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RADIOJORNALISMO E MÍDIAS SONORAS

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DEFINIÇÃO
Apresentação dos ciclos históricos e desenvolvimento do rádio no Brasil, responsabilidade social e importância do veículo sonoro na sociedade brasileira; a relação entre o rádio e a indústria fonográfica ao longo da história.
PROPÓSITO
Analisar a história do rádio no Brasil, seu papel como veículo de comunicação resiliente e sua importância na sociedade brasileira.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Distinguir os ciclos históricos de desenvolvimento do rádio no Brasil
MÓDULO 2
Reconhecer a responsabilidade social do rádio
MÓDULO 3
Analisar a importância do veículo sonoro na sociedade brasileira
INTRODUÇÃO
RÁDIO COMO VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO
Neste tema, estudaremos sobre o rádio em três módulos. No primeiro, conheceremos sua história, seus ciclos de reestruturações e seu poder de resiliência. Seguiremos um modelo que se divide em quatro fases: implementação; difusão; segmentação; convergência. Entender seus ciclos é primordial para reflexões históricas e atuais.
No segundo módulo, apresentaremos as características do veículo, seu potencial democrático e de prestação de serviço. Ressaltaremos a responsabilidade social do “primo pobre” que, principalmente em momentos difíceis, mostra sua riqueza e grandiosidade com seu poder de alcançar públicos mais diversos.
Figura 1.
No terceiro módulo, em uma relação entre a indústria radiofônica e a indústria fonográfica, será possível observar as diversas etapas e como elas influenciam na vida social, fortalecendo uma cultura nacional e, ao mesmo tempo, resguardando as culturas locais.
POR FAVOR, ACERTE A SINTONIA, CONCENTRE SUA ATENÇÃO E APROVEITE O NOSSO PROGRAMA!
MÓDULO 1
Distinguir os ciclos históricos de desenvolvimento do rádio no Brasil
A história não é um discurso de verdade, mas de investigação. A história do Brasil não é apenas um relato de nossa política, economia ou cultura, mas de tudo isso de forma relacionada.
O rádio é um fenômeno cultural de forma inegável, mas também um fenômeno político, econômico, entre muitos outros aspectos. Começaremos, agora, a conhecer as versões, leituras e apresentar a longa jornada do rádio no Brasil. Como nossa história está sempre em movimento, o rádio também mudou e continua mudando. Aqui você distinguirá as fases diversas do veículo. Vamos lá!
Figura 2. Auditório da Rádio Nacional
Ainda em sua primeira fase histórica, o rádio já mostra o poder de se reinventar a partir de pressões externas como a política, a economia, as questões sociais, empresariais, de mercado e da audiência. Apesar de ter surgido como um modelo de sociedade, a entrada da publicidade no rádio abriu um leque de possibilidades, permitindo um modelo empresarial lucrativo.
É importante destacar, porém, a existência de estações sem fins lucrativos como as rádios estatais e públicas, comunitárias, educativas.
FASE DA IMPLEMENTAÇÃO
O rádio chegou ao Brasil por forças econômicas após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando a indústria de eletroeletrônicos buscava ampliar seus lucros −vale destacar que as tecnologias usadas no conflito armado acabaram sendo impulsionadoras de novas tecnologias em geral. Mas, para entendermos a história do rádio no Brasil, é necessário analisarmos, também, tudo o que aconteceu antes.
Figura 3. Trincheiras da Primeira Guerra Mundial
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Conflito mundial marcante entre os anos de 1914 e 1918 em que as grandes potências imperialistas – principalmente europeias – vivenciaram um grande conflito armado. As tecnologias de guerra acabaram por ser impulsionadoras de novas tecnologias.
 SAIBA MAIS
O BRASIL NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX
O Brasil tornou-se uma República em 1889, momento em que o mundo vivia uma corrida pela modernização e tecnologia. As feiras mundiais eram eventos científicos aos quais dom Pedro II comparecia, trazendo as inovações para o país. Entre 1900 e 1930, o Brasil vivia um cenário de modernização urbana e o Rio de Janeiro, então capital federal, passou por grandes obras. As grandes cidades seguiam as tendências da capital, criando automóveis clubes e estradas. Imagine as mudanças para a população: eletricidade, bondes, fábricas. Nesse contexto, vemos a chegada do rádio.
Figura 4. Padre Landell de Moura
Um personagem importante que deve ter destaque na história é o Padre gaúcho Landell de Moura, que ficou popularmente conhecido como “padre louco” ou “bruxo”. Ele transmitiu som através de ondas eletromagnéticas em 1893 e 1894, ou seja, quase uma década antes da transmissão reconhecida como a primeira oficial. Há relatos de que o padre chegou a fazer transmissões em locais públicos, e as pessoas, com medo, saíam correndo. Muitos achavam que o religioso estava envolvido com bruxaria ou seres de outra dimensão. Landell tem algumas patentes importantes, e uma delas é a da transmissão do som através de feixes de luz, ou seja, uma primeira tecnologia que, depois, aprimorada, deu origem à TV.
Devemos citar, também, que existem relatos de experimentos como as da Fundação da Rádio Clube de Pernambuco, em Recife, em 1919. Essas transmissões foram feitas sem regularidade e de forma experimental. Nesse período, os radioamadores já utilizavam a comunicação sem fio, comunicavam-se entre si em uma troca de papéis entre ser receptor e emissor. Também há registros de transmissão de som, sem fio, antes de 1900, na Europa e em países da América Latina, como a Argentina, e nos Estados Unidos.
De acordo com Ferraretto (2010), entre 1900 e 1920 o rádio vive sua fase inicial, a qual chama de implementação.
Segundo o autor, a comunicação que envolvia transmissão de mensagens através de aparelhos sem fio era subdividida em três ramos:
Figura 5. Radiotelégrafo
RADIOTELEGRAFIA
Transmissão de mensagens em código Morse entre pontos específicos;
Figura 6. Aparelhos radiofônicos
RADIOTELEFONIA
Comunicação sem fio entre dois pontos predefinidos;
Figura 7.
RADIODIFUSÃO
Emissão de som a partir de um ponto, com recepção em diversos pontos não determinados.
Vejamos, agora, a linha do tempo dos acontecimentos oficiais no Brasil:
7 DE SETEMBRO DE 1922
O episódio mais citado como a primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil, quando a Westinghouse – indústria de eletroeletrônicos − aproveitou as comemorações do centenário da independência para fazer uma demonstração pública da tecnologia na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Vale lembrar que a cidade foi a capital do Brasil de 1763 a 1960, quando foi transferida para Brasília. Esse episódio não foi o primeiro experimento de transmissão sonora no país, porém é considerada, em muitas referências, como a primeira transmissão oficial.
Na ocasião, a Westinghouse distribuiu 80 aparelhos receptores a autoridades civis e militares, e os aparelhos foram instalados em locais como o Palácio do Catete e em prédios públicos. Os presentes no evento e nos locais onde se encontravam os aparelhos receptores ouviram um discurso do então presidente da República, Epitácio Pessoa, e trechos da Orquestra Sinfônica tocando, ao vivo, O Guarani, de Carlos Gomes. A apresentação aconteceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e pôde ser ouvida, segundo relatos da imprensa da época, em locais distantes como Niterói, Petrópolis e São Paulo.
23 DE ABRIL DE 1923
Empolgado com a tecnologia apresentada na transmissão, Roquette-Pinto inaugura, nesta data, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em uma reunião na sede da Academia Brasileira de Letras. Aqui começa então, de forma oficial, o funcionamento da primeira emissora de rádio no Brasil.
COMEÇO DA DÉCADA DE 1930
Até aqui, o modelo predominante eram os rádios clubes e as rádio sociedades, em que os seus sócios pagavam mensalidade ou anuidade. Havia ainda o custo para obtenção de licença de escuta e aquisição dos aparelhos, que eram caros. Portanto, apenas uma pequena parcela da população, com poder aquisitivo alto, tinha acesso às informações. Com o tempo, porém, interesses econômicos impulsionaram a popularização dos aparelhos receptores, que eram grandes, pesados e o destaque das salas privilegiadas.
VOCÊ SABIA?
Preencher o silêncio da programaçãoera uma tarefa difícil. No início, as transmissões eram irregulares, geralmente à noite, com leituras de textos literários, transmissão de peças de teatro, orquestras e óperas. O próprio Roquette-Pinto, considerado por muitos como o “pai do rádio”, lia no ar notícias de jornais exatamente como estavam escritas no impresso. Ele usava uma técnica que atualmente chamamos de “Gillete Press”, em que notícias do jornal impresso eram grifadas e depois lidas no ar sem nenhuma adaptação de linguagem.
Muitas vezes os preparativos da apresentação da orquestra eram transmitidos, pois ainda não havia o recurso de colocar no ar uma programação gravada. Era comum, portanto, ouvir a afinação dos instrumentos da orquestra ou banda antes das apresentações. Como a estrutura também não permitia uma programação ao vivo por horas seguidas, os sócios emprestavam discos – muitos importados − ao “Clube”, que era a diversão da elite. Aqui, não existiam profissionais do rádio, mas sim técnicos, músicos, escritores, educadores etc. que se aventuravam a trabalhar no rádio.
FASE DA DIFUSÃO
A fase da difusão tem como marco histórico as estratégias empresariais dominantes em um período em que o rádio concorria apenas com o próprio rádio. É na década de 1930, com a regulamentação da publicidade, que o veículo se estrutura como modelo de negócio lucrativo. Fica definido então que o rádio é um serviço público (precisa de concessão do Governo Federal para funcionar) com possibilidade de, através da publicidade, explorar seu potencial comercial. Aqui o rádio deixa de ser exclusividade da elite e passa a ser um veículo de massa.
DÉCADA DE 1930
Em 1930, chega ao fim a Primeira República, golpeada por grupos que eram contrários ao domínio político de São Paulo – estado mais rico da federação –, e inicia-se um longo governo de Getúlio Dornelles Vargas. Sua primeira fase governamental é conhecida como governo revolucionário, seguido de um governo constitucional – marcado por um forte conflito com São Paulo – e, alegando a ameaça comunista em meio ao contexto da II Guerra Mundial, inicia-se o Estado Novo. Logo, Vargas governa o Brasil entre 1930 e 1945. Nesse momento, o rádio se torna um dos maiores instrumentos de difusão da identidade nacional.
Muito dinheiro é investido nas infraestruturas das emissoras e contratação de pessoal exclusivo. A chamada “Era de Ouro do Rádio” nasce com a expansão dos programas de auditório, shows musicais com grandes artistas da época, radioteatro, radionovela e shows de humor. A primeira emissora a ter essa estrutura é a Rádio Record de São Paulo, em 1931, com César Ladeira.
Figura 8. Auditório da Rádio Nacional
Em 1933, Ladeira vai para a Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro, e investe em artistas como: Carmem Miranda, a pequena notável; Carlos Galhardo, o cantor que dispensa adjetivos; Silvio Caldas, o sertanejo incorrigível.
 SAIBA MAIS
GRANDES NOMES DA ERA DE OURO DO RÁDIO
A busca do governo Vargas em criar uma identidade nacional, algo ainda muito irregular naquele momento, passa a valorizar ícones e ritmos como nacionais. Esses nomes marcam e passam a ser conhecidos por meio do rádio por todo o Brasil. Ainda que os aparelhos fossem caros, para uma grande parte da população brasileira, com a criação de rádios nacionais e o investimento do governo para que chegassem a locais diferentes, passamos a notar a escuta pública do rádio.
Ainda no início da década de 1930, entra em cena Adhemar Casé, um ex-vendedor de aparelhos receptores que deixa Pernambuco para fazer história no Rio de Janeiro. Em 14 de fevereiro de 1932, entra no ar o primeiro programa de música popular brasileira na Rádio Philips do Brasil, PRAX, o Programa Casé. Uma das grandes ideias de Casé foi a inserção de jingles – comerciais cantados. O primeiro jingle do rádio foi o da padaria Bragança, em ritmo de fado para agradar o cliente português. Como na época os jingles não eram conhecidos, a propaganda foi sugerida gratuitamente para o Português da Padaria e foi um sucesso.
O primeiro programa montado, idealizado por Henrique Foréis Domingues − conhecido como Almirante –, foi ao ar em abril de 1938, na Rádio Nacional: Curiosidades Musicais. O programa passa a ser pensado e estruturado a partir de um roteiro, e antes da transmissão ao vivo há longos ensaios com todos os envolvidos: Atores, músicos, técnicos. A verba publicitária é investida em grandes produções, com equipes enormes e cachês bem pagos aos artistas.
Figura 9. Linda Batista
Desde 1936, os concursos da Rainha do Rádio faziam sucesso e eram uma atração de destaque. Linda Batista foi a primeira vencedora e reinou por uma década, até a coroa ser transferida para sua irmã, Dircinha Batista. Em 1949, uma marca de refrigerantes começa a patrocinar a cantora Marlene, que ganha o concurso com 529.982 votos. No dia seguinte, aparecem cartazes espalhados com a foto da cantora bebendo o Guaraná Champagne Antártica. Ao falarmos em Marlene, não há como deixar de citar a inesquecível batalha entre esta e Emilinha Borba, que venceu o concurso de Rainha do Rádio em 1953.
Muitas emissoras fizeram sucesso nesse período. Sem desmerecer nenhuma, destacamos: Rádio Farroupilha, de Porto Alegre; Rádios Tupi de São Paulo e do Rio de Janeiro (pertencentes a Assis Chateaubriand); o grupo Emissoras Unidas, que inclui Bandeirantes, Excelsior, Panamericana, São Paulo e Rádio Record (de Paulo Machado de Carvalho); e Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro (de Antenor Mayrink Veiga). Os donos das grandes emissoras, os “Capitães da indústria”, tinham em seus negócios importantes acordos políticos e, em algum grau, influência na indústria cultural.
SAMBA-CANÇÃO E A INDÚSTRIA CULTURAL NO BRASIL
É interessante notar o valor que o samba-canção – juntando estilos, mas bebendo em tradições populares brasileiras − se transforma em um fenômeno nacional, ainda hoje reconhecido como A Música Nacional.
O VEÍCULO SONORO, COM SEU POTENCIAL COMERCIAL SENDO EXPLORADO, ERA CAPAZ DE DITAR MODA COM A ASSOCIAÇÃO DE SUAS CANTORAS E SEUS CANTORES CONSAGRADOS NO CINEMA E NA FONOGRAFIA. OS ARTISTAS MAIS FAMOSOS E COM MAIORES CACHÊS ERAM CONTRATADOS COM EXCLUSIVIDADE; JORNAIS E REVISTAS TRAZIAM EM SUAS PÁGINAS, COMO DESTAQUE, FOTOS E INFORMAÇÕES DOS ARTISTAS DE SUCESSO NOS PALCOS DO RÁDIO. MUITOS IMPRESSOS TAMBÉM TRAZIAM A PROGRAMAÇÃO DAS EMISSORAS E SEUS DESTAQUES.
VOCÊ SABIA?
RÁDIO ESPETÁCULO
Para ter uma ideia da grandiosidade do Rádio Espetáculo, os programas podiam ser vistos pelo público que lotavam os auditórios das emissoras, que transmitiam tudo ao vivo para o público presente e para o dial. Em meados dos anos 1950, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, tinha 6 grandes estúdios, um deles com capacidade para 496 pessoas no auditório. A emissora tinha em sua lista enorme de profissionais contratados: 10 maestros, 33 locutores, 44 cantoras, 52 cantores, 55 radioatores, 39 radioatrizes, 124 músicos, 18 produtores, 13 repórteres, 24 redatores, 4 secretários de redação e aproximadamente 240 funcionários administrativos.
Figura 10. Página 42 da reportagem sobre a inauguração da rádio Nacional, no Rio de Janeiro, da revista Carioca, edição número 48, de setembro de 1936.
FASE DA SEGMENTAÇÃO: PARTE 1 − A DEMOCRACIA
Na fase da segmentação, os aparelhos diminuem de tamanho, há o barateamento do custo, e a possibilidade do crédito ao consumidor, facilitando a aquisição dos novos receptores individualizados. No entanto, surge a TV e, com ela, chega a necessidade de encontrar novas formas de linguagem para concorrer com as imagens. Estrutura-se a segmentação, e o surgimento das figuras do comunicador, do locutor e do DJ. As novidades tecnológicas permitem também a formação de redes via satélite e, em paralelo aos modelos comerciais, o número de emissoras que não visam ao lucro ganham espaço.
Figura 11. Antigo Rádio de Válvulas
Os programas de auditório são um sucesso e o mercado radiofônico é lucrativo na década de 1950, quando surge timidamente a TV, ainda em preto e branco. Em 20 de janeiro de 1951, entra no ar a TV Tupi, do Rio de Janeiro, aindacom algumas dificuldades comerciais e técnicas. Em 1955, Juscelino Kubitschek é eleito com o slogan “Cinquenta anos em cinco”, com a promessa de expansão do país pela industrialização em um período de crescente êxodo rural, aumentando as concentrações urbanas.
Na segunda metade da década de 1950, os artistas de rádio migram para a TV, que tem forte apelo por causa da imagem, e há uma crise com as perdas publicitárias. As emissoras sonoras precisam se reinventar, diminuir o custo de produção e passam a dedicar o espaço que antes era dos shows para a transmissão de música gravada, jornalismo, transmissões esportivas e a prestação de serviço.
 SAIBA MAIS
O RÁDIO COMO PALCO DA POLÍTICA
O governo de Vargas chega ao fim em 1945, mas sua presença e o peso do rádio não diminuíram. Era o campo fundamental de nossos embates políticos. Durante os anos de 1950 e 1960, o rádio se tornou mais múltiplo, tal como nosso breve momento democrático. Entre os anos de 1945 e 1964 tivemos uma experiência democrática que reuniu eleições – ainda que controversas – que levaram Dutra, retorno de Vargas, Juscelino e Jânio Quadros ao poder. Dois vices ainda governaram, um pela morte de Vargas – Café Filho – e outro pela renúncia de Jânio Quadros – João Goulart. Entre certa euforia do pós-guerra e a preocupação da Guerra Fria, o mundo vê novas tecnologias surgirem. A televisão é um dos meios mais marcantes, com imagens em preto e branco começando lentamente a reunir pessoas. Mas, ainda assim, o rádio era poderoso. Foi o meio utilizado, por exemplo, por Carlos Lacerda para denunciar Getúlio Vargas, gerando uma pressão que o levaria a morte. Foi pela rádio também que chegou a busca de um novo estilo – Bossa Nova –, tentando pensar um Brasil mais sofisticado, tão segmentado quando a própria rede se apresentava.
Além da TV, outra novidade tecnológica surge e ganha força nesse período: O transistor. Ele foi inventado nos Estados Unidos, em 1947, e já era produzido em larga escala em 1954. Os aparelhos receptores de válvulas eletrônicas eram pesados, pois precisavam de grandes baterias para abastecer de energia os tubos. Com a tecnologia do transistor há possibilidade da troca dos aparelhos enormes – e de escuta coletiva –, que ficavam em destaque nas salas privilegiadas, por aparelhos individuais, pequenos e leves que poderiam ser transportados para qualquer lugar, pois funcionavam na energia elétrica ou com pilhas. Na década de 1960, o Brasil já produzia o rádio transistor, que se popularizou com a transmissão dos jogos de futebol.
Figura 12. Modelo de rádio transistorizado de 1958
 
BRASIL 1X2 URUGUAI COPA 1950 - ARQUIVO NACIONAL
 
A TRANSMISSÃO DOS JOGOS DE FUTEBOL
O futebol é um capítulo à parte na história do rádio. Popular desde os anos 1930, Vargas fez chegar ao Brasil inteiro os jogos narrados do Rio de Janeiro, que fazia sucesso nas transmissões públicas. Com o transistor e o rádio de pilha, chegamos a uma nova fase. Apaixonados ouviam partidas de seu time e os estádios estavam cada vez mais cheios. A seleção brasileira, transformada em ícone de brasilidade, nos causou sofrimento em 1950, mas fez o Brasil inteiro acompanhar os jogos transmitidos da Suécia e gerou uma comemoração “quase” em tempo real depois da vitória nacional na Copa do Mundo de 1958. Fenômenos decorrentes desse processo fazem, por exemplo, que clubes do Rio de Janeiro − que tem população menor do que capitais como São Paulo e Belo Horizonte − tornem-se os mais populares do país.
Outro segmento eram os primeiros programas de prestação de serviço, uma espécie de achados e perdidos. Aos poucos, os conteúdos informativos vão ganhando forma e o radiojornalismo moderno ganha impulso na Emissora Continental, do Rio de Janeiro, com esforços do locutor esportivo Gagliano Netto e do radialista Afonso Gomes, que trazem o formato que atualmente conhecemos como “música-esporte-notícia”. O slogan da emissora ilustra seus objetivos “Continental, a serviço do povo por toda a parte”. Nesse modelo, a fala ocupa a maior parte do tempo da grade de programação, apesar de haver horários em que a música está presente.
EMISSORA CONTINENTAL
A Continental é um case bem interessante pelo número de abordagens diversas. Podemos exemplificar: No esporte, o futebol ganha destaque com grandes coberturas − afinal, a seleção brasileira estava em alta, tendo conquistado 3 títulos em 4 copas do mundo (1958, 1962 e 1970) e com jogadores como Garrincha, Pelé e Vavá. A emissora também se dedicava a informações e coberturas do vôlei e do basquete. Outro marco da Continental eram as coberturas do carnaval, que contavam com uma enorme estrutura para seus repórteres na rua, que podiam falar de mais de 40 pontos diferentes. Os equipamentos de externa eram enormes e eram necessários vários homens para deslocar todo o aparato tecnológico das transmissões.
A TV VAI GANHANDO ESPAÇO E LEVA PARA AS TELAS O PAPEL DO ENTRETENIMENTO, QUE ANTES ERA DO RÁDIO. OS GRANDES ARTISTAS TROCAM SEUS CONTRATOS COM AS EMISSORAS SONORAS PARA APARECEREM, AINDA EM PRETO E BRANCO, NA TELINHA DA TV E SEUS FESTIVAIS. O RÁDIO SENTE, ENTÃO, A NECESSIDADE DE SE APROXIMAR DO OUVINTE E CRIA UMA ESTRATÉGIA DE BATE-PAPO, CONVERSA COM CARACTERÍSTICAS ADAPTADAS AO TIPO DE OUVINTE QUE INTERESSA, DE ACORDO COM A SEGMENTAÇÃO ESCOLHIDA.
 SAIBA MAIS
AM E FM
Comparado com o AM (amplitude modulada), o FM (frequência modulada) tem menor alcance, porém melhor qualidade do som, o que permite novos formatos de locução com vozes menos impostas e melhor escuta das músicas. Em certa medida, a partir das diferenças na qualidade do som e capacidade de cobertura das emissoras, as AMs dão prioridade às vozes masculinas, mais potentes, são mais faladas, dão ênfase às informações e à prestação de serviço. Já as FMs dão atenção especial à segmentação da audiência, exploram a programação musical e se aventuram nos diferentes tipos de formatos.
A rádio AM
 Clique no ícone para ouvir.
A rádio FM
 Clique no ícone para ouvir.
FASE DA SEGMENTAÇÃO: PARTE 2 − A DITADURA CIVIL-MILITAR
O Brasil vivia um momento político tenso com a Ditadura Civil-Militar, sob o comando de sucessivos governos militares, que exerciam censura de conteúdos contra o governo e limitavam diversas iniciativas e expressões culturais, de abril de 1964 até março de 1985.
Figura 13. Tanques de guerra ocupam o Congresso Nacional
Em 1964, diante de um quadro de instabilidade política, o presidente João Goulart sofria o golpe, e uma junta militar escolhe Castelo Branco como presidente. Assim permaneceríamos até 1985, quando Tancredo Neves é eleito por eleições indiretas. A rádio, apesar do crescimento da televisão de maneira incontestável, ganhava novos públicos e espaços, fosse pela manifestação popular com as FM, trazendo novas influências, ou como forma de difusão e controle do sistema. Programas educativos e propagandas governamentais são usadas para valorizar a identidade nacional. A Ditadura não pode ser compreendida como um momento somente militar, uma vez que a atuação de civis no executivo era constante. No entanto, os princípios de nacionalismo e educação nacionalizante percorreu todo o período, desde a implementação (1964-1968), maior repressão (1969-1978) ou reabertura (1979-1985).
Ao longo da segunda metade da década de 1980, três emissoras se destacam investindo esforços no segmento do jornalismo 24h: A Rádio Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro; a Rádio Gaúcha, do Rio Grande do Sul; o Sistema Globo de Rádio, inspirado na última e que, em 1991, passa a operar com a CBN (Central Brasileira de Notícias).
EM MAIO DE 1983, É LANÇADO OFICIALMENTE O SISTEMA NACIONAL DE RADIODIFUSÃO EDUCATIVO, SOB COORDENAÇÃO DA FUNDAÇÃO ROQUETTE-PINTO (FRP), ÓRGÃO VINCULADO À SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. AQUI HÁ UM MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO ENTRE EMISSORAS DE TV E RÁDIO.
Ainda durante o período da Ditadura Civil-militar, em seu momento de reabertura, cresce nas FM a programação “jovem”, repleta de músicas, narradores com estilos diversos e ampliando no Brasil a presença demovimentos como rock, punk, com a criação na década de 1980 de rádios alternativas.
FASE DA CONVERGÊNCIA
Com a redemocratização em curso, há a abertura a novas tecnologias e ao intercâmbio com a cultura mundial. Lentamente, durante o fim dos anos 1980 e após a eleição de Fernando Collor de Mello, ocorrem a derrubada da política protecionista e o aumento da difusão de informação. A internet chega lentamente em 1990, e a televisão já é móvel e utensílio básico – grande número de famílias tem em casa como um eletrodoméstico cotidiano. A TV está na sala, a informação é cada vez mais fácil, mais corriqueira. De 1998 em diante, um novo fenômeno se populariza: a internet e a troca de dados. Sistemas de comunicação vívidos, trocas de dados na abertura do sistema da telefonia, banda larga − a possibilidade de acesso se modifica completamente nas últimas três décadas.
Figura 14. Ex-presidente Fernando Collor de Melo após a cerimônia de posse
Figura 15.
Na fase da convergência, o rádio precisa novamente se reinventar e se mostra o veículo mais adaptável à chegada das chamadas novas tecnologias digitais. Surgem possibilidades antes nunca pensadas nos modos de fazer e de escuta. O aparelho celular também influencia a relação com a mídia sonora, a produção de conteúdo e os modos de recepção e interação. São tantas novidades que o conceito de rádio precisa ser atualizado, há a reconfiguração do mercado da radiodifusão, a possível quebra hegemônica, necessidade de novos marcos regulatórios e, de forma urgente, adquirir e hibridar saberes.
A internet chega ao Brasil no final da década de 1980 e início de 1990, de forma ainda tímida, com uso experimental e exclusivo das universidades e organizações não governamentais. Era praticamente uma ferramenta de correio eletrônico e conferências para troca de mensagens. Em 1995, a internet passa a ser também uma possibilidade, ainda muito restrita, para a população, abrindo assim novas formas de comunicação interpessoal, organizacional e dos meios de comunicação, incluindo o rádio. Em 1996, já era possível observar o uso da web para divulgação de produtos artísticos e musicais. O cantor e compositor Gilberto Gil, por exemplo, lançou uma versão acústica, ao vivo, e conversou com os internautas sobre a nova tecnologia.
O LEQUE DE POSSIBILIDADES QUE CHEGOU JUNTO COM A INTERNET FEZ AS EMPRESAS DE RADIODIFUSÃO PENSAREM EM DIVERSIFICAR AS FORMAS DE CONSUMO DE SEUS CONTEÚDOS, OU SEJA, POSSIBILITAR NOVOS CANAIS DE ACESSO À INFORMAÇÃO, SEM PERDER O FOCO NA AUDIÊNCIA. ENTENDE-SE AQUI QUE O IMPORTANTE É CHEGAR ATÉ O PÚBLICO, INDEPENDENTEMENTE DO SUPORTE TÉCNICO UTILIZADO PARA ISSO ACONTECER.
Algumas iniciativas merecem destaque nessa fase da convergência, como a CBN (Central Brasileira de Notícias), emissora especializada em notícias 24h, que em 1996 replica seu sinal de ondas médias também na frequência modulada (FM). Treze anos mais tarde, a Rádio Gaúcha AM, de Porto Alegre, também oferece seu conteúdo simultaneamente em ondas curtas e em FM. Já a Super Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, emissora popular do estilo “musica-esporte-notícia”, quebra o tabu de que o lugar do rádio popular é no AM e começa a transmitir de forma simultânea no AM e no FM, em junho de 2009. Em seguida, a Rádio Globo do Rio de Janeiro, também do segmento popular AM, faz o mesmo e começa a ser ouvida no AM e no FM simultaneamente.
Há o crescimento das emissoras exclusivamente web, que não precisam de outorga para funcionar, e do podcasting. Emissoras com cunho comunitário, educativo e até comercial, com interesse em nichos cada vez mais específicos, visando a segmentação dentro da segmentação, optam por funcionar apenas na web. Percebemos ainda a hibridação de linguagens e formatos. A internet passa a ser acessada no computador, no tablet, no notebook e, especialmente, no celular.
Figura 16.
	Surge aqui uma série de questões para serem resolvidas que envolvem, entre elas:
	regulamentação
	questões jurídicas
	direitos autorais
	novos influenciadores
	novas formas de pensar um conteúdo multimídia e multiplataforma
	novas formas de escuta
	interatividade
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
O termo multimídia
Indica que uma mídia pode e deve explorar vários formatos, por exemplo: O áudio e, nos espaços digitais, os textos, as fotos, os gráficos, os memes. Até mesmo um autorrádio pode trazer no template o nome da música, nome do cantor e informações do noticiário.
O termo multiplataforma
Refere-se à possibilidade de estar em várias plataformas ao mesmo tempo, por exemplo: Pelo aparelho de rádio moderno ou de pilhas, na TV a cabo, no autorrádio, no computador, no tablet, no celular.
Atualmente, há um consenso sobre a necessidade de atualização para o conceito de rádio. Esse percurso foi intenso, com reflexões, diálogos em congressos e grupos de pesquisas e, em certo grau, no início, com resistência de algumas linhas da comunidade acadêmica. Somente em 2010 é apresentado um novo conceito aprovado pela comunidade acadêmica e grupos de estudos de mídia sonora, rádio e radiodifusão:
MEIO DE COMUNICAÇÃO QUE TRANSMITE, NA FORMA DE SONS, CONTEÚDOS JORNALÍSTICOS, DE SERVIÇO, DE ENTRETENIMENTO, MUSICAIS, EDUCATIVOS E PUBLICITÁRIOS. SUA ORIGEM, NO INÍCIO DO SÉCULO XX, CONFUNDE-SE COM A DE, PELO MENOS, OUTRAS DUAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO BASEADAS NO USO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS, PARA TRANSMISSÃO DA VOZ HUMANA A DISTÂNCIA, SEM A UTILIZAÇÃO DE UMA CONEXÃO MATERIAL: A RADIOTELEFONIA, SUCESSORA DA TELEFONIA COM FIOS, E A RADIOCOMUNICAÇÃO, ESSENCIAL PARA A TROCA DE INFORMAÇÕES, DE INÍCIO, ENTRE NAVIOS E DESTES COM ESTAÇÕES EM TERRA OU, NO CASO DE FORÇAS MILITARES, NO CAMPO DE BATALHA. [...] DE INÍCIO, SUPORTES NÃO HERTZIANOS COMO WEB RÁDIOS OU O PODCASTING NÃO FORAM ACEITOS COMO RADIOFÔNICOS [...]. NO ENTANTO, NA ATUALIDADE, A TENDÊNCIA É ACEITAR O RÁDIO COMO UMA LINGUAGEM COMUNICACIONAL ESPECÍFICA, QUE USA A VOZ (EM ESPECIAL, NA FORMA DA FALA), A MÚSICA, OS EFEITOS SONOROS E O SILÊNCIO, INDEPENDENTEMENTE DO SUPORTE TECNOLÓGICO AO QUAL ESTÁ VINCULADA.
(KISCHINHEVSKY, 2010, p. 1.009-1.010)
O surgimento de emissoras exclusivamente online, que funcionam sem outorga, leva a crer que há a possível chance – ou a sensação – de quebra hegemônica dos grandes conglomerados de comunicação. Surge a possibilidade de produção de conteúdo cada vez mais segmentado, com nicho e subnicho bem específicos, como, por exemplo: Uma rádio web para mulheres que são mães solteiras e trabalham fora, são de origem nordestina, mas moram na capital de São Paulo. São nichos que no mercado tradicional talvez não fossem lucrativos ou tivessem tamanho que justificasse tal esforço.
Outro ponto importante é a não obrigatoriedade de ser um profissional de comunicação para atuação e possível destaque. Na web, os mais jovens, pessoas sem experiência no dial, representantes de grupos excluídos ou especialistas em um tema específico podem produzir conteúdo de qualidade com liberdade para criar novos estilos de locução, gêneros e formatos, e até misturar um pouco de tudo criando novidades híbridas. Uma comunidade carente, por exemplo, pode ter uma emissora online que mostra seus artistas, suas dificuldades e oferece prestação de serviço direcionada. Um médico pode ter um canal de podcasting e produzir conteúdo sobre saúde para a população em geral, ou direcionado para outros médicos.
MUDOU A FORMA DE SE COMUNICAR COM O OUVINTE. ANTES ESSA CONVERSA ENTRE EMISSORA E OUVINTE ERA FEITA POR CARTAS E DEPOIS POR TELEFONE, ATÉ A CHEGADA DO E-MAIL. ATUALMENTE, ESSA COMUNICAÇÃO É MAIS RÁPIDA PELAS REDES SOCIAIS E HÁ UMA CONVERSA PARALELA ENTRE OS OUVINTES NAS POSTAGENS E NOS GRUPOS DE INTERESSE. ALÉM DAS REDES SOCIAIS OFICIAIS DAS EMISSORAS, OS PROFISSIONAIS DE RÁDIO TAMBÉM SE RELACIONAM ATRAVÉS DOS SEUS PERFIS PESSOAIS. ALGUNS RADIALISTAS RELATAM, INCLUSIVE, QUE SÃO MAIS RECONHECIDOS NAS RUAS, POIS O OUVINTE O RECONHECE DE FOTOS E VÍDEOS NA INTERNET.
Nos tempos de internet, além da necessidade de rever o conceito de rádio é indispensávelobservar novos caminhos, abrindo a mente para se reinventar em questões comerciais, mercadológicas, jurídicas, de representatividade, de acesso à informação, reconfigurações do papel do locutor/comunicador/DJ, novas formas de produção, consumo, entender as novas demandas da audiência, alcance, métricas, fluxo de informação, interatividade, coparticipação e profissionalização. Essa fase ainda está em mutação e, provavelmente, muitas possibilidades surgirão.
A seguir, o Professor Rodrigo Rainha e o Radialista David Rangel comentam o conteúdo do módulo.
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Reconhecer a responsabilidade social do rádio
Para discutir o papel social do rádio no decorrer dos anos é preciso, primeiro, definir o que é papel social. Podemos dizer que trata-se de um conceito sociológico visto de formas diversas, mas compreenderemos aqui como a função que um indivíduo assume na sociedade.
O PERSONAGEM “RÁDIO”
COMUNICAÇÃO DEMOCRÁTICA
O rádio fala para todos de forma democrática, não importando se você tem ou não estudo, diploma, condição financeira, sua localização, se é homem, mulher, novo, velho. Não há a necessidade de saber ler ou escrever − para se comunicar pelo microfone é preciso apenas falar e, para ouvir, basta ter capacidade auditiva para tal. Por mais estranho que pareça, é comum existirem locutores e comunicadores com pouca capacidade de escrita ou mesmo analfabetos.
Figura 17.
O rádio fala com o presidiário, com os doentes nos leitos de hospitais, com quem está isolado em uma ilha ou em alto-mar. Com quem está em áreas de floresta ou zona rural, com os grandes centros urbanos e as periferias. Fala com os médicos, advogados, com a dona de casa, o pedreiro, o desempregado, o morador de rua, o analfabeto. Fala com as crianças, os centenários e os jovens.
Figura 18.
BAIXO CUSTO
Quanto custa um radinho de pilhas, um aparelho de TV e a assinatura mensal de um jornal? Qual é o meio de acesso à informação mais barato? O rádio. O investimento é apenas no aparelho receptor, que pode ser bem simples e barato. Além disso, a quantidade de emissoras radiofônicas de sinal aberto é muito maior do que a da TV aberta. Levando em conta o investimento para aquisição do aparelho e o número de emissoras disponíveis no dial, o rádio tem o melhor custo benefício de acesso à informação.
A produção radiofônica também é mais barata. Imagine, por exemplo, um comercial de TV de um calçado esportivo em que o jogador de futebol famoso entra em campo, o estádio está lotado e, de repente, surge um disco voador trazendo a tal “chuteira de outro mundo”. Como seria produzir essa cena na TV? Locação, figurantes, efeitos especiais, equipe técnica de gravação, edição etc. Isso custaria muito dinheiro. Agora imagine como fazer esse mesmo comercial no rádio. Uma única pessoa poderia narrar e, com muita imaginação, editar os efeitos sonoros. Um microfone, uma pequena mesinha de áudio e um computador são suficientes para essa “superprodução”.
ABRANGÊNCIA
As ondas curtas, tropicais e médias possuem abrangência quase ilimitada, e sua restrição está apenas na potência dos transmissores e na legislação. As antigas AMs (amplitude modulada) tinham abrangência de sinal muito similar às da TV. O rádio conta ainda com a frequência modulada (FM) com alcance de curta distância, que permite a produção e cobertura local.
REGIONALIDADE
A produção da TV é centralizada no eixo Rio-São Paulo. Isso não quer dizer que outros locais não produzam conteúdo, mas grande parte do que é veiculado vem desses dois estados da região sudeste.
As emissoras de rádio, por sua vez, possuem maior diversidade de produção de conteúdo. Pequenas FMs podem cobrir alguns bairros ou pequenas cidades, e o número dessas emissoras espalhadas pelo Brasil é bem significativo. Em contrapartida, emissoras de longo alcance levam informação dos grandes centros para as regiões mais distantes.
Figura 19. O anúncio da Radio Club de Pernambuco, publicado na revista O Malho, na edição de maio de 1939.
Figura 20. Roquette-Pinto
IDEALIZAÇÃO DO RÁDIO POR ROQUETTE-PINTO
Ao inaugurar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1923, Roquette-Pinto pensava na responsabilidade social e educativa do veículo. Seu idealismo é facilmente identificado no slogan “Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”.
O RÁDIO É O JORNAL DE QUEM NÃO SABE LER; É O MESTRE DE QUEM NÃO PODE IR À ESCOLA, É O DIVERTIMENTO GRATUITO DO POBRE; É O ANIMADOR DE NOVAS ESPERANÇAS; O CONSOLADOR DO ENFERMO; O GUIA DOS SÃOS, DESDE QUE O REALIZEM COM ESPÍRITO ALTRUÍSTA E ELEVADO.
(TAVARES. 1997, p.8)
Na época das Rádios Clubes, o acesso era apenas da elite, mas percebeu-se a importância e o poder que essa tecnologia trazia. O Rio de Janeiro era a capital federal, com forte movimento cultural e, levando em conta o contexto da época, Roquette-Pinto viu no rádio um instrumento de transformação educativa. Conferências, música erudita, leitura de jornais, análise de fatos políticos e econômicos − não havia radialistas profissionais e quem falava ao microfone eram cientistas, professores e intelectuais.
A REGULAMENTAÇÃO DA PUBLICIDADE, EM 1932, ABRIU PORTAS PARA OS IDEAIS EDUCATIVOS-CULTURAIS DE ROQUETTE-PINTO. O NÚMERO DE ANALFABETOS NO BRASIL NO PERÍODO AINDA ERA GRANDE, INCLUSIVE NA CAPITAL, E O RÁDIO PASSOU A SER O ÚNICO MEIO DE AQUISIÇÃO DE INFORMAÇÃO E ENTRETENIMENTO.
Na década de 1930, o rádio passou a ser visto como um instrumento ideológico. Na lógica dos revolucionários, ele servia para auxiliar na consolidação de uma Unidade Nacional, importante ao período de modernizações, e na interação entre as diferentes classes sociais.
PAPÉIS SOCIAIS DO RÁDIO
O conceito de papel social também pode ser analisado pela ideia de “máscaras sociais” − cada sujeito é múltiplo e assume papéis e funções diferentes dependendo do meio social em que esteja imerso, ainda que seja efetivamente o mesmo sujeito. O rádio, teoricamente, é sempre o mesmo, mas assume papéis sociais diferentes dependendo das demandas de seu entorno. Com isso, ao longo da história foi assumindo máscaras e representações diversas. Assim, passamos a relatar dois dos papéis sociais que o rádio assume, vinculado à sua responsabilização.
Figura 21.
EDUCAÇÃO
Em todas as fases do rádio, podemos observar ações com interesse educativo e movimentos com forte responsabilidade social. Para parte considerável da população, o rádio ainda é o principal meio de comunicação. Nosso Brasil de muitos “Brasis” ainda tem deficiências no fornecimento de energia elétrica, de acesso à educação e capacidade de deslocamento. O poder de persuasão e penetração do rádio é tão forte que Igrejas e políticos têm interesse na aquisição de concessão ou de fatias da programação.
DESSA FORMA, PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS ENTENDERAM A FUNÇÃO EDUCACIONAL QUE O RÁDIO PODE ASSUMIR. É IMPORTANTE SINALIZAR, PORÉM, QUE O PAPEL DEMOCRÁTICO DO VEÍCULO É DECORRENTE DAS PRÁTICAS. QUANDO FALAMOS EM POLÍTICA NACIONAL DE CONCESSÕES, O RÁDIO NUNCA ESTEVE LIVRE DAS RELAÇÕES POLÍTICAS. ASSIM, SUA DINÂMICA E SUAS RELAÇÕES COM O GOVERNO, ASSIM COMO A PRESSÃO EXERCIDA POR ESTES, SEMPRE FORAM CLARAS.
Até 1988, por exemplo, a concessão de um espaço formal no “dial” dependia quase exclusivamente do interesse do presidente. Devemos ter cuidado, portanto, com o uso educacional do rádio. Debates, mesas-redondas e entrevistas são uma coisa, mas sua função formal para atuação na educação − seja por uso de horários em rádios diversas ou ainda com programações oficiais como a Rádio MEC − atende e dialoga com interesses do Estado e principalmente de quem o governa.
 
PROJETO MINERVA RÁDIO MEC
 
IDENTIDADE
O rádio é um espaço para debates, mesas-redondas, entrevistas com especialistas. Em algumas emissoras, essas entrevistas e esses debates são longos, com mais de uma hora de duração, permitindo aprofundar o tema e levar, em certa medida, uma possibilidade de reflexão aos ouvintes. Nas rádios mais populares a prestação de serviço é mais atuante e, em algunscasos, beira o assistencialismo. Existe, em certo grau, espaço para ser – ou parecer ser − porta-voz da população. O papel dos comunicadores é essencial e há um forte vínculo por parte dos ouvintes. É comum, por exemplo, o ouvinte dizer que escuta “tal comunicador” e não “tal emissora”.
Para o ouvinte, o comunicador passa a ser amigo íntimo. Ele exercita a empatia e sabe dos problemas daquela audiência, fala como um deles e, de certa forma, representa aquela audiência. Abre espaço para críticas ao sistema público, chama atenção para a rua sem asfalto, locais sem rede de esgoto, hospitais que não atendem. Ele é o amigo que conta histórias tristes de familiares que se maltratam e de pessoas que passam necessidade, dá gargalhadas, se emociona, conta “causos” engraçados. Essa proximidade alimenta o “superpoder” da credibilidade ao rádio quando comparado aos demais meios de comunicação.
Figura 22.
A RÁDIO CRIADA PARA TER “RESPONSABILIDADE SOCIAL”
Vamos sair do campo da teoria e passar a um exemplo real: Machado de Assis, ao escrever sobre o momento em que o Brasil se torna uma República, brinca com o fato de que o país demorou a descobrir que teve mudança tão dramática. A dúvida sobre o que aquilo representava e a ausência de informações gerava a sensação de que a integração nacional era reduzida. No entanto, pelo rádio, em poucas horas o Brasil inteiro sabia que Getúlio Vargas decretara a Guerra ao Eixo e entrara na Segunda Guerra Mundial. O suicídio de Getúlio e a comoção produzida também foram imediatos, gerando revoltas e manifestações em todo o país.
O COMPROMISSO DO RÁDIO É COM A PRECISÃO DA NOTÍCIA – UMA VEZ QUE PRECISA DESCREVER – DE FOMENTAR SERVIÇOS PÚBLICOS, INFORMAR SOBRE GOVERNOS E A POLÍTICA E, EM ESPECIAL, SER O PARCEIRO PRINCIPAL NOS MOMENTOS MAIS CRÍTICOS. DIARIAMENTE, NOS CARROS, MILHARES DE MOTORISTAS ESPERAM QUE O RÁDIO LHES INFORME DE MANEIRA VELOZ SOBRE QUALQUER FATO RELEVANTE, SEJA O PROBLEMA DO TRÂNSITO OU UMA MUDANÇA NA POLÍTICA. A CONFIANÇA DO DISCURSO RADIOFÔNICO REPRESENTA UM PROCESSO DE CREDIBILIDADE FUNDAMENTAL.
Essa noção dada por exemplares históricos do rádio inaugura sua função de responsabilidade social. Muitas vezes, a rádio foi pensada e construída para esse fim. A seguir, relataremos alguns programas que apontam para esse processo. Já imaginou, por exemplo, aulas de português, matemática, medicina, ciências e até ginástica pelo rádio? Sim, muitas aulas foram ministradas nas ondas sonoras, inclusive de ginástica.
A Hora da Ginástica foi o programa que ficou mais tempo no ar: 51 anos, sendo 40 ao vivo. O saudoso professor de educação física Oswaldo Diniz Magalhães (1904-1998) iniciou o programa de atividade física em 1932, na Rádio Educadora Paulista. O sucesso veio quando ele passou a falar nos microfones da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Uma vez constituída uma sociedade, as instituições tornam-se responsáveis pelo bom funcionamento social, melhorando a estrutura para os coletivos de seus cidadãos.
OSWALDO DINIZ MAGALHÃES
O professor Oswaldo Diniz Magalhães precisou se formar no exterior porque, na época, não existia faculdade de educação física no Brasil. Durante seus estudos, ele observou que os brasileiros eram sedentários e que várias doenças poderiam ser evitadas com um pouco de exercício na rotina. Até a década de 1980, não existiam academias por toda parte como vemos atualmente. Preocupado com a saúde dos brasileiros, o professor Oswaldo Diniz dedicou seus dias a tentar conscientizar sobre a importância da atividade física.
Com um painel de fotos dos movimentos (eram encontrados nas revistas especializadas sobre o rádio) e um simples bastão (que poderia ser um cabo de vassoura), ele ensinava às famílias brasileiras a importância da atividade física e seus benefícios. O ouvinte fazia ginástica e tinha acesso a informações sobre higiene, saúde, dicas práticas para o dia a dia e como viver em harmonia com a família e no trabalho. O professor ainda respondia perguntas e fazia homenagens durante os exercícios.
Figura 23. Série de exercícios físicos publicada na Revista Boa Nova, edição de setembro de 1939.
Figura 24. Série de exercícios físicos publicada na Revista Boa Nova, edição de setembro de 1939.
Durante o Estado Novo, nos anos 1930, existia uma preocupação com o civismo e o esporte. De forma preconceituosa, o corpo branco e forte era visto como superior, e existiam clubes e associações atléticas entre grupos de imigrantes. Com o passar dos anos, o esporte foi ganhando espaço entre a população e, na década de 1960, tivemos a explosão do futebol profissional, impulsionada pela excelente temporada da seleção brasileira nas copas do mundo. O esporte passou a ser mais democrático com a presença de atletas negros em destaque, como o Pelé.
Depois de uma temporada na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, as aulas de ginástica foram para a Rádio MEC, onde permaneceram até 1981. Em 1985, o programa retornou ao ar, conduzido pelo radialista Wagner Gomes, também na Rádio MEC, e depois foi para a Rádio Globo, quando saiu do ar.
Segundo Ferraretto (2007), outro demonstrativo do papel social do rádio foi o episódio da década de 1950 envolvendo um avião da força aérea brasileira com 14 pessoas a bordo. A aeronave atravessou a Amazônia e estava tentando pousar no aeroporto de Campo Grande − no então estado do Mato Grosso (atualmente Mato Grosso do Sul) −, com sérios problemas, pois o aeroporto estava sem energia elétrica e o piloto não conseguia visualizar a pista de pouso. O piloto, então, entrou em contato com os aeroportos da região, e a informação chegou rapidamente à Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, que entrou imediatamente em contato com a Rádio Nacional. Minutos depois, o locutor de plantão abriu o microfone e transmitiu a mensagem, chamando atenção ao povo mato-grossense:
ATENÇÃO, CAMPO GRANDE! ATENÇÃO, CAMPO GRANDE, EM MATO GROSSO! UMA FORTALEZA VOADORA DA FAB PRECISA ATERRISSAR, MAS O CAMPO DE POUSO ESTÁ ÀS ESCURAS. OS MORADORES DA CIDADE DEVEM IR COM SEUS AUTOMÓVEIS PARA O AEROPORTO A FIM DE ILUMINAREM AS PISTAS DE POUSO COM SEUS FARÓIS.
(GOLDFEDER, 1980, p. 40).
Meia hora depois, a pista estava totalmente iluminada e o avião pousou sem mais problemas. Um acontecimento como esse deixa claro o poder de penetração do rádio e sua função social no território brasileiro, de dimensões continentais.
RÁDIO: DEMOCRÁTICO E INFORMATIVO
Com os meios de comunicação cada vez mais focados nos interesses comerciais, o rádio passou a ser chamado de “primo pobre”, por ser uma mídia barata. Mas, apesar dos altos e baixos da história, ele sempre foi visto com forte potencial democrático e informativo, mesmo no século XXI, com a internet ocupando espaço e reconfigurando seus modos de fazer e de escuta. No mundo, a comunicação por ondas sonoras ainda é o meio mais acessado e o principal entre as classes menos favorecidas. Em muitos episódios ele salvou vidas, incluindo em períodos de guerra, apagões, catástrofes naturais e locais em situação de extrema pobreza.
 
PREFIXO - RÁDIO DIFUSORA 1170 KHZ - MOSSORÓ - RN (VERSÃO CANTADA)
 
A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO) MILITA E ATUA PELO DIREITO DO CIDADÃO À COMUNICAÇÃO E À INFORMAÇÃO, E SE REFERE AO VEÍCULO COMO FUNDAMENTAL POR SER BARATO, DEMOCRÁTICO E TER POTENCIAL DE DISTRIBUIÇÃO E DE PENETRAÇÃO NA POPULAÇÃO.
Na região amazônica, por exemplo, o rádio é o único meio de comunicação existente. É através dele que populações ribeirinhas e índios têm informação sobre o que acontece no Brasil e no mundo. É também no rádio que esses grupos excluídos expressam e preservam sua música, seu modo de falar, sua cultura, sua arte, suas reivindicações e seus apelos. Existem programas nessa região – e outras de difícil acesso – que são de recados, uma espécie de classificados, em que a população recebe e manda notícias. Nesses programas, é comum o comunicado de nascimento e de falecimento, por exemplo.
A seguir, vamos imaginar a locução ilustrativa dos programas de recadosque, para muitos brasileiros, é a única forma de se comunicar com parentes e amigos e de receber informação:
DONA MARIA DAS DORES, DA COMUNIDADE DE RIBEIRINHA, SUA FILHA APARECIDA DAS DORES, QUE MORA HÁ SEIS ANOS EM SÃO PAULO, AVISA QUE ESTÁ PARA CHEGAR NO DIA 7 DE ABRIL. ELA DISSE QUE VAI TRAZER SEU NETINHO, O IGOR, PARA CONHECER A AVÓ.
“É COM PESAR QUE INFORMO O FALECIMENTO DE (...). QUE DEUS CONFORTE O CORAÇÃO DOS FAMILIARES E AMIGOS”.
“ATENÇÃO PARA AS CORRESPONDÊNCIAS QUE CHEGARAM NO POSTO DOS CORREIOS DO RIACHO DOCE: DONA IRACEMA MARIA, DO LOTE 4. SENHOR JUAREZ TUPINAMBÁ, DA PEIXARIA DO RIACHO FUNDO. APARECIDA MARIA DE LOURDES, DA FAZENDA SÃO GABRIEL...”
“CALENDÁRIO DE ATENDIMENTO DO POSTO DE SAÚDE DE RIO VERDE: SEGUNDA E QUARTA-FEIRA TEM CLÍNICA GERAL E GINECOLOGIA. TERÇA E SEXTA-FEIRA É DIA DE PEDIATRIA E VACINAÇÃO DAS CRIANÇAS. LEVE A CARTEIRINHA DE VACINAÇÃO!”
QUANDO TODOS OS MEIOS PARAM, QUANDO TUDO PARECE COMPLICADO, O RÁDIO SE MOSTRA PRESENTE E EFICIENTE. NOS DESASTRES, O VEÍCULO SEMPRE FOI UMA ARMA PODEROSA DE AUXÍLIO.
Uma das ocasiões em que o rádio mostrou sua potência e responsabilidade social foi nas enchentes de fevereiro de 2003, que afetaram principalmente o sul e o norte fluminense, além da região serrana, no Rio de Janeiro, deixando mais de 800 desabrigados. Depois, em janeiro de 2010, uma chuva torrencial causou novamente danos inimagináveis na região serrana, deixando mais de mil mortos.
Nova Friburgo, por exemplo, estava isolada, sem energia elétrica, sem abastecimento de água, ruas haviam desaparecido e os carros ficaram submersos na lama vermelha. Muitas comunidades estavam isoladas por causa de quedas de pontes e estradas. O trabalho era difícil até para as equipes de resgate e não havia abastecimento de comida e água potável. Por alguns dias, o único meio de comunicação a fornecer informação e prestação de serviço, inclusive aos vilarejos isolados, era o rádio, que foi fundamental até para auxiliar os órgãos públicos. Dez dias depois do ocorrido, ainda havia locais sem energia elétrica e água e vilarejos isolados.
Foram plantões de muito trabalho e dedicação total à utilidade pública e prestação de serviço. Sem energia elétrica, não havia televisão nem internet. Em situações de guerra, calamidade, apagão e desastres naturais, o rádio mostra sua potência e grandiosidade com seu jeito falante de ser, democrático, veloz, informativo, de fácil distribuição, forte penetração e baixo custo.
A seguir, o Professor Rodrigo Rainha e o Radialista David Rangel comentam o conteúdo do módulo.
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Objetivo: Analisar a importância do veículo sonoro
na sociedade brasileira
Alguns fatores influenciam diretamente na produção de cultura e identidade de uma sociedade, como os períodos histórico, político, econômico, tecnológico, esportivo, da indústria fonográfica e do entretenimento. Há, ainda, uma forte relação entre o rádio e o mercado fonográfico, e aqui você vai ver que eles caminham de forma paralela e muito próximas. Pode parecer antagônico, mas o rádio tem seu papel fundamental na criação da identidade nacional brasileira e na preservação das culturas locais.
A história do Brasil é marcada pela chegada de imigrantes de diversas partes do mundo. Tanto os colonizadores como os índios e escravos passaram por um processo de miscigenação que deu origem ao povo brasileiro, uma mistura racial interessante: Índios, portugueses, espanhóis, italianos, holandeses, alemães, africanos, árabes, japoneses etc. Foram muitos os povos que chegaram aqui trazidos à força ou à procura de uma nova vida.
PRIMEIROS PASSOS DA RELAÇÃO DO RÁDIO COM A CULTURA
E A IDENTIDADE BRASILEIRA
O rádio que surge na década de 1920 começa de forma elitista, tocando óperas, peças de teatro, textos científicos e literários, notícias de jornal. Ao microfone falavam apenas os intelectuais, médicos, especialistas e as pessoas ligadas à alta sociedade. Os aparelhos receptores importados e caros eram exclusividade de uma pequena parte da população que ainda acreditava na superioridade da cultura chamada “da elite”. Muitos questionamentos surgiram, de pessoas que acreditavam não fazer sentido ouvir uma ópera ou orquestra sinfônica pelo rádio, pois a arte deveria ser “sentida”, ao vivo, no teatro.
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL NAS ONDAS DO RÁDIO
Entre 1937 e 1945, durante o Estado Novo, o rádio passa a ser utilizado como veículo de construção/conscientização da Identidade Nacional Brasileira. Criava-se uma espécie de resistência ou negação à manifestação de outras identidades que não fossem a brasileira: Proibição do idioma alemão durante a Segunda Guerra Mundial, extinção de escudos ou símbolos regionais e até partidos políticos.
A necessidade da formação dessa Cultura Nacional foi uma das propostas do governo de Getúlio Vargas, e a “queima das bandeiras” – quando as bandeiras dos estados foram queimadas dando destaque à bandeira nacional – trouxe à tona esse movimento político de priorizar a nação brasileira, não determinado estado ou região. Como essa era uma tarefa complexa em um país de dimensões continentais, o governo viu, de forma inteligente, o rádio como um aliado nesse processo, incluindo a unificação da língua portuguesa.
Figura 25. O então presidente Getúlio Vargas, aos microfones de diversas emissoras de rádio em discursos realizado no mês de dezembro de 1938, em reportagem da Revista Pranove, edição No 8.
Vargas incentivou o crescimento do número de emissoras e aconselhou aos estados e municípios que instalassem aparelhos receptores com alto-falantes em locais públicos. A “ordem” da presidência da república era que todas as pessoas tivessem acesso ao conteúdo radiofônico, pois era fonte de informações de interesse da nação. Havia um movimento forte também nas reformas educativas e participações cívicas.
ATENÇÃO
É importante destacar que, mesmo com todos os esforços e dedicação do governo para conduzir a formação da identidade nacional, radialistas, artistas e empresários também tiveram seu papel nesse discurso, tanto para reforçar como para dar vida própria a ele.
Uma importante emissora da época era a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que contava com verbas do governo e campanhas comerciais para se estruturar e contratar artistas, técnicos e radialistas. Ela cresceu de forma rápida e se transformou em uma referência da cultura, influenciando o cotidiano dos brasileiros através da música, do humor, das radionovelas, dos artistas e da moda.
Nesse contexto, três gravadoras marcavam território: Odeon, RCA Victor e a Columbia. A indústria fonográfica e o rádio fizeram o samba circular pela classe média. Noel Rosa cantava Com que roupa, Feitiço da Vila, Palpite infeliz e revelava a boemia do subúrbio carioca, em Vila Isabel.
Figura 26. Ary Barroso se apresenta na Rádio Nacional
Ary Barroso encantou com a composição Aquarela do Brasil, que foi gravada por Carmem Miranda e é tocada até hoje no mundo todo, como símbolo da música brasileira. Em 1988, a escola de samba União da Ilha do Governador levou para a avenida o enredo Aquarylha do Brasil prestando homenagem ao compositor e suas obras. Sílvio Caldas, com seu timbre único, também era um sucesso na época, cantando Faceira (de Ary Barroso), As pastorinhas (João de Barro e Noel Rosa), Chão de estrelas (Orestes Barbosa) e muitos outros sucessos.
Henrique Foréis Domingues, mais conhecido como “Almirante” ou “A mais alta patente do rádio”, popularizou canções como: Na Pavuna, O orvalho vem caindo, Yes, nós temos banana e Hino do carnaval brasileiro. Segundo Vianna (1995), o samba dos guetos e dos pobres foi aos poucos ressignificado de seu “símbolo étnico” em “símbolo nacional”.
AMERICAN WAY OF LIFE
Na gestão de Vargas, o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Itália e a Alemanha. O Repórter Esso não noticiava informações da Europa, da Ásia ou da África se estes não estivessem relacionados com algum interesse norte-americano. O sonho do American way of life foi transferido para a América Latina, e agênciasnorte-americanas atuavam com força na publicidade.
Figura 27. Propaganda do Repórter Esso dos anos 50
O programa Um milhão de melodias, que ia ao ar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, foi um exemplo claro dessa americanização. A orquestra, regida pelo maestro Radamés Gnatalli, tocava um repertório que mesclava músicas nacionais e americanas, mas, para dar uma identidade "abrasileirada" às músicas, a orquestra tinha instrumentos como acordeão, pandeiro, caixeta e cavaquinho. Todos os arranjos eram adaptados especialmente para ressaltar a essência brasileira, inclusive nas canções internacionais.
Empresas de refrigerante, lâmina de barbear, produtos de higiene e limpeza patrocinavam os programas radiofônicos, afinal, o rádio era o principal veículo de comunicação e era eficiente na relação com a audiência massiva.
O FUTEBOL E O ORGULHO DE SER BRASILEIRO
Na década de 1950, chega a TV, ainda sem força para brigar com o rádio. Somente na década de 1960, quando intensifica seus ajustes para a migração dos artistas para as telas, é que ela passa a ser a queridinha da elite. Assim como foi com o rádio, ter um aparelho de TV em casa torna-se símbolo de status. As ondas sonoras, então, apostam no jornalismo e na cobertura esportiva para atraírem os ouvintes.
Figura 28. Imagem do Estádio do Maracanã durante jogo da Copa do Mundo de 1950
Nesse período, a seleção brasileira masculina de futebol ganhou destaque. O Brasil foi sede da copa de 1950, mas perdeu no Maracanã para o Uruguai. Durante a Segunda Guerra Mundial, houve uma paralisação temporária das competições e essa edição foi a primeira no pós-guerra. Em 1954, na copa da Suíça, perdemos para a Hungria, mas vencemos as duas edições seguintes, 1958 e 1962, com Pelé, Vavá e Garrincha. Em 1966, porém, a Seleção Canarinho fez uma péssima participação. É importante lembrar que em 1964 começou a Ditadura Civil-Militar, que durou até 1985.
Na década de 1960, surge o transistor, que modifica a relação do ouvinte com o modo de escutar. Com o passar dos anos, os aparelhos ficam mais baratos, menores e portáteis. Surge o rádio de pilhas. Na Copa seguinte, em 1970, a camisa verde e amarela entra em campo com garra e determinada a trazer a taça. Sob o comando de João Saldanha, vence os adversários sem nenhuma derrota pelo caminho.
Mesmo sob o domínio dos militares, o Brasil estava orgulhoso das cores verde e amarela.
AS COBERTURAS ESPORTIVAS IMPACTAVAM A ROTINA DAS CIDADES, QUE ACOMPANHAM O VAI E VEM DA BOLA COM OUVIDOS COLADOS NO RADINHO. A TV AINDA ERA UM ELETROELETRÔNICO DA ELITE, MAS O RÁDIO ERA UM VEÍCULO DE MASSA, ESTRUTURADO E COM IMENSO PODER DE PENETRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO. O FUTEBOL PASSA A SER SÍMBOLO DA IDENTIDADE NACIONAL, UM LUGAR DE FALA DOS POBRES, NEGROS, PESSOAS DA PERIFERIA. O BRASIL É REPRESENTADO POR UM REI NEGRO E DE ORIGEM POBRE: PELÉ.
O MODELO POPULISTA DE FORMAÇÃO DA CULTURA DE MASSA
Os auditórios das rádios ficavam lotados e viraram lugar de entretenimento para a população do subúrbio, que queria ver de perto os artistas e músicos, entre 1950 e 1960. Para animar a plateia, eram promovidos sorteios de brindes e concursos − como o Rainha do Rádio, que criava uma espécie de rivalidade entre as candidatas, cada uma com seus fãs. Em muitos momentos, a euforia da plateia beirava a histeria. A Rádio Nacional vivia um dilema: “Agradar as massas e controlá-las concomitantemente, sem perder a capacidade de penetração e legitimidade.” (GOLDFELDER, 1980, p. 178).
A classe média se incomodava com o comportamento dos fãs que faziam filas na porta das emissoras, chegando a sugerir o pagamento de ingressos para elitizar a frequência dos auditórios. Mas a indústria fonográfica e o rádio investem em gêneros populares como o tango, a música sertaneja, o baião e marchinhas de carnaval. Surgem, nessa época, estrelas como Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira, Luiz Gonzaga, Castainha e Inhana, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Ângela Maria.
Para a boemia intelectualizada, Dick Farney faz sucesso cantando Copacabana, de João Ribeiro e Alberto Ribeiro. As casas noturnas da zona sul carioca recebem os cantores e compositores que deram origem à Bossa Nova, entre eles: Lúcio Alves, Nora Ney, Antônio Maria, Tito Madi e Dóris Monteiro. Em 1964, cresce a Bossa Nova e suas letras de protesto, com Nara Leão, Paulo Sérgio Valle, Carlos Lyra e Geraldo Vandré.
Figura 29. Nara Leão
Com a chegada da cultura americana, a música sofre a influência do rock and roll após 1955, marcando espaço entre os mais jovens. O primeiro rock de composição brasileira foi composto por Miguel Gustavo e interpretado por Cauby Peixoto: Rock and roll em Copacabana. Surge uma sequência de adaptações das canções americanas na voz de Ronnie Cord, Celly Campelo e Demétrius. Em sequência, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderleia dão início à Jovem Guarda, que é criticada pela falta de cunho político e por trazer elementos da cultura americana.
Figura 30. Caetano Veloso se apresenta no 3o Festival de Música Popular Brasileira
O Tropicalismo surge no Festival da Música Popular Brasileira (TV Record), em 1967, quando Gilberto Gil e Os Mutantes misturam o pop e o rock e cantam Domingo no parque. A plateia ficou dividida em relação ao novo estilo musical e, ao final da apresentação, surgiram aplausos e vaias. O público se emocionou com canções como Alegria, Alegria (Caetano Veloso e Beat Boys), Menina moça (Jamelão), Samba de Maria (Jair Rodrigues), Ventania (Geraldo Vandré) e Uma dúzia de rosas (Ronnie Von). Mas Ponteiro, composição de Edu Lobo e Capinam, interpretada por Edu Lobo e Marília Medalha, vence o festival.
De acordo com Ortiz (1988), de 1969 a 1980, com novidades e rivalidades, o rádio e a indústria fonográfica se encontram em um contexto de um mercado de bens simbólicos e consolidação da indústria cultural.
FMS MUSICAIS
Figura 31.
Nos anos 1970 e 1980, a Frequência Modulada (FM), de excelente qualidade sonora e pequeno alcance, propicia um crescimento do número de emissoras. Os locutores e DJs arriscam novas formas de se relacionar com o ouvinte, que passa a ter um perfil específico, segmentado e escuta individualizada. O aumento do número de emissoras também faz crescer o consumo da música e da indústria fonográfica, com surgimento de gravadoras independentes e de novos artistas.
O PAPEL INTEGRADOR DO RÁDIO CONTINUA FORTE E, AO MESMO TEMPO, ELE ABRE PORTAS INTERESSANTES PARA A CULTURA LOCAL E REGIONAL COM SUAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS. SURGE TAMBÉM O INTERESSE DE OUTORGA POR POLÍTICOS, IGREJAS E EMISSORAS COMUNITÁRIAS.
No decorrer dos anos 1970, um hibridismo de gêneros vem à tona com os Mutantes, Secos e Molhados, Terço e 14 Bis. Ao longo da década de 1980, com o fim da Ditadura Civil-militar, os jovens mostram sua rebeldia cantando o “Rock Brasil” de Legião Urbana, Blitz, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Ultraje a Rigor etc. A música retrata um movimento urbano de mobilização social e, em certo grau, engajamento com as eleições diretas.
Em 1985, um megaevento musical marca um momento interessante para o fortalecimento do rock nacional e, ao mesmo tempo, não resistência às influências internacionais que ganham espaço principalmente nas FMs jovens: O Rock in Rio. Mais do que um evento cultural ou um lugar para apreciar shows dos grandes nomes da música da época, o festival é também um lugar de expressão cultural e de liberdade de expressão.
Entre o final dos anos 1980 e 1990, as rádios populares começam a cantar e a romantizar a vida cotidiana dos sertões e do homem do campo. No topo da lista das paradas musicais temos Roberta Miranda, Sergio Reis, Chitãozinho e Chororó, Zezé di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo.
Quando o sertanejo começa a apresentar sinais de saturação, em meados de 1990, o pagode ganha força, trazendo a representatividade do negro e do pobre das periferias urbanas com Raça Negra e Negritude Junior. As gafieiras e a Black Music se misturam em um novo gênero trazido por Tim Maia e Jorge Ben Jor, e a música baiana ajuda a esquentar o ritmo dos verões comÉ o tchan.
A partir desse momento, fica cada vez mais difícil categorizar os gêneros, e surgem as variações da música sertaneja, do pagode, do rock e até da música baiana, que ganha destaque pela possibilidade de pequenas gravadoras mostrarem a música regional, com adaptações e hibridações, para todo Brasil. A cultura mescla elementos da cultura local e regional, com os nacionais e as tendências internacionais.
Se até aqui as pequenas gravadoras ganhavam espaço e traziam artistas regionais para o mercado nacional, com a chegada da internet os artistas independentes também ganham a oportunidade de mostrar seu trabalho. Há a queda no mercado de CDs, porém isso não é proporcional ao consumo de música. O que acontece agora é a reformulação das formas de distribuição e consumo, que afetam tanto o mercado fonográfico como o mercado radiofônico.
PODE-SE FALAR EM UMA MUNDIALIZAÇÃO DA CULTURA (HALL, 1995), ONDE NÃO HÁ MAIS AS RESTRIÇÕES GEOGRÁFICAS TERRITORIAIS. UMA PESSOA AQUI NO BRASIL PODE FACILMENTE SER FÃ E TER ACESSO À PRODUÇÃO MUSICAL DE UM ARTISTA INDEPENDENTE DE QUALQUER LUGAR DO PLANETA. ESSES ESTÍMULOS, JUNTO COM A FACILIDADE DE EDIÇÃO E MANIPULAÇÃO DO CONTEÚDO NO AMBIENTE DIGITAL, TRAZEM UMA NOVA REFLEXÃO SOBRE PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, ENGAJAMENTO, REPRESENTATIVIDADE, INOVAÇÃO, TRADIÇÃO, DIREITOS AUTORAIS, MERCADO DA MÚSICA, MERCADO RADIOFÔNICO ETC.
MIGRAÇÃO DO AM PARA O FM
A rádio AM foi a primeira frequência a atender a população de massa, cobrindo o Brasil de dimensões continentais ainda no século XX. As mudanças tecnológicas, a força da internet e os consumos de informação em dispositivos móveis influenciam as tomadas de decisões no rumo da comunicação, incluindo da radiodifusão.
É FUNDAMENTAL ENTENDER QUE O RÁDIO POPULAR POSSUI ESPECIFICIDADES NO DESAFIO ATUAL PELA SOBREVIVÊNCIA NO MERCADO RADIOFÔNICO EM RAZÃO DE ESTAR SAINDO DO AM, COM DATA MARCADA PARA ACABAR, E LUTANDO, POSSIVELMENTE, POR ESPAÇO NA FREQUÊNCIA MODULADA TRADICIONALMENTE MUSICAL E SEGMENTADA. ESSE DESLOCAMENTO SOFRE E GERA INQUIETAÇÕES IMPORTANTES, EM DIVERSAS ESFERAS, UMA VEZ QUE OBSERVAMOS O DISCURSO POPULAR COMO UM LUGAR DE MEDIAÇÕES CULTURAIS.
(MARTÍN-BARBERO, 2005).
Sendo assim, é possível olhar para o fenômeno levando em conta os desafios tecnológicos desse rádio expandido, que não se limita ao dial, e as questões técnicas e políticas que geram a necessidade da migração. O olhar, porém, vai além e inclui os modos de relação das pessoas com o meio e a produção de sentido do discurso hegemônico na briga por nova audiência na frequência FM. Em certa medida, existe um avanço do mercado que exige domínio tecnológico e ações estratégicas que afetam os modos de fazer, a estética e a linguagem.
A seguir, o Professor Rodrigo Rainha e o Radialista David Rangel comentam o conteúdo do módulo.
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conteúdo deste tema não esgota a história do rádio no Brasil, seu reconhecimento e sua responsabilidade social ou sua importância como veículo de comunicação sonoro na sociedade brasileira. O percurso é longo e repleto de detalhes e possíveis associações. Os princípios organizativos aqui apresentados são uma das possibilidades de descrever os acontecimentos, sem a pretensão de ser melhor ou mais importante.
Existem diversas formas de olhar para a história do rádio e suas entrelinhas, além do seu papel histórico, político, social, cultural, interacional, informacional etc. É importante salientar que este ainda é um processo em andamento, com algumas dificuldades de registros oficiais em seus primórdios, ao longo dos anos e atualmente.
O poder de resiliência do rádio continua com a internet, que por sua vez quebra barreiras inimagináveis, segmentando subnichos cada vez mais específicos, sem limitação geográfica e necessidade de outorga. Aqui, o rádio incorpora outros elementos e vive uma nova adaptação, agregando texto, imagem, gráficos e vídeos, sem perder as características da linguagem sonora.
Entender a história do rádio, reconhecer sua responsabilidade social e a importância do veículo na sociedade são requisitos importantes para estudantes e profissionais da comunicação social. Afinal, comunicação é poder, e poder exige responsabilidade.
PODCAST
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. A indústria cultural: Iluminismo como mistificação das massas. In: LIMA, Luiz Costa (Org.). Teoria da cultura de massas. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
ENCICLOPÉDIA INTERCOM DE COMUNICAÇÃO. São Paulo: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. v. 1 (Dicionário brasileiro do conhecimento comunicacional). CD-ROM. 2010.
FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: O veículo, a história e a técnica. 3. ed. Porto Alegre: Doravante, 2007.
FERRARETTO, Luiz Artur; KISCHINHEVSKY, Marcelo. Rádio e convergência: Uma abordagem pela economia política da comunicação. Revista Famecos, Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, v. 17, n. 3, p. 172-180, set.-dez. 2010.
_______. Uma proposta de periodização para a história do rádio no Brasil. Revista de Economia e Política de las Tecnologias de la Información y de la Comunicación, v. XIV, n. 2, 2012.
GOLDFEDER, Miriam. Por trás das ondas da Rádio Nacional. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1980.
MARTÍN-BARBERO, Jesús et al. América Latina, otras visiones desde la cultura: ciudadanías, juventud, convivencia, migraciones, pueblos originarios, mediaciones tecnológicas. Convenio Andrés Bello, 2005.
MOREIRA, Sonia Virgínia. O rádio no Brasil. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1991.
ORTIZ, Renato. Moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988.
ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informação no rádio: Os grupos de poder e a determinação dos conteúdos. 3. ed. São Paulo: Summus, 1985. (Novas Buscas em Comunicação, 3).
PRATA, Nair; BIANCO, Nélia R. Del (Org.). Migração do Rádio AM para o FM: Avaliação de impactos e desafios frente à convergência tecnológica. Florianópolis: Insular, 2018.
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo. Dicionário da Comunicação. São Paulo: Ática, 1987.
SANTOS, Suzy dos. Convergência. In: MARCONDES FILHO, Ciro (Org.). Dicionário da Comunicação. São Paulo: Paulus, 2009. p. 79-80.
EXPLORE+
· Leia o texto de Andreia Verdélio para a Agência Brasil: Governo vai reabrir prazo para emissoras de rádio AM pedirem migração para FM.
· Assista ao documentário Padre Landell: Fé na Ciência, da TV Senado. Este documentário, que integra as comemorações dos 150 anos de nascimento do padre e inventor gaúcho Roberto Landell de Moura, resgata as experiências do primeiro cientista do mundo a transmitir voz humana sem fio por meio de ondas luminosas.
· Para saber sobre o surgimento dos jingles no Brasil, escute: Nássara foi o criador do primeiro jingle brasileiro: Padaria Bragança, da Rádio Cultura.
· Conheça Os dez jingles mais representativos da história, de Victória Navarro para o Meio & Mensagem.
· Para conhecer a história de personagens importantes e entender como eram as locuções, os shows nos teatros e outras curiosidades, acesse Dalva de Oliveira: Cem anos da Rainha da Voz.
· Assista aos vídeos Rádio 90 anos: Especial da primeira transmissão radiofônica em 1922, da TV Brasil, e Rádio: 90 anos, do Observatório da Imprensa.
· Confira o programa Revista Brasil, da Rádio Nacional de Brasília, em que o apresentador Valter Lima entrevista o coordenador do Setor de Comunicação e Informação da Unesco no Brasil, Adamo Cândido Soares.
· Escute a homenagem que o programa Todas as Vozes, na EBC, faz ao professor de educação física Oswaldo Diniz Magalhães: Relembre o pai da Ginástica no Rádio.
Confira o programa Revista Brasil, da Rádio Nacional de Brasília, em que o apresentador Valter Lima entrevista o coordenador do Setor de Comunicação e Informação da Unesco no Brasil, Adamo Cândido Soares: Qual a importância do rádio para transformação social?
· Assista ao episódio Emilinha Borba X Marlene acertam as contas, do programa Jovens Tardes, para entender a famosa briga entre as cantoras.· Assista à matéria Morre, aos 90 anos, a cantora Marlene, da EBC.
· Confira a edição especial do quadro O Rádio faz história, do Programa Todas as Vozes, da EBC: Relembre a história do Repórter Esso! na Nacional.
CONTEUDISTA
Renata Guimarães Victor de Oliveira
CURRÍCULO LATTES
NOTICIA E REPORTAGEM NA RÁDIO 
DEFINIÇÃO
Radiojornalismo. Características do rádio. Notícia no rádio. Elaboração de conteúdos para rádio. Edição no radiojornalismo.
PROPÓSITO
Proporcionar a identificação das características dos produtos jornalísticos radiofônicos, indicando as formas de construção e o exercício da profissão. Vamos compreender as características do veículo e usar as ferramentas técnicas e teóricas para melhorar o produto que será oferecido ao ouvinte.
PREPARAÇÃO
Procure na internet e faça o download de um software gratuito de edição digital de áudio.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar a linguagem
das notícias do rádio
MÓDULO 2
Reconhecer as demandas para
realização da cobertura radiofônica
MÓDULO 3
Descrever a formulação de documentários
e programas especiais para o rádio
MÓDULO 4
Estabelecer as formas de
realizar edição em rádio
INTRODUÇÃO
Fonte: Shutterstock
O rádio é um meio “cego” que estimula a imaginação do ouvinte. O público pode, por meio da voz do locutor, visualizar a mensagem. Que imagens são essas? Pode ser a de mulheres reunidas esperando notícias dos maridos que estavam num barco desaparecido. Pode ser a de um pai exultante depois que o filho passou no vestibular.
Fonte: Wikipedia
Se, na televisão, as imagens são limitadas pelo tamanho da tela, no rádio, elas são do tamanho que o ouvinte desejar. Efeitos sonoros podem facilmente levar ouvintes a batalhas espaciais, com muito menos recursos do que em um programa televisivo. Orson Welles, importante produtor da comunicação norte-americana, levou ao ar uma versão de Guerra dos mundos em 1938 e fez com que vários americanos tivessem certeza de que a terra estava sendo invadida por marcianos.
Neste tema, veremos que a responsabilidade do repórter de rádio é imensa. Ele deve ser os olhos e ouvidos de alguém que não está vivendo uma situação. Ele jamais pode mentir; deve ser preciso ao passar as informações. Ao escrever um texto para o rádio, o profissional precisa escolher palavras que facilitem o entendimento do ouvinte. Seus relatos serão subjetivos, pois ele sempre passará uma interpretação do acontecimento. Porém, essa subjetivação não pode ser confundida com distorção.
MÓDULO 1
Identificar a linguagem das notícias do rádio
O PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS
O rádio, como veículo de comunicação de massa, começou a ser pensado a partir de 1916. David Sarnoff, cientista russo radicado nos Estados Unidos, viu a possibilidade da criação de um novo veículo de comunicação.
A massificação do rádio é um processo que se inicia, na década de 1920, nos Estados Unidos. Na Primeira Guerra Mundial, o rádio foi usado como um equipamento militar para a comunicação entre as tropas. Durante o conflito, começaram as transmissões para poucos e privilegiados ouvintes privados.
Rádio em 1916
Rádio na Primeira Guerra Mundial
O termo radiodifusão indica que o conteúdo produzido pode ser difundido para milhões de pessoas. A audiência do rádio é medida pelo Instituto Kantar/Ibope nos principais municípios brasileiros com o cruzamento de duas métricas importantes: alcance e tempo médio. Com o cruzamento desses dois números, calcula-se o índice de audiência das emissoras.
ALCANCE
Número de pessoas que dizem ter ouvido a emissora.
TEMPO MÉDIO
Média do tempo que os ouvintes passam sintonizados em determinada rádio.
No rádio, é importante conseguir a fidelização dos ouvintes. É do maior interesse que os ouvintes permaneçam ligados o máximo de tempo possível, pois, quanto maior a audiência, no sistema de medição indicado, mais fácil será conseguir anunciantes que financiem o funcionamento da rádio. O modelo de concessão de rádios brasileiras favorece as emissoras comerciais, cuja forma de gerar receita é a venda de anúncios.
Uma rádio tem públicos diversos e, por isso, a construção de seus conteúdos devem dialogar fortemente com o público. Essa caracterização foi sendo construída ao longo do tempo. Atualmente, há rádios voltadas a públicos singulares, que podem variar entre uma programação praticamente só de música, outras mistas e, ainda, algumas especializadas no modelo talk and news.
TALK AND NEWS
Modelo que se apoia na divulgação de notícias em constante atualização. No Brasil, as duas principais rádios desse modelo são a Bandnews e a CBN.
HISTÓRIA DO PÚBLICO E DA LINGUAGEM DO RÁDIO BRASILEIRO
1922
O rádio chegou ao Brasil em 1922. A primeira transmissão aconteceu em 7 de setembro daquele ano, durante a Exposição Internacional do Rio de Janeiro, que comemorava o centenário da independência. No ano seguinte, foi inaugurada a primeira emissora: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Seu fundador foi o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Edgard Roquette-Pinto.
EDGARD ROQUETTE-PINTO
Edgard Roquette-Pinto (1884-1954) Médico legista, professor, antropólogo, etnólogo e ensaísta, famoso por pensar e discutir a rádio difusão, buscando, inclusive, sons do Brasil em aldeias indígenas.
O rádio foi o primeiro veículo de mídia eletrônica a entrar nos lares brasileiros. Com grande vantagem sobre os jornais, pois não era necessário ser alfabetizado para poder assimilar o que era transmitido. Quando a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi inaugurada, Roquette-Pinto criou o primeiro noticiário radiofônico brasileiro: o Jornal da Manhã. O programa apresentava características próximas do que hoje poderia ser chamado de revista radiofônica. Roquette-Pinto lia as manchetes e as notícias, depois dava a interpretação desses fatos.
FATOS
CURIOSIDADE:
Além do Jornal da Manhã, havia outros programas noticiosos de rádio no Brasil. É importante pontuar que eles não tinham a forma que hoje se convencionou chamar de linguagem radiofônica, até porque essa linguagem estava sendo criada. Com o tempo, convencionou-se recortar as notícias e colá-las em laudas para facilitar o trabalho do locutor. Pejorativamente, esse processo foi apelidado de gillette-press.
1941
Porém, a grande reviravolta no radiojornalismo brasileiro ocorreu em 1941, com a chegada do Repórter Esso. O noticiário era patrocinado pela petrolífera americana Standard Oil, com informações da agência de notícias americana United Press e redigido pela agência de publicidade americana McCann-Erickson.
O Repórter Esso é importante também ao introduzir no Brasil uma linguagem específica para os noticiários de rádio. Um texto com lead, sublead, frases curtas, pontualidade e aparente objetividade
MOBILIDADE, BAIXO CUSTO, IMEDIATISMO E INSTANTANEIDADE
A tecnologia eletrônica foi aliada do rádio em vários aspectos na luta pela sobrevivência após a chegada da televisão. Além do transistor, os gravadores magnéticos e as unidades móveis de transmissão quebraram as paredes do estúdio. O veículo, já liberto das tomadas, ganhou as ruas a bordo dos carros, que passaram a ter receptores. Nesse cenário de novas descobertas da indústria eletroeletrônica, um novo elemento chegou ao rádio brasileiro: a reportagem.
Se antes o rádio apresentava uma audiência massiva e coletiva, a chegada da televisão transformou seu público em uma audiência individualizada. O rádio teve de se transformar também por conta da diminuição das verbas publicitárias aportadas no veículo. Com a saída desse dinheiro, as emissoras passaram a reinventar a forma de fazer suas transmissões. Em vez de orquestras, voltaram a tocar músicas mecânicas. No lugar de muitas radionovelas, programas prestadores de serviço.
 SAIBA MAIS
A partir de meados dos anos 1950, os programas com público presente começaram a sofrer com a concorrência dos horários de disc-jockeys e seus hit parades – estava surgindo a era do rock´n’ roll. O próprio acúmulo de nomes estrangeiros mostrava que uma nova realidade estava se impondo: o rádio passava pouco a pouco de teatro do povo para veículo sonoro de ascensão

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