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Raquel Diniz FARMÁCIA – 6º P FARMÁCIA CLÍNICA II| PROFA. ELIZÂNGELA MOTTA De acordo com a Associação Psiquiátrica Americana, demência é qualquer deficiência mental ou declínio cognitivo global caracterizados por uma deterioração das habilidades cognitivas, intelectuais, emocionais e comportamentais, que sejam graves o suficiente para interferir no dia dos seus portadores. A doença de Alzheimer (DA) é um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal que se manifesta por deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais. Trata-se de uma doença que acarreta alterações do funcionamento cognitivo (memória, linguagem, planejamento, habilidades visuais-espaciais) e muitas vezes também do comportamento (apatia, agitação, agressividade, delírios, entre outros), que limitam progressivamente a pessoa nas suas atividades da vida diária, sejam profissionais, sociais, de lazer ou mesmo domésticas e de autocuidado. Seu quadro clínico caracteriza o que em Medicina é denominado “demência”. Clinicamente a DA é subdividida em dois subgrupos de acordo com seu tempo de início: PRECOCE: ocorre em pessoas mais novas que 65 anos e se caracteriza por um declínio rápido das funções cognitivas; corresponde a 10% dos casos e observa-se um acometimento familiar em sucessivas gerações diretamente relacionadas a um padrão de transmissão autossômico dominante ligado aos cromossomos 1, 14 e 21. TARDIA: é a forma mais comum da doença e atinge pessoas com 65 anos ou mais; ocorre de forma esporádica. No Brasil, um estudo utilizando amostra de idosos de base comunitária demonstrou que a taxa de prevalência de demência na população com mais dos 65 anos foi de 7,1%, sendo que a DA foi responsável por 55% dos casos. Considerando a prevalência de demência no Brasil e a população de idosos de aproximadamente 15 milhões de pessoas, a estimativa de demência na população brasileira é de 1,1 milhão. A DA se instala, em geral, de modo insidioso e se desenvolve lenta e continuamente por vários anos. Caracteriza-se, histopatologicamente, pela maciça perda sináptica e pela morte neuronal observada nas regiões cerebrais responsáveis pelas funções cognitivas, incluindo córtex cerebral, o hipocampo, o córtex entorrinal e o estriado ventral. As características histopatológicas presentes no parênquima cerebral de pacientes portadores da doença de Alzheimer incluem depósitos fibrilares amiloidais localizados nas paredes dos vasos sanguíneos, associados a uma variedade de diferentes tipos de placas senis, acúmulo de filamentos anormais da proteína tau e consequente formação de novelos neurofibrilares (NFT), perda neuronal, ativação da glia e inflamação. Diferentes hipóteses a respeito da fisiopatologia da DA têm sido levantadas: A importância da função colinérgica nos processos de aprendizagem e memória é conhecida desde o início da década de 70, e as pesquisas a respeito da importância do sistema colinérgico na DA demonstraram diversas características, como a diminuição na concentração da colina acetiltransferase (ChAT), enzima responsável pela síntese da acetilcolina (ACh), no córtex e no hipocampo, assim como uma redução variável dos neurônios colinérgicos localizados no núcleo basal de Meynert. ç PROTOCOLOS E DIRETRIZES Raquel Diniz FARMÁCIA – 6º P FARMÁCIA CLÍNICA II| PROFA. ELIZÂNGELA MOTTA O glutamato, o principal neurotransmissor excitatório do sistema nervoso central, tem sua atividade mediada por receptores de 3 tipos: de N-metil-d-Aspartato (NMDA), do ácido α-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazolepropiônico (AMPA) e de cianato. A hipótese glutamatérgica prevê que, em condições especificas, tais como, por exemplo, a alteração do metabolismo energético celular, ocorre uma excessiva ativação de receptores de NMDA, podendo alterar a homeostase de cálcio, levando a um aumento das concentrações intracelulares deste metal capaz de iniciar o processo de apoptose (degeneração e morte) neuronal. Os receptores de NMDA apresentam uma estrutura complexa, com diferentes sítios de ligação para o glutamato e diversos moduladores. A ativação fisiológica destes receptores gera, em nível neuronal, um fluxo de íons Ca2+. Acredita-se que o glutamato liberado ative inicialmente os receptores de AMPA e de cianato, que, apesar da baixa afinidade, promoveriam a rápida despolarização da célula por meio da entrada de íons Na+ e Ca2+. A entrada desses íons provocaria uma despolarização parcial da membrana plasmática, removendo o bloqueio exercido pelos íons Mg2+ dentro do canal do receptor de NMDA. Assim, o glutamato poderia ligar-se a uma subunidade deste receptor promovendo, em associação com a glicina ligada a outra subunidade, a entrada de mais Ca2+ e Na+ no neurônio, contribuindo para a sua excitabilidade. Postula-se, portanto, que essa "excito-toxicidade" glutamato-dependente possa constituir um dos mecanismos patogênicos necessários para que o processo neurodegenerativo seja mantido e amplificado. A tau é uma proteína associada aos microtúbulos, estabilizando-os em condições normais. Quando ocorre hiperfosforilação dessa proteína, ela se dissocia dos microtúbulos e se agrega sob a forma de filamentos helicoidais pareados insolúveis e estes nos emaranhados neurofibrilares (ENF), sendo responsável pela indução do mecanismo da DA (ver etiologia). Vários mecanismos já foram descritos como envolvidos na causa da DA, como: Fatores genéticos, epigenéticos e metabólicos; Reações inflamatórias; Cascata patogênica mitocondrial; Estresse oxidativo, proteínas plasmáticas e cerebrais; Fator neurotrófico derivado do cérebro (brain-derived neurotrophic factor - BDNF); Deficiências de estrogênio; FATORES DE RISCO: idade, trauma craniano, baixa escolaridade, doenças como a hipertensão arterial, dislipidemia e diabetes, hábitos alimentares e fatores ambientais variados. Os fatores genéticos estão relacionados com a DA de duas maneiras: como fator determinante, nas formas autossômicas dominantes de início precoce em determinadas famílias, e como fator de risco para o desenvolvimento da DA esporádica de início tardio. Uma proporção de pacientes com DA de início precoce com caráter autossômico dominante foi relacionada com genes no cromossomo 14 (pressenilina 1) e no cromossomo 1 (pressenilina 2). À exceção dessas famílias com características autossômicas dominantes como doença de um único gene, a maioria dos casos de DA parece ser um distúrbio complexo, que envolve a interação de vários genes de susceptibilidade e fatores ambientais diversos. Embora a maioria dos casos de DA de início tardio seja esporádica, em cerca de 30% dos casos se observa uma incidência familiar. A investigação nessas famílias mostrou um locus no cromossoma 19 associado com a doença onde foi identificado um gene que codifica a apolipoproteina E (APOE). o Esse gene encontra-se associado às lipoproteínas plasmáticas e centrais e participa do metabolismo do colesterol e de outras lipoproteínas de baixa densidade. o No cérebro, a APOE é produzida especialmente pelos astrócitos, menos expressivamente pela micróglia e, sob certas condições, pelos neurônios. o Esse gene tem três alelos designados como APOE-e2, APOE-e3 e APOE-e4. A presença de uma cópia de APOE-e4 aumenta o risco de DA tardia em três vezes, enquanto a presença de duas cópias em cerca de doze vezes. o Indivíduos com parente de primeiro grau comDA tem um aumento de risco de 10-30% para desenvolver DA, sugerindo que poderiam existir outros fatores genéticos ou ambientais ativos na presença do APOE-e4. Assim, a forma tardia esporádica da DA, que é a mais comum, tem componentes importantes, que se mantêm ainda não totalmente esclarecidos, apesar de identificada a susceptibilidade à doença pela presença do alelo e4 do gene do APOE. Raquel Diniz FARMÁCIA – 6º P FARMÁCIA CLÍNICA II| PROFA. ELIZÂNGELA MOTTA DEPÓSITOS EXTRACELULARES BETA-AMILOIDES NAS PLACAS SENIS: o Muito já se sabe que a placa senil tem como constituinte principal uma deposição de substância amilóide no espaço extracelular e que a degeneração neurofibrilar ocorre por agregação da proteína tau. o O acúmulo de PS geralmente precede o início clínico da DA e decorrem da agregação e acúmulo do peptídeo beta-amilóide (PBA), seja por aumento de produção, diminuição de sua degradação, ou redução de sua depuração através da barreira hematoencefálica (BHE). o A PBA é um fragmento peptídico derivado da clivagem de uma proteína transmembrana neuronal, a proteína precursora amiloide (PPA). o A PPA é clivada por secretases e, sob a ação da secretase alfa, forma uma proteína não amiloidogênica que tem funções protetoras neuronais. o Na clivagem pelas secretases gama e beta forma-se um composto amiloidogênico, a PBA. Esta se torna neurotóxica mediante uma reorganização estrutural, que constitui formas derivadas da PBA, oligômeros de dimensões diversas, como monômeros, dímeros e trímeros, que se agregam, formando a PS. o Esses oligômeros são capazes de bloquear rapidamente o mecanismo de formação de novas memórias, alterando a plasticidade sináptica. EMARANHADOS NEUROFIBRILARES INTRACELULARES: o A tau é uma proteína associada aos microtúbulos, estabilizando-os em condições normais. Quando ocorre hiperfosforilação dessa proteína, ela se dissocia dos microtúbulos e se agrega sob a forma de filamentos helicoidais pareados insolúveis e estes nos emaranhados neurofibrilares (ENF). o Nesse contexto, a APOE e4 compromete a eliminação da PBA e favorece sua deposição. o Quando se expressa no interior dos neurônios comprometidos, a APOE-e4 altera a fosforilação da tau, que leva a formação de ENF, causa ruptura da estrutura do citoesqueleto, desregula diversas vias de sinalização e compromete a função mitocondrial. o Os ENF, portanto, podem ser resultantes do excesso de PBA, pela mobilização da micróglia, liberação de citocinas inflamatórias, desregulação do cálcio neuronal e com hiperativação de cinases como a GSK3 (glycogensynthase kinase-3), e com a hipoativação de uma fosforilase é desencadeada a hiperfosforilação da proteína tau. o Há a consequente degeneração de estruturas internas neuronais e interrupção do fluxo axoplasmático, implicando na morte celular. o A proteína tau pode ser liberada no espaço extracelular e espalhar-se para outras células, provocando alterações vasculares e ativação de células gliais. As mitocôndrias são organelas fundamentais para o funcionamento celular. Elas têm função na produção de energia, na manutenção do nível homeostático de ROS e de cálcio, além de coordenar a morte celular por apoptose. É aceito que alterações mitocondriais têm um papel importante nas formas tardias esporádicas da DA. o Em 2004, Swerdlow propôs uma “cascata mitocondrial” para a origem da DA52. Segundo esse autor, a herança determina a base da função e durabilidade mitocondrial. o Com a idade, as funções mitocondriais sofrem um declínio, até atingirem um limiar funcional. Além desse limiar, ocorreriam as alterações mitocondriais referentes aos processos respiratórios, estresse oxidativo e às trocas enzimáticas. Seria esta a causa da DA ser mais frequente com o avanço da idade, um mecanismo epigenético com mutações pontuais em decorrência do tempo de vida. o Ocorrem lesões oxidativas no DNA mitocondrial (mDNA) com a idade, além de falhas na remoção de proteínas, o que poderia estar relacionado como mecanismo da DA esporádica de inicio tardio. o Sob condições normais, as mitocôndrias dos neurônios dependem de recursos fornecidos pelos astrócitos. A PBA afeta as mitocôndrias funcionalmente e estruturalmente. A própria disfunção mitocondrial promove amiloidose. o Existem também evidências de que o comprometimento mitocondrial afeta a neurogênese hipocampal, junto com o processo inflamatório. O envolvimento mitocondrial na DA pode estar relacionado, portanto, a mutações ou polimorfismos do mDNA ou ainda pelo desencadeamento de eventos bioquímicos que afetam a bioenergética celular e a homeostasia. Os radicais livres e o estresse oxidativo que resultam na oxidação de biomoléculas têm sido associados ao envelhecimento e às doenças relacionadas à idade. o O comprometimento da cadeia respiratória mitocondrial leva ao estresse oxidativo, com acúmulo de ROS e outras alterações. o O PBA interage com as proteínas mitocondriais a partir do poro de transição de permeabilidade da membrana. Essa interatividade, além de alterar a membrana, contribui para reduzir a fosforilação Raquel Diniz FARMÁCIA – 6º P FARMÁCIA CLÍNICA II| PROFA. ELIZÂNGELA MOTTA oxidativa, aumenta a vulnerabilidade a outros tóxicos, induz a mutações do DNA/RNA, altera a homeostasia do cálcio, induz à apoptose e perturba a dinâmica mitocondrial. o O aumento do PBA leva à morte celular nas áreas afetadas. Esta morte celular se acompanha de estresse do retículo endoplásmico (RE), que é uma organela cuja função é facilitar a dobradura de proteínas. A exposição ao estresse resulta em perda da função e causa o estresse do ER. Como a DA esporádica se caracteriza por acúmulo de proteínas não dobradas ou mal dobradas, pode-se inferir a relação entre o estresse do RE e a patogenia da DA. A idade também leva à deposição de ions de metais como o ferro, zinco e cobre no cérebro, cujo acúmulo pode contribuir para a patogenia da DA, pois o PBA agrava a produção de ROS e de espécies reativas de nitrogênio (RNS). Esse processo patológico é intensificado pela presença dos íons metálicos que comprometem o processo metabólico de eliminação de ROS e RNS. Níveis elevados de PBA, formação de PS e ENF desencadeiam o processo inflamatório através da ativação de astrócitos e da micróglia, que mobilizam macrófagos e linfócitos através da BHE, com liberação de citocinas, interleucinas, fator de necrose tumoral, neurotransmissores, espécies reativas do oxigênio (ROS) e outros elementos, de modo progressivo, comprometendo o tecido cerebral e acelerando o curso da doença. o A ativação microglial no processo inflamatório altera a neurogênese hipocampal e interfere nas funções mitocondriais. Os astrócitos se modificam sob o estresse e a injúria neuronal, levando também à sobre- regulação de aminas inflamatórias, participando da patogenia da DA esporádica. Estudos mostram que citocinas incluindo TNF-a+IFN-g aumentam os níveis endógenos de BACE1, PPA, PBA e estimulam o processo amiloidogênico nos astrócitos. Como os astrócitos são muito mais numerosos que os neurônios, esta ativação pode representar uma via de formação da PBA por neuroinflamação. Em muitos estudos foi demonstrado que a PBA é capaz de ativar diferentes caminhos para a inflamação e para a apoptose na DA, estimulando a micróglia na produção de citocinas inflamatórias. Para outros autores, a PBA poderia induzir à inflamação modificando a permeabilidade do canal de cálcio nas membranas dos neurônios e de células gliais, formando correntes aberrantes de ions e produzindo ROS. A evidência do processo inflamatório pode abrir uma nova janela terapêutica da DA com a introdução de agentes anti-inflamatóriosque possam agir nesse mecanismo da doença. Outros fatores como metabolismo glicídico, resistência insulínica, distúrbio epigenético e disfunção sináptica devem ser considerados na gênese da DA esporádica. o A diabetes tipo II pode causar amiloidogênese pelo aumento da resistência à insulina no tecido cerebral. o Algumas evidências sugerem a DA esporádica como uma doença metabólica, por comprometimento da utilização da glicose e da produção de energia. o Essas anormalidades metabólicas estão relacionadas à resistência à insulina cerebral e ao fator de crescimento semelhante à insulina (FCSI), com interrupção das vias que regulam a sobrevivência neuronal, produção de energia, expressão de genes e plasticidade cerebral. o A inibição desses fatores contribuiria para a neurodegeneração por aumento de cinases que fosforilam a proteína tau de maneira anormal, produção de PBA, níveis dos estresses oxidativo e do retículo endoplasmático, geração de ROS e de RNS que lesam proteínas, o DNA e os lipídios, causam disfunção mitocondrial e ativação de cascatas inflamatórias e próapoptóticas. As alterações do metabolismo da insulina cerebral poderia trazer um novo aporte terapêutico para a DA. O diagnóstico clínico de DA parte de um diagnóstico sindrômico de demência de qualquer etiologia de acordo com os critérios do National Institute on Aging and Alzheimer's Association Disease and Related Disorders Association (NIA/AA) (quadro 1). Demência é diagnosticada quando há sintomas cognitivos ou comportamentais (neuropsiquiátricos) que: a. Interferem com a habilidade no trabalho ou em atividades usuais; b. Representam declínio em relação a níveis prévios de funcionamento e desempenho; c. Não são explicáveis por delirium (estado confusional agudo) ou doença psiquiátrica maior. Os comprometimentos cognitivos ou comportamentais devem afetar no mínimo dois dos seguintes campos: MEMÓRIA, caracterizado por comprometimento da capacidade para adquirir ou evocar informações recentes, com sintomas que incluem repetição das mesmas perguntas ou assuntos e esquecimento de eventos, compromissos ou do lugar onde guardou seus pertences; FUNÇÕES EXECUTIVAS, caracterizado por comprometimento do raciocínio, da realização de tarefas complexas e do julgamento, com sintomas como compreensão pobre de situações de risco e redução da capacidade para cuidar das finanças, de tomar decisões e de planejar atividades complexas ou sequenciais; HABILIDADES VÍSUO-ESPACIAIS, com sintomas que incluem incapacidade de reconhecer faces ou objetos comuns ou de encontrar objetos no campo visual, ou dificuldade para manusear utensílios ou para vestir-se, inexplicáveis por deficiência visual ou motora; Raquel Diniz FARMÁCIA – 6º P FARMÁCIA CLÍNICA II| PROFA. ELIZÂNGELA MOTTA LINGUAGEM (expressão, compreensão, leitura e escrita), com sintomas que incluem dificuldade para encontrar ou compreender palavras, erros ao falar e escrever, com trocas de palavras ou fonemas, inexplicáveis por déficit sensorial ou motor; PERSONALIDADE OU COMPORTAMENTO, com sintomas que incluem alterações do humor (labilidade, flutuações incaracterísticas), agitação, apatia, desinteresse, isolamento social, perda de empatia, desinibição e comportamentos obsessivos, compulsivos ou socialmente inaceitáveis. QUADRO 1. Elementos-chave dos critérios para demência devido a doença de Alzheimer DEMÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER PROVÁVEL Critérios de demência foram preenchidos + as seguintes características: A. Início insidioso (meses a anos); B. Clara história de perda cognitiva referida pelo informante; C.O déficit cognitivo mais proeminente e inicial é evidente na história e exame em uma das seguintes categorias: - apresentação amnésica: mais comum, deve haver prejuízo no aprendizado e na evocação de informações recentemente aprendidas; - apresentação não amnésica: prejuízos na linguagem, habilidades vísuo-espaciais ou função executiva. D. Esse diagnóstico não se aplica quando existe evidência de: - DCV* concomitante substancial, definida por (a) história de AVC** temporalmente relacionada ao início da perda cognitiva ou (b) presença de múltiplos e extensos infartos, (c) extensa hiperintensidade de substância branca; - Características proeminentes de outras demências primárias: DFT*** variante comportamental, Demência por corpos de Lewy, DFT*** variantes de linguagem; - Outra doença neurológica ativa ou comorbidade médica não neurológica ou uso de medicamentos que poderiam ter um efeito substancial na cognição. * DCV (doença cardiovascular); **AVC (acidente vascular cerebral); ***DFT (demência frontotemporal) EXAME FÍSICO – incluindo a escala de avaliação clínica da demência, rastreio cognitivo – testes cognitivos como o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM); EXAMES LABORATORIAIS – hemograma completo, eletrólitos (sódio, potássio, cálcio), glicemia, ureia e creatinina, TSH e alaninoaminotransferase (ALT/TGP), aspartato-aminotransferase (AST/TGO), vitamina B12, ácido fólico –, sorologia sérica para sífilis (VDRL) e HIV (em pacientes com menos de 60 anos), EXAMES DE IMAGEM CEREBRAL – Tomografia Cerebral ou Ressonância Magnética. LEVE Alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais. LEVE A MODERADA Dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos. Agitação e insônia. GRAVE Resistência à execução de tarefas diárias. Incontinência urinária e fecal. Dificuldade para comer. Deficiência motora progressiva. O tratamento do Alzheimer é medicamentoso e os pacientes têm à disposição a oferta de medicamentos capazes de minimizar os distúrbios da doença. O objetivo do tratamento medicamentoso é, também, propiciar a estabilização do comprometimento cognitivo, do comportamento e da realização das atividades da vida diária (ou modificar as manifestações da doença), com um mínimo de efeitos adversos. MECANISMO GERAL: atuam inibindo a enzima acetilcolinesterease cerebral, diminuindo a degradação da acetilcolina liberada nas terminações nervosas/ aumento da secreção ou no prolongamento da meia- vida da acetilcolina na fenda sináptica em áreas relevantes do cérebro. INDICAÇÃO: DA leve a moderada. FÁRMACOS: Donepezila, Galantamina, Rivastigmina. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO: o Serão incluídos os pacientes que preencherem todos os critérios abaixo: Diagnóstico de DA provável, segundo os critérios do NIA-AA e ABN; MEEM com escore entre 12 e 24 para pacientes com mais de 4 anos de escolaridade ou entre 8 e 21 para pacientes com até 4 anos de escolaridade; Escala CDR = 1 ou 2 (demência leve ou moderada); TC ou RM do encéfalo e exames laboratoriais que afastem outras doenças frequentes nos idosos que possam provocar disfunção cognitiva. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO: o Serão excluídos os pacientes que apresentarem pelo menos uma das condições abaixo: Identificação de incapacidade de adesão ao tratamento; Evidência de lesão cerebral orgânica ou metabólica simultânea não compensada (conforme exames do item Critérios de Inclusão); Insuficiência ou arritmia cardíaca graves; Hipersensibilidade ou intolerância aos medicamentos; Demência de Alzheimer grave (CDR = 3); CDR SAUDÁVEL 0 DEMÊNCIA QUESTIONÁVEL 0,5 DEMÊNCIA LEVE 1 DEMÊNCIA MODERADA 2 DEMÊNCIA GRAVE 3 Raquel Diniz FARMÁCIA – 6º P FARMÁCIA CLÍNICA II| PROFA. ELIZÂNGELA MOTTA Escores no MEEM < 8 para sujeitos com escolaridade ≤ 4 anos de estudo; ou Escores no MEEM < 12 para sujeitos com escolaridade > 4 anos de estudo. O uso de galantamina está contraindicado em casos de insuficiência hepática ou renal graves. CRITÉRIOS DE INTERRUPÇÃO: o O tratamentodeve ser suspenso em quatro situações distintas: Após 3-4 meses do início do tratamento, não se observando melhora ou estabilização da deterioração do quadro à reavaliação (por falta de benefício); Mesmo que os pacientes estejam em tratamento contínuo, este deve ser mantido apenas enquanto o MEEM estiver acima de 12 para pacientes com mais de 4 anos de escolaridade e acima de 8 para pacientes com menos de 4 anos de escolaridade, abaixo do que não há qualquer evidência de benefício; De forma semelhante, somente devem ser mantidos em tratamento os pacientes com Escala CDR igual ou abaixo de 2; e Em casos de intolerância ao medicamento, situação em que pode-se substituir um medicamento por outro. LIMITAÇÃO: tolerância, particularmente relacionada ao trato digestório, dado que náusea e vômitos são muitas vezes intoleráveis. MECANISMO DE AÇÃO: inibidor não competitivo do receptor NMDA, impedindo a entrada excessiva de cálcio no neurônio, exercendo assim um papel neuroprotetor. Em sinapses com deficiência de glutamato, age sobre o receptor AMPA, facilitando a neurotransmissão, o que se traduz na forma de neuroativação. INDICAÇÃO: combinada aos inibidores da acetilcolinesterase (donepezila ou galantamina ou rivastigmina) nos casos de DA moderada; monoterapia nos casos graves de DA. FÁRMACO: Memantina. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO- Memantina combinada aos inibidores da acetilcolinesterase: o Serão incluídos os pacientes que preencherem todos os critérios abaixo: Diagnóstico de DA provável, segundo os critérios do NIA-AA, ABN; TC ou RM do encéfalo e exames laboratoriais que afastem outras doenças frequentes nos idosos que possam provocar disfunção cognitiva; Escore na escala CDR= 2 (demência moderada); Escores no MEEM entre 12 e 19, se escolaridade maior que 4 anos, ou entre 8 e 15, se escolaridade menor ou igual a 4 anos. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO - Memantina em monoterapia: o Serão incluídos os pacientes que preencherem todos os critérios abaixo: Diagnóstico de DA provável, segundo os critérios do NIA-AA, ABN; TC ou RM do encéfalo e exames laboratoriais que afastem outras doenças frequentes nos idosos que possam provocar disfunção cognitiva; Escore na escala CDR = 3 (demência grave); MEEM com escore entre 5 e 11, para escolaridade maior que 4 anos, ou entre 3 e 7, quando escolaridade menor ou igual a 4 anos. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO: o Serão excluídos os pacientes que apresentarem pelo menos uma das condições abaixo: Demência de Alzheimer de gravidade leve (CDR = 1); Escores no MEEM < 3 para sujeitos com escolaridade ≤ 4 anos de estudo; Escores no MEEM < 5 para sujeitos com escolaridade > 4 anos de estudo; Incapacidade de adesão ao tratamento; ou Hipersensibilidade ao fármaco ou a componente da fórmula. CRITÉRIOS DE INTERRUPÇÃO: o O tratamento deve ser suspenso em três situações distintas: Após 3-4 meses do início do tratamento, não havendo melhora ou estabilização da deterioração do quadro à reavaliação (por falta de benefício); Declínio dos escores do MEEM para menos de 3 pontos (escolaridade ≤ 4 anos de estudo) ou para menos de 5 pontos (escolaridade > 4 anos de estudo) nas reavaliações; e Em casos de intolerância ao medicamento. Após 3 a 4 meses do início do tratamento, o paciente deve ser submetido a uma reavaliação. Após esse período, ela deve ocorrer a cada 6 meses, para estimar o benefício e a necessidade de continuidade do tratamento pela avaliação clínica e aplicação do MEEM e da Escala CDR. Raquel Diniz FARMÁCIA – 6º P FARMÁCIA CLÍNICA II| PROFA. ELIZÂNGELA MOTTA INDICAÇÕES Demência tipo alzheimer leve ou moderada. FARMACODINÂMICA Inibidor reversível da acetilcolesterase, enzima que degrada a acetilclina a nÍvel de SNC. FARMACOCINÉTICA Absorção de modo rápido e completo pelo TGI; elevada taxa de ligação com proteínas plasmáticas; meia vida de 70 h; cerca de 15% do fármaco é metabolizado no fígado; eliminação do fármaco intacto ou com diversos metabólitos da donepezila. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Fenitoína, carbamazepina,dexametasona, rifampicina e fenobarbital podem aumentar a eliminação da donepezila; Cetoconazol e quinidina inibem o metabolismo da donepezila e aumentam a sua concentração no organismo. RAM Insônia, náusea, vômitos, diarreia, anorexia, dispepsia, cãibras musculares e fadiga. Menos comumente podem ocorrer cefaleia, sonolência, tontura, depressão, perda de peso, sonhos anormais, aumento da frequência urinária, síncope, bradicardia, artrite e equimoses. DOSE MÁX/DIA 10 mg. FF/VA Cpd/oral. INDICAÇÕES Demência tipo alzheimer leve ou moderada. FARMACODINÂMICA Inibidor da acetilcolesterase, enzima que degrada a acetilcolina a nível de SNC; modulação alostérica positiva sobre os receptores nicotínicos pré e pós-sinápticos em neurônios colinérgicos. FARMACOCINÉTICA Absorção rápida e completa, sendo que a concentração pico é alcançada em aproximadamente 1 h e a biodisponibilidade situa-se em torno de 90%; a taxa de absorção é retardada pelos alimentos; a união de proteínas plasmáticas é de aproximadamente 18%; a meia vida é de 7 h; cerca de 20% são eliminados pelos rins em 24 h. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Drogas com propriedades colinérgicas (amantadina, clozapina, olanzapina, quetiapina) e ADTS podem interferir na atividade dos inibidores da colinestrease; AINES podem causar efeitos gastrintestinais aditivos quando administrados de forma conjunta; Inibidores centrais da acetilcolinesterase podem aumentar o risco de sintomas piramidais relacionados aos antipsicóticos. RAM Náusea, vômitos, diarreia, anorexia, perda de peso, dor abdominal, dispepsia, flatulência, tontura, cefaleia, depressão, fadiga, insônia e sonolência. Menos comuns, infecção do trato urinário, hematúria, incontinência, anemia, tremor, rinite e aumento da fosfatase alcalina. Devem ser monitorizadas as funções renal (creatinina) e hepática (ALT/TGP e AST/TGO). DOSE MÁX/DIA 24 mg. FF/VA Caps. de liberação prolongada de 8, 16 e 24 mg/oral. Raquel Diniz FARMÁCIA – 6º P FARMÁCIA CLÍNICA II| PROFA. ELIZÂNGELA MOTTA INDICAÇÕES Demência tipo alzheimer leve a moderadamente grave. FARMACODINÂMICA Inibidor pseudo- irreversível da acetilcolesterase, enzima que degrada a acetilcolina a nível de SNC; diminui a formação da proteína precursora do beta-amiloide, diminuindo a formação das placas amiloides características da doença. FARMACOCINÉTICA Absorção rápida e completa; se liga moderadamente a proteínas plasmáticas e atravessa facilmente a barreira hematoencefálica. O metabolismo é realizado principalmente por hidrólise mediada por esterases hepáticas e os metabólitos são eliminados totalmente por via renal; a meia vida de é de 1 h. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Não administrar concomitantemente com relaxantes musculares tipo succinilcolina durante a anestesia, pois há aumento de sua ação farmacológica; não utilizar com fármacos colinomiméticos, pois há interferência mútua. RAM Tontura, cefaleia, náusea, vômitos, diarreia, anorexia, fadiga, insônia, confusão e dor abdominal. Menos comumente podem ocorrer depressão, ansiedade, sonolência, alucinações, síncope, hipertensão, dispepsia, constipação, flatulência, perda de peso, infecção do trato urinário, fraqueza, tremor, angina, úlcera gástrica ou duodenal e erupções cutâneas. Deve ser usada com precaução em pacientes com úlcera péptica, história de convulsão, alterações da condução cardíaca e asma. DOSE MÁX/DIA 12 mg. FF/VA Caps./solução oral/ adesivo/oral/transdérmica. INDICAÇÕES Combinada aos inibidores da acetilcolinesterase (donepezila ou galantamina ou rivastigmina) nos casos de DA moderada;monoterapia nos casos graves de DA. FARMACODINÂMICA Inibidor não competitivo do receptor NMDA, impedindo a entrada excessiva de cálcio no neurônio, exercendo assim um papel neuroprotetor. FARMACOCINÉTICA Absorção pelo trato digestório, alcançando seu pico sérico máximo entre 3 e 7 horas; apresenta união com as proteínas plasmáticas (45%) e sua meia-vida varia de 60 a 80 h; sofre discreta biotransformação metabólica, sendo eliminada em cerca de 57%-82% da dose sem modificações pela urina. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Pode aumentar o efeito dos barbitúricos, neurolépticos, anticolinérgicos, L-dopa e agonistas dopaminérgicos. RAM Cefaleia, cansaço e tontura. Os menos frequentes incluem alucinações, alterações de marcha, anorexia, ansiedade, artralgia, bronquite, cistite, constipação, diarreia, confusão, dor lombar, edema periférico, hipertensão, hipertonia, infecção de trato respiratório, insônia, aumento da libido, náusea, queda, sonolência e vômitos. DOSE MÁX/DIA 20 mg. FF/VA Cpd. rev./oral.