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Aprendizado em Pequenos Grupos Jorge Vinícius Silva Cristo 2023.1 “Lembre de olhar para as estrelas, não para seus pés” Dr. S. H. Jorge Vinícius Silva Cristo – TXXXII/UNISL As adrenais posicionam-se sobre os rins e, por isso, também podem ser chamadas de suprarrenais. Possuem duas camadas, com origens embrionárias distintas, e que, portanto, podem ser consideradas dois órgãos distintos, apenas unidos anatomicamente. Abaixo da capsula de tecido conjuntivo situam-se as duas camadas. O córtex tem origem no mesoderma e é dotado de uma coloração acinzentada e é dividida em 3 camadas: zonas glomerulosa, fasciculada e reticulada. A medula deriva do neuroectoderma, a partir da crista neural, e suas células são na verdade, células nervosas modificadas. Esta área é responsável pela produção de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), cujas funções são diversas e atuam em todo o corpo. Zona glomerulosa Estímulo: ACTH, Ang II e [K+] plasmática Produção: aldosterona, desoxicorticosterona Função do hormônio: aumenta a reabsorção renal de água e de sódio, e a excreção de potássio; interfere na manutenção da PA. Zona fasciculada Estímulo: ACTH Produção: cortisol, corticoesterona Função do hormônio: interferência no metabolismo de carboidratos (aumento da gliconeogênese hepática, diminuição da utilização de glicose celular por aumento da resistência insulínica), no metabolismo de proteínas (aumento do catabolismo de proteínas e diminuição da sua síntese) e no metabolismo de lipídios (quebra de triacilglicerol). Zona reticulada Estímulo: ACTH Produção: andrógenos Função do hormônio: hormônios com efeitos masculinizantes desprezíveis em condições normais. Configuração histológica Revisar a morfofisiologia das adrenais Estudar a epidemiologia, fatores de risco, etiologia, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da síndrome de Cushing e da doença de Addison Jorge Vinícius Silva Cristo – TXXXII/UNISL A SC pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas é mais comum em adultos, com idade mediana de 41,4 anos ao diagnóstico, e predomínio no sexo feminino (3:1). É uma doença rara, com estimada incidência de 0,7 a 2,4 casos novos por milhão de habitantes e prevalência de 37 a 39 por milhão em várias populações. Uma maior prevalência foi relatada para o hipercortisolismo subclínico (HCSC) em indivíduos com diabetes melito tipo 2 (DM2) mal controlado (2 a 3%), hipertensão (0,5 a 1%) e outros. A síndrome de Cushing pode ter causas endógenas e causas exógenas (mais frequente). Destas últimas destaca-se o uso prolongado e superdosado de corticoides, seja de uso sistêmico ou tópico. As causas endógenas dividem-se em ACTH- dependentes (70-80%) e ACTH-independente (20- 30%), com base no nível de ACTH circulante. Na síndrome ACTH-dependente, há uma hipersecreção do hormônio hipofisário. No segundo caso, a produção de ACTH é normal, mas mesmo assim, os níveis de cortisol são elevados. Em estado fisiológico, frente a estados de necessidade, o hipotálamo secreta o hormônio de liberação de corticotrofina (CRH) que estima os corticotrofos da adeno-hipófise a secretarem a corticotrofina (ACTH). Sob estímulo do ACTH, a zona fasciculada do córtex adrenal entra em atividade e libera na corrente sanguínea o cortisol produzido. Com a elevação dos níveis de cortisol, o hipotálamo e a hipófise têm sua atividade inibida, o que resulta na progressiva diminuição da atividade das suprarrenais, e na lenta redução dos níveis Epidemiologia Etiologia e fisiopatologia Jorge Vinícius Silva Cristo – TXXXII/UNISL plasmáticos de cortisol para, então, encerrar-se o ciclo. Síndrome de Cushing ACTH-dependente Há uma hipersecreção de ACTH, mesmo que esteja ausente qualquer estímulo hipotalâmico para tal. Frequentemente resulta da proliferação exacerbada de corticotrofos (adenoma). Doença de Cushing: pode decorrer de microadenoma (80%), macroadenoma (20%) ou de carcinomas (<1%) hipofisários. É mais predominante no sexo feminino (M:H=8:1). Síndrome do ACTH ectópico: neste caso há produção de ACTH fora do tecido hipotalâmico, como em tumores pulmonares, tímicos, vesiculares, hepáticos, intestinos, cólon, etc. Síndrome do CRH ectópico: menos de 30 casos documentados. A maioria é secundária a carcinoides brônquicos. Há produção de CRH fora do hipotálamo. Síndrome de Cushing ACTH- independente Na SC ACTH-independente, não há estímulo do eixo hipotálamo-hipofisário para a atividade adrenal, com produção normal de ACTH. Mesmo assim, algumas condições levam a uma hiperatividade da glândula. Distúrbios adrenais: adenomas são os mais frequentes (80% dos casos), mas carcinomas (20%) e hiperplasia adrenal bilateral também são potenciais causas da hipersecreção de cortisol. Distúrbios extra-adrenais: restos embrionários ectópicos das adrenais. Obesidade. Acúmulo de gordura no tronco, na face (face “em lua cheia”) e no pescoço (“giba de búfalo”) Extremidades magras, sem deposição de gordura Em crianças, o ganho de peso associa-se a parada no crescimento Fraqueza muscular. Dificuldade para levantar-se da posição sentado ou para subir escadas Sintomas neuropsiquiátricos: apati a, letargia ou depressão até euforia ou psicose, perda de memória, déficits cognitivos e problemas de sono Osteopenia e hipercalciúria (pode gerar nefrolitíase) Manifestações clínicas e diagnóstico Jorge Vinícius Silva Cristo – TXXXII/UNISL Estrias violáceas largas no abdome inferior, coxas, pescoço e axilas Exames laboratoriais Descartado o uso de fármacos corticoides, a análise clínica deve acontecer em duas etapas: 1. Confirmação do hipercortisolismo O cortisol livre urinário de 24h deve ser repetido 3x para confirmação ou descarte do diagnóstico. Níveis normais nas 3 ocasiões excluem o hipercortisolismo. Valores de 3 a 4 vezes maiores do que o limite superior do normal (em geral, acima de 300 μg/24h) são altamente sugestivos de hipercortisolismo. O teste de supressão com dexametasona é feito com a administração de 1 mg entre 23 e 00h com aferição do cortisol sérico pela manhã. Espera-se que os níveis sejam inferiores a 1,8 μg/dL. Atenção para pseudo-Cushing. Cortisol sérico da meia-noite >7,5 μg/dL é indicativo de SC. 2. Definição da etiologia Aqui faz-se a determinação da dependência do hipercortisolismo com relação ao ACTH, e da sua origem (hipofisária, adrenal, ectópica). A dosagem de ACTH deve ser feita com 2 ou 3 amostras de plasma colhidas entre 8 e 9h, com 15 minutos de intervalo entre as coletas. Valores muito baixos ou indetectáveis de ACTH (<10 pg/mL) indicam uma etiologia ACTH- independente; nesse caso, deve ser feita TC ou RNM de abdome para localizar um provável tumor de suprarrenal. ACTH >10 pg/mL apresentam uma etiologia ACTH-dependente, sendo a maioria portadora de adenoma hipofisário. Valores extremamente elevados de ACTH (>300pg/mL) são bastante sugestivos de secreção ectópica. Exames de imagem Para busca de adenoma hipofisário, deve ser usada RNM com contraste, pois dessa maneira, pode-se identificar as duas porções da hipófise e a presença de micro e macroadenoma (<10mm e >10mm, respectivamente). Jorge Vinícius Silva Cristo – TXXXII/UNISL Em casos de SC ACTH-independente, procura- se a etiologia no abdome, lançando mão de RNM e TC. Cirurgia hipofisária ou adrenal: o tratamento de escolha para a DC é a remoção do tumor hipofisário por via transesfenoidal, que possibilita a reversão clínica e laboratorial do hipercortisolismo na maioria dos casos.Na síndrome de Cushing ACTH- independente, a terapêutica consiste na adrenalectomia unilateral (ou, eventualmente, bilateral), com grande possibilidade de remissão. Radioterapia: é tratamento de 2ª linha, com taxa de sucesso inferior à cirurgia, e o controle do hipercortisolismo é lento e gradual, podendo levar vários anos para ser obtido. Hipopituitarismo pode ocorrer em 50% dos casos. A insuficiência adrenal é um distúrbio caracterizado por redução ou perda da função do córtex adrenal, causando deficiência de glicocorticoides, associada ou não à deficiência da secreção de mineralocorticoides e androgênios. As insuficiências renais podem ser classificadas em primária, quando causadas por doença adrenal, secundária, se causada por doença na hipófise, ou terciária, se o acometido for o hipotálamo. Em países desenvolvidos, a principal causa da doença de Addison (DA) é a adrenalite autoimune, enquanto que em países em desenvolvimento, a causa mais frequente é o acometimento das adrenais pela tuberculose. Adrenalite autoimune Ocorre destruição das células da camada cortical, com a camada medular mantida intacta. Podem ser encontrados anticorpos contra o córtex adrenal (ACA), contra enzimas esteroidogênicas Tratamento Etiologia e fisiopatologia Jorge Vinícius Silva Cristo – TXXXII/UNISL (anti-21-hidroxilase). Outros anticorpos relacionados são: Contra células produtoras de esteroides => hipogonadismo Contra antígenos da ilhota pancreática => DM 1 Contra antígenos da tireoide => tireoidite crônica Quando a adrenalite autoimune se associa a hipoparatireoidismo e candidíase mucocutânea na infância tem-se a Síndrome Poliglandular Autoimune do tipo 1 (SPA-I). No entanto, quando a associação se dá entre a adrenalite autoimune e hipotireoidismo autoimune e/ou tireoidite crônica autoimune constitui a Síndrome Poliglandular Autoimune do tipo 2 (SPA-II). Em todo caso, as adrenais têm aparência atrófica, com perda da maior parte das células corticais. Causa infecciosas Os principais agentes são a tuberculose, fungos (paracoccidioidomicose no Brasil), e infecções por citomegalovírus. Na forma tuberculosa, o bacilo de Koch dissemina-se por via hematogênica e alcança as adrenais. Neste caso, a doença extra-adrenal costuma ser evidente. Aqui, as suprarrenais apresentam-se aumentadas com granulomas extensos e caseificação, sendo o córtex e a medula afetados. Com o tempo, no entanto, podem surgir calcificações e o tamanho pode se reduzir ao normal ou podem ficar um pouco menores que isso. Outras causas da DC são: Infarto adrenal: hemorragia adrenal por trombose ou hemorragia da veia suprarrenal; relacionada com meingococcemia, CIVD D (coagulação intravascular disseminada). Fármacos: Drogas que alteram a síntese de cortisol (etomidato, mitotano, aminoglutetimida, cetoconazol, metirapona) ou aceleram o clearance hepático de cortisol (rifampicina, fenitoína, barbituratos) podem levar à insuficiência adrenal. Adrenaloleucodistrofia: doença recessiva ligada ao cromossomo X, afetando meninos entre 5 e 12 anos. Há o defeito na beta- oxidação de ácidos graxos insolúveis de cadeia longa, os quais acabam se depositando nos tecidos, resultando em insuficiência adrenal e doença neurológica desmielinizante progressiva e fatal. Metástases: é incomum, apesar da frequência das metástases, pois a manifestação de DA requer acometimento bilateral e destruição de 90% do parênquima. Hipoplasia suprarrenal congênita: condição familiar rara. Deficiência familiar de glicocorticoide: Causa rara de hipoadrenalismo, apresenta caráter autossômico recessivo. A principal característica é a falta de resposta adrenal Jorge Vinícius Silva Cristo – TXXXII/UNISL ao ACTH, levando à deficiência de glicocorticoides É preciso a perca de 90% do tecido cortical para que a doença se manifeste. Como tal acometimento é gradual, a sintomatologia é crônica. Mas também podem ocorrer destruições abruptas, causando crises adrenais. Diagnóstico clínico O quadro clínico depende da extensão da destruição das suprarrenais, do tempo de instalação da insuficiência (se aguda ou insidiosa) e do tipo de esteroides que estão deficientes (se apenas os glicocorticoides, ou também os androgênios e mineralocorticoides). Entre tantos sinais clínicos inespecíficos, destaca-se a hiperpigmentação de superfícies expostas ao sol como face, pescoço e braços, em cicatrizes recentes, em áreas de pressão, como joelhos, dedos e tornozelos e nas mucosas oral e genital. Outros sinais e sintomas são listados na tabela: A DA tem uma fase pré-clínca na qual a produção basal de esteroides ainda supre as necessidades do corpo. Mas frente a algum estresse, como trauma ou cirurgia, pode-se presenciar um quadro de crise adrenal, que pode ser a primeira manifestação da DA. As manifestações dessas crises são: hipotensão, taquicardia, vertigens, náuseas e vômitos, com rápida evolução para choque hipovolêmico. Diagnóstico laboratorial Manifestações clínicas e diagnóstico Jorge Vinícius Silva Cristo – TXXXII/UNISL Dosagem do cortisol basal: feito entre as 8 e as 9h (pico de cortisol); positivo quando < 4 μg/dL; > 16 μg/dL exclui-se DC; Teste de estímulo: administração de ACTH IV ou IM 250μg; coleta de sangue nos instantes zero, 30 min e 60 min (ou somente em 60 min) para verificação do cortisol. < 20 μg/dL é positivo, a adrenal não responde ao estímulo do ACTH. Tratamento de crise adrenal 1. Dose inicial de 100 a 300mg IV de hidrocortisona, seguida da dose de manutenção de 50 a 100mg IV de hidrocortisona a cada 6 a 8 horas. Após 48 a 72 horas, a dose de reposição será diminuída gradualmente, a cada 1 a 3 dias. 2. Reposição volêmica deve ser feita com solução salina a 0,9%, 1 a 2L/h. Tratamento crônico 1. Reposição de glicocorticoides. Faz-se de 15 a 25mg de acetato de cortisona, dividida em 2/3 no período matutino e 1/3 ao final da tarde, de acordo como ciclo circadiano. 2. Reposição de mineralocorticoides: fludrocortisona, 0,05 a 0,2mg/dia Referências: Histologia básica: texto e atlas. Junqueira, Luiz Carlos Uchoa, 2018. Tratado de histologia em cores. Gatner, 2007. Tratado de fisiologia médica. Hall, 2017. Endocrinologia clínica. Vilar, 2021. Endocrinologia básica e clínica de Greenspan. Gardner, 2013. Tratamento
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