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UNIVERSIDADE FEDERAL DOMARANHÃO PROFESSORA: CRISTIANA COSTA LIMA DISCIPLINA: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL I MARIA DEUZAMAR DAS CHAGAS GOMES Fichamento Papa Leão XIII. "Rerum Novarum" (Carta Encíclica sobre a Condição dos Operários). 15 de maio de 1891. Disponível em: http://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_reru m-novarum.html “Os Socialistas, para curar este mal, instigam nos pobres o ódio invejoso contra os que possuem, e pretendem que toda a propriedade de bens particulares deve ser suprimida, que os bens dum indivíduo qualquer devem ser comuns a todos, e que a sua administração deve voltar para - os Municípios ou para o Estado. Mediante esta transladação das propriedades e está igual repartição das riquezas e das comodidades que elas proporcionam entre os cidadãos, lisonjeiam-se de aplicar um remédio eficaz aos males presentes. Mas semelhante teoria, longe de ser capaz de pôr termo ao conflito, prejudicaria o operário se fosse posta em prática. Pelo contrário, é sumamente injusta, por violar os direitos legítimos dos proprietários, viciar as funções do Estado e tender para a subversão completa do edifício social.” (p. 02) Neste trecho, a Encíclica Rerum Novarum critica a solução proposta pelos socialistas para resolver as questões sociais enfrentadas pelos trabalhadores. O documento argumenta que a teoria socialista de suprimir a propriedade privada e realizar uma redistribuição igualitária das riquezas não só seria injusta ao violar os direitos dos proprietários, mas também teria efeitos prejudiciais para os próprios trabalhadores. O Papa Leão XIII enfatiza que essa abordagem não resolveria os conflitos existentes e, em vez disso, conduziria à desestabilização e à subversão da ordem social. Essa crítica reflete a postura da Igreja Católica em relação ao socialismo, que foi um tema de debate importante na época em que a Encíclica foi escrita. A Igreja defende a importância da propriedade privada como um direito natural e ressalta que a proposta socialista não oferece uma solução adequada para os problemas sociais e econômicos enfrentados pelos trabalhadores. Ao destacar as consequências negativas da implementação do socialismo, a Encíclica busca fortalecer sua posição em defesa dos direitos dos http://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html http://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html proprietários e da manutenção da ordem social existente. Encíclica busca fortalecer sua posição em defesa dos direitos dos proprietários e da manutenção da ordem social existente. Uma consideração mais profunda da natureza humana vai fazer sobressair melhor ainda está verdade. O homem abrange pela sua inteligência uma infinidade de objetos, e às coisas presentes acrescenta e prende as coisas futuras; além disso, é senhor das suas ações; também sob a direção da lei eterna e sob o governo universal da Providência divina, ele é, de algum modo, para si a sua lei e a sua providência. É por isso que tem o direito de escolher as coisas que julgar mais aptas, não só para prover ao presente, mas ainda ao futuro. De onde se segue que deve ter sob o seu domínio não só os produtos da terra, mas ainda a própria terra, que, pela sua fecundidade, ele vê estar destinado a ser a sua fornecedora no futuro. As necessidades do homem repetem-se perpetuamente: satisfeitas hoje, renascem amanhã com novas exigências. Foi preciso, portanto, para que ele pudesse realizar o seu direito em todo o tempo, que a natureza pusesse à sua disposição um elemento estável e permanente, capaz de lhe fornecer perpetuamente os meios. (p.03) Nesse trecho da Encíclica Rerum Novarum, destaca-se a importância da consideração da natureza humana para a compreensão dos direitos e da relação do ser humano com a propriedade. A Encíclica argumenta que, como seres racionais, os seres humanos possuem a capacidade de planejar e projetar suas ações para o futuro, buscando atender tanto às necessidades presentes quanto às futuras. Além disso, a Encíclica enfatiza que os seres humanos são responsáveis por suas ações, pois estão sujeitos à lei eterna e à Providência divina. A partir dessa perspectiva, a Encíclica defende o direito do ser humano de exercer domínio sobre os recursos naturais, incluindo a terra, como uma maneira de garantir a satisfação de suas necessidades presentes e futuras. É ressaltado que a terra, por sua fertilidade, está destinada a fornecer continuamente os meios para a subsistência humana. Essa visão reforça a ideia de que a propriedade privada é um direito natural do ser humano, que tem a responsabilidade de administrar e utilizar os recursos de maneira justa e equitativa, considerando tanto suas necessidades imediatas quanto as gerações futuras. A Encíclica ressalta a importância da estabilidade e da disponibilidade contínua dos recursos naturais para garantir a realização dos direitos humanos ao longo do tempo. A natureza não impõe somente ao pai de família o dever sagrado de alimentar e sustentar seus filhos; vai mais longe. Como os filhos refletem a fisionomia de seu pai e são uma espécie de prolongamento da sua pessoa, a natureza inspira-lhe o cuidado do seu futuro e a criação dum património que os ajude a defender-se, na perigosa jornada da vida, contra todas as surpresas da má fortuna. Mas, esse patrimônio poderá ele criá-lo sem a aquisição e a posse de bens permanentes e produtivos que possam transmitir-lhes por via de herança? Assim como a sociedade civil, a família, conforme atrás dissemos, é uma sociedade propriamente dita, com a sua autoridade e o seu governo paterno, é por isso que sempre indubitavelmente na esfera que lhe determina o seu fim imediato, ela goza, para a escolha e uso de tudo o que exigem a sua conservação e o exercício duma justa independência, de direitos pelo menos iguais aos da sociedade civil. Pelo menos iguais, dizemos Nós, porque a sociedade doméstica tem sobre a sociedade civil uma prioridade lógica e uma prioridade real, de que participam necessariamente os seus direitos e os seus deveres. E se os indivíduos e as famílias, entrando na sociedade, nela achassem, em vez de apoio, um obstáculo, em vez de proteção, uma diminuição dos seus direitos, dentro em pouco a sociedade seria mais para se evitar do que para se procurar. (p.04) Neste trecho, é ressaltado o papel fundamental da família na sociedade e a responsabilidade dos pais em garantir o sustento e o futuro de seus filhos. A natureza humana é vista como uma fonte de inspiração, levando os pais a cuidarem do bem-estar futuro de seus filhos e a criar um patrimônio que os ajude a enfrentar as adversidades da vida. A Encíclica argumenta que, para construir esse patrimônio e transmiti-lo como herança, é necessário adquirir e possuir bens permanentes e produtivos. Essa visão reforça a importância da propriedade privada e da capacidade de acumulação de recursos como um meio para garantir a segurança e a proteção das gerações futuras. A família é considerada uma sociedade própria, com sua própria autoridade e governo paterno. Assim como a sociedade civil, a família possui direitos e deveres, e esses direitos são pelo menos iguais aos da sociedade civil. A Encíclica destaca que a família tem uma prioridade lógica e real em relação à sociedade civil, e seus direitos e deveres devem ser reconhecidos e respeitados. A Encíclica argumenta que se os indivíduos e as famílias, ao ingressarem na sociedade civil, encontrarem obstáculos e restrições aos seus direitos e proteção, a sociedade se tornará algo a ser evitado em vez de procurado. Isso reforça a importância de uma sociedade que promova e proteja os direitos individuais e familiares, a fim de criar um ambiente favorável ao desenvolvimento e à prosperidade de todos os seus membros. Essa visão ressalta a importância da família como uma instituição fundamentalpara a coesão social e o bem-estar das pessoas. Ao reconhecer a responsabilidade dos pais e a prioridade da família, a Encíclica destaca a necessidade de uma sociedade que valorize e apoie o papel da família, garantindo que ela possa cumprir seus deveres e desfrutar de seus direitos de forma adequada. O primeiro princípio a pôr em evidência é que o homem deve aceitar com paciência a sua condição: é impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível. É, sem dúvida, isto o que desejam os Socialistas; mas contra a natureza todos os esforços são vãos. Foi ela, realmente, que estabeleceu entre os homens diferenças tão multíplices como profundas; diferenças de inteligência, de talento, de habilidade, de saúde, de força; diferenças necessárias, de onde nasce espontaneamente a desigualdade das condições. Esta desigualdade, por outro lado, reverte em proveito de todos, tanto da sociedade como dos indivíduos; porque a vida social requer um organismo muito variado e funções muito diversas, e o que leva precisamente os homens a partilharem estas funções é, principalmente, a diferença das suas respectivas condições. (p. 06) Neste trecho, destaca-se o princípio de que é impossível alcançar a igualdade absoluta entre os indivíduos na sociedade civil. A Encíclica argumenta que a natureza estabeleceu diferenças profundas e múltiplas entre os seres humanos, como diferenças de inteligência, talento, habilidade, saúde e força. Essas diferenças são vistas como naturais e inevitáveis, e delas surgem naturalmente a desigualdade de condições. A Encíclica afirma que essa desigualdade é benéfica tanto para a sociedade como para os indivíduos. A vida social requer um organismo diversificado, com funções e habilidades variadas. São as diferenças nas condições de cada indivíduo que levam à necessidade de compartilhar e desempenhar essas funções sociais específicas. A variedade de talentos, habilidades e condições contribui para o funcionamento harmonioso da sociedade e permite que os indivíduos cumpram seus papéis e contribuam para o bem comum. Essa visão reconhece que a desigualdade é parte intrínseca da natureza humana e da sociedade. A Encíclica sugere que a busca pela igualdade absoluta é contrária à natureza e aos esforços vãos. Em vez disso, a ênfase é colocada na compreensão da diversidade e na aceitação da condição individual com paciência. É importante ressaltar que, embora a Encíclica reconheça as diferenças e a desigualdade entre os seres humanos, ela também defende a importância de garantir justiça social, dignidade e oportunidades iguais para todos, independentemente de suas diferenças. A Encíclica não apoia a exploração ou a marginalização dos menos favorecidos, mas reconhece a necessidade de reconhecer e valorizar as diversas habilidades e condições dos indivíduos na sociedade. Quanto aos ricos e aos patrões, não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem, realçada ainda pela do Cristão. O trabalho do corpo, pelo testemunho comum da razão e da filosofia cristã, longe de ser um objeto de vergonha, honra o homem, porque lhe fornece um nobre meio de sustentar a sua vida. O que é vergonhoso e desumano é usar dos homens como de vis instrumentos de lucro, e não os estimar senão na proporção do vigor dos seus braços. O cristianismo, além disso, prescreve que se tenham em consideração os interesses espirituais do operário e o bem da sua alma. Aos patrões compete velar para que a isto seja dada plena satisfação, para que o operário não seja entregue à sedução e às solicitações corruptoras, que nada venha enfraquecer o espírito de família nem os hábitos de economia. Proíbe também aos patrões que imponham aos seus subordinados um trabalho superior às suas forças ou em desarmonia com a sua idade ou o seu sexo. (p.07) Neste trecho, ressalta-se a necessidade de tratar os operários com dignidade e respeito, reconhecendo a importância do trabalho humano. A Encíclica enfatiza que os ricos e os patrões não devem tratar os trabalhadores como escravos, mas sim valorizar sua dignidade como seres humanos, especialmente quando esses trabalhadores são cristãos, realçando assim sua dignidade cristã. A Encíclica ressalta que o trabalho físico não é algo vergonhoso, mas sim uma atividade nobre que permite ao ser humano sustentar sua vida. No entanto, o que é considerado vergonhoso e desumano é tratar os trabalhadores como meros instrumentos de lucro, valorizando-os apenas pela força de seus braços. Essa visão vai de encontro aos abusos e exploração presentes nas relações trabalhistas da época, destacando a importância de se reconhecer o valor intrínseco de cada trabalhador como pessoa. Além disso, a Encíclica argumenta que o cristianismo exige que se leve em consideração os interesses espirituais dos trabalhadores e o bem de suas almas. Os empregadores são responsáveis por garantir que essas necessidades sejam atendidas, evitando a sedução e as influências corruptoras que possam prejudicar a vida espiritual dos trabalhadores. Também é enfatizado o cuidado com a preservação dos valores familiares e dos hábitos de economia, reconhecendo a importância da estabilidade familiar e do equilíbrio financeiro. A mesma destaca ainda que os empregadores devem evitar impor aos seus subordinados um trabalho excessivo em relação às suas capacidades físicas, idade ou sexo. Isso demonstra a preocupação com a justiça e a dignidade no ambiente de trabalho, garantindo que as condições de trabalho sejam adequadas e respeitem a integridade física e emocional dos trabalhadores. Essas orientações buscam estabelecer uma relação justa e equilibrada entre empregadores e trabalhadores, reconhecendo a importância da dignidade humana, da justiça social e dos princípios cristãos na esfera do trabalho. “instruir e educar os homens segundo seus princípios e a sua doutrina ... penetrar nas almas ... que se deixam conduzir e governar pelas regras dos preceitos divinos”. (p.10) Os tópicos do pensamento social da Rerum Novarum, acima expostos, concentram-se sobretudo na solução da chamada questão operária. No âmbito de cada uma das nações, segundo o Papa, deverá respeitar-se o primado do trabalho do homem sobre o capital. A propriedade privada e o Estado são necessários, enquanto meios para executar fins humanos e diversos. Mas, é conveniente descer expressamente a algumas particularidades. É um dever principalíssimo dos governos assegurar a propriedade particular por meio de leis sábias. Hoje especialmente, no meio de tamanho ardor de cobiças desenfreadas, é preciso que o povo se conserve no seu dever; porque, se a justiça lhe concede o direito de empregar os meios de melhorar a sua sorte, nem a justiça nem o bem público consentem que danifiquem alguém na sua fazenda nem que se invadam os direitos alheios sob pretexto de não que igualdade. Por certo que a maior parte dos operários quereriam melhorar de condição por meios honestos sem prejudicar a ninguém; todavia, não poucos há que, embebidos de máximas falsas e desejosos de novidade, procuram a todo o custo excitar e impelir os outros a violências. Intervenha, portanto, a autoridade do Estado, e, reprimindo os agitadores, preserve os bons operários do perigo da sedução e os legítimos patrões de serem despojados do que é seu. (p.14) Neste trecho, é destacado a importância dos governos em assegurar a propriedade privada por meio de leis sábias. Diante das ambições desenfreadas e da busca por igualdade, é essencial que o povo se mantenha em seu dever, respeitando tanto o direito de buscar melhorias em suas condições de vida, quanto a necessidade de não prejudicar ou invadir os direitos e propriedades alheias em nome da igualdade. A Encíclica reconhece que a maioria dos trabalhadores deseja melhorar suas condições de vida de forma honesta, sem prejudicar ninguém. No entanto, há alguns que, influenciados por ideias falsas e desejosos de mudanças radicais, buscam incitar e incentivar a violência.Diante desse cenário, a Encíclica ressalta a importância da intervenção da autoridade do Estado para reprimir os agitadores e proteger os trabalhadores honestos do perigo da sedução e os legítimos empregadores de serem privados de seus bens. Essa abordagem demonstra a preocupação da Encíclica em buscar um equilíbrio entre os direitos e interesses dos trabalhadores e dos empregadores, reconhecendo a importância da propriedade privada, da justiça e da necessidade de proteger o bem comum. A intervenção do Estado é vista como um meio de garantir a ordem, a justiça e a estabilidade nas relações de trabalho, preservando os direitos e propriedades de todos os envolvidos.
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