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Revista RG News 8 (1), 2022 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos 
 
22 
 
IV - Artigos de Opinião 
Bovino Pantaneiro: o melhor do Pantanal traduzido em pecuária, cultura, tradição 
e biodiversidade 
Raquel Soares Juliano1, Andrea Alves do Egito2, Flavia Accetturi Szukala Araujo3, Marcus Antônio 
Ruiz4 
Resumo 
O Pantanal é o cenário ideal para ações de conservação e uso da biodiversidade local, num contexto que inclui história, 
povos originários, guerra, turismo, agropecuária, gastronomia e beleza natural. Contudo, é surpreendente que o tema 
abordado nesse artigo seja um histórico do esforço para salvar da extinção uma raça de bovino. São abordados 
superficialmente alguns aspectos teóricos e conceituais, mas a expectativa é que a leitura do texto traga ao conhecimento 
do leitor, como evoluíram as ações para o resgate e conservação dessa raça, iniciadas na década de 1980 e como vêm 
sendo construídas, entre instituições diversas e criadores, as estratégias para fortalecer e valorizar esse patrimônio 
brasileiro. 
Palavras-chave: Raças locais; conservação in situ; recurso genético animal; adaptabilidade; valor agregado; 
sustentabilidade 
Abstract 
The Pantanal is the ideal setting for conservation actions and the use of local biodiversity, in a context that includes history, 
indigenous peoples, war, tourism, agriculture, gastronomy and nature. However, it is surprising that the topic addressed 
in this article is a history of the effort to save a cattle breed from extinction. Some theoretical and conceptual aspects are 
superficially addressed, but the expectation is that the text will bring to the reader's knowledge how the actions for the 
rescue and conservation of this breed, started in the 1980s, have evolved and how they have been built, among different 
institutions and creators, strategies to strengthen and enhance this Brazilian heritage. 
Keywords: Local breeds; in situ conservation; animal genetic resource; adaptability; added value; sustainability 
 
1 Embrapa Pantanal, Rua 21 de setembro, 1880, 79320900, Corumbá, MS, Brasil, raquel.juliano@embrapa.br 
2 Embrapa Gado de Corte, Av. Rádio Maia, 830, 79106-550, Campo Grande, MS, Brasil, andrea.egito@embrapa.br 
3 WWF-Brasil, R. Padre João Crippa, 766, 79008-451, Campo Grande, MS, Brasil, flaviaaraujo@wwf.org.br 
4 Fazenda São Marcos, Rodovia MS382, Guia Lopes da Laguna, MS, Brasil, marcus.ruiz@uol.com.br 
 Revista RG News 8 (1), 2022 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos 
 
23 
 
O Pantanal é um universo natural; a maior planície inundável do mundo, com área distribuída no Brasil, Argentina, 
Bolívia e Paraguai. No Brasil, a planície pantaneira ocupa uma área de 138.183 km2, nos estados de Mato Grosso e Mato 
Grosso do Sul, sendo dividida em 11 sub-regiões (Figura 1) que apresentam peculiaridades determinantes e fundamentais 
para a ecologia da fauna, flora, uso e ocupação do território e sistemas produtivos agropecuários (SILVA e ABDON, 
1998; ADÁMOLI, 2000). A complexidade desse sistema ecológico, que está relacionada principalmente ao pulso de 
inundação, se reflete numa diversidade de habitats que caracterizam suas sub-regiões, interferindo diretamente na 
disponibilidade de alimento para os animais, além dos processos de ocupação, adaptação e conservação in situ dos recursos 
genéticos animais (RGAs). 
A título de informação, definimos RGAs como sendo aquelas espécies com potencial de uso para produção de 
alimentos, dentro de um contexto histórico, cultural, socioeconômico e ambiental. O risco de perda desses recursos, 
suscitam ações que garantam sua manutenção e disponibilidade para uso de gerações futuras, daí a denominação de: 
programas de conservação de RGAs. A conservação in situ trata do desenvolvimento dessas atividades no habitat onde 
originalmente estas populações sofreram seus processos adaptativos (PAIVA et al., 2019). 
 
 
Figura 1. Sub-regiões do Pantanal brasileiro. Fonte: SILVA e ABDON, 1998 
 
As raças de animais domésticos localmente adaptadas ao Pantanal brasileiro, apesar das suas particularidades, têm 
um histórico comum, pois descendem de animais vindos da península Ibérica, trazidos pelos colonizadores, 
principalmente em expedições de Espanha, na primeira metade do século XVI, que atravessavam essa região e seguiam 
os caminhos que levavam ao Peru, a procura de minas de ouro e prata. Os animais eram fonte de alimento e força e 
trabalho, por isso acompanhavam os desbravadores. Houve muitos embates com indígenas nesse período e muitas 
expedições fracassaram e deixaram livres seus animais, que se adaptaram e proliferaram naturalmente nos campos da 
planície pantaneira (MARIANTE e CAVALCANTE, 2006). 
São identificados como RGAs do Pantanal: o Bovino Pantaneiro, o Cavalo Pantaneiro, o Ovino Pantaneiro e o 
Porco Monteiro. Todos esses foram inseridos em atividades de pesquisa e conservação em diferentes momentos, a partir 
1983, quando o Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa (Cenargen), que até 
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então possuía projetos envolvendo apenas a conservação de espécies vegetais, incluiu na sua programação de pesquisa a 
Conservação de Recursos Genéticos Animais, realizando a identificação de populações em risco, caracterização genética 
e fenotípica, a identificação de potencialidades para o uso, a implantação de núcleos de conservação in situ e o 
armazenamento de germoplasma (EGITO et al., 2002). 
A ausência de risco de extinção, a seleção e melhoramento dessas raças com a manutenção de variabilidade genética 
e a inserção dessas raças em sistemas produtivos economicamente viáveis é o cenário pretendido por todos que se dedicam 
ao trabalho de conservação de RGAs no Pantanal. Entretanto, o êxito em cada etapa para alcançar esses objetivos depende 
de uma variedade de fatores que vão além das características intrínsecas dos animais. É possível citar: recursos humanos 
e financeiros; aceitação de mercado consumidor; infraestrutura, interesse e envolvimento da cadeia produtiva; gestão, 
governança e políticas públicas, entre outros. Por isso, pretende-se caracterizar o Bovino Pantaneiro sobre os diferentes 
aspectos que interferiram no seu processo de conservação: 
O Bovino Pantanerio descende de animais ibéricos, trazidos nas expedições dos primeiros colonizadores. De acordo 
com as referências descritas por MAZZA et al (1994) a raça foi formada a partir de cruzamentos aleatórios de raças 
espanholas (Arouquesa, Berrenda Negra/Vermelha, Negra Andaluza, Retinta, Rubia Gallega) e portuguesas (Alentejana, 
Algarvia, Barrosa, Mertolenga, Minhota, Mirandesa). São animais fortes, com tamanho mediano, chifres longos e pelagem 
de coloração diversificada (Figura 2). 
 
 Figura 2. Diversidade de pelagens em animais da raça Bovino Pantaneiro. Fonte: ABCBP/Embrapa Pantanal 
A presença desses animais nessa região é anterior ao desenvolvimento da atividade pecuária, propriamente dita, 
pois já habitavam as pastagens nativas desde o período colonial, mantendo-se em rebanhos de vida livre. A presença 
d 
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humana na planície pantaneira, nessa época, consistia em pequenos povoados ao redor de fortificações militares e missões 
jesuítas, além de aldeamentos indígenas. O gado era criado para subsistência, pequena atividade comercial e troca entre 
as populações fronteiriças. A atividade pecuária iniciou-se na primeira metade do século XIX, com o término do ciclo do 
ouro em Cuiabá e a migração de famílias para abrir as fazendas no Pantanal. Em virtude das inundações cíclicas, 
características dessa região, houve necessidade de ocupar extensas áreas, inclusive no planalto, de forma a garantir abrigo 
e alimento para os animais, no período de cheias (TRUBILIANO, 2014). 
Após a Guerra do Paraguai (1864-1870), as relações comerciais expandiram-se principalmente no Sulda Provincia 
de Mato Grosso, houve instalação de saladeiros e o charque era exportado para Argentina, Uruguai e países da Europa. O 
gado magro em pé seguia em comitivas para ser engordado e abatido em Minas Gerais e São Paulo e por isso a necessidade 
de animais fortes e resistentes. Esse modelo de cadeia produtiva permaneceu até a década de 1960, mesmo com a 
instalação da ferrovia Noroeste do Brasil (TRUBILIANO, 2014). Esses animais protagonizaram a produção de couro e 
carne até meados do século XX. A população de Bovino Pantaneiro sofreu um forte processo de erosão genética, fruto do 
cruzamento com touros de outras raças, especialmente da raça Nelore, resultando em acentuado risco de extinção 
(MAZZA et al., 1994; MARIANTE e CAVALCANTE, 2006). 
Em 1984 foi criado o Núcleo de Conservação do Bovino Pantaneiro, na Fazenda Nhumirim, pertencente à Embrapa 
Pantanal (Corumbá-MS). Ao longo do tempo pesquisadores de diferentes instituições trabalharam para conhecer melhor 
esses animais e seu potencial de uso em diferentes modelos pecuários, como oportunidade para produtores rurais que 
tivessem interesse em criar essa raça. Até 2009, havia o rebanho da Embrapa Pantanal e da Fazenda Promissão em Poconé-
MT. 
Nesse mesmo ano a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) em Aquidauana-MS, adquiriu suas 
primeiras bezerras, vindas da Fazenda Nhumirim, e deu início a criação do Núcleo de Conservação de Bovinos Pantaneiros 
de Aquidauana (Nubopan), com pesquisas direcionadas, principalmente, ao aspecto desconhecido da aptidão da raça para 
produção leiteira. Além disso, um criador tradicional de Guia Lopes da Laguna-MS, proprietário da Fazenda São Marcos, 
apresentou animais que vinham sendo utilizados para a produção de leite desde 1975, com um histórico maravilhoso de 
herança de tradições. 
Em 2009 foi realizada a parceria com a Fundação Pantanal Holding, que trabalhava com conservação de onças 
pintadas na região de Porto Jofre-MT. Havia interesse em implantar um novo criatório de Bovino Pantaneiro como 
alternativa para minimizar conflitos de convivência com predadores, baseado no anedotário popular de que esses animais 
possuíam um comportamento grupal de proteção (MARQUES JUNIOR, JULIANO e ABDO, 2012). Esse rebanho foi a 
base da criação atual da Estância Dois Irmãos (Rio Negro-MS), que vem fazendo um trabalho pioneiro de seleção de 
animais com potencial para melhoramento da produção de carne de qualidade diferenciada. 
Os recursos para fomento em pesquisa e desenvolvimento foram reforçados com a organização da Rede Pró-Centro-
Oeste “Caracterização, Conservação e Uso das Raças Bovinas Locais Brasileiras: Curraleiro e Pantaneiro”, de 2010 a 
2018. A estratégia de trabalhar as duas raças e oficializar a parceria das instituições, que anteriormente atuavam em 
projetos pulverizados, teve como resultados positivos um maior volume de informações sobre temas de interesse para a 
conservação e uso desses RGAs e principalmente a formação de recursos humanos nos programas de pós-graduação, 
atingindo objetivos importantes de mobilização das equipes, visibilidade da pesquisa, sensibilização e capacitação de 
novos profissionais para atuarem nessa área. Entretanto a Rede Pro Centro Oeste, foi descontinuada pelo Conselho 
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 
As equipes de pesquisa foram fortalecidas com a parceria dos criadores e em 2013 foi criada a Associação Brasileira 
de Criadores de Bovino Pantaneiro (ABCBP), com a finalidade de valorizar e divulgar as qualidades da raça, incentivando 
a implantação de novos criatórios e regulamentando as questões relacionadas ao padrão racial e o registro do Bovino 
Pantaneiro junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). Atualmente a ABCBP possui 24 
associados, criadores da raça, estimando existir aproximadamente 2700 animais Bovinos Pantaneiros, em diferentes 
estágios de conservação genética, criados em propriedades localizadas no Pantanal e planalto de MS e MT. O projeto 
financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do 
Sul (Fundect), coordenado pela UEMS, foi fundamental no resgate de animais em rebanhos desconhecidos que possuíam 
animais com fenótipos e históricos compatíveis com o Bovino Pantaneiro. 
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As perspectivas em relação ao Bovino Pantaneiro são promissoras. Sua característica de adaptação ao calor 
(SANTOS et al., 2005) garante condições de bem-estar para a produção de leite com alto teor de gordura (OLIVEIRA-
BROCHADO et al., 2018) e carme com características desejáveis de maciez e suculência (BARBOSA, 2021). 
Entretanto, é preciso reforçar que o fato de serem animais mais rústicos, não significa que as boas práticas de 
produção agropecuária devam ser abandonadas. SOLA et al. (2020) descreveram que o leite de animais dessa raça, criados 
extensivamente, apresentou condições microbiológicas adequadas, mas, alertaram para a necessidade de capacitar a mão 
de obra para a melhoria das condições de higiene na ordenha. 
O Bovino Pantaneiro produz carne e leite com qualidade diferenciada, mesmo sem ter sido selecionado para isso 
ou fazer parte de programas de melhoramento genético. EGITO et al. (2015) referenciaram pesquisas que indicaram a 
presença de alelos favoráveis em genes de interesse para a seleção de animais, por meio de ferramentas moleculares, na 
formação de linhagens produtoras de leite e carne. A utilização de touros selecionados em cruzamentos com diferentes 
raças e a produção de raças compostas é uma alternativa que vem sendo testada com a raça Curraleiro Pé-Duro 
(CARVALHO, 2019). 
A carne do Bovino Pantaneiro tem potencial de atender às exigências do mercado consumidor e agregar valor ao 
produto por meio de selos e certificações. Entretanto, as pesquisas detectaram que o consumidor necessita conhecer melhor 
sobre as raças locais e os processos envolvidos na sua conservação para produção de alimentos de qualidade (MORAES 
et al., 2016). 
A participação das raças taurinas adaptadas do Brasil e a expressão das suas características na qualidade do rebanho 
Nelore foi pouco considerada pelos criadores. Os primeiros produtos dos cruzamentos de touros zebus em vacas 
pantaneiras eram animais melhores, possivelmente em função da heterose, mas esse melhor desempenho foi atribuído 
somente à genética da raça Nelore, o que pode ter motivado uma rejeição em relação ao Bovino Pantaneiro, dificultando 
a sua inclusão em sistemas produtivos. A estratégia de reforçar a divulgação das qualidades desse RGA, tende a desfazer 
esse pré-conceito. 
O cruzamento com raças zebuínas ou a formação de raças compostas, sem um criterioso planejamento de 
conservação dos rebanhos de Bovino Pantaneiro pode refletir em perda de variabilidade genética, inclusive como 
consequência do processo de seleção e melhoramento na pequena população. Tais fatos seriam um risco para a 
sobrevivência da raça e, nesse contexto, a utilização de raças localmente adaptadas a áreas úmidas tropicais, com 
similaridade genética, pode ser uma opção para evitar a sua extinção. 
O Bovino Pantaneiro tem identidade com a cultura pantaneira, se relaciona historicamente e ecologicamente com a 
região, está presente na música, na poesia e na memória gastronômica de pessoas que construíram suas tradições fazendo 
queijo Nicola, que é ingrediente da sopa paraguaia, da chipa e o acompanhamento perfeito para o doce de leite. Sua carne 
saborosa é especial para o churrasco ou carne “soleada”, utilizada na culinária local no preparo de macarrão de comitiva, 
arroz carreteiro e paçoca. No Pantanal Sul, a bebida típica para aliviar o calor e animar o corpo é o tereré, infusão fria de 
erva mate, servida em uma guampa feita de chifre de bovino; com o chifre também se faz o berrante que ajuda a conduzir 
o gado. A pele espessa e macia do Bovino Pantaneiro dá um couro resistente e flexível,depois de curtido pelo método 
tradicional, com casca da árvore do angico. Com o couro se trança laço de doze tentos, se faz a calça de couro, o alforge, 
e a tralha de montaria para o peão trabalhar no campo 
Tais afirmativas corroboram FELIX et al. (2013), observando que as estratégias de conservação para que o Bovino 
Pantaneiro deixe o status de risco de extinção incluem o seu uso em diferentes sistemas produtivos pois há um alinhamento 
com demandas importantes para o Pantanal brasileiro e as comunidades locais, tais como: sistemas produtivos pecuários 
multifuncionais ou sustentáveis (orgânico ou agroecológico), cadeias produtivas relacionadas ao agroecoturismo, turismo 
histórico e gastronômico ou comercialização de produtos com valor agregado por meio de certificações. 
Neste sentido, em 2021, a ABCBP, com apoio do WWF-Brasil e alinhado com o Nuboban e a Embrapa Pantanal, 
trabalhou em seu planejamento estratégico, com a revisão da missão, princípios e estratégias para o impulsionamento da 
raça e transformação da criação do Bovino Pantaneiro em um produto economicamente viável. Em seu plano de negócios, 
o material orienta a associação na tomada de decisões estratégicas para uma gestão empresarial consciente, com olhares 
para o futuro, considerando fatores de risco de mercado. Desta forma, verifica-se que há empenho do produtor e os atores 
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envolvidos com PD&I no grande desafio relacionado a construção de cadeias produtivas plurais que viabilizem esse 
modelo de sistema produtivo que utiliza o Bovino Pantaneiro, colaborando com a sua conservação. 
Em conclusão, é possível afirmar que o processo de conservação e uso do Bovino Pantaneiro vem sendo conduzido 
lentamente e em equipe, na expectativa que esse esforço coletivo inspire cada vez mais pessoas engajadas no sucesso 
dessa raça. 
Agradecimentos 
A todos que trabalham pelo reconhecimento das raças brasileiras como um recurso valioso, e se empenham para que eles 
não se estingam. 
Referências 
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