Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: I–a denominação e demais características formais adotadas pela lei; II–a destinação legal do produto da sua arrecadação. (BRASIL, 1966) O fato gerador é a concretização da hipótese de incidência tributária, o fato gerador dá origem à obrigação por parte do contribuinte. Fato gerador materializa as possibilidades previstas em Lei para que a obrigação passe a existir por parte do contribuinte, por exemplo: a venda de uma mercadoria é o fato gerador do ICMS, a prestação de serviços dá origem ao Imposto sobre Serviços (ISS) e o lucro dá origem ao Imposto de Renda (IR). Caberá à autoridade administrativa fiscal cobrar sem qualquer discricionariedade ao contribuinte, caso o mesmo não realize o pagamento (recolhimento) nos termos da Lei. 3.1 Classificação dos tributos Antes de estudar as definições de impostos, taxas e contribuições de melhoria, precisamos entender as classificações aplicáveis aos tributos. Os tributos podem ser classificados por: 11 Figura 1 – Classificação de tributos Fonte: elaborada pelo autor. 3.1.1 Hipótese de incidência Quanto à incidência, os tributos podem ser vinculados ou não vinculados. Figura 2 – Divisão de tributos quanto a hipótese de incidência Fonte: elaborada pelo autor. 12 Os tributos vinculados exigem uma aplicação específica do ente estatal que recebe o tributo. Exemplos de tributos vinculados são as taxas, as contribuições de melhoria, o empréstimo compulsório e as contribuições sociais. A taxa de lixo é um exemplo de taxa cobrada pelos municípios em geral e é cobrada para um serviço específico. Outro exemplo clássico é a contribuição de melhoria cobrada de moradores de uma determinada localidade para a realização de uma obra que vier a valorizar os imóveis daquela região. A característica dos tributos não vinculados é a desassociação de uma ação, obrigação ou atividade do ente estatal que recebe o imposto para com o contribuinte ou comunidade. Exemplos de tributos não vinculados são os impostos e citamos como exemplos: ICMS, IPI, ISS, IR, IPTU, IPVA e outros. O Imposto de Renda (IR) depende de o contribuinte obter lucro para que o fato gerador exista, mas o ente público, neste caso a UNIÃO, não tem uma atividade ou ação ou aplicação específica a realizar com os valores arrecadados. O mesmo ocorre com o ICMS, ISS e IPI que têm origem na comercialização, prestação de serviços e manufatura do contribuinte, respectivamente. Os valores arrecadados, pelos Estados (ICMS), Municípios (ISS) e União (IPI) também não possuem aplicação específica. 3.1.2 Fundamento Quanto ao fundamento, os tributos (impostos, contribuições especiais, taxas e contribuições de melhoria) também podem ser classificados como contributivos ou retributivos. 13 Figura 3 – Divisão de tributos quanto a fundamento Fonte: elaborada pelo autor. Os tributos contributivos partem do princípio de que as pessoas física e/ou jurídica que têm capacidade de contribuir, devem participar dos custos para o sustento dos entes públicos e das necessidades comuns da sociedade. Também é alicerce da classificação contributiva o princípio da solidariedade, isto é, se o contribuinte tem renda e patrimônio excedentes ao seu sustento, ele deve contribuir. Como exemplo de tributos contributivos, podemos citar os impostos e as contribuições sociais. Os tributos retributivos consideram o benefício que o contribuinte terá com a aplicação do recurso tributário em um investimento como uma obra pública ou atividade estatal materializada por meio de um serviço público. Como exemplo de tributos retributivos podemos citar as taxas e as contribuições de melhoria. 3.1.3 Competência Competência, de acordo com o art. 145 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), transcrito a seguir, diz respeito ao ente público que possui a capacidade de instituir ou propor a criação de um tributo, e se instituído 14 por lei, passar a cobrar o tributo. O ente público que cobra é o sujeito ativo e o contribuinte o sujeito passivo. Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I – impostos; II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III – contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. (BRASIL, 1988) A Constituição Federal nos artigos 146 até 156, subdivide os tributos em privativos, comuns e residuais. Figura 4 – Principais classificações dos tributos quanto a competência Fonte: elaborada pelo autor. Um tributo é de competência privativa, quando somente um tipo de ente da federação pode instituir e cobrar, por exemplo: a. O IPVA compete somente aos Estados e Distrito Federal. b. Os empréstimos compulsórios competem somente à UNIÃO. c. O IPTU compete exclusivamente aos municípios e ao Distrito Federal. 15 A competência de um determinado tipo de ente público exclui automaticamente os outros tipos, e caso essa competência não seja respeitada, estará caracterizada a invasão de competência. Um tributo é de competência comum quando qualquer ente da federação tem a capacidade de instituir e cobrar, por exemplo, as taxas, como fica claro no art. 77 do CTN, transcrito a seguir: Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. (BRASIL, 1966) Um tributo é de competência residual quando não existe lei que especifique o ente competente. Está definido pela Constituição Federal no art. 154, transcrito a seguir, que a UNIÃO tem automaticamente a competência por este tipo de tributo. Art. 154. A União poderá instituir: I – mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição. (BRASIL, 1988) 3.1.4 Finalidade Quanto à sua finalidade, os tributos podem ser classificados como fiscais, extrafiscal ou parafiscal. 16 Figura 5 – Divisão de tributos quanto a finalidade Fonte: elaborada pelo autor. Otermo Fisco significa a face do Estado como gestor dos recursos públicos, portanto todo tributo é fiscal. Um tributo é sempre fiscal, mas também pode ser classificado cumulativamente como extrafiscal ou parafiscal. Um tributo é extrafiscal quando sua cobrança e arrecadação não possuem caráter exclusivamente arrecadatórios para financiamento dos gastos públicos, por exemplo: o imposto de importação. Este tributo pode ser zerado se é do interesse nacional que sejam importados equipamentos médicos, mas também pode ter sua alíquota em 200% se o objetivo é proteger a indústria nacional. Esse tipo de ação regulatória está prevista na Constituição Federal no art. 170. Um tributo é parafiscal não possui a finalidade de financiar gastos públicos, ele tem o objetivo de regular e equilibrar a distribuição da riqueza, como exemplos citamos as contribuições ao INSS, PIS, PASEP e as taxas cobradas pelos conselhos profissionais do CRC, CFC, CREA, OAB e outros. Esta possibilidade de cobrança está prevista na constituição Federal em seu art. 149, transcrito a seguir: Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas. (BRASIL, 1988) 17 Os Estados, Distrito Federal e Municípios podem instituir para custeio da previdência dos seus servidores. 3.1.5 Repercussão econômica Do ponto de vista da repercussão econômica os tributos podem ser classificados como diretos ou indiretos, conforme as definições de contribuinte de direito e contribuinte de fato. Um tributo é direto quanto o contribuinte de direito é também o contribuinte de fato, isto é, o devedor de imposto de renda é um contribuinte de direito e de fato, é ele que ganha a renda e é ele que tem que recolher o tributo. O Imposto de Renda (IR) é um exemplo que tributo direto. Um tributo indireto é por exemplo o ICMS, quando o contribuinte de direito é a empresa que vendeu o produto e tem que recolher o tributo aos cofres públicos. Mas quem incorre efetivamente com o custo do ICMS é o cliente final, que não é um contribuinte formal (de direito) do ICMS. A empresa repassa para seu cliente o ICMS. 3.2 Espécies de tributos De acordo com o art. 5º do código tributário nacional (CTN), transcrito a seguir, existem apenas três espécies: “CTN Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria” (BRASIL, 1966). Essas três espécies caracterizam a classificação tricotômica dos tributos. Uma série de dispositivos legais posteriores, incluíram os empréstimos compulsórios e as contribuições parafiscais (ou especiais) como duas outras espécies de tributos. 18 Figura 6 – Espécies de tributos Fonte: elaborada pelo autor. 3.2.1 Impostos Imposto é um tributo que não possui vinculação a nenhuma atividade do ente arrecadador em relação à sociedade, isto é, o ente tributante seja ele a UNIÃO, ESTADO, MUNICÍPIO ou DISTRITO FEDERAL podem utilizar os recursos em qualquer aplicação, é claro, respeitando as leis orçamentários do ente público. 3.2.1.1 Impostos federais (UNIÃO) A Constituição Federal especifica no art. 153 sete impostos. Também são considerados impostos as contribuições como o PIS/COFINS e as contribuições para sustento da Previdência. 19 Constituição Federal Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I – importação de produtos estrangeiros; II – exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; III – renda e proventos de qualquer natureza; IV – produtos industrializados; V – operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; VI – propriedade territorial rural; VII – grandes fortunas, nos termos de lei complementar. (BRASIL, 1988) 3.2.1.2 Impostos estaduais e Distrito Federal Os Estados e o Distrito Federal podem criar três tipos de impostos de acordo com o art. 155 da Constituição Federal, transcrito a seguir: Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: I–transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; II–operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; III–propriedade de veículos automotores. (BRASIL, 1988) 20 3.2.1.3 Impostos municipais e do Distrito Federal (DF) Os Municípios e o Distrito Federal podem criar três tipos de impostos de acordo com o art. 156 da Constituição Federal, transcrito a seguir: Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I–propriedade predial e territorial urbana; II–transmissão “inter vivos”, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; III–serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. (BRASIL, 1988) 3.2.2 Taxas As taxas são tributos que vinculam a União ou Estados ou Municípios à execução de uma obra ou prestação de um serviço. De acordo com o art. 145, inciso II, transcrito a seguir, as taxas não podem ter como base de cálculo um imposto. Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: § 2º As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos. (BRASIL, 1988) O serviço pode ser cobrado pela sua simples existência, independentemente de ser consumido pelo contribuinte. Um exemplo é a taxa de lixo, mesmo se o imóvel estiver fechado deve ser paga. O serviço também deve ser divisível, não se pode cobrar taxa por serviços de segurança pública ou iluminação porque não é possível saber o quanto cada cidadão consumiu. 21 Outros exemplos de serviços divisíveis são as custas judiciais, o tratamento da água e esgoto, licença para dirigir, emissão de passaporte, alvará para construção, alvará de funcionamento. 3.2.3 Contribuições de melhoria Uma contribuição de melhoria pode ser instituída pela União, Estados, Municípios e DF, desde que promovam a valorização de imóveis de uma determinada região por meio de uma obra pública. O CTN, em seu art., 81 regula a cobrança das contribuições de melhoria. Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado. Art. 82. A lei relativa à contribuição de melhoria observará os seguintes requisitos mínimos: I–publicação prévia dos seguintes elementos: a) memorial descritivo do projeto; b) orçamento do custo da obra; c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição; d) delimitação da zona beneficiada; e) determinação do fator de absorção do benefício da valorização para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas. (BRASIL, 1966) 22 3.2.4 Empréstimos compulsórios O art. 158 da constituição define que compete à União, mediante lei complementar instituir este tipo de tributo para atender as despesas de calamidade pública, guerra ou investimento relevante urgente de interesse nacional. Como todo empréstimo, deverá ser devolvido nas condições especificadas na lei complementar. 3.2.5 Contribuições especiais Subdividem-se em sociais, de intervenção do domínio econômico e de interesse de categorias profissionais ou econômicas. Classificam-se como parafiscais, as que são criadas por ente público (União, Estados e Municípios), mas cobradas e geridas por outros entes, por exemplo, as contribuições para entidades profissionais como OAB, CREA e outras. Tambémcitamos como parafiscais as contribuições para o INSS, que é uma autarquia. Classificam-se como extrafiscais, as contribuições de intervenção no domínio econômico e exemplificamos a CIDE dos combustíveis, que tem como objetivo os investimentos para melhoria da infraestrutura de transportes e projetos ambientais, também citamos como extrafiscal a CIDE dos ROYALTIES, cujo objetivo é ajudar no financiamento de programas de pesquisa científica nas universidades brasileiras nas mais diversas áreas. Referências Bibliográficas BRASIL. Presidência da República. Lei nº 12.249, de 11 de junho de 2010. Institui o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Infraestrutura da Indústria Petrolífera [...]. Brasília: D.O.U., 2010. Disponível emhttp://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12249.htm. Acesso em: 2 jul. 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12249.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12249.htm 23 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: D.O.U., 1966. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm. Acesso em: 2 jul. 2020. FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade Tributária. 16. Ed. São Paulo: Atlas, 2017. MARQUES, Helena J. Direito Tributário. 1. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. MONTOTO, Eugenio. Contabilidade Geral e Avançada Esquematizado. 6. Ed. São Paulo: Saraiva, 2019. REZENDE, Amaury J.; PEREIRA, Carlos A.; ALENCAR, Roberta de. Contabilidade tributária: entendendo a lógica dos tributos e seus reflexos sobre os resultados da empresa. São Paulo: Atlas, 2010. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm 24 A lógica dos tributos e sua contabilização Autoria: Eugenio Montoto Leitura crítica: Gisele Zanardi Polizel Objetivos • Saber identificar tributos por tipo de empresa contribuinte. • Entender o que são tributos por dentro e tributos por fora. • Aprender a registrar os principais tributos sobre vendas. • Aprender a registrar as operações de venda de serviços. • Aprender os principais tributos sobre a remuneração do trabalho. 25 1. Introdução Os tributos nas operações entre empresas incidem basicamente em operações de compra e venda internas, importações e exportações, folha de pagamento, patrimônio, operações financeiras e lucro. Os tributos podem ser registrados como um direito a ser recuperado ou despesas que geram passivos. O tributo sobre um item adquirido, em uma operação de aquisição para consumo não gera direito a recuperação, já numa operação envolvendo o mesmo item para revenda ou manufatura, permite a sua recuperação. Em algumas situações, a empresa é uma mera recolhedora de tributos, já que são cobrados dos clientes ou funcionários e, desta forma, o tributo não tem qualquer impacto no resultado da empresa ou em seu patrimônio. Porém em outras situações, o tributo representa um custo ou uma despesa. Para saber como registrar corretamente cada tributo, diante de um fato contábil, é preciso conhecer o tipo de empresa (indústria, comércio ou serviço), a natureza da operação, e quais os tributos a empresa tem a obrigação de recolher. 2. Operações de compra e venda 2.1 Estrutura de custos por tipo de empresa Uma empresa industrial se caracteriza pela compra de matéria- prima (matéria-prima direta – MPD), que será utilizada por operários (mão de obra direta – MOD) de uma linha de produção para fabricar (manufaturar) produtos. Não basta a MPD e a MOD para que o produto seja fabricado, os operários necessitam de apoio de toda 26 uma infraestrutura de aquisição de materiais, gestão de processos, alimentação, segurança e diversas outras ações que geram custos, chamados em contabilidade, de custos indiretos de fabricação (CIF) ou gastos gerais de fabricação (GGF). Em uma empresa comercial, tudo é muito mais simples, o comerciante vende exatamente o que compra. Em uma empresa de serviços, a sua operação é similar ao de uma empresa industrial, um serviço prestado inclui a mão de obra direta, materiais e custos indiretos, vamos ter como exemplo o conserto de um veículo: a mão de obra do mecânico (MOD), peças (MPD) e custos diversos como aluguel, energia etc. (CIF). 2.2 Tributos incidentes versus tipos de empresa Os tributos envolvidos nas compras e vendas de produtos e serviços, são: IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), ICMS (Imposto sobre Dirculação de Mercadorias e Serviços, ISS (Imposto Sobre Serviços), PIS/PASEP (Programa de Integração Social/Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público, COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social). Nas operações de compra e venda, uma empresa industrial é contribuinte de IPI porque é um fabricante, e de ICMS porque vende o produto que fabrica. Uma empresa comercial é contribuinte de ICMS porque é um revendedor de mercadorias. Uma empresa de serviços não vende nem produtos nem mercadorias, por isso é contribuinte do ISS. 27 Figura 1 – Relação tributos versus tipo de empresa Fonte: elaborada pelo autor. A PIS e a COFINS estão presentes nas operações tanto de empresas industriais, como comerciais e de serviços, são contribuições sociais especiais. A cobrança do PIS e da COFINS possui duas modalidades, cumulativa e não cumulativa. A modalidade não cumulativa dá direito à compensação na venda, do valor pago na compra. A modalidade não cumulativa está associada à opção pela empresa do regime de imposto de renda do lucro real e a modalidade cumulativa está associada à opção de imposto de renda no lucro presumido. Figura 2 – Alíquotas PIS e COFINS versus Regime de tributação Fonte: elaborada pelo autor. 28 As alíquotas típicas do ICMS em operações dentro de um Estado são 17% ou 18%; e em operações interestaduais, a alíquota de referência é 12% mas existem exceções, a alíquota será de 7% quando as mercadorias tem origem nos Estados da região Sul e Sudeste (exceto o Espírito Santo) e são destinadas a qualquer Estado das outras regiões (Norte, Nordeste e Centro-Oeste), inclusive para o Espirito Santo (resolução 22/89 do Senado). Quadro 1 – Matriz do ICMS nas operações entre os Estados/ano 2020 Fonte: adaptada de SAGE. 29 Quanto às alíquotas do IPI, existe uma grande diversidade e elas podem ser encontradas na TIPI (tabela de incidência do imposto sobre produtos industrializados) de 2017, Decreto nº 8.950, de 29 de dezembro de 2016. A TIPI tanto apresenta produtos isentos de IPI (alíquota zero) quanto produtos com alíquota de 45%, as alíquotas mais comuns são 15% e 20%. A alíquota máxima do ISS é 5%, definida pelo art. 8, inciso II da LC n. 116 de 2003. Uma emenda constitucional definiu a alíquota mínima do ISS em 2%, em função de exceções essa alíquota assume valores algumas vezes irrelevantes. 2.3 Natureza da operação As operações precisam ter sua natureza identificada na nota fiscal de venda com seu respectivo Código Fiscal de Operações e de Prestações das Entradas de Mercadorias e Bens e da Aquisição de Serviços (CFOP). A natureza da operação é um dos atributos que definem se o tributo pode ser recuperado ou não pelo comprador. Figura 3 – Natureza das operações Fonte: elaborado pelo autor. O consumo está sempre associado à destruição de riqueza. Suas operações caracterizam-se por gerarem no comprador despesas contábeis, uma despesa contábil quando analisada isoladamente 30 representa diminuição do patrimônio líquido das empresas, isto é, prejuízo, por exemplo, a compra de material de escritório, alimentação dos funcionários, gastos com viagens, combustível etc. Operações de revenda são as operações típicas de comercialização, por exemplo, um supermercado adquire mercadorias de forma predominante para revender. É claro que um supermercado também compra itens para consumo, é o caso do materialde limpeza que é usado para limpar a loja e deve ser tratado fiscalmente de forma diferente do mesmo item que está na gôndola para ser revendido a um cliente. Operação de manufatura, de fabricação ou industrialização é um tipo de operação contábil bem mais complexa, porque tem que considerar a matéria-prima adquirida por uma fábrica, a mão de obra do operário que está na linha de produção e todos os gastos indiretos de uma fábrica. A matéria-prima adquirida possui tributos que devem ser tratados de forma diferente dos tributos incidentes sobre o pessoal da fábrica, ambas as situações irão alterar o custo dos produtos e o resultado industrial. Operações para uso, são as aquisições de ativos permanentes como equipamentos de informática, veículos, edificações, mobiliário etc. A aquisição de máquinas para uso, gera em algumas situações direito a crédito tributário (não cumulatividade). 31 2.4 Tributo por dentro versus tributo por fora Nas operações de compra e venda é necessário compreender a definição de preço e saber quais tributos estão inclusos no preço e quais são destacados fora do preço. Vamos exemplificar a seguir, a venda uma matéria-prima de empresa industrial para outra empresa industrial. O ICMS, PIS e a COFINS são tributos dentro do preço e o IPI é calculado por fora do preço. O valor do ICMS é calculado sobre o preço do produto, assim como o IPI. Tanto o PIS como a COFINS são calculados tomando-se por base o preço deduzido do ICMS. Essa forma de calcular o PIS e a COFINS é fruto de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 15 de março de 2017. Figura 4 – Tributos por dentro versus tributos por fora Fonte: elaborada pelo autor. A receita bruta contábil tem como base o preço e o faturamento em uma empresa industrial, e é obtido somando-se a o IPI à receita bruta. 32 2.5 Tributo por dentro versus tributo por fora Abaixo, exemplificaremos as operações de aquisição de itens vendidos por indústrias para outras indústrias ou para empresas comerciais e, também, a compra e a venda de serviços. Em todas essas operações, podem existir descontos concedidos pelo vendedor no ato da venda e expressas na nota fiscal ou abatimentos (descontos) concedidos após a emissão das notas fiscais, apenas para impedir uma devolução. Os descontos dados no momento da venda, designados como comerciais, promocionais ou incondicionais, afetam todos os tributos da mesma forma, o cálculo tributário se dará considerando o valor descontado. No caso de abatimentos, que são descontos concedidos após a emissão da nota e, normalmente, têm a função de impedir a devolução de uma venda, o valor dos tributos não se altera, um abatimento é uma renúncia de receitas. 2.5.1 Aquisição de mercadorias para revenda de empresa comercial situada no mesmo Estado Uma operação entre empresas comerciais optantes do lucro real, só envolverá ICMS, PIS e COFINS. No exemplo a seguir, temos a venda de um lote de café de um distribuidor situado no Estado de São Paulo para um pequeno supermercado também situado no Estado de São Paulo. 33 Figura 5 – Tributos por dentro na operação de revenda Fonte: elaborada pelo autor. Acima, temos os tributos envolvidos na operação de venda, perceba que o valor do PIS e da COFINS foram calculados levando-se em conta o preço deduzido do ICMS destacado na operação de venda (R$ 180,00). Na empresa compradora devemos registrar a operação da seguinte forma: Quadro 2 – Registro da operação Aquisição Registros no ativo Saída de caixa ou valores a pagar Valor total da aquisição $ 1.000,00 ICMS a recuperar (compras) $ 180,00 PIS a recuperar (compras) $ 13,53 COFINS a recuperar (compras) $ 62,32 34 Valor do café para estoque $ 744,15 Fonte: elaborado pelo autor. Supondo que todo esse lote tenha sido vendido pelo comprador no mesmo mês da aquisição pelo valor de $ 1.600,00, vamos exemplificar os tributos na venda e o valor dos tributos a pagar (recolher) no mês seguinte à operação. Quadro 3 – Registro da operação Venda Deduções da venda Receita ganha Valor total da receita bruta $ 1.600,00 ICMS sobre as vendas (18%) $ 288,00 PIS sobre as vendas (1,65%) $ 21,65 COFINS sobre as vendas (7,6%) $ 99,71 Receita líquida $ 1.190,64 Fonte: elaborado pelo autor. Observe que os tributos na venda são pagos pelo cliente, a empresa é uma recolhedora de tributos que deverá repassar aos entes públicos estaduais o ICMS e à União o PIS e a COFINS. A seguir, apresentamos um quadro com os tributos pagos na aquisição dos produtos, os tributos cobrados dos clientes no momento da venda, e a apuração dos tributos que a empresa deverá recolher por diferença. A essa mecânica, denomina-se não cumulatividade tributária, como visto a seguir: 35 Quadro 4 – Apuração do ICMS, PIS e COFINS Tributo Direito Obrigação ICMS ICMS na venda $ 288,00 ICMS na compra (a recuperar) $ 180,00 Apuração ($ 288,00–$ 188,00 = $ 108,00) ICMS a recolher $ 108,00 PIS PIS na venda $ 21,65 PIS na compra (a recuperar) $ 13,53 PIS a recolher ($ 21,65–$ 13,53 = $ 8,12) PIS a recolher $ 8,12 COFINS COFINS na venda $ 99,71 COFINS na compra (a recuperar) $ 62,32 COFINS a recolher ($ 99,71–$ 62,32 = $ 37,39) COFINS a recolher $ 37,39 Fonte: elaborado pelo autor. Os tributos pagos na aquisição não foram acumulados na cadeia de custo do comprador, pois os valores pagos pelos tributos foram registrados como direito e utilizados para diminuir o recolhimento, é como se a empresa ao comprar, estivesse adiantando um tributo que é de responsabilidade do cliente. Quando a venda é feita é como se o cliente estivesse devolvendo um valor já pago pela empresa em nome do cliente quando a compra foi realizada. 2.5.2 Aquisição de matéria-prima por empresa industrial Nesse caso, o único incremento em relação ao exemplo do item 2.4.1 é que a operação seria tributada com IPI também. Vamos considerar que o IPI é 15%. Tanto na aquisição quanto na venda o IPI não faz parte do preço, veja os quadros a seguir. 36 Quadro 5 – Valor total da aquisição versus preço na aquisição IPI na aquisição Registros no ativo Saída de caixa ou valores a pagar Preço total da aquisição $ 1.000,00 IPI a recuperar (15%) $ 150,00 Valor total pago na aquisição $ 1.150,00 Fonte: elaborado pelo autor. Quadro 6 – Valor total faturado versus receita de venda IPI na venda Deduções na venda Receita ganha Valor total da receita bruta $ 1.600,00 IPI sobre a receita (preço) $ 240,00 Valor total faturado $ 1.840,00 Fonte: elaborado pelo autor. A seguir, apresentamos um quadro com o IPI pago na aquisição e o IPI cobrado do cliente e por diferença o IPI que a empresa deverá recolher por diferença, essa mecânica chama-se não cumulatividade tributária: Quadro 7 – Apuração do IPI Tributo Direito Obrigação IPI IPI na venda $ 240,00 IPI na compra (a recuperar) $ 150,00 IPI a recolher ($ 240,00–$ 150,00 = $ 90,00) IPI a recolher $ 90,00 Fonte: elaborado pelo autor. 37 2.5.3 Aquisição por empresa comercial de uma empresa industrial Empresas comerciais adquirem produtos diretamente de indústrias. Por exemplo, uma distribuidora de autopeças compra diretamente dos fabricantes das peças e vende para pequenas distribuidoras e oficinas mecânicas. Utilizaremos os mesmos dados dos exemplos dos itens 2.4.1 e 2.4.2. Supondo que a venda tenha sido feita por um fabricante a um distribuidor de autopeças, o valor do IPI na contabilidade da empresa compradora (distribuidora) seria irrecuperável, uma empresa comercial não é um contribuinte de IPI. Desta forma, o IPI deverá ser incorporado ao valor do estoque. Quadro 8 – Cálculo dos tributos recuperáveis e valor para estoque Aquisição Registros no ativo Saída de caixa ou valores a pagar Valor faturado (total a pagar) $ 1.150,00 IPI $ 150,00 Valor do preço total da aquisição $ 1.000,00 ICMS a recuperar (compras) $ 180,00 PIS a recuperar (preço sem ICMS + IPI) $ 16,00 COFINS a recuperar (sem ICMS + IPI) $ 73,72 Valor para registrono estoque $ 880,28 Fonte: elaborado pelo autor. O valor do preço sem ICMS e com IPI é igual a $ 970,00. O valor sem ICMS, sem PIS e sem COFINS equivale a $ 730,28. Como o IPI não é recuperável pela empresa comerciante compradora, o estoque deve ter o IPI acrescentado, isto é, $ 730,28 + $ 150,00 = $ 880,28. 38 3. Tributos nas operações com serviços Neste tipo de operação incide ISS, PIS e COFINS, o ISS não gera direito a crédito tributário para o contratante dos serviços em hipótese alguma. O PIS e a COFINS geram direito a crédito tributário se o tomador dos serviços for optante do lucro real (não cumulatividade fiscal), caso o contratante não seja optante do lucro real ele não terá direito a crédito tributário. Em qualquer hipótese, o contratante dos serviços deve reter 0,65% da PIS e 3% de COFINS, quando realizar o pagamento dos serviços. Mesmo que o prestador seja optante pelo lucro real a retenção do PIS e da COFINS será de 0,65% e 3%, respectivamente. No exemplo a seguir, uma empresa de serviços de limpeza e conservação optante pelo lucro real (regime não cumulativo para PIS e COFINS), emitiu uma nota fiscal referente aos serviços do mês de maio de 2020, no valor de $ 10.000,00, vamos apresentar a seguir os registros no prestador de serviços: Quadro 9 – Receita líquida na venda de serviços (DRE) Demonstração do resultado Valor ($) Receita de serviços $ 10.000,00 ISS sobre os serviços (5%) ($ 500,00) PIS sobre os serviços (1,65%) ($165,00) COFINS sobre os serviços (7,6%) ($ 760,00) Receita líquida $ 8.575,00 Fonte: elaborado pelo autor. O contratante dos serviços não irá pagar $ 10.000,00, por determinação da Lei n. 10.833, art. 30, terá que reter o 0,65% de PIS e 3% de COFINS, independente do prestador se enquadrar no regime não cumulativo. 39 A seguir, faremos o registro contábil da venda considerando apenas os tributos citados, porém, existem outros descontos que o tomador de serviços pode fazer: Débito: contas a receber $ 9.675,00. Débito: PIS a recuperar $ 65,00. Débito: COFINS a recuperar $ 300,00. Crédito: receita $ 10.000,00. Como o débito de PIS com a venda é de $ 165,00 e o contratante reteve $ 65,00, o prestador irá recolher a diferença de $ 100,00; o mesmo ocorre com a COFINS, em que irá recolher $ 760,00 deduzido de $ 300,00, isto é $ 460,00. 4. Tributos sobre a remuneração do trabalho Alguns tributos que a empresa recolhe referente à sua folha de pagamento são descontados do empregado e outros são despesas adicionais da empresa. Por exemplo, se o valor dos salários brutos adicionados de horas extras, comissões, bônus e prêmios for de R$ 100.000,00 e empresa registrará essa despesa em contrapartida à conta salários a pagar. A empresa descontará dos funcionários a título de previdência social, a parcela dos empregados de acordo com a faixas de salários a seguir: Quadro 10 – Tabela de INSS vigente a partir de março de 2020 Faixa de salário Aliquota Até R$ 1.045,00 7,5% 40 De R$ 1.045,01 até R$ 2.089,60 9,0% De R$ 2.089,61 até R$ 3.134,40 12,00% DE R$ 3.134,41 até R$ 6.101,06 14,00% Fonte: elaborado pelo autor. A partir de março de 2020 o desconto é progressivo, um salário de R$ 1.900,00 terá desconto de 7,5 até o valor de R$ 1.045,00 e 9,0% apenas sobre a diferença de R$ 855,00, vejamos na tabela a seguir: Quadro 11 – Cálculo do valor da previdência descontada do empregado Faixa de salário Alíquota Desconto Sobre R$ 1.045,00 7,5% R$ 78,38 Sobre a diferença entre R$ 1.045,00 e R$ 1.900,00 = R$ 855,00 9,0% R$ 76,95 Total do desconto da previdência parte do empregado R$ 155,33 Fonte: elaborado pelo autor. O registro no livro diário específico do desconto deste empregado deve ser: D: salário a pagar R$ 155,53. C: previdência a recolher R$ 155,53. Esse desconto representa na média 8,18%, bem menos do que na metodologia anterior. 41 Supondo que a média dos descontos no exemplo seja de 9%, a empresa fará o registro da despesa de salários em contrapartida a salários a pagar: Débito: despesa de salários R$ 100.000,00. Crédito: salários a pagar R$ 100.000,00. Na sequência a empresa deve diminuir (debitar) o saldo de salários a pagar em contrapartida da previdência a recolher, descontando a parcela dos empregados: Débito: salários a pagar R$ 9.000,00. Crédito: previdência a recolher R$ 9.000,00. A empresa também necessita registrar a despesa adicional da empresa sobre a folha de pagamentos, a alíquota predominante é de 20%: Débito: despesa de previdência R$ 20.000,00. Crédito: previdência a recolher R$ 20.000,00. Um outro gasto adicional da empresa é o FGTS, a empresa deve registar a despesa de 8% sobre a folha e recolher em conta específica em favor do empregado. O FGTS tem o objetivo de formar um fundo de indenização para que o funcionário possa sacar em caso de demissão sem justa causa. O registro do FGTS com os dados do exemplo acima deve ser de 8% de R$ 100.000,00, isto é, R$ 8.000,00: Débito: despesa de FGTS R$ 8.000,00. Crédito: FGTS a recolher R$ 8.000,00. 42 Referências Bibliográficas MONTOTO, Eugenio. Contabilidade Geral e Avançada Esquematizado. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2019. FABRETTI, Láudio C. Contabilidade Tributária. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2017. REZENDE, Amaury J.; PEREIRA, Carlos A.; ALENCAR, Roberta de. Contabilidade tributária: entendendo a lógica dos tributos e seus reflexos sobre os resultados da empresa. São Paulo: Atlas, 2010. 43 Fenômenos tributários e os impactos nas demonstrações contábeis Autoria: Eugenio Montoto Leitura crítica: Gisele Zanardi Polizel Objetivos • Estudar tributos sobre o patrimônio e sobre a renda. • Compreender os tributos na demonstração do resultado do exercício. • Identificar os tributos no balanço patrimonial. • Perceber o peso dos tributos na distribuição do valor agregado. 44 1. Introdução Neste tema, você vai estudar a lógica dos tributos sobre patrimônio e rendas e seus impactos sobre importantes demonstrações como o balanço patrimonial e a demonstração do resultado. Dentre os diversos tributos sobre o patrimônio, podemos citar o IPVA, IPTU, ITR, ITBI, ITCMD, IGF e sobre rendas, o IR, CSLL e o IOF. Também serão apresentadas, de forma mais detalhada o IPVA e o IPTU que são tributos sobre o patrimônio e o IR e a CSLL que, por sua vez, são tributos sobre a renda. 2. A lógica do IPVA, IPTU, IRPJ e CSLL 2.1 IPVA (Imposto sobre Veículos Automotores) Os entes públicos que possuem competência para cobrar esse tributo são os Estados e o Distrito Federal, segundo a Constituição: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: III– propriedade de veículos automotores” (BRASIL, 1988). O fato gerador do tributo é a propriedade de veículo automotor. No caso de um veículo novo, o fato gerador ocorre no momento da compra, e o valor é proporcional ao número de meses restantes do ano. Já no caso de um veículo usado o fato gerador ocorre no dia 1 de janeiro de cada ano e a base de cálculo é o valor venal divulgado em uma tabela pelo poder público. Como exemplo, citamos as alíquotas do Estado de São Paulo pela Lei n. 13.296/08, art. 9º: I–1,5% (um inteiro e cinqüenta centésimos por cento) para veículos de carga, tipo caminhão; 45 II–2% (dois por cento) para: a) ônibus e microônibus; b) caminhonetes cabine simples; c) motocicletas, ciclomotores, motonetas, triciclos e quadriciclos; d) máquinas de terraplenagem, empilhadeiras, guindastes, locomotivas, tratores e similares; III–3% (três por cento) para veículos que utilizarem motor especificado para funcionar, exclusivamente, com os seguintes combustíveis: álcool, gás natural veicular ou eletricidade, ainda que combinados entre si; IV–4% (quatro por cento) para qualquer veículo automotor não incluído nos incisos I a III deste artigo. (SÃO PAULO, 2008) O tributo é cobrado no início do ano e, mesmo que pago integralmente, deve ser registrado como despesas antecipadas e apropriado ao resultadocom despesas na razão de 1/12 avós mensalmente. Assim, alguns entes públicos concedem desconto para pagamento em apenas uma parcela. Supondo que o valor venal de um veículo de propriedade de uma empresa seja de R$ 50.000,00 e a alíquota deste veículo é 4%. A empresa pagou o tributo à vista e obteve um desconto de 3,5%. Cálculo do IPVA: 4% sobre R$ 50.000,00 = R$ 2.000,00 com desconto de 2,5% o valor líquido a pagar será de R$ 1.930,00. Registro contábil no dia do pagamento em janeiro de 2019. Débito: despesas antecipadas R$ 1.930,00. Crédito: disponibilidades R$ 1.930,00. 46 Registros da despesa com IPVA no último dia de cada mês. Débito: despesa de IPVA R$ 160,83. Crédito: despesas antecipadas R$ 160,83. Nos meses seguintes e até encerrar o exercício, as despesas pagas antecipadamente de IPVA serão completamente consumidas, isto é, apropriadas no ativo para o resultado como despesa do período. 2.2 IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) Os entes públicos que possuem competência para cobrar esse tributo são os Municípios e o Distrito Federal, segundo a Constituição: “Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I–propriedade predial e territorial urbana” (BRASIL, 1988). O fato gerador é a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel localizado na zona urbana de um Município ou Distrito Federal. A base de cálculo é o valor venal da propriedade, é o próprio ente público que define esse valor levando em conta a edificação, as características do imóvel, a utilização (residencial ou comercial) e outros aspectos. Na maioria dos municípios, o percentual do IPTU para imóveis residenciais gira em torno de 1% e para os comerciais em torno de 1,5%. A seguir, a tabela prática de IPTU no Município de São Paulo para imóveis comerciais. Tabela 1 – Tabela prática do IPTU – São Paulo Faixas de valor venal (R$) Multiplicar por Subtrair Até R$ 150.000,00 0,011 R$ 0,00 De R$ 150.001,00 a R$ 300.000,00 0,013 R$ 300,00 47 De R$ 300.000,00 a R$ 600.000,00 0,015 R$ 900,00 De R$ 600.001,00 a R$ 1.200.000,00 0,017 R$ 2.100,00 Acima de R$ 1.200.000,00 0,019 R$ 4.500,00 Fonte: elaborada pelo autor. A seguir, vamos calcular o IPTU de um imóvel comercial no município de São Paulo (SP); o imóvel tem valor venal de R$ 500.000,00 e o tributo pode ser pago em fevereiro em única parcela com desconto de 3% ou em dez parcelas de valor igual, sendo a primeira em fevereiro. A empresa deve registrar em janeiro o valor que será apropriado ao longo do ano. Supondo que a empresa tenha decidido pagar o valor em única parcela em fevereiro, o valor do tributo será: Cálculo do IPTU devido: R$ 500.000,00 x 0,015 – R$ 900,00 = R$ 6.600,00. Valor com desconto: R$ 6.600,00 x 0,97 = R$ 6.402,00. Registro em janeiro do débito total do tributo: Débito: IPTU a apropriar (AC) R$ 6.402,00. Crédito: IPTU a pagar (PC) R$ 6.402,00. Registro em janeiro a despesa por competência. Valor mensal: R$ 6.402,00 ÷ 12 meses = R$ 533,50 mês. A seguir, o registro das despesas em todos os 12 meses a partir de janeiro: Débito: Despesa de IPTU (resultado) R$ 533,50. Crédito: IPTU a apropriar (AC) R$ 533,50. 48 Registro no pagamento integral do IPTU em fevereiro: Débito: IPTU a pagar (PC) R$ 6.402,00. Crédito: Disponibilidades (AC) R$ 6.402,00. 2.3 IR (Imposto de Renda) O Imposto de Renda permite que as empresas possam declarar seus ganhos optando por três regimes: 1) Lucro real; 2) Lucro presumido; 3) Lucro arbitrado. 1. Toda empresa com receita bruta superior a R$ 78 milhões é obrigada a declarar na modalidade lucro real. Nesta opção, o imposto é calculado em função do resultado efetivo das empresas após exclusões e adições a partir do lucro contábil operacional. Qualquer empresa pode optar por essa modalidade; nela, o IPI, ICMS, PIS e COFINS sobre as compras são não cumulativos. 2. O lucro presumido é um sistema que facilita o cotidiano das empresas por sua simplicidade, uma vez que a base de cálculo do tributo é calculada aplicando-se um percentual fixo em função do ramo de atividade. Toda empresa com receita bruta igual ou menor que R$ 78 milhões ao ano ou R$ 6,5 milhões ou menos ao mês, pode optar por essa modalidade. Nesta opção, os tributos sobre as compras são cumulativos. 3. O lucro arbitrado é um sistema em que o tributo é calculado tomando-se por base um percentual adicional sobre a base de lucro presumido. A autoridade fiscal pode desqualificar a contabilidade da empresa e adotar esse sistema ou uma opção da própria empresa. Caso seus gestores julguem que a contabilidade não é confiável, normalmente aplica-se um adicional de 20% sobre o tributo na opção de lucro presumido. 49 2.3.1 Lucro real e o lucro presumido No lucro real, o resultado é obtido considerando as receitas, custos e despesas que de fato ocorreram; é a forma de obter o resultado que expressa o efetivo lucro ou prejuízo da empresa. Na modalidade lucro real, o resultado sob o qual será aplicado o percentual do imposto a ser pago é o resultado obtido adotando-se as normas contábeis após ajustes. É necessário realizar ajustes, porque alguns fatos que são despesas ou receitas sob a ótica contábil, não são reconhecidos sob a ótica tributária, por exemplo, uma despesa com uma multa ou uma perda estimada com contas a receber não são aceitos como despesas sob a ótica tributária. Também ocorre o caso de receitas contábeis que o Fisco não tributa. Por isso, é necessário a utilização de um livro de ajustes entre a legislação contábil e a legislação tributária (LALUR), em que são realizadas as adições e exclusões para determinação do lucro real (lucro fiscal). Exemplo: uma empresa apresenta lucro operacional contábil no valor de R$ 100.000,00, e esse valor foi obtido considerando R$ 5.000,00 como multas de trânsito. Qual será o lucro real para fins fiscais? Quadro 1 – Livro de apuração do lucro real LALUR Valor (R$) Lucro operacional contábil R$ 100.000,00 (+) Adição – Multa R$ 5.000,00 LUCRO REAL (lucro fiscal) R$ 105.000,00 Fonte: elaborado pelo autor. Na opção do lucro real, também é possível a compensação de prejuízos passados no lucro atual, como forma de diminuição do tributo a pagar. Prejuízos passados podem reduzir a base de cálculo em um determinado ano. A utilização de prejuízo passado (“estoque” de prejuízo) é limitada a 30% do valor do lucro tributável do exercício. 50 Quadro 2 – Comparativo de alíquotas no lucro real e lucro presumido Tributos Lucro real Lucro presumido IRPJ 15% + 10% (excedente de R$ 20.000,00 mês). 15% sobre o lucro presumido, mais 10% sobre o excedente de R$ 20.000,00. O lucro presumido é calculado aplicando um percentual sobre a receita bruta: 8% Indústria e comércio. 16% Transporte de passageiros. 32% Serviços em geral. PIS 1,65% sobre a receita bruta. 0,65% sobre a receita bruta. COFINS 7,6% sobre a receita bruta. 3,0% sobre a receita bruta. CSLL 9% sobre o lucro tributável. 9% sobre 12% ou 32% da receita bruta (1,08% ou 2,88%). Fonte: elaborado pelo autor. Na modalidade lucro real, o imposto de renda da pessoa jurídica é calculado em 15% todo o valor da base de cálculo, e caso a empresa tenha lucro superior a R$ 20.000,00 mês ou R$ 240.000,00 ano, sobre esse excedente, deverá ser aplicado uma alíquota adicional de 10%. Por exemplo, se uma empresa tem um lucro tributável anual de R$ 400.000,00, ela pagará 15% sobre R$ 400.000,00, isto é, R$ 60.000,00 e mais 10% sobre o excedente [(R$ 400.000,00 – R$ 240.000,00) = R$ 51 160.000,00] = R$ 16.000,00. O Imposto de Renda total a pagar será de R$ 60.000,00 + R$ 16.000,00 = R$ 76.000,00. No lucro presumido, a forma de calcular é a mesma, aplica-se a alíquota de 15% sobre toda a base de cálculo e 10% sobre o excedente a R$ 20.000,00 mensal ou R$ 60.000,00 trimestral ou R$ 240.000,00 anual. O que simplifica é a determinação da base de cálculo, que é determinada aplicando-se o percentual de 8% no caso da indústria e comércio, 16%para transporte de passageiros e 32% para prestadores de serviços em geral. Por exemplo, se uma empresa prestadora de serviços obtém receita bruta de R$ 1.200.000,00 em um determinado ano, o lucro presumido será de 32% de R$ 1.200.000,00 = R$ 384.000,00. O imposto de renda a pagar será de 15% sobre R$ 384.000,00 = R$ 57.600,00 e mais 10% sobre o excedente [( R$ 384.000,00 – R$ 240.000,00) = R$ 144.000,00]. O IRPJ excedente será 10% de R$ 144.000,00, isto é R$ 14,400, total a pagar de R$ 72.000,00. 2.4 CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) Para determinação do valor a pagar de CSLL, também é necessário ajustar o lucro contábil operacional, o regulamento da CSLL é muito parecido ao regulamento do IR, mas não é igual, por isso o lucro fiscal (real) sob o prisma da legislação da CSLL dificilmente é igual ao lucro fiscal (real) sob o prisma da legislação do IR. Uma vez calculado o lucro real sob o prisma da legislação da CSLL, a alíquota na modalidade lucro real para a CSLL será de 9%. Não é permitido optar pelo IRPJ real e CSLL presumido. Se a empresa optar pela modalidade do lucro presumido, a base de cálculo da CSLL será determinada da seguinte forma: 12% da receita bruta nas atividades comerciais, industriais, serviços hospitalares e de transporte; 52 32% para: a) prestação de serviços em geral, exceto a de serviços hospitalares e de transporte; b) intermediação de negócios; c) administração, locação ou cessão de bens imóveis, móveis e direitos de qualquer natureza. O valor da CSLL a pagar será 9% sobre 12% = 1,08% ou 9% sobre 32% = 2,88% (ver Quadro 2). 2.5 Ajuste do lucro para apuração de IRPJ e CSLL A seguir apresentamos exemplos de outras adições e exclusões do lucro operacional para determinação do lucro tributável: Quadro 3 – Tabela de adições e exclusões Fonte: elaborado pelo autor. 53 3. O impacto dos tributos nas demonstrações contábeis No conjunto completo das demonstrações contábeis, duas demonstrações apresentam de forma destacada os tributos: no Balanço Patrimonial (BP), são evidenciados no ativo os tributos a recuperar e os tributos diferidos. No passivo, os tributos a pagar ou recolher a curto e longo prazo. Na Demonstração do Resultado (DRE), são apresentados de forma sintetizada os tributos incorridos no período. A seguir, vamos apresentar um exemplo de como os tributos são apresentados nas duas demonstrações citadas. Dados sobre o resultado e o patrimônio de determinada empresa em 2019: • A depreciação do imobilizado faz parte do custo dos produtos fabricados e em proporção menor nas despesas administrativas diversas. • O empréstimo de longo prazo tem custo financeiro de 10% ao ano. • O IPVA é calculado sobre o valor venal da frota de carro avaliada em R$ 1.000.000,00. • O IPTU é calculado na base de 1% sobre o valor dos imóveis, avaliados em R$ 5.000.000,00. • O prejuízo fiscal acumulado é de R$ 1.500.000,00. Do ponto de vista contábil, esse prejuízo já tinha sido absorvido integralmente em exercícios anteriores. 3.1 Impacto dos tributos na demonstração do resultado (DRE) 54 Quadro 4 – Demonstração do resultado 2019 Fonte: elaborado pelo autor. 55 Falta calcular o IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica) e a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). A seguir, vamos calcular o IRPJ. Para isso, teremos que considerar inclusões e exclusões em relação à legislação do imposto de renda. As perdas com clientes e as despesas com multas não são consideradas despesas para o imposto de renda, portanto temos que incluir ajustes no LALUR em relação a esses fatos: Quadro 5 – LALUR Fonte: elaborado pelo autor. Como foi informado nos dados, a empresa possui uma base fiscal negativa (estoque de prejuízo) no valor de R$ 1.500.000,00, podemos utilizar essas perdas passadas para reduzir o imposto a pagar neste exercício, mas existe um limite: só podemos utilizar prejuízo de períodos anteriores até o limite de 30% do lucro real. Como o lucro real apurado foi de R$ 2.977.100,00, o prejuízo passado que poderemos abater é de 30% de R$ 2.977.100,00 = R$ 899.130,00. A base de cálculo do Imposto de Renda, isto é, o lucro real será a diferença entre R$ 2.997.100,00 e R$ 899.130,00 = R$ 2.097.970,00. Cálculo do Imposto de Renda: 15% sobre R$ 2.097.970,00 = R$ 314.695,50. O regulamento do Imposto de Renda tributa o excedente a R$ 20.000,00 de lucro mensal (R$ 56 240.000,00/ano). O lucro excedente é R$ 2.097.970,00 – R$ 240,000,00 = R$ 1.857.970,00. Sobre o lucro excedente calculado no valor de R$ 1.857.970,00 deve ser aplico a alíquota de 10%, portanto o IR excedente será de R$ 185.797,00. O valor total de imposto de renda pagar é R$ 314.695,50 mais R$ 185.797,00, total de R$ 500.492,50. Ainda sobre o Imposto de Renda, temos que calcular o Imposto de Renda diferido, sobre itens que não puderam ser considerados despesas neste período, mas que serão em períodos futuros, como exemplo, o lançamento das perdas com clientes no valor de R$ 150.000,00. As multas não fazem parte deste cálculo porque nunca serão aceitas como despesas, mas as perdas serão. Em períodos futuros quando cumprirem os ritos da legislação do Imposto de Renda para poderem ser deduzidas, entretanto, do ponto de vista contábil eles não podem ser expurgados da demonstração do resultado. O valor a ser registrado como ativo diferido em contrapartida a um lançamento credor no resultado é 25% (15% + 10% de IR) de R$ 150.000,00 = R$ 37.500,00. Débito: ativo diferido de IR (ARLP) R$ 37.500,00. Crédito: IRPJ (resultado) R$ 37.500,00. Agora, vamos calcular a CSLL da mesma forma que para o Imposto de Renda o cálculo da CSLL também exige que façamos inclusões e exclusões e a CSLL também permite compensação de prejuízos passados, considerando que sejam as mesmas, o valor da base de cálculo do imposto de renda para a CSLL será de R$ 2.097.970,00. Da mesma forma que o Imposto de Renda, também temos que calcular o valor da CSLL diferida no ativo em função das perdas com clientes 57 lançadas contabilmente no período que não podem ser consideradas neste período como despesas, mas serão no futuro. O valor a ser registrado como ativo diferido em contrapartida a uma conta de resultado credora é: 9% sobre 150.000,00. Débito: ativo diferido de CSL (ARLP) R$ 13.500,00. Crédito: CSL (Resultado) R$ 13.500,00. Portanto, o final da DRE terá a seguinte composição: Quadro 6 – DRE após resultado operacional até resultado líquido Fonte: elaborado pelo autor. 3.2 Impacto dos tributos no balanço patrimonial A seguir, apresentamos o balanço patrimonial que demonstra no ativo não circulante (ativo realizável a longo prazo) os valores de imposto de renda diferidos e CSLL diferidos. Esses valores serão apropriados no futuro quando as perdas puderem ser consideradas pelo regulamento fiscal. Observe o valor dos imóveis e veículos que foram base para os cálculos do IPTU (1%) e IPVA (4%). 58 Observe o valor do imposto de renda a pagar e CSLL a pagar, que são exatamente os valores que cálculos no item 2.1. Quadro 7 – Balanço patrimonial Fonte: elaborado pelo autor. 59 Referências Bibliográficas BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: D.O.U., 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 jun. 2020. MARQUES, Helena J. Direito tributário. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MONTOTO, Eugenio. Contabilidade Geral e Avançada Esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. FABRETTI, Láudio C. Contabilidade Tributária. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2017. REZENDE, Amaury J.; PEREIRA, Carlos A.; ALENCAR, Roberta de. Contabilidade tributária: entendendo a lógica dos tributos e seus reflexos sobre os resultados da empresa. São Paulo: Atlas, 2010. SÃO PAULO. ALELSP. Lei nº 13.296, de 23 de dezembro de 2008. Estabelece o tratamento tributário do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA.São Paulo: D.O., 2008. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/ legislacao/lei/2008/lei-13296-23.12.2008.html. Acesso em: 6 jul. 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2008/lei-13296-23.12.2008.html https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2008/lei-13296-23.12.2008.html 60 Planejamento tributário Autoria: Eugenio Montoto Leitura crítica: Gisele Zanardi Polizel Objetivos • Conceituar elisão e evasão fiscal. • Apresentar as classificações do planejamento tributário. • Exemplificar o planejamento tributário. 61 1. Introdução O universo do planejamento tributário está intimamente relacionado com o objetivo de encontrar formas legais de reduzir os pesados custos tributários das empresas em todo o mundo. Observe o gráfico na página seguinte que compara a carga tributária em relação ao PIB de importantes países no mundo. Em um estudo divulgado em 2018 pela OCDE, a média da carga tributária dos países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2017 foi de 34,2%, muito próxima da carga tributária brasileira que foi 32,5% naquele ano. Diversos países mais ricos que o Brasil, como a França, Dinamarca, Itália, Suécia, Alemanha e outros possuem cargas ainda maiores que a brasileira, algumas superiores a 40%. A média da relação carga tributária versus PIB dos mesmos países desta pesquisa feita pela OCDE em 2008, apresentou um percentual médio de 32,9%; e analisando a evolução individual de cada país, constatamos um aumento em praticamente todos. A carga tributária média em relação ao PIB das principais nações na década de 1950 era de 15%. Analisando esse cenário de 2017/2018, constata-se que a tendência da carga tributária tem sido crescente ao longo das décadas e muito relevante em relação às receitas e resultados das empresas. Por isso, a grande importância do planejamento tributário no cotidiano das empresas, um ótimo planejamento pode trazer significativos benefícios econômicos e financeiros e, em alguns casos, ser a base para a viabilidade e continuidade operacional de um negócio. 62 2. Economia de tributos A economia de tributos não depende exclusivamente dos responsáveis pela área contábil ou financeira das empresas, mas exige necessariamente o envolvimento das áreas operacionais industriais, comercial, marketing, compras, assim como dos gestores com poder de decisão. A economia de tributos pode ser obtida mudando a especificação de um produto produzido, de tal forma que passe a ter características que o isentem de tributos ou que tenha a carga tributária reduzida. Neste caso, o departamento de marketing e engenharia terão importância fundamental, a inclusão de novas características em um produto pode encarecer seu custo de produção. Mas, em função da tributação menor de novos componentes e do valor de venda, o resultado poderá ser melhor do que o produto da versão anterior. No caso de importação de produtos, é muito frequente um produto ter uma funcionalidade mais complexa e essa funcionalidade não estar sequer citada na embalagem, manuais e demais prospectos do produto, e isso ocorre por um foco de marketing do produtor internacional. Como no Brasil as tarifas de importação para produtos similares variam enormemente, e em geral os produtos mais complexos possuem tributação ou zero – pois não possuem concorrente nacional –, basta acrescentar essa funcionalidade já existente e apenas não destacada em toda a documentação e realizar a importação com alíquota zero ou menor. A economia de tributos pode ser obtida substituindo insumos importados, a tabela de impostos de importação tem itens com alíquota zero e outros com alíquota 40%. Produtos eletrônicos fabricados no Brasil utilizam uma grande quantidade de componentes eletrônicos importados. Substituir um componente eletrônico que possui alíquota de importação de 40% por outro componente importado que possua alíquota zero de importação, uma vez que não existe fabricante nacional, 63 pode representar uma diminuição no custo industrial. Exemplo: capacitor com 10% de precisão e capacitor com 2% de precisão. Quadro 1 – Exemplo de alíquotas do imposto de importação Componente/ Precisão Preço CIF Alíquota do II CIF + II Capacitor com 10% R$ 10,00 40% R$ 14,00 Capacitor com 2% R$ 12,00 0% R$ 12,00 Fonte: elaborado pelo autor. Mesmo o componente mais preciso sendo um pouco mais caro que o componente menos preciso, como as alíquotas de importação são muito diferentes, existe uma economia de R$ 2,00 por componente. Se a empresa utiliza um milhão destes componentes por ano, teremos uma diminuição de custos da ordem de R$ 2.000.000,00/ano. Outro exemplo pode ser uma importadora de utensílios domésticos e profissionais; a seguir, apresentamos a classificação TEC-Mercosul para máquinas de costura. Se a máquina for exclusivamente de uso doméstico, pagará 20% de imposto de importação, e se tiver a capacidade de costurar couro ou peles, pagará 0% de imposto de importação. Muito provavelmente, o fabricante chinês, com um pequeno incremento no preço, poderá incluir a possibilidade de as máquinas domésticas também poderem costurar couro e peles e, desta forma, o imposto de importação será 0% (zero). Quadro 2 – NCM (TEC) para máquinas de costura NCM (TEC) Descrição Imposto de Importação (%) 8452.10.00 - Máquinas de costura de uso doméstico. 20 8452.2 - Outras máquinas de costura. 64 8452.21 - Unidades automáticas. 8452.21.10 - Para costurar couros ou peles. 0BK Fonte: elaborado pelo autor. Os procedimentos citados são legais e requerem envolvimento multidisciplinar para que sejam detectados e aplicados. Cabe ressaltar, que no caso de componentes ou produtos importados, quando houver redução do imposto de importação (II), existirá impacto no valor do IPI e ICMS que são calculados sobre o valor adicionado do imposto de importação. 3. Conceitos de elisão e evasão fiscal A elisão é a forma legal (lícita) que se baseia no estudo, planejamento e ações, visando economizar tributos dentro dos limites das legislações. A evasão é a forma ilícita de não pagar tributos, retardando, reduzindo ou mesmo eliminando seu recolhimento. 3.1 Elisão fiscal Todos os exemplos apresentados no item anterior não constituem fraude nem ato ilegal e podem ser identificados como procedimentos de elisão fiscal. A elisão fiscal é a economia legal de tributos e está intimamente relacionada com o planejamento tributário. É um direito do contribuinte se organizar e procurar todas as formas possíveis, dentro dos limites legais estabelecidos pelos entes públicos tributantes, para pagar menos tributos. Só pode ser considerado um procedimento alinhado com a elisão fiscal (procedimento lícito) quando for planejado antes da ocorrência do fato gerador, com o objetivo de eliminar, reduzir ou postergar a incidência do tributo. Um bom exemplo 65 de eliminação legal de um tributo é a classificação de um insumo de tal forma que a alíquota do imposto de importação seja menor ou até mesmo zero. Um exemplo de redução é a adoção do lucro real em vez do lucro presumido, porque nesta modalidade de declaração de Imposto de Renda, para um determinado tipo de empresa, ela pagará menos tributos. Postergar de forma lícita seria entregar produtos a um cliente em janeiro, ao invés de dezembro, com a ciência do cliente, desta forma a empresa estaria postergando o recolhimento de imposto de renda e contribuição social por um ano. Todos os exemplos fazem parte de procedimentos e iniciativas válidas na condução de um negócio, com o objetivo de obter o maior proveito possível dos recursos obtidos no negócio, gerindo os tributos. 3.2 Evasão fiscal Ao começar a conceituar evasão, saiba que não existe fraude não fraudulenta, pois toda fraude é ato ilícito. Não existe evasãolegal, toda evasão é ato ilegal. Evasão é o não recolhimento ou o recolhimento a menor ou mesmo a postergação, sem qualquer respaldo de procedimentos ou legislação tributária. Não confunda, por exemplo, um tributo em atraso, que foi declarado corretamente com evasão fiscal. Um exemplo de evasão é a designada “nota calçada”, isto é, a nota fiscal entregue ao cliente tem valor correto, mas o registro no livro físico ou nos meios digitais da empresa possui valor 10% do valor real. Todos os tributos na contabilidade da empresa serão calculados tomando-se por base um valor dez vezes menor. Outro exemplo é quando a empresa vende e não emite qualquer nota fiscal. Imagine uma escola optante do lucro real que não declara os valores recebidos de 50% de seus alunos; essa escola estará deixando de recolher 50% do ISS e provavelmente 100% de Imposto de Renda e 66 contribuição social, uma vez que certamente vai declarar as despesas que serão confrontadas com receitas muito menores. Portanto, evasão fiscal está absolutamente ligada ao conceito de fraude ou sonegação fiscal. Como veremos a seguir, a Lei n. 4.729 de 1965 define sonegação fiscal em seu artigo primeiro: 3.3. Norma antielisão No dia 11 de janeiro de 2001, foi promulgada a Lei Complementar n. 104, chamada de norma antielisão que introduziu o parágrafo único no art. 116 do Código Tributário Nacional, o seguinte texto: Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. (BRASIL, 2001) Observe que esse parágrafo não deveria ser chamado de norma antielisão, mas de norma antievasão, uma vez que está claro que a finalidade é desconsiderar atos que sejam dissimulação, seja para ocultar ou disfarçar o fato gerador. De forma alguma, esse parágrafo invalida ou elimina procedimentos de elisão fiscal. Não se deve confundir com elisão, procedimentos utilizados por empresas apoiadas por importantes escritórios de advocacia, que quitam débitos fiscais temporariamente, utilizando-se de títulos públicos incompatíveis com o débito ou mesmo inválidos e, apoiadas nessas ações judiciais que se arrastam por anos, os contribuintes postergam o pagamento de tributos que terão que honrar, acrescidos de multa e juros por atraso. Em algumas situações, pode existir uma linha tênue entre elisão e evasão fiscal em função da complexidade dos temas tributários, mas também porque os fiscos estão muito atentos aos procedimentos de elisão e 67 estão sempre mudando as regras fiscais para fechar as brechas legais de economia tributária por parte dos contribuintes. 4. Classificação do planejamento tributário O planejamento tributário eficiente é um conjunto de condutas que precisa envolver diversas áreas da empresa e ter objetivos amplos, podemos classificar o planejamento tributário sob o prisma estrutural e dos seus objetivos. Figura 1 – Tipos de classificação do planejamento tributário Fonte: elaborada pelo autor. 4.1 Planejamento estrutural Do ponto de vista estrutural, o planejamento tributário pode ser operacional ou estratégico. A classificação estrutural operacional diz respeito a todos os procedimentos de todas as áreas da empresa que podem interferir para que um tributo possa ter seu valor anulado, reduzido ou postergado. A classificação estrutural estratégica diz respeito a decisões que podem ocorrer mesmo antes de a empresa ser constituída, como definindo o melhor local para sua instalação, estrutura de capital próprio e tipos de contratação de capital de terceiros, como debêntures e outros. Esse tipo de pensar, pode levar a empresa a mudar 68 de localização, priorizar a exportação, descontinuar linhas de produtos ou explorar linhas de produtos, priorizar ou não clientes ou segmentos de mercado interno ou externo. Cabe destacar as formas como a área jurídica pode atuar tanto no aspecto operacional como estratégico do planejamento tributário e elas são designadas como tipo preventivo, corretivo e especial. O tipo preventivo refere-se às orientações que o setor jurídico realiza para que as obrigações principais e acessórias da empresa sejam cumpridas. O tipo corretivo, refere-se aos procedimentos de correção jurídica que precisam ser realizados para minorar o impacto de erros que não deveriam ter sido cometidos. O tipo especial ocorre em função do lançamento de um produto, processos de reestruturação empresarial entre outros que envolvem: pesquisa, articulação de fatos, estudos dos aspectos jurídicos -fiscais, conclusão e formulação do planejamento. 4.2 Planejamento tributário por objetivos A seguir, vamos descrever os tipos mais comuns de objetivos no planejamento tributário. 4.2.1 Caráter anulatório O caráter anulatório visa impedir a hipótese de incidência tributária. Como exemplo, determinada empresa vende diversos cursos livres ao custo de R$ 500,00, em aulas via internet, e sobre este valor recolhe ISS, PIS e COFINS. Provavelmente, essa empresa poderia vender as aulas do curso por R$ 400,00 e o material didático por R$ 100,00, sobre o material didático existe isenção total de tributos. 69 4.2.2 – Caráter omissivo Invocando essa característica, simplesmente não realizamos uma operação por ser esse procedimento muito dispendioso, como exemplo, citamos a importação de roteadores de dados para redes de internet corporativas. Por que importar os modelos mais conhecidos se existem fabricantes nacionais com produtos eficientes? Devemos mudar os processos de homologação de produtos e serviços para habilitar novas opções de compra. 4.2.3 Caráter induzido Esse caráter do planejamento pode ser invocado quando existirem situações de incentivo por instalar uma fábrica na zona franca de Manaus ou importar pelo porto do Espírito Santo. São os próprios entes públicos tributantes que induzem essas decisões. 4.2.4 Caráter optativo Esse caráter é evidenciado quando existem opções de tributação na própria legislação, por exemplo, declarar o imposto de renda pelo lucro real ou lucro presumido ou instalar a empresa na cidade de São Paulo (ISS 5%) ou no município de Santana de Parnaíba (SP) (ISS 2%). 4.2.5 Caráter lacunar Como exemplo, temos a importação de insumos, a tabela com as alíquotas (TEC), e mesmo sendo muito detalhada, não abrange a grande variabilidade de tipos de produtos (lacuna). Dessa forma, é muito comum poder classificar um produto em duas ou mais classificações com alíquotas de importação muito diferentes. 70 5. A dinâmica do planejamento tributário Com o objetivo de tornar bem prática a dinâmica do planejamento tributário, observe o exemplo da decisão que a empresa precisa tomar no início de cada exercício a respeito da opção pelo lucro real ou lucro presumido. Utilizaremos como exemplo uma empresa de serviços que tem faturamento projetado de R$ 80.000,00 por mês, o que acarretará uma projeção de faturamento trimestral de R$ 240.000,00. Não iremos considerar o ISS, porque na maioria das situações, ele será o mesmo, 5%. Para empresas prestadoras de serviços, na opção lucro presumido, a base de cálculo para o imposto de renda e contribuição social é de 32% da receita de serviços, se não existissem outros tributos sobre o faturamento a decisão seria mais fácil, isto é, uma empresa com margem de lucro antes do Imposto de Renda e contribuição social superior a 32%, deveria adotar o lucro presumido; e com lucro inferior, deveria adotar o lucro real. Mas existem outros tributos (PIS e COFINS) com alíquotas distintas sobre o faturamento para cada uma das opções: Quadro 3 – Alíquotas do PIS/COFINS para lucro presumido e lucro real Lucro presumido Lucro real PIS 0,65% 1,65% COFINS 3,00% 7,6% Fonte: elaborado pelo autor. No quadro a seguir, apresentamos os tributos que seriam pagos caso
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