Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
( Conteúdo deste material: capítulo 22 do livro “Fisioterapia Aplicada à Saúde da Mulher - Elza Baracho” e conhecimentos práticos. ) Atuação da(o) Fisioterapeuta no pós parto imediato Objetivo: ● Identificação de fatores de risco obstétricos para a ocorrência de disfunções de assoalho pélvico (DAP), como a incontinência urinária (IU), a incontinência anal (IA) e os prolapsos de órgãos pélvicos (POP). ● Ensinar a mulher a perceber os próprios músculos do assoalho pélvico (MAP) e a realizar exercícios que serão continuados em casa. ● Atuação preferencialmente nas primeiras 48 h após o parto, ainda na maternidade. ● Promover: recuperação física mais rápida, restabelecendo as funções dos sistemas circulatório e respiratório, reorganizando os padrões posturais adquiridos na gravidez (na intenção de retorno às condições pré-gravídicas), incentivando o aleitamento materno e orientando posições corporais adequadas, a fim de evitar sobrecargas posturais durante os cuidados com o bebê. ● Favorecer a troca de informações entre obstetras, pediatras, anestesistas, psicólogos, enfermeiros, obstetrizes, doulas, nutricionistas, assistentes sociais e demais membros da equipe. Avaliação: ● Averiguar o horário de procedência do parto. ● Respeitar o repouso nas primeiras horas após o procedimento por via vaginal, devido às demandas exigidas à mulher durante o trabalho de parto, ao estresse físico e emocional e à instabilidade hemodinâmica que se estabelece no organismo materno nesse período. ● Respeitar o repouso, principalmente, das mulheres submetidas a cesariana em função dos efeitos da anestesia e do uso de sondas uretrais em alguns casos. ● Ver o partograma e ler a descrição do parto para identificar fatores de risco para DAP, como, por exemplo, duração prolongada do segundo estágio do trabalho de parto, uso de fórceps, episiotomia, peso do recém-nascido (RN), dentre outros. ● Antes de se realizar o exame físico, deve-se conversar com a puérpera e investigar os possíveis desconfortos e dores. ● Antes de iniciar qualquer exercício com a puérpera, o fisioterapeuta deve verificar os sinais vitais. ● Se a puérpera estiver com a PA elevada, por exemplo, não deverá ser feita a cinesioterapia envolvendo elevação de membros inferiores na posição de decúbito dorsal, pois isso poderá aumentar ainda mais a PA. Avaliação do abdome: ● No abdome, realiza-se a palpação do útero a fim de acompanhar o processo de involução uterina. ➡ Para que isso ocorra de maneira adequada, é necessário que toda a placenta tenha sido expulsa e que não existam infecção, hiperdistensão e concentrações inadequadas de hormônios. ● Logo após o parto, o útero se contrai a ponto de ser medido na altura da cicatriz umbilical. Quando a involução uterina é inadequada, geralmente é acompanhada de sangramento aumentado. ● Logo após o parto, o útero se contrai a ponto de ser medido na altura da cicatriz umbilical. Quando a involução uterina é inadequada, geralmente é acompanhada de sangramento aumentado. ● Pela percussão, é possível identificar sinal de timpanismo abdominal, presente principalmente em mulheres submetidas a parto transabdominal, devido a uma diminuição do ritmo peristáltico. ● Na maioria das mulheres, a separação do reto é nítida. A medida é feita nas regiões supraumbilical, umbilical e infraumbilical, quando a paciente realiza a flexão anterior do tronco em decúbito dorsal, com os quadris e os joelhos flexionados. ● Diástase do reto abdominal superior a 3 cm logo acima da cicatriz umbilical poderá ser significativa. Avaliação do assoalho pélvico Desde o período gestacional, os MAP tendem ao enfraquecimento devido ao efeito dos hormônios e à sobrecarga causada pelo aumento da pressão abdominal. No parto, podem ocorrer lesões aos músculos e/ou nervos do AP, às estruturas conectivas de suporte da pelve, às estruturas vasculares ou diretamente ao trato urinário. As lesões musculares podem resultar de lacerações perineais espontâneas ou de episiotomia. As lacerações perineais espontâneas podem ser classificadas, de acordo com o Royal College of Obstetricians andGynaecologists, em: 1° grau (lesão de mucosa) 2° grau (lesão envolvendo a musculatura perineal, mas não o esfíncter anal) 3° grau (lesão envolvendo o complexo esfincteriano anal) 4° grau (lesão envolvendo o complexo esfincteriano anal e a mucosa retal). ● As lacerações de 3° e 4°graus, apesar de serem as menos frequentes, são fatores de risco para IA e ocorrem principalmente associadas ao uso de fórceps e trabalho de parto prolongado. -> isso indica a importância de se fazer um trabalho de preparação dos MAP durante a gravidez, para que as mulheres possam ter desfechos de parto menos lesivos. ● As lesões e episiotomia devem ser documentadas pelo fisioterapeuta, pois, a curto prazo, podem levar a dor perineal. Além disso, o trauma perineal decorrente do parto vaginal tem sido apontado como fator de risco para DAP, incluindo IU e IA, transtorno de dor genitopélvica/penetração e POP. ● O restabelecimento das funções do AP ocorrem até 6 meses após o parto. No entanto, em algumas mulheres, essas alterações persistem. Por isso, desde 2003, a Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada (SOGC) recomenda que os exercícios para os MAP sejam realizados no pósparto imediato para reduzir o risco de DAP futuramente. ● Para a adequada realização dos exercícios, a puérpera deve ser primeiramente informada acerca da localização dos músculos por figura anatômica, e a correta contração deve ser assegurada por inspeção. Logo após o parto toda a genitália externa e a vagina apresentam um estado congestivo e edematoso, que regride comumente nas primeiras 48 h, com um relaxamento das paredes vaginais. Essas alterações podem dificultar a percepção da contração muscular, o que reforça a necessidade de inspeção. Avaliação dos membros inferiores: Nos membros inferiores, avaliamos a presença de edema e varizes, bem como sinais de formação de trombos. A palpação para verificação de trombos é realizada no maléolo interno, na fossa poplítea e na região inguinal. ● Sinal de Homas– paciente refere dor ou desconforto na panturrilha após dorsiflexão passiva do pé, sendo um indicativo para a presença de trombo. ● Sinal da Bandeira– menor mobilidade da panturrilha em comparação com o outro membro, sendo um indicativo para a presença de trombo. Conduta terapêutica: De maneira geral, são realizados exercícios respiratórios, exercícios para o estímulo do peristaltismo abdominal, incentivo à deambulação, exercícios para os MAP e condutas relacionadas à amamentação. No entanto, a dosagem dos exercícios e a ordem de realização variam de acordo com os achados da avaliação, a necessidade da puérpera e as condições do ambiente. ● Não é permitido, no puerpério imediato, realizar exercícios abdominais concêntricos, ou seja, associados à flexão anterior do tronco, pois isso pode aumentar a diástase abdominal. ● Já a contração abdominal isométrica leve pode melhorar a circulação na incisão nos casos de pós-parto cesariano, favorecendo a cicatrização, além de aumentar o peristaltismo intestinal, auxiliando no restabelecimento da função intestinal normal e favorecendo a eliminação de flatos. Assim, a puérpera assume a posição de decúbito dorsal no leito, em flexão de quadris e joelhos. Em seguida, faz-se uma pequena retroversão pélvica com contração leve da musculatura abdominal. Nessa posição, utilizam-se também as técnicas de massagem abdominal superficial no sentido horário, para mobilização dos gases intestinais. ● A deambulação pode ser incentivada após essas condutas, sendo que a transferência da posição de decúbito dorsal para a ortostática deve ser feita virando-se primeiro para decúbito lateral; pede-se, então, uma inspiração e, na expiração, a puérpera assume a posição sentada. Cuidados devem ser tomados para se evitar a hipotensão postural, principalmente se a puérpera tiver sido submetida à cesariana e aindanão tiver deambulado. Intervenção ergonômica AMAMENTAÇÃO: Nos primeiros meses de vida, a amamentação acontece pelo menos, 7 a 8 vezes/dia. Portanto, a repetição sistemática da tarefa, por si só, pode representar um fator de risco para disfunções musculoesqueléticas, mais comumente na região cervical, na coluna toracolombar e em membros superiores. Os pés devem estar bem apoiados no chão, de modo que os joelhos estejam a aproximadamente 90 graus de flexão e os quadris em torno de 100 graus. Assim, há adequada descarga de peso no triângulo isquiático (50% do peso), nas coxas (34% do peso) e nos pés (16%). Essa posição dos membros inferiores pode ser alternada com a elevação dos pés sobre um apoio, para evitar edema de membros inferiores. A coluna vertebral deve estar toda apoiada no encosto da cadeira, sem que este force ou modifique as curvaturas normais. O braço deve estar apoiado sobre uma almofada, para que a mãe não tenha de sustentar o peso da criança ao amamentar, mas apenas apoiar a cabeça do bebê. TROCA DE FRALDA: A troca de fraldas será repetida, pelo menos, o número aproximado de vezes que o bebê é amamentado, em torno de 7 vezes. Contudo, à medida que o bebê cresce, a frequência dessas trocas pode variar. Para a troca de fraldas e roupas do bebê, a altura da área de troca onde o bebê é posicionado deve corresponder à altura do cotovelo. Para isso, a superfície do móvel deve ser um pouco mais baixa que a altura do cotovelo do cuidador na posição de pé, aproximadamente na altura da sua crista ilíaca, ou aproximadamente 15 cm abaixo da altura de seu cotovelo. Deve haver espaço sob o móvel na forma de um recuo para a acomodação dos pés. Isso evita a inclinação do tronco anteriormente, o que exigiria contração estática dos músculos do dorso. BANHO: Caso o cuidador decida utilizar banheira no formato clássico, a base deve estar na altura da borda superior da sínfise púbica, estando a pessoa na postura de pé. A banheira deve ser posicionada sobre suporte, móvel ou bancada que tenha recuo para acomodação dos pés, o que possibilita que o cuidador fique bem próximo ao bebê. Um apoio para os pés, de modo que seja possível alternar a descarga de peso entre eles, ajuda a reduzir a sobrecarga para a coluna lombar. OUTROS TÓPICOS IMPORTANTES: ● Durante a gravidez o corpo da mulher passa por adaptações. Não é adequado utilizar o termo “alterações”. ● Demora em torno de 2 meses para o corpo retornar ao estado pré-gravídico.
Compartilhar