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G E S T Ã O E M P R E S A R IA L C IR O A N T O N IO F E R N A N D E S Código Logístico 59650 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6704-6 9 7 8 8 5 3 8 7 6 7 0 4 6 Gestão Empresarial Ciro Antonio Fernandes IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: ImageFlow/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ F399g Fernandes, Ciro Antonio Gestão empresarial / Ciro Antonio Fernandes. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2020. 130 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6704-6 1. Administração de empresas. 2. Planejamento estratégico. 3. Eficiência organizacional. 4. Ambiente de trabalho. 5. Comportamento organizacional. I. Título. 20-66192 CDD: 658 CDU: 658 Ciro Antonio Fernandes Doutor em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Mestre em Administração pela Universidade Metodista do Estado de São Paulo (Umesp). Pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios pela Faculdade do Litoral Sul (Fals). Graduado em Administração também pela Fals. Docente no ensino superior nos cursos de bacharelado em Administração e nos cursos tecnológicos em Recursos Humanos. Ministra as disciplinas: Planejamento Estratégico, Gestão por Processos, Gestão do Conhecimento, Liderança e Cultura Organizacional, Gestão Estratégica de Pessoas, Fundamentos de Administração, Avaliação de Desempenho e Gestão por Competência. Leciona a disciplina de Finanças e Controladoria no Programa de Mestrado Profissional em Administração/Governança Corporativa. Atua também como avaliador do Inep/MEC e como pesquisador. SUMÁRIO 1 As organizações no contexto atual 9 1.1 Mudanças no contexto atual internacional e nacional 10 1.2 Ambiente organizacional 12 1.3 Características de uma gestão eficaz 24 1.4 Ética na gestão empresarial 27 2 Ações estratégicas no contexto organizacional 34 2.1 Estratégias competitivas 35 2.2 Elaboração de plano estratégico 39 2.3 Construção de cenários 43 2.4 Tomada de decisão estratégica 48 3 Gestão de recursos financeiros 54 3.1 Aspectos financeiros da economia 54 3.2 Identificação da necessidade do capital de giro 59 3.3 Mercado financeiro 64 3.4 Formas de negociação 68 4 Gestão de produção 77 4.1 A função-produção no contexto organizacional 78 4.2 Estratégia Top down e Bottom up 82 4.3 Objetivos de desempenho 88 4.4 Matriz Importância e Desempenho 96 5 Gestão estratégica de pessoas 102 5.1 Construção de equipes de alto desempenho 102 5.2 Retenção de talentos e valorização profissional 109 5.3 O Balanced Scorecard Social na gestão de pessoas 113 5.4 Competências essenciais aos diretores de alto escalão 119 Gabarito 127 Este livro traz uma abordagem contemporânea de conceitos, estratégias e práticas próprios do mundo corporativo, com o objetivo de provocar reflexões e aprimorar as suas competências como gestor empresarial. Para atingir esse propósito, no primeiro capítulo analisamos a competitividade das empresas sob a perspectiva da economia globalizada e das mudanças nos padrões de comportamento dos negócios e dos consumidores. Atualmente o ambiente competitivo se encontra mais acirrado, exigindo novas posturas estratégicas e comportamentais, o que coloca a gestão empresarial como ferramenta essencial à preservação da imagem da empresa e à geração de valor. No segundo capítulo estudamos o planejamento estratégico e a construção de cenários competitivos futuros. A competência para lidar com essas ferramentas permite ao gestor empresarial definir e delimitar as estratégias corporativas e antever eventos e tendências capazes de influenciar o ambiente de negócios. O planejamento estratégico e a construção de cenários também auxiliam na redução de riscos durante o processo de tomada de decisão estratégica. O terceiro capítulo está estruturado de modo a compreendermos como as variações econômicas e financeiras podem impactar as estratégias corporativas e qual é a relevância do capital de giro para as empresas. Também abordamos o mercado financeiro, bem como sua regulação, seus subsistemas e os agentes econômicos que nele atuam. No quarto capítulo, o objetivo é entendermos como a função-produção e as estratégias de produção podem contribuir com o crescimento da empresa e auxiliar no processo de tomada de decisão. Ainda sob a perspectiva de crescimento, analisamos a Matriz de Importância e Desempenho, utilizada para avaliar como a atividade de produção está contribuindo para melhorar a competitividade da instituição em relação a seus concorrentes. No quinto capítulo discutimos a utilização das capacidades humanas, consideradas no contexto organizacional como um APRESENTAÇÃOVídeo recurso essencial à obtenção de vantagem competitiva. A discussão assenta-se nas competências profissionais, que podem dar ao indivíduo e às equipes condições de alcance de resultados de sucesso. Por se tratar do uso de competências intrínsecas às pessoas, também tratamos da retenção de talentos e da valorização profissional. Esses assuntos são imprescindíveis ao conhecimento dos gestores empresariais, visto que o ser humano possui talento e criatividade capazes de auxiliar no sucesso da empresa. Bons estudos! As organizações no contexto atual 9 1 As organizações no contexto atual O objetivo deste capítulo é compreender, dentro de uma pers- pectiva de economia global, as mudanças relacionadas ao contexto internacional e nacional, a postura ética dos gestores e como os fa- tores externos e internos influenciam a competitividade, a tomada de decisão e o desempenho organizacional. Para atender aos objetivos propostos para o capítulo, na pri- meira seção serão abordadas as mudanças no contexto inter- nacional e nacional e como essas mudanças podem requerer novas posturas estratégicas às empresas, a fim de não perderem a competitividade. Na segunda seção, serão abordadas as inter-relações das em- presas com o ambiente organizacional, do qual fazem parte o ma- croambiente, o ambiente competitivo e o operacional. O propósito dessa abordagem é a compreensão das variáveis que influenciam a formulação das estratégias organizacionais. Na terceira seção, o objetivo é apresentar alguns fatores que indicam a eficácia de uma gestão empresarial. Para o desenvolvi- mento dessa parte, optamos por trazer diversos aspectos relacio- nados ao comportamento dos gestores como agentes principais de uma gestão eficaz. Na quarta e última seção, veremos a ética na gestão e sua im- portância para a conquista de credibilidade junto ao mercado e a preservação da imagem da empresa para geração de valor. Então, vamos lá! Bons estudos. 10 Gestão Empresarial 1.1 Mudanças no contexto atual internacional e nacional Vídeo Você já observou que as relações comerciais entre cliente e empre- sa mudaram bastante nos últimos tempos? Quais são as principais di- ferenças que você poderia destacar? Vamos lá. Ajudaremos ao citar como exemplo o e-commerce. Não precisamos mais sair de casa para comprar, para isso basta um computador ou celular com acesso à internet. Esses dois recursos integrados são suficientes para fazer sua compra. Com base nessa possibilidade surge outra: a de comprar de qualquer empresa em qualquer parte do mundo. O assunto que iremos abordar é decorrente desse “comércio sem fronteiras”, pois quanto maior o mercado em que uma empresa compete – e no caso apresentado estamos falando em termos globais –, mais difícil e complexa se torna a concorrência. Veja, a eficiência competitiva ea excelência em- presarial consideradas dentro de um cenário de eco- nomia globalizada tornam-se cada vez mais difíceis de serem atingidas em decorrência do crescente número de negócios realizados entre empresas de diferentes países, com regulamentos, estruturas e políticas culturais, institucionais e econômicas próprias, que influenciam diretamente a operação das negociações (FIGUEIRA; MELLO, 2015). Dentro do contexto apresentado, é preciso destacar que se em uma economia globalizada existem poucas restrições comerciais, como a cobrança de tarifas, ela se torna mais ampla, ou seja, mais competidores vão disputar um determinado mercado, o que acaba por complicar expressivamente o ambiente competitivo (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Agora reflita: o que é mais fácil para um gestor: competir em merca- do geograficamente limitado, onde seus concorrentes estão próximos e são conhecidos, ou em um mercado em que os concorrentes estão espalhados por todo o mundo e ao alcance de um clique? Ellagrin/S hutter stoc k A economia globalizada abarca a comercialização de bens e serviços para além das fronteiras que separam países e continentes (HIT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Saiba mais As organizações no contexto atual 11 Além de precisar vencer um número de concorrentes, é necessário rever estruturas e processos, uma vez que a globalização afeta o design, a produção, a distribuição e o pós-venda, e soma-se a isso a maior qualidade dos produtos e serviços. Para competir no cenário descrito, as empresas precisam incrementar suas estratégias, adotando planos sofisticados e ousados, o que exige o desenvolvimento e a aquisição de competências informacionais e gerenciais, além da tecnologia, da inovação e da atuação internacional (FIGUEIRA; MELLO, 2015). Nesse sentido, para se adequarem a um cenário de incertezas e extremamente mutante, as organizações precisam mudar para ade- quarem suas estruturas às contingências im- postas pelo ambiente de negócios, a fim de não perderem a competitividade e elevarem seus resultados para acima da média. A capacidade de mudar e, assim, de se adaptar ao ambiente é uma necessidade re- querida para que as organizações aumentem suas chances de obter retornos maiores do que a média e, dessa forma, manterem-se vivas no mercado em que competem. Todavia, as mudanças tornam-se um desafio quando as pessoas que fazem parte da organi- zação são resistentes a elas (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Diante dos desafios que podemos perceber ao analisar o contex- to internacional e nacional em que as empresas estão competindo, a gestão empresarial tem papel fundamental no crescimento das organi- zações. Dada a complexidade da concorrência, uma boa gestão talvez já não seja mais suficiente para manter uma empresa competitiva, ou seja, é necessária uma gestão empresarial de excelência. Como você pode observar, o cenário competitivo atual é extrema- mente complexo porque possui características que precisam ser ana- lisadas sob um prisma de múltiplas realidades, que não se resumem apenas ao contexto nacional, mas também ao internacional. Dessa forma, para lidar com tantas variáveis próprias do ambiente competitivo, podemos concluir que a gestão empresarial precisa ser orien- tada por um conhecimento que englobe múltiplas capacidades, como as de análise e gestão dos diversos recursos de que dispõe uma organização, os quais podem dar à empresa vantagem competitiva se operados pelo gestor com simultaneidade (GASSENFERTH; MACHADO; KRAUSE, 2012). VectorMine/Shutterstock 12 Gestão Empresarial O objetivo da leitura do artigo Motivadores da internacionalização de pequenas empresas de software: um estudo multi casos nos contextos brasileiro e espanhol, de Alessandra Herranz Gazquez e Hilka Pelizza Vier Machado e publicado na Revista Eletrônica de Ciência Administrativa em 2019, é possibilitar que você conheça os motivadores da internacionalização de pequenas empresas do setor de software. O artigo propicia uma maior abrangência nas conclusões sobre motivadores de internacionalização às empresas de software. Acesso em: 27 ago. 2020. http://www.periodicosibepes.org.br/index.php/recadm/article/view/2600/1065 Artigo 1.2 Ambiente organizacional Vídeo Bem, agora que você já sabe como as relações econômicas tornaram-se complexas dentro do contexto mundial, vamos entender o que é o ambiente organizacional. Ele é composto por três ambientes, a saber: o macroambiente ou ambiente geral, o ambiente competitivo e o ambiente operacional. Figura 1 Ambiente organizacional Ambiente organizacional Macroambiente ou ambiente geral • Econômico • Político/legal • Tecnológico • Social • Comunidade • Nação • Mundo Ambiente competitivo • Competidores • Barreiras de entrada • Diferenciação de produtos substitutos Ambiente operacional • Consumidores • Funcionários • Fornecedores • Acionistas Fonte: Elaborada pelo autor. http://www.periodicosibepes.org.br/index.php/recadm/article/view/2600/1065 As organizações no contexto atual 13 O conhecimento integrado desses três ambientes é importante para a gestão empresarial, pois deles advêm informações necessárias e relevantes ao planejamento e à implementação das ações estratégicas que a organização pretende tomar. Além disso, é preciso considerar que todas as decisões devem ser tomadas levando em consideração a missão e os propósitos da em- presa, bem como observando atentamente o resultado do diagnóstico estratégico, que é o decorrente da análise ambiental (OLIVEIRA, 2013). A importância de se analisar o ambiente em que a empresa compete está na capacidade que cada um desses ambientes tem de revelar de- talhes sobre tendências futuras, as quais indicam a dinâmica das ações, reações e intenções dos concorrentes (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Como você pode perceber, estamos tratando de conduzir a empresa a um caminho de sucesso, e para isso dependemos de informações. E o que fazemos com essas informações? Planejamos. Pois bem, este é o nosso objetivo quando decidimos conhecer o ambiente competitivo e suas características: planejar para gerir a empresa de maneira a conquis- tar novos mercados e clientes, aumentando com isso a lucratividade. Em resumo, a análise do ambiente organizacional permite insights que auxiliam na tomada de decisão, que, por sua vez, pode ajudar na melhoria do desempenho organizacional. Segundo Gassenferth, Machado e Krause (2012, p. 11), uma característica relevante ao gestor é o pensamento sistêmico, pois possibilita a compreensão das “relações de interdependência entre os diversos componentes de uma organização, bem como entre a organização e o ambiente externo”. Entendido o que é o ambiente organizacional, vamos estudar cada ambiente em particular. A leitura do artigo Relação entre monitoramento e orientação estratégica: um estu- do da percepção de profissionais da inteligência competitiva, de Maria Pimentel e Fernando de Almeida, publicado na revista Gestão & Regionalidade em 2017, fará com que você compreenda a relação entre o modo como uma organiza- ção monitora o seu ambiente externo e a sua orientação. Acesso em: 27 ago. 2020. https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_gestao/article/view/3325/2196 Artigo https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_gestao/article/view/3325/2196 14 Gestão Empresarial 1.2.1 Macroambiente Abordaremos agora o macroambiente, ou ambiente geral, que é externo à empresa. Nele estão presentes as ameaças e as oportunidades, variáveis que estão fora de controle do gestor, ou seja, vão acontecer independentemente de como a empresa é conduzida. Um exemplo é a Covid-19, uma ameaça que transformou o mercado em 2020, fazendo empresas que eram bem administradas fecharem suas portas porque viram suas receitas sumirem. Outras viram essas falências como oportunidades e, com mais recursos em caixa, apro- veitaram o espaço deixado e formularam estratégias para ocupá-los e assim aumentar seu market share. Inicialmenteesse ambiente é composto por seis dimensões, que fazem parte da sociedade geral, conforme você pode ver na Figura 2. Essas dimensões influenciam o setor e as empresas que nele estão in- seridas (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Figura 2 Ambiente geral Ambiente da indústria (setor) Ameaça de novos entrantes Poder dos fornecedores Poder dos compradores Produtos substitutos Intensidade da rivalidade Ambiente da concorrência Econômico Sociocultural Demográfico Político Jurídico Global Tecnológico Fonte: Hitt; Ireland; Hoskisson, 2013, p. 35. Saiba que dentro de cada uma das seis dimensões estão contidos diversos fatores, descritos no Quadro 1, que são capazes de influen- ciar a maneira como uma empresa está posicionada no ambiente competitivo. “Enquanto uns choram, outros vendem os lenços.” Para refletir market share: grau de parti- cipação em relação às vendas de uma empresa realizadas no mercado em que compete. Glossário As organizações no contexto atual 15 Quadro 1 Fatores que compõem o ambiente geral Segmento Características Econômico - Taxas de inflação - Taxas de juros - Déficits ou superávits comerciais - Déficits ou superávits orçamentários - Taxa de poupança pessoal - Taxa de poupança comercial - Produto Interno Bruto Sociocultural - Mulheres no mercado de trabalho - Diversidade da mão de obra - Atitudes com relação à qualidade da vida profissional - Preocupações com o meio ambiente - Mudanças nas preferências profissionais e de carreira - Mudanças nas preferências relacionadas às características de produtos e serviços Global - Acontecimentos políticos importantes - Mercados globais essenciais - Novos países industrializados - Diferentes atributos culturais e institucionais Tecnológico - Inovações dos produtos - Aplicações do conhecimento - Foco nos gastos privados e públicos de produção e desenvol- vimento (P&D) - Novas tecnologias da comunicação Político/Jurídico - Legislação antitruste 1 - Legislação tributária - Filosofia de desregulamentação - Leis de treinamento de mão de obra - Filosofias e políticas educacionais Demográfico - Tamanho da população - Estrutura etária - Distribuição geográfica - Mistura étnica - Distribuição de renda Fonte: Elaborado pelo autor. Para melhor exemplificar o Quadro 1, tomaremos por base o segmento econômico e dentro dele veremos como a taxa de inflação e os déficits comerciais podem influenciar as estratégias de uma empresa. Lei n. 12.529/2011, que impede e pune práticas anticompetitivas. 1 16 Gestão Empresarial Um exemplo são algumas companhias aéreas americanas. As em- presas em questão são a United Airlines, a Airways, a Delta Airlines e a Northwest, que entre os anos de 2002 e 2005 pediram falência ou pro- teção ao governo norte-americano. O motivo foi o aumento do preço do combustível após a passagem do furacão Katrina (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Veja, estamos falando do aumento do preço do combustível, que provoca o aumento da inflação e consequente déficit comercial, uma vez que as empresas são obrigadas a aumentar o preço das passagens. Porém, há queda do número de passageiros, pois o preço fica acima do que as pessoas podem pagar. Mas você deve ter percebido que a causa do aumento do combus- tível foi um outro fator, o furacão Katrina, o qual, por se tratar de um evento comum nos Estados Unidos, deveria ser pensado dentro do segmento político/jurídico. Isto é, o governo deveria pensar em como proteger o mercado quando um evento climático acontecesse. Mas não é assim que ocorre, pois os governos também têm os segmen- tos que lhes são mais prioritários, como educação, saúde, transporte e segurança. A fim de contornarem as crises, a Southwest e a AirTran Airways (ATA) estão fundindo-se a outras empresas para controlar os custos e ampliando os compartilhamentos de código para aumentar seu alcan- ce de mercado (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Assim, se na gestão empresarial o gestor deixa de observar qual- quer um desses fatores – que não os únicos, são apenas alguns –, ele se arrisca a incorrer em erros estratégicos ou até mesmo em infrações penais, principalmente se opera em segmentos como o de alimentação ou saúde. O artigo O monitoramento de informações estratégicas do ambiente externo em pequenas empresas, de Éverton Cancellier et al., publicado na Revista Ibero- -Americana de Estratégia em 2009, mostra como as pequenas empresas bra- sileiras realizam o monitoramento de informações estratégicas do ambiente externo e qual é a devida importância que dão a essa atividade. Acesso em: 27 ago. 2020. http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2004_Enegep0707_1590.pdf Artigo Assista ao filme A grande aposta para compreender as causas e os indícios que antecederam uma das maiores crises financeiras dos Estados Unidos. O filme aborda como alguns investi- dores que previram com antecedência a crise resolveram apostar contra grandes bancos como Goldman Sachs, Merryl Lynch, JP Morgan e Lehman Brothers. Direção: Adam McKay. EUA: Plan B Entertainment; Regency Enterprises, 2015. Filme http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2004_Enegep0707_1590.pdf As organizações no contexto atual 17 1.2.2 Ambiente competitivo Prosseguindo nossos estudos, falaremos agora sobre o ambiente competitivo. Segundo Porter (2004), ele é composto por forças que exer- cem influência sobre a lucratividade e o posicionamento estratégico de uma empresa. Nesse sentido, quando procedemos a análise do ambien- te competitivo, estamos buscando criar condições que permitam à em- presa prever a dinâmica das ações e reações dos concorrentes. Por isso, conhecer o ambiente e realizar sua leitura e análise de ma- neira adequada são de fundamental importância para compreender o grau de rivalidade entre as empresas, permitindo que os gestores reajam às ações dos rivais, supe- rando-os em suas estratégias. A rivalidade competitiva pode ser analisada com base nas forças que agem sobre o ambiente, conforme o modelo descrito na figura a seguir. Figura 3 Modelo de forças competitivas Fonte: Porter, 2004, p. 4. Rivalidade entre os concorrentes Entrantes potenciais Ameaças de novos produtos Poder de barganha dos com pradores Po de r d e ba rg an ha do s fo rn ec ed or es Ameaças de novos entrantes Produtos substitutos Poder de negociaçãoPo de r d e ne go ci aç ão Quando o ambiente competitivo é analisado com base no modelo das forças competitivas, podemos verificar as variáveis capazes de afe- tar o desempenho organizacional. Então, é possível formular estratégias competitivas para eliminar ou reduzir o impacto que essas forças têm A rivalidade competitiva se caracteriza quando uma empresa busca assumir uma posição vantajosa em relação ao seu concorrente (HIT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Saiba mais anttoniart/Shutterstock 18 Gestão Empresarial sobre o lucro potencial de uma empresa. A intensidade da rivalidade competitiva em um setor, além de determinar as estratégias a serem seguidas, indica o comportamento de cada empresa (PORTER, 2004). Mas você deve estar se perguntando, o que são essas forças? Então, vamos lá. Abordaremos cada uma delas para que você saiba em deta- lhes o que elas representam e como influenciam as empresas no am- biente competitivo. Iniciaremos com a ameaça de novos entrantes. Veja, quando novas empresas entram em um mercado, elas geralmente vêm com inovações objetivando ganhar uma parcela daquele mercado, e como não poderia deixar de ser, possuem recursos financeiros substanciais (PORTER, 2004). A entrada de uma empresa com essas características pode acarre- tar quedas dos preços ou alta nos custos, reduzindo a rentabilidade dos participantes. Para ficar mais claro, pense: você tem um mercado pequeno e quando menos espera, um hipermercado se instala na mes- ma região que seu negócio. Como o hipermercado compra em escala, ou seja, em grande quantidade, ele vai vender mais barato quevocê, correto? Nesse caso, se sua empresa não tiver condições de praticar os mesmos preços, seus clientes migrarão para o hipermercado. Outra situação: se uma grande empresa se instala e começa a com- prar matéria-prima dos mesmos fornecedores que você, haverá o au- mento da demanda. Assim, os fornecedores elevarão seus preços. A empresa entrante, por ter um poder financeiro maior, poderá pagar sem elevar o preço final de vendas. Para não parar de atender seus clientes, você terá que pagar o mesmo preço, porém ao fazer isso terá que repassar o aumento dos custos ao seu preço final, elevando-o aci- ma do valor praticado no mercado. Em ambos os casos, se você não tiver condições de reagir a um novo entrante, sua empresa pode ter seus lucros e mercado diminuídos. Por isso, novos entrantes representam uma ameaça às organizações que competem em determinado setor. Agora, abordaremos o poder de barganha dos fornecedo- res, aqueles que produzem ou distribuem insumos para as empresas de transformação ou de serviços. Ameaça de novos entrantes Nattee Sriya nt/S hut ter sto ck Poder dos fornecedores Nattee Sriyant/Shutt ersto ck As organizações no contexto atual 19 Quando temos um mercado dominado por poucas grandes empre- sas de um mesmo setor, ele fica nas mãos delas. Aqui cabe o exemplo das operadoras de telecomunicação ou das empresas químicas, que produzem matérias-primas específicas à indústria de transformação. Um grupo de fornecedores é poderoso quando: • Dominado por poucas empresas e é mais concentrado do que o setor para o qual vende. • Não está obrigado a lutar com outros produtos substitutos na venda para a indústria. • O produto do fornecedor é um insumo importante para o negó- cio do comprador. (PORTER, 2004, p. 29) Já o poder de barganha dos compradores se concentra em for- çar os preços para baixo, exigindo mais qualidade e colocando os concorrentes uns contra os outros – principalmente agora que, como já vimos, ficou muito mais fácil escolher aquele que tem melhor preço e condições de pagamento. O poder de cada grupo de compradores depende de certas características relacionadas ao mercado e da importância de suas compras para seus fornecedores (PORTER, 2004). Por exemplo, se a oferta de determinado produto é grande no mercado, o comprador tem maior acessibilidade em relação ao preço, podendo optar pelo mais adequado às suas possibilidades financeiras. Essa situação força as empresas a praticarem preços mais baratos, terem mais qualidade e melhores condições de pagamento, desestabi- lizando determinado setor ou segmento. Caso o comprador queira ad- quirir um produto ou serviço em grande quantidade, contribuirá para a redução do preço final, todavia, se houver escassez de oferta ou de fornecedores, o comprador perde consideravelmente o poder de barganha. Os produtos substitutos são aqueles que de alguma maneira dão o mesmo resultado que os originais, como o xarope de fruto- se de milho que pode substituir o açúcar como adoçante. Observe que a entrada de produtos substitutos pode fazer com que o preço do original seja reduzido. Caso as indústrias que produzem o açúcar não reduzam seus preços ao mesmo nível do xarope de frutose, Poder dos compradores Na tte e S riy an t/S hu tte rst oc k Ameaça de substituição Nattee Sriyant/Shutterstock 20 Gestão Empresarial passarão a perder espaço e rentabilidade. Nesse caso, o produto substi- tuto passa a fazer pressão sobre os lucros das indústrias que produzem açúcar. A entrada de produtos substitutos irá fazer com que os produto- res de açúcar sejam confrontados com a comercialização em larga escala do xarope de frutose de milho, fato que os levará à formulação de novas estratégias para se manterem competitivos (PORTER, 2004). Por fim, temos a rivalidade entre os concorrentes, que repre- senta a situação de disputa por uma melhor posição dentro do setor. Essa competição ocorre entre os players por meio de redu- ção de preços, publicidades, inovações, aumento da qualidade e das garantias ao cliente, melhoria do pós-venda etc. A rivalidade se torna mais acirrada quando há uma ruptu- ra no mercado, geralmente provocada pela introdução de um novo produto ou por uma oportunidade que as empresas de- sejam aproveitar. Tais fatores, que não são os únicos, pressionam os concorrentes a reagirem rapidamente para não perderem espaço e competitividade. Dependendo das estratégias de reação, os movimen- tos competitivos podem ter excelentes efeitos em relação aos seus concorrentes. Os concorrentes, por sua vez, vendo a reação de um dos players, darão início a uma retaliação para conter esses movimentos. Essa condição de ação e reação pode permitir um aprimoramento no setor como um todo. Um exemplo disso foi a abertura para os carros importados. An- tes da vinda de modelos importados para o Brasil, as montadoras na- cionais tinham pouca ou quase nenhuma preocupação com conforto, qualidade e segurança dos veículos. Podemos dizer que houve uma ruptura no mercado que permanece até hoje. A introdução de novas tecnologias, combinada com a capacidade de inovação dos centros de pesquisa e desenvolvimento, é recorrente e diária na indústria de automóveis. Como você pode ver, o ambiente geral possui características que independem da maneira como as empresas competem entre si, con- tudo pode influenciar suas estratégias. Já o ambiente competitivo é o resultado de como as empresas competem entre si. É delineado por estratégias competitivas que, se não acompanhadas pelos players, re- sultarão em queda de rendimentos e perda de market share. Nattee Sriyant/Shutterstock Rivalidade entre concorrentes players: em português, joga- dores; agentes ou empresas que competem em um mercado. Glossário As organizações no contexto atual 21 O que há em comum em ambos os ambientes é a necessidade de uma gestão empresarial atenta às oscilações das estruturas sociais e ao movimento de seus concorrentes, para que possa responder pronta- mente às ameaças ou aproveitar as oportunidades que venham a surgir. Com a leitura do artigo Relação entre rivalidade e preços, e suas implicações para a estratégia competitiva, escrito por Kavita Hamza, André Saab e Lino Rodrigues Filho, e publicado na revista Gestão & Regionalidade em 2012, você poderá identificar as correlações existentes entre rivalidade e a determinação de preços e o seu impacto na formulação de estratégias. Acesso em: 27 ago. 2020. https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_gestao/article/view/1449/1238 Artigo 1.2.3 Ambiente operacional Vimos que o ambiente geral está ligado a aspectos estruturais exter- nos, ou seja, a fatores que acontecem independentemente da vontade do gestor. No ambiente competitivo, vimos que as estratégias estão li- gadas à rivalidade competitiva. Já no ambiente operacional, que veremos agora, as circunstâncias são diferentes. Nele encontramos fatores relacionados ao ambiente interno, onde estão contidos os recursos e processos da empresa so- bre os quais o gestor tem o poder de direcionamento. Enquanto no ambiente externo estão localizadas as ameaças e oportunidades, no interno estão as forças e fraquezas da organização. Dos ambientes externo e interno são coletadas informações para que a em- presa subsidie seu planejamento estratégico, o qual está direta- mente ligado às áreas operacio- nais da empresa, uma vez que serão as responsáveis pela im- plementação das estratégias (GASSENFERTH; MACHADO; KRAUSE, 2012). Dada tal responsabilidade dessas áreas, ao falarmos de ambiente interno estamos tratando de recursos e de capacitações que dão à empresa condições de reagir às estratégias competitivas de seus concorrentes. Tr ue ffe lp ix / S hu tte rs to ck https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_gestao/article/view/1449/1238 22 Gestão Empresarial Quanto aos recursos, existem dois tipos: os tangíveis e os intangí- veis. Há quatro tipos de recursos entre os tangíveis,que podem ser lidos no quadro a seguir. Quadro 2 Classificação de recursos tangíveis Recursos financeiros • Capacidade de empréstimo de uma empresa • Capacidade da empresa de gerar recursos internamente Recursos organizacionais • Estrutura formal de apresentação de relatórios da empresa e seus sistemas formais de planejamento, controle e coordena- ção Recursos físicos • Sofisticação e localização da fábrica e dos equipamentos de uma empresa • Acesso às matérias-primas Recursos tecnológicos • Ações de tecnologia, tais como patentes, marcas registradas, di- reitos autorais e segredos comerciais Fonte: Hitt; Ireland; Hoskisson, 2013, p. 74. Como é possível observar no Quadro 2, os recursos tangíveis são amplos em seu escopo e estão relacionados à capacidade administrati- va dos gestores em adquiri-los ou implementá-los. São bens materiais, como veículos, imóveis, dinheiro etc. Os recursos intangíveis estão relacionados às capacidades intelec- tuais e cognitivas. Uma característica particular deles é sua difícil imita- ção ou substituição. Essas características, quando aproveitadas, tornam os recursos intangíveis fonte de vantagem competitiva às empresas. Alguns recursos intangíveis são apresentados no quadro a seguir. Quadro 3 Classificação de recursos intangíveis Recursos humanos • Conhecimento • Confiança • Capacitações gerenciais • Rotinas organizacionais Recursos de inovações • Ideias • Capacitações científicas • Capacidade de inovar Recursos relacionados à reputação • Reputação para os clientes • Marca • Percepções de qualidade, durabilidade e confiabilidade do produto • Reputação para os fornecedores • Reputação para interações e relações eficientes, eficazes, de su- porte e mutuamente benéficas Fonte: Hitt; Ireland; Hoskisson, 2013, p. 75. As organizações no contexto atual 23 Você pode observar no Quadro 3 que os recursos descritos estão relacionados à atividade intelectual, como é o caso da produção do co- nhecimento, que tem início em um processo de construção mental. São recursos que agregam valor à organização, porém são difíceis de men- surar ou de atribuir valor, como é o caso da reputação. A reputação é um ativo intangível de grande relevância na relação com os stakeholders e não pode ser comprada. Por mais que uma em- presa faça propaganda positiva de sua reputação, se não for verdade, as pessoas ficarão sabendo. Isso porque reputação não se encontra para comprar, a empresa constrói com base na inteligência e no com- portamento de seus funcionários e de seu corpo de executivos. Talvez a grande diferença entre recurso tangível e intangível seja sua fonte de obtenção. Um recurso tangível pode ser adquirido, comprado ou conquistado, basta estar disponível, enquanto o intangível é intrínseco ao capital humano. Assim, você até pode contratar alguém competente e criativo, mas como fazer com que essa pessoa coloque toda sua competên- cia e criatividade à disposição da empresa? O gestor empresarial precisa saber como aproveitar ao máximo as com- petências individuais de seus funcionários e alinhá-las aos objetivos or- ganizacionais. Por isso, as empresas precisam utilizar o capital humano de maneira eficaz. Mas o ambiente operacional ainda conta com outros atores, como os consumidores, fornecedores e acionistas. As relações que a empre- sa tem com cada um desses parceiros estão diretamente ligadas às competências de seus funcionários. Essas competências são recursos que precisam ser alinhados à estratégia organizacional e integrados às rotinas individuais ou departamentais, para que sejam capazes de criar valor ao negócio e a todos com quem se relacionam. O ambiente operacional é muito mais complexo e amplo do que apresentado nesta seção, ou seja, o assunto não se esgota aqui. O aprimoramento intelectual para melhor compreender as nuances do ambiente operacional é condição vital para que o gestor empresarial tenha capacidade e discernimento necessários à tomada de decisão. Ribkhan/Shutterstock stakeholders: todos aqueles (indivíduos e empresas) com os quais a empresa se relaciona. Glossário Os líderes de negócios globali- zados apoiam cada vez mais a teoria de que o conhecimento que o capital humano possui é uma das capacitações mais significativas da organização e pode estar na raiz de toda sua vantagem competitiva (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Saiba mais 24 Gestão Empresarial Com a leitura do artigo El Capital Humano como Factor Clave en el Desempeño Empresarial: Una Visión Desde el ‘Empowerment’, escrito por Martha Ríos- -Manríquez, Celina López-Mateo e María Sánchez-Fernández, e publicado em 2019 na Revista de Gestão e Secretariado, você irá compreender o porquê do capital humano ser um ativo extremamente valioso às organizações e como pode influenciar o desempenho organizacional. Acesso em: 24 ago. 2020. https://www.revistagesec.org.br/secretariado/article/view/914/pdf Artigo 1.3 Características de uma gestão eficaz Vídeo Agora que conhecemos um pouco do contexto e do ambiente em que as empresas estão inseridas e as diversas variáveis que podem in- fluenciar seu desempenho e perpetuidade, conheceremos como deve ser uma gestão para que esta se caracterize como eficaz. Sempre lem- brando que o que torna uma gestão eficaz não são necessariamente todos os recursos materiais e tecnológicos que uma empresa possui, mas a qualidade das competências de seus gestores. Não estamos dizendo que os recursos materiais e tecnológicos não são importantes, muito pelo contrário, são essenciais às estra- tégias organizacionais. Todavia, de nada servirão se os gestores não tiverem capacidade e inteligência para utilizá-los de manei- ra correta e em alinhamento com os objetivos organizacionais. Portanto, para que uma gestão seja eficaz é necessário um gestor eficaz, certo? Mas o que é ser eficaz? Segundo o dicionário, a eficácia está na qualidade dos resultados planejados alcançados ou na capacidade de desenvolver objetivos de maneira competente (DICIO, 2020). Então, estando a eficácia diretamente ligada à qualidade, à capacidade e às competências, podemos dizer que ela decorre em última análise das ações humanas, isto é, das qualidades, das capaci- dades e das competências dos gestores. E é nessa linha de raciocínio que vamos estudar esta seção. Entenderemos as características da gestão empresarial eficaz com base nas capacidades e competências do gestor. Mas antes de falar desse assunto, vamos abordar um dos indicadores mais comuns a uma gestão eficaz, que são os resultados positivos alcançados. Essa é a L an Ko ga l/S hu tte rs to ck https://www.revistagesec.org.br/secretariado/article/view/914/pdf As organizações no contexto atual 25 característica que mais chama a atenção no momento de se considerar se uma gestão é eficaz ou não. Pois bem, atingir o desempenho proposto para as metas e ver que os indicadores de desempenho retratam tudo aquilo que foi planeja- do são sonhos de todo administrador, porque além de ver a empresa crescer, cria-se a certeza de que tudo está funcionando corretamente. Mas um desempenho somente será positivo se uma empresa contar com uma estrutura e com processos adequados ao seu crescimento. Para isso, ambos precisam ser planejados e executados pelos gestores, posicionando, estrategicamente, a empresa diante do cenário em que competem e sob a influência da natureza global dos negócios, própria do século XXI. A Figura 4 mostra como uma liderança eficaz pode influenciar o de- sempenho organizacional. Figura 4 Liderança estratégica e processo de gestão estratégica Fonte: Hitt; Ireland; Hoskisson, 2013, p. 343. Liderança estratégica Ações estratégicas bem-sucedidas Formulação das estratégias Retornos acima da média Execução das estratégias Visão Missão M odela a form ação da e influenciam gera gera A Figura 4 mostra como a liderança estratégica conduz a gestão eficaz de uma empresa, permitindo resultados acima da média. No esquemaapresentado, observamos que o líder ou gestor precisa modelar a missão 26 Gestão Empresarial e visão da empresa, com base no tipo de negócio, modelo de gestão, ambiente em que irá operar, segmento de atuação e tipo de empresa, e formular ações estratégicas a fim de obter o desempenho esperado. Desse modo, podemos elencar a liderança estratégica como uma das características da gestão empresarial eficaz. Ela é a capacidade in- dividual do gestor de se antecipar e promover mudanças estratégicas sempre que necessário (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). É relevante ressaltar dentro da gestão empresarial eficaz a capa- cidade de gerenciar uma empresa por meio das outras pessoas. Ou seja, o gestor precisa ter a capacidade de conduzir de maneira eficaz o comportamento humano, de modo a influenciar significativamente as atitudes, os pensamentos e os sentimentos de seus colaboradores (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Mas além de conhecer o ambiente, a empresa, de saber lidar es- trategicamente com as informações e as pessoas, o gestor, segundo Fernandes, Oliva e Kubo (2020), precisa ter em seu perfil outras com- petências, como: Credibilidade e foco nos valores éticos e morais, considerados aspectos fundamentais à gestão empresarial a fim de conquistar a confiança dos stakeholders. Saber analisar de maneira abrangente o ambiente competitivo e a realidade internacional e nacional, colocando-se a par da geopolítica, sendo capaz de avaliar os movimentos do mercado e as tendências da economia. Habilidade de negociar, que representa a capacidade de conciliação, auxiliando a tomada de decisão. Saber se comunicar é outro atributo essencial, pois dá ao gestor a capacidade de se manifestar de maneira clara e objetiva sobre os assuntos sob sua responsabilidade. Não saber se comunicar pode provocar divergências e um possível erro estratégico na tomada de decisão. Ter habilidade de analisar resultados e capacidade de analisar relatórios e documentos em geral, permitindo o questionamento e domínio de temas complexos e desconhecidos. Postura proativa, que se apresenta também como a capacidade de ouvir, captar informações de interesse e expandir horizontes com opiniões capazes de criar e influenciar novas ideias que agregam valor à empresa e ao desempenho do conselho. Vy ac he sl av ik us / G rib oe do v/ Sh ut te rs to ck O filme O Homem que mudou o jogo mostra a capacidade de se trans- formar o fracasso em vitória pela maneira como os jogadores de um time são escolhidos. Direção: Bennett Miller. EUA: Michael De Luca Productions; Scott Rudin Productions, 2011. Filme As organizações no contexto atual 27 Todas as características elencadas, quando encontradas no perfil do gestor, também indicam uma gestão eficaz. Não são somente os resulta- dos que importam, até porque podem ser momentâneos, passageiros. Somados os bons resultados à competência, teremos gestores capazes de obter resultados a longo prazo e vantagem competitiva para a em- presa. Desse modo, podemos afirmar que realmente a gestão é eficaz. O artigo Características individuais relevantes ao conselheiro de administração independente, de Ciro Fernandes, Eduardo Oliva e Edson Kubo, publicado na Revista Contemporânea de Contabilidade em 2020, permitirá que você tenha um maior aprofundamento sobre as competências dos diretores de alto escalão, como os conselheiros de administração. Acesso em: 27 ago. 2020. https://periodicos.ufsc.br/index.php/contabilidade/article/viewFile/2175-8069.2020v17n43p120/43749 Artigo 1.4 Ética na gestão empresarial Vídeo Estamos finalizando este nosso primeiro capítulo e faremos isso com um assunto extremamente importante para a gestão empresarial: a ética na sua condução. E como a falta de ética pode prejudicar a empresa? Veja, novamente o assunto nos remete às bases do comportamento humano. O comportamento antiético de diversos gestores tem provocado o aumento dos escândalos corporativos, responsáveis por impactos ne- gativos à sociedade e ao mercado como um todo (MENDES; CARVALHO, 2017). Nesse sentido, é necessário que os gestores entendam que uma empresa não pode se dar ao luxo de ser considerada duvidosa ou de- sonesta, pois essa condição desperta a desconfiança dos investidores, ocasionando a perda de investimentos. É preciso que a empresa destaque ao mercado e à socieda- de o comportamento íntegro de seus gestores. Esse com- portamento denota a importância que os gestores dão a empresa, que entendem melhor o que está acontecendo no ambiente de negócios, que estão mais dispostos a confrontar realida- des e que se esforçam para fornecer liderança estratégica (COULSON-THOMAS, 2009). Dapitart/Shutterstock https://periodicos.ufsc.br/index.php/contabilidade/article/viewFile/2175-8069.2020v17n43p120/43749 28 Gestão Empresarial Mas ao longo dos tempos fomos surpreendidos por vários casos de comportamentos antiéticos, que de certa forma passaram a ser “acei- tos”, como um funcionário que passa por cima do outro para ascender na carreira ou uma disputa por uma vaga de emprego ou de estacio- namento, ganhar prestígio com o chefe etc., até chegarmos a fatos cri- minosos, quando para redução de custos ou aumento dos lucros foi adicionada soda cáustica e formol ao leite 2 . Ganhar dinheiro não deve ser a única coisa a nortear os objetivos de uma empresa, mesmo porque, se fosse assim, para atingir o lucro máxi- mo, qualquer meio seria justificável, o que não é verdade. O lucro não é decorrente apenas da condição de se comercializar um bem ou serviço, ele também provém das relações de confiança entre empresa e consu- midor. É obvio que sem o retorno financeiro adequado, a perpetuidade da empresa fica comprometida, mas a falta de credibilidade talvez seja uma doença mais letal do que a queda na receita (MATOS, 2017). Portanto, podemos dizer que a essência da existência de uma em- presa não é o lucro, mas atender às necessidades de seus clientes, com a responsabilidade em primar pela qualidade no atendimento. A ética nos ganhos evita distorções e erros operacionais, além de criar condições de retribuir o sucesso do empreendimento à socieda- de, que é o momento em que a empresa gera riqueza. Ter ética ao conseguir lucro denota que a empresa e seus gestores têm uma postu- ra alinhada às suas responsabilidades e um posicionamento firme em relação à missão da empresa. Infelizmente há empresários e gestores praticantes do discurso do lucro como o principal foco da empresa, o que leva ao jogo do vale-tu- do pelo dinheiro, contaminando a cultura organizacional e fazendo com que a ética fique relegada a um papel secundário, presente apenas nas peças de publicidade e discursos vazios (MATOS, 2017). Alguns exemplos de empresas e executivos que se utilizaram de fraudes para enganar o mercado e obter lucros pode ser visto no quadro a seguir. Para saber mais sobre o assunto, leia a notícia Técnica expõe adulteração ‘invisível’ do leite, disponível em: https:// www.unicamp.br/unicamp/ ju/noticias/2018/10/31/ tecnica-expoe-adulteracao-in- visivel-do-leite. Acesso em: 28 ago. 2020. 2 As organizações no contexto atual 29 Quadro 4 Empresas e executivos acusados de fraudes Empresa Descrição do caso Enron Fraudes contábeis que inflaram o volume de negócios do grupo e dissimula- ram uma dívida de US$ 22 bilhões. Parmalat Falência fraudulenta revelada em 2003, com a descoberta de um endivida- mento de 11 bilhões de euros (38,5 bilhões de reais). A empresa delibera- damente dissimulou sua falência por meio de um sistema fraudulento com base em desvios contábeis, orçamentos falsos, documentos falsificados e lucros fictícios. WorldCom Fraude contábil de US$ 3,8 bilhões. Despesas foram registradas como inves- timentos durante cinco trimestres. Global Crossing Telecomu- nicações Concordata após ter contraído enorme dívida para construir uma rede mun- dial de fibra ótica. É alvo de investigação formal do órgão regulador de mer-cado de capitais sobre suas práticas contábeis. Dennis Kozlowski, ex-pre- sidente do conglomerado industrial Tyco Condenado por fraude fiscal e falsificação de prova. Segundo a Justiça, Kozlowski fraudou o fisco em US$ 1,017 milhão em impostos pela compra de obras de arte, manipulando dados contábeis da Tyco. Adelphia, operadora de cabo dos EUA Reconheceu ter concedido empréstimos no valor de US$ 2,3 bilhões à família Rigas, sua principal acionista. Merck, companhia farma- cêutica dos EUA Registrou, nos últimos três anos, receitas de US$ 14 bilhões de uma de suas subsidiárias, a Medco, que, na verdade, nunca foram recebidas. Fonte: Matos, 2017, p. 28-29. Os exemplos do Quadro 4 são apenas alguns dentre vários. Mais recentemente no Brasil vimos empresas como Odebrecht, OAS, Petrobras e agentes públicos denunciados por meio da Operação Lava Jato por envolvimento com a corrupção. A corrupção é um sinal de que algo não vai bem em uma sociedade, pois seus governantes deixam de trabalhar pela causa pública e passam a se dedicar ao aumento de seus patrimônios particulares, por meio de negociatas e venda de “facilidades” às grandes empresas e seus executivos. Os agentes públicos envolvidos, além de incorrerem em práticas criminosas, passam a ideia errônea de que o crime compensa, uma vez que geralmente não são punidos e continuam sendo reconduzidos aos seus cargos pelas pessoas que os elegem. 30 Gestão Empresarial Além disso, as organizações, quando agem com desonestidade ou se envolvem em casos de corrupção, são punidas com consequências danosas à sua reputação e à sua saúde finan- ceira, que impactam todos com quem ela se relaciona. Após tantos escândalos, o mercado tem observado que as empresas vêm adotando uma postura que demonstra credibilidade e aderindo a programas de compliance, ou seja, de cumprimento, de conformidade ou de integridade. Esse movimento de adesão decorre também do aumento da complexidade da regulação da atividade econômica e crescentes riscos de inobservância da legislação. Nesse sentido, os programas de compliance estão se tornando relevantes à prevenção de riscos de responsabilidade empresarial (MENDES; CARVALHO, 2017). Agora vamos ver alguns dados em relação ao fortalecimento em âmbito mundial de combate à corrupção. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em pesquisa rea- lizada com diversos países, “263 indivíduos e 164 pessoas jurídicas so- freram medidas coercitivas por corrupção internacional entre 1999 e 2014” (MENDES; CARVALHO, 2017, p. 16). Além disso, na administração pública e a economia brasileiras segundo esti- mativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a corrupção no Brasil pode representar anualmente algo em torno de 1% a 4% do PIB, equivalente a R$ 30 bilhões. Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), essa cifra está próxima de 2,3% do PIB. (MENDES; CARVALHO, 2017, p. 16) Assim como o cenário internacional, em que se observa a repressão e a elaboração de leis voltadas ao combate das infrações à ordem econômica, para proteção da concorrência, no Brasil também se observa a busca pela ética do mercado nacional. Para uma quebra de paradigma definitivo em relação ao combate à corrupção, é necessário que os agentes privados se adaptem à nova realidade de organização judicial e econômica, sob pena de se sujeitarem a elevadas multas pecuniárias e punições administrativas, cumulativamente às penas de prisão (MENDES; CARVALHO, 2017). O filme O Lobo de Wall Street conta a história de um corretor da bolsa de valores norte-americana que coloca a ética e a moral de lado para se dar bem. O objetivo do filme, baseado em fatos reais, é refletir sobre até que ponto o indivíduo pode chegar para realizar seus desejos, em detrimento das demais pessoas. Direção: Martin Scorsese. EUA: Red Granite Pictures; Appian Way Productions; Sikelia Productions; Emjag Productions, 2013. Filme garagestock/Shutterstock As organizações no contexto atual 31 A gestão empresarial exige seriedade daqueles que a exercem, pois de outra maneira estão colocando a empresa e a própria carreira em xeque. A ética não está somente nas relações econômicas, mas também no convívio diário com todos aqueles com que a empresa se relaciona. O artigo A reputação do gestor influencia o desempenho empresarial?, de Ana Maia et al., publicado em 2018 na Revista de Administração FACES Journal, apresenta um maior aprofundamento sobre a relação entre a reputação de líderes e o desempenho sob quatro dimensões (inovadora, internacional, operacional e de mercado) nas companhias abertas brasileiras. Acesso em: 28 ago. 2020. http://www.fumec.br/revistas/facesp/article/view/5897/3271 Artigo CONSIDERAÇÕES FINAIS A atenção ao ambiente geral (externo e interno) precisa ser uma cons- tante na rotina dos gestores empresariais, uma vez que o menor descuido pode levar a estratégias equivocadas, comprometendo o desempenho e a perpetuidade da organização. Observar, encontrar e interpretar as informações ambientais é uma ta- refa árdua e complexa, assim como o próprio ambiente. Por isso, se exige grande capacidade intelectual e vigor físico do gestor, pois ele terá que se dedicar a várias horas de imersão em um conteúdo denso de dados, que vão desde números a informações subjetivas, quando se analisa aspectos qualitativos. Essa complexidade que há na análise do ambiente se dá, primeira- mente, pela dificuldade em se encontrar variáveis e determinar quais de fato possam representar ameaças ou oportunidades para a empresa. Posteriormente, a dificuldade aumenta, uma vez que se torna necessário estabelecer uma conexão entre tais variáveis e os objetivos organizacio- nais, decorrendo daí a formulação das estratégias para alcançá-los. Quando o gestor consegue interpretar os dados, determinar variáveis e posicionar a empresa estrategicamente ao alcance de suas metas e objetivos, ele estará sendo eficiente, mas se alcança os resultados propostos, terá sido eficaz. Infere-se, portanto, que conhecer o ambiente (externo e interno), saber interpretá-lo e formular estratégias que levem a empresa ao sucesso determinam o perfil de um gestor competente no desempenho de suas funções. http://www.fumec.br/revistas/facesp/article/view/5897/3271 32 Gestão Empresarial Essa condição fará com que o gestor seja reconhecido pela empre- sa e pelo mercado. Todavia, se qualquer um dos resultados obtidos for feito por meio de métodos ilícitos ou antiéticos, esse mesmo gestor que chegou ao topo de suas realizações amargará o esquecimento que o mer- cado impõe aos desonestos, já que nenhuma empresa quer vincular sua imagem a pessoas dessa natureza. Isto posto, finalizamos nosso primeiro capítulo. Reforço que o conteú- do não esgota o assunto, muito pelo contrário, é apenas o começo de vários outros que fazem parte do dia a dia de todo gestor. Portanto, re- comendamos que você leia os artigos indicados e assista aos vídeos pro- postos, pois eles o auxiliarão no aprofundamento do conteúdo e darão subsídios para que você faça outras pesquisas sobre os assuntos aborda- dos e dessa maneira aumente seu cabedal de conhecimentos. ATIVIDADES 1. A eficiência competitiva e a excelência empresarial consideradas dentro de um cenário de uma economia globalizada tornam-se cada vez mais difíceis de serem atingidas em decorrência do crescente número de negócios realizados entre empresas de diferentes países. Por quê? Considere a concorrência em mercados globalizados para responder à atividade. 2. Talvez a grande diferença entre recurso tangível e intangível seja sua fonte de obtenção. Um recurso tangível pode ser adquirido, comprado ou conquistado, basta estar disponível, enquanto o intangível é intrínseco ao capital humano. Reflita sobre essa frase e responda: o que os líderes de negócios globais pensam em relação ao conhecimento e ao capital humano? 3. As organizações quando agem com desonestidadeou se envolvem em casos de corrupção são punidas com consequências danosas à sua reputação e à sua saúde financeira, o que impacta todos com quem ela se relaciona. Para evitar prejuízos dessa natureza, o mercado tem observado que as empresas vêm adotando uma postura que demonstre credibilidade e aderindo a programas de compliance. Quais fatores estimulam os programas de compliance? As organizações no contexto atual 33 REFERÊNCIAS COULSON-THOMAS, C. Competences of an effective director. Industrial and commercial training, v. 41, n. 1, p. 27-35, 2009. DICIO. Dicionário Online de Português. 2020. Disponível em: https://www.dicio.com.br. Acesso em: 31 ago. 2020. FERNANDES, C. A.; OLIVA, E. C.; KUBO, E. K. M. Características individuais relevantes ao conselheiro de administração independente. Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 43, p. 120-135, abr./jun. 2020. FIGUEIRA, A. R.; MELLO, R. C (org.). Relações econômicas internacionais: perspectivas brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. GASSENFERTH, W.; MACHADO, M. A. S.; KRAUSE, W. Gestão empresarial em gotas: agite depois de ler. São Paulo: Cengage Learning, 2012. HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração estratégica: competitividade e globalização. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. MATOS, F. G. Ética na gestão empresarial: da conscientização à ação. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. MENDES, F. S.; CARVALHO, V. M. Compliance: concorrência e combate à corrupção. São Paulo: Trevisan, 2017. OLIVEIRA, D. P. R. Administração estratégica na prática: a competitividade para administrar o futuro das empresas. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2013. PORTER, E. M. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 34 Gestão Empresarial 2 Ações estratégicas no contexto organizacional Na primeira seção deste capítulo veremos o que são e quais são as estratégias competitivas que auxiliam a definir o modo como uma empresa irá competir no mercado. É importante destacarmos que essas estratégias delineiam as políticas a serem adotadas pela empresa, a fim de possibilitar que as metas e os objetivos organi- zacionais sejam atingidos. Já na segunda seção abordaremos o planejamento estratégico, que representa o plano global da empresa. Nele estão definidas quais estratégias são necessárias e como serão implementadas por cada departamento e setor para que a organização obtenha vantagem competitiva. Na terceira seção trataremos da construção ou planejamento de cenários. Esse assunto, assim como os demais, é de extrema relevância ao gestor, pois permite uma visão do contexto merca- dológico futuro. Isso ajuda a projetar eventos e tendências que poderão de alguma maneira impactar o desempenho da empresa dentro de uma conjuntura específica. Na quarta e última seção discutiremos a tomada de decisão es- tratégica. Responsabilidade única do gestor, ela exige do profissional conhecimentos, habilidades e atitudes que lhe deem condições de analisar e decidir sempre de acordo com as necessidades da empre- sa, buscando reduzir riscos e aumentar o lucro líquido. Go ld en S ik or ka /S hu tte rs to ck Ações estratégicas no contexto organizacional 35 Na primeira seção deste capítulo veremos o que são e quais são as estratégias competitivas que auxiliam a definir o modo como uma empresa irá competir no mercado. É importante destacarmos que essas estratégias delineiam as políticas a serem adotadas pela empresa, a fim de possibilitar que as metas e os objetivos organi- zacionais sejam atingidos. Já na segunda seção abordaremos o planejamento estratégico, que representa o plano global da empresa. Nele estão definidas quais estratégias são necessárias e como serão implementadas por cada departamento e setor para que a organização obtenha vantagem competitiva. Na terceira seção trataremos da construção ou planejamento de cenários. Esse assunto, assim como os demais, é de extrema relevância ao gestor, pois permite uma visão do contexto merca- dológico futuro. Isso ajuda a projetar eventos e tendências que poderão de alguma maneira impactar o desempenho da empresa dentro de uma conjuntura específica. Na quarta e última seção discutiremos a tomada de decisão es- tratégica. Responsabilidade única do gestor, ela exige do profissional conhecimentos, habilidades e atitudes que lhe deem condições de analisar e decidir sempre de acordo com as necessidades da empre- sa, buscando reduzir riscos e aumentar o lucro líquido. Go ld en S ik or ka /S hu tte rs to ck 2.1 Estratégias competitivas Vídeo Agora que veremos as estratégias competitivas, precisamos primeiro lem- brar que toda estratégia deve ser pla- nejada com base nas informações que obtemos do ambiente e que devemos colocar toda a nossa energia e coragem para sua implementação, sem praticar desvios éticos e morais contra quem quer que seja. Feitas as considerações iniciais, vamos começar conceituando a estraté- gia competitiva. Segundo Porter (2004), estratégia competitiva é um procedimento amplo que determinará o modo como uma empresa irá competir no mercado em que opera, definindo em seu escopo as políticas a serem adotadas para que as metas sejam atingidas. De outro modo, podemos dizer que é uma combinação da meta com as políticas operacionais para alcançar o resultado desejado. A Figura 1 aborda a roda da estratégia competitiva, que consiste em um método clássico para a formulação de estratégias. Figura 1 Roda da estratégia competitiva Fonte: Porter, 2004, p. 26. METAS MERCADO- -ALVO MARKETING VENDAS DISTRIBUIÇÃO FABRICAÇÃOMÃO DE OBRA COMPRAS FINANÇAS E CONTROLES LINHA DE PRODUTOS PESQUISA E DESENVOLVI- MENTO Definição do modo como a empresa irá competir Objetivos para o crescimento da rentabilidade, parcela e mercado, resposta social etc. 36 Gestão Empresarial De acordo com Porter (2004), essa roda tem como objetivo arti- cular os aspectos básicos da estratégia competitiva de uma empresa com base na definição geral de como ela deseja competir e de seus objetivos gerais. Os elementos que orbitam esse esquema represen- tam o conjunto de ações operacionais que faz parte da estrutura da instituição e que a auxiliará a atingir suas metas. Cada área funcional (fabricação, mão de obra, compras, pesquisa e desenvolvimento, finanças etc.) deve ser orientada pelas políticas ope- racionais de maneira clara e objetiva, a fim de que todas contribuam com o objetivo global da empresa (PORTER, 2004). Como exemplo de política operacional temos a padronização, que é a adoção sistemática de medidas específicas com o objetivo de uniformizar um processo ou a produção de determinado item. É uma estratégia que adota a qualidade como uma ferramenta para a criação de valor. Quando todos (gestão e operacional) entendem e buscam o que a empresa determina como padronização para seus processos e produ- tos, tendo como objetivo chegar à qualidade, a organização consegue levar sua estratégia adiante. A intenção é fazer com que o cliente perce- ba no produto ou serviço adquirido a qualidade como um valor. Resumindo, as políticas operacionais são diretrizes que coordenam as pessoas e as atividades e que orientam as decisões para que a em- presa realize suas estratégias. Observe que as ações operacionais coordenadas estão ligadas dire- tamente à gestão, a qual tem por obrigação planejar, executar e super- visionar de modo que todas as diretrizes traçadas sejam obedecidas e implementadas, sempre com foco na estratégia global da empresa. Após essa breve explicação das políticas ou ações operacionais e de como elas se relacionam com as metas e os objetivos, passaremos aos tipos de estratégias competitivas. Mesmo que individualmente cada estratégia compe- titiva tenha uma configuração e um objetivo em particular, o objetivo geral de todas é alcançar o aumento do lucro e da participação no mercado, ou marketshare. Leremy/Shutterstoc k Ações estratégicas no contexto organizacional 37 Em primeiro lugar, a escolha de uma estratégia competitiva precisa responder a duas questões importantes (OLIVEIRA, 2018): Qual é o destino que se quer dar à empresa? Como esse destino deve ser estabelecido? Vjom /Shutter stock Com base nas respostas a essas questões devemos fazer uma análi- se profunda do que a empresa está realizando no momento e entender o que está acontecendo no ambiente para depois estabelecer a estra- tégia (PORTER, 2004). Feito isso, o empresário e os gestores do negócio podem definir algumas estratégias competitivas. Vamos iniciar pela escolha de uma estratégia para a competição no mercado. Veja, ela deve ser selecionada quando a empresa precisa estabelecer a melhor direção a ser seguida, visando otimizar o grau de interação com os fatores externos e atuar de maneira inovadora e diferenciada (OLIVEIRA, 2018). Ao optar por uma estratégia, uma orga- nização está definindo de modo diferente de seus concorrentes quais ações e práticas deverá adotar para melhorar o seu desempenho e criar valor aos stakeholders a longo prazo. Quando propõe uma estratégia, a empresa deve compartilhar a sua missão estratégica e especificar quais ações devem ser realizadas para que as metas e os objetivos sejam alcançados (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). O vídeo Estratégia Competitiva traz Michael Porter demonstrando as diferentes estratégias competitivas e como elas auxiliam a empresa na conquista de mercado. Disponível em: https://youtu.be/ SKROW1BxpUA. Acesso em: 9 out. 2020. Vídeo https://youtu.be/SKROW1BxpUA https://youtu.be/SKROW1BxpUA 38 Gestão Empresarial Porter (2004) destaca três estratégias competitivas como possíveis de dar às empresas vantagem competitiva: Liderança em custos: é aquela em que a empresa faz o seu custo total ser inferior ao dos seus concorrentes (PORTER, 2004). A proposta dessa estratégia é fazer com que a empresa obtenha vantagem sustentável em termos de custo sobre os competidores. Garantindo a redução de custos a longo prazo, consegue praticar um preço mais baixo que seus concorrentes. Essa é uma estratégia cara, pois exige grandes investimentos, principalmente em novas tecnologias, para reduzir os custos. Não se trata de apenas trocar a matéria-prima mais cara pela mais barata; essa estratégia requer uma reformulação de todo o processo produtivo, incluindo a compra de máquinas e equipamentos mais modernos e sofisticados. ro bu ar t/ Sh ut te rs to ck Estratégia de diferenciação: visa ofertar produtos e serviços que possuam atributos diferentes dos concorrentes e que sejam valorizados pelos consumidores, os quais estão dispostos a pagar um preço mais elevado (PORTER, 2004). Tem por objetivo diferenciar determinado produto ou serviço dos demais oferecidos no mercado. A proposta é romper o padrão e oferecer alto valor agregado ao cliente, de modo que os produtos ou serviços sejam importantes para ele. A atenção está nos custos, que não podem, por causa da proposta de diferenciação, tirar a competitividade do preço final de vendas. Mesmo que tenha um atributo diferenciado dos demais, é preciso que o produto ou serviço mantenha um preço aceitável pelos consumidores. Estratégia de enfoque: tem início na escolha do nicho no qual os compradores possuam preferências ou exigências únicas (PORTER, 2004). Essa estratégia tem como foco um nicho de mercado, ou seja, uma parcela de consumidores que possui necessidades específicas e que é pouco ou mal explorada pelas empresas; isso gera especialidade em certo perfil de comprador. A especialização, com o tempo, se tornará uma defesa contra concorrentes que procuram atender a diversos segmentos de maneira generalista, mas que, por não conhecerem em profundidade as necessidades e preferências de determinado nicho, não terão a mesma capacidade da empresa que adota a estratégia de enfoque. As três estratégias competitivas estudadas nesta seção não esgo- tam o assunto em si; pelo contrário, há muito mais a ser estudado, pois para se chegar a adotar qualquer uma delas é necessária uma análise detalhada e minuciosa dos ambientes externo e interno, bem como da apropriação e disponibilização de conhecimento e recursos para levá-las adiante. Se você já trabalha em uma empresa, responda, com base no conhecimento que tem dela, as duas questões apresentadas nesta seção utilizando o que aprendeu em suas experiências profissionais. Desafio Ações estratégicas no contexto organizacional 39 O artigo A diferenciação como estratégia porteriana: uma análise sobre o transporte de soja em contêiner, dos autores Gustavo Neves Goularte e Elvis Silveira-Martins, publicado na Revista Eletrônica Científica do CRA-PR em 2016, tem como principal objetivo analisar uma empresa por meio da estratégia de diferenciação. A leitura dará uma maior compreensão de como esse método pode contribuir para o crescimento organizacional. Acesso em: 9 out. 2020. http://recc.cra-pr.org.br/index.php/recc/article/view/49/59 Artigo 2.2 Elaboração de plano estratégico Vídeo Entendido o que são e para o que servem as estratégias competi- tivas, precisamos compreender o contexto do qual elas fazem parte. Não nos referimos ao contexto amplo, às variáveis ambientais e aos recursos organizacionais, mas ao planejamento estratégico. É dentro dele que as estratégias competitivas são pensadas e desenvolvidas. Para entender melhor esse assunto, veremos o que é o planejamento estratégico e qual é a sua utilidade para as empresas. Segundo Oliveira (2018), o planejamento estratégico deve aparecer no início do processo administrativo, uma vez que demanda do gestor as seguintes ações: or- ganização, direção e controle. Nesse sentido, pode ser definido como “uma metodologia administrativa que permite estabelecer a direção a ser seguida pela empresa, e que visa ao maior grau de interação com o am- biente, onde estão os fa- tores não controláveis da empresa” (OLIVEIRA, 2018, p. 73). Para a compreen- são da ideia global de um dado conceito é necessário analisarmos as suas partes individual- mente. Somente após isso é que podemos entender onde as estratégias competitivas estão localizadas e qual é o seu objetivo. Tashatuvango/Shutterstock http://recc.cra-pr.org.br/index.php/recc/article/view/49/59 40 Gestão Empresarial Logo no início o autor explica que o planejamento estratégico é um processo administrativo. Mas o que seria isso? Vamos nos apropriar da seguinte definição utilizada no direito para explicá-lo no campo da gestão: “um processo é um conjunto ou sequência de atividades interli- gadas, com começo, meio e fim” (MAXIMIANO, 2015, p. 406). Como vemos, o processo administrativo é um procedimento for- mal proposto pela alta administração, a qual, no caso das empresas, é a responsável pelo planejamento estratégico. Este é pensado em termos globais, ou seja, feito para que a instituição como um todo alcance um objetivo. Uma particularidade desse processo administrativo é a sua capaci- dade de proporcionar uma “metodologia administrativa que permite es- tabelecer a direção a ser seguida pela empresa” (OLIVEIRA, 2018, p. 73). Isso quer dizer que é apoiado por métodos científicos de coleta e aná- lise de dados, com os quais serão decididos os rumos que melhor se adaptam aos interesses da empresa e os que apresentam o menor risco. A coleta e a análise de dados visam melhorar a interação com os fatores que compõem o ambiente externo, sempre posicionando a em- presa para que atue com inovação e se diferencie de seus concorrentes. Em resumo, a alta administração define um plano estratégico a lon- go prazo que coloque a empresa à frente dos adversários. Simples, não acha? Só que não! Um plano elaborado com base em premissas fal- sas ou dados mal interpretados implicará a escolha de uma estratégia errada ou incapaz de atingir os resultados esperados. Isso trará conse- quênciasdanosas à empresa e à economia, pois poderá gerar a perda de dezenas de empregos. Portanto, o planejamento estratégico, além de demandar uma vasta gama de informações, requer competência de estrategista do gestor, para que este tenha a capacidade de determinar e conduzir da melhor maneira as estratégias organizacionais por meio de uma ação integrada e interdependente, que dará condições para que as metas e os objetivos sejam alcançados, conforme verificamos na Figura 2. O planejamento estratégico é normalmente de responsabi- lidade dos níveis mais altos da empresa e diz respeito tanto à formulação de objetivos quanto à seleção dos cursos de ação (estratégias) a serem seguidos para a sua consolidação, levando em conta as condições externas e internas à empresa e a evolu- ção esperada (OLIVEIRA, 2018). Saiba mais Ações estratégicas no contexto organizacional 41 Figura 2 Planejamento estratégico, tático e operacional Fonte: Adaptada de Chiavenato, 2020, p. 47. Planejamento estratégico Abrange toda a organização Características • Projetado para longo prazo. • Envolve a organização como um todo. • Tem conteúdo genérico. • É definido pela cúpula da organização. Planejamento tático Abrange cada departamento ou unidade da organização Características • Projetado para médio prazo. • Envolve cada departamento. • É menos genérico e mais detalhado. • É definido em nível intermediário. Planejamento operacional Abrange cada tarefa ou atividade específica Características • Projetado para curto prazo. • É detalhado, específico e analítico. • É definido no nível operacional. De acordo com a figura anterior, o planejamento estratégico pro- posto pela alta gestão vai orientar as ações dos gerentes dos departa- mentos que estão em nível tático, os quais, por sua vez, irão orientar as ações do departamento operacional. Para facilitar a compreensão, na Figura 3 os níveis de planejamento são correlacionados aos níveis de de- cisão organizacional. Figura 3 Níveis de planejamento organizacional Fonte: Adaptada de Oliveira, 2018, p. 15. NÍVEL ESTRATÉGICO NÍVEL OPERACIONAL NÍVEL TÁTICO Decisões estratégicas Decisões táticas Decisões operacionais Planejamento estratégico Planejamento tático Planejamento operacional 42 Gestão Empresarial Dessa forma, o planejamento estratégico define as estratégias glo- bais que serão implementadas pelos gerentes do nível tático, com o objetivo de providenciar e disponibilizar os recursos necessários para que os encarregados do nível operacional executem e supervisionem as estratégias operacionais. Assim como no planejamento estratégico, é necessário que você co- nheça os conceitos de planejamento tático e operacional. O planejamento tático também representa um método administra- tivo cuja finalidade é otimizar determinado departamento. Para cada de- partamento há estratégias, políticas e objetivos próprios estabelecidos no planejamento estratégico. Quanto ao planejamento operacional, nele concentram-se o desenvolvimento e a implementação das estraté- gias operacionais definidos por meio de um processo formal e orienta- dos por métodos que possibilitem o alcance dos resultados pertinentes a cada área funcional (OLIVEIRA, 2018). O planejamento operacional de cada área funcional deve conter os “recursos necessários para seu desenvolvimento e implantação, os procedimentos básicos a serem adotados; os resultados esperados, os prazos estabelecidos; e os responsáveis por sua execução e implanta- ção” (OLIVEIRA, 2018, p. 15). Como percebemos, sem um planejamento estratégico adequado e ali- nhado com as necessidades da empresa não é possível determinar, em termos de recursos, viabilidade e objetivos a serem alcançados, qual estra- tégia competitiva devemos adotar. Portanto, tendo isso em mente, elabo- re sua execução para que tudo saia de acordo com o planejado. O artigo Os Desafios de Criar Vantagens Competitivas Sustentáveis em Grandes Corporações Multidivisionais B2B, de Isis Koelle et al., publicado na Revista de Administração da UFSM em 2019, tem como principal objetivo analisar dois grandes desafios que as corporações multidivisionais B2B enfrentam diaria- mente para tirar proveito de sua estratégia corporativa e garantir vantagens competitivas sustentáveis. A leitura dará maior compreensão de como são utilizadas as estratégias de competição para alcançar a vantagem. Acesso em: 9 out . 2020. http://www.spell.org.br/documentos/ver/56619/ os-desafios-de-criar-vantagens-competitivas-sustentaveis-em-grandes-corporacoes-multidivisionais-b2b Artigo O planejamento estratégico está vinculado à administração estratégica, e isso requer de todo gestor um “conjunto completo de compromissos, decisões, e ações necessárias para que a empresa obtenha vantagem competitiva e retornos acima da média” (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013, p. 6). Para refletir O filme Tróia mostra como vencer as barreiras do inimigo (concorrente) e conquistar as terras dele (mercado). Direção: Wolfgang Petersen. EUA: Plan B Entertainment, 2004. Filme Identifique e detalhe ao máximo o planejamento estratégico da sua empresa – se fizer parte de uma. Faça o mesmo com os pla- nejamentos tático e operacional. Ao final, elabore um relatório com os possíveis erros e acertos e quais suas consequências a longo prazo. Desafio 2.3 Construção de cenários Vídeo Agora que já sabemos o que são estratégias competitivas e de que maneira o planejamento pode auxiliar na formulação e execução das mais adequadas aos objetivos organizacionais, vamos abordar a cons- trução ou planejamento de cenários. Devemos começar entendendo o que é cenário dentro do contexto mercadológico. Segundo o Di- cionário Online de Português (DICIO, 2020), pode ser a “conjuntura; os fatos ou situações que acontecem num dado momento”. Pensando em termos de mer- cado, o cenário é formado por eventos e tendências que ocorrem no ambiente geral, competitivo e de negócios. Assim, quando tratamos de construção ou plane- jamento de cenários, estamos projetando uma pos- sível conjuntura, na qual podem ocorrer eventos e tendências (econômicas, políticas, sociais e ambientais) que represen- tam ameaças ou oportunidades para as empresas. O planejamento de cenários é uma parte do planejamento es- tratégico que combina ferramentas e tecnologias para administrar as incertezas do futuro, ou seja, são modelos para antecipar a vida real (RINGLAND, 2006). No que se refere à gestão empresarial, é preciso que o gestor consi- dere a turbulência ambiental como um fator de extrema importância para a sobrevivência do negócio. As turbulências e inconstâncias que ocorrem no ambiente geral – por exemplo, alta variação cambial, au- mento da inflação, juros excessivos, decisões políticas, leis, movimen- tos sociais, disruptura de mercado, novas tecnologias etc. – tornam o planejamento de cenários uma ferramenta eficaz para o processo decisório estratégico. Para que o planejamento de cenários seja eficaz, é necessária a co- laboração de todos os gestores de alto escalão com ideias, informa- ções e prognósticos de como as interações entre tendências e eventos impactarão o futuro da empresa. Jirapong Manustrong/Shutterstock http://www.spell.org.br/documentos/ver/56619/os-desafios-de-criar-vantagens-competitivas-sustentaveis-em-grandes-corporacoes-multidivisionais-b2b http://www.spell.org.br/documentos/ver/56619/os-desafios-de-criar-vantagens-competitivas-sustentaveis-em-grandes-corporacoes-multidivisionais-b2b Ações estratégicas no contexto organizacional 43 2.3 Construção de cenários Vídeo Agora que já sabemos o que são estratégias competitivas e de que maneira o planejamento pode auxiliar na formulação e execução das mais adequadas aos objetivos organizacionais, vamos abordar a cons- trução ou planejamento de cenários. Devemos começar entendendo o que é cenário dentro do contexto mercadológico. Segundo o Di- cionário Online de Português (DICIO, 2020), pode sera “conjuntura; os fatos ou situações que acontecem num dado momento”. Pensando em termos de mer- cado, o cenário é formado por eventos e tendências que ocorrem no ambiente geral, competitivo e de negócios. Assim, quando tratamos de construção ou plane- jamento de cenários, estamos projetando uma pos- sível conjuntura, na qual podem ocorrer eventos e tendências (econômicas, políticas, sociais e ambientais) que represen- tam ameaças ou oportunidades para as empresas. O planejamento de cenários é uma parte do planejamento es- tratégico que combina ferramentas e tecnologias para administrar as incertezas do futuro, ou seja, são modelos para antecipar a vida real (RINGLAND, 2006). No que se refere à gestão empresarial, é preciso que o gestor consi- dere a turbulência ambiental como um fator de extrema importância para a sobrevivência do negócio. As turbulências e inconstâncias que ocorrem no ambiente geral – por exemplo, alta variação cambial, au- mento da inflação, juros excessivos, decisões políticas, leis, movimen- tos sociais, disruptura de mercado, novas tecnologias etc. – tornam o planejamento de cenários uma ferramenta eficaz para o processo decisório estratégico. Para que o planejamento de cenários seja eficaz, é necessária a co- laboração de todos os gestores de alto escalão com ideias, informa- ções e prognósticos de como as interações entre tendências e eventos impactarão o futuro da empresa. Jirapong Manustrong/Shutterstock 44 Gestão Empresarial A participação do corpo executivo ajuda a despertar a consciência e a fazer com que todos os colaboradores se engajem no cumprimento das metas e dos objetivos estabelecidos pelo planejamento estratégi- co. Isso possibilita o esclarecimento dos cenários possíveis e de quais dificuldades a empresa terá que lidar, indicando sua capacidade de in- terpretação e seu tempo de reação (OLIVEIRA, 2018). Não esqueça que o planejamento de cenários se caracteriza como um processo de análises estruturadas das tendências e dos eventos passados e presentes que compõem uma dada conjuntura e levam a proposições futuras, com as quais a empresa terá que lidar. O planejamento de cenários, segundo Oliveira (2018), poderá indicar: Um cenário provável, que decorre da certeza de que determinadas condições ocorrerão dentro de um período previsto. Essa projeção emerge das análises realizadas. Em um ambiente provável, os gestores reduzirão os riscos na tomada de decisão, pois conhecem de antemão as adversidades que terão que enfrentar e, portanto, podem formular estratégias eficazes. Um cenário menos provável, que tem remota possibilidade de ocorrer, todavia não deve ser descartado. Dessa maneira, estratégias para essa situação devem ser pensadas para que os gestores não sejam pegos de surpresa. Um cenário alternativo, em que as análises das informações, aliadas à experiência dos gestores e ao conhecimento do negócio e do segmento em que a empresa atua, precisam ser delineadas. Esse cenário alternativo surgirá caso as premissas dos anteriores não se concretizem totalmente. Ainda de acordo com Oliveira (2018), os cenários também podem ter uma classificação subjetiva: • Cenário otimista: as informações projetam um futuro tranquilo, em que nada sairá diferente para os negócios. • Cenário pessimista: as informações colocam a empresa em si- tuação extremamente difícil perante o mercado. • Cenário mais provável: apesar das variáveis que dificultam os negócios, as estratégias para enfrentar a crise serão promissoras. Vejamos um exemplo de cenário alternativo em que uma situação improvável desconstrói as estratégias competitivas: Ações estratégicas no contexto organizacional 45 Estudo de caso A PepsiCo [...] decidiu recolher do mercado dos Estados Unidos o salgadinho SunChips, vendido em uma embalagem 100% biodegradável, depois de inúme- ros consumidores americanos terem reclamado que ela fazia muito barulho. [...] Dezenas de americanos postaram vídeos no YouTube com críticas à poluição so- nora da embalagem. [...] A onda de protestos gerou uma reportagem na primeira página do jornal “The Wall Street Journal” [...] A PepsiCo decidiu tirar quatro das cinco versões do salgadinho do mercado americano. Manteve uma porque se diz comprometida com a questão ambiental. Mas as vendas, segundo informações da AP, também não eram nada favoráveis à empresa. (ZANETTI, 2011) Observe as informações e faça a seguinte análise: Para inovar, a PepsiCo resolveu ir ao encontro de uma tendência mundial, que são as ações de preservação ambiental. Com base nisso, a empresa previu um cenário favo- rável, em que, além de atender ao gosto de seu cliente, venderia a imagem da marca PepsiCo como uma empresa que tem comprometimento com a preservação do meio ambiente ao adotar uma embalagem 100% biodegradável. Produto com boa comercialização + Embalagem 100% biodegradável = Excelente negócio para a empresa Tudo bem até aqui! Mas o inesperado aconteceu: diversos consumidores americanos reclamaram que a embalagem fazia muito barulho; houve uma onda de críticas de consumidores, polui- ção sonora da embalagem e protestos que geraram uma reportagem. O resultado foi a retirada das cinco versões do salgadinho do mercado americano. Nesse caso, vemos um cenário alternativo, no qual a imprevisibili- dade levou a PepsiCo a abandonar sua estratégia de unir seu produto a uma ação que agregasse valor à sua imagem. Segundo Oliveira (2018), a elaboração dos cenários pode ter como fundamentação: • o pensamento estratégico com a idealização de situações futuras possíveis que não necessariamente tenham alguma interligação com o presente e o passado; • o estabelecimento de uma base de dados socioeconômicos e da infraestrutura; • debates com o setor empresarial e estreita interação com a co- munidade técnico-científica; • uma abordagem sistemática e multidisciplinar; Quais outras considerações você pode fazer a respeito do case da PepsiCo? Reflita e pesquise o assunto a fim de se aprofundar no conteúdo. Desafio 46 Gestão Empresarial • uma metodologia estruturada e especialmente desenvolvida para o debate e estabelecimento de cenários. A construção de cenários, ainda de acordo com o autor, pode ser conduzida com base em duas perspectivas: Abordagem projetiva Restrita a fatores e variáveis quantitativas, procura explicar o futuro com base no passado, considerando um futuro único e certo. Ela tem se mostrado insuficiente para direcionar a ação da empresa no futuro. Abordagem prospectiva Leva em consideração as estratégias praticadas no presente e considera a visão global, as variações qualitativas e quantitativas e a subjetividade de opiniões e pensamentos. Ela contempla um futuro múltiplo e incerto e informações analisadas por métodos do tipo da análise estrutural. Al ek sa nd r B ry lia ev /S hu tte rs to ck O planejamento de cenários requer ferramentas para a sua cons- trução. De maneira geral, elas buscam informações com relação ao ambiente externo e interno, com o intuito de compreender como os aspectos negativos estão afetando a estrutura e impactando a estra- tégia e o desempenho organizacional. Os resultados das análises pro- piciam o reposicionamento estratégico da empresa, recuperando sua competitividade. Algumas ferramentas são: análise de tendência de impacto, análise do impacto cruzado, Delphi, Battelle, Schoemaker e matriz SWOT. Esta última é uma das mais comuns e utilizadas pelas empresas. Por isso, para nosso estudo, vamos abordar a matriz SWOT com análise cruzada como exemplo para definir estratégias em cenários futuros. Mas antes vamos conhecer o conceito de matriz SWOT e seu objetivo no que diz respeito a seu aspecto mais usual. Trata-se de uma ferramenta de avaliação estratégica empregada na análise da competitividade de uma organização de acordo com quatro variáveis: Ações estratégicas no contexto organizacional 47 Ba lo da nn /S hu tte rs to ck Análise SWOTForças Oportunidades Ameaças Fraquezas Com essas quatro variáveis é possível relacionar as oportunidades e ameaças presentes no ambiente externo com as forças e fraquezas localizadas no ambiente interno da organização. De maneira geral, a matriz SWOT é utilizada para planejar cenários ou analisar o ambiente, auxiliando a gestão a posicionar estrategicamente a empresa. Quanto à matriz SWOT cruzada, ela permite criar estratégias com base nas seguintes possibilidades de cruzamento: Quadro 1 Possíveis estratégias da matriz SWOT cruzada Mercado Oportunidades Ameaças Em pr es a Po nt os fo rt es Estratégia ofensiva Primeiro, verificamos se foram identificados pontos fortes na análise do ambiente interno. Se sim, são selecionados e cruzados com as oportunidades encontradas na análise do ambiente externo. Com essa estratégia, a empresa tira vantagem das forças que possui e que darão potencial ofensivo. Nesse sentido, devemos desenvolver uma estratégia que possibilite o melhor aproveitamento da situação, o que caracteriza uma estratégia de crescimento. Estratégia de confronto Ocorre quando a empresa utiliza seus pontos fortes para vencer as ameaças que colocam suas estratégias e sua sobrevivência em risco. Os pontos fortes preci- sam estar sempre disponíveis e consolidados; ter uma força é poder contar com ela a qualquer momento e na quantidade necessária. Quando esses pontos são comparados com as ameaças, é fácil entender como as forças poderão influenciar a redução das ameaças, gerando a capacidade de defesa. Po nt os fr ac os Estratégia de reforço Surge quando identificamos os pontos fracos e os cruzamos com as oportunidades de crescimento presentes no mercado. Vale ressaltar que estratégia significa diminuir as causas de uma fraqueza para aumentar a chance de aproveitar uma oportunida- de. A fraqueza precisa ser eliminada ou reduzida de maneira que não interfira no crescimento da empresa. Estratégia de defesa Há a confrontação dos pontos fracos com as ameaças. Trata-se de um cenário complexo, pois as ameaças, apesar de conhecidas, podem conter variáveis que, se não identificadas e mensuradas adequadamente, comprometem ou neutralizam todas as estratégias de defesa. O objetivo principal dessa estratégia é diminuir os impactos negativos e as perdas causadas quando a organização sofre ameaças e está fraca para combatê-las. Fonte: Elaborado pelo autor. 48 Gestão Empresarial Aqui finalizamos mais uma seção. Esperamos que tenha ficado clara a necessidade da construção de cenários para que a empresa possa sempre ter como reagir às contingências ambientais sem perder a sua competitividade. Lembre-se de que o gestor eficaz é aquele que sem- pre se adianta aos fatos e busca soluções estratégicas eficientes a lon- go prazo para que a empresa obtenha vantagem competitiva. O artigo Construção de cenários: apreciação de métodos mais utilizados na administração estratégica, de Daniel de Carvalho et al., apresentado no EnANPAD, XXXV Encontro da ANPAD, em 2011, tem como objetivo trabalhar a importância da construção de cenários para o processo de administração estratégica. A leitura auxiliará na melhor compreensão da responsabilidade de se construir cenários e de como utilizar as ferramen- tas necessárias para esse fim. Acesso em: 9 out. 2020. http://www.anpad.org.br/diversos/down_zips/58/ESO1387.pdf Artigo 2.4 Tomada de decisão estratégica Vídeo Agora vamos abordar uma questão vital e comum a todos os temas tratados anteriormente: a tomada de decisão estratégica. É uma com- petência necessária a todo gestor e envolve o saber decidir. Você deve estar pensando que isso é óbvio, mas será que você tem essa compe- tência? Alguma vez já tomou alguma decisão errada? Quais foram os resultados? Para muitas pessoas saber decidir é uma tarefa muito difícil, mesmo que o resultado atinja somente suas próprias vidas. Quando falamos de tomada de decisão estratégica a nível organizacional, em que várias vidas estão em jogo, inclusive a da própria em- presa, a dificuldade aumenta exponencialmente. A tomada de decisão estratégica exige no perfil do gestor experiência profissional e aspectos cognitivos e comportamentais que lhe deem condições de analisar informações e mobilizar seu conhecimento na forma de prática profissional, demonstrando sua competên- cia em decidir (CHARAN, 2007; LE BOTERF, 2016). Saber liderar e conhecer as forças e fraquezas do inimigo e do ambiente são os ensinamentos que o documentário A Arte da Guerra deixa aos gestores de alto escalão. Disponível em: https://youtu.be/ olP0XcCt1-A. Acesso em: 9 out. 2020. Vídeo Resumo Estratégia competitiva: combinação da meta, que representa o resultado a ser atingido, com as políticas, que são os meios pelos quais a empresa está buscando alcançar o resultado desejado. Planejamento estratégico: processo administrativo que proporciona a sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida pela empresa. Tem por objetivo otimizar o grau de interação com os fatores externos (não controláveis) e atuar de maneira inovadora e diferenciada. Planejamento de cenários: parte do planejamento estraté- gico que combina ferramentas e tecnologias para administrar as incertezas do futuro. Ou seja, são modelos para antecipar a vida real. http://www.anpad.org.br/diversos/down_zips/58/ESO1387.pdf https://youtu.be/olP0XcCt1-A https://youtu.be/olP0XcCt1-A Ações estratégicas no contexto organizacional 49 Portanto, um gestor será reconhecido como com- petente se for capaz de tomar decisões oportunas e relevantes diante de cenários complexos, demons- trando a capacidade de combinar e pôr em prática recursos necessários e adequados em contextos es- pecíficos (LE BOTERF, 2016). É importante que a tomada de decisão estratégica esteja vinculada ao controle total dos parâmetros que determinam a abrangência das estratégias e as ações para a consecução das metas e dos objetivos organiza- cionais (OLIVEIRA, 2018). Observe que esse processo consiste em uma série de considerações relacionadas a múltiplos aspectos individuais e am- bientais que estão ligados aos conhecimentos e comportamentos do tomador de decisão e aos ambientes geral, competitivo e operacional. No decorrer da tomada de decisão precisam ser observadas as reais necessidades da empresa. Elas irão balizar as análises e avaliações de in- formações relevantes e que se apresentam como capazes de resolver con- flitos e buscar a integração entre decisões estratégicas e planos táticos, dando velocidade ao processo (EISENHARDT, 1989). É importante que o gestor saiba que há um conjunto de possibi- lidades que pode auxiliar na tomada de decisão estratégica, sem se descuidar de utilizá-lo de maneira adequada (Quadro 2). Quadro 2 Tipos de tomada de decisão Tipo de tomada de decisão Características e recomendações para a utilização Precaução Autores Analogia É a comparação entre um problema-fonte (passado) e um problema-alvo (presente). Ocorre por meio da utilização de conheci- mentos derivados de experiências passa- das e da construção de modelos mentais. Permite a combinação das escolhas estra- tégicas com a compreensão do ambiente de negócios. A resolução da tomada de decisão por analogia só é possível depois que os tomadores de decisão adquiriram conhecimento suficiente e abrangente do problema anterior. Uma percepção simplista ou incorreta de novos problemas pode enganar os tomadores de decisão, pois a transferência da experiência passada para outra envolve a compa- ração entre relações es- truturais iguais, mas com características superficiais diferentes. Gary, Wood e Pillinger (2012). (Continua) Nomad_Soul/Shutterstock 50 Gestão Empresarial Tipo de tomada de decisão Características e recomendações para a utilização Precaução Autores Confiança É adquirida com base em conhecimentos e experiências passadas. Equipes que possuem convicção nas decisõessão capazes de tomar decisões estratégicas rápidas e de alta qualidade. O excesso de confian- ça em determinadas posições coloca em risco as decisões, especial- mente em ambientes em mudança. Equipes com excesso de confiança são vítimas de arrogância. Clark e Maggitti (2012). Intuição É o processo mental que produz uma percepção ou um julgamento que pode orientar a tomada de decisões. Os antecedentes da intuição e seus resul- tados combinam: - fatores como a incerteza; - antecedentes com base na empresa e relacionados às variáveis de performance e tamanho; - impacto moderador. Está associada à hostilidade e incerteza ambiental. Controla a possível influência da racionalidade que vem da leitura das diversas variáveis ambientais. O uso da intuição somen- te pode ser feito para complementar lacunas na análise racional decorrentes da incerteza e da falta de informações relevantes no momento da tomada de decisão. Elbanna, Child e Dayan (2013). Análise das informa- ções e diálogo As análises das informações devem ser realizadas com maior riqueza e deta- lhamento de dados, incluindo a análise e o planejamento de cenários conside- rando todos os resultados possíveis e a utilização de técnicas para modelar e prever os resultados esperados. O diálogo desinteressado é uma construção neces- sária para que os gestores discutam e expliquem a efetividade das decisões es- tratégicas. A discussão ocorre de maneira articulada com suposições subjacentes com relação às previsões de uma decisão a ser tomada, debatendo pontos positivos e negativos e as incertezas dos dados coletados. Informações superficiais e insuficientes e falta de diálogo podem prejudicar a tomada de decisão. Garbuio, Lovallo e Sibony (2015). Fonte: Elaborado pelo autor. Conforme observamos, há quatro possibilidades que podem auxi- liar o gesto. Todavia, não podemos tomá-las como verdades absolutas, acreditando que o simples ato de optar por uma delas resolverá a to- mada de decisão. Ações estratégicas no contexto organizacional 51 Para qualquer um dos casos é necessária uma análise aprofundada do passado, do presente, dos objetivos, dos pontos fortes e fracos e de todas as variáveis ambientais que envolvem a decisão a ser tomada, sem deixar de considerar uma avaliação rigorosa dos possíveis riscos e resultados. Além disso, as possibilidades apresentadas para auxiliar à tomada de decisão podem ser utilizadas de maneira individual ou combinadas entre si, pois aumentam as chances de eficácia. Por exemplo, ao usar- mos a intuição com a análise sustentada pelo diálogo, é possível utilizar a percepção de fatores subjacentes às variáveis que envolvem a toma- da de decisão juntamente com a reflexão e o julgamento de fatos racio- nais discutidos à luz das experiências dos demais gestores envolvidos no processo decisório. Sempre tenha em mente que os gestores e as suas equipes são os responsáveis pelas decisões estratégicas, as quais influenciam a manei- ra como as estratégias organizacionais serão executadas e os objetivos alcançados. Observe que além dos aspectos apresentados anteriormente exis- tem outros critérios que influenciam o processo de tomada de decisão, a saber (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013): Consulta a fontes ambientais externas (estrutura da indústria, coeficiente de crescimento do mercado no segmento principal da empresa, grau de diferenciação atribuído aos produtos). Características da organização (tamanho, recursos e cultura). Al ek sa nd r B ry lia ev /S hu tte rs to ck Características do gerente (compromisso com a empresa, resultados estratégicos, tolerância à ambiguidade, aptidão em lidar com diferentes tipos de pessoas e níveis de aspiração). Seja como for, o ato de decidir implica o conhecimento, a visão es- tratégica, o respeito ao ambiente e às pessoas, a atitude responsável e uma grande dose de coragem, uma vez que o futuro está nas mãos de quem decide. O filme 12 homens e uma sentença aborda os diferentes estilos de lide- rança e sua influência nos resultados. Também traz questões como motiva- ção, gestão de conflitos e negociação empresarial. É uma produção muito relevante no contexto da gestão empresarial. Direção: Sidney Lumet. EUA: Orion-Nova Productions, 1957. Filme 52 Gestão Empresarial O artigo Conflito cognitivo na decisão estratégica de equipes de direção em pequenas empresas, de Tatiane Maia e Edmilson Lima, publicado na Revista de Administração Mackenzie em 2020, busca explicar como ocorre o conflito cognitivo e quais são suas contribuições para processos de decisão estratégica de equipes de direção em peque- nas empresas. Acesso em: 9 out. 2020. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-69712020000300205&script=sci_abstract&tlng=pt Artigo CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final de mais um capítulo de nossos estudos. Vimos assuntos intrínsecos à atividade de gestor empresarial, a qual concen- tra grande responsabilidade sobre o profissional que a desempenha. Para não perder o foco e não errar na condução dos rumos do negó- cio, é preciso que o gestor saiba que existem estratégias capazes de dar vantagem competitiva à empresa e, com isso, colocá-la à frente de seus concorrentes. Embora existam ferramentas estratégicas que podem dar ao gestor condições de se destacar perante o mercado e levar a empresa ao su- cesso, elas precisam ser conhecidas e utilizadas adequadamente, como no caso de definir qual a melhor estratégia para a empresa competir; co- nhecer como elaborar um bom planejamento estratégico, determinando como e por quem as estratégias serão implementadas; planejar cenários; e, acima de tudo, tomar decisões com responsabilidade, competência e coragem. Os saberes que tornam os gestores competentes e diferenciados dos demais são atributos que exigem dedicação e atualização constantes. Essas condições são essenciais para quem deseja ter sucesso na carreira e para a empresa. ATIVIDADES 1. Como as áreas funcionais se relacionam com as políticas organizacionais? 2. A proposta dessa estratégia é fazer com que a empresa obtenha vantagem conseguindo a redução de custos a longo prazo. Dessa maneira, a organização consegue praticar um preço mais baixo que seus concorrentes. A qual estratégia competitiva esse trecho está https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-69712020000300205&script=sci_abstract&tlng=pt Ações estratégicas no contexto organizacional 53 se referindo? Quais são as maiores dificuldades e os riscos para a empresa que adota esse tipo de estratégia? 3. A tomada de decisão estratégica auxiliada pela intuição pode ser definida como um processo mental que produz uma percepção ou um julgamento por meio de fatores como incerteza, antecedentes com base na empresa e relacionados às variáveis da performance e do tamanho e impacto moderador. Qual desses fatores controla a possível influência da racionalidade? Complemente sua resposta explicando em qual situação a intuição pode ser utilizada para apoiar a tomada de decisão estratégica. REFERÊNCIAS CHARAN, R. Know-how: as 8 competências que separam os que fazem dos que não fazem. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 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Disponível em: https://designdeembalagemfaimi.wordpress.com/2011/03/31/ salgadinho-e-recolhido-por-ter-embalagem-barulhenta/. Acesso em: 15 dez. 2020. 54 Gestão Empresarial 3 Gestão de recursos financeiros Seja bem-vindo ao terceiro capítulo do nosso livro sobre gestão empresarial, no qual iremos abordar os aspectos financeiros da economia. Vamos, assim, compreender os pontos relacionados à economia e ao mercado que influenciam os recursos financeiros da organização e a capacidade da gestão de identificar as necessi- dades de captá-los. Iniciaremos conhecendo as diferenças entre economia e finan- ças – duas áreas do conhecimento extremamente relevantes à gestão empresarial. Em seguida, abordaremos a identificação da necessidade do capital de giro, medida considerada essencial para fazer girar o sistema operacional da empresa e, com isso, mantê-la competitiva no mercado. Na sequência, veremos o mercado financeiro. Vamos conhecer sua estrutura e como é sua regulação. Também estudaremos os subsistemas que estão agregados a ele e o papel que cada um desempenha. Por fim, discutiremos as formas de negociação dos produtos financeiros, ou seja, quem são os agentes econômicos que se interessam por cada produto, como esses são negociados e quem são os agentes financeiros responsáveis por comercializá-los. Então, vamos lá! Bons estudos! 3.1 Aspectos financeiros da economia Vídeo Veja, não é incomum encontrarmos pessoas que confundem aspectos próprios à economia com aqueles que permeiam as ativida- des financeiras. Essa dubiedade pode ser aceitável em quem não está vinculado à gestão de empresas, mas não cabe ao administrador. Por isso, vamos iniciar este capítulo entendendo o conceito, as diferenças e as relações de causa e efeito entre economia e finanças. Gestão de recursos financeiros 55 É importante ressaltar que, quando nos aprofundamos na com- preensão de um determinado assunto, adquirimos uma visão mais abrangente e aprofundada a seu respeito, o que facilita sua aplicação em um dado contexto teórico ou prático. Feitos os esclarecimentos iniciais, passemos aos conceitos de eco- nomia e finanças. Economia: conjunto de atividades que envolvem a produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços, necessários às pessoas para que satisfaçam suas necessidades e melhorem sua qualidade de vida (FERNANDES, 2017). Finanças: gerenciamento de dinheiro das organizações e dos governos que pode ser feito pelo mercado financeiro, o qual tem a função de facilitar e autorizar as transações financeiras entre os agentes possuidores de créditos e aqueles que necessitam de dinheiro (COVA, 2016). Como o nosso contexto é o de negócios, estamos sujeitos aos vieses econômicos que podem reduzir as vendas de uma empresa e impactar de maneira negativa seu caixa, levando-a a prejuízos financeiros que podem ser fatais à sua sobrevivência. Lembre-se sempre de que o contexto de negócios é extremamente sensível às variáveis econômicas, o que o torna extremamente complexo e volátil. Nesse sentido, podemos dizer que essas variáveis possuem a capacidade de impactar as atividades de produção, distribuição e con- sumo de bens e serviços, contribuindo para o desenvolvimento finan- ceiro de uma organização, uma região ou um país (MATIAS, 2019). Agora vejamos um caso real que pode representar a afirmação feita. A Embraer é um exemplo atual que nos ajuda a melhor compreender a influência que a economia exerce sobre as finanças. Observe no trecho da reportagem publicada pelo G1 a seguir. As variáveis econômicas corres- pondem à inflação, aos níveis de preços, à taxa de crescimento, à renda nacional, ao produto interno bruto (PIB) e à variação nas taxas de desemprego. Resumo mstanley/Shutterstock 56 Gestão Empresarial Estudo de caso Embraer encerra Plano de Demissão Voluntária nas fábricas do Brasil nesta sexta-feira Esse é o segundo PDV adotado pela fabricante de aeronaves brasileira por causa da crise provocada pela pandemia de Covid-19 A Embraer encerra nesta sexta-feira (14) as inscrições para um Plano de Demissão Voluntária (PDV) nas unidades do Brasil. A empresa emprega cerca de 16 mil funcionários no país, sendo 10 mil em São José dos Campos e Taubaté. O PDV foi aberto no começo de agosto e é o segundo adotado pela empresa por causa da crise provocada pela pandemia de Covid-19. Antes, a empresa já havia feito um PDV para os funcionários que estavam em licença remunerada. O número de adesões não foi informado. Segundo a Embraer, o PDV é voltado a aposentados por tempo de serviço ou funcionários que tiverem 55 anos ou mais de idade, além de trabalhadores em licença remunerada. A proposta para quem aderir ao PDV inclui: • Plano de saúde para o funcionário e dependentes até janeiro de 2021; • Auxílio-alimentação de R$ 450 mensais pelo mesmo período; • Apoio para recolocação no mercado; • Verbas rescisórias comuns a desligamentos sem justa causa; • Indenização de 10% do salário-base nominal por ano de empresa. A Embraer diz que essa medida foi adotada por causa da crise gerada pela pandemia de coronavírus e que vai manter esforços para minimizar os impactos e garantir a adequação necessária da empresa diante da nova realidade do mercado. Fonte: Embraer..., 2020a, grifos do original. Lido o artigo, agora vamos analisá-lo. Inicialmente, identificaremos algumas das possíveis causas para o Plano de Demissão Voluntária (PDV) proposto pela Embraer. A des- peito de outros motivos, segundo a Forbes, as causas podem ter sido o prejuízo de R$ 433,6 milhões no primeiro trimestre de 2020, em decorrência da queda de vendas imposta pela pandemia do novo coronavírus, e o fracasso do acordo com a norte-americana Boeing (EMBRAER..., 2020b). É preciso considerar que a queda nas vendas leva à redução da ca- pacidade de produzir, vender e entregar, ou seja, diminui a capacidade econômica da organização. Essa queda implica na redução do lucro, obrigando a empresa a cortar seus custos, o que se inicia invariavel- mente pela redução de mão de obra. A redução da lucratividade e a consequente demissão de dezenas ou centenas de funcionários afetam todos os outros agentes eco- nômicos 1 que se relacionam direta ou indiretamente com a empresa. Nesse sentido, é preciso lembrar que entre esses agentes econômicos Um agente econômico pode ser caracterizado como uma sucessão de relações de pro- priedade e controle empresarial, incluindo diferentes empresas, pessoas jurídicas e pessoas físicas, que as conectam e as compõem. 1 Gestão de recursos financeiros 57 estão as famílias, que representam o elo mais frágil nessa corrente de relações econômicas. Resumindo, todas as organizações necessitam de recursos para sa- tisfazer suas obrigações, investir em melhorias estruturais e tecnológi- cas e capitalizar o negócio, mantendo-seassim atuantes e competitivas no mercado. Todavia, quando a capacidade de gerar recursos é redu- zida e a empresa opta pela demissão em massa, todo o circuito econô- mico é afetado negativamente, gerando um círculo vicioso, conforme demonstrado na Figura 1. Figura 1 Ciclo de consequências de crises econômicas Fonte: Elaborada pelo autor. CRISE QUEDA DA DEMANDA REDUÇÃO DO LUCRO DEMISSÕES CORTE DE CUSTOS Consequências: redução do PIB; aumento da dívida pública; recessão. É possível inferir com base na leitura da Figura 1 que, quando os resultados de uma crise limitam a obtenção de recursos necessários à produção de bens ou comercialização de serviços, fica reduzida a capa- cidade de uma empresa em distribuir valor e aferir lucro. O aspecto financeiro nesse momento torna-se crucial para a em- presa se manter em funcionamento. Dessa maneira, para reduzir o impacto na queda do faturamento, não parar suas operações e pagar suas dívidas, as organizações buscam recursos a longo prazo junto a agentes financeiros (HOJI; LUZ, 2019). O filme A grande virada se concentra na vida de três executivos, de uma empresa afetada pela crise, tentando se adaptar a uma série de mudanças corporativas e ao constante temor de demissões inesperadas. Esse filme ajudará a compreender as relações entre os aspectos econômicos e financei- ros, possibilitando o apro- fundamento no conteúdo estudado. Direção: John Wells. EUA: The Weinstein Company; Battle Mountain Films; Spring Creek Productions, 2010. Filme 58 Gestão Empresarial Como você pode perceber, a aquisição de capi- tal externo tem por objetivo evitar um colapso na empresa e a sua possível falência. Por isso, os exe- cutivos das áreas financeiras, também denomi- nados Chief Financial Officer (CFO) 2 , devem estar atentos ao alinhamento da gestão financeira com o comportamento da economia (HOJI; LUZ, 2019). Outro ponto importante relacionado à gestão finan- ceira é a determinação da viabilidade econômica dos pro- jetos organizacionais. Ela deve ser aferida com base na realização de diversas análises para compreender o mercado que se pretende atingir. Com os resultados obtidos, será possível ter maior clareza na direção a ser tomada, dando suporte aos gestores no processo de to- mada de decisão. É importante salientar que, para ser viável econo- micamente, um projeto precisa apresentar benefícios que superem os custos de sua implantação (HOJI; LUZ, 2019). Ainda segundo Hoji e Luz (2019), não obstante, quando a condição custo x benefício é negligenciada, os prejuízos fatalmente ocorrem, dei- xando a empresa exposta ou mais vulnerável às ameaças do ambiente de negócios, situação que pode comprometer sua capacidade de sol- vência, ou seja, a empresa deixa de cumprir seus compromissos por conta da redução de recursos que constituem seu patrimônio. Independentemente de as situações apresentadas serem causa- das por uma crise com origens em fatores externos ou por decisões equivocadas dos gestores, ao implantar um projeto sem viabilidade econômica os resultados podem levar à queda de lucros e perda de in- vestimentos. Isso provoca, ainda, a redução da capacidade da empresa de atender à demanda decorrente de suas relações comerciais com seus parceiros de negócios (clientes, funcionários, investidores etc.). Em resumo, o crescimento e o desenvolvimento econômico de uma empresa ou um país dependem dos recursos que as pessoas dispõem para satisfazer suas necessidades, bem como da capacidade das em- presas de produzir e distribuir seus produtos e serviços de maneira coordenada e adequada. Ton Snoei/Shutterstock O CFO é o executivo que possui habilidades estratégicas no contexto de liderança na área financeira. 2 Gestão de recursos financeiros 59 O artigo O impacto do crédito no desempenho recente da economia brasileira, escrito por Marcelo de Melo e publicado na Revista Ciências Administrativas em 2010, tem como principal objetivo identificar o impacto do crédito no PIB real brasileiro. Para a pesquisa, foram selecionadas séries de crédito às famílias, às empresas, ao setor público e ao setor privado e, ainda, a série de crédito total na economia brasileira. O estudo revelou que a indução do crescimento via crédito às empresas é sustentável no longo prazo e que essa mesma indução às famílias apresenta um forte impacto de curto prazo. Acesso em: 23 nov. 2020. https://periodicos.unifor.br/rca/article/view/3209/pdf Artigo 3.2 Identificação da necessidade do capital de giro Vídeo Vimos na seção anterior que as atividades econômicas podem im- pactar na captação de recursos financeiros pelas empresas, provocan- do desaceleração em suas operações e, por consequência, redução dos lucros. Para diminuir os impactos provocados pelas atividades econô- micas, as organizações necessitam de capital para fazer girar o ciclo operacional, no qual estão localizadas as fases econômica e financeira, conforme ilustra a Figura 2. Figura 2 Ciclo operacional 1 Compra de mercadorias (venda e estoque) 2 Venda da mercadoria ao cliente (à vista ou a prazo) 3 Recebimento (contas a receber) Ci cl o fi na nc ei ro : i ni ci a- se c om o p ag am en to a os fo rn ec ed or es e fi na liz a co m o re ce bi m en to d as ve nd as re al iz ad as . Ciclo econôm ico: trata-se do período em que a m ercadoria perm anece na em presa. Ciclo operacional: é a fusão dos ciclos econômico e financeiro. Tem início com a compra da mercadoria e finaliza com o recebimento. Fonte: Elaborada pelo autor. https://periodicos.unifor.br/rca/article/view/3209/pdf 60 Gestão Empresarial Observe que o ciclo operacio- nal é composto inicialmente pela compra e venda de mercadorias, o que representa o ciclo econô- mico. Veja que é após a compra de mercadorias que a empresa gera a capacidade de distribuir e estocar seus produtos. Em segui- da, são observados as vendas e o recebimento (à vista ou a prazo) das mercadorias adquiridas pelos compradores. Essa fase representa o ciclo financeiro, o qual inicia-se quando ocorre um desembolso das mercadorias que foram compradas dos fornecedores e que serão ven- didas e pagas pelos compradores (NASCIMENTO, 2014). É a partir do pagamento realizado pelos compradores que a em- presa gera recursos financeiros, representados pelo capital de giro, o qual permitirá a aquisição de produtos, insumos e pagamento de fun- cionários e fornecedores antes mesmo de a empresa realizar novas vendas (MATIAS et al., 2014) 3 . Antes de prosseguirmos, é importante ressaltar que, para admi- nistrar e decidir, há a necessidade da produção e análise de dados e informações; no entanto, o levantamento e a tabulação dos dados com informações detalhadas e relacionadas ao capital de giro devem ser fornecidos pelo departamento contábil, especializado no assunto. Cabe, em última instância, a análise desse relatório pelo gestor, que deve fazer a correta leitura e interpretação do relatório. Feita essa consideração, vamos ao assunto desta seção, que é a identificação da necessidade do capital de giro. Quando conhecida pelo gestor, ela possibilita a compreensão das dificuldades financeiras de curto prazo e da quantidade de dinheiro necessária para manter o mo- vimento dos negócios da empresa (NASCIMENTO, 2014). Sabendo a finalidade de se conhecer a necessidade de capital de giro, a próxima questão é descobrir a quantia desse capital de que a empresa precisa para fazer girar seu ciclo operacional. A resposta para essa questão pode ser obtida pela diferença en- tre o Ativo Circulante Operacional (ACO), que tem origem nas opera- ções de compra, venda, produção e estocagem, e o Passivo Circulante Teguh Jati Prasetyo/Shutterstock Capital de giro O capital de giro representa os recursos financeiros, próprios ou de terceiros, necessários para viabilizar as atividades operacionais diárias de uma organização. Saiba mais A proposta do conteúdo desta seçãotem por objetivo promover apenas a compreensão concei- tual e estratégica do capital de giro, portanto sem adentrar em detalhes técnicos. 3 Gestão de recursos financeiros 61 Operacional (PCO), que diz respeito aos va- lores recebidos em dinheiro a curto prazo e é destinado ao pagamento de mão de obra, fornecedores, tributos etc. O resultado dessa operação (ACO – PCO) implicará o Saldo de Tesouraria (ST), que repre- senta o capital de giro no qual a em- presa irá investir para manutenção e melhoria de suas operações. Saiba que é muito difícil uma organização conseguir sincronizar seus pagamentos e recebimentos, visto que os prazos que regulam o ciclo operacional, referente ao pagamento das compras e recebimento das vendas, geralmente não possuem as mesmas datas de vencimen- to. Isto é, a entrada e saída de dinheiro não ocorrem em um mesmo momento, limitando a geração dos recursos financeiros e reduzindo a capacidade da empresa de cumprir seus compromissos. Essa situação obriga os gestores a buscar capital de giro para suprir a deficiência no fluxo de caixa (NASCIMENTO, 2014). Nesse ponto, é pertinente observar que a busca por recursos finan- ceiros precisa ser feita de maneira estratégica e meticulosa, a fim de evitar que o gestor capte dinheiro a uma taxa elevada de juros, o que pode comprometer ainda mais a saúde financeira da organização. Para que isso não ocorra, são necessárias boas práticas na gestão orçamentária, de modo a controlar os ativos, indicar ações e estraté- gias capazes de aumentar os recursos financeiros, diminuir os gastos e permitir que os resultados desejados sejam alcançados e sustentáveis a longo prazo. Ainda dentro do escopo das boas práticas, é imprescindível sa- ber de quanto dinheiro a empresa precisa para quitar seus débi- tos antes de receber o pagamento de seus clientes. Essa questão é respondida a partir do momento em que o gestor conhece a Ne- cessidade de Capital de Giro da empresa. Assim, ele consegue de- terminar qual é a estratégia mais eficaz para administrar e melhorar a liquidez, lucratividade, sobrevivência e prosperidade da empresa (MATIAS et al., 2014). Você sabe qual é a diferença entre custos e investimentos? Os custos são gastos relaciona- dos à produção e vinculados à atividade-fim da empresa. Já os investimentos são os gastos que visam aumentar a receita da empresa ou melhorar a sua imagem. Saiba mais ivector/Shutterstock Necessidade de Capital de Giro (NCG) Contas a receber + estoque – contas a pagar Exemplo: Contas a receber = R$ 15.000,00 Estoque = R$ 60.000,00 Contas a pagar = R$ 35.000,00 Necessidade de Capital de Giro = R$ 15.000,00 + R$ 60.000,00 – R$ 35.000,00 = R$ 40.000,00 NCG = R$ 40.000,00 Para que você compreenda melhor o assunto, é preciso ter em men- te que uma empresa, seja ela qual for, não pode esperar o recebimen- to do dinheiro das vendas para recompor seu estoque. Essa situação pode fazer com que os produtos acabem e, por não ter estoque, ela deixe de atender o cliente. As consequências dessa situação, dentre tantas outras, são: a perda de lucro decorrente da não efetivação da venda; a perda de cliente, que irá comprar no concorrente; e o comprometimento da imagem, pois será vista como a empresa em que o cliente nunca encontra o que procura. Por isso, antes mesmo de receber o pagamento de seus clientes, a organização precisa ter dinheiro para repor seus estoques, garantindo assim as vendas e o fluxo de caixa positivo, além de manter-se compe- titiva no mercado. Por exemplo: sua empresa adquire um determinado produto por R$ 40,00 para pagar em 30 dias e para vendê-lo por R$ 80,00 reais à vis- ta. Se olharmos sob o ponto de vista econômico, é um excelente negó- cio, uma vez que você vendeu à vista por R$ 80,00 e vai pagar com 30 dias de prazo. Além disso, teve 50% de lucro, que servirá para a compra de estoque, os pagamentos de fornece- dores e os investimentos. Mas e se a situação não fosse tão perfeita assim? Digamos que sua empresa adquirisse um determina- do produto por R$ 40,00 para pa- gar em 30 dias, todavia os clientes Phongphan/Shutterstock 62 Gestão Empresarial Gestão de recursos financeiros 63 só comprassem se fosse para pagar em 30, 60 e 90 dias e seu lucro não pudesse ultrapassar os 30%, ou seja, você teria que vender a R$ 52,00, pois, acima disso, seu preço estaria fora do alcance de sua clien- tela. Qual é sua opinião nesse caso? O caixa ficaria positivo, negativo ou nulo? Caso você tenha respondido que, com até 90 dias para receber o pagamento do cliente, o caixa ficaria negativo, muito bem, você acer- tou! Parece simples, certo? Só que não! O gestor precisa ter competência para saber fechar essa conta e, ainda, para aferir lucro ao final do período, preservando a capacidade de liquidez e solvência da empresa. Lembre-se de atentar-se para o caixa, visto que de maneira alguma ele pode ficar negativo. Caso isso ocorra, a empresa irá falir. Além de que, para cobrir o déficit de caixa, terá que buscar dinheiro, seja com o aporte de capital de investidores, sócios ou empréstimo bancário. Voltamos então à questão principal do nosso assunto, que é a NCG. Novamente, a empresa precisa garantir que haja um dinheiro mínimo em caixa para prover o estoque, garantir as vendas e ter recursos para pagar fornecedores e funcionários; isso é essencial. Vejamos agora as três possibilidades para a NCG. Quadro 1 Necessidade de Capital de Giro (NCG) Positivo Indica que o Ativo Circulante Operacional é maior que o Passivo Circulante Operacional. Nesse caso, a empresa tem um superávit em seu capital de giro. Com isso, ela não necessita recorrer a empréstimos ou outras fontes de recursos. Negativo Ocorre quando o Ativo Circulante Operacional é menor que o Passivo Circulante Operacional, e a empresa possui um déficit em seu capital de giro. Isso quer dizer que parte do seu capital de giro tem origem em recursos de terceiros. Essa condição pode levar a pagamento de juros e levar risco ao negócio. Nula Acontece quando o Ativo Circulante Operacional é exatamente igual ao Passivo Circulante Ope- racional. A empresa não tem necessidade de capital de giro, pois consegue se autofinanciar por meio de suas contas operacionais. Fonte: Nascimento, 2014, p. 63. Saber identificar a NCG auxilia na gestão da saúde financeira da em- presa, uma vez que amplia e esclarece a relação que tem o capital de giro no processo de tomada de decisão. Nesse sentido, com a análise da NCG, a empresa tem condições de projetar a quantidade de recur- sos financeiros necessária para manter seus processos de produção, estoque, vendas e distribuição, até que consiga receber os pagamentos oriundos das vendas efetivadas em um determinado período. Não há empresa que se mantenha forte e competitiva no mercado sem um capital de giro mínimo que garanta o fluxo de suas operações. Importante 64 Gestão Empresarial Por fim, o gestor precisa estar atento ao ciclo financeiro da empresa, porque quanto maior esse for, maior será a NCG. Não obstante, reduzir o ciclo financeiro significa receber mais cedo dos clientes e pagar mais tarde seus fornecedores (NASCIMENTO, 2014). O artigo Capital de Giro e Desempenho de Empresas Agroindustriais, escrito por Fabiana da Silva et al. e publicado na Revista de Administração em 2019, tem como principal objetivo analisar a influência da gestão do capital de giro no desempenho econômico e financeiro das empresas do agronegócio brasileiro. A leitura do artigo auxiliará na compreensão da importância da estratégia de financiamento do capital de giro, a qual deve estar adequada às características do negócio e à extensão de seu ciclo financeiro. Acesso em: 23 nov. 2020. http://www.fumec.br/revistas/facesp/article/view/7115/3615 Artigo 3.3 Mercado financeiro Vídeo Nesta seção, falaremos sobre o mercado financeiro. Qual é sua fun- ção dentro da estrutura econômica de um país e sua influência no am- biente de negócios? Vamos começarabordando a estrutura do Sistema Financeiro Nacional, que está dividida em dois subsistemas: o normati- vo e o operativo. O subsistema normativo é o encarregado pela fiscalização e regu- lamentação das atividades do mercado financeiro. As instituições que o compõem são: o Conselho Monetário Nacional; o Banco Central do Brasil; a Comissão de Valores Mobiliários; o Banco do Brasil; o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; e a Caixa Econômica Federal (ASSAF NETO, 2018). Na sequência, veremos o subsistema operativo ou subsistema de intermediação. Fazem parte dele as instituições bancárias e não ban- cárias, que são definidas da seguinte maneira: Instituições bancárias: representam os bancos comerciais, que têm objetivos exclusivamente financeiros. Os produtos que esses bancos comercializam são operações de crédito, ou seja, emprestam dinheiro e financiam recursos a curto prazo para empresas que necessitam de capital de giro (ASSAF NETO, 2018). O crédito aos tomadores é dado com base na cobrança de taxas de juros. Uma característica importante dos bancos comerciais é a criação de moeda escritural, que, segundo o Banco Central do Brasil (Bacen), consiste na captação de depósitos bancários à vista, realizados pelas pessoas e empresas. Resumo Vimos no início do capítulo que a economia é constantemente influenciada pelos mais diversos fatores ambientais, os quais podem causar crescimento, desaceleração ou estagnação do mercado, podendo ainda levar à recessão econômica. Na sequência, foi abordada a Ne- cessidade de Capital de Giro pelas empresas, a qual tem a finalidade de preservar o ciclo operacional e a sustentação do fluxo de caixa para que a organização se mante- nha competitiva no mercado em que atua. http://www.fumec.br/revistas/facesp/article/view/7115/3615 Gestão de recursos financeiros 65 Instituições não bancárias: referem-se aos bancos de investimentos, empresas de seguros, empresas de finanças etc. Os bancos de investimento ou de negócios são responsáveis pelas linhas de crédito a longo prazo. A disponibilização desses créditos alimenta o mercado, uma vez que permite às empresas investir em seu capital de giro e capital fixo. Os agentes financiadores operam em maior escala e repassam recursos vindos de outros países, como ações e debêntures e financiamento de bens, tanto para micro e pequenas empresas como para o financiamento de fusões e aquisições (ASSAF NETO, 2018). A Figura 3 ilustra o subsistema normativo do Sistema Nacional Financeiro. Figura 3 Estrutura do subsistema normativo Conselho Monetário Nacional (CMN) Su bs is te m a no rm at iv o Banco Central do Brasil (Bacen) Comissão de Valores Mobiliários (CVN) Instituições especiais Banco do Brasil (BB) Su bs is te m a de in te rm ed ia çã o Si st em a Fi na nc ei ro N ac io na l Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Instituições financeiras bancárias Instituições financeiras não bancárias Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) Instituições auxiliares Instituições não financeiras Caixa Econômica Federal (CEF) Comissões consultivas Fonte: Assaf Neto, 2018, p. 41. 66 Gestão Empresarial Agora, vamos abordar outro aspecto de extrema relevância, que é a regulação do mercado financeiro. A regulação da qual iremos tra- tar não se refere a compras, vendas e aluguéis de produtos e serviços comerciais, mas a um conjunto de regras e procedimentos que tem por objetivo proteger os agentes econômicos durante as operações de captação e aplicação de produtos financeiros. Esses podem ser: em- préstimos bancários; crédito pessoal; desconto de títulos; operações de câmbio; captação de capital de giro etc. Essas operações podem representar riscos às pessoas e empresas, por isso o mercado financeiro é um dos setores com maior regulação por parte dos agentes públicos. Destacam-se no mercado financeiro brasileiro, no âmbito da Bol- sa de Valores (B3), as iniciativas de regulação, como a criação do novo mercado, as práticas de governança corporativa, a Lei das S.A. (n. 10.303/2001) e a Lei de Falências (n. 11.101/2005). A regulação para a divulgação de informações, a qual norteia as ne- gociações no mercado de capitais, está diretamente relacionada com a evidenciação contábil e com o disclosure, tido como uma ferramenta capaz de prevenir a divulgação de informações incompletas ou que es- condam intenções que beneficiem uma parte em detrimento de outra (LEVITT, 1998). Nesse sentido, podemos dizer que informações incompletas ou tendenciosas são assimétricas e, por isso, causam erros de interpre- tação e de decisão. Além disso, havendo a redução da assimetria in- formacional, quando respeitados as normas contábeis e o disclosure, é possível que haja uma melhora na eficiência do mercado de capitais e na prevenção de crises financeiras, evitando prejuízos aos investidores (ASSAF NETO, 2018). Pois bem, tratamos de dois aspectos relevantes referentes ao mer- cado financeiro, que foram a estrutura do Sistema Financeiro Nacional e a regulação do disclosure das informações financeiras e econômicas, com base na evidenciação dos demonstrativos contábeis. Para finalizar esta seção, vamos abordar o mercado financeiro e co- nhecer os quatro subsistemas que o compõem, a saber: monetário, crédito, capitais e cambial. A compreensão dessas quatro subdivisões permite eliminar confusões que ocorram na prática sobre as especifi- Foram aprovadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em 2008, as seguintes normas que se referem ao reconhe- cimento, à mensuração e ao disclosure das operações com instrumentos financeiros: 1. deliberação CVM n. 566, que aprovou o pronunciamento técnico CPC 14 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis; e 2. instrução CVM n. 475, que revogou a antiga Instrução CVM n. 235/1995. Saiba mais disclosure: divulgação de informações financeiras e econômicas de qualidade de uma empresa. assimetria: diferença, disparidade ou discrepância significativa entre as informações reais e as divulgadas. Glossário Evidenciação contábil é o ato de divulgar, de maneira clara e compreensível, as informações financeiras e econômicas necessárias aos diversos stakeholders que têm interesses nos negócios de uma empresa. Saiba mais Gestão de recursos financeiros 67 cidades e os objetivos de cada uma. No Quadro 2 são apresentadas as diferenças de cada subsistema. Quadro 2 Subsistemas do mercado financeiro Tipo de mercado Característica Operações Prazos Monetário Controla a liquidez monetária. Os papéis negociados têm como parâmetro a taxa de juros. Curto e curtíssimo prazos. Crédito Concede créditos às pessoas físicas. As operações desse mercado são realizadas por instituições financei- ras bancárias. Curto e médio prazos. Capitais Supre as necessidades de investimentos. Os principais papéis negociados são as ações. Médio, longo e prazo indeterminado. Cambial Compra e vende de moedas internacionais conversíveis. As operações de câmbio são reali- zadas entre os agentes autorizados e seus clientes. Não definido. Fonte: Adaptado de Assaf Neto, 2018. Para melhor compreensão, é necessário detalhar as particularida- des de cada mercado. Iniciando pelo mercado monetário, ele é o res- ponsável pelo Sistema Especial de Liquidação e Custódia, ou taxa Selic, como é mais conhecido. A taxa Selic representa a média de juros paga pelo governo ao tomar empréstimos dos bancos. Além disso, tem a função de determinar as ta- xas de juros de empréstimos concedidos ao consumidor. Quanto maior for a taxa de juros empurrada pela Selic, maior será o lucro do banco. Ou- tro mecanismo que faz parte do mercado monetário é o Certificado de De- pósito Interbancário ou Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI); ele representa a taxa de juros embutida nos empréstimos entre instituições financeiras. É relevante destacar que o mercado monetário tem a funçãode estabelecer o nível de liquidez da economia (ASSAF NETO, 2018). O artigo intitulado O comportamento da taxa Selic e as operações de investimento e financiamento de pessoa física no período pós-crise econômica, escrito por Josiane Pontel, Pâmela Tristão e Juliana Boligon e publicado na Revista Gestão Organizacional em 2020, tem como principal objetivo identificar o comportamento da taxa Selic nos investimentos e financiamentos de pessoa física no período pós-crise econômica. A leitura do artigo irá contribuir para o aprofundamento do conteúdo estudado e, con- sequentemente, para uma melhor compreensão do mercado financeiro brasileiro. Acesso em: 23 nov. 2020. https://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rgo/article/viewFile/4924/3036 Artigo https://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rgo/article/viewFile/4924/3036 68 Gestão Empresarial Já o mercado de crédito se concentra basicamente na concessão de créditos realizada por meio das instituições fi- nanceiras bancárias às pessoas físicas, ou empréstimos e financiamentos às empresas para a aquisição de bens duráveis. Quanto ao mercado de capitais, é aquele que provê os recursos permanentes para a economia, pois representa o elo entre os investidores e as empresas que precisam de recursos externos para suprir suas necessidades de investimentos. Esse mercado é formado pelas instituições financeiras não bancárias, pelas instituições compo- nentes do sistema de poupança e empréstimo (SBPE) e pela emissão e subscrição de ações (ASSAF NETO, 2018). Por fim, no mercado cambial é onde ocorrem as operações de compras e vendas de moedas conversíveis de nacional em estrangeiras e vice-versa. Esse mercado reúne todos os agentes econômicos com interesses em transações com outros países. Quem define a política cambial no Brasil é o Conselho Monetário Nacional (CMN), executada pelo Bacen (ASSAF NETO, 2018). Assim, terminamos mais uma seção do nosso conteúdo. Tenha em mente que conhecer o mercado financeiro e toda sua estrutura é es- sencial para a formulação estratégica e orientação na tomada de deci- são. Portanto, é fundamental ao gestor empresarial. 3.4 Formas de negociação Vídeo Na seção anterior, conhecemos o mercado financeiro e a estrutura do qual faz parte e que o regula. Nesta seção, veremos as formas de negociação dos produtos financeiros, isto é, como ocorrem as negocia- ções de crédito e financiamento desses produtos entre as instituições públicas ou privadas e os agentes econômicos. Abordaremos o assunto proposto com base nas particularidades de cada produto financeiro e na forma como esse é negociado no mercado financeiro. Então, vejamos: no mercado monetário são negociados os títulos públicos e privados. Os títulos públicos são emitidos pelo Tesouro Na- Kachka/Shutterstock Gestão de recursos financeiros 69 cional e pelos governos estaduais e municipais e são registrados como dívida mobiliária. Esses títulos se apresentam como uma alternativa para os governos (Federal, estaduais e municipais) captarem recursos a fim de financiar a dívida pública e atividades como educação, saúde e infraestrutura (ASSAF NETO, 2018). Existem algumas diferenças com relação à negociação dos títulos emitidos pelo Governo Federal e pelos estados e municípios, a saber: Títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional: apresentam maior aceitação e liquidez e têm a finalidade de antecipar receitas orçamentárias ou financiar os déficits fiscais. Títulos públicos estaduais e municipais: possuem baixa liquidez e uma circulação mais restrita. Quanto às vendas de títulos públicos, podem ocorrer de três manei- ras, por meio de: 1. oferta pública, em leilões; 2. oferta pública com venda direta pelo Tesouro; e 3. emissões para suprir necessidades específicas, com previsão legal. Vejamos, no Quadro 3, os títulos mais relevantes relacionados à dí- vida pública interna no Brasil. Prefixados Título Sigla Rendimento Remuneração Tesouro prefixado LTN Taxa contratada No vencimento Tesouro prefixado com juros semes- trais NTN-F Taxa contratada Semestral no vencimento Pós-fixados indexados à inflação Tesouro IPCA NTN-B principal IPCA + Taxa controlada No vencimento Tesouro IPCA com juros semestrais ----- IPCA + Taxa controlada Semestral no vencimento Pós-indexados à taxa Selic Tesouro Selic LFT Selic + Taxa controlada No vencimento Quadro 3 Principais títulos da dívida pública interna no Brasil Fonte: Assaf Neto, 2018, p. 66. Títulos públicos são papéis emitidos pelo Tesouro Nacional com a finalidade principal de auxiliar no pagamento de gastos públicos. Já títulos privados são emitidos por instituições financeiras e empresas. Saiba mais 70 Gestão Empresarial Além das informações do Quadro 3, existem outras que nos auxiliam a en- tender a forma de negociação dos títulos públicos. O Tesouro prefixado (Letras do Tesouro Nacio- nal – LTN) possui valor nominal de R$ 1.000,00. Esse título é negociado com desconto – deságio sobre o valor nominal – e, ao final do investimento, é resgatado com um valor menor em relação ao seu valor nominal (ASSAF NETO, 2018). Não obstante, as Notas do Tesouro Nacional (NTN) possuem ren- dimentos pós-fixados e vinculados a um indexador, ou seja, aos índi- ces que embasam as correções nos valores monetários de um ativo. Uma característica das NTN está na definição dos juros, que ocorre na emissão das notas, sendo pagos periodicamente. O Tesouro Selic (Letra Financeira do Tesouro – FFT) é um título com rendimento pós-fixado e um processo de investimento simples. O in- vestidor aplica e resgata, e o seu rendimento é definido pela média da taxa Selic. A quantia a ser resgatada é composta pelo valor nominal mais o rendimento acumulado desde a data de emissão do título, tam- bém denominada data-base (ASSAF NETO, 2018). Agora, vejamos o mercado de crédito. Como visto na seção ante- rior, ele tem por objetivo conceder crédito a pessoas físicas e empre- sas. As operações de concessão de crédito são realizadas por bancos comerciais e múltiplos em períodos de curto e médio prazos. As nego- ciações no mercado de crédito, segundo Assaf Neto (2018), têm início com os bancos captando recursos financeiros para investimentos, ope- ração também conhecida como funding. Esses recursos são originários de aplicações, isto é, quando uma instituição financeira recebe dinhei- ro de um investidor e assume com ele a obrigação de devolver o capital investido acrescido de juros. Os recursos captados pelos bancos são convertidos em investi- mentos a partir do momento em que são disponibilizados na forma de empréstimos e financiamentos aos agentes econômicos carentes de dinheiro. Essa concessão de crédito é condicionada à devolução do capital principal emprestado dentro de um determinado período, com acréscimo de juros. Bakhtiar Zein/Shutterstock Bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas que realizam as operações ativas, passivas e acessórias das diversas instituições financeiras. Já os bancos comerciais são instituições privadas ou públicas com o objetivo de suprir com recursos, a curto e médio prazos, as empresas e pessoas físicas. Saiba mais Gestão de recursos financeiros 71 Vale destacar que, quando os bancos recebem recursos dos investi- dores, ocorre uma operação passiva; todavia, do contrário, quando os recursos são oferecidos como crédito, há uma operação ativa. Dentro desse contexto, verifica-se que, quando o mercado finan- ceiro trabalha com as taxas pagas aos investidores menores do que as taxas cobradas dos tomadores de crédito, ocorre uma diferença entre ambas, gerando um resultado bruto definido como spread bancário. Dando sequência, vamos abordar agora o mercado de capitais e como ocorrem suas operações. Sabemos que ele é um grande fo- mentador e colaborador do desenvolvimento econômico, dada sua ca- pacidade de captar recursos financeiros de agentes econômicos com disponibilidade para investimentos e utilizá-lospara financiar os agen- tes econômicos que necessitam de capital de giro e fixo a médio e lon- go prazos (ASSAF NETO, 2018). As negociações realizadas no mercado de capitais ocorrem junto a instituições financeiras: não bancárias; componentes do Sistema de Poupança e Empréstimo (SBPE); e auxiliares. As ações são o principal papel negociado no mercado de capitais e podem ser definidas como a menor fração do capital de uma empresa, seja ela de capital aberto ou sociedade anônima. Esses papéis também representam unidades de títulos, com e sem valor nominal, e são distri- buídos aos acionistas de acordo com o volume de investimento realiza- do para a compra dos títulos (ASSAF NETO, 2018). As negociações com as ações ocorrem na Bolsa de Valores (B3), antiga BMF&Bovespa, localizada no Estado de São Paulo. A B3 é a principal instituição de intermediação do mercado de capi- tais, pois possui, à disposição dos inves- tidores, os sistemas que permitem a negociação de ações (compra e venda) e vários outros ativos financeiros, por exemplo, títulos de renda fixa, títulos públicos federais, commodities agropecuárias etc. Com relação aos valores, de acordo com Assaf Neto (2018), cabe destacar que podem ser: Diferentemente do mercado de crédito, no mercado de capitais o crédito é concedido a médio e longo prazos para financiamento de capital de giro e fixo. Importante B3/Wikimedia Commons 72 Gestão Empresarial Com valor nominal: para ações com essa característica, é definido um valor mínimo a ser negociado, que é determinado no momento da emissão de cada papel. Ressalta-se que o valor dessas ações deve ser idêntico e, mesmo havendo a emissão de novas ações, é vedada a atribuição de valor diferente. Sem valor nominal: essas ações têm o preço definido pelos sócios fundadores da empresa no momento da emissão dos papéis, não havendo a obrigatoriedade de se respeitar um valor mínimo. O valor será reajustado quando houver aumento de capital. Outro aspecto relevante para a negociação das ações é conhecer suas classificações, pois para cada classe há diferenças de direitos e benefícios. Essa classificação é feita segundo a natureza dos direitos e vantagens conferidos a seus titulares, como descrito a seguir: Ordinárias: a principal característica é o direito de voto. Os detentores de ações ordinárias têm o direito de propor alterações nos estatutos e participar das decisões da empresa, dentre outros. A distribuição dos dividendos aos acionistas ordinários é efetuada em função do dividendo obrigatório. Preferenciais: os principais aspectos desse tipo de ação são os dividendos fixados, que devem ter um valor mínimo obrigatório ou fixo, e o pagamento dos dividendos, que é realizado primeiramente aos investidores preferenciais. Em caso de liquidação da sociedade, os titulares das ações preferenciais têm prioridade no reembolso do capital. Al ek sa nd r B ry lia ev /S hu tte rs to ck Fruição ou gozo: essas ações distribuem montantes expressos em ações caso ocorra a dissolução da companhia. Elas são colocadas em negociação na bolsa de valores e são de interesse apenas dos fundadores da companhia. As ações representam apenas uma modalidade de investimento presente no mercado de capitais brasileiro. As outras modalidades à disposição das empresas para a captação de recursos são: • Depositary Receipts (DR); • Brazilian Depositary Receipts (BDR); Gestão de recursos financeiros 73 • Debêntures; • Títulos de Renda Fixa no Brasil; • Letras de Câmbio; • Certificado/Recibos de Depósitos Bancários (CDB/RDB); • Caderneta de poupança; • Letras Hipotecárias (LH); • Letras Imobiliárias; • Letras de Câmbio do Agronegócio (LCA); • Warrants; • Título Conversível; • Letra Financeira (LF). Finalizando, veremos o mercado cambial, no qual ocorrem as operações com moedas estrangeiras. Essas operações estão relacionadas às importações e exportações, ao tu- rismo internacional, aos investimentos internacionais, aos pagamentos de royalties etc. No Brasil, o Banco Central tem a responsabilidade de regulamentar e fiscalizar as operações de câm- bio, as quais podem ser intermediadas apenas por agentes autorizados, como bancos, corretoras e dis- tribuidoras, caixas econômicas e agências de turismo (ASSAF NETO, 2018). Com relação à estrutura, o mercado de câmbio no Brasil está dividido da seguinte maneira: M .S ta sy /S hu tte rs to ck Câmbio comercial: estão previstas taxas livres, que servem para orientar as operações de importações e exportações, os pagamentos internacionais de juros e dividendos, os empréstimos externos, os investimentos de capital etc. Câmbio turismo: são praticadas taxas flutuantes, as quais são aplicadas ao turismo internacional e despesas afins. Agora, vamos abordar como a paridade monetária no mercado de câmbio pode ser influenciada por ações do governo. Um exemplo é quando o governo deseja aumentar o volume das suas reservas mo- Você sabe qual é a diferença entre ações e debêntures? As ações representam parte do capital de uma empresa, portanto, ao adquiri-las, o investidor está comprando parte da empresa; elas são negociadas nas Bolsas de Valores. Por outro lado, as debêntures são títulos de crédito, ou seja, o comprador empresta dinheiro a uma empresa e, por esse empréstimo, recebe juros/crédito; elas são negociadas no mercado de capitais. Saiba mais maradon 333/Shutterstock 74 Gestão Empresarial netárias. Para que isso ocorra, a autoridade monetária pode alte- rar o câmbio com a intenção de incentivar as exportações e inibir as importações. Com as exportações estimuladas, a entrada de moeda estrangeira cresce em decorrência das antecipações de transações comerciais e financeiras, as quais os exportadores realizam com o intuito de apro- veitar o valor do câmbio e assim melhorar seus recursos de caixa. De maneira inversa, os importadores são obrigados a adiar suas aquisi- ções no mercado internacional, o que evita a saída de divisas. A estratégia de paridade monetária no mercado de câmbio, adota- da pelo governo, e suas consequências, são demonstradas de maneira resumida na Figura 4. Figura 4 Ciclo estratégico para paridade econômica Fonte: Elaborada pelo autor. Estímulo das exportações Redução da perda de divisas Aumento da oferta de moeda estrangeira no país Redução da taxa de câmbio Aumento do volume das reservas monetárias O exemplo dado na Figura 4 revela como o governo, para atingir seus objetivos estratégicos, pode influenciar a dinâmica da política cambial, afetando positivamente um determinado setor em detrimen- to de outro, como podemos ver no trecho da reportagem a seguir. Gestão de recursos financeiros 75 Estudo de caso Alta do dólar favorece empresários que exportam Enquanto empresários que vendem seus produtos para o mercado externo comemoram a valorização do dólar frente ao Real, quem importa está amargando aumento dos custos dos itens e matéria-prima. Em 2020, o dólar já acumula alta de 41% e, se por um lado a valorização da moeda norte-americana é prejudicial, por outro, pode trazer benefícios. Neste caso, os dois lados da moeda são relacionados ao mercado externo. A alta é positiva para os empresários que vendem sua mercadoria ao exterior, ao mesmo tempo em que a alta aumenta o custo de quem compra produtos ou matéria-prima de fora. Nesta segunda-feira, 27, o dólar fechou cotado a R$ 5,664, leve queda de 0,07%, depois de quatro altas seguidas. Em 2020, a alta acumulada já é de 41% e, no mês, de 8,8%. Quando se fala nos efeitos positivos da valorização do dólar em relação ao Real isso se dá porque o lucro do empresário brasileiro fica maior. Por exemplo, um contrato de venda da ordem de US$ 1 milhão, ao dólar no valor de R$ 3,30 significaria R$ 3,3 milhões de faturamento. Com o dólar na casa de R$ 5,70, o valor sobe para R$ 5,7 milhões. A indústria Móveis Província, de Guapiaçu, que atua no mercado externo desde 2003 e vendepara locais como Estados Unidos, Porto Rico, Chile, Uruguai, Paraguai, Nigéria, Rússia, etc., tem tido bons resultados. “A curto prazo os benefícios são excelentes. Tivemos uma elevação considerável da nossa margem dos contratos já negociados. E ficamos muito mais competitivos no cenário internacional”, afirmou Carlos Neves, gerente de exportação da empresa. Fonte: Alta..., 2020. Esse exemplo chama a atenção, pois coloca pesos diferentes para empresas que têm como foco o mercado externo, sejam como com- pradoras ou vendedoras. Quando o mercado externo é o cliente, para aquele que compra os produtos brasileiros, ótimo! O exportador terá maiores lucros e, à medida que o dólar aumenta, os lucros crescem na mesma proporção. Todavia, quando o mercado externo é quem vende, o importador pagará mais caro pelo bem adquirido, acarretando o aumento dos cus- tos de importação e impactando diretamente no preço final de seu pro- duto, tornando-o menos competitivo no mercado. Portanto, lembre-se de que, para conseguir bons resultados para a empresa e seus stakeholders, é necessário escolher sempre o melhor negócio e o momento mais adequado para realizar novos negócios ou investimentos no mercado cambial. O artigo Estratégias de momento no mercado cambial, escrito por Kesley da Silva e Marcelo Fernandes e publicado na Revista Brasileira de Finanças em 2018, auxilia na compreensão do desempenho de estratégias sensíveis à escolha de moeda estrangeira para operações no mercado de câmbio, por parte de gestores de fundos, corretores, tesoureiros e especuladores. Acesso em: 23 nov. 2020. http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rbfin/article/download/69277/72623 Artigo http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rbfin/article/download/69277/72623 76 Gestão Empresarial CONSIDERAÇÕES FINAIS Bem, chegamos ao final de mais um capítulo em nossos estudos. Como sempre, é preciso entender que o conteúdo abordado não esgota o assunto; muito pelo contrário, é apenas o início para uma longa jornada de pesquisas e aprofundamento em cada tema tratado. Conhecer e compreender a influência de diversos fatores econômicos e financeiros na tomada de decisão estratégica e o funcionamento do mer- cado financeiro e de seus segmentos são condições indispensáveis para o bom desempenho da atividade das empresas, o que, por conseguinte, de- manda grande dedicação intelectual por parte dos gestores empresariais. Então, leia com atenção todo o conteúdo e os artigos recomendados e, tam- bém, realize as atividades e pesquisas sempre a fim de se aprofundar no tema. ATIVIDADES 1. Explique como as variáveis econômicas podem afetar as finanças dos agentes econômicos. 2. Identifique as etapas que compõem o ciclo operacional e, em seguida, explique como ocorre o ciclo financeiro. 3. Descreva as instituições bancárias e as não bancárias. REFERÊNCIAS ALTA do dólar favorece empresários que exportam. Investe-SP, 29 abr. 2020. Disponível em: https://www.investe.sp.gov.br/noticia/alta-do-dolar-favorece-empresarios-que-exportam/. Acesso em: 23 nov. 2020. ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2018. COVA, C. J. G. Finanças e mercados de capitais: mercados fractais – a nova fronteira das finanças. São Paulo: Cengage Learning, 2016. EMBRAER encerra Plano de Demissão Voluntária nas fábricas do Brasil nesta sexta-feira. G1 Vale do Paraíba e Região, 14 ago. 2020a. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/vale- do-paraiba-regiao/noticia/2020/08/14/embraer-encerra-plano-de-demissao-voluntaria- nas-fabricas-do-brasil-nesta-sexta-feira.ghtml. Acesso em: 23 nov. 2020. EMBRAER tem prejuízo de R$ 433 milhões no 1º trimestre. Forbes, 1 jun. 2020b. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-money/2020/06/embraer-tem-prejuizo-de-r-433-milhoes- no-1o-trimestre/. Acesso em: 23 nov. 2020. FERNANDES, S. D. Economia. São Paulo: Grupo A, 2017. HOJI, M.; LUZ, A. E. Gestão financeira e econômica: didática, objetiva. São Paulo: Atlas, 2019. LEVITT, A. The importance of high quality accounting standards. Accounting Horizons, v. 12, p. 79-82, 1998. MATIAS, A. B. Finanças empresariais estratégicas. Barueri: Manole, 2019. MATIAS, A. B. et al. Finanças corporativas de curto prazo: a gestão do valor do capital de giro. 2. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2014. NASCIMENTO, A. Gestão do capital de giro. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. https://www.investe.sp.gov.br/noticia/alta-do-dolar-favorece-empresarios-que-exportam/ https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2020/08/14/embraer-encerra-plano-de-demissao-voluntaria-nas-fabricas-do-brasil-nesta-sexta-feira.ghtml https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2020/08/14/embraer-encerra-plano-de-demissao-voluntaria-nas-fabricas-do-brasil-nesta-sexta-feira.ghtml https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2020/08/14/embraer-encerra-plano-de-demissao-voluntaria-nas-fabricas-do-brasil-nesta-sexta-feira.ghtml https://forbes.com.br/forbes-money/2020/06/embraer-tem-prejuizo-de-r-433-milhoes-no-1o-trimestre/ https://forbes.com.br/forbes-money/2020/06/embraer-tem-prejuizo-de-r-433-milhoes-no-1o-trimestre/ Gestão de produção 77 4 Gestão de produção Seja bem-vindo ao quarto capítulo do nosso livro! Nele, aborda- remos a gestão de produção, a qual está presente em empresas de todos os setores e que possui a capacidade de contribuir com o desempenho organizacional. Na primeira seção, conheceremos a função-produção ou opera- ções, como também é denominada. Veremos que ela é a responsá- vel por gerenciar recursos, criar e entregar serviços e produtos aos clientes, caracterizando-se como uma atividade essencial a todas as empresas. Em seguida, abordaremos as estratégias Top down e Bottom up. Apesar de possuírem características distintas, ambas são utilizadas para otimizar a atividade de produção. As melhorias propostas po- dem partir de decisões da alta gestão ou das experiências positivas adquiridas pela atividade de produção. Já na terceira seção, conheceremos os principais objetivos de desempenho, os quais estão relacionados a entender como a ativi- dade de produção pode contribuir para melhorar a competitivida- de da empresa diante de seus concorrentes. Na sequência, veremos a Matriz Importância e Desempenho. No aspecto importância, ela permite conhecer o grau de importân- cia que os clientes atribuem aos produtos e aos serviços entregues pela atividade de produção. Com relação ao desempenho, a matriz compara o desempenho da empresa ao de seus concorrentes. O desempenho considerado nela está vinculado a fatores competiti- vos que a atividade de produção agrega aos produtos e aos servi- ços e que têm forte influência na decisão de compra do cliente. A utilização dessa matriz auxilia os gestores a definirem recursos e competências necessários à atividade de produção e a proporem ajustes necessários entre estratégias corporativas e de produção. Então, vamos lá. Bons estudos! 78 Gestão Empresarial 4.1 A função-produção no contexto organizacional Vídeo Muito bem, veremos agora um recurso extremamente relevan- te para toda organização, a função-produção, também conhecida como operações ou, simplesmente, produção. Dentro das empresas, ela é responsável por gerenciar recursos, criar e entregar serviços e produtos e está presente em todas as organizações, independente- mente do setor ou do segmento, conforme podemos visualizar no Quadro 1. Quadro 1 Exemplo da função-produção em diferentes segmentos Provedor serviços internet • Manter e atualizar o hardware. • Atualizar software e conteúdo. • Responder às solicitações de clientes. • Implementar novos serviços. • Garantir a segurança dos dados dos clientes. Cadeia fast-food • Localizar pontos potenciais para restaurantes. • Oferecer processos e equipamentos para produzir hambúrgueres. • Manter a qualidade do serviço. • Desenvolver, instalar e manter equipamento para reduzir o im- pacto sobre a área local e empacotar o lixo. Ajuda humanitária• Oferecer auxílio e projetos de desenvolvimento para os benefi- ciários. • Fornecer resposta emergencial rápida quando necessário. • Adquirir e armazenar estoques de emergência. • Atentar para as normas da cultura local. Fabricante de móveis • Adquirir matéria-prima e componentes apropriados. • Fazer componentes. • Montar os móveis acabados. • Entregar produtos aos clientes. • Reduzir o impacto ambiental de produtos e de processos. Fonte: Slack; Brandon-Jones; Jhonston, 2018, p. 5. Como podemos observar, os segmentos elencados no Quadro 1 es- tão vinculados aos setores de transformação e de serviços, o que faz a função-produção ir muito além das atividades físicas (tangíveis). Ela também está presente em setores que operam com criatividade e com inovação, como o setor de tecnologia da informação. Nesse sentido, é possível inferirmos que o modo de operar da função-produção será determinado em razão do core business da empresa, isto é, da sua atividade principal. core business: atividade ou competência principal de uma organização. Glossário Gestão de produção 79 Quanto ao funcionamento, a função-produção ocorre por meio de um processo que utiliza ma- téria-prima para criar e entregar valor mediante a transformação, que pode ser exemplificado no esquema input – transformação – output (Figura 1). Segundo Slack, Brandon-Jones e Jhonston (2018), os inputs podem ser transformados, tratados ou convertidos, envolvendo transformações físicas, infor- macionais e de pessoas, conforme apresentado a seguir: Material As operações que envolvem inputs materiais podem acontecer por meio da transformação das propriedades físicas de determinada matéria-prima; da mudança em relação à localização de um bem (por exemplo, na entrega em domicílio); na mudança de posse dos materiais; e em operações que envolvem a estocagem deles. i Informacional A transformação envolve propriedades informativas que podem ser quanto ao propósito da informação; à forma como a informação é realizada; à estocagem de informação (por exemplo, arquivos e bibliotecas) etc. Pessoal Operações que lidam com clientes, como cirurgias plásticas e estética corporal. da vo od a/ F is hC oo lis h/ Sh ut te rs to ck Além de compreendermos a finalidade principal da função-produção, faz-se necessário entendermos sua abrangência e as relações de inter- dependência que possui com as demais funções existentes dentro de uma empresa. As atividades da função-produção precisam estar estruturadas, ali- nhadas e integradas com outros departamentos concebidos dentro da estrutura organizacional, a fim de subsidiar suas atividades com Figura 1 Input – transformação – output” Adaptado de elenabsl/Shutterstock Input Output Transformação 80 Gestão Empresarial informações, recursos materiais e financeiros para que as metas e os objetivos sejam alcançados. As principais funções com as quais deve se relacionar são a de marketing, de pesquisa e desenvolvimento e de finanças. De acordo com Slack, Brandon-Jones e Jhonston (2018), cada uma das funções citadas tem uma missão: • Função-marketing: divulgação da empresa e de seus produtos ou serviços para gerar pedidos dos clientes. • Função-pesquisa e desenvolvimento: desenvolvimento ou mo- dificação de produtos ou de serviços para inovar e, assim, au- mentar as vendas. • Função-finanças: responsável pela gestão financeira. Seu dever é garantir recursos e uma boa gestão do patrimônio da empresa. Na figura a seguir é possível observarmos um pouco mais a relação entre a função-produção e os demais setores de uma empresa: Figura 2 Relação da função-produção com outras funções Presidência Marketing Produção Finanças Gerente de produção Gerente de compras Auxiliar de produção Auxiliar de compras Fonte: Elaborada pelo autor. Embora a função-produção esteja prevista no organograma orga- nizacional com estrutura, características e responsabilidades próprias, ela pode ser encontrada de maneira similar em outros departamentos da empresa sob duas perspectivas distintas. A primeira delas remete à principal atividade da função-produção e a coloca dentro do setor de produção da empresa. Já a segunda co- loca a função-produção como uma atividade ou parte de um proces- so que pode existir dentro de quaisquer funções, como no marketing. É importante ressaltar que, para ambos os casos, a função-produção Gestão de produção 81 é responsável por gerenciar recursos, criar e entregar o que foi solicita- do pelos clientes, sejam eles externos ou internos. Para melhor demonstrar a função-produção, veremos seu fun- cionamento no setor de marketing, com base na segunda perspecti- va. Esse setor, como sabemos, é o responsável por produzir campanhas de propaganda, planos de marketing e relatórios com a previsão de vendas para um determinado produto e período (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Todas essas atividades são produtos que o marketing precisa entregar aos seus clientes quan- do solicitado. Esses clientes podem ser diretores ou mesmo gerentes de outros departamentos. Vale ressaltar que, assim como qualquer produto, os produtos do setor de marketing também passam por um processo de input – transformação – output. No caso da produção de uma campanha pu- blicitária, o setor de marketing precisará de da- dos como inputs, que serão transformados em informações úteis com base na expertise dos pro- fissionais envolvidos. Estas possibilitarão o plane- jamento, a produção e a entrega da campanha (output), exatamente da maneira que o cliente solicitou. Como podemos perceber, ao con- trário de máquinas e de equipamentos, a transformação, no exemplo dado, é realizada por meio do conhecimento técnico e da compe- tência profissional dos envolvidos no processo de produção (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Outro exemplo são as atividades da função-produção para o de- senvolvimento de uma cadeia de fast-food. Veja que não estamos tra- tando do funcionamento de apenas uma loja, mas da estruturação e da operacionalização de várias que formarão uma cadeia em que o core business é o fast-food. Para que o objetivo seja atingido, a função-produção precisará tra- balhar de modo integrado com outras funções. Esse trabalho tem como objetivo coletar informações acerca de recursos necessários, para que a cadeia de fast-food seja estruturada e implementada da maneira como foi planejada, principalmente no que se refere à área de informática, à qualidade nos serviços prestados e à segurança aos clientes. Rawpixel.com/Shutterstock O filme A Meta é inspirado no livro de mesmo nome e aborda a teoria das restrições ou do gargalo, muito comum em linhas de produção de empre- sas em que os gestores não compreendem a dinâmica operacional. Direção: Dan Jackson. EUA: American Media Incorporated, 1995. Filme 82 Gestão Empresarial Tenhamos em mente que o gerente – seja ele de produção ou de outro setor – é o responsável por administrar os recursos e garantir que estes estejam disponíveis na quantidade, na qualidade e no tempo certo, para atender a uma determinada demanda quando ela surge. Quando consciente de suas responsabilidades e atuando de maneira competente, o gestor permitirá que a função-produção operacionalize as estratégias empresariais com qualidade, sustentabilidade e lucrati- vidade, que é sua finalidade. O artigo Gestão da produção e trabalhadores - um survey em empresas de auto- peças, escrito por Lílian Souza e Alessandra Rachid e publicado na Revista de Administração Mackenzie em 2016, tem como principal objetivo apresentar um panorama da adoção de métodos de gestão da produção por empresas de autopeças no Brasil e verificar se há o envolvimento dos trabalhadores da fábrica na sua utilização. A leitura desse artigo auxiliará na compreensão do funcionamento da função-produção e em como envolver os funcionários para obter melhores resultados. Acesso em: 23 nov. 2020. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-69712016000200211&script=sci_abstract&tlng=ptArtigo 4.2 Estratégia Top down e Bottom up Vídeo Prosseguindo com nossos estudos, abordaremos agora o conceito e os objetivos das estratégias de produção Top down e Bottom up, que apresentam características distintas, porém possuem a capacidade de contribuir com a melhoria da qualidade e o desempenho das opera- ções de produção e da empresa como um todo. Mas antes de optar por uma delas, é preciso que o gestor entenda a estratégia global da empresa, a qual tem por objetivo definir recursos e estabelecer ações adequadas para o alcance das metas e dos objetivos previamente esta- belecidos pelo planejamento estratégico. Diferentemente do planejamento estratégico, as estratégias direcio- nadas ao nível tático, como as de produção, têm por objetivo orientar a tomada de decisão e as ações estratégicas próprias dos departamen- tos. O planejamento tático deve ser estruturado em alinhamento com as estratégias globais, com isso, permitindo que as decisões e ações estratégicas sigam ao encontro das metas e dos objetivos previamente determinados para a empresa como um todo. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-69712016000200211&script=sci_abstract&tlng=pt Gestão de produção 83 Compreendida essa explicação inicial, passaremos à estratégia de pro- dução. Ela está ligada ao planejamento tático e seu objetivo é estabelecer diretrizes e recursos para as atividades operacionais da função-produção (TUBINO, 2015). Havendo a definição de uma boa estratégia de produção, esta poderá tornar a empresa mais competitiva, auxiliando-a no alcance das metas globais e na obtenção de vantagem competitiva. Para aferir se os propósitos e as metas estipulados para a função-produção estão contribuindo para o crescimento organizacio- nal, Hayes et al. (2005) propuseram um modelo de quatro estágios, como podemos observar na Figura 3. Figura 3 Modelo de quatro estágios da contribuição da função-produção Fonte: Hayes et al., 2005 apud Slack; Brandon-Jones; Jhonston, 2018, p. 82. Estágio 1 Corrigir os piores problemas Estágio 3 Vincular as estratégias às operações Estágio 2 Adotar as melhores práticas Estágio 4 Dar vantagem às operações Implementando a estratégia Internamente neutra Impede a eficácia da organização Tão boa quanto os concorrentes Claramente a melhor do setor Redefine as expectativas da indústria Externamente neutra Internamente apoiadora Externamente apoiadora Apoiando a estratégia Impulsionando a estratégiaAu me nto da co ntr ibu ição da s o per açõ es Aumento das capacitações das operações Au m en to d o im pa ct o es tr at ég ic o A relação dos quatro estágios de contribuição da função-produção tem início no Estágio 1, denominado neutralidade interna. Nesse nível existe a falta de aproveitamento estratégico da função-produção, o que faz com que ela contribua minimamente para que a empresa tenha eficácia competitiva, levando ao aumento dos resultados financeiros e de seu market share. Em contrapartida, há o foco na realização de ações internas para evitar erros. O planejamento estratégico é o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida pela empresa, visando otimizar o grau de interação com os fatores externos – não controláveis – e atuando de maneira inovadora e diferenciada (OLIVEIRA, 2018). Resumo 84 Gestão Empresarial No Estágio 2 tem-se a neutralidade externa. Esta é a primeira etapa em que a função-produção coloca a empresa em condições de igualda- de com seus concorrentes externos. Isso possibilita a comparação de seu desempenho com o de seus concorrentes. Avançando para o Estágio 3, a função-produção projeta a empresa entre as melhores do mercado em que compete, em decorrência da definição clara das metas, do alinhamento estratégico e do investimen- to em recursos operacionais apropriados, caracterizando uma política internamente apoiadora para o sucesso da organização. Por fim observamos, o Estágio 4, o apoio externo, o qual signifi- ca que a empresa percebe a função-produção como um diferencial competitivo a longo prazo. Nesse nível, a empresa enxerga as oportu- nidades e desenvolve capacidades com base na produção, adotando operações inovadoras, criativas e proativas, a fim de impulsionar a es- tratégia da empresa. Essa postura a coloca à frente dos concorrentes (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Conhecidas as formas de como a função-produção pode contribuir com a competitividade e com o crescimento da empresa, vamos passar ao Top down e ao Bottom up, duas estratégias de produção com caracte- rísticas distintas, a saber: Top down: estratégias corporativas definidas pela alta direção que orientarão a implementação e a operacionalização das atividades funcionais. Bottom up: a estratégia da produção é uma atividade de baixo para cima. As melhorias da produção a constroem cumulativamente. Agora vejamos em detalhes as duas estratégias de produção pro- postas, iniciando pela Top down, que contempla uma perspectiva de cima para baixo. Quando falamos em decisões estratégicas competiti- vas tomadas pela alta direção, estamos nos referindo à definição das estratégias corporativas, responsáveis por orientar a empresa como um todo a fim de alcançar suas metas e seus objetivos. Gestão de produção 85 Para que a organização não perca seu foco nos objetivos de cresci- mento e na expansão de mercado, é necessário o alinhamento entre as estratégias corporativa e funcional; por exemplo, apesar de a estraté- gia de produção possuir estratégia funcional própria, ela precisa estar alinhada à corporativa para que possa contribuir com o direcionamen- to estratégico e os resultados esperados pela empresa. Vale ressaltar que é preponderante que não ocorram diferenças entre o que prevê a estratégia corporativa com o que está sendo realizado pela produção no momento de implementar ou de operacionalizar suas estratégias. Vejamos na Figura 4 mais algumas características da estratégia Top down. Figura 4 Estratégia Top down Estratégia Top dow n Decisões estratégicas corporativas: • Definição de negócios; • Administração das relações entre diferentes negócios. Decisões de estratégias de negócios: • Metas de crescimento; • Retorno de Investimentos; • Metas de rentabilidade; • Geração de caixa. Decisões e estratégias funcionais: • Papel de cada função; • Alocar recursos para atingir objetivos funcionais; • Melhoria de desempenho. De cima para baixo Fonte: Slack; Brandon-Jones; Jhonston, 2018, p. 89. Vale destacar ainda que os objetivos corporativos e as estratégias de produção não podem ser antagônicos entre si, por isso devemos respei- tar a hierarquia das diretrizes estratégicas com o intuito de preservar os objetivos, a consolidação da missão, da visão e dos valores da empresa. Até aqui falamos da estratégia Top down, mas agora mudaremos de direção. Partiremos, então, para a perspectiva Bottom up, ou de baixo 86 Gestão Empresarial para cima. Veja bem, quando falamos em alinhamento estratégico (es- tratégia corporativa X estratégias funcionais), precisamos levar em con- sideração outras variáveis, uma vez que, se ele for pensado de maneira isolada, pode não atender totalmente aos objetivos estratégicos e, por isso, deixar de contribuir com a criação de valor ao negócio. Uma possível falha na capacidade de contribuição do alinhamen- to estratégico pode advir, dentre outros motivos, da falta de recursos materiais, das experiências e das competências funcionais. É comum, se pensarmos em estratégias do tipo Top down, buscar recursos tan- gíveis e intangíveis em fontes externas à organização. Todavia, eles podem emergir de dentro da própria empresa, ou seja, da experiência operacional, principalmente quando se trata de recursos intangíveis, como a experiência e a competência individual ou funcional. Quando os níveis operacionais adquirem experiências e capacida- des de identificar e dedeterminar a solução para um determinado pro- blema ou para melhorar a qualidade de um produto ou um serviço, agregando-lhe maior valor a ser percebido pelo cliente sem que haja intervenção do alto escalão, essas ações poderão ser incorporadas à estratégia corporativa de acordo com a perspectiva Bottom up. Vejamos a seguir mais algumas características dessa estratégia. Figura 5 Estratégia Bottom up Es tr at ég ia B ot to m u p Capacidades baseadas na produção podem ser exploradas estrategicamente. Experiências do dia a dia podem ser incorporadas nas capacidades baseadas na produção. Processos operacionais podem capturar experiências do dia a dia. Experiências profissionais do dia a dia. De Baixo para Cima Fonte: Slack; Brandon-Jones; Jhonston, 2018, p. 89. recursos tangíveis: recursos físi- cos, portanto, possuem existência material e podem ser mensurados em termos monetários. recursos intangíveis: recursos imateriais que as empresas pos- suem com valor econômico, mas desprovidos de materialidade física. Glossário Gestão de produção 87 Havendo resultados comprovadamente exitosos e estando ali- nhada à estratégia corporativa, uma ação inovadora proposta pelo nível operacional pode se tornar uma estratégia funcional e ser ado- tada operacionalmente por uma ou mais funções dentro da empresa (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Veja o exemplo a seguir de estratégia Bottom up, adaptado de Slack, Brandon-Jones e Jhonston (2018). Estudo de caso Uma empresa de serviços descobre que possui capacidade excedente, que lhe permite oferecer um serviço ex- cepcionalmente rápido aos clientes. Ela também constata que alguns clientes estão dispostos a pagar preços maio- res por um serviço mais ágil. Com base em suas experiências, a empresa operacionaliza o fornecimento de serviços mais ágeis para quem estiver disposto a pagar mais caro por isso. Os objetivos estratégicos dessa nova divisão não dizem respeito ao crescimento de alto volume, mas à lucratividade a partir da ação isolada de uma única estratégia operacional, algumas vezes chamada de estratégia emergente. O princípio que governa a perspectiva de baixo para cima é moldar os objetivos e a ação da operação, pelo menos parcialmente, por meio do conhecimento que obtém de suas atividades diárias. As virtudes-chave requeridas para moldar essa estratégia são a habilidade de aprender com base na experiência e a filosofia de melhora contínua incremental. Apesar de inicialmente enxergarmos as perspectivas Top down e Bottom up como opostas entre si, elas são complementares. Observe que quando a função-produção segue as diretrizes propostas pelas estratégias corporativas (perspectiva Top down) ao longo de suas ati- vidades operacionais diárias, ocorre a aquisição de conhecimento e de experiências, que, com o tempo, se acumularão e tendem a se tornar competências essenciais. Estas podem ser incorporadas à estratégia global (perspectiva Bottom up) criando valor ao negócio e contribuindo para a obtenção de vantagem competitiva. Portanto, desde que as estratégias estejam alinhadas e convergin- do estrategicamente para o mesmo objetivo, haverá o crescimento e a manutenção da empresa a longo prazo. O artigo A relação entre a estratégia de produção e a prática da inovação tecnológica: um estudo em uma empresa produtora de alumínio, escrito por Márcia Guimarães, Felipe de Lara e Raissa Trindade e publicado na Revista de Administração Mackenzie em 2015, tem como principal objetivo analisar como a inovação tecnológica (de produto e de processo) se insere no conteúdo da estratégia de produção. A leitura desse artigo contribuirá com a compreensão de como a inovação pode auxiliar o alinhamento da estratégia de produção à estratégia competitiva de uma empresa. Acesso em: 23 nov. 2020. https://www.scielo.br/pdf/ram/v16n3/1518-6776-ram-16-03-0109.pdf Artigo https://www.scielo.br/pdf/ram/v16n3/1518-6776-ram-16-03-0109.pdf 88 Gestão Empresarial 4.3 Objetivos de desempenho Vídeo Nesta seção abordaremos os principais objetivos de desempe- nho da função-produção. Conhecê-los nos ajudará a compreender como a atividade de produção pode contribuir para melhorar com- petitividade de uma organização. Vale destacar que o desempenho da produção pode colaborar para o desenvolvimento das competên- cias organizacionais e influenciar diretamente a melhoria da quali- dade, da confiabilidade, da flexibilidade e da redução de custos (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Veremos também que o desempenho, apesar de tra- zer bons resultados, não é algo simples de ser mensura- do, pois há diversos fatores que, se não forem levados em consideração, podem criar um resultado que atenda ape- nas a parte dos objetivos organizacionais. Nesse sentido, a fim de evitar possíveis falhas, são necessárias informações que deem uma visão realista dos diversos fatores que in- fluenciam o desempenho da atividade de produção. De acordo com Slack, Brandon-Jones e Jhonston (2018), os fatores que estão relacionados ao desempenho dessa ati- vidade concentram-se em três níveis distintos relacionados à satis- fação dos stakeholders, a saber: Nível social amplo: pode ser avaliado pela perspectiva do resultado triplo, ou Triple Bottom Line. Nível estratégico: está relacionado à maneira como uma operação de produção pode contribuir para a estratégia geral da organização. Nível operacional: utiliza os cinco objetivos de desempenho da produção. elenabsl/Shutterstock Gestão de produção 89 Abordaremos inicialmente o desempenho da atividade de produção sob a perspectiva do as- pecto social amplo, o qual está relacionado aos interesses de diversos stakeholders com os quais as organizações se relacionam. Esses interesses são representados por diversas variáveis que com- põem o aspecto social amplo e que, se conhecidas pelo gestor, o auxiliam a mitigar ou a eliminar pos- síveis influências negativas, as quais podem comprometer o desempenho da produção. Conforme Slack, Brandon-Jones e Jhonston (2018), alguns exemplos de interesses dos stakeholders que podem influenciar esse de- sempenho são: • Governo: espera que a atividade produtiva contribua para a economia. • Sociedade: deseja melhoria na oferta de empregos. • Planeta: deseja ações de preservação ambiental. • Acionistas: desejam retorno do investimento. • Fornecedores: querem receber em dia. • Gerência superior: deseja baixo risco de fracasso. • Empregados: reivindicam boas condições de trabalho. • Representantes dos empregados: buscam a conformidade com os acordos nacionais. • Clientes: anseiam por ofertas e por qualidade. Os exemplos apresentados não são os únicos interesses; existem vários outros não menos importantes. O que há em comum entre to- dos eles é a necessidade de entender o impacto que cada um tem so- bre as atividades de produção. Essa compreensão auxiliará a empresa na avaliação, na convergência e no alinhamento desses interesses com a estratégia corporativa, ajustando-os às metas e aos objetivos organi- zacionais (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). O alinhamento de interesses permitirá à atividade de produção atender a todos os an- seios, desde que não prejudiquem seu desempenho e que contribuam para o crescimento organizacional. Para melhor avaliar o desempenho da atividade de produção sob a perspectiva do aspecto social amplo, algumas empresas passaram a medir os índices que compõem o fator econômico concomitante- bd s/ Sh ut te rs to ck 90 Gestão Empresarial mente às dimensões ambiental e social. Essa nova forma de avaliá-lo é realizada por meio do Triple Bottom Line, que combina os três pilares: econômico, social e ambiental. Ad ap ta da d e de sd em on a7 2/ Sh ut te rs to ck Economia Sociedade Empregos, prosperidade, riqueza, criação Equidade social Inclusão social Comunidades Economia sustentável Desenvolvimento sustentável Recursos Ambiente natural Meio ambiente Natureza Figura 6Triple Bottom Line O resultado dessa avaliação indicará se a atividade de produção está proporcionando sustentabilidade ao negócio, que pode ser reco- nhecida pela sobrevivência e pelo crescimento da empresa a longo pra- zo (PORTER; KRAMER, 2006). Portanto, a avaliação de desempenho da atividade de produção por meio do Triple Bottom Line tem a capacidade de analisar não somente o lucro obtido pela atividade econômica, mas também o impacto das operações de produção sobre a sociedade e o meio ambiente. O lucro aceitável é aquele obtido com base no equilíbrio entre os interesses econômicos, ambientais e sociais. Desse modo, a empresa terá condi- ções de operar sua atividade de produção contribuindo para a quali- dade de vida das pessoas e o desenvolvimento das sociedades com as quais tem contato. O pressuposto intrínseco na proposta Triple Bottom Line está nas chances de sucesso a longo prazo que as empresas sustentáveis têm em relação àquelas que se prendem apenas aos resultados econômi- cos (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). O documentário premiado Indústria Americana mostra a atividade de produção realizada por pessoas de etnias e de culturas diferentes e a pressão exercida pelos diretores para que os trabalhadores cumpram suas tarefas de maneira exemplar. Direção: Steven Bognar; Julia Reichert. EUA: Higher Ground Productions; Participant Media, 2019. Documentário Gestão de produção 91 Agora vejamos no Quadro 2 como é mensurado cada resultado para as dimensões social, ambiental e econômica. Quadro 2 Mensuração das dimensões do Triple Bottom Line Triple Bottom Line Resultado Social Pessoas: leva em consideração o impacto da operação sobre a qualidade de vida das pessoas. As empresas têm responsabilidade pelo impacto de suas operações na sociedade e precisam balancear as consequências sociais externas e internas de suas ações. Individual O desempenho do resultado social significa criar empregos e padrões de tra- balho que permitam às pessoas contribuírem com seus talentos sem estresse desnecessário. Grupal A empresa precisa reconhecer e lidar honestamente com representantes dos funcionários. Ser reconhecida por sua responsabilidade em ajudar a promover o bem-estar econômico e social das comunidades. Maneiras como a pro- dução pode afetar o de- sempenho do resultado social. • Segurança de produtos e serviços para o cliente. • Impacto do local de uma operação sobre o emprego. • Implicações da terceirização sobre o emprego. • Segurança do pessoal e estresse no local de trabalho. • Não exploração de fornecedores de países em desenvolvimento. Resultado Ambiental Ambiente Os resultados são medidos pelo impacto das operações da atividade de produ- ção sobre o meio ambiente. Maneiras como a pro- dução pode afetar o de- sempenho do resultado ambiental. • Reciclagem de materiais, consumo de energia, geração de resíduos. • Redução de energia relacionada ao transporte. • Poluição sonora, fumaça e emissão de gases poluentes. • Obsolescência e desperdício. Resultado Econômico Econômico Medida pela lucratividade, retorno sobre ativos etc. da operação. Maneiras como a pro- dução pode afetar o de- sempenho do resultado econômico. • Custo da produção de produtos e serviços. • Receita vinda dos efeitos da qualidade, da velocidade, da confiabilidade e da flexibilidade. • Eficácia no investimento dos recursos da produção. • Risco e resiliência da oferta. • Criação da capacidade futura. Fonte: Adaptado de Slack; Brandon-Jones; Jhonston, 2018, p. 46-47. 92 Gestão Empresarial As características apontadas no Quadro 2 demonstram que o as- pecto social amplo é parte integrante da criação de valor para a ativida- de de produção e consequentemente para a empresa e seus stakeholders. Com base nesse fator, as empresas – principalmente as de capital aberto – adotam estratégias competitivas para consolidarem suas políticas de sustentabilidade e de equilíbrio entre os interesses econômicos, ambientais e sociais. Vale observarmos que entre as empresas de capital aberto estão aquelas com estrutura de governança cor- porativa, em que são adotados princípios rígidos que orientam as práticas corporativas, especialmente no que diz respeito à responsabilidade social. Esse con- junto de princípios é utilizado para determinar e para direcionar as estratégias corporativas, melho- rar o desempenho organizacional, criar valor à imagem e atrair capital externo (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Finalizada a exposição sobre o aspecto social amplo, o próximo ponto a ser abordado é a perspectiva estratégica, que se refere à maneira como as operações da atividade de produção podem contribuir com a estratégia corporativa e com o lucro da empresa. Veja, sabemos que o lucro é o objetivo final de toda transação co- mercial, pois é com base nele que as empresas se consolidam e ex- pandem seus negócios. Quando uma organização apresenta lucro crescente a longo prazo, significa que suas estratégias competitivas estão corretas, portanto mantê-las como estão é a melhor alternativa. Contudo, bons resultados financeiros não significam necessariamente ausência de problemas que podem existir e, se não forem localizados e sanados, a lucratividade pode entrar em declínio. São vários os motivos que podem levar à perda de lucratividade; dentre eles pode estar a falta de convergência entre as decisões e ações estratégicas adotadas pelo gerente de produção e as estratégias cor- porativas. Essa ausência pode impactar negativamente o crescimento econômico da organização, comprometendo o lucro operacional. Por isso, realizar periodicamente a avaliação de desempenho estra- tégico da atividade de produção, ou seja, verificar se as decisões e as VectorVair.com /Shutterstock Gestão de produção 93 ações do gerente de produção estão trazendo o resultado estabelecido pelas metas organizacionais, é extremamente relevante. É preciso que a avaliação de desempenho não se prenda somen- te, como fator de eficiência, à aquisição e à transformação de recur- sos (como muitas empresas fazem e diversos gerentes consideram a principal medida de avaliação). Para que a empresa obtenha van- tagem competitiva, os gerentes de produção devem se conscientizar da importância de avaliar, além da eficiência da aquisição e da trans- formação de recursos, o desempenho da atividade de produção com base na qualidade do processo produtivo e do produto final ou do serviço entregue, na ausência de falhas, na rapidez da entrega, no cumprimento de prazo, na adaptação às necessidades dos clientes etc. (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Ao se considerar aspectos como qualidade, velocidade e adaptação, a empresa assumirá um custo mais alto em todo seu processo produtivo, todavia, adotará uma estratégia de diferenciação, a qual trará resultados positivos sobre sua lucratividade a longo prazo. Os custos da atividade de produção podem ser reduzidos por meio de operações bem projetadas e conduzidas com o objetivo de evitar interrupções e gargalos. Caso aconteçam tais intercorrências, a ativida- de de produção precisa estar em condições de se recuperar rapida- mente, reduzindo a taxa de frustração de clientes e a chance de contrair custos em excesso (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Feitas essas considerações, precisamos agora de uma avalia- ção de desempenho da ativida- de de produção mais completa, a nível operacional. Para isso existe um conjunto de objetivos rigorosamente definidos que irão complementar essa avaliação. Tal conjunto é composto por cinco ob- jetivos de desempenho da produ- ção, representados por qualidade, rapidez, confiabilidade, flexibilida- de e custos (SLACK; BRANDON-JO- NES; JHONSTON, 2018). Para que você entenda melhor, uma estratégia de diferenciação é aquela definida como “um conjunto integrado de ações tomadas para produzir bens ou serviços (a um custo aceitável) que os clientes percebem como diferentes, de maneira que sejam importantespara eles” (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013, p. 110). Saiba mais Fonte: Elaborada pelo autor. Figura 7 Cinco objetivos de de- sempenho da atividade de produção Custos SATISFAÇÃO DAS NECESSIDADES DO CLIENTE O BJ ET IV O S D E D ES EM PE N H O D A PR O D U ÇÃ O MELHORA DO DESEMPENHO ORGANIZACIONAL Confiabilidade Rapidez Qualidade Flexibilidade 94 Gestão Empresarial Os cinco objetivos representados na Figura 7 são dimen- sões capazes de satisfazer às necessidades dos clientes. Segundo Slack, Brandon-Jones e Jhonston (2018), essa satisfação contribuirá para a melhora do desempenho global da empresa. Vistas de maneira geral, agora analisaremos individualmente cada uma das cinco características relacionadas aos objetivos de desempenho da atividade de produção: Figura 8 Características dos objetivos de desempenho da atividade de produção Qualidade da operação Consiste no atendimento pleno das expectativas dos clientes. É com base na percepção da qualidade do produto ou do serviço que ocorrerá a satisfação e a fidelização do cliente. Outro resultado com a adoção de uma política de qualidade forte é a redução dos custos operacionais e o aumento da confiabilidade. A qualidade deve estar presente no atendimento, no processo de produção, na estrutura do produto ou do serviço, na ausência de transtornos no momento da entrega, nos prazos prometidos ao cliente e no pós-venda. Iu rii M ot ov /S hu tte rs to ck Velocidade na operação Ela tem dois aspectos positivos que podem agregar valor à imagem da empresa e ao seu desempenho financeiro. O primeiro está relacionado à entrega da encomenda ao cliente, que, se rápida, permite ao consumidor começar a usufruir de seus benefícios o quanto antes, criando uma expectativa positiva de satisfação em relação à empresa, a qual possivelmente se traduzirá em novas compras. O segundo aspecto se refere à possibilidade da velocidade nas entregas contribuir para a redução de estoques, visto que ela aumentará o giro destes e, consequentemente, reduzirá seus níveis e os custos de estocagem. Se ns ve ct or /S hu tte rs to ck Confiabilidade na atividade de produção Surge como resultado de suas entregas. Por exemplo: quando a atividade de produção atende à demanda dentro do prazo prometido aos clientes, estes passam a considerá-la como cumpridora de suas metas e, portanto, digna de confiança. A confiança depositada pelos clientes será transformada em valor percebido, que poderá auxiliar o aumento do volume de negócios e, assim, o lucro da empresa. (Continua) Et iA m m os /S hu tte rs to ck Gestão de produção 95 Importância da flexibilidade A capacidade de flexibilização está relacionada à habilidade da empresa de introduzir ou de produzir um amplo mix de produtos ou processos internos, que atendam aos diferentes clientes (internos e externos) de maneira personalizada. A flexibilização no sentido dado também é conhecida como customização. Li gh ts pr in g/ Sh ut te rs to ck Importância do custo O baixo custo de produção é o principal objetivo das operações, pois quanto menor o custo, menor será o preço final de venda do produto e, consequentemente, mais competitivo se tornará, aumentando o poder de barganha da empresa com seus clientes. Todavia, a diferenciação por custos pode ser uma estratégia cara para a organização em um primeiro momento, visto que pode implicar a aquisição de novos equipamentos, qualificação e contratação de mão de obra especializada. Ol ivi er L e M oa l/S hu tte rs to ck Fonte: Elaborado pelo autor com base em Slack; Brandon-Jones; Jhonston, 2018. Como todas as demais funções, a função-produção necessita de ge- rentes com competências para operar seus processos e fazer com que os resultados contribuam para o crescimento organizacional. Nesse sentido, podemos inferir que o conhecimento detalhado dos proces- sos produtivos dará o know-how ao gerente de produção, no qual estão contidas as habilidades, o conhecimento e as experiências necessárias para criar valor para a atividade de produção e contribuir com a melho- ra da performance financeira da empresa. O artigo Utilizando os passos da Teoria das Restrições para a melhoria con- tínua da produção: um estudo aplicado a uma fábrica de jeans, escrito por Alessandro Alves, Tatiane Silva, Rodrigo de Almeida e Samuel Cogan e publi- cado na Revista ADM.MADE em 2011, tem como principal objetivo investigar os principais problemas de um processo produtivo. A leitura desse artigo auxiliará a compreensão de como otimizar a produção de uma organização por meio da identificação das restrições do sistema minimizando-as ou eliminando-as e sugerir a implementação de mudanças, a fim de melhorar o desempenho global da fábrica. Acesso em: 23 nov. 2020. http://revistaadmmade.estacio.br/index.php/admmade/article/viewFile/64/113 Artigo 96 Gestão Empresarial 4.4 Matriz Importância e Desempenho Vídeo Agora falaremos sobre a Matriz Importância e Desempenho. Antes cabe observar que as estratégias de produção visam a estabelecer di- retrizes e recursos para as atividades operacionais da função-produção e precisam estar alinhadas à estratégia corporativa, a qual é concebida com base na perspectiva de que todas as partes se inter-relacionam harmonicamente a fim de atingir os objetivos globais pré-determinados (KRAJEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). É importante esclarecermos que o alinhamento entre as estratégias não pode permanecer apenas no planejamento, na teoria. Caso isso ocor- ra, ele pode não satisfazer as prioridades competitivas. Portanto, além de planejar o alinhamento, é necessário colocá-lo em prática, providenciando todos os recursos e as competências necessários para que uma operação consiga atender a todas as exigências do mercado e, com isso, atinja um desempenho satisfatório (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Embora tenha a capacidade de atender a suas demandas, o desem- penho de uma operação é algo que pode oscilar entre resultados po- sitivos e negativos. Por estar sujeito a tais variações, é recomendável um processo contínuo de avaliação do desempenho das estratégias de operações. Com uma avaliação de desempenho periódica, podemos sustentar o nível de competitividade esperado pelo planejamento estratégico e alinhado com as metas globais. Isso também possibilita o aperfeiçoa- mento das competências necessárias à empresa para atender às prio- ridades do mercado e de seus clientes. A avaliação de desempenho ocorre por meio da mensuração de alguns fatores com- petitivos (Quadro 3), que recebem uma avalia- ção quanto à sua importância para os clientes e ao desempenho da empresa perante o mercado. Cada fator é posicionado de acor- do com suas pontuações ou classificações e analisados com base nos resultados obtidos junto à Matriz Importância e Desempenho (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Fotolum inate LLC/Shuterstock Gestão de produção 97 Quadro 3 Matriz Importância e Desempenho Escala de IMPORTÂNCIA para fatores competitivos Posição Descrição 1 Oferece uma vantagem decisiva aos clientes. 2 Oferece uma vantagem impor- tante aos clientes. 3 Oferece uma vantagem útil aos clientes. 4 Precisa acompanhar o bom pa- drão do setor. 5 Precisa acompanhar o padrão médio do setor. 6 Precisa estar a pouca distância do restante do setor. 7 Normalmente não é importante, mas pode se tornar. 8 Raramente considerado pelos clientes. 9 Nunca considerado pelos clien- tes. Escala de DESEMPENHO para fatores competitivos Posição Descrição 1 Consideravelmente melhor do que organizações similares 2 Claramente melhor do que orga- nizações similares. 3 Pouco melhor do que organiza- ções similares. 4 Às vezes um pouco melhor do que organizações similares. 5 Praticamente igual a organiza- ções similares. 6 Ligeiramente pior que a média das organizações similares. 7 Normalmente um pouco pior do que organizações similares. 8 Geralmente piorque a maioria das organizações similares. 9 Consistentemente pior que a maioria das organizações similares. Alto Baixo Alto Baixo Fonte: Slack; Brandon-Jones; Jhonston, 2018, p. 103. Ao fazer a leitura desse quadro, observamos uma relação direta en- tre importância e desempenho, que podem ser analisados tanto indi- vidualmente quanto de maneira cruzada. Tal possibilidade de análises pode auxiliar no entendimento de como a empresa, por meio de suas operações, é percebida por seus clientes e pelo mercado. É preciso ressaltar que as operações de uma empresa também atendem aos clientes internos. Nesse caso, a Matriz Importância e De- sempenho pode auxiliar a gestão a compreender como as operações são percebidas por esses clientes. Por exemplo, se as operações rela- tivas à produção não entregam os insumos necessários para a reali- zação de um determinado processo interno, a operação de produção será percebida como de pouca importância e incapaz de colaborar com as metas e os objetivos operacionais. Para corrigir essa situação é necessário que a gestão intervenha, pois, caso contrário, toda a em- presa poderá ser prejudica. 98 Gestão Empresarial O artigo Utilização da Matriz Importância e Desempenho para avaliar a quali- dade dos serviços fornecidos por incubadoras de empresa, escrito por Marcel Dantas, Diego Godeiro, Dmitryev da Silva e Maxwell Celestino e publicado nos Anais do XX SemeAd em 2018, tem como principal objetivo demonstrar o uso da Matriz Importância e Desempenho na avaliação da qualidade dos serviços fornecidos por incubadoras. A leitura desse artigo auxiliará a com- preensão dos resultados obtidos com base nessa matriz. Acesso em: 23 nov. 2020. http://login.semead.com.br/20semead/anais/arquivos/1122.pdf Artigo Além da posição que ocupam na Matriz Importância, os fatores competitivos também podem ser classificados por sua relevância. Quadro 4 Classificação estendida dos fatores competitivos relacionados à importância. Relevância Importância Forte O fator competitivo é a vantagem, em algum grau, que o cliente obtém em adquirir determinado produto ou serviço. A vantagem é um fator determinante na decisão de compra. Média O fator competitivo é o padrão apresentado. A decisão de compra será influenciada caso o cliente perceba que o padrão está próximo ou igual ao do melhor concorrente. Fraca O produto ou o serviço não é importante ao cliente, pois não pos- sui um fator competitivo que possa influenciar sua compra. Fonte: Adaptado de Slack; Brandon-Jones; Jhonston, 2018. O Quadro 4 mantém os princípios de análise do Quadro 3, todavia transforma as posições em relevâncias e estas são divididas em três dimensões. A dimensão forte, que substitui as posições 1, 2 e 3, possui a capacidade de influenciar positivamente os clientes no momento de decidirem pela compra, pois oferece uma vantagem superior em rela- ção a outros produtos ou serviços similares. Já as posições 4, 5 e 6 têm influência média na decisão de compra dos clientes, uma vez que mantêm um padrão próximo aos produtos e aos serviços similares vendidos no mercado. Por fim, estão os pon- tos fracos, que substituem as posições 7, 8 e 9. Os produtos contidos nessa dimensão não têm qualquer atributo similar aos concorrentes, portanto, possuem uma capacidade muito reduzida de estimular o cliente a comprar. http://login.semead.com.br/20semead/anais/arquivos/1122.pdf Gestão de produção 99 Para melhorar os casos que indiquem relevâncias médias ou fracas, é necessário revisar as capacidades operacionais e as competências da organização para atingir seus objetivos competitivos e a eficácia com que utiliza seus recursos (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Agora passaremos à escala de desempenho, que leva em considera- ção como os fatores competitivos presentes nos produtos ou nos ser- viços impulsionam as vendas e influenciam a posição da empresa em relação aos seus concorrentes. Ao analisar essa escala, a organização pode comparar se sua competitividade é melhor, igual ou pior à de seus concorrentes. Com base no resultado dessa comparação, ela po- derá determinar ações estratégicas para melhorar o seu desempenho (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). A escala do desempenho da empresa em relação aos seus concor- rentes também pode ser determinada como forte, média ou fraca, como apresentado no Quadro 5. Quadro 5 Classificação estendida dos fatores competitivos relacionados ao desempenho. Relevância Desempenho Forte A empresa se destaca de seus concorrentes, pois em qualquer grau o seu desempenho é melhor do que o grau destes. Isso significa que seus produtos ou seus serviços possuem fatores competitivos diferenciados, que atraem o cliente e o fazem comprar. Média A empresa tem um desempenho próximo ao de seus concorrentes, tornando a vantagem competitividade algo difícil de conseguir. Isso significa que as qualidades ou os fatores competitivos são iguais aos encontrados nos produtos e nos serviços dos concorrentes. Fraca A empresa tem um desempenho abaixo do de seus concorrentes, ou seja, seus produtos não possuem fatores competitivos que estimulem a compra. Fonte: Adaptado de Slack; Brandon-Jones; Jhonston, 2018. O Quadro 5, também construído com base no Quadro 3, transforma as posições de 1 a 9 em três dimensões. Quando a empresa apresen- ta uma relevância forte em comparação à concorrência, significa que seus produtos e serviços possuem fatores competitivos que os clientes consideram superiores aos da concorrência. Essa situação pode au- mentar as vendas, alavancando o desempenho da empresa em relação aos concorrentes. A relevância média indica que os fatores competitivos são iguais aos dos concorrentes, portanto, o cliente somente adquirirá se perceber 100 Gestão Empresarial alguma vantagem. Essa condição pouco auxilia a alavancagem do de- sempenho da empresa. Finalmente, a relevância fraca demonstra que os produtos ou os serviços entregues pela produção não possuem qualquer fator competitivo que possa atrair o cliente e fazê-lo decidir pela compra. Nesse caso, não há qualquer contribuição para melhoria do desempenho da empresa em relação aos concorrentes. Para a empresa melhorar o seu desempenho geral, é necessário que adote estratégias capazes de diferenciar seus produtos ou serviços dos oferecidos pelos concorrentes. O cliente precisa percebê-los como algo de valor exclusivo e usufruí-los de maneira única. O objetivo de comparar os desempenhos está na possibilidade de for- necer aos gestores informações capazes de demonstrar se a produção está operando em um nível no qual seja possível superar o desempenho dos concorrentes. Caso o desempenho da produção não esteja dentro do esperado, os gestores precisam realizar ajustes na operação de produção para alcançar o desempenho necessário para o crescimento organizacio- nal de maneira sustentável. Feitos os ajustes, é importante que os pro- cessos operacionais próprios da produção se adaptem a novas condições de mercado a longo prazo (SLACK; BRANDON-JONES; JHONSTON, 2018). Figura 9 Processo operacional Funcionamento do processo Fonte: Elaborada pelo autor. Método de processamento Processamento Fo rn ec ed or Recursos a serem transformados Insumos/Recursos de transformação Entrada Recursos transformados Bens e serviços Saída Cl ie nt es O processo operacional mostrado na Figura 9 precisa estar ajustado à estratégia competitiva, para assim entregar valor ao cliente e atender às demandas de mercado. Conforme Slack, Brandon-Jones e Jhonston (2018), do ponto de vista competitivo, à medida que as operações melhoram as capacidades e as competências, há o aumento das condições de agregar fatores competitivos relevantes aos clientes, permitindo o alcance das metas e a melhora dos níveis de desempenho. Conceitualmente a diferenciação é uma estratégia que integra ações para produzir produtos ou serviços que os clientes percebam como importantes e exclusivos ao atendimentode suas necessidades (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Saiba mais Gestão de produção 101 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos ao longo deste capítulo, a função-produção ocupa uma posição estratégica para o alcance de bons resultados e de melhora do desempenho organizacional. Caso a atividade de produção não tenha a devida atenção, problemas como desperdício, atraso no atendimento dos pedidos, falta de qualidade etc. podem elevar os custos e levar à perda de vendas, combinação extremamente perigosa para a empresa, pois pode causar sua falência. Portanto, dar condições para que a função-produção contribua de maneira efetiva com o crescimento da empresa é obrigação de todo gestor que deseja o sucesso do negócio (e por que não dizer de sua carreira também?). ATIVIDADES 1. Considerando a afirmação “as responsabilidades da função-produção vão muito além das atividades físicas (tangíveis)”, descreva em quais outros tipos de processo de transformação não físicos a função-produção está presente. 2. Explique as principais diferenças e as similaridades entre as estratégias Top down e Bottom up. 3. O aspecto social, parte integrante do Triple Bottom Line, é capaz de criar valor? Justifique sua resposta. REFERÊNCIAS HAYES, R. H. et al. Pursing the competitive edge. Hoboken: Wiley, 2005. HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração estratégica: competitividade e globalização. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. KRAJEWSKI, L. J.; RITZMAN, L.; MALHOTRA, M. Administração de produção e operações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. OLIVEIRA, D. de. P. R. de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 34. ed. São Paulo: Atlas, 2018. PORTER, M.; KRAMER, M. Strategy and Society: the link between competitive advantage and corporate social responsibility. Harvard Business Review, HBR Spotlight, dec. 2006. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JHONSTON, R. Administração da produção. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018. TUBINO, D. F. Manufatura enxuta como estratégia de produção: a chave para a produtividade industrial. São Paulo: Atlas, 2015. 102 Gestão Empresarial 5 Gestão estratégica de pessoas Chegamos ao quinto e último capítulo! Na primeira seção abor- daremos a formação de equipes de alto desempenho. Iremos co- nhecer quais são os requisitos necessários à sua formação e qual é o seu papel no alcance das metas organizacionais. Na segunda trataremos da retenção de talentos e a valorização profissional. Veremos que a relevância desse tema reside na capacidade, que todo ser humano possui, de investir seu talento e criatividade em realizações de sucesso para a empresa. Na terceira seção analisaremos como utilizar o Balanced Scorecard Social aplicado à gestão de pessoas. O objetivo é conhe- cer essa ferramenta e compreender como a sua utilização pode assegurar que a implementação estratégica ocorra de maneira correta e balanceada, com base no envolvimento das pessoas com as estratégias organizacionais. Por fim, na quarta seção, conheceremos quais competências profissionais são necessárias aos diretores de alto escalão, para que tenham condições de liderar pessoas e implementar estraté- gias capazes de melhorar o desempenho da empresa. Então, vamos lá! Bons estudos! 5.1 Construção de equipes de alto desempenho Vídeo Como sabemos, toda empresa deseja se consolidar e obter van- tagem competitiva no segmento em que atua. Mas, para que isso se torne realidade, é necessário um bom planejamento estratégico. No entanto, apenas isso não basta; é preciso colocar o planejamento em execução e é nesse momento que surgem as grandes dificuldades. Ve- jamos o porquê. Primeiramente o processo de implementação do planejamento es- tratégico exige a definição de métodos que viabilizem a realização de atividades e o alcance das metas e objetivos pré-determinados pela alta direção. Em segundo lugar, as atividades necessárias à execução das estratégias dependerão de recursos (materiais e humanos). Por fim, será necessário reunir indivíduos com competências profissionais e estratégicas e formar equipes de alto desempenho para que as ativi- dades apresentem o resultado esperado. Competência estratégica Trata-se das habilidades, talento e conhecimento que o indivíduo utiliza para executar as atividades estratégicas (KAPLAN; NORTON, 2004). Competência profissional É aquela utilizada pelo indivíduo ao tomar iniciativas oportunas e relevantes em situações complexas. O indivíduo destaca-se por sua inteligência ao implementar práticas profissionais relevantes, combinando e mobilizando seus recursos pessoais de maneira adequada em contextos específicos (LE BOTERF, 2016). Como você pode observar, implementar as estratégias da empresa não é algo simples; há uma certa complexidade que precisa ser com- preendida e administrada para que os resultados esperados sejam alcançados. Por isso, contar com equipes de alto desempenho é tão importante para o sucesso da organização. Mas você deve estar querendo saber o que são equipes de alto de- sempenho, certo? Uma equipe de alto desempenho é formada por indivíduos comprometidos e engajados, que, com sinergia, buscam re- sultados de sucesso. Ela apresenta desempenho superior, pois seus componentes possuem competências profissionais e estratégicas que os diferenciam dos demais indivíduos. Para formar uma equipe de alto desempenho, o gestor precisa considerar atributos que, se combina- dos, possibilitem o alcance de resultados acima das expectativas, permitindo à empresa obter vantagem competitiva frente aos seus concorrentes. Os fato- res que fornam uma equipe de alto desempenho, segundo Santos, Mourão e Naiff (2014), são: Sa sh ki n/ Sh ut te rs to ck 103Gestão estratégica de pessoas 104 Gestão Empresarial Combinação dos desempenhos individuais para gerar resultados superiores. Haver a correta integração das competências individuais, capacidades cognitivas e experiências profissionais. Al ek sa nd r B ry lia ev /S hu tte rs to ck Sinergia suficiente entre os componentes para alcançar os objetivos comuns. Veremos agora a curva de desempenho da equipe, a qual mostra a maturação que ocorre no grupo de trabalho até ele alcançar o status de equipe de alto desempenho. Figura 1 Curva de desempenho da equipe Fonte: Katzenbach; Smith, 1994 apud Liboreiro; Borges, 2018, p. 15. Im pa ct o de d es em pe nh o Eficácia da equipe Pseudoequipe Grupo de trabalho Equipe potencial Equipe real Equipe de alto desempenho A curva de desempenho constante da Figura 1, segundo Liboreiro e Borges (2018), apresenta as cinco fases de maturidade de um agru- pamento até ele se transformar em uma equipe de alto desempenho. No Quadro 1 são descritas as características e a evolução do grau de sinergia, que indica a maturidade. Gestão estratégica de pessoas 105 Quadro 1 Descrição da evolução de maturidade dos agrupamentos Fase Status Características Sinergia 1 Grupo de trabalho As pessoas interagem entre si. Cumprem tarefas individualizadas. Possuem objetivos próprios. Não se verifica um compromisso que una as pessoas. Não há esforço conjunto para atingir um objetivo comum. 2 Pseudoequipe Compartilham um compromisso mútuo. Não se comprometem coletivamente para al- cançar os objetivos comuns. Prevalecem os interesses indi- viduais (fator responsável pelo baixo nível de desempenho). 3 Equipe potencial Clareza de propósito. Definição de um método para o alcance dos re- sultados. Passa a existir disciplina para a realização do trabalho. Despontam as competências individuais. Senso de responsabilidade co- letiva. 4 Equipe real As competências individuais são colocadas em ação. A equipe começa a apresentar uma relação de confiança entre os membros. São alcançados os resultados esperados. Os integrantes compartilham compromissos, propósitos e me- tas comuns, responsabilidade e cooperação mútua. 5 Equipe de alto desempenho Existência das condições que definemuma equipe real. Harmonia na convivência entre os componen- tes. Predominância do entendimento. Confiança mútua entre os componentes. Alto foco na busca da autossuperação. Passa a existir a preocupação com o crescimento e o sucesso de todos os membros da equipe e da empresa, e o aumento do nível de comprometimento indi- vidual e coletivo. Fonte: Adaptado de Liboreiro; Borges, 2018, p. 15. Interpretando o Quadro 1, notamos que inicialmente os grupos de trabalho são compostos por indivíduos descompromissados com o objetivo comum, prevalecendo, portanto, os interesses individuais. Na sequência, à medida que o grupo se torna mais coeso e focado nos objetivos comuns, o grau de sinergia vai aumentando. Na última fase, verifica-se a completa maturação do agrupamento, indicando a forma- ção de uma equipe de alto desempenho, com expectativa de alcançar resultados superiores para a empresa (LIBOREIRO; BORGES, 2018). Como você pode observar, a construção de uma equipe de alto de- sempenho não é algo simples e vai muito além de reunir algumas pes- soas e esperar que elas façam o melhor. Veja que, além da necessidade 106 Gestão Empresarial de recursos e políticas de incentivo, a formação de equipe de alto de- sempenho também está condicionada à reunião de diversos atributos intrínsecos aos seres humanos, como confiança, comprometimento, lealdade, determinação, disciplina etc. Já conhecemos as dificuldades que envolvem o comportamento hu- mano quanto a fazer com que todos trabalhem por um mesmo objeti- vo com afinco, união, comprometimento e dedicação. Agora veremos algumas condições as quais precisam ser atendidas pela empresa para se formar equipes de alto desempenho. Figura 2 Estrutura ecológica da eficácia da gestão do trabalho em equipe EFICÁCIA DA EQUIPE • Desempenho • Viabilidade DESENVOLVIMENTO DA EQUIPE • Processos interpessoais • Normas • Coesão • Papéis LIMITES • Diferenciação do trabalho em equipe • Integração externa CONTEXTO ORGANIZACIONAL • Cultura organizacional • Projeto Tarefa/Tecnologia • Clareza da missão • Autonomia • Desempenho/Feedback • Recompensas/Reconhecimento • Treinamento/Consultoria • Ambiente de risco Fonte: Liboreiro; Borges, 2018, p. 10. Uma estrutura ecológica está relacionada às políticas e às diretrizes que regem a organização. Com base nela, é possível analisar os limites das relações de poder, a integração dos indivíduos, das equipes e da empresa com o ambiente externo. Essa perspectiva também aborda o desenvolvimento, o desempenho, a viabilidade e os fatores ambientais (internos e externos) que podem impactar na atuação das equipes de alto desempenho (LIBOREIRO; BORGES, 2018). É relevante analisar, ainda dentro desse viés, o papel que ocupa a cultura organizacional na formação de equipes de alto desem- penho. Sua importância está na capacidade de facilitar os relacio- namentos interpessoais, desde que ajustada e alinhada à estratégia organizacional, prestigiando a excelência e o reconhecimento por metas e objetivos alcançados com sucesso (CHIAVENATO, 2020). Essa condição proporcionada pela cultura organizacional permite que as pessoas se sintam mais estimuladas e comprometidas, provo- cando-as a se sentirem mais empoderadas e elevando os níveis de sa- tisfação no trabalho, de comprometimento e de desempenho (SEIBERT et al., 2011 apud LIBOREIRO; BORGES, 2018). Outro aspecto de grande relevância é a liderança estratégica, uma vez que apresenta grande influência no desempenho das equipes. Por definição, trata-se da capacidade de um líder de vislumbrar novas pos- sibilidades, capacitar, influenciar e fazer com que seus liderados criem condições para o crescimento e o sucesso do negócio (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Nesse sentido, a liderança estratégica aliada e alinhada à cultura organizacional é uma força para a formação de equipes de alto desem- penho e para a execução das estratégias corporativas. De acordo com Chiavenato (2020), para que haja a condução correta das equipes, a liderança estratégica precisa determinar os responsá- veis pela execução do plano estratégico, quais operações devem ser realizadas e o alinhamento entre elas, os novos objetivos e métricas a serem alcançados e como será realizado o trabalho pelas equipes. Agora vejamos alguns aspectos a cargo da liderança estratégica, no momento da execução das estraté- gias corporativas, que precisam ser observados. Et iA m m os /S hu tte rs to ck 107Gestão estratégica de pessoas 108 Gestão Empresarial Figura 3 Aspectos fundamentais na execução da estratégia Fonte: Chiavenato, 2020, p. 207. Participação e planejamento das pessoas Liderança estratégica Abertura do estilo de gestão Adequação da estrutura Ajuste da cultura corporativa Comunicação e orientação Execução estratégica O esquema representado na Figura 3 demonstra que a liderança estratégica é a responsável pela condução, avaliação e mensuração das metas a serem alcançadas a longo prazo. Além disso, segundo Chiave- nato (2020), ela precisa ter especial atenção com a comunicação, pois é por meio desta que as informações chegam para orientar as áreas operacionais, as equipes e as pessoas como um todo. Não obstante, a liderança estratégica precisa verificar se os meios de relacionamento e de integração interpessoal e interdepartamental estão ajustados à estrutura organizacional, de modo a se obter efeitos sinérgicos do trabalho em equipe. A liderança estratégica também pre- cisa estimular a participação e o engajamento das pessoas e das equi- pes, para que se tornem facilitadoras de mudanças e comprometidas com as estratégias organizacionais (CHIAVENATO, 2020). Por fim, outro fator é o estilo de gestão. Para formar e administrar equipes de alto desempenho é preciso que haja um modelo de gestão com perfil democrático e renovador, capaz de incrementar o aprendi- zado e o desenvolvimento das pessoas. O filme Legítimo Rei mostra como um líder estratégico consegue transformar uma equipe desmotivada em campeã. Quando cada um dá o melhor si, o time pode se tornar imbatível. Direção: David Mackenzie. EUA: Sigma Films; Anonymous Content, 2018. Filme Gestão estratégica de pessoas 109 Como vimos, não basta o gestor agrupar vários indivíduos, criar um conjunto e nominá-lo como equipe de alto desempenho. É muito mais: requer recursos, disposição e competências que, por vezes, não estão disponíveis na empresa. Além disso, é imprescindível à empresa que deseja formar e manter equipes de alto desempenho rever sua cultura, quebrar paradigmas, investir em recursos e motivar as pessoas para alcançar resultados de sucesso. O artigo Gestão de equipes de alto desempenho: abordagens e discussões recentes, escrito por Karla Liboreiro e Renata Borges e publicado na revista Gestão & Regionalidade em 2018, tem como principal objetivo apresentar a complementaridade de conceitos e de práticas de gestão de equipes de alto desempenho. Acesso em: 9 dez. 2020. https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_gestao/article/view/4316/2567 Artigo 5.2 Retenção de talentos e valorização profissionalVídeo Agora abordaremos outro assunto de muita relevância à gestão empresarial: a retenção e a valorização de talentos. Mas antes, vamos entender a importância que o profissional tem para a organização. Como você já pôde perceber, profissionais com competências di- ferenciadas, comprometimento e foco no alcance dos objetivos con- seguem auxiliar a empresa a obter resultados de sucesso. Por isso, as organizações precisam olhar para o profissional, independentemente da posição ocupada por ele, como o grande responsável pelas realiza- ções de sucesso, uma vez que as “organizações não criam ou realizam estratégias: as pessoas o fazem. As pessoas que investem seu talento, criatividade e energia para serviço estratégico” (MANTERE; BALOGUN; JARZABKOWSKI, 2009, p.1). Segundo Ferreira (2014), podemos dizer que uma pessoa talentosa é aquela a qual se destacapela sua excepcional inteligência e aptidões que podem auxiliar a empresa a construir planos, resolver problemas e alcançar objetivos com excelência. A perspectiva de que os recursos humanos podem auxiliar na obtenção de vantagem competitiva vem sendo motivo de estudo de 110 Gestão Empresarial diversos pesquisadores, pelo viés da resource-based view (RBV) para com- provar tal possibilidade. Nesse sentido, temos os estudos de Picchiai, Gonçalves e Lopes (2007) e Carbone et al. (2009), os quais apontam que a obtenção de vantagem competitiva com base em recursos humanos é possível, sendo decorrente das capacidades emocionais e intelectuais presentes em todas as pessoas, as quais são as grandes contribuidoras para a formação da inteligência organizacional. Esta tem a seguinte base de formação: • Sistemas de informação e conhecimento. • Competências dos funcionários. • Qualidade dos processos de produção. • Atendimento ao cliente. • Atração, valorização e retenção do capital intelectual (considerado um bem intangível de valor de difícil mensuração). Mas a competência de a inteligência organizacional criar valor com base nas capacidades emocionais e intelectuais das pessoas precisa contar com mudanças na maneira como as empresas lidam com seus funcionários, conforme ilustrado na Figura 4. Fonte: Slack, 2002 apud Monteiro, 2011, p. 116. Figura 4 Classificação dos métodos de administração do trabalho Pessoal tratado como RECURSO Pessoal tratado como CUSTO Ênfase no controle Ênfase no comprometimento Divisão no trabalho Ergonomia Abordagens comportamentais Empowerment Trabalho em equipe Trabalho flexível Administração científica Estudo do método auto gerenciado Pesquisas que se apoiam em resource-based view (RBV) consideram que a aquisição de vantagem competitiva pode ser conseguida com base em recur- sos que a empresa possui para competir. Dentre esses recursos, segundo a RBV, estão os recursos humanos, que podem represen- tar um diferencial competitivo (WERNERFELT, 1984). Saiba mais Gestão estratégica de pessoas 111 Ao longo das décadas, as práticas de gestão de pessoas vêm evo- luindo, para que as empresas possam ter uma melhor compreensão do potencial humano e de como este pode contribuir com o sucesso organizacional. Quando uma empresa contrata um funcionário e o enxerga apenas como um custo, ela está interessada somente em seus recursos físicos. Por isso, ele precisa ser supervisionado e ter sua produção controla- da, a fim de que tenha suas metas atingidas. Nesse caso, a empresa não espera que o funcionário planeje, pense ou crie algo inovador, mas apenas que produza ou faça o que lhe foi determinado. É o que a lite- ratura trata por teoria da administração científica. Já as empresas que consideram seus funcionários como recursos entendem que estes são agentes de criação de valor e que a relação empresa-empregado vai muito além da alienação da mão de obra, ha- vendo entre ambos um sentimento de cooperação e de valorização mútuas, o qual culmina em ganhos para os dois lados. Na literatura, esse modelo de gestão é denominado gestão estratégica de pessoas. É importante que, ao adotar uma estratégia de retenção e de valori- zação de talentos, a empresa crie condições estruturais e psicológicas, como as ilustradas no Quadro 2, as quais deixem explícita a aproxima- ção dos objetivos organizacionais aos individuais. A proposta da administração científica é a de que os traba- lhadores e seus supervisores imediatos devem se ocupar exclusivamente da produção. Toda atividade cerebral deve ser removida da fábrica e centraliza- da no departamento de planeja- mento (MAXIMIANO, 2015). Saiba mais A gestão estratégica de pessoas adota um novo sistema de valores, que busca atender aos objetivos da empresa e dos funcionários. Nesse modelo, o capital humano é o meio existente na organização capaz de criar valor (MARRAS, 2011). Saiba mais Quadro 2 Aspectos essenciais para retenção e valorização de talentos Ordem Aspecto Característica 1 Incentivos e recompensas Meios eficazes de motivar as pessoas no sentido do alcance de determi- nados objetivos da empresa. Tendência para que se ajustem cada vez mais as diferentes expectativas, os desejos, as necessidades e as conveniências individuais das pessoas. 2 Remuneração flexível Adequação e ajustamento dos sistemas de incentivos e de recompensas às diferenças individuais é a remuneração variável. 3 Administração por objetivos Participativa e democrática. 4 Planos de sugestões Ideias levadas a sério e consideradas com muita atenção pelas empre- sas. 5 Qualidade de vida no trabalho Forte preocupação com a qualidade de vida das pessoas no trabalho e fora dele. 6 Planos de benefícios sociais Configurados de acordo com as necessidades e escolha de cada fun- cionário. 7 Saúde Pensada como um investimento que pode melhorar a produtividade das pessoas e sua qualidade de vida. (Continua) 112 Gestão Empresarial Ordem Aspecto Característica 8 Conforto e segurança Ausência completa de riscos no trabalho. O cuidado com o ambiente físico melhora a produtividade e a satisfação das pessoas, além de influenciar a imagem da empresa. 9 Todo funcionário é um diretor Princípio de administrar com as pessoas, e não as pessoas. 10 Obediência à legislação traba- lhista Respeito a todos os tipos de contratos, individuais ou coletivos, entre a empresa e seus funcionários, e aos acordos sindicais. Fonte: Adaptado de Chiavenato, 2015. As ações propostas no Quadro 2 representam mudanças significati- vas na relação empresa-funcionário. É importante salientar que, nesse novo modelo, a empresa deve romper com as perspectivas de interes- ses acima dos interesses dos funcionários e de valor e merecimento atrelados ao cargo e não às competências profissionais, adotando uma postura em que privilegie os aspectos motivacionais e de justiça nas relações profissionais. De acordo com Chiavenato (2015), ambas as perspectivas, aliadas a uma política de remuneração, benefícios sociais, saúde e segurança do trabalho, visam à melhora da qualidade de vida no trabalho e fora dele. Além disso, a empresa busca uma maneira participativa e demo- crática de propiciar maiores alinhamento e engajamento das pessoas com seus objetivos estratégicos. Essa ação proporciona mais espaço e valor às sugestões dos funcionários. Por fim, as organizações devem demonstrar um profundo respeito aos contratos, individuais ou coleti- vos, e à legislação trabalhista de maneira geral. Com a união de todas as ações citadas, é possível que as empresas retenham seus talentos com base na valorização pessoal, profissional e no respeito das relações sociais e de trabalho. As ações elencadas são tendências que visam criar um perfil organizacional, o qual se fun- damenta em pessoas que criam valor e impulsionam a empresa e sua própria carreira ao se destacarem em suas atividades. Além disso, per- mitem a melhoria da qualidade de vida das pessoas e as estimulam a permanecerem na empresa (CHIAVENATO, 2015). Essas ações podem eliminar desiquilíbrios e frustrações, que ge- ralmente são responsáveis pela desmotivação e por conflitos entre empresa e empregado. Quando ocorrem desiquilíbrios nas relações interpessoais, o trabalhador se vê obrigado a viver sua jornada de trabalho em um ambiente ruim, o que o impossibilita de realizar seus Em sua opinião, qual é a maneira correta de reter e valorizar talen- tos? Para responder, considere o contexto das empresas em que trabalhou ou trabalha, suas experiências e expectativas profissionais e individuais e compare com o conteúdo estudado. Desafio Gestão estratégica de pessoas 113 objetivos de crescimento social e profissional. Nesse caso, o resultado pior fica para a empresa, que arcará com a elevação de seu turnover e absenteísmo, fatores que consequentemente levarão à perda da qua- lidade e ao aumento do passivo trabalhista. Em resumo, ações bem sucedidas de retenção e devalorização de talentos auxiliam as empresas a melhorarem suas performances, a im- plementarem suas estratégias competitivas e a se destacarem positiva- mente no mercado pela maneira como valorizam e administram seus recursos humanos. O artigo O impacto do employer branding na atração e retenção de talentos, es- crito por Fabricio Stocker, Amanda Correa, Isabella de Souza e Sarah Batista e publicado na Revista de Carreiras e Pessoas em 2020, tem como principal objetivo analisar o impacto do employer branding (desenvolvimento de ações que visam criar uma percepção positiva de uma marca ou organização) sobre as diferentes gerações quanto à atração e à retenção de talentos. A leitura desse artigo auxiliará no aprofundamento e na melhor compreensão sobre a retenção e a valorização de talentos no contexto atual. Acesso em: 9 dez. 2020. https://revistas.pucsp.br/ReCaPe/article/view/44726 Artigo turnover: alta rotatividade de funcionários (desligamento e contratação de funcionários). absenteísmo: ausência no trabalho (falta, licença, atraso etc.). Glossário 5.3 O Balanced Scorecard Social na gestão de pessoasVídeo Muito bem, até aqui vimos que equipes de alto desempenho e pes- soas talentosas são necessárias para o bom desempenho das empre- sas. Todavia, as ações de longo prazo, definidas para o alcance dos objetivos globais da empresa, precisam ser estrategicamente planeja- das, orientadas, parametrizadas e implementadas, a fim de conduzi- rem ao resultado desejado. Das ações elencadas, a implementação das estratégias é a que re- quer mais esforços e atenção, pois mesmo com grande potencial de su- cesso, se uma estratégia apresentar falhas ao longo da sua execução, o alcance dos objetivos globais ficará comprometido (CHIAVENATO, 2020). Para assegurar que a implementação da estratégia ocorra de maneira correta e balanceada, os gestores podem recorrer ao Balanced Scorecard https://revistas.pucsp.br/ReCaPe/article/view/44726 114 Gestão Empresarial (BSC). Trata-se de uma ferramenta de gestão criada por Kaplan e Norton na década de 1990, que, de maneira metodológica, busca propiciar o equilíbrio organizacional com base na determinação de indicadores de desempenho para quatro perspectivas com objetivos diferentes, a sa- ber: financeira; dos clientes; dos processos internos; da aprendizagem e do crescimento. Essas perspectivas estão ilustradas na Figura 5. Figura 5 Balanced Scorecard e as perspectivas estratégicas OBJETIVO: Desempenho econômico desejado a longo prazo Contempla: • Processos críticos. Contempla: • Satisfação. • Fidelidade. • Retenção. • Captação. • Lucratividade. Contempla: • Crescimento e perfil da receita. • Melhoria da produtividade. • Redução de custos. • Utilização de ativos em estratégias de investimento. Contempla: • Conhecimentos organizacionais. • Capacidades individuais. • Comportamento organizacional. Perspectiva financeira Perspectiva do cliente Perspectiva da aprendizagem e do crescimento Perspectiva dos processos internos Ba kh tia r Z ei n/ Sh ut te rs to ck Fonte: Adaptado de Martins et al., 2012. Cada perspectiva ilustrada na Figura 5 tem objetivos próprios. Confor- me Martins et al. (2012), a perspectiva financeira visa melhorar o perfil da receita com base na produtividade, na redução de custos e na utili- zação de ativos em estratégias de investimento. O indicador financeiro é o único que permanece com a meta preservada, enquanto os demais podem variar de acordo com a lacuna de desempenho a ser corrigida. Já a perspectiva do cliente tem por objetivo conhecer o perfil e as necessidades dos clientes, a fim de criar uma estratégia de fideliza- ção. Enquanto a perspectiva dos processos internos está relacionada com conhecer quais processos devem ser melhorados para atender indicadores de desempe- nho: ferramenta utilizada para medir o nível de desempenho e o alcance de resultados da empresa, de seus departamentos ou de seus processos. Glossário Gestão estratégica de pessoas 115 aos stakeholders. Por fim, temos a perspectiva da aprendizagem e do crescimento, que contempla as competências e comportamentos in- dispensáveis à competitividade da organização. Para melhor compreensão do Balanced Scorecard, a Figura 6 de- monstra, de maneira sucinta, sua aplicação para atingir a meta de de- sempenho financeiro pretendida pela empresa. Figura 6 Desenvolvimento e conexão das perspectivas do BSC Implementação da estratégia de aumento do desempenho com base no Balanced Scorecard Ló gi ca d e “c au sa e e fe ito ” OBJETIVO Aumentar em 10% o desempenho financeiro, com base nas vendas . Exemplo: • Vendas atuais 60%. • Para atingir os 10% de aumento no desempenho financeiro da empresa é preciso chegar aos 80% de aumento nas vendas • Então, 20% é a meta de aumento nas vendas. Indicador preservado como síntese final do aumento de desempenho. Ações e objetivos definidos para aumentar o grau de satisfação dos clientes, as vendas e por fim o indicador financeiro. Perspectivas (indicadores) Objetivos estratégicos Crescimento do negócio Participação no mercado Lucros Receitas Financeira Melhoria da qualidade da fabricação Maior eficiência Excelência na produção Processos internos Satisfação do cliente Fidelização do cliente Qualidade do produto Clientes Treinar e equipar o pessoal Maior motivação do pessoal Capacitação das pessoas Aprendizado e crescimento Mapa da estratégia Meta Conhecida a nova meta para o “grau de satisfação do cliente” é preciso determinar, quais ações são necessárias para que seja estimulado o aumento das vendas. Determinadas as ações, é necessário estipular uma meta de vendas a ser alcançada, para que seja obtido 10% no desempenho da empresa. (Meta 20%) Indicador: Grau de satisfação dos clientes Para saber como atingir o objetivo de aumentar em 10% o desempenho financeiro, é necessário saber se o cliente está satisfeito com o produto ou serviço. (Meta 20%) Exemplo: • Grau de satisfação do cliente 70%. • Para atingir os 10% de aumento no desempenho financeiro da empresa é preciso chegar aos 90% de satisfação. • Então, 20% é a meta de aumento de satisfação do cliente. Fonte: Elaborada pelo autor. 116 Gestão Empresarial Como você pode perceber na Figura 6, após definido o desempenho financeiro desejado, a alta administração determinará as ações que irão compor o mapa e os objetivos estratégicos a serem implementa- dos e mensurados por meio da utilização do Balanced Scorecard. É necessário esclarecer que no mapa estratégico estão definidos os projetos que precisam ser colocados em ação para a organização atingir os indicadores de desempenho e as metas de curto, médio e longo pra- zos (MASCARENHAS, 2013). Com relação aos objetivos estratégicos, sua função é determinar as ações e orientar o comportamento das pessoas para que executem as ações estratégicas em conformidade com o que pede o mapa estratégico e a perspectiva com a qual se relaciona. Nesse sentido, observamos que a filosofia do Balanced Scorecard, segundo Kaplan e Norton (1997), parte do pressuposto de que, para conseguir um bom desempenho econômico a longo prazo, é preciso que a empresa estabeleça uma correlação perfeita e equilibrada en- tre as ações estratégicas, e que estejam alinhadas e conectadas ao mesmo objetivo e a indicadores de desempenho definidos para cada perspectiva. Quando os autores citam a necessidade de ações estratégicas ali- nhadas e conectadas, percebemos que surge uma relação de causa e efeito na aplicação do BSC. Essa característica é capaz de tornar tangí- vel a execução das estratégias corporativas. Agora vamos abordar o Balanced Scorecard aplicado à gestão de pes- soas. Para o nosso estudo, vamos utilizar a perspectiva aprendizado e crescimento, que está vinculada à capacitação das pessoas e às ações de treinar e de motivar o pessoal, a fim deauxiliar a empresa a executar sua estratégia de crescimento. Essa perspectiva utiliza o capital huma- no, da informação e o organizacional, que, conforme Kaplan e Norton (2004), são ativos intangíveis necessários à implementação das estraté- gias organizacionais. Cada um possui as seguintes características: 1. CAPITAL HUMANO: as habilidades, talentos e conhecimento que os funcionários de uma empresa possuem. 2. CAPITAL DA INFORMAÇÃO: as bases de dados, os sistemas de informação, as redes e a infraestrutura tecnológica da empresa. 3. CAPITAL ORGANIZACIONAL: a cultura, sua liderança, quão alinha- das as pessoas estão em relação aos objetivos estratégicos e a habilidade de os funcionários compartilharem o conhecimento. (KAPLAN; NORTON, 2004, p. 55) Gestão estratégica de pessoas 117 A utilização desses ativos intangíveis – devidamente alinhada com o ambiente interno, apoiada por um modelo de gestão de pessoas com foco nas estratégias organizacionais e em coerência com os sistemas de recursos humanos – torna a organização orientada à estratégia. Em- presas assim destacam-se das demais, pois sua gestão permite que as pessoas sejam mais eficientes e eficazes na execução das estratégias, influenciando a melhora da entrega de valor e os resultados econômi- cos e financeiros (MASCARENHAS, 2013). Segundo Kaplan e Norton (2004), empresas orientadas à estratégia têm os seguintes objetivos: • Transformar a estratégia em tarefa. • Alinhar a organização com a estratégia. • Traduzir a estratégia. • Mobilizar a mudança por meio da liderança. • Motivar; a estratégia é tarefa de todos. Além disso, essas empresas utilizam cinco princípios, que permitem alinhar as ações propostas pela função de gestão de pessoas à lógica do Balanced Scorecard. TRADUZIR TRADUZIR ESTRATÉGIA • Missão/visão • Mapas estratégicos • Balanced scoreCard • Objetivos • Indicadores MOBILIZAR LIDERANÇA EXECUTIVA • Patrocínio do CEO e liderança • Engajamento do time Executivo • Nova forma de gestão • Responsabilidade pela estratégia • Cultura de desempenho ALINHAR ALINHAMENTO ORGANIZACIONAL • Papel corporativo • Relação corporação EPIs • Relação EPIs - staff • Fornecedores • Clientes MOTIVAR ESTRATÉGIA É TAREFA DE TODOS • Consciência estratégica • Alinhamento de metas • Incentivos vinculados GERENCIAR ESTRATÉGIA É UM PROCESSO CONTÍNUO • Vínculo entre o planejamen- to e o orçamento • Estabelecimento de metas e aprovação a novas iniciativas • Alinhamento dos programas de melhorias • Sistema de feedback • Reuniões gerenciais • Aprendizado e adaptação BALANCED SCORECARD Organização Orientação para estratégia Fonte: Kaplan e Norton, 1997, p. 19. Figura 7 Cinco princípios de uma organização orientada à estratégia 118 Gestão Empresarial Os princípios vistos na Figura 7, de acordo com Mascarenhas (2013), podem ser interpretados da seguinte maneira: • O princípio da mobilização prevê a atribuição de responsabilida- des aos funcionários, a fim de que executem as estratégias sob seu encargo. Quando utilizado sob a lógica BSC, exigirá uma lide- rança baseada na autonomia e mudanças na cultura organizacio- nal, visando otimizar o engajamento das pessoas. • O princípio da tradução refere-se à construção dos elementos que compõem o BSC, como o mapa estratégico, os indicadores de desempenho e as metas. • O princípio do alinhamento visa desdobrar a estratégia para que ela seja discutida sob o ponto de vista do modelo de negócio, do papel corporativo e das relações com seus stakeholders. • O princípio da motivação objetiva expandir a consciência es- tratégica e melhorar os benefícios dados às pessoas. Enfatiza a clareza da comunicação e o alinhamento entre os objetivos indi- viduais e organizacionais. • O princípio da gestão tem por objetivo estabelecer um processo de revisão permanente dos resultados e dos processos e em cur- tos períodos do ciclo estratégico. Segundo Kaplan e Norton (1997), a implementação de um modelo de gestão da estratégia orientado pela aplicação do Balanced Scorecard leva a empresa a um nível de evolução superior em relação aos seus concorrentes em desvantagem. Todavia, conforme os autores, esse não é um projeto rápido e fácil de ser concluído, uma vez que demanda comprometimento a longo prazo de todos os envolvidos na execução das estratégias. Para o alcance dos resultados esperados, o BSC precisa ser incorporado à cultura organizacional para que possa gerar aderência de todas as pes- soas e setores da organização envolvidos com a execução das estratégias. Considerando o conteúdo estudado, verificamos que o Balanced Scorecard aplicado à gestão de pessoas desponta como uma excelente ferramenta a ser incorporada no modelo de gestão da empresa, uma vez que possui a capacidade de mobilizar competências e de orientar comportamentos, atributos que podem contribuir sobremaneira com o alcance dos resultados organizacionais. A leitura do livro Gestão estratégica de pessoas – evolução, teoria e crítica pode auxiliar em uma melhor compreensão da aplicação do Balanced Scorecard vinculado à gestão de pessoas. MASCARENHAS, A. O. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2013. Livro O artigo Indicadores de desempenho e engajamento profissional em orga- nizações inovadoras, escrito por Marília Santos, Luiz Quel, Almir Vieira e Alessandro Rosini, e publicado na Revista de Gestão e Secretariado em 2019, tem como principal objetivo analisar a inclusão do índice de engajamento profissional entre os indicadores do Balanced Scorecard, particularmente na perspectiva da aprendizagem e do crescimento. Acesso em: 27 nov. 2020. https://www.revistagesec.org.br/secretariado/article/view/874/pdf Artigo 5.4 Competências essenciais aos diretores de alto escalãoVídeo Bom, chegamos à última seção deste capítulo. Vamos aprender que competências profissionais são necessárias aos diretores de alto escalão, os quais, na condição de líderes estratégicos, precisam ter a capacidade de influenciar eficazmente o comportamento humano, visualizar o futuro e o ambiente, lidar com as contingências oriundas do ambiente econômico e financeiro e conduzir a empresa ao sucesso (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). É importante termos a consciência de que, quando um diretor de alto escalão falha em sua missão, ele compromete toda a estrutura sob sua responsabilidade, prejudicando funcionários, parceiros, acionistas e a própria empresa, a qual pode ir à falência. Dessa forma, ser compe- tente nessa posição é essencial para garantir resultados de sucesso para a empresa, colocando-a à frente de seus concorrentes e destacan- do-a em mercados e ambientes econômicos altamente competitivos e globalizados. Portanto, torna-se fundamental abordar quais competências pro- fissionais são necessárias aos dire- tores de alto escalão, de modo a garantir a sustentabilidade organizacional a longo prazo. Mas antes de prosseguirmos nessa discussão, vamos co- nhecer a definição de compe- Andrii Yalanskyi/Shutterstock 119Gestão estratégica de pessoas https://www.revistagesec.org.br/secretariado/article/view/874/pdf 120 Gestão Empresarial tências profissionais, essenciais ao exercício da atividade de diretor de alto escalão. Note, há tempos observamos que o trabalho está se tornando uma atividade instável e complexa, ou seja, ele não se caracteriza mais como um conjunto de tarefas descritivas, próprias de um determinado cargo ou função. O trabalho se transformou em um prolongamento das com- petências profissionais do indivíduo. Essa nova postura tem levado as empresas a exigirem de seus funcionários maior qualificação e capa- cidade de alcançar os resultados, reduzindo a importância pela forma que o trabalho deve ser realizado (ZARIFIAN, 2012). Para atender a essa demanda por resultados, o indivíduo precisa estar capacitado a praticar ações relacionadas a determinados saberes, conforme ilustrado na figura a seguir. Figura 8 Verbos associados à noção de competênciaFonte: Adaptado de Fleury; Fleury, 2008. INDIVÍDUO SOCIAL ECONÔMICO AGREGA VALOR ORGANIZAÇÕESConhecimento Habilidade Atitude VERBOS Saber agir Saber mobilizar Saber transferir Saber aprender Saber engajar-se Ter visão estratégica Assumir responsabilidades Os verbos descritos na Figura 8 indicam que os saberes são com- petências capazes de criar valor social e/ou econômico, desde que mo- bilizados de maneira eficiente e eficaz. É importante esclarecer que o aspecto social está relacionado à competência profissional, a qual pode ser definida como um saber agir responsável, que implica a capacidade individual de mobilizar os conhecimentos, as habilidades e as atitudes, com o propósito de gerar o melhor resultado para a organização e o próprio indivíduo (LE BOTERF, 2016). Quando o valor produzido é econômico, o indivíduo está contri- buindo para a construção das competências organizacionais, definidas Gestão estratégica de pessoas 121 como o conjunto de todas as competências profissionais necessárias à obtenção e à sustentação de vantagens competitivas e que agregam valor ao negócio (OLIVEIRA, 2014). As competências profissionais, conforme Le Boterf (2016), fazem com que um profissional se destaque ao demonstrar sua capacidade de tomar iniciativas oportunas em situações complexas, distinguin- do-se por sua inteligência ao implementar práticas profissionais rele- vantes, combinando e mobilizando recursos pessoais adequados em contextos específicos de trabalho. Essas competências não são inatas, mas sim construídas com base em situações vivenciadas pelo indivíduo no contexto social e profissional, conforme pode ser observado na fi- gura a seguir. Figura 9 Componentes responsáveis pelo desenvolvimento da competência As situações profissionais O sujeito Pr ofi ss io na lis m o As situações e o percurso de formação Fo rm aç ão p ro fis si on al Histórico de socialização O c ont ext o p rofi ssio nal Fonte: Le Boterf, 2016, p. 50. Na Figura 9, podemos observar que a formação da competência profissional está intrinsecamente relacionada à interação do indivíduo com o ambiente social, de trabalho e de formação profissional. Enquanto no ambiente social concentram-se as experiências e os conhecimentos adquiridos com base nas relações pessoais, que in- fluenciarão no histórico de socialização do sujeito, no contexto profis- sional observamos as situações complexas do trabalho, com as quais o indivíduo terá que lidar de maneira prática, a fim de solucionar pro- blemas e resolver conflitos com eficiência e eficácia. Por fim, no am- 122 Gestão Empresarial biente de estudo, encontra-se o aprendizado profissional, o qual se refere às especificidades das atividades profissionais que o indivíduo irá desempenhar. Portanto, para que uma competência profissional seja caracteriza- da, é imprescindível que o indivíduo utilize todo o seu acervo de conhe- cimentos e habilidades adquiridos de maneira prática e eficiente no desempenho de suas funções profissionais (LE BOTERF, 2016). Agora veja que interessante: de acordo com Le Boterf (2016), sem- pre que o indivíduo, ao longo da trajetória profissional, deparar-se com uma nova situação complexa e isso o fizer questionar seus métodos de resolução e a maneira de melhorá-los, ele adquirirá um novo conheci- mento. Caso esse novo conhecimento seja colocado em prática e pro- duza bons resultados, terá surgido uma nova competência profissional. Situações como essa geralmente são encontradas na trajetória pro- fissional dos diretores de alto escalão, que, ao vivenciarem experiências complexas, desenvolvem soluções e alcançam resultados de sucesso, o que faz aumentar consideravelmente seu portfólio de competências. A seguir são apresentadas as competências profissionais consideradas essenciais aos diretores de alto escalão. Quadro 3 Competências requeridas aos diretores de alto escalão Ordem Competência Saberes 1 Ética Saber agir de maneira íntegra. 2 Comunicação Saber interagir verbalmente. 3 Conhecimento do ambiente interno de negócio Saber lidar com as complexidades do ambiente interno. 4 Conhecimento da realidade internacional e nacional Saber capturar os sinais oriundos do ambiente externo. 5 Análise de informações Saber analisar balanços, cenários, relatórios etc. 6 Negociação Saber conduzir as discussões. 7 Imparcialidade Saber ser neutro. 8 Cooperação Saber apoiar e colaborar. 9 Liderança Saber liderar. 10 Proatividade Saber tomar iniciativas adequadas. 11 Tomada de decisão Saber se posicionar individualmente. Fonte: Adaptado de Fernandes, 2020. Gestão estratégica de pessoas 123 Apesar da aparente heterogeneidade entre as compe- tências profissionais elencadas no Quadro 3, quando reunidas, constituem um conjunto com característica estratégica que decorre da convergência e da com- plementaridade existente entre elas. Isso auxilia substancialmente no desempenho das atividades do diretor de alto escalão, uma vez que permite maior assertividade e eficiência no processo de tomada de decisão e nas relações com os stakeholders. Como exemplo dessa convergência e complementaridade, pode- mos citar a ética e a comunicação. Quando a integridade de caráter faz parte do perfil de um diretor de alto escalão, suas ações e palavras são tidas como confiáveis. Nesse sentido, como todas as decisões exe- cutivas precisam ser comunicadas aos stakeholders, a credibilidade au- xiliará na aceitação da veracidade da mensagem, evitando que pairem dúvidas sobre o que realmente está sendo informado. A boa comuni- cação possui requisitos próprios, como clareza, coesão e objetividade, contudo a credibilidade é o que a sustentará. O mesmo ocorre com o conhecimento do ambiente interno de ne- gócio e o conhecimento da realidade nacional e internacional. Quando presentes e utilizadas de maneira complementar, ambas as competên- cias capacitam o diretor de alto escalão a analisar, planejar e imple- mentar os projetos e as estratégias organizacionais. No que se refere ao saber negociar, é preciso que o negociador goze de boa reputação e credibilidade; caso contrário, qualquer acordo será colocado sob suspeição, dificultando sua celebração. Essa competência precisa estar vinculada a outras, como a de saber se comunicar, de co- nhecer os detalhes da empresa ou do ambiente interno e externo e de agir com imparcialidade. Além disso, também é preciso saber cooperar de maneira efetiva para que os interesses da organização sejam colo- cados acima dos particulares. Quanto à liderança, essa é uma competência que, sem as demais, tor- na-se praticamente inviabilizada. Um líder sem ética e moral, o qual não sabe se comunicar, não conhece a empresa e seus liderados, não sabe negociar e não coopera com o crescimento geral, não tem condições de exercer a liderança plenamente, pois possivelmente suas decisões serão desprovidas de embasamento sólido e de credibilidade. O filme O Diabo Veste Prada permite analisar o comportamento de um líder que tem por objetivo apresentar bons resul- tados e contribuir com a aprendizagem de seus liderados, a fim de que cresçam e amadureçam profissionalmente. Isso faz da liderança uma tarefa complexa. Por isso, um bom líder é fruto de muito estudo e desen- volvimento profissional e pessoal. Direção: David Frankel. EUA: 20th Century Fox, 2006. Filme Vectorium/Shutterstock 124 Gestão Empresarial Outrossim, o líder precisa atuar com proatividade e assertividade na busca por informações, deve antever os riscos, as oportunidades e saber decidir, sem abrir mão de uma postura firme e motivadora na condução das pessoas, além de ser atento ao alcance dos objetivos estratégicos. Considere que “a escolha dos altos executivos é uma decisão crítica, com implicações importantes para o desempenho da empresa”. Para evitar riscos é preciso “identificar indivíduos com potencial de liderança gerencial e estratégica” (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013, p. 349). Pois bem,chegamos ao final de nossos estudos. Com ele, podemos concluir que os diretores de alto escalão são os principais responsáveis por formular e implementar as estratégias organizacionais. Cabe sa- lientar que é pela maneira como os diretores administram a empresa que os planos estratégicos e a execução das estratégias organizacionais poderão, ou não, alcançar resultados acima da média (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2013). Portanto, um dos elementos essenciais para o sucesso organizacional é possuir um quadro de diretores de alto escalão com competências pro- fissionais que atendam às necessidades da empresa e dos stakeholders e possam contribuir com o sucesso e crescimento a longo prazo. O artigo Características individuais relevantes ao conselheiro de administração independente, escrito por Ciro Fernandes, Eduardo Oliva e Edson Kubo, e publicado na Revista Contemporânea de Contabilidade em 2020, tem como principal objetivo conhecer as principais competências necessárias à atividade de conselheiro de administração. A leitura desse artigo auxiliará na compreensão do conjunto de competências profissionais requerido ao perfil profissional de diretores de alto escalão. Acesso em: 10 dez. 2020. https://periodicos.ufsc.br/index.php/contabilidade/article/view/2175-8069.2020v17n43p120 Artigo CONSIDERAÇÕES FINAIS Muito bem, chegamos ao final de mais um capítulo. Observe que formar equipes de alto desempenho está diretamente vinculado aos talentos que a empresa possui em seus quadros e à forma como são liderados. Nes- se sentido, a utilização de ferramentas capazes de orientar e mensurar os resultados organizacionais somente será bem aproveitada se os gestores tiverem competência de liderar seus subordinados, de modo a alinhar seus objetivos aos da empresa, contribuindo com a melhora do desempenho. https://periodicos.ufsc.br/index.php/contabilidade/article/view/2175-8069.2020v17n43p120 Gestão estratégica de pessoas 125 Portanto, não basta ascendermos ao topo de nossas carreiras; preci- samos ter a capacidade de preparar indivíduos e equipes para alcançar resultados de sucesso. Os diretores de alto escalão podem optar por di- versas ações, todavia é necessário que elas estejam alinhadas em uma mesma direção, a fim de reduzir o impacto negativo das forças oriundas do contexto externo sobre as estratégias organizacionais. A determinação da direção estratégica de maneira adequada é o que definirá o crescimento da empresa a longo prazo. Contudo, trata-se de uma tarefa complexa, a qual requer um grau de acerto elevado nas deci- sões. Por derradeiro, a direção estratégica está sujeita a uma via em que a realidade é complexa e as variáveis fogem ao controle. Esse cenário exige alta performance e capacidades estratégicas acima da média dos diretores de alto escalão, para que não sucumbam e a em- presa não pereça em meio à tormenta das variações econômicas, políticas e financeiras que espreitam sua jornada. ATIVIDADES 1. Explique de que maneira o estilo de gestão pode influenciar os resultados alcançados pelas equipes de alto desempenho. 2. Explique quais são as grandes contribuidoras para a formação da inteligência organizacional. 3. Quais são os pressupostos definidos por Kaplan e Norton (1997) para a empresa que utiliza o Balanced Scorecard conseguir um bom desempenho econômico a longo prazo? REFERÊNCIAS CARBONE, P. P. et al. Gestão por competência e gestão do conhecimento. Rio de Janeiro: FGV, 2009. CHIAVENATO, I. Remuneração, benefícios e relações de trabalho: como reter talentos na organização. Barueri: Manole, 2015. CHIAVENATO, I. Planejamento Estratégico: da Intenção aos resultados. São Paulo: Grupo GEN, 2020. FERNANDES, C. A.; OLIVA, E. C.; KUBO, E. K. M. Características Individuais Relevantes ao Conselheiro de Administração Independente. Revista Contemporânea de Contabilidade, v. 17, n. 43, p. 120-135, abr./jun. 2020. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ contabilidade/article/view/2175-8069.2020v17n43p120. Acesso em: 10 dez. 2020. FERREIRA, P. I. Atração e seleção de talentos. 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Nesse sentido, eles estão se tornando relevantes à prevenção de riscos de responsabilidade empresarial. 2 Açõesestratégicas no contexto organizacional 1. Cada área funcional (fabricação, mão de obra, compras, pesquisa e desenvolvimento, finanças etc.) deve ser orientada pelas políticas operacionais de maneira clara e objetiva, a fim de que todas contribuam com o objetivo global da empresa. Por exemplo, a política operacional pela padronização com foco na qualidade como estratégia global para criação de valor. 2. Trata-se da liderança em custos. O risco dessa estratégia está no alto custo de adaptação, pois exige grandes investimentos, principalmente em novas tecnologias, para reduzir os custos. Não se trata apenas de trocar a matéria-prima mais cara pela mais barata; ela requer uma reformulação de todo processo produtivo, incluindo a compra de máquinas e equipamentos mais modernos e sofisticados. 3. O impacto moderador está associado à hostilidade e à incerteza ambiental e controla a possível influência da racionalidade que vem da leitura das diversas variáveis ambientais. O uso da intuição na tomada de decisão estratégica somente pode ocorrer para complementar lacunas na análise racional decorrentes da incerteza e da falta de informações relevantes no momento da tomada de decisão. 128 Gestão Empresarial 3 Gestão de recursos financeiros 1. As variáveis econômicas podem provocar a redução da capacidade de produzir, vender e entregar, diminuindo assim a capacidade econômica da empresa. Essa queda implica a redução do lucro, obrigando a organização a cortar seus custos, o que inicia-se invariavelmente pela redução de mão de obra. A redução da lucratividade e a consequente demissão de dezenas ou centenas de funcionários afetam todos os outros agentes econômicos. 2. O ciclo operacional é composto inicialmente pela compra e venda de mercadorias, o que representa o ciclo econômico. Após a compra de mercadorias, a empresa pode distribuir e estocar seus produtos. Em seguida, observam-se as vendas e o recebimento (à vista ou a prazo) das mercadorias adquiridas pelos compradores. Essa fase representa o ciclo financeiro, que se inicia quando ocorre um desembolso das mercadorias que foram compradas dos fornecedores e serão vendidas e pagas pelos compradores. 3. Instituições bancárias: representam os bancos comerciais, que têm objetivos exclusivamente financeiros. Os produtos que esses bancos comercializam são operações de crédito, ou seja, emprestam dinheiro e financiam recursos a curto prazo para empresas que necessitam de capital de giro (ASSAF NETO, 2018). Instituições não bancárias: representam os bancos de investimentos, as empresas de seguros, as empresas de finanças etc. Os bancos de investimento ou de negócios são responsáveis pelas linhas de crédito a longo prazo. 4 Gestão de produção 1. A função-produção está presente em setores que operam com criatividade e com inovação, nos quais é transformada em informações. 2. Top down são as estratégias corporativas definidas pela alta direção, que orientarão a implementação e a operacionalização das atividades funcionais. Bottom up é uma atividade de baixo para cima, em que as melhorias da produção constroem cumulativamente a estratégia. Em comum, ambas têm a capacidade de contribuir para a melhora da atividade de produção. Gabarito 129 3. O aspecto social é capaz de criar valor para a atividade de produção para a empresa e seus stakeholders e para a sociedade de maneira geral. Com base nesse aspecto, as empresas adotam estratégias competitivas para consolidarem suas políticas de sustentabilidade e de equilíbrio entre os interesses econômicos, ambientais e sociais. 5 Gestão estratégica de pessoas 1. Um modelo de gestão democrático e com propostas de renovação é capaz de incrementar o aprendizado e desenvolver pessoas, contribuindo para a melhoria da performance das equipes e dos indivíduos. 2. As grandes contribuidoras para a formação da inteligência organizacional são as capacidades emocionais e intelectuais presentes em todos as pessoas. 3. Os pressupostos são que a empresa estabeleça uma correlação perfeita e equilibrada entre as ações estratégicas e que estas estejam alinhadas e conectadas ao mesmo objetivo e a indicadores de desempenho definidos para cada perspectiva. G E S T Ã O E M P R E S A R IA L C IR O A N T O N IO F E R N A N D E S Código Logístico 59650 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6704-6 9 7 8 8 5 3 8 7 6 7 0 4 6 Página em branco Página em branco