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Escola Técnica Ferreira Viana - Professor: SERGIO BAPTISTA DOS SANTOS – Sociologia - 1ª ano EMI TEXTO 3 – 2° Parte O conceito de ação social e a explicação da relação entre indivíduo e sociedade O conceito de estrutura social, compreendido como o conjunto de princípios que explicam os comportamentos e as instituições sociais, reduz a importância dos indivíduos nos processos de transformação da sociedade. Apesar das explicações que demonstram o modo pelo qual uma consciência coletiva orienta maneiras de ser e de agir (comportamentos masculinos e femininos, a língua falada, a arquitetura e organização das cidades etc.), outra posição teórica e metodológica enfatizou que o único elemento da sociedade que pode ser observado são os indivíduos, suas ações e a compreensão que eles próprios têm de suas ações. Cabe à Sociologia descrever esses comportamentos e compreensões e interpretá-los. As escolhas que orientam as ações individuais são motivadas por alguns fatores que podem ser classificados pela Sociologia. Quando um cidadão obedece à ordem de um policial, quando um pai se sacrifica em defesa de um filho ou quando um fiel jejua por orientação religiosa, é possível encontrar princípios racionais, afetivos e tradicionais na origem dessas ações. Quem propôs e desenvolveu essa perspectiva de análise foi o sociólogo Max Weber. Segundo ele, a ação dos indivíduos em sua interação com a sociedade é a unidade mínima da análise sociológica. Na concepção de Weber, a sociedade existe porque é vivenciada e compreendida por indivíduos racionais que tomam suas decisões conforme sua história e cultura. Uma vez que só é possível observar esses indivíduos, ou a ação consciente deles, Weber elege como objeto de estudo da Sociologia o sentido da ação social. As normas sociais – que Durkheim entendia como fatos sociais –, de acordo com Weber, existem somente por causa do sentido atribuído a elas pelos indivíduos, isto é, não têm valor em si mesmas. A sociedade é moldada pelo conjunto de decisões de muitos indivíduos, que reconhecem essas regras, atribuem-lhes sentido e manifestam as razões para obedecer a elas de forma consciente. No entanto, nem todas as decisões tomadas por vários indivíduos ao mesmo tempo são exemplos de ação social. Para serem vistas como unidade mínima de análise da Sociologia, é necessário que tenham relação com aquelas tomadas pelos demais indivíduos. O que isso quer dizer? Considere uma rua repleta de pedestres, em que todos abrem seus guarda-chuvas ao começar a chover. Essa decisão não é uma ação social; ao abrir seu próprio guarda- chuva, o indivíduo não leva em consideração a decisão dos outros (por mais que a ação pareça coletiva e coordenada para quem a observa, por exemplo, do alto de um prédio). Da mesma maneira, a colisão entre dois ciclistas não é um acontecimento diferente de um fenômeno natural e não pode ser considerada uma ação social. No entanto, são tidas como ações sociais as tentativas dos ciclistas de desviar um do outro a fim de evitar uma colisão ou de começar uma briga, assim como as de estabelecer uma conversa amigável ou se esforçar para prestar socorro após a colisão, já que a ação de um indivíduo só tem sentido se estiver relacionada à ação (ou possibilidade de ação) de outro. Tipos fundamentais da ação social: tradicional, afetiva e racional A ação social, portanto, é diferente de um simples comportamento social, pois carrega um sentido a ela atribuído pelo indivíduo. Assim, a ação social como instrumento de análise sociológica é definida como toda ação realizada pelos indivíduos levando em conta a expectativa de outra ação dos demais. Dessa forma, da perspectiva da teoria da ação social, a Sociologia não é entendida como uma realidade exterior aos indivíduos ou explicada por leis, como ocorre nas Ciências Naturais. A cientificidade da Sociologia residiria em sua capacidade de compreender racionalmente as ações e as relações sociais. Na construção de uma teoria da ação social, a observação da realidade levou à identificação de quatro tipos fundamentais de ação social que orientam a explicação das causas dos fenômenos sociais: tradicional; afetiva; racional orientada a valores; racional orientada a fins. A Sociologia fundamentada nessa perspectiva tem se concentrado principalmente na análise das duas últimas. A ação tradicional é motivada por um hábito arraigado ou por um costume. Isto é, quando se pergunta ao ator social por que ele realiza determinada ação (como cumprimentar alguém com um aperto de mão), ele responde que é porque sempre o fez e também porque seus pais e antepassados sempre o fizeram. Um exemplo de ação tradicional é o hábito de benzer-se ao passar em frente a uma igreja, como fazem muitos católicos. Essa ação, que identifica e integra uma comunidade religiosa específica, quando realizada de modo espontâneo, encontra explicação em um hábito sobre o qual não se faz uma reflexão racional. Ela já se transformou em um modo de agir consolidado. A ação afetiva é determinada por afetos ou estados emocionais. Como exemplo, podemos imaginar um indivíduo que reage a uma agressão ou ofensa de maneira igualmente agressiva. Ela consiste em uma reação momentânea a uma situação inesperada. Em outro contexto, a reação poderia ser completamente diferente. A ação racional orientada a valores é determinada pela crença consciente em um valor importante para o indivíduo, sem considerar as consequências das ações em defesa desse valor. Como exemplo desse tipo de ação podemos citar alguém que aja de acordo com sua convicção política e, ao defender suas ideias em uma manifestação pública, desencadeie uma repressão que, na prática, vai contra seu objetivo. Apesar de produzir efeitos contrários aos objetivos, a ação é racionalmente elaborada; o ator social considera suas consequências positivas e negativas, mas a orienta conforme seus valores, dos quais não pode abrir mão, independentemente dos resultados negativos que possa vir a provocar. A ação racional orientada a fins é aquela determinada pelo cálculo racional que estabelece fins objetivos e organiza os meios necessários para alcançá-los. Um exemplo de ação racional orientada a fins é a estratégia de um jovem para ser aprovado nos exames de ingresso no Ensino Superior. O aluno define as ações necessárias para atingir esse objetivo, organiza-as racionalmente, pesando prós e contras para sua realização, e opta pela estratégia de ação mais eficiente para atingir a meta planejada. Nessa concepção, a relação entre indivíduo e sociedade é construída com base na primazia da ação do indivíduo (ação social) em relação à estrutura social, compreendida aqui apenas como a regularidade de fatos ou padrões observados na ação social. As normas da sociedade não são a estrutura que sustenta a ação dos indivíduos, porque não podem ser observadas; o único elemento que a Sociologia pode analisar são as decisões pessoais dos indivíduos que interagem mediante as relações sociais. Cartaz de combate à violência doméstica, veiculado em 2008. A Lei Maria da Penha, que define como crime a agressão contra a mulher, foi criada com base em ação social. As reivindicações e a luta das mulheres por direitos que as resguardem da opressão da sociedade machista podem ser compreendidas como uma ação racional orientada a valores. reprodução/governo do estado de minas gerais João prudente/pulsar imagens O planejamento dos estudos necessários à aprovação em um teste caracteriza uma ação racional orientada a fins, já que é uma ação estritamente racional, na qual o indivíduo escolhe os melhores meios para a realização de um fim específico. Estudantes em laboratório da Escola Estadual Professora Leila Mara Avelino, em Sumaré (SP), em 2014. 47 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A sociedade é, nessa perspectiva, o resultado do conjunto das relações construídas pelos indivíduos com base no sentido a elas atribuído. O sistema econômico,por exemplo, funciona apenas porque os indivíduos compartilham a crença sobre o uso e o valor da moeda e agem de acordo com essa crença ao aceitar cédulas, cheques e cartões de débito e crédito como meio de pagamento por seu trabalho. Caso a crença no setor financeiro deixasse de ser compartilhada, esse sistema econômico sofreria transformações, pois as pessoas não mais aceitariam determinados meios de pagamento por suas mercadorias ou serviços. Em outras palavras, a sociedade não existe como um fim em si mesmo ou como uma estrutura que se organiza independentemente da consciência subjetiva de seus agentes, mas como expressão histórica dos valores e da racionalidade dos indivíduos que a constituem. As leis, por exemplo, são elaboradas por meio de um processo que começa nas consciências individuais. Ao interagirem uns com os outros, os indivíduos percebem a necessidade de estabelecer uma regra comum de conduta. Então, é criada uma lei que regula determinado aspecto da conduta desses indivíduos. Assim, a estrutura legal só existe porque os indivíduos, no processo de interação social, chegaram a essa conclusão. Contudo, as leis estão subordinadas às particularidades desse processo em diversos lugares e tempos históricos.