Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2020 Título: Hemograma: um guia prático Editor: Diana Cruz Projeto gráfico: Bruno Brum Diagramação: Richard Veiga Editoração Capa: Didario Teles Edição de Texto: André Christophe Conselho Editorial: Caio Vinicius Menezes Nunes, Paulo Costa Lima Sandra de Quadros Uzêda, Sheila de Quadros Uzêda, Silvio José Albergaria da Silva Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) H489 Hemograma: um guia prático / Deivide de Sousa Oliveira… [et al.], autores; Herivaldo Ferreira da Silva, coordenação. – Salvador: SANAR, 2019. 144 p.: il.; 13 x 19 cm. ISBN 978-85-5462-128-5 1. Hemograma – Guias. 2. Sangue – Exame. 3. Leucócitos. 4. Medicina – Prática. I. Oliveira, Deivide de Sousa, aut. II. Silva, Herivaldo Ferreira da, coord. CDU: 616.15-076 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA FREIRE, Thayná Araújo (coord.) et al. Manual de Semiologia Médica. 1. ed. Salvador: Editora Sanar, 2020. Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Fábio Andrade Gomes – CRB-5/1513 Elaboração: Fábio Andrade Gomes – CRB-5/1513 Editora Sanar Ltda. Rua Alceu Amoroso Lima, 172 Caminho das Árvores Edf. Salvador Office e Pool, 3º andar. CEP: 41820-770 – Salvador/BA Telefone: 0800 337 6262 sanarsaude.com atendimento@sanar.com Índice 1. Capa 2. Folha de rosto 3. Créditos 4. Prefácio 5. Apresentação 6. Introdução 7. Colaboradores 8. Siglas 9. Capítulo 1 - Da coleta ao resultado do hemograma 10. Capítulo 2 - Índices hematimétricos – eritrograma 11. Capítulo 3 - Introdução às anemias 12. Capítulo 4 - Anemias microcíticas clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_000.xhtml clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/Section0001.xhtml clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/Section0002.xhtml clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_001.xhtml clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_002.xhtml clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_003.xhtml clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_004.xhtml clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_006.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_007.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_008.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_009.html 13. Capítulo 5 - Anemias macrocíticas 14. Capítulo 6 - Anemias normocíticas 15. Capítulo 7 - Eritrocitose 16. Capítulo 8 - Introdução à série branca 17. Capítulo 9 - Leucocitose 18. Capítulo 10 - Neutrofilia 19. Capítulo 11 - Neutropenia 20. Capítulo 12 - Linfocitose 21. Capítulo 13 - Linfopenia 22. Capítulo 14 - Eosinofilia e eosinopenia 23. Capítulo 15 - Monocitose e monocitopenia 24. Capítulo 16 - Basofilia e basopenia 25. Capítulo 17 - Trombocitopenia 26. Capítulo 18 - Trombocitose 27. Capítulo 19 - Pancitopenia clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_010.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_011.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_012.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_013.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_014.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_015.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_016.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_017.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_018.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_019.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_020.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_021.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_022.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_023.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_024.html 28. Capítulo 20 - Esfregaço Periférico 29. Apêndice clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_025.html clbr://internal.invalid/book/OEBPS/Text/part0000_split_026.xhtml Sumário Capítulo 1 Da coleta ao resultado do hemograma Capítulo 2 Índices hematimétricos – eritrograma Capítulo 3 Introdução às anemias Definição Classificação das anemias Abordagem diagnóstica Capítulo 4 Anemias microcíticas Introdução Etiologia Avaliação Capítulo 5 Anemias macrocíticas Introdução Etiologia Avaliação Capítulo 6 Anemias normocíticas Introdução Etiologia Avaliação Capítulo 7 Eritrocitose Introdução Etiologia Avaliação Capítulo 8 Introdução à série branca Capítulo 9 Leucocitose Introdução Fisiopatologia Avaliação e etiologia Desvio à esquerda Reação leucemoide Reação leucoeritroblástica Capítulo 10 Neutrofilia Introdução Etiologia Avaliação Capítulo 11 Neutropenia Introdução Etiologia Avaliação Capítulo 12 Linfocitose Introdução Avaliação e etiologia Capítulo 13 Linfopenia Introdução Etiologia Avaliação Capítulo 14 Eosinofilia e eosinopenia Eosinofilia Etiologia Eosinopenia Capítulo 15 Monocitose e monocitopenia Introdução Monocitose Monocitopenia Capítulo 16 Basofilia e basopenia Introdução Avaliação Etiologia Capítulo 17 Trombocitopenia Introdução Avaliação Capítulo 18 Trombocitose Introdução Avaliação e etiologia Capítulo 19 Pancitopenia Introdução Avaliação e etiologia Capítulo 20 Esfregaço Periférico Apêndice Introdução O hemograma é um dos exames mais solicitados na prática médica. Ele, talvez, represente um dos poucos contatos que o estudante ou o profissional de saúde terão com o vasto mundo da Hematologia, tendo em vista a dificuldade que os cursos da área da saúde têm em relação a esse capítulo da Ciência. Muitas vezes esse mundo é povoado por quimeras, por medos e pelo desconhecido. Lendas sobre as doenças hematológicas, lendas sobre os exames e o encontro com o insolúvel e o ininteligível. É natural e humano temer o que não se sabe, o que não se conhece; entretanto, quando se lida com as ciências da saúde, o desconhecimento possui um preço irreparável. Nesse sentido, esse livro se propõe a ser uma arma contra esse medo que muitos têm diante do grande oceano da Hematologia, especialmente, tomando como base as alterações do hemograma para a navegação pelos mares bravios das doenças hematológicas, tentando chegar a um porto seguro, onde se possa tecer alguma hipótese a respeito daquela alteração demonstrada pelo exame. O hemograma, nesse contexto, vai ser o nosso mapa, e esse livro se propõe a ser uma bússola, talvez mais para um aletiômetro, onde as dúvidas podem ser respondidas a depender do quão interessado esteja a pessoa que perguntar. As fronteiras do universo da hematologia estão quase todas tocadas, mesmo que apenas citadas, dentro do livro, que, apesar de conciso, primou pela abrangência e pela incitação da curiosidade do leitor. Espera-se que, ao final da leitura, possamos ter chegado a um ponto mais profundo da dúvida e ter levantado ainda mais o desejo de se mergulhar nesse mundo tão belo e encantador da Ciência do Sangue. Deivide de Sousa Oliveira Médico graduado pela Universidade Estadual do Ceará Residência Médica em Clínica Médica do Hospital Geral Dr. César Cals de Oliveira Residência Médica em Hematologia e Hemoterapia do Hospital Universitário Walter Cantídio – Universidade Federal do Ceará Preceptor do Internato e da Residência Médica do Hospital Geral Dr. César Cals de Oliveira Prefácio Como já relatado no livro “101 hemogramas: desafios clínicos para o médico”, existem poucos livros sobre a abordagem da interpretação clínica do hemograma, assunto não devidamente discutido na graduação. Apesar de tão solicitado na prática médica, é frequente a dificuldade dos alunos e profissionais de compreender as alterações dos índices hematimétricos. A proposta do livro “Hemograma: um guia prático” surgiu com um diálogo entre a Editora Sanar e a Liga de Oncologia e Hematologia da Universidade Estadual do Ceará (LOUECE), com o intuito de fornecer aos estudantes uma abordagem prática sobre o estudo do hemograma, servindo decomplemento ao “101 hemogramas: desafios clínicos para o médico”. Desse modo, serve de auxílio para maior compreensão desse exame. Elaborou-se, juntamente com a LOUECE, um guia simples e prático de uso diário para estudantes e profissionais da área de saúde. Essa obra buscou abranger os métodos de coleta de sangue, preparação, esfregaço e coloração. Também se ressaltou a tecnologia de contagem de células por aparelhos automatizados e a avaliação dos aspectos morfológicos das células sanguíneas. Procurou-se priorizar a abordagem das alterações do hemograma nas suas dimensões etiológicas e diagnósticas, levando em consideração os demais achados clínicos das doenças, como sinais e sintomas, testes laboratoriais e exames radiológicos. Objetiva-se que, ao final da leitura, o leitor possa reconhecer a importância da coleta, do preparo e da interpretação do hemograma, associados aos dados da anamnese e dos achados clínicos do paciente. Herivaldo Ferreira da Silva Doutor em Hematologia pela Universidade de São Paulo Professor de Semiologia e de Hematologia do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Preceptor do Internato e da Residência Médica do Hospital Geral Dr. César Cals de Oliveira Médico do serviço de Hematologia do Hospital Universitário Walter Cantídio – Universidade Federal do Ceará Médico hematologista do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Ceará Siglas ABPA Aspergilose broncopulmonar alérgica ADC Anemia da doença crônica AH Anemia hemolítica AHAI Anemia hemolítica autoimune AINEs Anti-inflamatórios não esteroides ALPS Autoimmune lymphoproliferative syndrome AP Anemia perniciosa APSV Aplasia pura da série vermelha AR Artrite reumatoide ATO Arsenic trioxyde ATRA All-transretinoic acid BMO Biópsia de medula óssea CHC Carcinoma hepatocelular CHCM Concentração da hemoglobina corpuscular média CIVD Coagulação Intravascular Disseminada DPOC Doença pulmonar obstrutiva crônica DRC Doença renal crônica DRESS Drug reaction with eosinophillia and systemic symptoms EAS Elementos e anormais sedimentos da urina EBV Epstein-Barr virus ECG Eletrocardiograma ECO Ecocardiograma EDTA Ethylenediaminetetraacetic acid EGD Esofagogastroduodenoscopia EPO Eritropoetina FAN Fator antinuclear FISH Fluorescent in situ hybridization G6PD Glicose-6-fosfato desidrogenase Hb Hemoglobina HbA2 Hemoglobina A2 HbF Hemoglobina fetal HBV Hepatitis B virus HCM Hemoglobina corpuscular média HCV Hepatitis C virus HELLP Hemolysis, elevated liver enzymes and low platelets syndrome HIV Human immuno-deficiency virus HPLC High performance liquid chromatography HPN Hemoglobinúria paroxística noturna HSV Herpes virus Ht Hematócrito HTLV-I Human T-lymphotropic virus 1 IAM Infarto agudo do miocárdio IC Insuficiência cardíaca IECA Inibidores da enzima conversora de angiotensina INR International normalized ratio IST Indice de saturação de transferrina LDH Lactate dehydrogenase LES Lúpus eritematoso sistêmico LGL Large granular lymphocytic leucemia LH Luteinizing hormone LLAT Leucemia linfoide aguda de células T LLC Leucemia linfocítica crônica LMA Leucemia mieloide aguda LMC Leucemia mieloide crônica LNC Leucemia neutrofílica crônica MAT Microangiopatia trombótica MO Medula óssea PCR Proteína C reativa PTH Paratormônio PTT Púrpura trombocitopênica trombótica PV Policitemia vera RAST Radioallergosorbent test RDW Red cell distribution width SHE Síndrome hipereosinofílica idiopática SHU Síndrome hemolítico--urêmica SMD Síndrome mielodisplásica TB Tuberculose TC Tomografia computadorizada TCAR Tomografia computadorizada de alta resolução TGO Transaminase glutâmica oxalacética TGP Transaminase glutâmica pirúvica TIBC Total iron binding capacity TP Tempo de protrombina TSH Thyroid-stimulating hormone TTPA Tempo de tromboplastina parcial ativada VCM Volume corpuscular médio VHS Velocidade de hemossedimentação β-HCG Human chorionic gonadotropin Apresentação A Liga de Oncologia e Hematologia da Universidade Estadual do Ceará (LOUECE) foi concebida em 2005, sob o nome de Liga de Oncologia da UECE, sob a orientação do Professor Dr. Antônio Wilson Vasconcelos, patologista e professor da UECE, o qual veio a falecer em 2015, deixando eternas lembranças aos alunos. Eram desenvolvidas atividades de ensino, pesquisa e extensão em encontros e práticas no Campus do Itaperi e no Instituto do Câncer do Ceará. Com o falecimento de nosso orientador, tornou-se necessário alguém que alavancasse novamente as atividades da liga, e surgiu como possibilidade o Dr. Herivaldo Ferreira da Silva, hematologista e professor de Medicina da UECE. Foi feito o convite para a orientação da liga, o qual foi aceito. Assim, iniciou-se a inclusão do estudo da Hematologia às atividades da liga. Foram diversas as mudanças, que agora incluem atividades de ensino e pesquisa nos espaços do Hospital Geral César Cals de Oliveira e do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Ceará (HEMOCE). Desde então, o Dr. Herivaldo nos acompanha com toda atenção e esmero, instigando nosso aprendizado à boa prática humana e científica da Medicina. Desde o princípio, em 2015, ele propôs o desafio de escrevermos um livro de interpretação clínica do hemograma para acadêmicos e médicos, que viria a contar com a colaboração da Editora Sanar para o lançamento nacional do “101 hemogramas: desafios clínicos para o médico”. Foi uma produção de grande aprendizado para os alunos, que escreveram os casos a partir de relatos verídicos, elaborados e incrementados com a presença do Dr. Herivaldo em diversos encontros no HEMOCE. Não se imaginava a repercussão que o livro teria no território nacional. Dando continuidade à parceria com a Editora Sanar, fomos propostos a produzir mais outro livro de grande relevância para a prática médica: “Mapa mentais em antibióticos”. O título aborda as importantes questões das infecções pelos microorganismos e a resistência aos antibióticos que eles vêm desenvolvendo, sendo, então, esquematizado de forma a contextualizar cada um dos fármacos mais utilizados atualmente, acompanhados de mapas mentais para consulta rápida. Contando agora com mais essa produção junto à Editora Sanar, a LOUECE apresenta “Hemograma: um guia prático”. O hemograma é o exame complementar mais requisitado na prática médica, e a abordagem etiológica e diagnóstica sobre suas principais alterações e aspectos são de grande valia na apreciação do exame. O exame tem grande relevância diagnóstica, bem como serve para controle evolutivo e acompanhamento. Dessa forma, foram esquematizados fluxogramas e quadros os quais fornecem orientações rápidas e práticas aos estudantes e profissionais. Esse projeto é o trabalho conjunto da LOUECE com seus orientadores, Dr. Herivaldo Ferreira da Silva e Dr. Deivide de Sousa Oliveira. Teve a contribuição dos mais variados semestres do curso de Medicina em sua elaboração, e é imensurável a aprendizagem que os alunos tiveram nesse decorrer. Esperamos que, assim como nós, o leitor desfrute da oportunidade de aprender sobre as particularidades do hemograma. Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Autor coordenador Herivaldo Ferreira da Silva Doutor em Hematologia pela Universidade de São Paulo Professor de Semiologia e de Hematologia do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Preceptor do Internato e da Residência Médica do Hospital Geral Dr. César Cals de Oliveira Médico do serviço de Hematologia do Hospital Universitário Walter Cantídio – Universidade Federal do Ceará Médico hematologista do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Ceará Autores organizadores Daniel Girão Britto Graduando do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Deivide de Sousa Oliveira Médico graduado pela Universidade Estadual do Ceará ResidênciaMédica em Clínica Médica do Hospital Geral Dr. César Cals de Oliveira Residência Médica em Hematologia e Hemoterapia do Hospital Universitário Walter Cantídio – Universidade Federal do Ceará Preceptor do Internato e da Residência Médica do Hospital Geral Dr. César Cals de Oliveira Francisco Eliézio Tomaz Filho Graduando do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Matheus Martins de Sousa Dias Médico graduado pela Universidade Estadual do Ceará Residente de Medicina de Família e Comunidade do Hospital Universitário Walter Cantídio – Universidade Federal do Ceará Pós-graduando do Mestrado Profissional Ensino na Saúde da Universidade Estadual do Ceará Autores Ana Flávia de Holanda Veloso Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Bruna Caroline de Freitas Borges Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Dalila Uchôa Sousa Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Edite Carvalho Machado Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Gabriel Moura Frota Graduando do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Gisele Nogueira Bezerra Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Hannah Parente Auad Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Isabelle Lima Pontes Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Lucas Rodrigues Gomes Graduando do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Natália Stefani de Assunção Ferreira Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Paulo Esrom Moreira Catarina Graduando do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Renato Soares Gadelha Graduando do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Tereza Amanda Bezerra Batista Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Membro da Liga de Oncologia e Hematologia da UECE Capítulo 1 Da coleta ao resultado do hemograma A realização da contagem das células sanguíneas e a interpretação correta da distensão à microscopia óptica requerem a entrega ao laboratório da amostra de sangue do paciente, identificada e corretamente anticoagulada, para que não ocorram alterações artefatuais. Os pacientes, com identidade cuidadosamente conferida, devem sentar-se ou deitar-se de modo confortável, sendo útil assegurar-lhes que o procedimento causa um desconforto mínimo, não se devendo dizer que a punção é indolor. Durante a punção venosa, o profissional ao realizar o procedimento deve usar máscara e luvas para sua proteção. No adulto, o sangue venoso é facilmente obtido de uma veia de fossa antecubital com agulha e seringa ou tubo com vácuo. Ao colher o sangue, verte-se a amostra de sangue no tubo contendo anticoagulante adequado e mistura-se suavemente, invertendo-a quatro ou cinco vezes. Também deve-se evitar a agitação do frasco. A amostra deve ser rotulada com o nome do paciente, os detalhes de identificação e um código de barras, devendo ser feita a requisição e a distensão de sangue concomitantemente. Nas crianças e nos indivíduos de veias muito finas, devem-se usar tubos a vácuo apropriadamente pequenos, para que a pressão excessiva não cause o colapso da veia. Os erros mais frequentes que observamos com relação à coleta são: • Uso de material inadequado • Frasco com anticoagulante impróprio • Utilização de sangue anticoagulado • Distensões mal feitas (o mais comum) • Presença de coágulos ou hemólise do sangue Lâminas cuidadosamente limpas e secas, lâmina própria de bordos regulares (lâmina extensora), frasco com os sais do ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) potássico (anticoagulante de escolha), seringa plástica e agulha são os materiais necessários para a coleta. Para o seu devido procedimento, é necessário retirar 4-5 ml de sangue e, ainda com a agulha, colocar 1 (uma) gota de sangue em torno de 1 cm da borda da lâmina. A gota deve ter a quantidade de sangue suficiente para fazer uma extensão de 3 a 4 cm. Os próximos passos são retirar a agulha, colocar o sangue restante no frasco com anticoagulante tendo o cuidado de não provocar hemólise, agitar o frasco para evitar a formação de coágulos, colocar a lâmina extensora a 45º da gota de sangue e, com um movimento rápido e sem muita pressão, deslizar sobre a lâmina inferior. São suficientes 3 lâminas. A extensão ideal não deve ser espessa ou fina, mas deve ter começo (porção mais espessa), meio e fim (porção mais fina). As contagens das células nos aparelhos podem ser inexatas, e é dever dos profissionais do laboratório estar atentos para sempre que possível detectar os erros. Os valores preditivos dos resultados do hemograma devem ser avaliados com os dados clínicos do paciente. Por exemplo, pode-se aceitar, sem maior revisão, uma citopenia que se sabe ser decorrente de quimioterapia ou de radioterapia recente. Da mesma forma, pode-se aceitar leucocitose com desvio à esquerda no pós-parto ou pós-operatório. Resultados que apresentam “sinais de alarme” indicando a presença de blastos, linfócitos atípicos ou eritroblastos exigem uma revisão microscópica. São muito frequentes as contagens de plaquetas erroneamente baixas, devido à coagulação parcial da amostra, à agregação, ou ao satelitismo plaquetário. A agregação plaquetária pode ser devida à coleta difícil ou mediada por um anticorpo EDTA – dependente, podendo ser tanto IgG como IgM. O satelitismo plaquetário é também um fenômeno mediado por anticorpo EDTA – dependente. É importante detectar contagens de plaquetas falsamente baixas, para evitar investigações e tratamentos desnecessários. Em casos de erros nas contagens de plaquetas, é possível obter-se contagens corretas em amostras colhidas em citrato ou heparina em vez de EDTA. Contagens de plaquetas falsamente elevadas são bem menos frequentes do que as falsamente baixas. Devem- se geralmente à microcitose acentuada ou à fragmentação de eritrócitos. O controle de qualidade constante do procedimento da coleta sanguínea, dos equipamentos e dos reagentes permite a obtenção de resultados mais precisos do hemograma. Referências 1. EXPERT PANEL CYTOMETRY OF THE INTERNATIONAL COUNCIL OF STANDARDIZATION IN HAEMATOLOGY (2000). ICSH Recommendation for the measurement of a reference paciência cell volume. Lab. Haematol, 7, 148-170. 2. FIORIN, E.; STEFLAN, A.; PRADELLA, P.; BIZZARO, N.; POTENZA, R.; ANGELIS, V. (1998). IgG platelet antibodies in EDTA-dependent Pseudothrombocytopenia bind to Membrane Glycoprotein Ilb. Am I Clin Pathol, 110, 178-183. 3. CAMPBELL, V.; FOSBURY.; BAIN, B. J. (2009). Platelet phagocytosis as a case or pseudothrombocytopenia. Br J Haematol. 99, 817-823. Capítulo 2 Índices hematimétricos – Eritrograma O hemograma é, indubitavelmente, um dos exames laboratoriais mais solicitados na prática clínica. Assim, para que o médico realize o raciocínio correto e chegue ao diagnóstico do paciente, cada um dos valores desse exame deve ser analisado criteriosamente. Apesar de expor medidas quantitativas em relação aos componentes do sangue, a interpretação do hemograma não deve ser unicamente objetiva. Em relação aos eritrócitos, deve-se conhecer o que cada índice hematimétrico expressa, e qual valor se espera de cada um nas respectivasenfermidades. Além disso, é importante associá-los entre si e também relacioná-los com os sinais e sintomas que o paciente apresenta. Os índices hematimétricos e seus respectivos valores de referência são: ÍNDICE HEMATIMÉTRICO VALOR DE REFERÊNCIA Contagem de hemácias (hematimetria) Homens: 4,5 a 6,5 milhões/mm³ Mulheres: 4 a 5 milhões/mm³ Hemoglobina (Hb) Homens: 13 a 18 g/dL Mulheres: 12 a 15,5 g/dL Hematócrito (Ht) Homens: 40 a 54% Mulheres: 36 a 45% Volume corpuscular médio (VCM) 80 a 98 fL Hemoglobina corpuscular média (HCM) 27 a 32 pg Concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) 32 a 36 g/dL Red cell distribution width (RDW) 11 a 15% A hematimetria expressa a quantidade, em milhões, de hemácias por mm³, e o hematócrito (Ht), o volume das hemácias em uma amostra de sangue, em porcentagem. São índices bastante úteis na avaliação das eritrocitoses, em que se encontram elevados, e das anemias em geral, em que estão diminuídos. A concentração de hemoglobina (Hb), em relação a todas as hemácias em um decilitro de sangue, é um dos mais importantes ao avaliar-se um hemograma. A principal função da hemoglobina é carrear e distribuir oxigênio aos tecidos, e sua diminuição, o que acontece nas anemias, pode causar sintomas como fadiga e dispneia, além de uma síndrome hiperdinâmica, expressa pelo aumento da frequência cardíaca, palpitações etc. A Hb está aumentada em casos de policitemia, desidratação e hipóxia. O volume corpuscular médio (VCM) expressa o volume médio das hemácias, em fentolitros. Um VCM menor que 80 fL é característico das anemias microcíticas, como ferropriva, sideroblástica e talassemias. Anemias macrocíticas, como anemia megaloblástica, apresentam VCM elevado. O HCM é o índice que expressa a massa de hemoglobina média das hemácias. Medido em picogramas, é encontrado diminuído nas anemias hipocrômicas, como ferropriva e talassemias. O CHCM indica a concentração média de hemoglobina nas hemácias, medido em gramas por decilitro. O VCM, o HCM e o CHCM são calculados a partir de outros índices hematimétricos, como segue: VCM = Ht x 10/hematimetria HCM = Hb x 10/hematimetria CHCM = Hb/Ht x 100 Por fim, o RDW (red cell distribution width), ou índice de anisocitose, expressa a variação de volume entre as hemácias. Altos valores de RDW são encontrados em pacientes que passaram por transfusão sanguínea recente, em síndromes mielodisplásicas, e também nas anemias ferropriva e megaloblástica, diferenciado-as das talassemias, em que o RDW, geralmente, está normal. Referências 1. BEUTLER, E.. The definition of anemia: what is the lower limit of normal of the blood hemoglobin concentration? Blood, [s.l.], v. 107, nº 5, p.1747-1750, 1 mar. 2006. American Society of Hematology. 2. GEORGE, T. I. Automated hematology instrumentation. UpToDate. 2019. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/automated-hematology- instrumentation>. Acesso em: 08/02/2019. 3. GREEN, Ralph; WACHSMANN-HOGIU, Sebastian. Development, History, and Future of Automated Cell Counters. Clinics In Laboratory Medicine, [s.l.], v. 35, nº 1, p.1-10, mar. 2015. Elsevier BV. 4. HOFFMANN, Johannes J.M.l.. Reference range of mean platelet volume. Thrombosis Research, [s.l.], v. 129, nº 4, p.534-535, abr. 2012. Elsevier BV. 5. SCHRIER, Stanley L. Approach to the adult with anemia. UpToDate. 2019. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with- anemia>. Acesso em: 08/02/2019. Capítulo 3 Introdução às Anemias A anemia é a condição clínica mais comum segundo relatório da OMS 2014, associando-se à piora do estado nutricional, à falta de acesso a serviço de saúde e a piores índices de desenvolvimento humano, motivo pelo qual se recomendou melhoria do acesso a profissionais de saúde como meta para erradicação de anemia ferropriva, principal causa de anemia mundialmente. Definição Define-se anemia quando hemoglobina abaixo de 13 g/dL para homens, 12 g/dL para mulheres em idade fértil. Até o período da puberdade, os valores de referência na infância são inferiores aos da vida adulta. O decremento habitual dos níveis de hemoglobina é conhecido como anemia fisiológica da infância, e decorre, dentre outros fatores, da adaptação à vida extrauterina após o parto no início da vida e, posteriormente, pode estar associado a mudanças da afinidade entre a hemoglobina e o oxigênio neste período da vida. Classificação das anemias As anemias podem ser classificadas quanto aos mecanismos fisiopatológicos em três grandes grupos: • Anemia por redução de produção (deficiências nutricionais, deficiência de eritropoetina, bloqueio da maturação celular por citocinas, ocupação medular, infecção dos progenitores, lesão dos progenitores mediada imunologicamente e defeitos genéticos adquiridos). • Anemia por excesso de destruição (defeitos genéticos hereditários e adquiridos, destruição mediada por anticorpos, trauma mecânico, infecção dos eritrócitos, lesão tóxica ou química, anormalidade dos lipídios da membrana da hemácia e hiperesplenismo). • Anemia por perdas sanguíneas (subdividindo-se em perdas agudas e crônicas). A contagem de reticulócitos é um exame essencial quando nos vemos diante de um paciente anêmico e pensamos em classificar a anemia. Raciocinando, é possível perceber que em situações de redução da produção, as células precursoras das hemácias estão diminuídas no sangue periférico, assim como aumentadas quando houver um excesso de destruição e a medula óssea ainda estiver realizando sua função. Nas perdas sanguíneas agudas, ocorre um pico de produção de reticulócitos devido ao estímulo hipóxico produtor de eritropoetina, enquanto na perda crônica de sangue ocorre redução da produção celular, pois um dos substratos essenciais para a produção de novas células está sendo depletado cronicamente, o ferro. Fluxograma 3.1. Classificação das anemias quanto ao mecanismo fisiopatológico. Na prática clínica, nem sempre é tão difícil o diagnóstico diferencial de anemia, haja vista a grande prevalência de anemia ferropênica no mundo. Contudo, não podemos abdicar do raciocínio analítico tratando empiricamente toda anemia com reposição de ferro, sob a pena de não diagnosticarmos neoplasias malignas, doenças autoimunes e infecciosas, além de não resolvermos as manifestações clínicas que decorrem da anemia. Outra forma de classificação divide as anemias de acordo com o volume corpuscular médio do eritrócito, podendo ser: Anemias microcíticas (VCM < 80 fL) Ferropenia, anemia da inflamação ou da doença crônica, talassemias, anemia sideroblástica, saturnismo, deficiência de B6, deficiência de cobre. Anemias normocíticas (80 fL < VCM < 100 fL) Ferropenia, anemia da inflamação ou da doença crônica, síndromes mielodisplásicas, mielofibrose primária, anemia aplásica, insuficiência renal crônica. Anemias macrocíticas (VCM > 100 fL) Deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, hepatopatias, tireoidopatias, síndromes mielodisplásicas, etilismo, anemia aplásica. Abordagem diagnóstica O paciente com síndrome anêmica pode se manifestar com os seguintes sinais e sintomas independentes do diagnóstico etiológico: • Astenia • Palidez • Dispneia • Sopros cardíacos • Palpitações • Tontura • Cefaleia • Vertigem • Lipotímia Anamnese detalhada com pesquisa de doenças prévias, evolução dos sintomas, pesquisa de perda crônica de sangue (história ginecológica), sintomas gastrointestinais, investigação de hemólise, alterações neurológicas, história dietética, história familiar e uso de fármacos é importante. Da mesma forma, alterações encontradas no exame físico podem sugerir etiologias específicas da anemia. Quadro 3.1. Achados da anamnese e do exame físico que podem sugerir a etiologia da anemia. Achado da anamnese e exame físico Etiologia sugerida Pica ou alotriofagia (geofagia, pagofagia, onicofagia e amidofagia)– perversão alimentar Anemia ferropênica Coiloníquia (unha em forma de colher) Anemia ferropênica Queilite angular Anemia ferropênica e anemia megaloblástica Neuropatia periférica Anemia megaloblástica por deficiência de vitamina B12 Hiperpigmentação cutânea Anemia megalobástica Icterícia Anemia hemolítica História de colelitíase Anemia hemolítica Raça negra Doença falciforme Dores osteoarticulares Doença falciforme Úlceras maleolares Doença falciforme ou esferocítica Facies em esquilo Talassemia Telangiectasias, eritema palmar, ginecomastia, rarefação de pelos Hepatopatia Telangiectasias em extremidades, lábios, nariz e orelhas Telangiectasia hemorrágica hereditária Linfonodomegalias com sinal de alarme Doenças linfoproliferativas Fluxograma 3.2. Abordagem diagnóstica do paciente anêmico. Referências 1. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Iron deficiency anaemia. Assessment, prevention and control: a guide for program managers. Geneva: WHO/UNICEF/ONU, 2001. 2. HALL, JE. Tratado de Fisiologia Médica. 12ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011. p. 437-445. 3. GREER, JP et al. Wintrobe’s Clinical Hematology. 13ª ed. Philadelphia, 2014. p. 587-616. 4. FAILACE, R et al. Hemograma Manual de Interpretação. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2009. p. 106-116. 5. HOFFBRAND, Victor A. Fundamentos em hematologia. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2013, p. 1-26. 6. GOLDMAN, L; SCHAFER, AI. Cecil Medicina. Tradução Angela Freitas, Cyro Festa Neto, Fábio Fernandes, Morato Castro. 24ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2014, p 1178-1188. 7. ELOY, FR; CERVANTES, MA. Diagnostic Approach to Hemolytic Anemias in the Adult. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. 2015;37(6):423-425. Capítulo 4 Anemias microcíticas Introdução As anemias microcíticas apresentam VCM menor que 80 fL. Geralmente, o HCM também encontra-se reduzido, menor que 28 pg, caracterizando as hemácias como microcíticas e hipocrômicas. A avaliação do paciente deve ser criteriosa, pois esse achado pode refletir desde condições prontamente tratáveis, como anemia ferropriva, até condições raras e de manejo potencialmente complicado, como talassemias. Etiologia A deficiência de ferro pode ser associada a várias causas, como aumento da demanda por ferro, geralmente condicionado por perdas sanguíneas, gravidez e hemólise intravascular com hemoglobinúria. Outra condição também favorável ao desenvolvimento de anemia é o suprimento inadequado de ferro, seja por restrição de dieta, por má absorção dos alimentos (gastrectomias, doenças inflamatórias intestinais e doença celíaca), por sangramento ginecológico ou gastrointestinal, estirão de crescimento na puberdade etc. Ademais, fatores genéticos também podem conduzir a esse quadro por meio da função anormal da transferrina em uma condição de atransferrinemia congênita. Deve-se ressaltar que a anemia ferropriva é a principal causa de anemia no mundo, especialmente em países em desenvolvimento, nos quais o baixo investimento em saneamento básico e as péssimas condições socioeconômicas são as principais causas dessa doença. No que concerne ao diagnóstico diferencial de microcitose, defeitos em fatores genéticos também podem ser apontados na ocorrência de anemia sideroblástica e talassemias. Pode-se citar ainda a deficiência de cobre como causa rara de anemia microcítica, com ferro sérico baixo, e níveis normais de transferrina e ferritina. Avaliação As anemias microcíticas estão frequentemente associadas à deficiência de ferro. Contudo, existem outras condições que podem convergir para critérios de avaliação semelhantes, diferenciando-se por não apresentarem reserva de ferro diminuída (Fluxograma 4.1). A anemia ferropriva se caracteriza como principal diagnóstico de microcitose e hipocromia, consequente da diminuição da síntese dos grupos heme ou das cadeias globínicas. Os achados laboratoriais comumente se caracterizam por: • Ferro sérico menor que 30 µg/dL • Hb 7-8 g/dL • RDW elevado e poiquilocitose no esfregaço de sangue periférico • CTLF aumentada • IST reduzido e ferritina menor que 15 mg/dL As manifestações clínicas associadas podem ser: • Palidez • Astenia • Picacismo • Escleras azuladas • Alopecia • Glossite atrófica • Queilite angular • Unhas quebradiças Fluxograma 4.1. Abordagem diagnóstica de anemia microcítica. Referências 1. HOFFBRAND, Victor A. Fundamentos em hematologia. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2013, p. 25-29. 2. GUALANDRO, Sandra F. M. Aspectos gerais das anemias: classificações. In: MARTINS, M. A. et al. (Org.). Clínica Médica: Doenças hematológicas, oncologia, doenças renais. 2ª ed. Barueri: Manole; 2016. cap. 9, p. 56- 67. Capítulo 5 Anemias macrocíticas Introdução As anemias macrocíticas apresentam o VCM elevado, acima de 98 fL, podendo ser divididas em megaloblásticas e não megaloblásticas. Os pacientes, geralmente, são assintomáticos; porém, em estados mais avançados, apresentam sintomas comuns a qualquer síndrome anêmica. É importante ressaltar que, embora a microscopia mostre hipercromicidade, os macrócitos não são hipercrômicos de fato, uma vez que não apresentam o CHCM elevado. Etiologia A anemia megaloblástica consiste na deficiência de vitamina B12 (cianocobalamina) ou B9 (ácido fólico), os quais atuam em conjunto na síntese de timina. Desse modo, a síntese e, por conseguinte, a replicação do DNA é inibida, mas a de RNA, não. Esse processo leva ao desenvolvimento citoplasmático de uma célula que se encontra em baixa divisão mitótica, resultando no aspecto megaloblastoide da linhagem eritrocítica. A reticulocitose causa anemia macrocítica, tanto pela liberação de células imaturas no sangue, quanto pelo consumo do estoque dos nutrientes citados anteriormente. Por fim, a anemia macrocítica não perniciosa pode ser causada por etilismo, drogas (antirretrovirais, quimioterápicos, anticoncepcionais, entre outras), hepatopatias, anticonvulsivantes, biguanidas, síndromes mielodisplásicas ou tireoidopatias. Os mecanismos fisiopatológicos são pouco conhecidos. Avaliação Após a interpretação do hemograma e constatado o VCM elevado, é realizada a contagem de reticulócitos, caso estejam acima de 2% ou acima do valor absoluto referencial, devem ser consideradas anemias por excesso de destruição ou por perdas. Caso não haja reticulocitose, analisa-se o sangue periférico para classificar a anemia em megaloblástica ou não. Dois importantes achados que confirmam a megaloblastose são a presença de neutrófilos hipersegmentados (mais de cinco neutrófilos com mais de cinco lóbulos ou um com mais de seis) e de macroovalócitos (eritrócitos macrocíticos de formato oval). Baixas dosagens séricas de B12 e/ou folato confirmam o diagnóstico de anemia megaloblástica. Se a deficiência for de cianocobalamina, recomenda-se fazer avaliações para excluir deficiência nutricional, disabsorção ou gastrite atrófica. A deficiência de B12 associada à gastrite atrófica autoimune define anemia perniciosa (AP), na qual a presença dos anticorpos anticélula parietal e antifator intrínseco auxiliam na elucidação do diagnóstico. O paciente, em alguns casos, pode apresentar desordens do sistema nervoso devido à deficiência de B12, mesmo na ausência de anemia. Em consequência da eritropoese ineficaz acelerada, pode-se encontrar LDH e bilirrubina indireta elevadas. Se a causa for deficiência de folato, a coleta de anamnese é o meio mais eficaz para confirmar diagnóstico, uma vez que o aumento das necessidades (gravidez, hemodiálise, eritrodermia esfoliativa, entre outros), dieta inadequada e o consumo de álcool e drogas (sulfas, pirimetamina, metotrexate, anticonvulsivantes, entre outros) são as principais responsáveis pela falta de B9. Se os níveis de B12 e folato estão normais, investiga-se as etiologias de anemia macrocítica não megaloblástica já citadas no tópico anterior. Fluxograma 5.1. Abordagem diagnóstica da anemia macrocítica.Referências 1. A’SOK, Antony C. Anemias megaloblásticas, In: GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil Medicina. 23ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013. Cap 170, p. 1417-1428. 2. FAILACE, Renato. Hemograma. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2009. p.91-94. 3. GUALANDRO, Sandra F. M. Aspectos gerais das anemias: classificações. In: MARTINS, M. A. et al. (Org.). Clínica Médica: Doenças hematológicas, oncologia, doenças renais. 2ª ed. Barueri: Manole; 2016. cap. 9, p. 56-67. 4. HOFFBRAND, Victor A. Anemias megaloblásticas. In: KASPER, Dennis L. et al. (Org.). Medicina interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre: AMGH; 2017. cap. 129, p. 2974-3012. 5. HOFFBRAND, Victor A. Fundamentos em hematologia. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2013, p. 25-29. Capítulo 6 Anemias normocíticas Introdução Nas anemias normocíticas, o VCM se encontra entre 80 e 98 fL, mas a hemoglobina se encontra abaixo da faixa adequada ao paciente. Normalmente assintomático, o paciente que apresenta exames com anemia normocítica deve ter uma avaliação cuidadosa, pois a anemia pode ser o primeiro sinal de alguma enfermidade sistêmica, assim como uma doença hematológica primária. Etiologia A anemia normocítica pode ter origem tanto pelo excesso de destruição das hemácias quanto pela falta de produção dessas células, além do hiperesplenismo e da perda aguda de sangue. Deve-se notar que o estágio inicial de quase todas as anemias é normocítico, sendo aqui denotadas as principais causas hiperproliferativas e hipoproliferativas. Existem causas de origem congênitas (hemoglobinopatias, membranopatias e eritroenzimopatias) e adquiridas de hemólise. Os mecanismos de hemólise são diversos. Nesses casos, é necessário realizar hematoscopia, testes diagnósticos e investigar o histórico do paciente para infecções (Malária, Babesia, Bartonella, Clostridium, Rickettsia, Haemophilus influenzae e HIV) e exposição a drogas (Quadro 6.2). A anemia da doença crônica pode ter origem de condições inflamatórias, infecciosas, neoplásicas malignas e outras condições sistêmicas. Contudo, as anemias associadas a doenças renais, hepáticas e endócrinas não apresentam os mesmos perfis de ferro das causadas por doenças crônicas, devendo-se investigar a função desses órgãos em particular. Causas como aplasia medular, infiltrações medulares, síndromes mielodisplásicas e anemia sideroblástica devem ser diagnosticadas pela biópsia de MO (Quadro 6.2). Avaliação As anemias normocíticas podem ter diversas causas, sendo necessária uma abordagem clínica detalhada para se confirmar o diagnóstico (Fluxograma 6.1 e Quadro 6.1). A anemia da doença crônica (ADC), apesar de poder apresentar microcitose, é a causa mais comum da maioria das anemias normocíticas em adultos, e sendo feita a abordagem adequada, pode-se dispensar a requisição de muitos exames. O paciente deve apresentar todos os seguintes achados: anemia moderada (hemoglobina 9-11 g/dL), RDW normal, sem células anormais circulantes e com doença crônica conhecida. Se tudo conferir, pode-se presumir que seja ADC, devendo- se tratar a doença de base e acompanhar o paciente. Recomenda-se a eritropoetina recombinante se o paciente estiver sintomático e a causa não for neoplásica. Formulações de ferro de alta disponibilidade têm demonstrado eficácia em casos selecionados. Fluxograma 6.1. Abordagem diagnóstica das anemias normocíticas. Quadro 6.1. Investigação das anemias normocíticas hemolíticas e hipoproliferativas. Desordens hemolíticas HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO • Sangramentos, petéquias, púrpuras • Alteração neurológica • Lesão renal aguda • Infecções • Próteses valvares • História medicamentosa • Afogamento • Trauma Desordens hemolíticas HEMATOSCOPIA • Drepanócitos, células em alvo, policromasia, pontilhado basofílico – anemia ou doença falciforme • Esferócitos – esferocitose hereditária • Eliptócitos, 25% das hemácias – eliptocitose hereditária • Células em cesto, corpúsculos de Heinz – deficiência de G6PD • Esquizócitos com plaquetopenia – MAT • Normais ou com policromasia associadas a outras citopenias – HPN • Esferócitos com policromasia – AHAI Desordens hemolíticas EXAMES COMPLEMENTARES • Fibrinogênio, TP e TTPA • Eletroforese de hemoglobina • Teste da fragilidade osmótica • Atividade de G6PD, atividade de piruvatoquinase • Citometria de fluxo de sangue periférico • Teste de Coombs direto Redução da produção de hemácias HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO • Investigar anemia da doença crônica EXAMES COMPLEMENTARES • Ureia, creatinina, sedimento urinário, proteinúria (24h), PTH, ultrassom renal • TGO, TGP, TP, albumina • T4 livre, TSH • Ferro sérico, ferritina, TIBC, IST • Eletroforese de proteínas séricas • Mielograma, biópsia de medula óssea, citogenética Quadro 6.2. Etiologias das anemias normocíticas hemolíticas e hipoproliferativas. Desordens hemolíticas CONDIÇÕES CONGÊNITAS • Anemia falciforme • Doença falciforme • Esferocitose hereditária • Eliptocitose hereditária • Deficiência de G6PD • Deficiência de piruvatoquinase CONDIÇÕES ADQUIRIDAS • Púrpura trombótica trombocitopênica • Síndrome hemolítica urêmica • Coagulopatia intravascular disseminada (não leucemia promielocítica) • Hemólise mecânica macrovascular • Hemoglobinúria paroxística noturna • Anemia hemolítica induzida por drogas • Anemia hemolítica autoimune Redução da produção de hemácias CAUSAS PRIMÁRIAS • Aplasia medular • Síndromes mielodisplásicas • Invasão medular • Aplasia pura de série vermelha CAUSAS SECUNDÁRIAS • Doença renal crônica • Doença hepática • Tireoidopatia • Anemia da doença crônica • Anemia por deficiência de ferro Referências 1. BRILL, John. R.; BAUMGARDNER, Dennis. J. Normocytic anemia. American family physician, v. 62, nº 10, p. 2255–2264, 15 nov. 2000. 2. FORD, Jason. Red blood cell morphology. International Journal Of Laboratory Hematology, 1 jun 2013. 351-357 p. v. 35. Disponível em: <http://doi.wiley.com/10.1111/ijlh.12082>. Acesso em: 23 out. 2018. 3. GUALANDRO, Sandra F. M. Aspectos gerais das anemias: classificações. In: MARTINS, M. A. et al. (Org.). Clínica Médica: Doenças hematológicas, oncologia, doenças renais. 2ª ed. Barueri: Manole; 2016. cap. 9, p. 56-67. 4. HOFFBRAND, Victor A. Fundamentos em hematologia. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2013, p. 25-29. 5. LUZZATO, Lucio. Anemias hemolíticas e causadas por perda sanguínea aguda. In: KASPER, Dennis L. et al. (Org.). Medicina interna de Harrison. 19ª ed. Porto Alegre: AMGH; 2017. cap. 129, p. 2974- 3012. 6. PHILLIPS, J.; HENDERSON, A. C. Hemolytic Anemia: Evaluation and Differential Diagnosis. American family physician, v. 98, nº 6, p. 354– 361, 15 set. 2018. 7. RAZZAQ, S. Hemolytic uremic syndrome: an emerging health risk. American family physician, v. 74, nº 6, p. 991–6, 15 set. 2006. 8. SHORT, M. W.; DOMAGALSKI, J. E. Iron deficiency anemia: evaluation and management. American family physician, v. 87, nº 2, p. 98–104, 15 jan. 2013. Capítulo 7 Eritrocitose Introdução Eritrocitose, poliglobulia ou policitemia são termos que se referem ao aumento da concentração normal da hemoglobina, valor que é calculado de acordo com a idade e o sexo do paciente. Na prática diária, eritrocitose é definida como hemoglobina acima de 16,5 g/dL e hematócrito acima de 49% em homens, e hemoglobina acima de 16 g/dL e hematócrito acima de 48% em mulheres. Várias podem ser as causas dessa condição, o que nos permite classificá-la em dois tipos: poliglobulia absoluta e poliglobulia relativa. Etiologia A poliglobulia relativa é decorrente da hemoconcentração, como ocorre em grandes queimados, ou que pode estar relacionada ao uso de diuréticos e à desidratação. Ressalta-se que a alteração de valores em três exames consecutivos tornam menos provável a hipótese de poliglobulia relativa. Ainda é possível subdividir as poliglobulias absolutas em dois grupos: poliglobulias absolutas primáriase secundárias. No primeiro grupo, encontram-se a poliglobulia absoluta primária congênita, uma condição que ocorre devido a alterações nos receptores de eritropoetina (EPO), e a poliglobulia absoluta primária adquirida por mutação em genes de tirosinoquinase, que recebe a denominação de policitemia vera (PV). Em casos de estimulação hipóxica ou proliferação celular produtora de EPO, devem ser avaliadas causas de poliglobulias secundárias. Na Quadro 7.1, estão listados os principais dentre esses distúrbios. Avaliação Um paciente com poliglobulia manifesta-se clinicamente com sintomas resultantes da hiperviscosidade, da hipervolemia e do hipermetabolismo, que causam alterações nos mais diversos sistemas do organismo. É importante lembrar-se de sinais e sintomas como pletora facial, dor abdominal ou torácica, turvação visual, parestesia, confusão mental, hemorragia e eventos trombóticos. Prurido aquagênico, eritromelalgia e esplenomegalia são mais indicativos de PV, enquanto hipovolemia, dispneia, tosse crônica, perda ponderal, massas abdominais, hematúria e história de transplante, principalmente renal, são mais indicativas de poliglobulias secundárias. O diagnóstico etiológico é de extrema importância para a definição do tratamento e do prognóstico, devendo seguir os passos descritos no fluxograma. Quadro 7.1. Etiologias da poliglubulia secundária. Poliglobulia Secundária Poliglobulia Secundária CONGÊNITA • Defeitos no mecanismo de sensibilidade ao O ² : mutação do gene VHL; PHD2; HIF-2α • Hemoglobina de alta afinidade ADQUIRIDA Associada à hipóxia ou a doenças cardiopulmonares • Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) • Shunt cardíaco da direita para a esquerda • Apneia obstrutiva do sono • Síndrome obesidade- hipoventilação alveolar (síndrome de Pickwick) • Elevadas altitudes • Intoxicação por monóxido de carbono Associada a doenças renais • Pós-transplante renal • Estenose de artéria renal • Cistos renais • Hidronefrose Produção autônoma de EPO por tumores Poliglobulia Secundária • Carcinoma hepatocelular (CHC) • Câncer de células renais • Angioblastoma cerebelar • Meningioma • Tumores de paratireoides • Feocromocitoma • Leiomioma uterino Associada a fármacos • Administração de EPO ou de andrógenos Fluxograma 7.1. Abordagem diagnóstica da eritrocitose. Referências 1. SPIVAK, J.L.. Myeloproliferative Neoplasms. New England Journal of Medicine. Baltimore, p. 2168-2181. jul. 2017. 2. TEFFERI, A.; BARBUI, T.. Polycythemia vera and essential thrombocythemia: 2017 update on diagnosis, risk-stratification and management. American Journal of Hematology. Hoboken, p. 95-108. jan. 2017. Capítulo 8 Introdução à Série branca Denomina-se série branca o conjunto de elementos figurados do sangue formados pelos leucócitos, os quais se podem subdividir em granulócitos e agranulócitos. A principal função dessas células é participar dos mecanismos da imunidade, seja ela humoral, como na produção de anticorpos pelos linfócitos B, ou celular, como no ataque dos neutrófilos a bactérias, seja ela inata ou específica. Nesse contexto, a formação dessas células deriva de dois grandes grupos de linhagem: mieloide e linfoide. A mieloide dará origem a dois grandes grupos: um monocítico-macrofágico e outro de células granulares. As principais células granulares são neutrófilos, eosinófilos e basófilos, cada qual com função e direcionamento mais especializado. A linhagem monocítico-macrofágica participa ativamente da imunidade inata por meio dos macrófagos, como também da imunidade adaptativa, por meio da ativação e modulação da resposta imune pela apresentação de antígenos. Fluxograma 8.1. Origem esquemática das células da série branca. A análise da quantidade dessas células no sangue periférico é feita por meio do hemograma, o qual se compõe tanto da quantificação absoluta e relativa dessas células, como também pela análise da morfologia na hematoscopia. Na prática clínica, a avaliação qualitativa não é realizada na maioria das vezes. Quadro 8.1. Valores de referência de leucócitos no adulto. Células da linhagem branca Valores de referência Neutrófilos 1.600-8.000/mm³ Eosinófilos 40-400/mm³ Basófilos 0-200/mm³ Linfócitos 1.000-4.500/mm³ Monócitos 100-1.000/mm³ Referências 1. OLIVEIRA, Raimundo Antonio Gomes. Hemograma: como fazer e interpretar. 2. ed. São Paulo: Red Publicações; 2015. Capítulo 9 Leucocitose Introdução O termo leucocitose refere-se a um aumento no número absoluto total de glóbulos brancos. Do ponto de vista prático, é tradicionalmente classificada de acordo com o grupo de glóbulos brancos que contribuem para um aumento no número total de leucócitos. Portanto, pode ser causada por um aumento na contagem de: • Neutrófilos (neutrofilia) • Linfócitos (linfocitose) • Monócitos (monocitose) • Eosinófilos (eosinofilia) • Basófilos (basofilia) • Células imaturas (blastos) Uma combinação de qualquer um dos itens acima pode estar envolvida. Fisiopatologia A leucocitose pode ser uma reação a vários processos infecciosos, inflamatórios e, em certos casos, fisiológicos (por exemplo, estresse, exercício). Essa reação é mediada por várias moléculas, que são liberadas ou reguladas positivamente em resposta a eventos estimulatórios. Avaliação e etiologia A leucocitose deve ser avaliada de acordo com o tipo de célula de linhagem branca que contribui para um aumento do número absoluto de leucócitos no sangue. Quando há neutrofilia, as seguintes condições destacam- se como possíveis e mais frequentes etiologias: Quadro 9.1. Etiologias de neutrofilia. Infecções bacterianas São as causas mais comuns de neutrofilia, podendo estar associadas a desvio à esquerda. Inflamação Diversas doenças de caráter inflamatório cursam com neutrofilia, incluindo doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide, vasculite e IAM. Medicamentos Corticosteroides, filgastrina, trióxido de arsênico, ácido transretinoico e carbonato de lítio. Síndrome de Down Lactentes com essa síndrome frequentemente apresentam leucocitose com neutrofilia, desvio diferencial para a esquerda e blastos no sangue (distúrbio mieloproliferativo) durante o período pós-natal. Redução do pool marginal Aumento de neutrófilos intravasculares por diminuição da migração para os tecidos, devido à administração de esteroides, exercícios, administração de epinefrina e outras situações estressantes (por exemplo, trauma, dor intensa). Desvio à esquerda O desvio à esquerda pode ser definido como aumento de neutrófilos não segmentados ou imaturos (mielócitos, metamielócitos e bastões) no sangue periférico. Está associado principalmente a infecções bacterianas, quando há consumo de neutrófilos, de modo que a medula óssea é estimulada a liberar células imaturas. Embora não seja comum, o desvio à esquerda também foi observado em outras condições além da infecção bacteriana. Vários relatos o detectaram após a aplicação de nutrição parenteral e corticosteroides, bem como após hemorragia, anóxia, acidose metabólica e cirurgias. Apesar das outras causas, é válido ressaltar que a hipótese de infecção deve ser sempre considerada diante de um hemograma que mostre leucocitose com desvio à esquerda, por ser a causa mais frequente e, potencialmente, fatal. Reação leucemoide A reação leucemoide é um distúrbio hematológico, definido por uma contagem de leucócitos superior a 25.000/mm³, mas, geralmente, não ultrapassando o limite de 50.000/mm³, desencadeada por causas reativas fora da medula óssea, sendo caracterizada por um aumento significativo de neutrófilos no sangue periférico e desvio à esquerda. O diagnóstico diferencial de reação leucemoide são leucemia mieloide crônica (LMC) e leucemia neutrofílica crônica (LNC). No contexto da reação leucemoide, o paciente geralmente não apresenta evidências clínicas e laboratoriais de síndromes mieloproliferativascrônicas, como esplenomegalia, basofilia, eosinofilia, hiperuricemia e alterações citogenéticas. Uma das mais importantes causas de reação leucemoide são as infecções, especialmente, em pacientes críticos. Reação leucoeritroblástica A reação leucoeritroblástica é definida pela presença de desvio à esquerda e eritroblastos circulantes no esfregaço periférico. Geralmente, ocorre devido à invasão da medula óssea por neoplasias malignas, fibrose ou granuloma, mas pode ser decorrente de anorexia nervosa e hemólise intensa. Na ausência de sinais clínicos e laboratoriais de hemólise, a sua presença é indicação para biópsia de medula óssea. Referências 1. CHABOT-RICHARDS, D. S.; GEORGE, T. I. Leukocytosis. International journal of laboratory hematology, v. 36, nº 3, p. 279-288, 2014. 2. HOFFBRAND, A. Victor. Fundamentos em hematologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed; 2013. 3. HONDA, Takayuki et al. Neutrophil left shift and white blood cell count as markers of bacterial infection. Clinica chimica acta, v. 457, p. 46-53, 2016. 4. SAKKA, Vissaria et al. An update on the etiology and diagnostic evaluation of a leukemoid reaction. European journal of internal medicine, v. 17, nº 6, p. 394-398, 2006. Capítulo 10 Neutrofilia Introdução Os neutrófilos representam 60-70% dos glóbulos brancos no sangue periférico e são as primeiras células a migrar para sítios de infecção, para desempenhar importante função na defesa contra vários patógenos. Neutrofilia é definida como a contagem de neutrófilos acima do valor absoluto de 7.000/mm³, considerando como referência 70% do valor máximo de leucócitos (10.000/mm³). Os mecanismos envolvidos na neutrofilia incluem: • O aumento na produção medular • A mobilização dos neutrófilos infiltrados nos tecidos para a circulação • A diminuição da saída de neutrófilos da circulação periférica para os tecidos Aproximadamente metade dos neutrófilos circulantes são reversivelmente aderidos ao endotélio, de modo que os processos que mobilizam esses neutrófilos podem elevar rapidamente a quantidade dessas células na circulação. Doenças inflamatórias e infecciosas causam neutrofilia por maior estímulo à produção medular (processo reativo), enquanto doenças mieloproliferativas causam neutrofilia por produção de clones da linhagem mieloide (processo autônomo). Quando os leucócitos excedem 25.000/mm³, chama-se de reação leucemoide, geralmente à custa de neutrófilos e por mecanismo reacional, a qual pode ocorrer em infecções, inflamações sistêmicas importantes (ex.: sepse, trauma, cirurgia, queimadura) ou outras condições que causem grande estímulo à medula óssea. Quando os valores excedem 50.000/mm³ raramente trata-se de reação leucemoide, devendo-se considerar principalmente causas primárias. A hiperleucocitose é definida quando há mais de 100.000/mm³. A neutrofilia com desvio à esquerda ocorre quando há elevação de bastonetes e de células mais jovens da série granulocítica (metamielócitos, mielócitos, promielócitos e mieloblastos), ocorrendo tipicamente em infecções graves e em neoplasias oncohematológicas. Etiologia Pacientes assintomáticos com neutrofilia leve e persistente podem consistir em uma variação da normalidade sem significado patológico (prevalência de 2,5% da população). As causas com significado clínico são geralmente infecciosas, inflamatórias ou primárias da medula óssea, mas diversas outras condições podem estar associadas (Quadro 10.1). Infecções são comuns e, caracteristicamente, têm melhora rápida após tratamento correto. Algumas bactérias, como pneumococos, estafilococos e Clostridium spp., associam-se à leucocitose. Apesar de a neutrofilia ser mais associada a infecções bacterianas, alguns vírus, como os da família Herpesviridae, podem causar neutrofilia, a qual é acompanhada de linfócitos atípicos descritos na análise do esfregaço periférico. No entanto, para que se estabeleça a inflamação como responsável pelo aumento de neutrófilos é necessário ter o contexto clínico de doença inflamatória e excluir outras causas para a neutrofilia. Alguns medicamentos podem causar neutrofilia. Qualquer droga pode ser suspeita, mas algumas, como corticoides, catecolaminas, lítio, fatores estimulantes de colônia (filgastrina), ATRA e ATO são mais associados. A depender do mecanismo do fármaco, a neutrofilia pode surgir após horas (liberação de neutrófilos da medula) ou dias (reações alérgicas). A asplenia é outra causa de aumento moderado de neutrófilos, podendo ocorrer após esplenectomia cirúrgica ou “autoesplenectomia”, como ocorre na anemia falciforme. Nesses casos, o paciente também apresenta trombocitose, por não haver mais sequestro esplênico de plaquetas. Todas as neoplasias mieloproliferativas e algumas neoplasias não hematológicas podem apresentar com neutrofilia. As neoplasias não hematológicas podem cursar com neutrofilia por invasão medular, por inflamação crônica ou por síndrome paraneoplásica. Em neonatos e em crianças, as doenças genéticas são importantes causas de distúrbios de leucócitos, podendo cursar com neutrofilia, a citar a deficiência do fator de adesão leucocitária, a neutrofilia crônica hereditária e a síndrome de Down. Avaliação A abordagem da neutrofilia deve inicialmente procurar fatores que indiquem urgência terapêutica, que incluam instabilidade clínica, presença de blastos e leucocitose acima de 100.000/mm³ com sintomas, esta última condição podendo indicar necessidade de leucaférese de emergência para prevenir complicações vaso-oclusivas de leucostase. Seguindo a investigação diagnóstica, deve-se primeiramente diferenciar os quadros reativos dos autônomos. Para essa distinção, exame clínico detalhado, revisão do esfregaço periférico e exames laboratoriais são importantes instrumentos. A presença de esplenomegalia pode sugerir condição primária, como LMC, enquanto o achado de granulações tóxicas nos neutrófilos, com vacuolização citoplasmática (corpúsculos de Döhle), apontam para o diagnóstico de neutrofilia reativa. A pesquisa de provas inflamatórias, como VHS e PCR, apesar de pouca especificidade diagnóstica, é útil principalmente em pacientes com neutrofilia assintomática. Quadro 10.1. Etiologias de Neutrofilia. Neutrofilia CAUSAS PRIMÁRIAS • Síndromes mieloproliferativas (leucemia mieloide crônica, policitemia vera e trombocitemia essencial) • Neutrofilia hereditária • Neutrofilia crônica idiopática • Síndrome de Down • Deficiência do fator de adesão leucocitária CAUSAS SECUNDÁRIAS • Infecções • Estados inflamatórios (trauma, infarto, cirurgia, grandes queimados, doenças inflamatórias autoimunes) • Tabagismo • Asplenia e hipoesplenismo • Drogas (glicocorticoides, catecolaminas, lítio, filgastrina, ATRA, ATO) • Neoplasias não hematológicas (invasão medular, paraneoplasia) Fluxograma 10.1. Abordagem diagnóstica da neutrofilia. Referências 1. CHABOT‐RICHARDS, D. S.; GEORGE, T. I. Leukocytosis. International journal of laboratory hematology, v. 36, nº 3, p. 279-288, 2014. 2. GEORGE, Tracy I. Malignant or benign leukocytosis. ASH Education Program Book, v. 2012, nº 1, p. 475-484, 2012. 3. WIDICK, Page; WINER, Eric S. Leukocytosis and Leukemia. Primary Care: Clinics in Office Practice, v. 43, nº 4, p. 575-587, 2016. 4. CERNY, Jan; ROSMARIN, Alan G. Why does my patient have leukocytosis?. Hematology/Oncology Clinics, v. 26, nº 2, p. 303-319, 2012. Capítulo 11 Neutropenia Introdução A neutropenia é uma alteração do hemograma que ocorre com relativa frequência, sendo definida como contagem de neutrófilos abaixo de 1.500 células/µL. Quanto à cronologia, classifica-se em: Aguda Quadro se resolve em alguns dias e é normalmente decorrente do consumo dessas células ou quando há algum problema na produção. Crônica Neutropenia que se mantém por pelo menos três meses. Como mecanismos associados, temos redução da produção, aumento da destruição ou maior sequestro esplênico dessascélulas. A maioria dos pacientes possui quadro leve (neutrófilos entre 1.000 – 1.500 células/µL) e não apresentam sintomas. Todavia, à medida que ocorre uma maior queda da contagem celular, os pacientes apresentam maior risco de manifestar, principalmente, infecções de pele, cavidade oral e vias aéreas. Nesses casos, neutrófilos normalmente se encontram abaixo de 500 células/µL (neutropenia grave). Pacientes com neutrófilos entre 500-1.000 células/µL (neutropenia moderada) podem evoluir de forma assintomática ou cursar com maior risco de infecções, dependendo de outros fatores além da quantidade absoluta de neutrófilos. Etiologia Infecções Infecções, principalmente durante a infância, podem cursar com neutropenia autolimitada, que ocorre normalmente durante o período de viremia e se mantêm por cerca de uma semana. Os agentes infecciosos mais associados são os vírus (HCV, HBV, HIV e CMV), sendo necessária a pesquisa de anti-HIV durante investigação. Além disso, pode ocorrer em quadros bacterianos, ressaltando-se que se associa a pior prognóstico em pacientes sépticos. Drogas Qualquer droga tem o potencial de induzir neutropenia, todavia algumas possuem maior associação, como sulfametoxazol-trimetoprim, drogas antitireoidianas, antipsicóticos, AINEs, entre outras. A incidência dessa reação adversa aumenta com a idade, podendo evoluir gravemente pela maior susceptibilidade desse grupo a infecções. Congênitas Dentro desse grupo estão diversas síndromes. As que cursam com neutropenia exclusivamente são: • Neutropenia étnica: caracterizada por quadro leve e crônico em pacientes com descendência africana e mediterrânea. Decorre de polimorfismos no gene DARC que conferem maior resistência à infecção por malária em regiões endêmicas. • Neutropenia cíclica: doença rara que cursa com episódios de neutropenia recorrentes em intervalos normalmente constantes, os quais variam de duas a cinco semanas. A maioria dos pacientes é assintomática, todavia, durante o nadir dos neutrófilos pode haver infecções e úlceras orais. Não possui risco de evolução para LMA. • Neutropenia crônica grave: doença heterogênea, decorrente de diversas mutações em genes de neutrófilos, sendo o principal gene também associado à neutropenia cíclica. Anteriormente fatal, com a administração rotineira de fator estimulador de colônias granulocíticas, houve melhora do prognóstico. Há risco de transformação para LMA. Doenças autoimunes A produção de anticorpos contra antígenos de neutrófilos pode ocorrer em diversos contextos clínicos, desde reação transfunsional (neutropenia aloimune) até neutropenia autoimune. Na prática clínica, não se faz necessária a identificação desses anticorpos, principalmente em adultos, sendo mais relevante o rastreio de doenças autoimunes sistêmicas que podem cursar com neutropenia. Outras causas Síndromes mielodisplásicas, leucemias agudas, metástases de tumores sólidos podem apresentar neutropenia, devido à ocupação medular. Uma entidade à parte que podemos destacar é a leucemia de grandes linfócitos granulares (LGL), que pode estar associada com a síndrome de Felty. Apesar de não cursarem com neutropenia isolada, as carências nutricionais são outras causas relevantes no nosso contexto, principalmente as deficiências de vitamina B12 e de ácido fólico, podendo ocorrer também na deficiência de cobre. Devem-se ressaltar as síndromes de falha medular como causa de neutropenia, especialmente a aplasia medular, hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) e algumas variantes das síndromes mielodisplásicas. Avaliação Na maioria dos casos, a neutropenia é um achado incidental autolimitado em pacientes assintomáticos, não necessitando de investigação complementar. Todavia, quando ocorre de forma crônica ou grave deve ser avaliada. Inicialmente, deve-se avaliar se o paciente está com sinais de infecção. Nessas situações, é aconselhado internar e iniciar antibiótico em todos pacientes, de preferência com cobertura para antipseudomonas. Histórica clínica e exame físico detalhados podem auxiliar nos possíveis diagnósticos diferenciais (Quadro 1). Alguns aspectos relevantes que devem ser levados em consideração são idade do paciente, alteração crônica (presente em exames prévios), infecções de repetição (local de acometimento, gravidade e frequência são dados importantes), história familiar, história dietética, história patológica prévia (com foco em neoplasias malignas e doenças autoimunes) e medicações utilizadas. Quadro 11.1. Etiologias da neutropenia. Neutropenia CONGÊNITAS • Neutropenia constitucional • Neutropenia étnica • Neutropenia familiar grave • Neutropenia cíclica • Anemia hemolítica autoimune • Trombocitopenia imune INFECCIOSAS • Pós-infecciosas • Sepse • Infecções virais AUTOIMUNIDADES • Neutropenia autoimune primária • Lúpus eritematoso sistêmico • Síndrome de Sjögren • Esclerose sistêmica • Cirrose biliar primária • Síndrome Felty MALIGNIDADES • Leucemias agudas • Síndromes mielodisplásicas • Leucemia de grandes linfócitos granulares • Mieloma múltiplo • Metástases de tumores sólidos Neutropenia NUTRICIONAIS • Deficiência de vitamina B12 e ácido fólico • Deficiência de cobre • Má nutrição DROGAS (ANTIBIÓTICOS, ANTIPSICÓTICOS, AINES) Fluxograma 11.1. Abordagem diagnóstica da neutropenia. Referências 1. BOXER, Laurence A. How to approach neutropenia. ASH Education Program Book, v. 2012, nº 1, p. 174-182, 2012. 2. GIBSON, Christopher; BERLINER, Nancy. How we evaluate and treat neutropenia in adults. Blood, v. 124, nº 8, p. 1251-1258, 2014. 3. NEWBURGER, Peter E.; DALE, David C. Evaluation and management of patients with isolated neutropenia. In: Seminars in hematology. WB Saunders, 2013. p. 198-206. 4. PALMBLAD, Jan et al. How we diagnose and treat neutropenia in adults. Expert review of hematology, v. 9, nº 5, p. 479-487, 2016. Capítulo 12 Linfocitose Introdução A linfocitose é um achado laboratorial frequente na prática médica. Para sua análise, é fundamental considerar a idade do paciente, a história clínica, a contagem total de linfócitos e os achados morfológicos no esfregaço periférico. De uma a duas semanas de vida até a puberdade, os linfócitos podem ser as células predominantes na leucometria. A partir da adolescência e da idade adulta, ocorre desvio desse predomínio para a contagem de neutrófilos. Em crianças, o achado de linfocitose é na maioria das vezes benigno (≥ 7.000 /mm³ em menores de 12 anos deve ser, entretanto, um sinal de alerta). Por outro lado, linfocitose em população adulta pode exigir uma avaliação clínica pormenorizada, às vezes, com propedêutica para exclusão de neoplasias malignas. Avaliação e etiologia Identificada a linfocitose no hemograma e avaliados os achados clínicos, deve-se conduzir o diagnóstico diferencial tanto para causas benignas, particularmente virais, doenças autoimunes, estresse transitório e tabagismo, como também para desordens linfoproliferativas. Inicialmente, por meio do esfregaço de sangue periférico, a linfocitose deve ser classificada em linfocitose pleomórfica ou monomórfica. A primeira é comumente associada a processos reativos, sendo nesses casos demonstrados linfócitos de diferentes formas e tamanhos, por vezes com morfologia atípica. Nestes casos, encontra-se comumente em associação com infecções virais, como o exemplo clássico do EBV (mononucleose infecciosa). A segunda, por sua vez, é mais sugestiva de neoplasias linfoproliferativas (existem exceções, como infecção por Bordetella pertussis e mulheres tabagistas). Linfocitose ≥ 5.000 /mm³ em adulto com esfregaço periférico não pleomórfico deve-se levantar a hipótese de leucemia linfocítica crônica (LLC). A partir desse achado, a citometria de fluxo de sangue periférico auxilia na diferenciação com outras causas. De acordo com os resultados, não sendo LLC, pode ser necessária a realização de mielograma,biópsia de medula óssea e/ou linfonodal, além de exames de imagem, de acordo com a desordem linfoproliferativa aventada. Existe uma condição considerada precursora de LLC que está presente em mais de 4% da população > 40 anos denominada linfocitose B monoclonal de significado indeterminado, cujo critério exige contagem de linfócitos < 5.000 /mm³. Alguns casos podem progredir para LLC em uma taxa de até 1-2% por ano. Quadro 12.1. Etiologias de linfocitose. Linfocitose DOENÇAS HEMATOLÓGICAS • Leucemia linfocítica crônica • Linfocitose B monoclonal de significado indeterminado • Linfoma de Burkitt • Linfoma de células do manto • Linfoma folicular • Síndrome de Sézary • Leucemia de células T adultas • Tricoleucemia • Linfoma de zona marginal esplênica • Linfoma linfoplasmacítico • Leucemia prolinfocítica de células B e T • Neoplasia linfoproliferativa crônica de células NK DOENÇAS INFECCIOSAS • Virais (EBV, CMV, caxumba, HSV, influenza, adenovírus, hepatites, HIV, rubéola, entre outras) • Infecções bacterianas (TB, sífilis secundária, doença da arranhadura do gato, brucelose, tifo, B. pertussis, rickettsiose) • Infestações parasitárias (toxoplasmose, malária, babesiose) MEDICAMENTOSAS (HIPERSENSIBILIDADE) DOENÇAS AUTOIMUNES (DOENÇAS DO TECIDO CONJUNTIVO) DOENÇAS ENDÓCRINAS • Doença de Addison • Hipertireoidismo • Hipopituitarismo Outros • Tabagismo • Vacinas • Estresse (trauma, exercícios) • Esplenectomia Fluxograma 12.1. Abordagem diagnóstica da linfocitose. Referências 1. CHABOT-RICHARDS, D. S.; GEORGE, T. I. Leukocytosis. International journal of laboratory hematology, v. 36, nº 3, p. 279-288, 2014. 2. GEORGE, Tracy I. Malignant or benign leukocytosis. ASH Education Program Book, v. 2012, nº 1, p. 475-484, 2012. 3. JOHNSTON, A. et al. Distinguishing morphology of reactive versus abnormal neoplastic peripheral blood lymphocytosis. Challenges illustrated by two proficiency testing surveys. International journal of laboratory hematology, v. 38, nº 2, p. e41-e44, 2016. 4. KERN, Wolfgang et al. Monoclonal B-cell lymphocytosis is closely related to chronic lymphocytic leukaemia and may be better classified as early-stage CLL. British journal of haematology, v. 157, nº 1, p. 86-96, 2012. 5. STRATI, Paolo; SHANAFELT, Tait D. Monoclonal B-cell lymphocytosis and early-stage chronic lymphocytic leukemia: diagnosis, natural history, and risk stratification. Blood, v. 126, nº 4, p. 454-462, 2015. Capítulo 13 Linfopenia Introdução Em indivíduos adultos, o valor de referência mínimo para os linfócitos é de 1.000/mm³. Contudo, é importante ressaltar que linfopenia superior a 500/mm³ em idosos sem sinais de alarme não precisa ser investigada, pois esses pacientes possuem uma tendência natural à diminuição do número de linfócitos. Etiologia Linfopenia é um achado laboratorial comum, pois está relacionada a infecções, principalmente, por agentes virais. No entanto, pode ser causada por inúmeras enfermidades, que podem ser classificadas em primárias e secundárias. Nas causas primárias, encontramos as imunodeficiências primárias que são caracterizadas por infecções graves e oportunísticas, além de retardo do crescimento em crianças. As causas secundárias tendem a ser mais agudas e reversíveis, podendo ser decorrentes de infecções, medicamentos, doenças sistêmicas, malignidades, entre outras causas. Avaliação Em pacientes jovens com linfopenia persistente (< 1.000/mm³), é necessário investigar o histórico recente de doenças infecciosas e analisar se essas infecções poderiam sugerir alguma deficiência imunológica. Além disso, doenças sistêmicas; uso prévio de medicamentos; desnutrição; abuso de álcool e outros sinais/sintomas, como febre, perda de peso, sudorese noturna, esplenomegalia, linfadenopatias, devem ser investigados. Quadro 13.1. Etiologias da linfopenia. Linfopenia INFECÇÕES • Virais (HIV, hepatites, influenza, chikungunya, dengue) • Bacterianas (tuberculose) • Parasitárias (malária) • Fúngicas MEDICAMENTOS • Corticosteroides • Metotrexate • Azatioprina • Imunobiológicos DOENÇAS SISTÊMICAS • Doenças autoimunes (AR, LES) • Insuficiência renal • Insuficiência cardíaca • Sarcoidose MALIGNIDADES • Doenças linfoproliferativas (Linfoma de Hodgkin) • Tumores sólidos DESNUTRIÇÃO GRAVE/ANOREXIA NERVOSA ABUSO DE ÁLCOOL IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS Fluxograma 13.1. Abordagem diagnóstica da linfopenia. Referências 1. BRASS, Dawn; MCKAY, Pam; SCOTT, Fiona. Investigating an incidental finding of lymphopenia. Bmj, v. 348, p. g1721, 2014. 2. TEFFERI, Ayalew; HANSON, Curtis A.; INWARDS, David J. How to interpret and pursue an abnormal complete blood cell count in adults. In: Mayo Clinic Proceedings. Elsevier, 2005. p. 923-936. Capítulo 14 Eosinofilia e Eosinopenia EOSINOFILIA A eosinofilia é definida por contagem de eosinófilos ≥500/mm³. Essa alteração laboratorial não é estabelecida pela porcentagem de eosinófilos (menor que 5% do total de leucócitos em condições normais), porque essa varia com a contagem total e a proporção de outras linhagens de leucócitos. Alguns conceitos são importantes quando tratamos de eosinofilia (Quadro 14.1): Quadro 14.1. Conceitos de eosinofilia. Eosinofilia leve 500 – 1.500/mm³ Eosinofilia moderada 1.500 – 5.000/mm³ Eosinofilia grave > 5.000/mm³ Hipereosinofilia >1.500 mm³ com ou sem lesão de órgão-alvo Síndrome hipereosinofílica >1.500 mm³ (em duas ocasiões com mais de 1 mês de intervalo entre as contagens) e disfunção orgânica atribuível a eosinofilia. Os principais sítios afetados são pele, pulmões, coração, TGI e SNC É importante ressaltar que a contagem absoluta de eosinófilos não prevê exatamente o dano aos órgãos, pois essas células habitam principalmente os tecidos. Portanto, o acometimento orgânico deve ser analisado por avaliação clínica e testes laboratoriais a depender do sistema afetado. Outro ponto importante diz respeito ao grau da eosinofilia, que pode ajudar a direcionar o diagnóstico, mas nunca o confirmar. Por exemplo: eosinofilia > 1.500/mm³ é mais comumente observada em reações de hipersensibilidade a drogas do que em quadros de asma. Etiologia Um ponto de fundamental importância na abordagem etiológica é a diferenciação entre causas reativas e clonais. A primeira condição é caracterizada pela proliferação de eosinófilos maduros policlonais e pode ter como origem distúrbios benignos ou malignos. Na segunda, os eosinófilos representam o clone maligno primário, e os precursores podem ser encontrados no sangue periférico ou na medula óssea. Se nenhuma evidência de clonalidade for determinada o paciente é considerado portador de uma síndrome hipereosinofílica idiopática, diagnóstico de exclusão em indivíduos com eosinofilia sustentada e lesão de órgãos-alvo. O Quadro 14.2 e o texto seguinte abordam algumas das causas mais importantes de eosinofilia: Quadro 14.2. Etiologias de eosinofilia. Eosinofilia reativa Infecções Parasitas (Strongyloides stercoralis, Ascaris lumbricoides, Necator americanus, Toxocara canis, Ancylostoma duodenale, Schistosoma mansoni, Isospora belli), vírus (HIV, HTLV), fungos (Coccidioides immitis), bactérias (Mycobacterium tuberculosis) Medicamentos Antibióticos (penicilinas, cefalosporinas, quinolonas, sulfas), AINES, antiepilépticos (fenitoína, valproato), antidepressivos (fluoxetina, amitriptilina), anti-hipertensivos (IECA, betabloqueadores) Neoplasias Mastocitose sistêmica, tumores sólidos (rim, adrenal, fígado, pâncreas), neoplasias hematológicas (linfoma de Hodgkin, LLA T) Desregulação imune Sd. linfoproliferativa autoimune (ALPS), Sd. hiper-IgE, granulomatose eosinofílica com poliangeíte (anteriormente denominada Sd. de Churg- Strauss), sarcoidose, doença inflamatória intestinal, doença relacionada à IgG4 Desordens alérgicas Rinite alérgica, asma, dermatite atópica, aspergilose broncopulmonar alérgica
Compartilhar