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DISCIPLINA: RECRUTAMENTO E SELEÇÃO AULA 6 Prof.ª Erika Gisele Lotz 2 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo à etapa da disciplina que trata da cultura da empresa, da avaliação da experiência e do desligamento de funcionários. Nessa aula veremos que tão importante quanto cuidar da entrada do colaborador na organização, é manter a máxima atenção aos aspectos demissionais. Por meio dos conteúdos apresentados você compreenderá que o processo de recrutamento e seleção não se esgota com a escolha do profissional que irá ocupar a vaga em aberto. Este processo engloba ações voltadas para a integração no novo colaborador às tarefas e ao ambiente social e também percorre trilhas que consideram as crenças e valores que operam na organização, as estratégias de integração e ambientação do novo colaborador e mais, tem papel protagonista também no momento de desligamento deste da organização. A empresa que sabe capitalizar esse momento dá atenção à entrevista de desligamento, que pode sinalizar para importantes aspectos de melhoria para a instituição. Outro ponto importante está relacionado a de que forma a empresa conduz a demissão desse colaborador. Você sabia que é possível humanizar esse processo que costuma ser tão difícil? CONTEXTUALIZANDO As organizações já perceberam a importância de conhecer e colocar o perfil e as características do colaborador em consonância com os requisitos do cargo, a fim de obter entregas efetivas e que elevem os patamares de qualidade e produtividade. Contudo, ainda há que se percorrer um caminho longo e muitas vezes tortuoso no que diz respeito à humanização dos processos de desligamento do colaborador. Por isso, é fundamental que as organizações e os gestores estejam preparados para: realizar avaliações de desempenho com critérios e fundamentadas em evidências; oferecer feedbacks – retornos sobre o desempenho – que promovam melhorias contínuas; conduzir com respeito e dignidade o processo de desligamento dos colaboradores de modo a minimizar 3 possíveis impactos emocionais negativos ao colaborador, ao clima organizacional, e à imagem da empresa. E como pano de fundo de tudo isso, o que existe? A cultura organizacional, um conjunto de crenças e valores que influenciam o comportamento dos membros da organização. Sem ela, alicerçada nos valores de respeito e dignidade, nada do que abordamos em termos de humanização e critérios seria possível. Leia o caso a seguir: João Augusto trabalhava há doze anos em uma empresa metalúrgica que passou a sofrer frequentes cortes de pessoal em virtude da quebra de contratos com clientes e fornecedores. Em uma sexta-feira, véspera de Natal, ele recebe um telefonema da empresa informando o seu desligamento, solicitando que se apresente ao RH para os trâmites demissionais. Transtornado, ele pergunta os motivos pelos quais aquilo estava acontecendo. A voz do outro lado disse secamente: “Desculpe, senhor. Não sei informar. Eu apenas cumpro ordens.” Nesta aula, responda às: A forma como o colaborador foi desligado tem alguma relação com a cultura da empresa? Qual a relação entre o desligamento do colaborador e a gestão da porta de entrada da organização? Com um pouco de boa vontade, a organização poderia tornar o processo de desligamento um pouco mais humanizado? TEMA 1 – CULTURA ORGANIZACIONAL Lembra-se de que desde que iniciamos nossa caminhada, recorrentemente abordávamos a importância da cultura organizacional? Um aspecto muito relevante na seleção de pessoas é averiguar a compatibilidade – ou a falta desta – entre os valores da organização e os valores do candidato. Quando há essa compatibilidade, existe coesão e identificação, aspectos que facilitam e articulam a adaptação e a integração do novo colaborador à empresa. A ausência dessa compatibilidade, por sua vez, faz com que o novo colaborador tenha dificuldades ou nem mesmo consiga se adaptar, o que fatalmente resultará em insatisfação, improdutividade e um provável desligamento, seja a pedido do 4 colaborador, seja da organização. Por essa razão, vamos nos deter agora em conhecer o conceito, os elementos e a função da cultura organizacional. Cultura organizacional “é conjunto de valores em vigor em uma empresa, suas relações e sua hierarquia, definindo os padrões de comportamento e de atitudes que governam as ações e as decisões mais importantes da administração”, explica Lacombe (2004, p. 87). A cultura organizacional é o que dá identidade à empresa. Em outras palavras, a cultura organizacional está para a empresa, assim como a personalidade está para o indivíduo. É o fator que a diferencia das demais organizações e que influencia fortemente no comportamento dos colaboradores, na maneira como os desafios são tratados, no timing de mudança e inovação, na relação com clientes internos e externos, fornecedores etc. Ela é formada por um conjunto de elementos, alguns tangíveis e observáveis, outros intangíveis e, portanto, subjetivos. Schein (1992) propõe uma interessante analogia entre a cultura da organização e um iceberg um bloco de gelo no qual apenas uma pequena parte é observável (estrutura de superfície), sendo que o bloco maior é o que fica submerso na água. Observe na Tabela 1, a seguir: Tabela 1: O iceberg da Cultura Organizacional Fonte: Elaborado pela autora com base em Schein (1992). 5 Ao observar a figura identificamos que: a. Os elementos tangíveis são expressos por aspectos visíveis e formais da organização, como a estrutura organizacional, os títulos e descrições de cargos, os objetivos e estratégias, as políticas, os processos, os procedimentos etc. b. Os elementos intangíveis são expressos por aspectos informais e subjetivos, como as crenças, os sentimentos, os valores, as expectativas, os padrões de influência e poder, as normas adotadas pelo grupo, as relações afetivas entre os membros do grupo etc. De acordo com Schein (1992), a cultura de uma organização é composta por três níveis: 1) assunções básicas; 2) normas e valores; 3) artefatos, comportamentos e produtos. Cada um dos níveis exerce profunda influência sobre o outro. Observe a figura a seguir: Figura 1 – Níveis da cultura de uma organização Fonte: Elaborado pela autora com base em Schein (1992). PRODUTOS ARTEFATOS COMPORTAMENTOS NORMAS E VALORES ASSUNÇÕES BÁSICAS 6 Nível 1 (assunções básicas): formado por crenças, elementos com profundas raízes na mente e na programação das pessoas. As crenças, em sua maioria, são inconscientes, e por esse motivo é que as assunções básicas compõem o nível mais profundo e constituem a essência da cultura. Nível 2 (Normas e valores): formado pela hierarquia de valores na cultura, os códigos de conduta da organização, as filosofias oficiais da empresa, as declarações públicas da identidade do grupo, etc. Nível 3 (Artefatos, comportamentos e produtos): formados pelos elementos objetivos e tangíveis da cultura organizacional, como símbolos, rituais, maneira de se vestir dos colaboradores, os produtos, a linguagem utilizada, a logo, entre outros. E porque o selecionador deve considerar a cultura organizacional? Por que ela impacta diretamente no clima da organização na satisfação do colaborador, no engajamento deste com a equipe, em sua produtividade, na identificação com os padrões de comportamento e procedimentose, por conseguinte, nos resultados e na competitividade da empresa. Por isso é fundamental identificar se existe compatibilidade entre as normas e valores da organização e os do indivíduo. Texto de Leitura Obrigatória LOTZ, E. G. e BURDA, J. A. Recrutamento e seleção de talentos. Curitiba Intersaberes, 2015. Item 6.1 7 Curiosidade Você já se deve ter se deparado com a expressão: “Aqui na empresasempre foi assim!” O vídeo a seguir, intitulado “Como funciona a cultura organizacional” oferece uma interessante reflexão sobre comportamentos adotados por profissionais que de estão há mais tempo em organizações. Assista em: <https://www.youtube.com/watch?v=OWrCh2D8nzE>. Animais em ambiente de trabalho? Assista ao vídeo “Empresas adotam cães e gatos para escritório” neste endereço: <https://www.youtube.com/watch?v=V9f_R7Tu-3w>. TEMA 2 – INTEGRAÇÃO DO NOVO COLABORADOR Para iniciar nossa conversa sobre o tema da integração de um novo colaborador, parece muito apropriada a afirmação de Bertê (2015), que enfatiza que “fazer com que um novo funcionário fique seguro e perfeitamente à vontade desde o seu primeiro dia de trabalho não é apenas um detalhe de delicadeza humana que devemos a todos, mas também se constitui uma estratégia gerencial”. Eis o motivo pelo qual é fundamental que o RH estratégico considere essa importante ação como pertencente ao âmbito do processo seletivo. Mas o que é o processo de integração? É a etapa na qual a empresa se dedica a apresentar aos colaboradores ingressantes todo o conjunto de informações acerca da área de atuação e mercados da organização suas políticas, regras e normas de conduta, seus procedimentos de segurança, o horário de trabalho, seus direitos e deveres, os benefícios e programas de qualidade de vida, a relevância, as interfaces e as responsabilidades do cargo, as expectativas de desempenho etc. É válido pensar que algumas organizações adotam apenas um evento de integração, ou seja, um dia dedicado a apresentar aos novos colaboradores a organização, suas políticas de RH, suas normas de segurança, para depois acompanha-los a uma visita às instalações da empresa e finalmente encaminhá-lo ao setor no qual assumirá as suas funções. 8 No entanto, algumas empresas olham para a integração de pessoal como um programa, ou seja, um conjunto de ações que se estendem por um período de tempo, pois acreditam que um único dia é insuficiente para que o colaborador absorva e internalize todas as informações acerca da cultura da empresa, seus procedimentos, padrões de conduta, entre outros. Dentre os programas que as organizações podem se valer para acolher aos novos colaboradores, destacamos o programa de apadrinhamento, no qual colaboradores com algum tempo de casa são designados como padrinhos e acompanham os ingressantes por todo o período de experiência oferecendo-lhes apoio, acompanhamento, esclarecimento de dúvidas e informações que visam a tornar o momento do início na organização mais confortável e agradável, promovendo assim a verdadeira acolhida ao novo colaborador. O processo de integração é crucial para a adaptação do novo colaborador à cultura da empresa, à natureza das atividades, às suas tarefas e ao ambiente social da organização. Essa etapa tem por premissa básica promover a ambientação e a integração à organização, reduzir a ansiedade e insegurança naturais que são características de uma nova atividade ou etapa da vida. A congruência entre os valores da organização e os valores do indivíduo é fator essencial para a adaptação deste à organização. Uma empresa é constituída de pessoas. O resultado da organização está muito mais atrelado ao desempenho das pessoas do que da excelência de manuais ou estruturas. (LACOMBE E HEILBORN, 2003). Mas será que o processo de integração envolve apenas o novo colaborador? O foco principal das ações e programas que continuem o processo de integração, inegavelmente é voltado a este, porém os pares e gestores também passam pelo processo de adaptação em relação ao integrante recém- chegado. A adaptação é um processo que pode levar tempo, orientação e demanda boa vontade de ambas as partes. (LOTZ e BURDA, 2015). O gestor da área desempenha importante papel no processo de integração dos novos colaboradores, pois compete a ele orientar, observar atentamente o progresso e fornecer retorno sobre o desempenho do ingressante. Os feedbacks são decisivos para alinhar comportamentos e avaliar o desempenho, tendo em vista sempre a melhoria contínua, e podem ser 9 informais e espontâneos, ou formais, por meio de reuniões de acompanhamento. (LOTZ e BURDA, 2015). O programa de integração é estruturado, planejado e criteriosamente acompanhado, promove a ambientação e reduz a ansiedade do novo colaborador, influencia diretamente nas métricas qualitativas do processo seletivo e a rotatividade de pessoal. Texto de Leitura Obrigatória LOTZ, E. G. e BURDA, J. A. Recrutamento e seleção de talentos. Curitiba Intersaberes, 2015. Item 6.2. Saiba Mais Acesse o texto “Como fazer uma integração simples e eficaz”, disponível no seguinte endereço: <http://recursosehumanos.com.br/artigo/processo-de- integracao/>. Curiosidade Assista ao vídeo com a entrevista com o professor Luiz Junior, que fala sobre o programa de integração de novos colaboradores, disponível neste link: <https://www.youtube.com/watch?v=VXpSqYiNXvI>. TEMA 3 – AVALIAÇÃO DO PERÍODO DE EXPERIÊNCIA O que é avaliação? Avaliação é um olhar crítico e apreciativo sobre a prática. A avaliação do período de experiência é aquela que ocorre durante os primeiros 30 a 90 dias de atividade do novo colaborador, referentes ao contato de experiência. O período de experiência oportuniza de um lado que a empresa avalie a performance do colaborador e se certifique sobre a eficácia da escolha realizada para o preenchimento da vaga, e por outro, que o recém-contratado avalie o ambiente e as condições de trabalho que a organização tem para oferecer. Mas o que é importante que o gestor da área considere ao avaliar o novo colaborador durante o período de experiência? Recomendamos que se mantenha atento aos seguintes aspectos: 10 Evolução no desenvolvimento das atividades: observar se as entregas do colaborador ratificam as competências identificadas no processo seletivo; acompanhar a evolução do desempenho à medida que o novo colaborador se ambienta à cultura da empresa e ao grupo de trabalho, e oferecer feedbacks que permitam aprimorar ou promover melhorias no desempenho do recém-admitido; avaliar como é o padrão do colaborador em relação ao atendimento de prazos e cumprimento de metas. Características comportamentais: observar as dinâmicas do relacionamento interpessoal; comunicação; atenção; tolerância a frustrações; capacidade de trabalhar sobre pressão; a forma como lida com imprevisto, como lida com feedbacks. As características comportamentais são fundamentais para criação e manutenção de um ambiente de trabalho respeitoso e saudável. Adaptação à cultura da empresa: observar o ajustamento do colaborador as políticas, normas, rotinas, procedimentos e à cultura organizacional. Comprometimento: observar a assiduidade e o respeito aos horários de trabalho. Os aspectos apresentados são fatores críticos de sucesso. O descumprimento ou desajuste de um ou outro aspecto implicaria necessariamente no desligamento do recém-admitido. Mas também sinaliza que existem demandas atendidas. Dessa forma, compete ao gestor, com transparência e respeito, orientar devidamente o novo colaborador em relação aos ajustes necessários. Mas atenção: ao avaliar, tenha sempre em mente que “toda avaliação deve ser pautada em fatos e em evidências. Critérios claros permitem uma avaliação isenta de julgamentos vazios e pavimentam feedbacks respeitosos com base em aspectos observáveis do comportamento do avaliado” enfatizam Lotz e Burda (2015, p. 245). 11 A avaliação do período de experiência é a primeira avaliação formal e, portanto, deve ser registrada em formulário próprio de desempenho do novo colaborador. Nessa avaliação o gestor imediato registra a decisão de demitir, efetivar ou encaminhar o novo colaboradorpara treinamento. E o que acontece se ao final do período de experiência a empresa optar por não manter o recém-contratado no quadro efetivo de pessoal? Neste caso, o colaborador será desligado, a incidência de encargos trabalhistas para a organização será menor, dado que não cabe pagamento de aviso prévio, férias proporcionais e décimo terceiro proporcional, e a vaga estará novamente em aberto, como informam Lacombe e Heilborn (2003). Curiosidade Ouça o áudio de Max Gehringer para a CBN intitulado “A utilidade do período de experiência”, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=54xPm9Bnt5M>. Um dos principais desafios de quem consegue um novo emprego é permanecer nele após o período de experiência. Assista ao vídeo “O desafio de permanecer na empresa após o período de experiência”, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zUF4Ikl8ZUo>. 12 TEMA 4 – ENTREVISTA DE DESLIGAMENTO Recessão, crises econômicas, downsizing, problemas com desempenho e produtividade, dificuldade de adaptação às tarefas ou ao grupo de trabalho são alguns dos fatores que podem levar a empresa a optar pelo desligamento do colaborador. Alguns aspectos relativos à organização, como dificuldades de realizar o trabalho, incompatibilidade com o estilo de gestão, metas consideradas opressoras e abertura de novas oportunidades e desafios também podem motivar o colaborador a solicitar o desligamento da organização. A gestão da porta de entrada da empresa requer também que se olhe para o colaborador no momento de seu desligamento. Quando o profissional está em processo seletivo, a empresa realiza diversas modalidades de entrevista para identificar perfil, competências técnicas, e padrões de comportamento do candidato. Por sua vez, ao ser desligado, é fundamental que o profissional registre as suas impressões a respeito da organização. E por que é importante que a empresa registre as percepções a respeito da organização por parte do colaborador, se ele está indo embora? A entrevista de desligamento é uma entrevista realizada com o colaborador no momento em que este está deixando a empresa por iniciativa própria ou da organização. Ela é importante porque dá a conhecer um conjunto de impressões que o profissional leva a respeito do ambiente e clima de trabalho, do estilo de gestão, dos processos, políticas e procedimentos, e permite identificar problemas e focos de insatisfação, para consequentemente agir no sentido de promover estratégias que possibilitem melhorias na organização. O quadro apresentado a seguir apresenta um conjunto de variáveis organizacionais sobre as quais se pode buscar feedback – na entrevista de desligamento. 13 Tabela 2 – Variáveis a serem investigadas na entrevista de desligamento Variáveis Coleta impressões sobre Trabalho atividades envolvidas, condições de realização e o valor que o colaborador atribui ao trabalho. Supervisão estilo de gestão; existência, frequência e natureza de feedbacks para melhoria de desempenho; abertura para ouvir ideias e sugestões; respeito pela equipe; tipo de poder e autoridade exercidos; organização, entre outros. Salário compatibilidade entre a remuneração e as funções e as responsabilidades requeridas pelo cargo. Carreira e progresso profissional oportunidades de crescimento, possibilidades de promoções e a clareza de critérios para este fim. Benefícios grau de satisfação com os benefícios ofertados pela organização e se estes atendiam às suas necessidades. Condições físicas de trabalho instalações físicas (sanitários, vestiários, refeitórios, postos de trabalho, entre outros. Comunicação a qualidade, a clareza e a efetividade do repasse das informações para a execução de suas tarefas. Disciplina a rigidez das normas internas , pontos de inflexibilidade por parte da organização e se tais pontos são geradores de insatisfação e resistência por parte dos colaboradores. Perspectiva de cliente interno relações, prazos de entrega de departamentos e setores dos quais dependia para realizar seu trabalho. Objetivos organizacionais objetivos e metas definidos pela organização em termos de exequibilidade ou inexequibilidade. Fonte: Elaborado com base em Lotz e Burda (2015). É importante enfatizar que a entrevista de desligamento deve ser realizada pelo profissional do RH na presença apenas do colaborador que está sendo desligado, para que ele possa se sentir à vontade para apresentar seu ponto de vista, o seu feedback sobre a sua passagem pela empresa. As entrevistas de desligamento trazem informações significativas que quando capitalizadas pelo RH e gestores da área são consultorias gratuitas sobre pontos frágeis e oportunidades de melhorias da organização. 14 A entrevista de desligamento pode levar a alguns possíveis cenários tais como: O entrevistado omite pontos de insatisfação respondendo positivamente aos questionamentos; O entrevistado expressa claramente suas insatisfações, não encontrando nenhum elemento positivo na organização. O entrevistado reconhece os pontos fortes e pontos críticos da organização. Sabemos que as emoções impactam diretamente na percepção do indivíduo sobre o fato, e por isso alguns entrevistados podem “carregar nas tintas” por estarem associados a emoções como tristeza ou especialmente à raiva. Por esse motivo, o terceiro cenário é aquele que mais oferece feedback para a organização e contribui para as melhorias. Contudo, todas as entrevistas devem ser cuidadosamente registradas. Entrevistas que muito embora a princípio pareçam acaloradas podem sinalizar para algum aspecto importante que até então poderia estar encoberto, por exemplo: uma prática de gestão desqualificada e desqualificante pode vir à tona. Uma entrevista apenas oferece um conjunto de dados, mas que somados a outros e devidamente tratados sinalizam para aspectos internos que demandam atenção da organização. Texto de Leitura Obrigatória LOTZ, E. G e BURDA, J. A. Recrutamento e seleção de talentos. Curitiba: Intersaberes, 2015. Item 6.4 15 Saiba Mais O ebook intitulado Práticas de Entrevista de Desligamento desenvolvido por Maria Carolina Linhares e Paula Galvão de Barba oferece informações interessantes que o auxiliarão a compreender e a desenvolver suas competências para realizar a entrevista de desligamento. Acesse <http://www.kombo.com.br/downloads/pdf/KOMBO_desligamento.pdf>. TEMA 5 – PROCESSOS DE RECOLOCAÇÃO E OUTPLACEMENT Leia o texto a seguir: Brasil perde 94,7 mil empregos com carteira em julho Segundo o Ministério do Trabalho, o Brasil perdeu 94.724 vagas formais de emprego em julho de 2016. O resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) é fruto de 1.168.011 contratações e 1.262.735 demissões no período. Com isso, a mediana ficou negativa em 90,2 mil postos. O número de postos fechados em julho deste ano foi menos intenso do que em igual mês do ano passado, quando foram extintas 157.905 vagas. Porém, superou o fechamento de 91.032 vagas formais de emprego em junho de 2016. No acumulado do ano, o saldo de postos fechados é de 623.520 pela série com ajuste, ou seja, incluindo informações passadas pelas empresas fora do prazo. Este é o pior resultado para o período desde o início da série, em 2002. No acumulado dos últimos 12 meses, o país encerrou julho com 1.706.459 vagas formais a menos, também considerando dados com ajuste. Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2016/08/25/internas_economia,797462/ brasil-perde-94-7-mil-empregos-com-carteira-em-julho.shtml É sabido por todos que o país atravessa uma crise econômica, social, moral, e emocional que afeta diretamente o mercado de trabalho. As estatísticas apontam para a redução do número de vagas formais em todo o país,e milhares de trabalhadores veem suas vidas impactadas diretamente pelo fechamento desses postos de trabalho. É aí que podemos pensar no significado que uma demissão pode ter para o profissional, e qual a conduta deste e da empresa face ao cenário exposto. http://www.kombo.com.br/downloads/pdf/KOMBO_desligamento.pdf 16 A demissão como oportunidade de desenvolvimento Você já se deu conta que uma demissão pode fazer com que o profissional se “reinvente” por ser forçado a sair de sua “zona de conforto”. Nos períodos de crise (do latim crisis, “momento decisivo”, e decalque do grego krísis, “decisão”), com a extinção dos empregos formais o que vemos acontecer é a ascensão do trabalho informal e do empreendedorismo. Esses profissionais que se veem às voltas com as dificuldades de sustentar suas famílias podem também ver a criatividade aflorar e oportunizar novas fontes de renda e escolhem por diferentes oportunidades de desenvolvimento de carreira ou de novas skills (do inglês “habilidades”). Assim uma onda de empreendorismo por necessidade se desencadeia e faz com que esses profissionais encontrem diferentes formas e caminhos de atuação no mercado. A demissão como fonte de desalento Desamparo, desespero e insegurança. Você já parou para pensar no profundo abalo emocional que uma demissão pode trazer ao profissional, sobretudo para aqueles com elevado tempo de casa e que não vislumbravam a possibilidade de não pertencer mais à organização? Assistimos com frequência pessoas que foram desligadas da organização se associarem a sentimentos de desvalia, inutilidade, incapacidade, culpa e derrotismo que se não forem detidos – e/ou se forem reforçados pelo tempo de espera de uma nova colocação profissional – podem levar o indivíduo a desenvolver quadros depressivos ou outras doenças psicossomáticas. A demissão pode significar um forte choque para o profissional, dado que se trata da retirada de seu papel principal, especialmente para aqueles profissionais que imputam ao trabalho o eixo mais importante de sua vida. É comum que as pessoas vejam o trabalho a principal razão de sua existência, e quando a forma tradicional do emprego é suprimida, mergulham no vazio e na dor emocional. (MINARELLI, 1995) Entretanto, diante da realidade eminente das demissões e extinção de postos formais de trabalho, existiria alguma maneira de humanizar o processo de desligamento do colaborador? 17 A resposta é sim, e se chama outplacement. O outplacement é um serviço de assessoramento e orientação oferecido ao profissional que é demitido da organização, que tem por objetivo proteger e fortalecer a dignidade desse profissional e minimizar o impacto do desligamento mediante apoio e orientação. (TEMER e BLUMEN, 2000). O outplacement, embora compreendido pelo senso comum apenas como a recolocação do profissional (sobretudo do executivo) no mercado, é um serviço muito mais abrangente que acolhe o profissional no momento de transição, orienta-o e apoia no redimensionamento da carreira, no networking, no marketing pessoal e desenvolvimento de skills. Assim o ouplacement é tanto assessoria de carreira quanto a busca por novas oportunidades. O outplacement pode ter por foco o indivíduo ou o grupo. No outplacement individual uma empresa especializada é contratada para oferecer suporte a executivos de alto nível hierárquico a média gerência tendo por objetivo contribuir para a recolocação do profissional no mercado. Pode também ser de grande valia para preparar o executivo em fase de aposentadoria. O outplacement para grupos é voltado para profissionais não executivos a serem desligados em virtude de fechamento de fábricas e reestruturações da empresa, e neste caso são projetos que tem por objetivo acolher, conduzir com respeito e dignidade e identificar possibilidades de desenvolvimento de habilidades para que os desligados possam seguir com suas jornadas. (MINAERLLI, 2010). Mas quais as possíveis estratégias adotadas pelas organizações contratadas para conduzir os projetos e os programas de outplacement? O quadro a seguir apresenta um conjunto de ações. 18 Tabela 3 – Ações adotas por empresas de outplacement Ações Características Acolher o profissional Pode ser realizado no dia e local da demissão ou agendado logo após a efetivação do desligamento deste. Tem por objetivo abrir espaço para a expressão das emoções, inseguranças e incerteza. É o momento no qual o profissional é escutado de forma ativa e empática. Conhecer o profissional É a etapa de investigação das expectativas e possibilidades de atuação. Mapear a carreira e diagnosticar empregabilidade Nesta fase o profissional pode passar por assessments (avaliações) ou inventários com o propósito de diagnosticar seus pontos fortes e oportunidades de melhorias, o grau de competências técnicas e comportamentais e a consonância dessas com o que é requerido pelo mercado de trabalho. Definir objetivos Etapa na qual o profissional é acompanhado na definição dos objetivos seja de recolocação ou de desenho de negócio próprio. Elaborar estratégias Elaboração da estratégia de exposição ao mercado e prospecção de oportunidades de trabalho tendo em vista a etapa anterior. Apoiar a execução das estratégias Elaboração do currículo, perfil no Linkedin e cartões de visita, preparação para entrevistas, plano de desenvolvimento de competências entre outros. Apoiar o profissional e familiares Muitas vezes a demissão impacta diretamente na relação conjugal ou com os filhos. Empresas adotam como estratégia oferecer apoio psicológico à família do profissional, quando necessário. Selecionar empresas alvo Identificação de empresas potenciais contratantes e headhunters. Orientar network Municiar o profissional com orientações e informações sobre a importância e adequada utilização de networking (rede de relacionamentos). Isso inclui também a importância das redes sociais na construção da imagem e marketing pessoal. Fonte: Elaborado pela autora. Na prática, o outplacement “suaviza” o processo de desligamento do profissional com ações que vão desde as mais simples, como a emissão de carta de recomendação, orientação para elaboração de currículo, disponibilização de rede de contatos até ações que demandam investimentos tais como sessões de coaching, acompanhamento psicológico e contratação de empresa para recolocação no mercado. 19 Por meio do outplacement o profissional pode encontrar caminhos de atuação que não haviam sido sequer imaginados. O foco vai para as diferentes possibilidades ao invés de ficar voltado para o problema, ou seja,a demissão que já foi consolidada. A empresa contribui ao realizar ou contratar uma consultoria especializada para promover o outplacement. Contudo, a ação mais importante vem da parte do profissional. Quando olhamos para esses argumentos nos damos conta da importância de estabelecer mecanismos e estratégias que possam evitar ou minimizar tais situações e do protagonismo do RH estratégico na condução desse processo. Texto de Leitura Obrigatória Leia o artigo “Outplacement: um estudo do seu impacto nas gestões estratégicas da imagem corporativa e do passivo trabalhista” disponível em <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/GRT_1301.pdf>. Saiba Mais Leia a matéria intitulada “Quando a crise faz o empreendedor”, disponível em <http://infograficos.estadao.com.br/economia/quando-a-crise-faz-o- empreendedor/>. Curiosidade Assista aos seguintes vídeos: “Você já ouviu falar em Outplacement?” que pode ser acessado em: <https://www.youtube.com/watch?v=Qg_8f0gkzkE>.“Ponto de Encontro Recolocação Profissional”, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KQfFJpBhuvA>.“Profissionaismaduros podem reinventar a carreira” disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0dFXVw2od4k>. https://www.youtube.com/watch?v=Qg_8f0gkzkE 20 TROCANDO IDEIAS Estima-se que as empresas passem a olhar com mais cuidado para o outplacement seja por questões de responsabilidade social para com o profissional, como para a empresa. O processo de demissão “descuidado” pode estimular às seguintes situações: Crises psicológicas no demitido e ou em membros de sua família ( impactos na vida conjugal, filhos, entre outros); Insegurança nos colaboradores que permanecem na empresa; Tensão no clima organizacional pautado em emoções pouco edificantes como a tristeza pela perda de colegas de trabalho e a raiva do empregador; Redução de produtividade e elevação da insatisfação; Desencadeamento de quadros depressivos em virtude do estresse ao qual o profissional foi submetido; O ex-colaborador ferido levar para a concorrência informações importantes sobre a empresa ou passa a criar outros tipos de problemas para a organização; Ações trabalhistas, entre outros. A empresa que não oferece a devida atenção ao processo de desligamento do colaborador pode também sofrer perdas de diversas naturezas. Discuta com seus colegas os seguintes pontos: Como o empregador, tendo em vista a realidade da organização, pode converter separação ou afastamento em melhores resultados para o negócio? Como o profissional pode assumir seu desligamento como uma oportunidade para crescer e conseguir uma melhoria para si e sua família? 21 NA PRÁTICA Leia o fragmento a seguir: Você acorda cedo, toma seu café da manhã, coloca sua roupa ou uniforme e se dirige ao seu local de trabalho. Ao chegar lá, tenta registrar o seu ponto e não consegue. Insiste uma, duas, três vezes e não obtém nenhum resultado... por fim, desiste. Cumprimenta os colegas e nota um sorriso, digamos assim, meio "amarelado" em cada um deles. Depois de muito estranhamento e milhões de indagações internas vai de encontro ao seu local de trabalho. Neste momento aparece um colega (muitas vezes até do mesmo nível hierárquico que o seu) e lhe informa que o seu chefe ou gerente pediu que você comparecesse ao DP antes de começar a trabalhar. Desencadeia-se neste momento uma sequência de pensamentos apavorantes e um alto grau de ansiedade. É chegado o momento de enfrentar o "Monstro da Demissão". Como se isso já não fosse terrivelmente decepcionante e frustrante, você é convidado a se sentar à frente do funcionário do DP que, após uma saudação calorosa e sorridente de "Bom dia!" lhe comunica com toda a educação e paciência que você acaba de ser demitido, que tem que fazer o exame demissional (a guia já está pronta, inclusive) e que deve comparecer no dia "tal", no horário "x", com o exame feito e munido de sua carteira profissional para as devidas anotações, recebimento das verbas rescisórias, e guias de liberação do FGTS e seguro desemprego. Após um primeiro momento de digestão amarga da notícia e das informações recebidas, você busca ainda um alento a aquele sentimento, muitas vezes de decepção e de derrota, e pergunta ao transmissor daquela mensagem surpreendente: "Qual o motivo de minha demissão?" Maior surpresa ainda se dá quando a única resposta que você obtém é: "Não me foi informado o motivo, meu amigo. O meu papel aqui é só de comunicar a sua demissão e marcar o acerto". (CORTES, 2010) Assim, propomos os seguintes questionamentos: Quem e como deve comunicar o desligamento do colaborador? Quais os maiores erros que as organizações cometem e que ferem a humanização do processo de desligamento e a dignidade do trabalhador ao demiti-lo? 22 Protocolo de resolução da situação proposta O professor deverá indicar ao aluno uma série de passos para resolver a situação envolvendo: 1. Leia atentamente a matéria completa indicada na sessão. 2. Identifique como deve ser a postura da organização diante do colaborador a ser desligado. 3. Elenque posturas da organização que ferem a humanização do processo de desligamento e a dignidade do trabalhador ao demiti- lo. 4. Faça uma reflexão sobre como municiar o gestor da área e o pessoal do RH para proceder na demissão do profissional. Resolução do caso Espera-se que, ao ler a matéria e refletir sobre o tema a importância de preparar os gestores e a organização para o momento da demissão, seja identificado que: É fundamental que na cultura da organização exista o valor de respeito ao ser humano que está enfrentando essa situação e transparência sobre os motivos que levaram a empresa a tal decisão. A importância de notificar o colaborador antecipadamente sobre a demissão evitando a situação vexatória de chegar de manhã para o trabalho e ter o computador bloqueado ou acesso negado e notar que foi o “último a saber” que não pertence mais ao quadro funcional. Tratar como inadmissíveis demissões realizadas via telefone, WhatsApp ou de qualquer outra forma que distancie o colaborador de um tratamento respeitoso e humanizado. Preparar o gestor para lidar com as próprias emoções e ansiedade e também com os mecanismos de defesa do profissional que está sendo emitido. Manter registros de desempenho que possam ser utilizados como feedback ao colaborador Manter as portas abertas e agradecer pelo serviço prestado. 23 FINALIZANDO Parabéns! Concluímos a sexta rota da disciplina, e vimos que a cultura organizacional é um conjunto de crenças e valores que fornece identidade e coesão aos membros da organização e que considerá-la no processo de seleção contribui para a adaptação e desempenho do colaborador na organização. Estudamos também que a integração, mais do que um evento, é um processo que visa adaptar o colaborador tanto em relação aos aspectos técnicos quanto sociais. Pudemos também ver o papel e a relevância da avaliação do período de experiência, e que esta deve estar alicerçada em critérios claros, em evidências e fatos. Conhecemos ainda que a entrevista de desligamento é uma ferramenta de gestão de pessoas que pode ser utilizada para melhoria continua de práticas e processos de gestão, e finalmente aprendemos que o outplacement, mais do que um processo de recolocação, é acima de tudo um recurso para humanização das demissões. Figura 2 – Cultura organizacional, período de experiência e o processo de demissão 24 REFERÊNCIAS BERTÊ, L. Integrar e acolher os novos colaboradores é uma estratégia gerencial. Intelectus – Gestão Estratégica de Pessoas. Disponível em: <http://intelectusconsultoria.com.br/integrar-e-acolher-os-novos-colaboradores- e-uma-estrategia-gerencial/>. Acesso em 15 de Setembro de 2016. CAVALIERI, R e DONAIR, D. Uma investigação sobre a contribuição do outplacement para as empresas e para os funcionários. Revista Administração On Line, São Paulo. v. 05, n. 01, p. 10-26, jan./fev./mar. 2004. Disponível em: <http://www.fecap.br/adm_online/art0501/revista0501.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2016. CORTES, S. Quem deve comunicar o desligamento do colaborador?. RH.com.br. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/Relacao_Trabalhista/Artigo/9519/quem-deve- comunicar-o-desligamento-do-colaborador.html>. Acesso em: 10 nov. 2016. MINARELLI, José Augusto. Empregabilidade: como ter trabalho e remuneração sempre. São Paulo: Gente, 1995. _____. Outplacement. Slideshare. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/LensMinarelli/outplacement-3835928>. Acesso em: 23 set. 2016. SCHEIN, E. H. Organizational culture and leadership. San Francisco: Jossey- Bass, 1992. http://intelectusconsultoria.com.br/integrar-e-acolher-os-novos-colaboradores-e-uma-estrategia-gerencial/ http://intelectusconsultoria.com.br/integrar-e-acolher-os-novos-colaboradores-e-uma-estrategia-gerencial/http://intelectusconsultoria.com.br/integrar-e-acolher-os-novos-colaboradores-e-uma-estrategia-gerencial/ http://pt.slideshare.net/LensMinarelli/outplacement-3835928
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