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ANÁLISE DE CENÁRIOS E PLANEJAMENTO MERCADOLÓGICO Amanda Santos Felix Investimento em produto-mercado: onde competir Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as melhores possibilidades estratégicas de alcançar os objetivos específicos. Diferenciar canais de distribuição e mercados estratégicos de investimento. Explicar como esses canais e mercados podem retroalimentar o pro- cesso de planejamento mercadológico. Introdução As organizações devem se concentrar em apenas alguns produtos e mercados ou devem ter alcance mais amplo, diversificando-se em termos de produtos/serviços e mercados? Muitas organizações optam por lançar muitos produtos e atuar em vários segmentos do mercado. A Sony, por exemplo, começou fabricando rádios, mas obteve sucesso com jogos, músicas e filmes, além de ser uma das empresas mais conhecidas no setor de eletrônicos. Quando as organizações passam a ter novas unidades, suas estratégias não mais se relacionam apenas em nível de negócios, mas também em nível corporativo, estando relacionadas à participação em diversos negócios ou mercados. Neste capítulo, você vai aprender a competir por meio da estratégia produto-mercado. Para tanto, você vai estudar as diversas possibilidades de direções estratégicas para ampliar o escopo das organizações e vai compreender como os canais de distribuição e mercados estratégicos de investimento podem retroalimentar o processo de planejamento mercadológico. Estratégia empresarial Em tempos de globalização, os mercados estão cada vez mais dinâmicos, e a velocidade em que ocorrem as mudanças afeta a estratégia empresarial. Uma estratégia de sucesso hoje pode não ter o mesmo efeito daqui a um ano. Até bem pouco tempo atrás, era comum que o plano estratégico fosse formulado anualmente. Hoje, as organizações necessitam atualizar seu planejamento constantemente. Instabilidades políticas e reivindicações da sociedade civil se mostram presentes, e novas tecnologias, canais de comunicação e nichos de mercado estão surgindo rapidamente em praticamente todos os setores. O resultado disso são mercados que não são somente dinâmicos, mas arriscados, complexos e desajustados, conforme defi ne Aaker (2012). A complexidade desses mercados faz com que a implementação das es- tratégias necessite ser muito bem elaborada. A estratégia deve ser capaz de identificar as diversas possibilidades de cenários e estar à frente não somente no mercado atual, mas também no mercado futuro. Os gestores precisam estar atentos às novas ferramentas estratégicas e desenvolver expertise em torno de cinco aspectos, que serão abordados na sequência; são eles: análise estratégica, inovação, controle de diversas unidades de negócios, desenvolvimento de vantagens competitivas sustentáveis e desenvolvimento de plataformas de crescimento. No que tange ao emprego da análise estratégica, destaca-se que a obtenção de informações sobre as diversas possibilidades de cenários é cada vez mais necessária. A coleta de dados precisa ser efetuada de forma contínua e deve ser adaptada ao objetivo da empresa. A identificação prévia de oportunidades e ameaças, problemas estratégicos e possíveis pontos fracos, pode ser crucial para obter a eficácia da empresa. A análise deve ser efetuada por profissionais que tenham competência para que os dados possam ser filtrados e convertidos em informações estratégicas. Já no contexto da inovação, verifica-se que a capacidade de inovar é uma das formas mais eficazes de enfrentar o mercado cada vez mais dinâmico. Entretanto, inovar não é uma ação tão simples quanto parece, já que, para inovar, não basta criar um produto novo. Elaborado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o Manual de Oslo, que traz uma proposta de diretrizes para a coleta e a interpretação de dados sobre inovação tecnológica, classifica a inovação em quatro dimensões, conforme descritas abaixo (OECD; EUROSTAT, 2018): Investimento em produto-mercado: onde competir2 A dimensão do conhecimento é alcançada por meio do esforço cog- nitivo; consequentemente, novos conhecimentos são difíceis de serem transferidos, porque requerem aprendizado por parte do destinatário. Tanto a informação como o conhecimento podem ser obtidos ou criados dentro ou fora de uma organização relevante. A dimensão da novidade está relacionada aos usos potenciais, tendo como base as características de um produto ou serviço em comparação a outros e às experiências prévias do usuário. Alguns elementos podem ser medidos objetivamente, a partir de dados como eficiência energé- tica, velocidade, força do material, taxa de falhas e outros atributos físicos. Porém, características subjetivas, como satisfação do usuário, usabilidade, flexibilidade, capacidade de resposta a mudanças e afini- dade emocional, podem ser mais difíceis de medir no que tange à sua implementação e à criação de valor. A dimensão da implementação diz respeito ao fato de que, para que uma ideia, um modelo, um método ou um protótipo seja considerado uma inovação, precisa ser implementado. A implementação exige que as organizações façam esforços sistemáticos para garantir que a inovação seja acessível a usuários em potencial, seja para os próprios processos e procedimentos da organização, seja para usuários externos. A dimensão da criação de valor abrange a noção de que as medidas relacionadas ao valor são importantes para entender os impactos da inovação, embora não exista uma única medida de valor econômico ou social estabelecida pela literatura. O valor é, portanto, um objetivo implícito da inovação, mas não pode ser garantido antecipadamente, porque os resultados da inovação são incertos e heterogêneos. Em um mundo dinâmico e globalizado, é difícil encontrar uma empresa que não trabalha em múltiplos negócios e locais — trata-se da aplicação da diversificação dos negócios. A descentralização é uma forma de arranjo or- ganizacional que proporciona atuar em diferentes nichos e setores. Contudo, sua forma mais extrema, as unidades de negócios autônomas, pode gerar a má alocação de recursos, além de problemas de sinergia e confusão de marcas. Considera-se como um desafio a adaptação desse modelo descentralizado, de forma a não inibir a estratégia de adaptação em mercados dinâmicos, conforme aponta Aaker (2012). Ainda no que tange ao cenário dinâmico e complexo do mercado atual, verifica-se que a criação de vantagens competitivas consiste em um grande desafio, uma vez que a variedade de produtos similares é imensa, e a con- 3Investimento em produto-mercado: onde competir corrência, muitas vezes, atua de forma desleal. Nos últimos anos, com o aumento do consumo consciente, as vantagens competitivas sustentáveis têm se mostrado eficientes para que as empresas conquistem clientes por meio de diferenciais em seus serviços. Muitas empresas estão conseguindo superar a crise por meio do uso desse tipo de estratégia, levando em consideração que os consumidores tendem a preferir fazer negócio com empresas que se destacam em meio à concorrência. Uma das formas mais eficientes de alcançar a vantagem competitiva é por meio de ações sustentáveis, sem provocar danos ambientais e sociais e agindo de maneira ética e transparente com fornecedores, parceiros e clientes. Por fim, no que tange à ferramenta estratégica de desenvolvimento de uma plataforma de crescimento, destaca-se que, em um mercado dinâmico, expandir a empresa de forma criativa se torna um elemento fundamental para aproveitar as oportunidades e se adaptar às mudanças. O crescimento pode vir por meio do trabalho para novos nichos de mercado ou da remodelagem de produtos/serviços existentes. Estratégia de investimento no produto- mercado: onde competir Monitorar a evolução da empresa e decidir como a empresa vai investir re- presentam uma estratégia vital para qualquer organização.Quais produtos deveriam receber mais recursos e atenção? Quais devem ser lançados ou retirados? A estratégia empresarial defi ne onde a empresa vai concorrer, onde ela vai investir, em que mercados ela vai atuar e como ela vai estruturar suas áreas funcionais (Figura 1). Investimento em produto-mercado: onde competir4 Figura 1. Uma visão sistêmica das possibilidades estratégicas de uma empresa. Fonte: Adaptada de Aaker (2012). Onde concorrer A decisão de investimento em produto-mercado Como concorrer Proposição de valor Ativos e competências Estratégias e programas da área funcional Estratégia empresarial Muitas vezes, a decisão mais importante na estratégia de uma empresa é definir quais produtos e mercados devem ser evitados. Essa decisão, quando bem analisada, faz com que a empresa não perca tempo e dinheiro tentando investir em um mercado que não gera um bom retorno. Entretanto, muitas empresas têm demostrado sucesso em trabalhar com um escopo de negócios diversificado. Atualmente, a Leader Magazine, uma tradicional loja de vestuário, oferece também produtos para o lar. A Saraiva, que inicialmente trabalhava apenas com livros impressos, atualmente trabalha com livros físicos e e-books e com a venda de eletrônicos. O Walmart, que possui uma vasta rede de lojas de departamento, tem um escopo abran- gente, que gera economias de escala com uma única proposta de valor: o preço baixo. 5Investimento em produto-mercado: onde competir Quando se analisa a estratégia de investimento no produto-mercado, al- guns questionamentos devem ser feitos: quais produtos deverão ser lançados e retirados nos próximos anos? O crescimento poderá ser gerado por meio da expansão do mercado, da expansão do produto ou do ingresso em novos mercados e com novos produtos? A matriz de crescimento de produto/mercado de Ansoff (Figura 2) fornece uma maneira simples de criar alternativas para o desenvolvimento estratégico. Trata-se de uma ferramenta utilizada no planejamento de marketing que possibilita determinar as estratégias de produto e de crescimento de mercado. Na prática, ela auxilia na localização de oportunidades de crescimento em unidades de negócio. Ansoff (1981) discordava dos “pais” da administração, como Taylor (2006) e Fayol (2011), que focavam seus estudos para dentro das empresas, e afirmava que o ambiente externo era tão ou mais importante para uma organização do que a sua estrutura interna. De acordo com o método, a organização pode: desenvolver novos produtos para seu mercado já existente; levar seus produtos já existentes para novos mercados; ou dar o passo mais radical: entrar com novos produtos em novos mercados. Figura 2. Matriz de Ansoff. Fonte: Ansoff (1981). Investimento em produto-mercado: onde competir6 Penetração de mercado A penetração de mercado, que ocorre quando a organização aumenta a par- ticipação com sua linha de produtos em mercados já existentes, tende a ser a estratégia mais utilizada e de menor risco, pois não requer que a organização se arrisque em um mercado desconhecido. Entretanto, as organizações em busca de maior penetração no mercado podem se deparar com dois impedimentos, descritos abaixo. Retaliações dos concorrentes: o aumento na penetração do mercado faz com que a rivalidade no mercado seja mais acirrada, visto que os concorrentes estarão sob ameaça. A rivalidade pode resultar em guerra de preços e de marketing, as quais podem ser mais custosas do que o ga- nho na participação do mercado. As retaliações podem ser mais sentidas em mercados de crescimento lento, uma vez que qualquer aumento de escala será às custas, na maioria das vezes, de outros concorrentes. As organizações que estão em busca de penetração de mercado precisam identificar os cenários e construir planos de ação que proporcionem uma vantagem competitiva em caso de uma possível retaliação. Impedimentos legais: quando há muita expansão em um determinado mercado, os órgãos reguladores tendem a criar regras. Em 2009, com o boom das escovas progressivas nos salões de beleza Brasil afora, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (An- visa), do Ministério da Saúde, proibiu a exposição e a venda de formol (solução a 37%) em drogarias, farmácias, supermercados, armazéns, empórios, lojas de conveniências e drugstores. A Anvisa justificou a proibição afirmando que levava em conta os riscos para a saúde com o uso inadequado da substância, como ocorre na chamada escova pro- gressiva, realizada em salões e institutos de beleza para o alisamento de cabelos, conforme uma matéria do jornal O Globo (ANVISA..., 2009). Desenvolvimento de produto Ocorre quando a organização oferece produtos/serviços novos ou modifi cados a mercados existentes. No exemplo da Sony, o desenvolvimento de produto consistiu em mudar o sistema portátil de música de fi tas cassetes para CDs e, depois, para MP3. Nesse caso, o mercado é o mesmo, mas as tecnologias que envolvem o serviço são totalmente diferentes. Johnson, Sholes e Wittington 7Investimento em produto-mercado: onde competir (2011) apontam que o desenvolvimento de produto pode ser uma atividade cara e de elevado risco, pelas razões descritas abaixo. Novas capacidades estratégicas: normalmente, o desenvolvimento de produto envolve o uso de novas tecnologias que a organização não domina. Muitos bancos, por exemplo, quando começaram a oferecer o serviço digital, tiveram que enfrentar diversos desafios, como a escolha das tecnologias mais adequadas, a capacitação dos funcionários e a adesão das novas tecnologias pelos clientes. Risco de gerenciamento de projetos: mesmo em mercados conhecidos, os projetos de desenvolvimento de produto costumam estar sujeitos a variáveis que não são tão previsíveis, como os testes de protótipo de uma nova tecnologia. Veja o exemplo da Microsoft, que, no ano de 1998, programou-se para lançar o tão esperado Windows 98, que, segundo a empresa, possuía mais de 30 mil melhorias de falhas apontadas em seu antecessor, o Windows 95. O projeto possuía mais de 16 milhões de linhas de programação e, segundo a empresa, era a versão mais estável do sistema operacional. Foi justamente no dia da apresentação desse produto tão esperado que Bill Gates viu o inesperado acontecer. No meio das operações de apresentação, o Windows 98 travou — o que as pessoas que acompanharam o lançamento viram pela primeira vez foi a tela azul do Windows, que viria a ser uma companheira constante dos utilizadores do sistema operacional da empresa. Bill Gates contornou a situação — disse que esse ponto precisava ser mais bem trabalhado no sistema. No entanto, a tela azul apavora a equipe da Microsoft até hoje (SILVA, [2010]). Desenvolvimento de mercado Consiste em identifi car, desenvolver e conquistar novos mercados para seus produtos, bem como examinar os mercados, procurar novos consumidores, atrair consumidores de marcas concorrentes, mudar faixas etárias de clientes, enfi m, estimular novos clientes a comprarem os produtos existentes. Deve-se usar armas como propaganda e praça e não se deve alterar produto. Em resumo, o desenvolvimento de mercado consiste em oferecer os produtos/serviços existentes para novos mercados, podendo assumir três formas, descritas abaixo. Novos segmentos: nos serviços públicos, por exemplo, uma faculdade pode oferecer cursos de extensão voltados a pessoas de baixa renda. Investimento em produto-mercado: onde competir8 Novos usuários: em uma academia de ginástica, por exemplo, podem ser oferecidas atividades voltadas para o público da terceira idade, além das atividades voltadas para o público mais jovem. Novas regiões geográficas: um exemplo disso é abrir franquias em diferentes regiões geográficas. Diversificação Trata-se da dimensão mais arriscada e mais complexa, pois abrange abrir novos negócios com novos mercados. Pode se tornar uma grande oportunidade, se a organização conseguiridentifi car algum mercado emergente. No entanto, a empresa que se diversifi ca demais e passa a trabalhar com indústrias pouco conhecidas tende a perder mercado e sucumbir. Ampliar as áreas de atuação pode ajudar a empresa a lidar com as mudanças de mercado. Por exemplo, em 2016, a Magazine Luiza pagou R$ 13,6 milhões pela Época Cosméticos, especializada em vendas de produtos de beleza pela Internet. A agência de turismo Luiza Viagens, criada em parceria com a Azul Linhas Aéreas, também surgiu dessa estratégia. Também em 2016, a Coca-Cola pagou US$ 1,25 bilhão pela compra de 10% da Green Mountain, fabricante de máquinas e cápsulas para produção de café e bebidas quentes (VALOR EOCONÔMICO, 2013). A ampliação do escopo das áreas de atuação também pode gerar riscos. Como a ampliação ultrapassa o âmbito principal do negócio, poderão ocorrer problemas operacionais, riscos com a marca e queda de qualidade dos produtos principais. A Netflix teve que voltar atrás na decisão de se dividir em duas um mês após o anúncio. Em 2011, a companhia havia separado as operações em aluguéis de DVD e distribuição de filmes on-line. A estratégia, no entanto, não foi bem vista, pois confundia os assinantes dos serviços oferecidos pela Netflix. A companhia desfez a separação após perder milhares de clientes, de acordo com a revista Exame (BARBOSA, 2016). Nos termos da metodologia de Ansoff (1981), a diversificação é a direção estratégica mais radical e tende a ser feita por três motivos principais, conforme descrito abaixo. Ganhos de eficiência: podem ser alcançados pela destinação dos re- cursos da empresa para novos mercados e produtos/serviços. Trata-se da economia de escopo, em oposição à economia de escala. Ou seja, há economias a serem atingidas por meio do aumento do alcance das atividades da empresa. As escolas, por exemplo, têm recursos em termos 9Investimento em produto-mercado: onde competir de estrutura física que não são utilizados no período de férias. Essa infraestrutura ociosa será aproveitada de modo mais eficiente se a escola oferecer serviços como cursos de férias fora do período letivo. Ampliação das capacidades de controladoras corporativas para novos mercados/produtos/serviços: no nível da controladora corpo- rativa, os gerentes devem desenvolver expertise ao administrar dife- rentes produtos/serviços, que podem ser aplicados a negócios que não compartilham recursos em nível de unidade operacional. Aumento do poder de mercado: pode ocorrer por meio de uma gama diversificada de produtos/serviços. Com várias empresas, uma organi- zação tem maior possibilidade de investimento, pois uma organização do grupo que seja mais frágil pode receber excedentes das outras, tornando-se forte para reagir aos momentos de crise. Plano de ação para estratégia de diversificação Para transformar a diversifi cação em um mercado estratégico de investimento, uma organização deve, em primeiro lugar, efetuar uma análise objetiva dos atuais negócios existentes e do valor agregado pela corporação, conforme apontam Montgomery e Porter (1998). Somente a partir dessa avaliação é possível compreender a boa prática corporativa. Essa compreensão deve servir de guia para a futura diversifi cação, assim como para o desenvolvimento de habilidades e atividades para a seleção de futuros negócios. O plano de ação que será apresentado a seguir, baseado em Porter (1999), oferece uma abordagem para a condução dessa análise, possibilitando à or- ganização adotar uma estratégia corporativa a partir dos passos sugeridos. Identificação dos inter-relacionamentos entre as unidades de negó- cios existentes: uma empresa deve iniciar o desenvolvimento de uma estratégia corporativa pela identificação de todas as oportunidades de compartilhamento de atividades e de transferência de habilidades existentes em seu atual portfólio de unidades de negócios. A inexistência de inter-relacionamentos relevantes no portfólio é uma constatação igualmente importante, que sugere a necessidade de identificar o valor agregado pela corporação ou, como alternativa, a necessidade de realizar uma reestruturação. Seleção dos negócios essenciais que servirão de fundamento à es- tratégia corporativa: uma diversificação de sucesso inicia com a compreensão dos negócios essenciais que servirão de fundamento Investimento em produto-mercado: onde competir10 para a estratégia. Os negócios essenciais são aqueles que estão em um setor emergente e que têm potencial para atingir uma vantagem competitiva sustentável, possuem inter-relacionamentos relevantes com outras unidades de negócios e propiciam atividades que representam a base para a diversificação. Criação de mecanismos organizacionais horizontais, para facilitar os inter-relacionamentos entre os negócios essenciais e preparar o terreno para futuras diversificações correlatas: a alta gerência pode criar condições para facilitar os inter-relacionamentos, dando ênfase à colaboração entre as unidades, agrupando diversas unidades, mudando o sistema de incentivos e gerando medidas para criar um intenso sentido de identidade corporativa. Busca de oportunidades de diversificação que permitam o com- partilhamento de atividades: esse modelo de estratégia é o mais convincente, desde que a estratégia da empresa passe pelas três estra- tégias mencionadas acima. A empresa deve identificar as atividades das unidades existentes que correspondem às bases mais sólidas para o compartilhamento, como canais de distribuição de grande porte. Essas atividades, por sua vez, conduzirão a novas áreas potenciais de negócios. Busca de diversificação por meio da transferência de habilidades, caso as oportunidades para o compartilhamento de atividade sejam limitadas ou se encontrem esgotadas: esse tipo de diversificação tende a ser mais arriscado, por causa das rígidas condições estipuladas para o seu funcionamento. Com tantas incertezas, a empresa deve evitar esse tipo de diversificação. Uma opção é escolher novos setores que conduzam naturalmente a outros negócios. O objetivo é criar um conglomerado de unidades de negócios, cujas estruturas reforcem umas às outras. Adoção da estratégia de reestruturação, caso seja compatível com as habilidades gerenciais ou inexistam boas oportunidades para o desenvolvimento de inter-relacionamentos dentro do grupo: quando uma corporação descobre empresas trabalhando com uma gerência ineficaz, e se ela é capaz de alocar os recursos e talentos gerenciais ade- quados para a unidade adquirida, nesse caso, a estratégia recomendável é a reestruturação. A reestruturação pode ser permanente ou pode ser uma forma de construir um grupo de empresas que sirva de base para uma mudança para outra estratégia corporativa. Pagamento de dividendos, de modo que os acionistas sejam os gestores do portfólio: pagar dividendos é melhor do que destruir o valor em mãos 11Investimento em produto-mercado: onde competir dos acionistas por meio de diversificações baseadas em pilares frágeis. Um possível endividamento não é motivo legítimo para a diversificação, se a empresa não consegue demonstrar sua capacidade de rentabilidade. Mercados estratégicos de investimento e canais de distribuição Selecionar o mercado estratégico para investimento requer identifi car as empresas e pessoas de um produto-mercado para as quais uma organização vai direcionar sua estratégia de posicionamento. A seleção de mercados estra- tégicos é, sem dúvida, um dos maiores desafi os do marketing. Assim, surge o seguinte questionamento: a empresa deve atender todos os interessados em seus produtos/serviços ou deve se concentrar em um determinado grupo? De acordo com Cravens e Piercy (2007), para identifi car os mercados estratégi- cos de investimento, é necessário identifi car e analisar os segmentos de um produto-mercado, decidir qual será o alvo e implementar uma estratégia de posicionamento para cada alvo. Já os canaisde distribuição se referem aos caminhos que levam os produtos das empresas aos seus respectivos consumidores, no local certo e na hora esperada pelos clientes. Segundo Ferrell e Hartline (2019), existem três opções estruturais básicas para a distribuição, em termos de amplitude de mercado e nível de exclusividade entre fornecedor e varejista: distribuição exclusiva, distribuição intensiva e distribuição seletiva. Distribuição exclusiva: é o tipo mais restritivo de cobertura do mercado. Empresas que adotam essa estratégia fornecem a um único canal o direito exclusivo de vender um produto dentro de uma área definida. As empresas que buscam uma distribuição exclusiva costumam dirigir-se a um segmento de mercado único. Os compradores desse segmento devem estar dispostos a procurar ou até mesmo viajar para comprar o produto, devido à exclusividade e ao prestígio da marca/produto. Distribuição intensiva: a distribuição intensiva atua com o número máximo de canais em cada área, para conseguir o máximo possível de exposição. Essa opção de distribuição está ligada a produtos de conveniência para o consumidor, como alimentos da cesta básica, medicamentos, produtos de higiene. Os produtos precisam estar no maior número de locais possível, pois, se os consumidores não pude- rem encontrar os produtos da empresa em um determinado local, vão substituí-los pelos produtos de outra marca. Investimento em produto-mercado: onde competir12 Distribuição seletiva: empresas que utilizam a distribuição seletiva concedem a vários revendedores o direito de vender um produto em uma determinada região. O intuito dessa estratégia é valorizar o produto. Nesse modelo, são escolhidos apenas intermediários que ofereçam as características desejadas e que sejam os mais adequados para atingir o público-alvo da marca. Exemplos de produtos com distribuição seletiva são artigos como roupas de grife e relógios caros, que são vendidos apenas em lojas de luxo. Como os mercados estratégicos retroalimentam o processo de planejamento mercadológico? É a partir da defi nição dos mercados estratégicos de investimento que uma organização pode dar continuidade ao seu processo de planejamento mer- cadológico, visando a identifi car as melhores oportunidades de negócio e, consequentemente, alcançar seus objetivos. Para tanto, é necessário desenvolver as análises descritas a seguir. Segmentação de um produto-mercado: a análise de segmento de mercado ajuda a avaliar e classifi car os segmentos gerais considerados pelo gerencia- mento como mercados-alvo. Essas avaliações devem incluir informações acerca dos clientes, concorrentes e indicadores fi nanceiros. A análise precisa apontar se o alvo será um único segmento, alguns segmentos, a maioria dos segmentos ou todos os segmentos do produto-mercado, conforme Cravens e Piercy (2007). Identifi cação de alvo: a identifi cação de segmentos-alvo é apropriada para todas as empresas que concorrem em um produto-mercado maduro. A ques- tão estratégica é decidir quais segmentos serão atendidos. A maturidade de mercado pode gerar novas oportunidades e ameaças nos mercados-alvo de uma companhia. As empresam que adotam essa estratégia podem resolver sair de determinado segmento; nesse caso, os alvos mantidos no portfólio da empresa tendem a ser priorizados para orientar pesquisas, desenvolvimento de produtos e estratégias de alocação de preços, por exemplo. Estratégia de posicionamento: a estratégia de posicionamento é a combinação de estratégias do composto de marketing usadas para defi nir o posicionamento para os compradores-alvo. Como mostra a Figura 3, o objetivo do posiciona- 13Investimento em produto-mercado: onde competir mento é fazer com que cada cliente-alvo note a marca de forma distinta das marcas dos concorrentes. Figura 3. Processo de posicionamento nos mercados estratégicos. Fonte: Adaptada de Cravens e Piercy (2007). Mercado-alvo Conceito de posicionamento Posicionamento desejado pelo gerenciamento para o produto (marca) aos olhos dos clientes-alvo Eficácia do posicionamento Modo como os objetivo de posicionamento do gerenciamento são alcançados no mercado-alvo Posicionamento estratégico Combinação das ações de marketing utilizadas para comunicar o conceito de posicionamento aos compradores-alvo AAKER, D. A. Administração estratégica de mercado. 9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. ANSOFF, H.I. Do planejamento estratégico a administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1981. ANVISA proíbe venda de formol, usado para alisar cabelo. O Globo, 2009. Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1199804-5598,00-ANVISA+PROIBE+VE NDA+DE+FORMOL+USADO+PARA+ALISAR+CABELO.html. Acesso em: 23 set. 2019. BARBOSA, D. 10 negócios que fracassaram ou patinaram em 2011 (até agora). Revista Exame, 2016. 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