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Entender a fisiopatologia e etiologia da Hanseníase. Compreender a epidemiologia da Hanseníase. Analisar os estigmas sobre a Hanseníase. Hanseníase Ela é conhecida por diversos nomes como: mal de Hansen (MH), mal de Lázaro ou lepra. Esse último é o mais comum e adotado ainda em alguns países, porém no Brasil devido ao estigma que possui ela foi substituída pelo nome hanseníase. A hanseníase é uma patologia infectocontagiosa crônica, granulomatosa que é causada pelo Mycobacterium leprae. Está doença pode afetar o sistema nervoso periférico, a pele, órgão e sistemas que possuem macrófagos. Embora essa doença seja curável, seu diagnostico pode causar grande impacto psicossocial, pelos preconceitos e estigmas que a envolvem desde a antiguidade. Epidemiologia A hanseníase é considerada endêmica nas áreas subdesenvolvidas ou desenvolvimento na Ásia, África e América Latina. Sendo que os fatores climáticos, nutricionais, econômicos, movimentos migratórios e, principalmente, terapia inadequada facilitavam a propagação da endemia. Em 2016, segundo a OMS, 143 países reportaram mais de 200 mil casos novos de hanseníase, sendo que somente no Brasil foram notificados 25.218 casos, o que significa que a taxa de detecção, no Brasil, foi de 12,2/100 mil habitantes. Esses números fazem com que o país seja de alta carga para a doença, ocupando a segunda posição no mundo, quanto aos números de novos casos registrados. A OMS define que para que a doença seja considerada erradicada não se deve ter nenhum caso ocorrendo em uma determinada localidade, devendo manter medidas de controle. Dessa maneira, a erradicação dependeria de manter as condições de eliminação e não ter o agente circulante e, dessa maneira, mesmo que existam suscetíveis não ocorre o adoecimento, não sendo necessárias medidas de controle. Com a adoção do esquema de poliquimioterapia (PQT) fez com que o número de casos registrados fosse reduzido drasticamente. Desde então, mais de 14 milhões de pacientes foram tratados e curados com a PQT. Com isso, dos 122 países hiperendêmicos em 1985, 113 conseguiram eliminar a hanseníase como problema de saúde pública. Atualmente, em todo o mundo, 16 países são responsáveis por 93% dos casos novos detectados. Existem 6 países que a hanseníase ainda constitui importante problema de saúde pública e a meta não foi atingida, eles são: Índia, Brasil, Myanmar, Madagascar, Moçambique e Nepal. Em 2007, um estudo considerou a relação entre o nível educacional e a hanseníase, e constatou a relação entre essa doença e o desenvolvimento social deficiente. Etiologia O Mycobacterium leprae foi descrito por Armauer Hansen, na Noruega, em 1873. Porém, essa doença é conhecida desde a antiguidade, quando recebeu o nome de Lepra. A maioria dos indivíduos oferece resistência ao M. leprae, não desenvolvendo a doença após o contato. Sendo a via aérea superior a principal via de eliminação dos bacilos. Contudo, essa via ainda é considerada como a principal porta de entrada do vacilo. Entretanto, existem outras possíveis formas de transmissão: : ainda não totalmente elucidada e, por vezes, contestada lesões hansênicas, com a pele íntegra de indivíduos normais Os bacilos da M. leprae são gram-positivos e álcool- acidorresistentes (BAAR). A sua coloração é obtida pelo método de Ziehl-Neelsen, por meio desse método identificamos os bacilos de Hansen como aqueles que se coram uniformemente em vermelho, quando estiverem íntegros ou viáveis. Os bacilos inviáveis podem ser Problema 31 – Deu Branco Imagem 1: Incidência da hanseníase no Brasil - agenciabrasil identificados com estruturas granulosas. Eles podem ser observados isolados ou em agrupamentos característicos denominados globias, em que se encontram unidos por uma substância denominada gleia. Esta bactéria tem uma parede celular com membrana dupla, sendo que possui alguns antígenos envolvidos na sua patogênese, particularmente, a lipoarabinomanana (LAM), e, também, um trissacarídeo imunogênico espécie-específico, o glicolipideofenólico-1 (PGL-1), antígeno supressor da resposta de células t e da produção de IFN-γ, e modulador da produção de TNF- α. Esse possui um ciclo evolutivo muito lento (11 a 16 dias). Sua viabilidade no meio ambiente varia de acordo com a temperatura e a umidade, podendo sobreviver de 36 h a 9 dias. Fisiopatologia O bacilo de Hansen é um germe de alta infectividade e baixa patogenicidade e virulência. Admite-se que muitas pessoas se infectam em áreas endêmicas, mas somente uma minoria adoece. O seu período de incubação, após invadir o organismo, dura cerca de dois a cinco anos. Após conseguir atravessar a barreira tegumentar, esse bacilo será fagocitado por macrófagos e será apresentado, pelas células apresentadora de antígenos, pelo complexo de histocompatibilidade (MHC classes I e II), culminando com diferentes padrões de reação do hospedeiro. A infecção evolui de maneiras diversas, de acordo com a resposta imunológica, específica, do hospedeiro, frente ao bacilo. Se a resposta imunológica for competente, o indivíduo evolui para a forma clínica localizada e não contagiosa da doença; já se esta competência não é efetiva, uma forma difusa e contagiosa é desenvolvida. Entre estes dois extremos, encontram-se as formas intermediárias, que refletem, também, graduais variações da resistência ao bacilo. Os linfócitos CD4+ são subdivididos em Th1 e Th2, com atividades imunorreguladoras específicas, que são mediadas pelas citocinas. A Th1 produz as citocinas IL-2, IFN-γ e TNF-β, responsáveis pela manutenção da resposta imune celular. A IL-2 ativa receptores dos linfócitos CD4+, estimulando a formação de clones celulares, responsáveis pela manutenção da produção de citocinas e, paralelamente, estimulam células NK, com ação de potencializar uma maior produção de IFN-γ. O IFN-γ age sobre macrófagos, estimulando a fagocitose e os mecanismos de ativação celular, levando a maior produção de TNF-α, que incrementa a ativação macrofágica, e atuando por meio de um mecanismo sinérgico cíclico. O padrão Th2 produz as citocinas que culminam basicamente com supressão macrofágica, são elas: IL-4, IL-5, IL-6, IL-8 e IL-10. IL-4 e IL-10 produzem bloqueio que culmina com o desvio da resposta imunológica. Adicionalmente, IL-4 estimula linfócitos B, que se tornam produtores de imunoglobinas, e mastócitos, que passam a produzir mais IL-4, incrementando a resposta supressora macrofágica. Assim, dependendo da subpopulação de células T em atividade, durante o processo inflamatório, haverá predominância de mecanismos de defesa ou de disseminação da doença. Defesa e/ou resistência à infecção estão relacionadas à presença de TNF-α e à produção de mediadores de oxidação, como reativos intermediários do oxigênio (ROI) e do nitrogênio (RNI), elementos fundamentais para a destruição bacilar, intramacrofágica. Classificação Os sistemas de classificação costumam utilizar um ou mais dos seguintes critérios: : aspecto, número, extensão, margens e simetria das lesões cutâneas; : presença ou ausência do M. leprae; : imunorreatividade à lepromina - Reação de Mitsuda; : aspectos histopatológicos das lesões. Dessa maneira, existem três principais sistemas de classificações: de Madrid (mais usado no Brasil), de Ridley e Jopling e a da OMS. Imagem 2: Hanseníase virchowiana da pele - anatpat.unicamp Imagem 3: Sistemas de classificações Hanseníase - Sanarflix Simplificando, a classificação de Madrid categorizada a hanseníase: fase comum para todos os pacientes no início da doença, podendo ser perceptível ou não. forma na qual o sistema imune é capaz de atuar combatendo a doença. a forma mais comum de apresentação da doença. Ocorre após um longo período de incubação(aproximadamente 10 anos) por conta da lenta multiplicação do bacilo. configura a forma mais contagiosa da doença. Quadro clínico Na clínica desses pacientes se apresentam um conjunto de manifestações neurais e cutâneas. Sendo os sinais e sintomas gerais da hanseníase são: Manchas hipocrômicas, acastanhadas ou avermelhadas, com alterações de sensibilidade térmica, dolorosa e/ou ao tátil; Formigamentos, choques e câimbras nos braços e pernas; Pápulas, tubérculos e nódulos, sem sintomatologia associada; Diminuição ou queda de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas sobrancelhas (madarose); Febre e artralgia, associados a linfadenopatia, de aparecimento súbito; Pele infiltrada, com diminuição ou ausência de suor no local. O Mycobacterium leprae tem um tropismo especial para os nervos periféricos. Há comprometimento neural em todas as manifestações clínicas da hanseníase. Dentro das manifestações neurais podemos ver a inflamação dos ramos neurais distais do sistema nervoso periférico com progressão proximal. Os nervos mais acometidos pela hanseníase são: o nervo facial, trigêmeo, ulnar, mediano, radial, fibular e tibial. Essa alteração nervosa culmina com uma série de alterações sensoriais e motoras como o distúrbio da sensibilidade térmica e dolorosa, posteriormente tátil e com possível evolução para complicações incapacitantes, por exemplo a presença de amiotrofia, retração de tendões, fixação de articulações, paresias, paralisias e mutilações. As lesões neurais mais precoces, assimétricas e agressivas são mais comuns no polo tuberculoide. Já as lesões neurais mais tardias, menos intensas e tendendo à simetria são mais presentes no polo virchowiano. As lesões neurológicas podem preceder as manifestações cutâneas. â As lesões cutâneas irão mudar conforme a classificação da hanseníase. Hanseníase indeterminada A lesão de pele geralmente é única ou são pouco numerosas. Caracteriza-se por manchas hipocrômicas ou eritemato-hipocrômicas, sem alteração de relevo, com bordas mal delimitadas, com perda da sensibilidade (anestesia ou hipoestesia) térmica e/ou dolorosa, mas com preservação da sensibilidade tátil. A baciloscopia é negativa e o teste de Mitsuda pode ser positivo ou negativo. Hanseníase Tuberculoide (HT) A lesão manifesta-se por uma placa totalmente anestésica ou por placa com bordas elevadas, bem delimitadas e centro claro (anulares). Com menor frequência, pode se apresentar como um único nervo espessado com perda total de sensibilidade no seu território de inervação. A baciloscopia é negativa, sendo necessário fazer correlação clínica com seu resultado. O teste de Mitsuda é positivo. Imagem 4: Classificações Hanseníase - eumedicoresidente Imagem 5: Hanseníase indeterminada - Sanarflix Imagem 6: Hanseníase Tuberculoide - Sanarflix Hanseníase Virchowiana (HV) O paciente virchowiano não apresenta manchas visíveis; a pele apresenta-se avermelhada, seca, infiltrada, cujos poros apresentam-se dilatados (aspecto de “casca de laranja”), poupando geralmente couro cabeludo, axilas e o meio da coluna lombar. Na evolução da doença, é comum aparecerem pápulas e nódulos escuros, endurecidos e assintomáticos (hansenomas). Quando a doença se encontra em estágio mais avançado, pode haver madarose. A face costuma ser lisa (sem rugas) devido a infiltração, o nariz é congesto, os pés e mãos cianóticos e edemaciados, a pele e os olhos secos. O suor está diminuído ou ausente de forma generalizada, porém é mais intenso nas áreas ainda poupadas pela doença, como o couro cabeludo e as axilas. São comuns as queixas de parestesias e artralgia. Na HV o diagnóstico pode ser confirmado facilmente pela baciloscopia dos lóbulos das orelhas e cotovelos. Hanseníase Dimorfa (HD) ou Borderline (HB) É marcada pela instabilidade imunológica, o que faz com que haja grande variação em suas manifestações clínicas, seja na pele, nos nervos, ou no comprometimento sistêmico. As lesões da pele revelam-se numerosas e a sua morfologia mescla aspectos de HV e HT, podendo haver predominância ora de um, ora de outro tipo. A infiltração assimétrica da face e dos pavilhões auriculares, bem como a presença de lesões no pescoço e nuca, é elemento sugestivo desta forma clínica. As lesões neurais são precoces, assimétricas e, com frequência, levam a incapacidades físicas. Elas ainda podem ser subdivididas dependendo da morfologia, número de lesões e simetria: Dimorfa Tuberculoide. Dimorfa Dimorfa. Dimorfa Virchowiana. Diagnóstico O diagnóstico de hanseníase deve ser baseado na história de evolução da lesão, epidemiologia e no exame físico. Em algumas situações, a baciloscopia e a biópsia de pele podem ser necessárias para auxiliar o diagnóstico, porém sempre devemos considerar as limitações desses exames, correlacionado seus resultados com os achados clínicos. Tratamento O tratamento específico da pessoa com hanseníase, indicado pelo Ministério da Saúde, é a poliquimioterapia (PQT) padronizada pela OMS, devendo ser realizado nas unidades de saúde. A PQT é constituída pelo conjunto dos seguintes medicamentos: Rifampicina, Dapsona e Clofazimina, com administração associada. Essa associação evita a resistência medicamentosa do bacilo que ocorre com frequência quando se utiliza apenas um medicamento, impossibilitando a cura da doença. Esse esquema do PQT mata o bacilo tornando-o inviável, evita a evolução da doença, prevenindo as incapacidades e deformidades causadas por ela, levando à cura. O bacilo morto é incapaz de infectar outras pessoas, rompendo a cadeia epidemiológica da doença. Estigmas da Hanseníase A palavra estigma servia para fazer referência a marcas corporais possivelmente associadas a quem as apresentava. Assim, indicava a condição de alguém excluído dos círculos de convívio, levando à diminuição da pessoa aos olhos da sociedade e, possivelmente, aos dela própria. Dessa maneira, os estigmas representam um conjunto de fatores, como crenças, medos e valores, além de outros, que podem causar prejuízos à saúde física, psicológica e social. Imagem 7: Hanseníase Virchowiana na pele e na face - Sanarflix Imagem 8: Hanseníase Dimorfa - Sampaio e Rivitti Imagem 9: Esquema do PQT – Google Imagens O estigma em decorrência da hanseníase sempre esteve presente na sociedade em diferentes momentos históricos. Podem estar envolvidos nesse processo, o caráter crônico da doença, a deformidade física causada por ela e o fato de até pouco tempo ter sido considerada incurável. As situações em que ocorrem o estigma e a discriminação podem ocorrer na família, na escola, no trabalho e até mesmo nos serviços de saúde. Os aspectos relacionados essas situações promovem a exclusão social e, ao mesmo tempo, podem produzir consequências negativas que resultam em interações sociais desconfortáveis, limitando o convívio social, sofrimento psíquico e, consequentemente, pode interferir no diagnóstico e adesão ao tratamento da hanseníase, perpetuando um ciclo de exclusão social e econômica. O Brasil não possui leis discriminatórias contra as pessoas acometidas pela hanseníase e seus familiares, em vigor. Embora destaque-se por ser o primeiro país no mundo que desenvolveu legislação que proíbe linguagem discriminatória contra as pessoas acometidas pela hanseníase, representando importante avanço para a garantia dos direitos das pessoas atingidas pela hanseníase, não existe nacionalmente penalidades impostas para quem as infringirem. Referências AZULAY, Rubem David. Dermatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013 Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti. Artes Médicas. São Paulo, 2014. Resumo de hanseníase: principais aspectos | Ligas - SanarMedicina. Disponível em: <https://www.sanarmed.com/resumos-hanseniase- principais-aspectos-de-uma-doenca-intensamente- prevalente-na-realidade-brasileira-ligas>. Acesso em: 16 maio. 2022. Estigma e discriminação na Hanseníase | Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pt-br/hanseniase/estigma-e- discriminacao-na-hanseniase>. Acesso em: 16 maio. 2022.
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