Prévia do material em texto
Cuidador de Idoso - Turma 2023B 1.9 Relações familiares e o Cuidador de Idoso Antigamente a família era formada pelo casal e filhos e a autoridade do pai era inquestionável, visto que cabia a ele a manutenção orçamentária do lar. Era o sistema patriarcal. Com o correr do tempo ocorreram mudanças, a mulher teve de contribuir para o orçamento doméstico, sendo obrigada a deixar de ser apenas “dona de casa” e ir procurar trabalho fora de casa. Em consequência disto, as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos passaram a ser compartilhadas com o marido. Também, a modificação ocorrida na legislação que autorizou o divórcio e permitiu novo casamento, fez que muitas vezes morassem sob o mesmo teto pessoas sem laços consanguíneos, como o caso de filhos do primeiro matrimônio de um dos membros do casal. Outras modificações surgem com o envelhecimento dos pais, os quais devido à longevidade, exigem maiores cuidados, e muitas vezes são levados para o seio familiar fazendo com que um mesmo espaço seja compartilhado por três e até quatro gerações. Entretanto, nem sempre o convívio sob o mesmo teto representa contato pessoal e relações afetivas, pois isto não é um sentimento imposto, mas construído ao longo da existência. Também a vida moderna, com vários compromissos, onde as comunicações são muitas vezes realizadas através dos meios tecnológicos, que a pessoa idosa não domina, leva-a a distanciar-se dos outros membros da família. Assim, mesmo que a família seja considerada a melhor alternativa para efetivar o cuidado à pessoa idosa, como é determinado pela legislação vigente (Estatuto do Idoso, art. 3º), nem sempre se pode garantir que ela venha lhe oferecer um atendimento ideal. Quando os filhos super protegem seus pais, tomando decisões e não respeitando sua autonomia, podem ser geradas situações de conflito nas relações familiares. Este fato ocorre principalmente quando por algum motivo, surge a necessidade da pessoa idosa deixar sua residência. Esta nova situação poderá lhe ocasionar problemas como a perda de identidade e suas referências, causando-lhe, pouco a pouco, a diminuição do nível de autoestima, bem como de sua autonomia e independência. Morar sozinho, ou distante, não é sinônimo de abandono ou solidão, mas pode dar um sentimento de liberdade e de satisfação de poder administrar o seu cotidiano, ou seja, uma nova forma de envelhecer. Para a pessoa idosa, a família é importante e, manter os laços afetivos tem um grande significado. Mais do que o apoio material, ela espera da família compreensão, paciência, interesse em escutá-la, respeito a suas ideias, crenças e opiniões, não se sentindo menosprezada ou qualificada de obsoleta ou “velha”. Por outro lado, na nossa cultura ocidental e cristã, os filhos sentem normalmente a responsabilidade de cumprir o papel de assistir aos pais na velhice. Mas nem sempre os filhos podem dispor de tempo para estar presente, o que é substituído pelos modernos meios de comunicação. É a “intimidade à distância”. A pessoa idosa, em algumas circunstâncias, depende da família economicamente, principalmente quando necessita de fazer uso de medicamentos de alto custo, o que compromete bastante a sua renda. A situação se agrava quando surge alguma doença incapacitante, ocasionando a perda e/ou a diminuição do nível de autonomia e independência para realizar atividades da vida diária, tais como: comer, caminhar, realizar suas necessidades fisiológicas e higiênicas, tarefas domésticas, atividades sociais e de lazer. Por vezes, o cuidar da pessoa idosa passa a ser para a família uma obrigação imposta pelas circunstâncias, não uma escolha. Normalmente, o cuidado com a pessoa idosa acaba sendo feito por um dos membros femininos da família. Como a esposa, nora ou filha solteira, ou naquela que tem maior afinidade com a pessoa idosa, ou melhores condições materiais e/ou financeiras, tais como: casa maior, menos obrigações fora ou dentro do espaço sócio-familiar, que já está aposentada ou mora próximo à pessoa idosa, etc. O importante é que todos os membros da família se envolvam no cuidado com a pessoa idosa, uma vez que poderá ser uma tarefa cansativa e desgastante que não deve ficar sob a responsabilidade de uma só pessoa. Também, o cuidador familiar não deve considerar-se o único com capacidade de exercer esta função e nem que é capaz de fazê-lo sozinho. Ele precisa reconhecer seus limites e saber o momento de pedir ajuda. Isto pode ocasionar sentimentos de culpa e de raiva ao mesmo tempo. Raiva para com a pessoa idosa, por ter que sacrificar muitas vezes sua vida pessoal (marido, namorado, filhos, amigos, lazer, carreira profissional), e dos outros membros da família, por ter depositado nele(a) essa tarefa. O sentimento de culpa desponta diante da suposição de não estar cumprindo com seu papel familiar, que, muitas vezes, é ocasionado pela falta de conhecimento ou de informação de como lidar com a pessoa idosa. A consequência de tudo isto, mais a sensação de impotência e frustração, poderá desencadear um quadro de estresse e/ou depressão, ou até levá-lo(a) a cometer alguma forma de violência involuntária contra a pessoa idosa. Quando a família dispõe de recursos financeiros suficientes poderá contratar um profissional, o cuidador formal, para ajudar o cuidador familiar ou para se ocupar da pessoa idosa. Inicia-se, então, uma relação trabalhista, que demandará um conhecimento e aceitação, da pessoa idosa e da família, dos deveres e direitos desta função, bem como uma postura ética do cuidador. O Cuidador Formal poderá enfrentar situações bastante delicadas e estressantes no exercício de sua função. A ausência total dos familiares, por considerarem cumprido seu papel ao entregarem a pessoa idosa em “suas mãos” pode ocasionar-lhe insegurança e solidão. Outro aspecto é a super proteção da família à pessoa idosa, interferindo no seu trabalho, como por exemplo, a exigência de dar à pessoa idosa medicamento não prescrito pelo medico ou não deixar que se cumpra as determinações dos demais profissionais da saúde, por acreditar que não está fazendo nenhum efeito benéfico. Situação mais séria acontece, quando nas disputas familiares, o cuidador é solicitado a tomar partido ou servir de “espião” para um dos lados. Outro momento delicado, normalmente vivido pelo cuidador, é quando a família desconhecendo suas obrigações, determina que ele realize também as tarefas domésticas, prejudicando e abandonando o cuidado com a pessoa idosa de quem é responsável. Entretanto, existem famílias que reconhecem a necessidade e a importância da capacitação do profissional que cuida da pessoa idosa, incentivando-o a participar de cursos e eventos ligados à área, liberando-o da sua jornada de trabalho e até financiando a sua inscrição. Este material foi baseado em: MUNHOZ, Clari Marlei Daltrozo; RAVAGNI, Leda Almada Cruz; LEITE, Maria Luciana C. de B. Como a família ajuda ou dificulta o cuidado com a pessoa idosa. In: Born, Tomiko. Brasília : Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, 2008. Última atualização: quarta, 25 jan 2023, 15:30 ◄ 1.8 Teste seus conhecimentos Seguir para... 1.10 Papel da família perante a um Cuidador formal ► https://moodle.ifrs.edu.br/mod/quiz/view.php?id=339000&forceview=1 https://moodle.ifrs.edu.br/mod/page/view.php?id=339003&forceview=1