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82 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Unidade III 7 ÁREAS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: FONÉTICA, FONOLOGIA, MORFOLOGIA, SINTAXE, SEMÂNTICA Esta unidade tem por objetivo apresentar a você conceitos básicos da fonética, uma das áreas de estudo da linguística. Como áreas de estudos sobre as línguas, podemos citar: Quadro 13 – Áreas de estudo da língua Fonética: é o estudo dos sons da fala ou dos sons possíveis de serem produzidos pelo aparelho fonador e utilizados em algum sistema linguístico. Fonologia: utiliza-se dos dados da fonética na busca da compreensão do sistema fonológico de uma língua particular, ou seja, quais os sons da fala que exercem uma função naquela língua específica, quais os que não exercem função específica na mesma língua, e quais as regras de combinação desses sons para formarem as unidades maiores. Estuda, portanto, os sons da língua. Morfologia: é o estudo das menores partes significativas das línguas ou, ainda, o estudo dos menores signos linguísticos, os morfemas, bem como o estudo de suas regras de combinação da formação dos vocábulos, constituindo assim o sistema morfológico de uma língua. Sintaxe: é o estudo das regras de combinação dos elementos linguísticos na constituição de unidades maiores, como as frases. Semântica: é o estudo das significações, dos sentidos veiculados pela linguagem. Saiba mais Que tal um passeio pela literatura? Certamente você descobrirá coisas muito interessantes sobre as áreas citadas acima, se decidir-se pela leitura de uma das obras mais encantadoras de nossa literatura infantil: Emília no País da Gramática, de Monteiro Lobato. <http://www.slideshare.net/silvinha331/infantil-monteiro-lobato- emlia-no-pas-da-gramtica> 83 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Cada uma dessas áreas está relacionada a um nível de análise linguística, que pode ser estudado nele mesmo, com seus métodos e técnicas, particulares e criteriosos, de análises fundamentadas em uma perspectiva teórica. A divisão da língua em níveis está relacionada a uma visão estruturalista de linguagem, pois trata-se da decomposição ou segmentação dos enunciados produzidos pelos falantes para conhecer a estrutura da língua. Cada nível da estrutura da língua é constituído por unidades menores e, por sua vez, entra na composição de unidades maiores. Observação Falando em notações: você deve observar que os sons da língua (fonemas) são apresentados sempre entre / / (barras). Para ilustrar, apresentamos a você o esquema a seguir. Leia-o de baixo para cima: Entram na constituição das unidades de nível A Entram na constituição das unidades de nível B Nível A = “o sapo coaxa” Nível B = vocábulo “sapo” Nível C = sons da língua /s/, /a/, /p/, /o/ Cada nível é constituído por suas unidades próprias e possui regras específicas de combinação para formar as unidades de nível superior; e cada nível é constituído por unidades do nível inferior. O conjunto de regras de combinação entre as unidades de cada um dos níveis constitui a gramática da língua. Esses níveis de análise linguística serão objeto de estudo em outros textos. 7.1 A dupla articulação da linguagem: unidades significativas/unidades não significativas Pare e pense: em que contexto você costuma ouvir a palavra “articulação”? Já pensou? Pois é isso mesmo. Habitualmente usamos a palavra articulação quando nos referimos aos membros do nosso corpo: “estou com problema nas articulações do joelho”, “quem toca piano precisa ter uma excelente articulação nos dedos das mãos”... 84 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Na linguística, a ideia de “articulação” tem tudo a ver com o que acabamos de dizer. Dizemos das articulações em nosso corpo quando nos referimos às muitas partes dele que estão interligadas de forma a produzir movimentos. Dizemos das articulações na linguística quando nos referimos às muitas “partes” da língua que se juntam para produzir enunciados. Isso equivale dizer que os enunciados que produzimos a partir de uma dada língua “não se apresentam como um todo indivisível” (MARTELOTTA, 2009, p.37); eles são formados por partes menores que, por sua vez, podem fazer parte de outros enunciados. As escolhas dessas partes para compor enunciados são realizadas pelos falantes, que selecionam, daquilo que está em sua memória, o que interessa para compor determinada mensagem. Como essas partes podem vir a fazer parte de outros enunciados, dizemos que elas são elementos autônomos da língua. Resta-nos entender agora como e quais são essas pequenas partes da língua que nos permitem produzir enunciados articulados de tantas e tantas maneiras diferentes. Dizemos que há dois planos de articulação na organização da linguagem: o plano dos elementos desprovidos de significado ou não significativos – estudados pela fonética e fonologia –, e o que abrange o domínio das formas significativas – objetos de estudo da morfologia e da sintaxe. Observação Sobre notações: você deve observar que os sons da fala são apresentados entre [ ] (colchetes). Quadro 14 – Dupla articulação da linguagem Signo “infelizmente” 1 a articulação ou morfologia Constituida de elementos dotados de significado ou morfemas. Os elementos da primeira articulação ou morfemas (in – feliz – mente) compõem o vocábulo “infelizmente”. Signo “gala” 2 a articulação ou fonologia Constituída de elementos não dotados de significado ou fonemas. Os elementos da segunda articulação ou fonemas /g/, /a/, /l/, /a/ compõem o vocábulo “gala”. Fonte: Martelotta (2009, p.30-40) Observação Fique atento, porque ora se fala em “som da fala”, entre colchetes ([ ]), ora se fala em “fonema” ou “som da língua”, entre barras (/ /). Essa distinção ficará mais clara quando tratarmos de fonética e fonologia, mais à frente. 85 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 A primeira articulação é aquela que resulta da combinação de unidades mínimas dotadas de significação ou signos mínimos. Exemplo: Os meninos jogam bola. Segmentando-se em partes menores, encontram-se as seguintes (que podem compor outros enunciados, como mostram os exemplos, pois são carregadas de significação): “os” “Os livros são bons” “meninos” “Meninos bonitos” “jogam” “As meninas jogam bola” “bola” “A bola é de sabão” Continuando a segmentação: O s menin o s jog am bola O significado de cada uma das partes ainda se mantém: • “s” entra no enunciado: As macacas comem banana, com o significado de plural; • “o” entra no enunciado: Os macacos comem banana, com o significado de masculino. Continuando a divisão: Qual é o significado de cada uma dessas partes? Me nin O me de “menino” é o mesmo do de “mesa”? jo g O jo de “: jogam” é o mesmo do de “jovem”? bo la O bo de “bola” é o mesmo do de “bota”? Nesta última segmentação foram encontradas partes do enunciado sem significado. Concluiu- se aprimeira articulação constituída de elementos ou unidades significativas. As menores unidades significativas são os morfemas. 86 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Lembrete Significante = imagem acústica Significado = conceito Significante + significado = signo Lembre-se também dos exemplos apresentados na Unidade II. Observação Dupla articulação: “a organização da linguagem em dois planos: o que abrange os elementos desprovidos de significado, estudados pela fonologia, e o que abrange o domínio das formas significativas, e que são objeto da morfologia e da sintaxe”. Analisando os morfemas, podemos perceber que cada um deles é constituído de significante e significado. Falando em notações: você deve observar que os morfemas são colocados entre { } (chaves). Quadro 15 {o} ou morfema - o - da palavra menino Significante: “o” (imagem acústica). Significado: masculino {s} ou morfema -s - da palavra meninos Significante: “s” (imagem acústica). Significado: plural Logo, os morfemas são signos. O nível dos morfemas – primeira articulação – é formado de elementos significativos. A primeira articulação é constituída de unidades mínimas dotadas de significação. Os morfemas são as menores unidades dotadas de significado; são formados pela combinação de unidades ainda menores, porém sem significado. Observe agora a segunda articulação, ou o nível dos fonemas, que são partes constituintes dos enunciados sem significado: 87 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 • /o/ fonema, ou som da língua, não possui significado; • /s/ fonema, ou som da língua, não possui significado; • /me/ combinação de fonemas, não possui significado; • /m/ fonema, ou som da língua, não possui significado. A dupla articulação é, portanto, a organização da língua em dois planos: • primeiro plano ou primeira articulação: o domínio das formas significativas; • segundo plano ou segunda articulação: o domínio das formas sem significado. Cada um dos elementos deve ser analisado dentro de seu próprio nível. Por exemplo: “O”, se analisado no nível dos fonemas, é interpretado como uma unidade de segunda articulação e não significativa. “O”, se analisado no nível dos morfemas, é interpretado como unidade de primeira articulação e é constituído de significado (marca de gênero masculino). Neste caso, ele se define como um signo linguístico. A dupla articulação é a principal característica a distinguir a linguagem humana da chamada linguagem dos animais. Todas as línguas se organizam a partir de uma dupla articulação, característica essa entendida como possibilidade de economia, para os falantes, na geração de enunciados. 7.1.1 A linguagem humana e a linguagem dos animais Você já deve ter ouvido inúmeras vezes alguém dizer “linguagem dos animais” ou “linguagem musical” ou “linguagem das artes” ou ainda “linguagem gestual”. No entanto, como aqui discutimos especificamente a linguagem, é necessário que esse conceito seja mais bem discutido. Distinguir entre linguagem humana e linguagem animal, como afirmam vários autores linguistas, permite fazermos a distinção “entre índice e signo, entre o uso metafórico e o uso próprio do termo linguagem” (LOPES, 1975, p.35). Lembrete Você se lembra de nossas discussões anteriores, quando apresentamos os conceitos de Saussure sobre símbolo e signo? Agora é um bom momento de retomá-la. A pergunta que persiste é: “podemos chamar de linguagem a comunicação entre os animais?” 88 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Karl von Frisch (1886-1982), um cientista austríaco, decifrou a comunicação entre as abelhas. Seu estudo rendeu-lhe o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1973 e o título de pai da etologia – estudo do comportamento animal (Guimarães, 2006). Ele observou que a abelha-obreira, ao retornar à colmeia depois de identificar uma fonte de alimento, é rodeada por suas companheiras, passa o pólen para as demais pelas suas antenas e, em seguida, executam uma espécie de dança. As companheiras assistem a esse show e dirigem-se ao local do alimento, frequentemente distante da colmeia, sem erro nem hesitação sobre sua localização. Na volta, essas últimas abelhas executam novamente a dança e outras abelhas partem. Essa coreografia pode ser ilustrada e resumida como segue: • círculos horizontais da direita para a esquerda e vice-versa, ou em forma de oito, em que a abelha contrai o abdome; • segue em linha reta; • faz um giro para a direita; • uma volta completa à esquerda; • corre em linha reta. Se o alimento estiver a menos de cem metros, a abelha executa uma dança circular; se o alimento estiver mais distante, a dança é em forma de oito. Quanto maior a distância, menos giros faz. Assim: • cem metros: a abelha percorre nove ou dez vezes em 15 segundos a linha reta que faz parte da dança; • quanto maior a distância, menos giros faz a abelha. Em 500 metros, são dados 6 giros em 15 segundos. A direção é dada pela direção da linha reta em relação à posição do sol. Adaptado de: PETTER (2002). As abelhas são capazes de: • produzir e de compreender uma mensagem que transmite inúmeros dados relacionados a posição e distância; • se utilizar de símbolos, por meio dos quais transmitem as várias informações. Esses símbolos são arquivados na memória. A relação entre o passo da dança e seu significado é “convencional”. Portanto, a abelha faz uso de uma capacidade essencial para a linguagem: a de formular e interpretar um “signo” que remete a uma “realidade”, à memória da experiência e à aptidão para decompô-la. Além disso, cada membro da comunidade emprega a mesma simbologia. 89 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Entretanto, há diferenças consideráveis entre a linguagem animal e a linguagem humana: • as abelhas não têm aparelho vocal; • a mensagem não provoca uma resposta, apenas uma certa conduta. Não há um diálogo no sentido convencional, não há reações linguísticas; • a mensagem não pode ser reproduzida por outra que não tenha, ela mesma, visto os fatos que a primeira anunciou – transmissão ou retransmissão de mensagens. A abelha não constrói uma mensagem a partir de outra mensagem; • o conteúdo da mensagem é limitado: refere-se à direção e à distância em relação a uma fonte de alimento; • e o mais relevante: a mensagem produzida pelas abelhas não pode ser decomposta em elementos menores; uma abelha não é capaz de iniciar a coreografia a partir de metade dela já realizada. E na linguagem humana? • O uso do aparelho vocal possibilita a transmissão da linguagem mesmo que os interlocutores não sejam visíveis um ao outro; • Há construção de diálogos, com a interferência de um na linguagem do outro; • Não há necessidade de passar pela mesma experiência; pode haver a (re)transmissão da mesma mensagem indefinidamente; • O conteúdo da linguagem é infinito; • E o mais relevante: a mensagem pode ser decomposta nas suas partesconstituintes, que, por sua vez, combinam-se com outras partes de outras mensagens. As possibilidades de combinações dos elementos são indefinidas, permitindo a variedade da linguagem humana e a criatividade do falante. Em resumo, a comunicação das abelhas não é uma linguagem, é um código de sinais, como se pode observar pelas suas características: conteúdo fixo, mensagem invariável, relação a uma só situação, transmissão unilateral e enunciado indecomponível (PETTER, 2002). Segundo o linguista Benveniste (2005), aplicar o termo “linguagem” ao mundo animal é um abuso de termos, pois os animais não dispõem de um modo de expressão que se assemelhe, mesmo que de forma rudimentar, à linguagem humana. 8 FONÉTICA Fonética e fonologia são ciências que se dedicam ao estudo dos sons, respectivamente, da fala e da língua. No entanto, cada uma delas se dedica a esse objeto de maneira diferente, considerando aspectos diferentes, como já dissemos. Esta seção será destinada a discutir esses conceitos. 90 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 8.1 Fonética acústica, perceptual e articulatória A fonética e a fonologia estudam os sons, porém, com objetivos diferentes: • a fonética descreve os sons da fala, todos os sons da fala possíveis de serem produzidos pelo aparelho fonador do ser humano e usados em uma língua natural. A fonética é uma ciência descritiva; • a fonologia interpreta os sons da língua e explica o valor que os sons da fala adquirem em cada sistema fonológico particular – em cada sistema linguístico (língua). A fonologia é uma ciência explicativa, interpretativa (MASSINI-CAGLIARI; CAGLIARI, 2001). Ambas tratam dos sons, porém, cada uma com seus próprios métodos e técnicas de análise, em busca de resultados diferentes. Apesar disso, são interdependentes: a fonética depende da fonologia para entender a realidade sonora da língua, ou seja, para entender como os sons da fala funcionam dentro dos sistemas linguísticos, ao passo que a fonologia depende da fonética para atuar sobre dados reais de fala (CAGLIARI, 1997). A fonética divide-se em: • Fonética acústica: estuda a estrutura física dos sons da fala. Ela classifica os sons segundo a frequência, a amplitude e o tempo de propagação das ondas sonoras. • Fonética auditiva: descreve a maneira como os sons da fala são percebidos pelo sistema auditivo humano, em termos de sua altura, intensidade e duração. • Fonética articulatória: preocupada em descrever os movimentos dos órgãos do aparelho fonador – chamados órgãos fonoarticulatórios – para a produção dos vários sons da fala. Dependendo do movimento executado pelo aparelho fonador, o som terá uma qualidade acústica específica que implicará a percepção de um som particular. O aparelho fonador funciona como um instrumento musical: dependendo da forma e do tamanho, produzirá um som diferente: violino violoncelo contrabaixo Clave de Sol Clave de Fá O contrabaixo é uma oitava mais grave que o violoncelo nota sol na 2º linha Cada um desses instrumentos produz um som diferente do outro em função do tamanho da caixa, da grossura das cordas, da posição do instrumento, do formato e do tamanho do arco. Figura 8 Nosso propósito aqui é focalizar a fonética articulatória. Você deve sempre relacionar as informações aqui transmitidas ao uso possível, em sala de aula, tanto para o reconhecimento dos sons de sua língua materna como para a aprendizagem de uma língua estrangeira. 91 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Tratando de fonética articulatória, é preciso conhecer um pouco do funcionamento do aparelho fonador. 8.2 O aparelho fonador O aparelho fonador é constituído de todos os órgãos, ou partes do corpo, envolvidos na fala. Possui três partes: ressonadores laringe pregas vocais traquéia pulmões diafragma inspiração expiração Articulatória fonatória respiratóroa Figura 9 - Aparelho fonador7 subsistema supralaríngeo subsistema laríngeo palato língua epiglote laringe traquéia pulmões subsistema respiratório Figura 10 - Sistema respiratório8 7 Imagem disponível em <www.geocities.com/vienna/9177/respira3.gif>. Acesso em: 17 mar. 2007. 8 Imagem disponível em <http://www.peritocriminal.com.br/voicei1.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2007. 92 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 A parte respiratória é formada pelos pulmões, brônquios, traqueia e todas as outras estruturas envolvidas na respiração. Os pulmões, brônquios e traqueia formam as cavidades infraglotais, situadas abaixo da glote. Nariz Faringe Esôfago Traqueia Pulmão esquerdo Pulmão direito Brônquios Laringe Figura 11 - Sistema respiratório9 A glote é o espaço formado pelas pregas vocais e situa-se na laringe. É nesse espaço que se dá a voz. A voz compõe a parte fonatória. glote Figura 1210 Acima da glote tem início a parte articulatória. São quatro as cavidades supraglotais: • faríngea : acima da faringe; • oral ou bucal: entre os incisivos, na frente, e o início da cavidade faringal, atrás; 9 Imagem adaptada de http://biologiaconcursos.blogspot.com/2011/04/sistema-respiratorio.html 10 Adaptada de <http://users.unimi.it/esamanat/laringe-1a.jpg>. 93 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 • labial: entre os incisivos e os lábios; • nasal: dividida em nasal propriamente dita, na parte da frente, e cavidade nasofaríngea, entre o septo nasal e o véu palatino. 1. cavidade nasal 2. cavidade nasofaringea 3. cavidade labial 4. cavidade oral 5. cavidade faringal 6. acesso nasal 7. acesso oral 8. lingua 9. parente faringal 10. palato duro 11. véu palatino ou palato mole 12. epiglote 13. osso hiode 14. cartilagem tiróide 15. aritenóides 16. gote Figura 13 - Corte sagital do aparelho fonador Fonte: CAGLIARI (1981, p.10) A língua é o órgão mais importante na modulação dos sons da fala. Os articuladores ativos são todos os órgãos móveis: lábios, língua, véu palatino e pregas vocais. Os articuladores passivos são as partes fixas. 8.3 Produção dos sons da fala: respiração, voz, vozeamento/ desvozeamento, articulação De acordo com Cagliari (1981), a produção da fala tem início com a intenção de falar e pode ser assim esquematizada: A. Processo neurolinguístico: obedecendo às regras da gramática natural da língua, o falante programa sua mensagem. Nesse processo é que se dá a união entre o significado e o significante. O significante é constituído pelo conjunto de sons específicos da língua. B. Processo neuromuscular: com a intenção de falar, mensagens são enviadas do cérebro para diferentes partes do corpo, provocando modificações e movimentos musculares necessários à formação dos sons da fala. C. Processo aerodinâmico: modifica-se o sistema respiratório. Se na respiração normal, em repouso, a inspiração é mais lenta e mais profunda, e a expiração mais rápida e curta, para a fonação esse processo se inverte: a inspiração fica mais rápidae com entrada de ar suficiente, para dar conta 94 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 da produção linguística programada; a expiração fica mais lenta, para dar tempo de o falante produzir toda sua mensagem. D. Processo fonatório: durante a respiração em repouso, o ar, ao passar pela glote, encontra as pregas vocais abertas. Se as pregas vocais estão com pouco fechamento, dá-se o sussurro. Se as pregas vocais estão mais fechadas, dá-se a produção da voz. Além da produção da voz, aqui ocorre uma característica acústica importante dos sons da fala: • se as pregas vocais vibrarem, tem-se um som vozeado, também chamado de sonoro; • se as pregas vocais não vibrarem, tem-se um som desvozeado, também chamado de surdo. Você pode sentir essa vibração / não vibração produzindo os sons [v] – sonoro, e [f] – surdo. Isso é importante na língua portuguesa, pois não se pode trocar o som [v] pelo [f]; basta observar o exemplo abaixo: Com a faca se corta a carne da vaca. E. Processo oro-nasal: logo de início tem a participação do véu palatino, originando os sons orais, nasais ou nasalizados: • Som oral: o véu palatino está levantado, obstruindo a passagem do ar pela cavidade nasal. O ar só sai pela cavidade bucal. Você pode perceber isso produzindo o som [a]. • Som nasal: o véu palatino está abaixado, permitindo a passagem de ar pelo nariz. Você pode sentir, produzindo o som [m]. • Som nasalizado: quando o véu palatino permite a passagem de ar pelas cavidades nasal e bucal. Você pode sentir por meio da produção do som [ã]. A distinção entre som oral, nasal e nasalizado também é muito importante na língua portuguesa, como no exemplo a seguir, em que a diferença de significado ocorre pelo uso da vogal oral, em “lá”, e da vogal nasalizada, em “lã”. Lá está a lã. F. Processo articulatório: diz respeito às obstruções encontradas na cavidade oral, e que vão resultar em sons que poderão ser classificados em função do modo de articulação e da zona de articulação. Este processo será apresentado com mais detalhes a diante. G. Processo acústico: é a transmissão das ondas sonoras através do ar, até o ouvinte. H. Processo auditivo: no ouvido do ouvinte, a energia acústica propagada pelo ar é transformada em energia mecânica, pelas vibrações do tímpano, martelo, bigorna e estribo, transmitidas para a cóclea e, dali, para o cérebro. No cérebro ocorre a compreensão da mensagem pelo ouvinte. 95 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 A fala é como um filme, uma sucessão de eventos que, em movimento, formam um contínuo. Na escrita, tem-se uma sucessão de letras. Na fala, uma sucessão de segmentos de fala. A fonética corta o contínuo da fala em segmentos e os analisa. Na fonética, cada um desses segmentos é chamado de “fone”. Como já foi dito antes, os fones são anotados entre [ ] – colchetes (CAGLIARI, 1981). Para registrar esses fones, representando exatamente o som produzido pelos falantes, a fonética criou um alfabeto próprio. 8.4 O alfabeto fonético internacional O alfabeto fonético internacional (AFI) permite descrever todas as possibilidades articulatórias do homem – o conjunto geral de todos os sons de todas as línguas. Esse alfabeto elimina alguns problemas com o uso de sistemas alfabéticos, como o da língua portuguesa: é o caso da letra “x”, representando vários sons diferentes, ou o som [s] representado por várias letras distintas (vide Unidade I). Você pode ter acesso ao alfabeto fonético internacional em diferentes autores, como em Cagliari (1981), Massini-Cagliari e Cagliari (2001), Souza e Santos (2003), para citar alguns, e no site <http:// pt.wikipedia.org>. Nos anexos A, B, C e D, no final deste texto, encontram-se os símbolos fonéticos, a classificação por modo e zona de articulação, e exemplos na língua portuguesa e língua inglesa, adaptados do site da enciclopédia Wikipedia. No item 4.2.5, a seguir, encontram-se os quadros das vogais e consoantes com os símbolos fonéticos correspondentes. 8.5 Classificação articulatória (visando ao reconhecimento dos fonemas do português brasileiro e do inglês) Os sons da fala podem ser classificados em função do modo de articulação ou da zona de articulação. Observação Zona de articulação é o lugar onde a corrente de ar é modificada. Modo de articulação é a maneira como a corrente de ar é modificada ao passar pelos articuladores. Lembrete Um cuidado que o falante deve ter: lembrar-se sempre de que se fala de sons das línguas e não de letras. 96 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Considerando-se esses dois fatores, a primeira grande distinção que se faz é entre os sons vocálicos e os sons consonantais. Os sons da fala podem ser classificados em função do modo de articulação ou da zona de articulação. Zona de articulação é o lugar onde a corrente de ar é modificada. Modo de articulação é a maneira como a corrente de ar é modificada ao passar pelos articuladores. Considerando-se esses dois fatores, a primeira grande distinção que se faz é entre os sons vocálicos e os sons consonantais. São vocálicos os sons produzidos com passagem livre da corrente de ar pela cavidade bucal. São consonantais os sons produzidos com algum impedimento à passagem de ar. Feita esta primeira distinção, podemos partir para a classificação articulatória dos sons consonantais: Quadro 16 – Sons consonantais Sons consonantais Modo de articulação Descrição articulatória Exemplos (as palavras devem ser lidas em voz alta e o leitor deve prestar atenção na maneira como produz cada um dos sons em itálico e sublinhados) Oclusiva É o som produzido com impedimento total à passagem do ar pato, bola, gato, tia, dia. Nasal É o som produzido com permissão de passagem de ar pela cavidade nasal, propiciada pelo abaixamento do véu palatino (vide som oral/som nasal) macaco, nariz, caminhão Vibrante É o som produzido com rápidas batidas do articulador ativo no articulador passivo. O leitor pode produzir a consoante destacada das palavras a seguir, prolongando a vibração da ponta da língua: mar, porta. Esses sons são raros no PB. Vibrante simples (flepe ou tep) É o som produzido com uma única batida do articulador ativo no articulador passivo. Cara, barato, Carolina, prato. Fricativa É o som produzido com estreitamento à passagem do ar, provocando um ruído de fricção. Farofa, sapo, zebra, xícara, viajar. Fricativa lateral É o som produzido com o ar passando pelas laterais da língua e com estreitamento da cavidade oral, produzindo ruído de fricção. Não ocorre em português. Africadas São os sons produzidos com impedimento total à passagem do ar, seguido rapidamente de um estreitamento, provocando ruído de fricção. Tia; dia, tomate. Produzidos como: tx; dj , como os cariocas. Aproximante É o som produzido com um estreitamento da passagem do ar que o coloca no limite de produção das consoantes fricativas e das vogais. O estreitamento não chega a produzir ruído de fricção (fricativas) e também não permite a passagem livre do ar (sons vocálicos). Au-au, pai. Aproximante lateral É o som produzido com o ar passando pelas laterais da língua e com estreitamentoà passagem de ar que não chega a produzir ruído de fricção. Telha, abelha, velha. Fonte: Cagliari (1981); Massini-Cagliari; Cagliari (2001); Souza; Santos (2003). 97 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 O uso dos termos “lugar” ou “zona” de articulação é considerado mais adequado do que ponto de articulação, já que se trata da região em que o articulador ativo se aproxima do articulador passivo. A classificação apenas por modo de articulação não permite a distinção precisa entre alguns sons, como é o caso das oclusivas [p] e [g], ambas produzidas com impedimento total à passagem do ar. O que leva à distinção entre elas é o lugar ou zona onde se dá esse impedimento. “pata” [p] “gata” [g] Parte-se, então, para a descrição do lugar de articulação das consoantes: Quadro 17 – Sons consonantais Sons consonantais Lugar de articulação Descrição articulatória Exemplos (as palavras devem ser lidas em voz alta e o leitor deve prestar atenção na maneira como produz cada um dos sons em itálico e sublinhados) Bilabial É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pelos lábios. pato, bato, mato Labiodental É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pelo lábio indo ao encontro dos dentes superiores. faca, vaca Dental É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pela língua indo ao encontro dos dentes. medo (encostando a ponta da língua nos dentes incisivos superiores) Alveolar É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pela língua indo ao encontro dos alvéolos. data Pós-alveolar É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pela língua indo ao encontro do palato duro um pouco mais atrás dos alvéolos. xícara Retroflexa É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pela língua indo ao encontro do palato, com a ponta virada para trás. porta (do chamado dialeto caipira) Palatal É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pelo centro da língua indo ao encontro do palato duro. calha Velar É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pelo dorso da língua indo ao encontro do véu palatino. caqui Uvular É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pelo dorso da língua indo ao encontro do véu palatino, quase encostando na úvula. gula Faringal É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pela raiz da língua, encostando na parede da faringe. Não se encontra em português. Glotal É o som produzido com impedimento à passagem do ar formado pelas pregas vocais. rua (como se fala em BH) Fonte: Cagliari (1981); Massini-Cagliari; Cagliari (2001); Souza; Santos (2003). 98 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 A figura a seguir permite visualizar alguns desses lugares de articulação dos sons consonantais: palato duro palato mole velar ponta da língua raiz da língua glotal parede da faringe uvular alveolar palatal dental labial dorso da língua Figura 14 - Articulação dos sons consonantais12 Em resumo, pode-se dizer que: Quadro 18 – Lugares de articulação O lugar de articulação ou zona de articulação é definido a partir: Resulta em: • da movimentação da língua em direção aos articuladores passivos dental, velar, palatal... • do movimento dos lábios em direção aos dentes labiodental • do movimento de um lábio em direção ao outro bilabial • da glote glotal Observação Você deve se lembrar de que o vozeamento e o desvozeamento são provocados pela vibração ou não vibração das pregas vocais, respectivamente. Dizer que um som é produzido com impedimento total à passagem de ar permite distinguir os sons oclusivos dos sons fricativos. Por exemplo, dizer que um som é produzido com impedimento à passagem do ar, e esse impedimento é formado pelo encontro dos dois lábios, permite distinguir os sons oclusivos bilabiais dos sons oclusivos alveolares. Porém, não permite distinguir os sons [p] e [b], das palavras “pato” e “bato”, por exemplo. Assim, há necessidade de recorrer a outra característica para proceder a essa diferenciação: faz- se uso da distinção entre sons vozeados ou sonoros [b] e os sons desvozeados ou surdos [p]. O quadro a seguir apresenta todos os sons consonantais classificados por modo (na vertical) e por zona de articulação (na horizontal), seguidos pelos símbolos fonéticos correspondentes. Os sons que se encontram à esquerda do cada quadro são sons surdos (abreviados como “su”, no quadro) ou desvozeados, ou seja, produzidos sem vibração de pregas vocais. Os sons à direita de cada quadro são sonoros (abreviados como “so”, no quadro) ou vozeados, ou seja, produzidos com vibração de pregas vocais. 12Disponível e adaptada de <www.zompist.com/kitcons.gif>. Acesso em 19 mar. 2007. 99 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Quadro 19 – Sons consonantais Figura 1513 Vamos agora, à descrição dos sons vocálicos, até porque as vogais constituem o núcleo das sílabas em português. Como foi dito antes, os sons vocálicos são produzidos sem impedimento à passagem do ar. No entanto, você deve estar questionando: por que se diz que um som aproximante é considerado um som consonantal, e não vocálico, se ele também é produzido com uma abertura à passagem do ar tão parecida com a abertura de uma vogal? Vejamos. O grau de abertura é muito parecido. Porém, na produção das vogais entram em cena outros fatores, ou outros movimentos articulatórios que fazem que os sons produzidos tenham características acústicas diferentes das consoantes. Ao classificar em consoante ou vogal, o foneticista considera o seguinte conjunto de características: acústicas, articulatórias e perceptuais. Como foi dito antes, trata-se apenas da classificação articulatória. As vogais são classificadas em função do grau de abertura da cavidade oral, da posição da língua e do movimento dos lábios. Quadro 20 – Produção do som das vogais (1) O leitor pode sentir esses movimentos produzindo em sequência Movimento da língua da frente para trás i u e o é ó a Movimento dos lábios de não arredondados para arredondados i u e o é ó a A abertura da cavidade oral de menor para maior grau de abertura i e é a u o ó a 13 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabeto_fon%C3%A9tico_internacional#Consoantes>. Acesso em: 18 set. 2010. 100 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Quadro 21 – Produção do som das vogais (2) Grau de abertura da cavidade oral • Vogal fechada • Vogal meio fechada • Vogal meio aberta • Vogal aberta hiato, hino, upa, uva ema, ovo ela, óculos avião, harpa Posição da língua • Anterior • Central • Posterior hiato, hino cama unha, uva Movimento dos lábios • Arredondadas • Não arredondadas uva, ovo hiato, hino Fonte: Cagliari (1981) É possível visualizar essas posições na figura a seguir. O trapézio representa a língua – a movimentação da língua – para frentee para trás, levantando e abaixando a ponta ou o dorso e o grau de abertura da cavidade oral. Acrescente em sua imaginação a movimentação dos lábios, de não arredondados para arredondados. a ie ε uo � c Figura 16 - Produção do som das vogais14 Foneticamente, esse quadro não esgota o conjunto das vogais; é preciso acrescentar as vogais nasalizadas, pois elas são importantes no português, como mostram os exemplos: “lá” / “lã”, “u” / “um”, “Sampa” / “sapa”, “pranto” / “prato”, “canto” / “cato”. Sugerimos que você veja o Anexo B no final deste texto para verificar quantos são, além desses, os sons vocálicos encontrados na língua portuguesa e na língua inglesa. Sugerimos, ainda, que preste atenção nos vários sons da fala que são produzidos à sua volta, nos vários sons das várias línguas faladas neste planeta. É surpreendente e encantador. Os estudos da fonética foram apresentados brevemente neste módulo. Esta área da linguística é muito mais extensa e traz valiosas contribuições para a compreensão dos sons das línguas e das combinações dos sons. O que foi visto neste texto será retomado, e outros dados descritos pela fonética serão acrescentados 14 Imagem disponível em e adaptada de: <www.radames.manosso.nom.br/gramatica/images>. Acesso em: 19 mar. 2007. 101 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 em outro texto, quando se tratar de fonologia, pois será um modo de estudar a fonética contextualizada no sistema fonológico do português brasileiro, principalmente, e, também, do inglês. Para finalizar este módulo, cabe ler uma citação do linguista Émile Benveniste (2005, p.31): Imaginemos o que seria a tarefa de representar visualmente uma “criação do mundo” se fosse possível figurá-la em imagens pintadas, esculpidas ou semelhantes à custa de um trabalho insano; depois vejamos no que se torna a mesma história quando se realiza uma narrativa, sucessão de ruidozinhos vocais que se dissipam apenas emitidos, apenas percebidos; mas toda a alma se exalta com eles, as gerações os repetem e cada vez que a palavra expõe o acontecimento, cada vez o mundo recomeça. Nenhum poder se igualará a esse, que faz tanto com tão pouco. Resumo Ciência dos SONS Relacionado à FALA Sons da FALA [ ] FONÉTICA ↓ Estuda aspectos fisicos da FALA - bases acústicas relacionadas à percepção - bases fisiológicas relacionadas à produção Relacionado à LÍNGUA Sons da LÍNGUA // FONOLOGIA ↓ Estuda diferenças fônicas - relacionadas ao significado Menores unidades significativas MORFOLOGIA ↓ Estuda a estrutura interna das palavras Regras de combinação dos elementos linguísticos SINTAXE ↓ Estuda a forma como as palavras são combinadas nas sentenças Teoria GRAMATICAL “Significado” da língua SEMÂNTICA Formal Da Enunciação Cognitiva Figura 17 102 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Exercícios Questão 1. (ENADE 2008) Observe a imagem e leia o texto. Figura 18 Shirley Paes Leme tem no desenho a alma de sua obra. Os galhos retorcidos e enegrecidos pela fumaça são seus traços a lápis, que ela articula ora em feixes escultóricos, ora em instalações. Produz também delicados desenhos com a sinuosidade da fumaça. Para fazer a peça em homenagem à companhia de dança goiana Quasar, Shirley conta ter se inspirado na grande concentração de energia no espaço necessária para que um espetáculo de dança se realize. “A ideia da coreografia só consegue ser concretizada com movimento porque todos ficam antenados para um trabalho conjunto”, diz. A obra de Shirley tem linhas-galhos que se movem em tempos diferentes, impulsionadas por motores ocultos. Território Expandido. Catálogo da Exposição em homenagem aos indicados ao Prêmio Estadão, 1999, p. 12-3 (com adaptações). Assinale a opção incorreta a respeito das relações semânticas do texto verbal. A) Mudando-se o foco da ênfase, que está na autora, “Shirley Paes Leme”, para a ênfase na obra, “desenho”, a alteração da primeira oração do texto ficaria adequada da seguinte forma: Está no desenho a alma da obra de Shirley Paes Leme. B) A preposição “com” (com a sinuosidade da fumaça) tem a função semântica de introduzir uma característica para “delicados desenhos”. 103 LINGUÍSTICA GERAL Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 C) Depreende-se do emprego do conector “ora (...) ora” em “ora em feixes escultóricos, ora em instalações”, que “feixes escultóricos” se transformam em “instalações” e “instalações” se transformam em “feixes escultóricos”. D) A noção de reflexividade, ou seja, a de que agente e paciente de um verbo reportam-se ao mesmo referente, está presente tanto em “Shirley conta ter se inspirado” como em “linhas-galhos que se movem”. E) O desenvolvimento do texto permite depreender o significado da palavra “linhas-galhos” a partir dos significados de galho e de linha. Resposta correta: Alternativa C. Análise das alternativas A – Alternativa correta. Justificativa: As estruturas “Shirley Paes Leme tem no desenho a alma de sua obra” e “Está no desenho a alma da obra de Shirley Paes Leme” são adequadas. As estruturas oracionais da língua portuguesa têm como característica a grande mobilidade de seus termos. B – Alternativa correta. Justificativa: O sintagma preposicionado “com a sinuosidade da fumaça” qualifica o termo “desenhos”. C – Alternativa incorreta. Justificativa: A sequência apontada na alternativa C “ora em feixes escultóricos, ora em instalações” remete à ideia de alternância entre duas possibilidades, mas não é independente do ponto de vista semântico. D – Alternativa correta. Justificativa: A partícula “se” desempenha a função de reflexividade. Agente e paciente reportam-se ao mesmo referente. E – Alternativa correta. Justificativa: A junção de “linhas-galhos” tem valor sintático e semântico. Do ponto de vista estrutural, tem-se uma composição por justaposição, em que o segundo elemento especifica o primeiro; do ponto de vista do sentido, as linhas e os galhos denotam um só referente, adquirindo um sentido estendido das palavras isoladas: linhas/galhos. 104 Unidade III Re vi sã o: A ile en - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 04 /1 1 -| |- 2 ª R ev isã o: A ile en - C or re çã o: F ab io - 2 8/ 04 /2 01 1 Questão 2. Assinale a alternativa correta quanto à análise fonética das vogais da palavra “tormenta”: A) /o/ = anterior, átona, fechada, oral. B) /o/ = posterior, átona, fechada, oral. C) /e/ = anterior, tônica, aberta, nasal. D) /e/ = média, tônica, fechada, nasal. E) /e/ = posterior, átona, reduzida, oral. Resolução desta questão na plataforma. 105 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 3 Adaptado de: http://1.bp.blogspot.com/_-3S3ok9nP0/R_UXQtYvJYI/AAAAAAAAAA0/yzdiIry_F1Q/ s1600-h/funcoes_da_linguagem_03.gif. Acesso em 15.Set.2010. Figura 4 Adaptado de Saussure (Curso de Linguística Geral, 1973, p.19) Figura 5 Adaptado de Saussure (op. cit., p.27). Figura 6 Disponível em: <www.turmadamonica.com.br/comics/tirinhas.htm> Figura 7 Disponível em: Jornal Estadão.Figura 9 Disponível em: <www.geocities.com/vienna/9177/respira3.gif>. Figura 10 Disponível em: <http://www.peritocriminal.com.br/voicei1.jpg>. Figura 11 Adaptada de <http://www.centroyogabharata-porto.yoga-samkhya.org/images/sist_resp.jpg>. Figura 12 Adaptada de <http://users.unimi.it/esamanat/laringe-1a.jpg>. Figura 13 Adaptada de CAGLIARI (1981, p.10). 106 Figura 14 Adaptada de <www.zompist.com/kitcons.gif>. Figura 15 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabeto_fon%C3%A9tico_internacional#Consoantes>. Figura 16 Adaptada de: <www.radames.manosso.nom.br/gramatica/images>. REFERÊNCIAS Textuais BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2003. BENVENISTE, E. Problemas de linguística geraI I. São Paulo: Pontes, 2005. CABRAL, L. S. Introdução à linguística. Porto Alegre: Globo, 1979. CAGLIARI, L. C. Elementos de fonética do português brasileiro. Tese de Livre Docência. Instituto de Estudos da Linguagem – IEL/UNICAMP. Campinas/SP, 1981. Ano de obtenção do título: 1982. __________. Análise fonológica. Campinas: Ed. do Autor, 1997. __________; MASSINI-CAGLIARI, G. Fonética. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Org.). Introdução à linguística. Vol. II. São Paulo: Cortez, 2001. CARBONI, F. “Fale que te direi quem és!” Revista Espaço Acadêmico, ano II, n. 23, abril/2003. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/023/23ccarboni.htm>. Acesso em: 25 fev. 2007. CARNEIRO, M. “Intuição: da gramática da sentença à gramática do discurso”. 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Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2010: 2º dia. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/ educacao_basica/enem/downloads/2009/Enem2009_linguagens_codigos.pdf>. Acesso em: 23 mai. 2011. Unidade II - Questão 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO (UNESP). Vestibular Meio de Ano 2010. Prova de Conhecimentos Gerais. Questão 1. Disponível em: <http://www.unesp.br/vestibular/meiodeano-2010/PDF/cadernoquestoes.pdf>. Acesso em: 18 mai. 2011. Unidade III – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2008: Computação. Questões 11 e 12. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/Enade2008_RNP/LETRAS. pdf>. Acesso em: 23 mai. 2011. 109 Anexo A – Consoantes: exemplos em português, (PE) português europeu exclusivamente, (PB) português brasileiro exclusivamente, inglês, (IB) inglês britânico exclusivamente. AFI Descrição Exemplos Português Inglês p oclusiva bilabial surda pai hop b oclusiva bilabial sonora boca bed t oclusiva alveolar surda tato too d oclusiva alveolar sonora duro dog k oclusiva velar surda coisa cat g oclusiva velar sonora garra game β fricativa bilabial sonora (PE) cabo f fricativa labiodental surda fé five v fricativa labiodental sonora viu vest θ fricativa dental surda thin ð fricativa dental sonora (PE) medo then AFI Descrição Exemplos Português Inglês S fricativa alveolar surda assar seem z fricativa alveolar sonora casa zoo ∫ fricativa palatoalveolar surda xícara ship 3 fricativa palatoalveolar sonora jato vision ç fricativa palatal surda human (embora também possa ser pronunciado [hj]) x fricativa velar surda (PB) erro γ fricativa velar sonora (PE) água R fricativa uvular sonora (P. lisboeta) barro h fricativa glotal surda house m nasal bilabial fama mouse ɱ nasal labiodental emphasis (falado rapidamente) n nasal alveolar terno nap ɲ nasal palatal banho canyon ɳ nasal velar thing w aproximante labiovelar quase west 1 lateral aproximante alveolar lay ɹ aproximante (pós-alveolar) sonora red j aproximante palatal sai yes ʎ lateral palatal talha ɾ vibrante alveolar simples sonora para better B vibrante bilabial sonora Som de “brrr...” vibrando os lábios Fonte:Adaptado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/X-SAMPA>. Acesso em: 19 mar. 2007. 110 Anexo B – Vogais: exemplos em português, (PE) português europeu exclusivamente, (PB) português brasileiro exclusivamente, inglês, (IB) inglês britânico exclusivamente. AFI Descrição Exemplos Português Inglês a vogal anterior aberta não arredondada padre ɑ vogal posterior aberta não arredondada father ɒ vogal posterior aberta arredondada (IB) lot ε vogal anterior semiaberta não arredondada fé bed ɔ vogal posterior semiaberta arredondada nó (IB) thought ʌ vogal posterior semiaberta não arredondada strut e vogal anterior semifechada não arredondada jeito o vogal semifechada posterior arredondada sopa i vogal anterior fechada não arredondada ti be l vogal anterior fechada lassa não arredondada kit AFI Descrição Exemplos Português Inglês u vogal posterior fechada arredondada busca boom Ω vogal posterior fechada lassa arredondada foot æ vogal anterior quase aberta não arredondada trap ɜ vogal central semiaberta não arredondada (IB) nurse ɐ chuá aberta adeus adeus ə chuá banana Adaptado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/X-SAMPA>. Acesso em: 19 mar. 2007. 111 112 113 114 115 116 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000
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