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Renato - Resenha do texto Critica e Utopia em Rousseau

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Helena Kira – 1◦ período
Resenha do texto “Critica e Utopia em Rousseau” de Carlos Nelson Coutinho
Indivíduos e sociedade
A obra O Contrato escrita por Rousseau, carece ser lida a partir de uma formação social e política diferente da apresentada em O Discurso (também de sua autoria), pois discorda do ser da desigualdade e da opressão, que ele propõe o dever ser, onde a liberdade e a igualdade se articulem, indissociavelmente: a crítica do presente se completa assim com hipótese de uma utopia alternativa. As duas obras de Rousseau apresentam dois tipos distintos de contrato, mas que ambas pressupõem a uma diferente formação econômico-social. No O Discurso, refere-se à expressão da desigualdade e a origem do Estado colocando a serviço dos ricos (contrato iníquo); já no Contrato, o pacto legítimo é o agente de uma sociedade igualitária e a base política é fundada no interesse comum, influenciado pelas ideias de Montesquieu.
Rousseau não segue as mesmas vertentes que Hegel e Marx - de que a sociedade aparece como resultado de um processo que é iniciado pela existência e indivíduos ontologicamente isolados -, mas defende que o individualismo é fruto do processo de socialização, e não atributos naturais ou pré-sociais. Além disso, Jean-Jacques acredita que a estipulação do contrato social é algo que reorganiza a relação entre o público e o privado, que gera a sociabilidade dos indivíduos.
Como os jusnaturalistas, assume como pressuposto a ideia de que há um “estado de natureza” no qual o individuo é submetido anteriormente a formação da sociedade e que, independente de viver nela, ou não, em uma, sempre levará consigo atributos desse estado. Acrescenta que o indivíduo em seu estado natural não é somente orientado pelo egoísmo, é um ser que possui dois princípios que antecedem a razão, um de interesse do bem estar e à conservação; e o outro movido pela repugnância natural por perecer ou sofrer qualquer ser sensível, ou seja, há o instinto de conservação – que o individuo se refere a si próprio –, e o sentimento de piedade e compaixão, estimado como configuração primordial de demonstração do humano-genérico. Também atribui o polimorfismo instintual (que é revelado a partir da socialização) e refere-se à existência de mais de um instinto, apropriando-se de todos.
Ao diferenciar o amor próprio do amor de si mesmo, Rousseau define o primeiro como um sentimento fictício, fruto da sociedade, que faz o indivíduo sentir-se superior aos outros. Já o amor de sim, é natural, que leva todo animal a zelar pela própria conservação.
Sobre a socialização, Jean-Jacques discorre que os resultados desse processo são bem mais amplos, que não possui somente o pensamento racional e a linguagem articulada, como também a consciência moral. E o homem pode combinar diferentes instintos, dependendo das alternativas e vicissitudes que ele se vê. Em suma, “depois do estado de natural e antes do contrato, ocorre um longo processo histórico de socialização, através do qual o desenvolvimento das forcas produtivas gera varias formações sociais, preparando assim as condições de possibilidade para dois diferentes tipos alternativos de contrato, um que perpetua a sociedade injusta, outra que fera uma sociedade livre e igualitária”. Desse modo, Rousseau antecipa o estudo do ser de Marx e Hegel, de que o homem é produto de seu próprio trabalho, historia e atividade social.
Conceituando a liberdade, Rousseau a vê como algo excepcional à determinação do homem e que não é resultado do processo de socialização. O conceito de liberdade é distinto para os liberais, sendo ela a capacidade de satisfazer seus próprios interesses individuais nos limites do respeito aos interesses individuais dos outros; e para o próprio Jean-Jacques, de que ela acarreta um caráter político, podendo ser definida como, com o auxilio das circunstâncias sociais, a capacidade de aperfeiçoar-se e desenvolver-se como espécie e indivíduo.
Sobre o chamado “estado intermediário”, ele o define como verdadeira juventude do mundo e que está situado entre a indolência do estado primitivo e a atividade petulante do nosso amor próprio. Acrescenta, também, que todos os processos anteriores a esse estado foram passados para a tentação do individuo e para a caduquice da espécie.
A crítica da desigualdade
Rousseau articula que a desigualdade tem origem na propriedade privada e que a divisão do trabalho criou conflitos e competitividades entre os homens, gerando o egoísmo. “Por um lado, temos concorrência e rivalidade; por outro, oposição de interesses; e, em ambos, o desejo oculto de alcançar lucros em detrimento dos outros. Todos esses males constituem o primeiro efeito da propriedade e o cortejo inseparável da desigualdade nascente”. Critica que a “sociedade civil” apresenta muitos aspectos (que futuramente foi nomeada como alienação, para Marx) que os indivíduos estariam dependentes um dos outros, pois se relacionam a partir da propriedade privada e da divisão do trabalho. Por tanto, tal dependência, leva a perda da autonomia e da liberdade. Também faz uma crítica ao modelo de contrato de Locke e dos liberais, dizendo que sua base ideológica é favorável às classes dominantes. Também expõe que, baseadas em uma sociedade parcial, a ordem política não se conservar legítima e tudo se governa pela lei do mais forte. Tal sociedade, segundo Rousseau, tem como resultado a rebelião contra o despotismo e o arbítrio político.
Para ele, a sociedade “liberal”, regida pelo mercado, aumenta a desigualdade social, e seria necessária a distribuição igualitária da propriedade e conservar o modo de produção mercantil (sem se transformar no capitalismo) para acabar com essa disparidade. E defende um modelo de sociedade que oscila entre o pré mercantil, no qual os homens são socializados, mas não teriam se alienado, e uma sociedade em que essa socialização do homem fosse menos prejudicial, que preservasse suas qualidades de seu estado natural, principalmente a independência.
Utopia e democracia
A legitimidade proposta por Rousseau se refere aos conteúdos, não apenas aos procedimentos. Como, segundo o próprio, há diferentes formas de governo legítimo e a soberania possibilita a legitimação da ordem política na sociedade livre e igualitária. Ele propõe uma sociedade livre da propriedade privada, pois assim evitaria os conflitos e a desigualdade, e um homem que coloque o amor em si acima do amor próprio, tornando-se mais virtuoso e menos egoísta.
Conforme Jean-Jacques, o contrato legítimo seria a solução para a proteção simultânea das pessoas e dos seus bens, e também unindo a todos, induzindo a liberdade. Porém, para que isso ocorra, é necessário que haja igualdade de riquezas e garantia do predomínio da “vontade geral”.
Rousseau diferencia mais dois tipos de contrato. O primeiro que garante ilimitadamente a propriedade privada e há a garantia da razão do ser (gerando desigualdade e, assim, opressão) e o outro se refere à propriedade privada (posta sobre controle do interesse comum) como condição para enaltecer as desigualdades naturais e construção da igualdade social. A democracia, segundo ele, implica na gestação de uma vontade geral, o que pressupõe um consenso (ou um contrato) de procedimento e conteúdos, mas para isso é necessário haver interesse comum. Rousseau vê esse processo de consentimento como produto de um movimento ético e não como conscientização de um interesse objetivamente comum a partir das relações sociais.
Todavia, Jean-Jacques Rousseau não nega a autonomia do privado, mas sim a relação desse com o público, ou seja, visadas apenas por interesses particulares concretos. Tal relação é vista de forma antagônica e como solução a ela é necessário propor uma solicitação a consciência moral.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
- Carlos Nelson Coutinho, Critica e Utopia em Rousseau. Revista Lua Nova  n◦ 38 - São Paulo Dec. 1996

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