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Provas no Processo Penal

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Teoria geral da prova, tipos de prova e elementos informativos
Conceituação do termo “prova”
A prova, no processo penal, está ligada a uma busca pela reconstrução de fatos ocorridos e apuração da verdade. Evidentemente, trata-se de tarefa das mais difíceis e, não à toa, Carrara (1944, p. 291) preconiza que “a certeza está em nós; a verdade está nos fatos”.
A despeito das múltiplas acepções fornecidas para o termo “prova” pelos dicionários, mesmo no âmbito do Processo Penal vamos encontrar a expressão sendo usada de múltiplas formas. Nesse sentido, Guilherme Nucci (2014, p. 282) aponta três sentidos para o termo prova. Veja a seguir.
1. Ato de provar                                            
É o processo pelo qual se verifica a exatidão ou a verdade do fato alegado pela parte no processo, como exemplo deste sentido temos a fase probatória.
2. Meio de provar                                            
É o instrumento pelo qual se demonstra a verdade de algo. Para a exemplificação deste cenário, temos a prova testemunhal.
3. Resultado da ação de provar
É o produto extraído da análise dos instrumentos de prova oferecidos, demonstrando a verdade de um fato”. Sentido exemplificado pelo ato do juiz.
Assim, temos, doutrinariamente, a prova como sendo associada, pelo menos, à atividade probatória em si, como meio de prova e como resultado.
Nosso Código de Processo Penal (CPP) trata “Da Prova”, em seu título VII. A regulamentação abrange disposições gerais e, em seguida, a disciplina de diversos meios específicos de prova. O artigo 155, que inicia o tratamento do tema, traz diversos conceitos essenciais para sua compreensão contemporânea: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”
De plano, já podemos destacar que o julgador é o destinatário da prova e que há a consagração do sistema do livre convencimento, também chamado de persuasão racional, e que também encontra previsão na CRFB/1988 (art. 93, IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade). Com efeito, os julgadores têm liberdade para valorarem a prova, mas devem apresentar as razões de seu entendimento, isto é, fundamentar a sua conclusão.
Diferença entre os tipos de prova e elementos informativos
O artigo 155 do CPP torna imperioso, ainda, traçarmos a distinção entre prova e elementos informativos. Observe a seguir:
Prova
Produzido sob o crivo do contraditório, isto é, durante o curso do processo, perante o magistrado e com a participação das partes. Como exemplifcação, destaca-se o Tribunal de Justiça.
X
Elemento informativo
Colhido ao longo do procedimento investigativo, é de natureza inquisitiva. A exemplo do inquérito policial, não há a necessária participação dialética das partes, isto é, sem que seja viabilizado o contraditório e a ampla defesa.
Nos termos do dispositivo supramencionado, é inportante registrar que o julgador pode utilizar elementos informativos colhidos na investigação para fundamentar a condenação de um réu, apenas não pode baseá-la exclusivamente neles, devendo apresentar em suas razões também provas. Havendo apenas elementos informativos, o acusado deve ser necessariamente absolvido.
Excepcionalmente, temos a produção de provas antes do processo, havendo expressa ressalva legal para as provas cautelares, irrepetíveis e antecipadas, hipóteses nas quais tolera-se que o contraditório não se dê no momento da produção da prova e seja postergado ou diferido para a fase processual.
Observe agora as diferenças entre elas:
Provas cautelares: São aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da prova em razão do decurso do tempo, podendo ocorrer tanto na fase investigativa quanto na fase processual e, em regra, demandam autorização judicial.
Provas irrepetíveis: São aquelas que, uma vez produzidas, não podem ser colhidas novamente em razão do perecimento ou destruição da fonte de prova, muitas vezes por causa do decurso do tempo. É o que ocorre, por exemplo, com os vestígios decorrentes de uma lesão corporal. Assim, é necessário que o exame pericial seja realizado o quanto antes. Também podem ocorrer na fase investigatória e em juízo, sendo que, em regra, não dependem de autorização judicial, nos termos do art. 6º, inciso VII, do CPP, que preconiza que a autoridade policial deverá, dentre outras diligências, determinar que se proceda a exame de corpo de delito e quaisquer outras perícias.
Provas antecipadas: São aquelas produzidas com a observância do contraditório e perante a autoridade judicial, mas em momento processual distinto daquele legalmente previsto, como na hipótese insculpida no art. 225 do CPP, que permite a tomada antecipada de depoimento em razão do risco de testemunha haver desaparecido ou falecido ao tempo da instrução criminal, seja, exemplificativamente, por razões de enfermidade ou por velhice. Imperiosa a autorização judicial para tal, bem como a demonstração da situação de urgência e relevância.
No mesmo diapasão, é a autorização inserta no art. 366 do CPP, gizando-se, no ponto, o disposto na súmula nº 455 do STJ, exigindo que “a decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo”.
No entanto, há diversos precedentes no próprio STJ entendendo possível a antecipação da colheita da prova testemunhal, com base no art. 366 do CPP, nas hipóteses em que as testemunhas são policiais, tendo em vista a relevante probabilidade de esvaziamento da prova pela natureza da atuação profissional, marcada pelo contato diário com fatos criminosos (Acórdãos do STJ: RHC 044898/SP, HC 425852/SP e HC 438916/SP).
1. Acórdãos do STJ: AgRg nos EDcl no AREsp 1006059/SP, HC 381186/DF e AgRg no AREsp 609760/MG
Eventuais irregularidades ocorridas no inquérito policial não contaminam a ação penal dele decorrente.
2. text_snippet
Acórdãos do STJ: AgRg no REsp 1522716/SE, AgRg no AREsp 521131/RS e HC 413104/PA
Perícias e documentos produzidos na fase inquisitorial são revestidos de eficácia probatória sem a necessidade de serem repetidos no curso da ação penal por se sujeitarem ao contraditório diferido.
Meios de prova, fontes de prova e ônus da prova
Outra importante conceituação, feita por parte da doutrina, diz respeito à diferença entre meios de prova, meios de obtenção de prova, fontes de prova e técnicas especiais de investigação. Nesse sentido, veja a seguir as suas definições:
O STJ já fixou como teses jurisprudenciais que as provas inicialmente produzidas na esfera inquisitorial e reexaminadas na instrução criminal, com observância do contraditório e da ampla defesa, não violam o art. 155 do Código de Processo Penal (CPP), visto que eventuais irregularidades ocorridas no inquérito policial não contaminam a ação penal dele decorrente (Acórdãos do STJ: AgRg nos EDcl no AREsp 1006059/SP, HC 381186/DF e AgRg no AREsp 609760/MG). Veja a seguir a fundamentação legal desta ação.
Meios de provas: São os instrumentos processuais disponíveis para a produção da prova em procedimento contraditório, a exemplo da prova testemunhal e da confissão.
Meios de obtenção de provas: São instrumentos frequentemente extraprocessuais que objetivam o encontro de provas ou fontes de prova, a exemplo da interceptação telefônica e da busca e apreensão.
Fontes de provas: São as pessoas ou coisas das quais emana a prova. Assim, as pessoas que servirão como testemunhas são fontes de prova, possibilitando a produção do depoimento, meio de prova. Por sua vez, documentos ou mesmo um cadáver, também podem ser fontes de prova, permitindo a produção de uma prova pericial, por exemplo.
Meios extraordinários de obtenção de provas: São as técnicas especiais de investigação - conceito adotado por parte da doutrina para nominar os instrumentosavançados e mais vanguardistas previstos na Lei 12.850/13, como a colaboração premiada, a ação controlada e a infiltração.
Como já visto, e observado na imagem a seguir, o objetivo da prova é influenciar no convencimento do magistrado, sendo objeto desta os fatos que necessitem de demonstração, a exemplo da imputação contida na denúncia ou queixa-crime.
Nos termos do art. 156 do CPP, a prova da alegação incumbirá a quem a fizer. Considerando que a conduta criminosa narrada na inicial e sua autoria são imputadas pela acusação, indubitavelmente a atividade probatória no processo recai precipuamente sobre ela.
Cumpre registrar existirem duas correntes quanto ao ônus probatório no processo penal. Veja a seguir.
Primeira corrente
Trata-se de uma corrente amplamente majoritária, que recai sobre a acusação o ônus de provar algumas especificidades, como a ocorrência do fato típico, a autoria e/ou participação, a relação de causalidade e o dolo ou culpa (elemento subjetivo).
Assim, a existência de eventual excludente de ilicitude ou de culpabilidade recai sobre a defesa.
X
Segunda corrente
Trata-se de uma corrente minoritária e equivocada a nosso sentir, por impor provas muitas vezes diabólicas à acusação, isto é, impossíveis de serem realizadas.
Todo o ônus provatório seria da acusação, incluindo-se a inexistência de excludente de ilicitude ou culpabilidade, sob o argumento de que qualquer dúvida deve sempre favorecer a Defesa (invocando o velho brocardo latino “in dubio pro reo”).
O poder inquisitório no processo penal
Outra controvérsia reside na possibilidade de o julgador determinar, de ofício, a produção de prova. Com efeito, o art. 156 do CPP expressamente faculta ao juiz:
I
Ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida.
II
Determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
A doutrina e a jurisprudência são uníssonas ao sustentar a vedação da iniciativa acusatória do magistrado na fase investigativa.
Contudo, no curso do processo, prevalece o entendimento de que o magistrado pode determinar, de forma subsidiária e fundamentada, a produção de provas que entender necessárias para o esclarecimento de determinado ponto (invocando-se o princípio da busca da verdade real e o sistema da persuasão racional).
Cabe registrar, todavia, que há corrente que sustenta que o juiz deva permanecer absolutamente inerte e se, ao final da instrução, possuir qualquer dúvida, deve absolver o réu com base no princípio do in dubio pro reo.
Nesse sentido, reitere-se inclusive que há expressa autorização legal no já mencionado art. 156 do CPP (com redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) e, ainda, no parágrafo único do art. 212 do mesmo diploma, que estabelece, em relação à prova testemunhal, que “sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição” (mencione-se também os artigos 127, 196, 209 e 234 do referido diploma, todos a consagrar o poder instrutório do juiz).
Evidentemente, contudo, que o protagonismo probatório deve ser das partes, sob pena de termos um julgador atuando de maneira imparcial, o que violaria o sistema acusatório e revelaria comprometimento psicológico. No tema, merecem gizo as críticas de Franco Cordero acerca do chamado “primado da hipótese sobre os fatos”, criticando a mentalidade típica do sistema processual inquisitório, em que são considerados apenas os elementos confirmadores da acusação e ignorados os demais, no que ele denomina de “quadro mental paranoico” do julgador (CORDERO, 1986, p. 51).
O novel art. 3º-A do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019 (que introduziu a figura do “Juiz de Garantias”, cumprindo observar as ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305), estabelece que o processo penal terá estrutura acusatória, vedando expressamente a iniciativa do juiz na fase de investigação, bem como a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.
A despeito de ter reacendido a controvérsia na doutrina e na jurisprudência, entendemos que apenas ocorreu a reiteração da posição já prevalente, isto é, a atuação probatória do julgador remanesce possível, mas apenas de forma subsidiária e para dirimir dúvidas, sendo o protagonismo de forma inconteste das partes, em especial, da acusação.
Procedimento probatório
O procedimento probatório compreende quatro etapas. 
Classificação das provas
Existem diversas classificações para as provas. Vamos analisar e compreender algumas das principais:
Objeto: Provas diretas: são aquelas que guardam relação com a própria imputação criminal, isto é, com o fato criminoso que é objeto do processo. Exemplo: o testemunho prestado por pessoa que presenciou a ocorrência da infração penal.
Provas indiretas: a despeito de não estarem diretamente relacionadas à imputação criminal, mostram-se relevantes para demonstração de determinada circunstância que permite inferências lógicas sobre o próprio fato criminoso. Exemplo: o álibi.
Previsão legal: Provas nominadas: são aquelas que encontram expressa previsão legal de seu nomen juris (denominação legal de um instituto jurídico), independentemente de haver descrição do procedimento probatório.
i. Provas nominadas típicas: caso haja previsão também do procedimento probatório a ser seguido, a doutrina majoritária classifica a prova como nominada e típica.
ii. Provas nominadas atípicas: havendo apenas o nomen juris legalmente previsto, teremos a prova nominada atípica.
Provas inominadas: são aquelas que não foram legalmente previstas, sendo possível a sua utilização por força da liberdade probatória.
Teoria das provas ilícitas
A liberdade probatória, entretanto, não é absoluta. A persecução penal não pode se dar a qualquer preço, os fins não justificam os meios. Primordial, portanto, trazer à baila a garantia constitucional insculpida no art. 5º, LVI (“são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”), assim como o disposto no art. 157 do CPP, que estabelece a inadmissibilidade das referidas provas e determina que sejam desentranhadas do processo.
Parte da doutrina entende que as provas ilícitas são gênero, abarcando também as provas ilegítimas, razão pela qual se aplica o mesmo tratamento a ambas. É a posição, entre outros, do Desembargador do TJSP Guilherme Nucci (2008), sendo a posição a qual nos filiamos. Há quem sustente, todavia, que, em relação às provas ilegítimas, aplicar-se-ia a teoria das nulidades, interpretando-se o art. 157 do CPP de forma restritiva e considerando como normas legais apenas as normas de Direito Material, a exemplo de Renato Brasileiro (LIMA, 2020).
A Lei 13.869/2019, que dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade, tipifica como crime proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito, bem como o uso de prova com prévio conhecimento de sua ilicitude, em desfavor do investigado ou fiscalizado (art. 25).
No mesmo sentido, constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro (art. 13). Para ambas as infrações penais, é cominada pena de detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Provas derivadas
São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras, nos termos do §1º do art. 157.
A previsão é essencial para rechaçar por completo o uso de provas ilícitas, evitando que subterfúgios permitissem seu aproveitamento indireto. Assim, no caso de uma confissão obtida sob tortura, ainda que esta dê azo a colheita de outras provas que pudessem incriminar o réu, se dela decorrerem não poderão ser utilizadas, por estarem maculadas pelo vício original.
O referido dispositivo consagra a chamada “Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada”(Taint Doctrine) (alguns precedentes da Suprema Corte norte-americana a respeito são: Silverthorne Lumber CO v. US, de 1920; Nardone v. US, de 1939; Miranda v. Arizona, de 1966).
Excepcionando a teoria supracitada, temos as denominadas Exclusionary Rules, como a “Teoria da fonte independente”, “Teoria da descoberta inevitável” e “Teoria da mancha purgada”.
Com efeito, o art. 157, §1º do CPP, preconiza a inadmissibilidade das provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.
Nos termos insculpidos no art. 157, §2º do CPP, considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
Já na “teoria da fonte independente”, a prova é admissível por decorrer de fonte autônoma de prova, que não guarda qualquer relação de dependência ou vínculo causal.
1. gavel
Purged taint
A doutrina da mancha purgada (Purged taint, surgida no julgamento pela Suprema Corte americana do caso Wong Sun v. US, em 1963), por sua vez, defende a inaplicabilidade da teoria da prova ilícita por derivação quando houver uma relevante atenuação do nexo causal entre a prova ilícita originária e a prova secundária posteriormente produzida, seja em razão do decurso do tempo, de circunstâncias supervenientes como a colaboração de envolvido ou de irrelevância da ilegalidade.
2. gavel
Good faith exception
Teoria da Exceção da boa-fé (Good faith exception, reconhecida pela Suprema Corte americana no julgamento US v. Leon, em 1984) argui que a proibição das provas ilícitas visa dissuadir violações aos direitos fundamentais, de forma que, se o agente atua, desconhecendo por completo a ilicitude e tendo motivos razoáveis para acreditar estar agindo de forma válida, eventual prova obtida deve ser considerada válida. Todavia, forçoso registrar inexistirem precedentes de sua aplicação no Brasil, diferentemente do que ocorre com as anteriores.
Imperioso um último registro em relação às provas ilícitas. Nos termos do art. 157, §5º, do CPP, o juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão. Dada a condição humana do julgador, o prévio conhecimento da prova ilícita poderia influenciar, ainda que inconscientemente, a formação do seu convencimento, razão pela qual o referido dispositivo demanda que seja outro o magistrado a prolatar a sentença (excepcionando a identidade física do juiz, insculpida no art. 399, §2º do CPP).
Da prova emprestada
Prova emprestada é aquela que, tendo sido produzida em determinado processo (comunhão interna), ingressa em outro, para o qual não foi originalmente produzida (comunhão externa), como prova documental, mas tem potencialidade de utilização e convencimento de sua natureza originária, seja testemunhal, pericial etc. (FERREIRA, 2015).
A prova emprestada visa à economia processual, bem como à economia material, evitando-se a prática de atos inúteis, repetidos, e se presta também ao aproveitamento de atos probatórios, na hipótese de efetiva impossibilidade de se repetir prova já produzida – quando a subtração do contraditório não ocorre voluntariamente, ou por fatos naturais (mortes), ou por ação humana (ameaça, violência, suborno etc.) (BUIKA, 2013).
O alto custo da repetição da prova, despropositado, ou a dificuldade da nova produção, de igual modo justificam a prova emprestada. O juízo deverá atribuir o valor que entender adequado à prova emprestada, não tendo vinculação ao significado que foi atribuído no processo no qual foi produzida (LUCON, 2016).
Comungamos integralmente das magistrais lições de Humberto Dalla Pinho e Felipe Carvalho Gonçalves (2018, p. 163), a respeito da prova emprestada:
É preciso que se reconheça que a prova emprestada, ainda que tenha sua natureza de prova testemunhal, pericial ou inspeção judicial desnaturada pela falta de identidade de partes, pode ser aproveitada como prova documental, cabendo ao julgador valorá-la de acordo com a sua convicção motivada e de acordo com a profundidade do contraditório ao qual foi submetida.
(PINHO ,D. ; GONÇALVES, C. , 2018, p. 163)
Nesse sentido, há previsão expressa no art. 372 do Código de Processo Civil de 2015, preconizando que o “juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o contraditório”.
Constata-se, portanto, que a única exigência que o CPC/2015 estabelece para a produção da prova emprestada é a observância do contraditório. Gustavo Badaró (2014) defende como imprescindíveis os seguintes requisitos:
1
Que a prova do primeiro processo tenha sido produzida perante um juiz natural.
2
Que a prova produzida no primeiro processo tenha possibilitado o exercício do contraditório perante a parte do segundo processo.
3
Que o objeto da prova seja o mesmo nos dois processos.
4
Que o âmbito de cognição do primeiro processo seja o mesmo do segundo processo.
Além disso, deve ser validamente produzida no processo originário e trasladada integralmente para o processo de destino.
Aliás, cumpre destacar que a aplicabilidade das disposições do CPC/15 ao Processo Penal já foi reconhecida no enunciado nº 3 na I Jornada de Direito Processual Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal (CJF), sob a coordenação dos ministros Mauro Campbell e Raul Araújo e apoio do STJ, ENFAM e AJUFE: “As disposições do CPC aplicam-se supletiva e subsidiariamente ao Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei” (p. 13).
Positivando o caráter central do CPC/2015 no direito processual pátrio, o art. 15 determinou a aplicação subsidiária e supletiva do diploma ao processo eleitoral, trabalhista e administrativo quando ocorrer a ausência de normas próprias.
Curiosamente, todavia, a referida norma não faz referência ao processo penal (chegou a haver previsão expressa, mas ocorreu a supressão durante a tramitação do projeto de lei). Contudo, não se trata de silêncio eloquente, uma vez que o próprio CPP, em diversas passagens, reconhece a aplicação subsidiária do CPC. Nesse sentido, o art. 3° do Código Processo Penal é expresso em reconhecer a interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.
Provas periciais e cadeia de custódia
Conceituação
O CPP prevê, expressamente e ao longo de 12 (doze) capítulos: os exames periciais, o interrogatório do acusado, a confissão, a oitiva do ofendido, a prova testemunhal, o reconhecimento de pessoas e coisas, a acareação, a prova documental, os indícios e a busca e apreensão
Em relação aos exames periciais, merecem destaque as alterações realizadas por meio da Lei nº 13.964/2019, passando o CPP a disciplinar a cadeia de custódia, conceituando-a como o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, como se pode observar na imagem a seguir, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte (art. 158-A).
Cumpre esclarecer que vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal.
A importância da cadeia de custódia já era destacada pela doutrina antes mesmo da sua positivação legal (havia regulamentação apenas por meio da Portaria 82/2014 da Secretaria Nacional de Segurança), ressaltando-se o paradigmático julgamento do HC 160.662 pela 6ª Turma do STJ. A quebra da cadeia de custódia de uma prova (break on the chain of custody), ainda que de boa-fé, acarreta a sua inadmissibilidade, bem como de eventuais provas dela decorrentes (art. 157, § 1º, do CPP), em razão da dúvida quanto à autenticidade e fiabilidade da evidência.
O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quaisseja detectada a existência de vestígio.
Com efeito, o CPP passou a preconizar que o agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação.
Nos termos do art. 158-B, a cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes 10 (dez) etapas:
	Reconhecimento: Ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial.
	Isolamento: Ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime.
	Fixação: Ato da descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento
	Coleta: Ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas características e natureza, e que deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial
	Acondicionamento: Procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento
	Transporte: Ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse.
	Recebimento: Ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu.
	Processamento: Exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito.
	Armazenamento: Procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente
	Descarte: Procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial.
 
A entrada em locais isolados, bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, passou a ser considerada fraude processual.
Ainda segundo a referida lei, todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestígios, e todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso.
Exame de corpo de delito
Quando um crime deixar vestígios (infração penal não transeunte), será indispensável o exame de corpo de delito, que é um exame pericial, seja direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
No entanto, nos termos do art. 167 do CPP, imperioso salientar que, se não for possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
Vale destacar que o exame de corpo de delito tem as suas diferenças. Observe a seguir.
Corpo de delito direto
É aquele feito sobre o próprio corpo de delito, como por exemplo o cadáver em um crime de homicídio.
X
Corpo de delito indireto
É aquele feito diretamente sobre os vestígios deixados pela infração, mas sim sobre testemunhos e documentos que se referem aos vestígios.
Já o conceito de exame de corpo de delito indireto enseja alguma controvérsia. Para alguns, pode ser consubstanciado na própria prova testemunhal (art. 328 do CPPM). No entanto, para uma segunda corrente, também é um exame pericial e não se confunde com a prova testemunhal. Com efeito, o que ocorre é que o perito irá se debruçar sobre os testemunhos e documentos acerca dos vestígios deixados pela infração penal, e elaborar o laudo pericial. Esse exame é tido como indireto pelo fato de não ser feito diretamente sobre os vestígios deixados pela infração, mas sim sobre testemunhos e documentos que se referem aos vestígios.
Observe e compare a configuração jurisprudencial através dos Acórdãos do STJ a seguir.
AgRg no REsp 1726667/RS, HC 440501/RS e AgRg no REsp 1722389/MS
Configura tese jurisprudencial do STJ que é necessária a realização do exame de corpo de delito para comprovação da materialidade do crime quando a conduta deixar vestígios, entretanto, o laudo pericial será substituído por outros elementos de prova na hipótese em que as evidências tenham desaparecido ou que o lugar se tenha tornado impróprio ou, ainda, quando as circunstâncias do crime não permitirem a análise técnica (Acórdãos do STJ: AgRg no REsp 1726667/RS, HC 440501/RS e AgRg no REsp 1722389/MS).
AgRg no REsp 1699758/MS, AgRg no REsp 1636987/SC e HC 420597/SP
O STJ entende que a incidência da qualificadora do rompimento de obstáculo, prevista no art. 155, § 4º, I, do Código Penal, está condicionada à comprovação por laudo pericial, salvo em caso de desaparecimento dos vestígios, quando a prova testemunhal, a confissão do acusado ou o exame indireto poderão lhe suprir a falta (Acórdãos do STJ: AgRg no REsp 1699758/MS, AgRg no REsp 1636987/SC e HC 420597/SP).
Cumpre registrar que a Lei nº 13.721/2018 estabeleceu prioridade para a realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva os seguintes cenários.
I. Violência doméstica e familiar contra mulher.
II. Violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.
Tanto o exame de corpo de delito quanto outras perícias deverão ser realizados por 1 (um) perito oficial, portador de diploma de curso superior.
Na sua falta, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, que prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo e deverão ser portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
A relação entre os exames periciais e o tipo de crime
Na Lei nº 11.343/2006, há a previsão do laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por 1 (uma) pessoa idônea, suficiente para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito.
Gize-se, portanto, a existência de particularidade na Lei de Drogas, visto que, na falta de perito oficial, é possível a sua substituição por 1 (uma) pessoa idônea, enquanto a regra preconizada pelo CPP é a substituição por 2 (duas) pessoas idôneas e com nível superior.
Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a exemplo das armas de fogo, a fim de se Ihes verificar a natureza e a eficiência. No ponto, merecem gizo algumas teses jurisprudenciais do STJ.
Com efeito, a utilização de arma sem potencialidade lesiva, atestada por perícia, como forma de intimidar a vítima no delito de roubo, caracteriza a elementar grave ameaça, porém, não permite o reconhecimento da majorante de pena (Acórdãos do STJ: HC 331338/RJ e HC 257856/SP). No entanto, é prescindível a apreensão e perícia da arma de fogo para a caracterização de causa de aumento de pena prevista no art. 157, § 2º, I, do CP, quando evidenciado o seu emprego por outros meios de prova (Acórdãos do STJ: HC 211787/SP, HC 340134/SP e HC 325107/SP). Cabe à defesa o ônus da prova de demonstrar que a arma empregada para intimidar a vítima é desprovida de potencial lesivo (Acórdãos do STJ: HC 232273/SP e HC 163660/SP).
Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistentede acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado, a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico, que atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.
Ademais, no curso do processo judicial, é permitido às partes, I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar.
Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, será possível designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico.
Os peritos elaborarão o laudo pericial no prazo de 10 dias (excepcionalmente prorrogável), no qual descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados. Cumpre registrar, contudo, que o juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte, em atenção ao livre convencimento motivado.
Interrogatório, confissão, oitiva do ofendido e prova testemunhal
O CPP detalha, ainda, o interrogatório do acusado, a confissão, a oitiva do ofendido e a prova testemunhal.
Preceitua o art. 185 que o acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado, em sala própria, no estabelecimento em que estiver recolhido.
Excepcionalmente, o juiz poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender algumas finalidades.
Observe a seguir cada uma delas.
I
Prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento.
II
Viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal.
III
Impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código.
IV
Responder à gravíssima questão de ordem pública.
Nessa hipótese, o preso poderá acompanhar remotamente a realização de todos os atos da audiência única de instrução e julgamento, garantindo-se o direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor e o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação não só entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, mas também entre este e o próprio réu.
Na praxe forense, raramente, o interrogatório ocorre em sala do local em que o preso está custodiado, embora aconteça esporadicamente por videoconferência. A hipótese mais comum é a oitiva na sede do juízo, sendo a apresentação do réu preso requisitada pelo magistrado (art. 185, § 7º, do CPP).
Eventual confissão, a despeito de outrora ter sido considerada a rainha das provas em razão do seu elevado valor, hoje é aferida à luz do quadro probatório coligido, como qualquer outra prova, verificando-se a sua compatibilidade. Ademais, será sempre divisível e retratável, além de ser um ato livre e personalíssimo. Entre as diversas espécies de confissão, temos:
	Extrajudicial: É a que ocorre fora do processo criminal, em regra durante o procedimento investigativo.
	Judicial: É aquela feita perante a autoridade judiciária, na presença do defensor do acusado.
	Simples: É admitida a prática do fato delituoso, sem a invocação de qualquer excludente de ilicitude ou da culpabilidade.
	Qualificada: É aquela que confessa o crime, mas alega ter agido acobertado por uma excludente.
	Delatória: É aquela em que o acusado confessa a prática da infração penal e delata outros coautores e partícipes.
Quanto à natureza jurídica do interrogatório, destacam-se quatro correntes:
	Meio de prova: É o tratamento dado originalmente pelo Código, mas já superado, por ser típico de sistemas inquisitoriais. Nesse sentido, antes da Lei nº 11.719/08 e da Lei nº 11.689/08, o interrogatório era o primeiro ato da instrução processual penal.
	Meio de prova e de defesa: É a despeito de se reconhecer o interrogatório como forma de autodefesa, é também meio de prova, já que o julgador pode levar em conta elementos obtidos no interrogatório para prolatar sentença condenatória.
	Meio de defesa: É quando o acusado pode permanecer em silêncio e, mais do que isso, pode até faltar com a verdade sem qualquer sanção (CF, art. 5º, LXIII), de forma que seria um desdobramento da autodefesa por meio do qual o réu apresenta ao juiz sua versão sobre os fatos. A Lei nº 10.792/03 e a reforma processual de 2008 reforçam essa posição, com o interrogatório passando a ser o último ato da instrução probatória (Acórdão do STF: HC 127.900).
	Meio de defesa e, apenas subsidiariamente, meio de prova: É o ato visto como expressão da autodefesa, com a possibilidade de o réu permanecer em silêncio, mas ao eventualmente apresentar sua versão dos fatos pode ter suas declarações consideradas para lastrear eventual condenação ou mesmo revelar outras fontes de prova.
Oitiva do ofendido e prova testemunhal
Por sua vez, o ofendido também deverá, sempre que possível, ser qualificado e indagado acerca das circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, e quanto à existência de provas que possa indicar. Vale destacar que, sendo intimado para ser ouvido e deixando de comparecer sem justificativa, poderá ser determinada a sua condução coercitiva ao juízo.
Quanto às testemunhas, que podem ser arroladas pela acusação e defesa, merece registro que o depoimento deve ser prestado oralmente, embora seja permitida a consulta a apontamentos. Assim como ocorre em relação ao ofendido, se regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem justificativa, o juiz poderá determinar que seja conduzida por oficial de justiça, inclusive com auxílio de policiais. Ademais, é possível a aplicação de multa à testemunha faltosa bem como de condenação ao pagamento das custas da diligência, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência.
Sob palavra de honra e após ser advertida da pena cominada ao falso testemunho, o depoente deve fazer a promessa de dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado, declarar seus dados qualificativos e esclarecer se é parente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas, passando, em seguida, a relatar os fatos de que tem ciência.
As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição.
Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, deverá ser realizada a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, deverá ser determinada a retirada do réu, prosseguindo-se na inquirição, com a presença do seu defensor.
Por sua vez, apenas podem se recusar a depor aqueles que tiverem uma das seguintes relações de parentesco com o acusado:
a. o ascendente ou descendente
b. o afim em linha reta
c. o cônjuge, ainda que desquitado
d. o irmão
e. o pai, a mãe, ou o filho adotivo
Caso optem por prestar depoimento, não será deferido o compromisso de dizer a verdade (hipótese em que passa a ser denominada de “informante”), o mesmo ocorrendo com os menores de 14 (quatorze) anos e portadores de alguma deficiência mental.
O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, alémdas indicadas pelas partes. Observe a seguir a dinâmica deste processo.
Reconhecimento e acareação e busca e apreensão
Reconhecimento e acareação
O reconhecimento de pessoas e coisas está regulamentado a partir do art. 226 do CPP, sendo preconizado o seguinte procedimento:
I
A pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida.
II
A pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la.
III
Se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela.
IV
Do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
No ponto, imperioso trazer à baila excertos do didático e brilhante acórdão do HC 652.284/ SC, de relatoria do Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, por esclarecer a recente virada jurisprudencial ocorrida na temática.
Reconheceu o Ministro que a jurisprudência do STJ vinha entendendo que "as disposições contidas no art. 226 do Código de Processo Penal configuram uma recomendação legal, e não uma exigência absoluta, não se cuidando, portanto, de nulidade quando praticado o ato processual (reconhecimento pessoal) de forma diversa da prevista em lei" (AgRg no AREsp n. 1.054.280/PE, relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, DJe de 13/6/2017).
Reconhecia-se, também, que o reconhecimento do acusado por fotografia em sede policial, desde que ratificado em juízo, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, pode constituir meio idôneo de prova apto a fundamentar até mesmo uma condenação.
Recentemente, no entanto, a Sexta Turma desta Corte, no julgamento do HC 598.886 (Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, DJe de 18/12/2020, revisitando o tema, propôs nova interpretação do art. 226 do CPP, para estabelecer que o “reconhecimento de pessoa, presencialmente ou por fotografia, realizado na fase do inquérito policial, apenas é apto, para identificar o réu e fixar a autoria delitiva, quando observadas as formalidades previstas no art. 226 do Código de Processo Penal e quando corroborado por outras provas colhidas na fase judicial, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa”.
Diante da falibilidade da memória, seja da vítima, seja da testemunha de um delito, tanto o reconhecimento fotográfico quanto o reconhecimento presencial de pessoas efetuado em sede inquisitorial, devem seguir os procedimentos descritos no art. 226 do CPP, de maneira a assegurar a melhor acuidade possível na identificação realizada.
Tendo em conta a ressalva, contida no inciso II do art. 226 do CPP, a colocação de pessoas semelhantes ao lado do suspeito será feita sempre que possível, devendo a impossibilidade ser devidamente justificada, sob pena de invalidade do ato. O reconhecimento fotográfico serve como prova apenas inicial e deve ser ratificado por reconhecimento presencial, assim que possível.
No caso de uma ou ambas as formas de reconhecimento terem sido efetuadas, em sede inquisitorial, sem a observância (parcial ou total) dos preceitos do art. 226 do CPP e sem justificativa idônea para o descumprimento do rito processual, ainda que confirmado em juízo, o reconhecimento falho se revelará incapaz de permitir a condenação, como regra objetiva e de critério de prova, sem corroboração do restante do conjunto probatório, produzido na fase judicial.
Por sua vez, a acareação será admitida entre acusados, entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes. Nesse sentido, serão reperguntados, para que expliquem os pontos de divergências
Documentos, indícios e busca e apreensão
Em relação aos documentos, que são quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares, estabelece o CPP que podem ser apresentados pelas partes em qualquer fase do processo.
Indício, também disciplinado pelo diploma processual penal, consiste na circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
Finalmente, a busca e apreensão é a diligência judicial ou policial que tem por finalidade procurar pessoa, veículo ou objeto que se deseja encontrar, como se pode observar na imagem a seguir, para apresentar à autoridade que a determinou, e pode ser domiciliar ou pessoal.
A busca domiciliar deve ser devidamente fundamentada e depende de autorização judicial (art. 5º, XI), podendo objetivar:
a. prender criminosos.
b. apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos.
c. apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos.
d. apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso.
e. descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu.
f. apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato.
g. apreender pessoas vítimas de crimes.
h. colher qualquer elemento de convicção.
Por sua vez, a busca pessoal pode ser realizada diretamente pela autoridade policial quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo algum dos itens descritos no rol supra (excetuadas as alíneas a e g). A busca em mulher deverá ser feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da diligência.
As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta. Observe a seguir:
1. Em caso de desobediência                                            
Será arrombada a porta e forçada a entrada.                                                                                       
2. Caso ausentes dos moradores
Vizinhos devem ser intimados para acompanhar o cumprimento do mandado.                                            
3. Finda da diligência                                            
Deverá ser lavrado auto circunstanciado, com duas testemunhas presenciais subscrevendo-o.
Primeiros pontos sobre a interceptação telefônica
O art. 5º, inciso XII, da CRFB/1988 assegura que “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual”.
Preliminarmente, cumpre registrar a existência de polêmica quanto à abrangência da expressão constitucional “salvo, no último caso”. Para uma primeira corrente, referir-se-ia apenas às comunicações telefônicas, sendo as demais hipóteses de inviolabilidade. No entanto, prevalece tanto na doutrina quanto na jurisprudência que também os dados são passíveis de interceptação.
Quanto a isso, é fundamental compreendermos alguns conceitos. Veja a seguir:
Comunicação telefônica
Trata-se do diálogo realizado por meio de aparelhos telefônicos, compreendendo a transmissão, emissão ou recepção por meio de telefonia, estática ou móvel (celular).
Comunicação ambiental
Trata-se dos diálogos realizados entre duas ou mais pessoas na forma tradicional, isto é, realizadas diretamente, sem auxílio de meios artificiais.
Gravação telefônica
Trata-se da gravação da comunicação telefônica por um dos participantes, sem a ciência do outro. Por tal razão também é chamada de gravação clandestina.
Gravação ambiental
Trata-se da gravação de forma oculta da comunicação presencial por um dos participantes, sem queo outro tenha conhecimento.
Escuta telefônica
Trata-se da captação da comunicação telefônica por terceiro, com a ciência de um dos participantes do diálogo.
Escuta ambiental
Trata-se da captação de uma comunicação com o consentimento de pelo menos um dos participantes de diálogo e desconhecimento de outro, seja em local público ou privado.
Interceptação telefônica
Trata-se da captação sub-reptícia da comunicação telefônica por um terceiro, sem o conhecimento de nenhum daqueles que dialogam.
Na esteira da cláusula pétrea supra, a Lei 9.296/1996 disciplinou a interceptação de comunicações telefônicas, que só podem ocorrer quando não estiver presente quaisquer das seguintes hipóteses.
I
Não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal.
II
A prova puder ser feita por outros meios disponíveis.
III
O fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.
Posicionamento jurisprudencial sobre a interceptação telefônica
Cumpre salientar que o STJ já fixou a tese de que é legítima a prova obtida por meio de interceptação telefônica para apuração de delito punido com detenção, desde que conexo com outro crime apenado com reclusão (HC 366070/RS, AgRg no REsp 1717551/PA e AgRg nos EDcl no HC 293680/PR).
Na interceptação telefônica, é relativamente comum o encontro fortuito ou casual de provas, também denominado de serendipidade. Trata-se da hipótese em que a autoridade policial está investigando um crime e, no curso das diligências, acaba se deparando com provas de uma outra infração penal, que não estava na linha de desdobramento normal da investigação.
Se houve desvio de finalidade ou abuso de autoridade, a prova deve ser considerada válida. Inexistindo qualquer conexão entre as infrações penais, esse encontro fortuito é válido como legítima notitia criminis e pode dar ensejo a outra investigação e/ou processo criminal.
Em outro giro, quanto à vedação ao deferimento em razão de existirem outros meios de prova disponíveis à época na qual a medida invasiva foi requerida, o STJ entende ser ônus da defesa tal demonstração (RHC 61207/PR, AgRg no RMS 52818/SP e RHC 83320/DF).
A despeito do art. 3º da referida lei estabelecer que a interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada de ofício pelo juiz, prevalece que, em razão do sistema acusatório, ele só pode fazê-lo mediante requerimento, ainda que verbal nos seguintes cenários:
I
Da autoridade policial, na investigação criminal.
II
Do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual penal.
A decisão deverá ser fundamentada, sob pena de nulidade, estabelecendo o prazo, que é no máximo de quinze dias, mas que pode ser renovado se comprovada a indispensabilidade do meio de prova, incumbindo, em regra, à autoridade policial conduzir a interceptação, com o acompanhamento do MP, em autos apartados.
Recentes alterações estipuladas pela Lei n.º 13.964/2019
Por meio da Lei nº 13.964/2019, passou a ser expressamente admitida a captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, quando a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes e houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações criminais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas.
Nesse sentido, o requerimento deve descrever o local e a forma de instalação do dispositivo de captação ambiental, que não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias, renovável por decisão judicial por iguais períodos, se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando presente atividade criminal permanente, habitual ou continuada.
Por fim, registre-se a tipificação como crimes da realização de interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, da promoção de escuta ambiental, ou da quebra de segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei, assim como da realização de captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos para investigação ou instrução criminal sem autorização judicial, quando esta for exigida, apenando as referidas condutas com reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Importante destacar que há expressa disposição estabelecendo não haver crime se a captação é realizada por um dos interlocutores.

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