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Keynes (Capítulos 2, 3 e 5)

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Keynes (Capítulos 2, 3 e 5)
1)Apresente e explique as críticas feitas por Keynes à teoria
do emprego (neo) clássica:
O termo “clássicos” é utilizado por Keynes na TG para se dirigir à
literatura pré-keynesiana, cuja característica principal é a crença no ajuste
por meio de mecanismos de mercado – mecanismo de preços - capazes de
assegurar o equilíbrio com pleno emprego.
Segundo a teoria (neo)clássica, o nível de emprego é determinado no
mercado de trabalho, pela oferta e demanda de mão de obra. Dadas as
hipóteses de mercados perfeitamente competitivos, preços flexíveis e
informação completa, o emprego é determinado ao nível de equilíbrio com
pleno emprego. Neste nível, há possibilidade de duas categorias de
desemprego: o desemprego ficcional e o voluntário.
O desemprego friccional está relacionado ao fato de que leva tempo entre a
perda do emprego e a recolocação no mercado de trabalho, isto é, é um
período de transição entre um emprego e outro.
Já o Desemprego voluntário é aquele em que os trabalhadores estão apenas
voluntariamente desempregados porque não aceitam trabalhar pelo salário
real vigente, nesse caso, o salário real não compensa a desutilidade
marginal do trabalho, a perda de lazer ao optar por ingressar no mercado de
trabalho. (“(...) O que se entende por desutilidade é qualquer motivo que
induza um homem ou um grupo de homens a recusar trabalho, em vez de
aceitar um salário que para eles representa uma utitlidade inferior a certo
limite mínimo”).
Keynes rejeita a teoria do emprego neoclássica e faz críticas ao modelo e à
ideia básica de que o nível de emprego é determinado no mercado de
trabalho. Inicialmente, o autor apresenta os dois principais postulados da
teoria do emprego neoclássica:
-I:O salário é igual ao produto marginal do trabalho (PxPmgN=W;
PMgN=W/P=w), onde:
P:Nível de preços
PMgN: Produto Marginal do trabalho
W:salário nominal
w:Salário real
-II: A utilidade do salário, quando se emprega determinado volume de
trabalho, é igual a desutilidade marginal desse mesmo volume de emprego;
O autor aponta que o postulado I fornece a curva de Demanda por mão de
obra e o II a curva de Oferta. No modelo neoclássico o volume de emprego
seria fixado no ponto de interseção entre as duas curvas.
Keynes aponta ainda quatro formas possíveis de aumentar o emprego
dentro da visão neoclássica:
i) Melhoria da organização ou da previsão, reduzindo o desemprego
friccional;
ii) Redução da desutilidade marginal do trabalho reduzindo o
desemprego involuntário;
iii) Aumento da produtividade marginal física do trabalho;
iv) Aumento em relação aos preços dos bens de consumo não-salario
comparativamente aos das categorias de bens;
Após isto, ele aceita o primeiro postulado, e apresenta duas críticas ao
segundo, ressaltando que trabalhadores negociam salários nominais e
resistem à sua queda, mas não abandonam seus postos ou o desejo de
conseguir emprego se os preços aumentam.
Ademais, cabe apontar a segunda crítica, envolvendo o fato de que os
trabalhadores não estão em condições de fixar salários reais (até porque
eles não têm controle sobre preços), ou seja, eles não podem fazer coincidir
w/p com desutilidade do trabalho, conforme apresentado pela tradição
neoclássica. Há assimetria nesse processo, já que as firmas têm
aproximadamente controle sobre preços e salários e os trabalhadores
negociam salários nominais projetando o nível de preços ou a taxa de
inflação.
Por fim, vale mencionar que essas são críticas internas, que invalidam a
ideia de que o nível de emprego é determinado no mercado de trabalho,
mas o autor ainda não colocou no lugar sua teoria do emprego. Teoria que
será construída com base no PDE no capítulos 3 e isso fica bastante
evidente quando ele afirma que o desemprego dos anos 30 não pode ser
explicado pela obstinada resistência dos trabalhadores a aceitarem menores
salários reais ou mesmo nominais. Para o autor a teoria neoclássica não dá
conta de uma terceira categoria de emprego: o desemprego involuntário,
cuja definição segue:
“(...) no caso de uma ligeira elevação dos preços dos bens de
consumo de assalariados relativamente aos salários nominais,
tanto a oferta agregada de mão de obra disposta a trabalhar pelo
salário nominal corrente quanto à procura agregada da mesma
ao dito salário são maiores que o volume de emprego existente.”
2) Keynes procurou elaborar uma teoria alternativa à
formulação (neo) clássica. Apresente sua teoria de emprego.
-Uma leitura dos capítulos 3 e 5 da TG (Possas)
Incialmente, Possas procura apresentar que os capítulos 3 e 5 da Teoria
Geral estão relacionados ao processo de decisões de produção (ex ante,
quantidade produzida, emprego e preços) e ao processo de vendas (ex post,
quantidade vendida, lucros, renda). Ressaltando que estes processos não
são marcados por simultaneidade, até porque sempre existe um intervalo
de tempo entre produção e vendas.
A caracterização diferenciada que Keynes faz da demanda e da oferta de
emprego, funções do salário real, está no fato de que o salário real não é
definido da mesma forma na demanda e na oferta.
Na TG a determinação do emprego é unilateral, sem equilíbrio necessário.
Os trabalhadores podem até ficar insatisfeitos com o nível de emprego que
estão ofertando ao salário real no mercado, mas isso não terá impacto, até
porque a negociação do salário nominal já foi estabelecida no contrato de
trabalho em vigor. Chegando a conclusão de que o mercado de trabalho
poderá não estar em equilíbrio, sem qualquer atuação de mecanismos de
ajuste automáticos, ou seja, o desemprego involuntário vai persistir.
Posteriormente, Possas procurar caracterizar o que Keynes chamou de
função de “preço da oferta”, expressando a mesma como receita total (e
não receita unitária, como na microeconomia), com uma terminologia mais
atual. Sendo a mesma composta por custos fixos e variáveis mais lucro
“desejado”. Podendo assim, apresentá-la como “receita desejada” em
função da quantidade produzida para venda. Onde, numa versão
modificada temos:
RD (q*) = CT (q*) + LD (q*), em que CT é o custo total, LD o “lucro
desejado” e q* a produção, tais que:
CT (q*) = CF + CV (q*), sendo CF o custo fixo e CV o variável. Os
custos fixos acabam por incluir pagamentos de juros, alugueis, outras
rendas, salários não ligados à produção e depreciação não relacionada ao
uso dos equipamentos. Já os custos variáveis incluem salários ligados à
produção e gastos com matérias-primas e outros insumos, bem como a
depreciação devida ao uso dos equipamentos (o chamado “custo de uso”).
Além disso, há ainda LD (q*) = rD [KF + KC (q*)], em que rD é a taxa
de lucro de longo prazo (“desejada”). E KF e KC são, respectivamente, o
capital fixo e o circulante. LD (q*) poderá ser ligeiramente crescente com a
produção, por causa do capital circulante, dependendo do peso relativo
deste.
“O gráfico a seguir ilustra a construção da função de oferta como receita,
RD, supondo (mais modernamente que em Keynes) custos marginais
constantes”.
Já em relação a Função de Demanda (Esperada), Possas apontará
que o empresário não possui conhecimento desta função, apenas
estimativas. Sendo que a projeção desta estimativa é feita pelas
expectativas de Curto Prazo que os empresários procuram
formular, geralmente embasados em projeções de períodos
passados recentes (segundo o autor, em linguagem atual, as E.C.P
seriam adaptativas).
Sendo que, a função de demanda quando acaba por ser expressa
em termos de receita total esperada (chamada de RE) deverá ser
decrescente. E a taxas decrescentes caso a demanda, em termos
unitários, seja negativamente inclinada. Como Keynes não supõe
Concorrência Perfeita, este olhar em relação à curva de Demanda
(inclinação negativa e não linear, algo que corresponde a uma
demanda expressa em receita unitária horizontal) consegue ser
plausível.
Segundo o autor, em particular, se a demanda em termos unitários
não for aproximadamentelinear-uma aproximação bastante
comum-, quando expressa em termos de receita total será
aproximadamente quadrática, conforme o gráfico abaixo:
Por fim, o autor procura apresentar o ponto de “Demanda
efetiva”. Ressaltando que, de acordo com Keynes, este será o
ponto caracterizado pela interseção entre as curvas de oferta e
demanda, ou seja, para RE = RD.
O ponto de demanda efetiva é ex ante, é efetiva no sentido de que efetiva a
contratação de certa quantidade recursos. O ponto de maximização de lucro
seria dado pela máxima distancia, mas isso não ocorrerporque em estrutura
concorrencial – mas não de concorrência perfeita – a concorrência atrai
novos entrantes enquanto lucro esperado superar o desejado. Por isso o
ponto de operação é o de interseção.
Logo, a interseção poderá ser maximizadora de lucros sem concorrência
perfeita, caso interpretarmos a mesma como maximização de longo Prazo.
Sendo assim, o ponto de operação em que RE = RD maximiza lucros a
longo prazo, sujeitos à restrição de lucro “normal” pela ótica do
empresário.
O gráfico abaixo apresenta o ponto de operação de curto prazo em Keynes
(ponto A), de acordo com a linha interpretativa proposta por Possas.
Vale ressaltar uma passagem do Possas, tratando justamente sobre o ponto
de operação da Demanda Efetiva, em que:
“O ponto de operação (“demanda efetiva”) agregado, expresso a partir das unidades de
salário, em termos de emprego básico, pode ser definido ex ante. Só que a definição de
Keynes abrange a situação ex post e define aquele ponto como de interseção entre oferta
e demanda, o que supõe implícita e necessariamente equilíbrio de curto prazo, ou seja,
confirmação das E.C.P.. A rigor, no entanto, o ponto de operação agregado já estaria
previamente determinado, tornando inócua a construção de funções de oferta e demanda
agregadas! Mas Keynes procede então à construção dessas funções: a de oferta ex ante,
por agregação das ofertas individuais; e a de demanda ex post, diretamente no
agregado.”
Por fim, cabe apontar que, nesta formulação alternativa, estamos definindo
a produção e o emprego como consequência ex ante, antes de iniciar o
período de produção. No período ex-post, de confrontação, a expectativa de
demanda se confirmará (ou não). Se conformado, os produtores estão “em
equilíbrio” no sentido de que não tem motivos para mudar suas decisões de
produzir e empregar no próximo período curto.
-Uma leitura a partir da formulação do Keynes
Na formulação de Keynes há uma diferença em relação a proposta acima, e
esta diferença está no fato de que ele trata as determinações a partir do
nível de emprego. Inicialmente, Keynes aponta que o emprego de certo
volume de mão de obra impõe ao empresário duas espécies de gastos: a
primeira envolve os montantes que ele paga aos fatores de produção pelos
seus serviços, chamada de custo de fatores do emprego em questão. Já a
segunda abarca os montantes que ele paga a outros empresários (insumos)
somado ao sacrifício que faz utilizando seu equipamento em vez de o
deixar ocioso (depreciação voluntária), sendo denominada de custo de
uso do emprego em questão.
A diferença entre valor da produção e a soma do custo de fatores e do
custo de uso é o lucro, no caso, a renda do empresário. Cabe ressaltar que
o próprio custo de fatores vem a ser a renda dos fatores de produção
considerada pelo ponto de vista do empresário, de modo que o custo de
fatores e o lucro formam a chamada renda total resultante do emprego
oferecido pelo empresariado.
O lucro do empresário é a quantia que ele procura elevar ao máximo
quando esta decidindo qual o volume de emprego deverá oferecer. Vale
comentar que acaba por ser conveniente chamar a renda agregada (custo de
fatores mais lucro) resultante de certo volume de emprego de produto
deste nível de emprego. O preço da oferta agregada da produção resultante
de determinado volume de emprego é o produto esperado (desejado em
nossa interpretação alternativa), que é suficiente para que os empresários
procurem considerar vantajoso oferecer emprego (que cobrirá custos
diretos + lucro desejado, em nossa formulação alternativa, com a diferença
que em nossa visão alternativa estamos plotando em relação à produção,
para a qual existe um nível de emprego associado ao passo que Keynes
elabora em termos de emprego, ao qual existe uma produção associada).
E Keynes continua afirmando que tanto para cada firma individual quanto
para cada indústria, o volume de emprego depende justamente do nível de
receita que os empresários esperam obter a partir de determinada produção.
Sendo que os mesmos vão procurar se esforçar para fixar o volume de
emprego ao nível em que esperam maximizar a diferença entre receita e
custos dos fatores.
Logo, o volume de emprego depende basicamente de dois aspectos: Z,
preço de oferta agregada da produção resultante de N homens, sendo a
relação entre Z e N, denominada de função da Oferta Agregada. E D, o
produto que os empresários esperam receber do emprego de N homens,
sendo a relação entre D e N denominada de função da demanda agregada (
D=f(N)).
Importante comentar também que caso o produto esperado seja maior que o
preço da oferta agregada, ou seja, se D for maior que Z, ocorrerá um
incentivo que acaba por levar os empresários a aumentar o emprego acima
de N e, se for necessário, a elevar os custos disputando fatores de produção,
entre si, até se chegar ao valor de N em que Z seja igual a D.
Sendo assim, o volume de emprego é determinado pelo ponto de interseção
da função de demanda agregada e da função de oferta agregada, até porque
é exatamente neste ponto em que a expectativas de lucro a longo prazo do
empresariado serão maximizadas.
Deve-se lembrar que o nível de emprego assim determinado pode ser
qualquer entre zero e pleno emprego e, havendo desemprego, não haverá
mecanismos endógenos de condução ao mesmo.
As expectativas de curto prazo guiam as decisões de produzir e estão
expostas no capítulo 5 da TG.
Vale ressaltar também que, de acordo com o capítulo 3, “Esta teoria pode
ser resumida nas seguintes proposições:
(1) Sob certas condições de técnica, de recursos e de custos, a renda (tanto
monetária quanto real) depende do volume de emprego N.
(2) A relação entre a renda de uma comunidade e o que se pode esperar que
ela gaste em consumo, designado por D1, dependerá das características
psicológicas da comunidade, a que chamaremos de sua propensão a
consumir. Isso quer dizer que o consumo depende do montante da renda
agregada e, portanto, do volume de emprego N, exceto quando houver
alguma mudança na propensão a consumir.
(3) A quantidade de mão-de-obra N que os empresários resolvem empregar
depende da soma (D) de duas quantidades, a saber: D1, o montante que se
espera seja gasto pela comunidade em consumo, e D2, o montante que se
espera seja aplicado em novos investimentos. D é o que já chamamos antes
de demanda efetiva.
(4) Desde que D1 + D2 (C+I) = D = φ (N), onde φ é a função da oferta
agregada, e como, segundo vimos em (2), D1 é uma função de N, a qual
podemos escrever χ (N), que depende da propensão a consumir, deduz-se
que φ (N) – χ (N) = D2.
(5) Consequentemente, o nível de emprego de equilíbrio depende (i) da
função da oferta agregada, φ, (ii) da propensão a consumir, χ, e (iii) do
montante do investimento, D2. Esta é a essência da Teoria Geral do
Emprego.”
Por fim, vale concluir que na teoria proposta por Keynes, a propensão a
consumir e o nível do novo investimento é que determinam o nível de
emprego. Sendo este que irá determinar o nível de salários. (E não ao
contrário, como proposto pela tradição neoclássica)
3) O que são, qual o papel e como são formadas as chamadas
Expectativas de Curto Prazo, segundo a Teoria Geral?
Keynes possui uma teoria geral da aplicação do capital, na qual a
composição de portfólio leva em conta as expectativas de retorno do ativo
em questão. É uma teoria da toma de decisões sob incerteza. Decisões quesão guiadas por expectativas.
Tais expectativas acabam se dividindo em dois grupos: Expectativas de
Curto e de Longo Prazo. O primeiro tipo engloba as expectativas que
determinado empresário tem em relação ao preço esperado de seu produto
“acabado” (no sentindo de estar pronto para ser utilizado ou vendido) ou,
alternativamente, são as expectativas de demanda que os empresários
formulam sobre seu produto acabado. Vale ressaltar que estas expectativas
guiam essencialmente as decisões de produzir e de empregar, de utilizar
capacidade instalada.
Também é fundamental comentar que uma mudança nas expectativas (seja
de curto ou de longo prazo) só produzirá efeito sobre o emprego, após certo
espaço temporal. No caso das expectativas de CP, isto acontece devido ao
fato de que as mudanças nessas expectativas não se verificam, em caso
geral, com tamanha rapidez ou violência, quando são desfavoráveis, para
promover um possível abandono do trabalho em todos os processos de
produção e de emprego.
Além disso, é importante apontar que o nível de emprego depende não
somente do estado atual das expectativas, mas também de todos os estados
anteriores que existiram, já que as expectativas passadas determinam a
estrutura atual (no equipamento de capital atual). Sendo assim, o volume de
emprego acaba por ser função da expectativa atual e de expectativas
passadas incorporadas no equipamento de capital atual.
É importante comentar que o processo de revisão de expectativas de CP é
gradual e contínuo, sendo aproximado pelos resultados realizados, de tal
forma que os resultados esperados e realizados se confundem. Os
resultados mais recentes (expectativa adaptativa) acabam por desempenhar
um papel predominante na determinação das expectativas de curto prazo.
Os produtores acabam baseando suas expectativas na hipótese de que a
maioria dos resultados observados mais recentes persistirá, exceto no caso
em que os mesmos tenham motivos bem definidos para se gerar uma
possível mudança.
As expectativas de curto prazo são formuladas ex ante e confrontada ex
post. A receita, o lucro e as vendas somente ocorrem ex post. Se as
expectativas foram aproximadamente satisfeitas não há incentivo para a
firma mudar suas decisões de produzir e empregar no próximo período de
produção. Caso ocorra decepção de expectativas e existindo a crença de
que o novo estado de demanda prevalecerá, haverá ajustes na produção e
emprego no próximo período curto.
Por fim, cumpre observar também que Keynes supôs no capitulo três na TG
que as expectativas de curto prazo dos produtores estão aproximadamente
corretas, mas chamamos atenção para o fato de que o autor assim o fez para
mostrar a possibilidade de haver equilíbrio – expectativas satisfeitas – e
ainda assim não haver equilíbrio no mercado de trabalho, ou seja, se as
expectativas de demanda induzem certo nível de contratação abaixo do
pleno emprego de mão de obra e se essas expectativas forem satisfeitas, os
agentes acertam suas expectativas não tendo incentivos para mudarem suas
posições – equilíbrio – mas ainda assim haverá desemprego involuntário.
4) Apresente a noção de Equilíbrio para Keynes. Contraste
sua visão com a noção (neo)clássica de equilíbrio.
O nível de emprego é determinado no início do período de produção - ex
ante - a partir da interseção entre as curvas de oferta e demanda esperada.
Se a interseção entre essas duas curvas gera um nível de emprego abaixo do
pleno emprego e se tais expectativas forem confirmadas no período de
mercado não há motivo para mudar o nível de produção e de emprego. Ou
seja, o sistema econômico pode encontrar um equilíbrio estável com N
abaixo do nível de pleno emprego, ou seja, no nível dado pela interseção
das funções de Oferta e de Demanda Agregadas.
Ou seja, no modelo teórico de Keynes o equilíbrio – expectativas satisfeitas
– é tão possível quanto o desequilíbrio. O nível de produção e emprego
(qualquer entre zero e pleno emprego) são determinados ex-ante. No
período de mercado - ex-post - se confronta a produção com a demanda. Se
os agentes acertaram suas expectativas estão em equilíbrio, mas o mercado
de trabalho não necessariamente estará.
Nesse esquema teórico a flexibilidade de preços e de salários não tem
nenhum papel fundamental, a redução de salários não leva necessariamente
ao aumento do emprego, já que apesar de reduzir os custos, afetando a
curva de oferta, reduz também a demanda, reduzindo a demanda esperada,
de modo que não há papel fundamental para a flexibilidade no esquema
teórico de Keynes.
5) Quais as consequências dinâmicas que podem ser extraídas
do processo de formação das Expectativas de Curto Prazo (ex
ante x ex post)?
Conforme apresentado na questão dois, Possas procura apresentar que os
capítulos 3 e 5 da Teoria Geral estão relacionados aos processos de
decisões de produção (ex ante, quantidade produzida, emprego e preços) e
ao processo de vendas (ex post, quantidade vendida, lucros, renda).
Reforçando que estes processos não são marcados por simultaneidade, pois
existe um intervalo curto de tempo entre produção e vendas.
O momento ex ante, envolve a determinação do nível de emprego, no início
do período produtivo, a partir da interseção entre as curvas de oferta e
demanda esperada. No período ex post – ainda no curto prazo – há
confrontação entre a expectativa de demanda e a demanda que de fato
ocorreu. A demanda ex post pode confirmar (ou não) a expectativa
formulada ex ante. Se as expectativas forem conformadas no período de
mercado, os agentes não terão motivações para mudar suas decisões de
produzir e de empregar. Caso os agentes incorram em erro (frustração) de
expectativas de curto prazo, e tendo incentivo suficiente para mudar de
posição e realizar graduais revisões das suas expectativas (via métodos de
ensaio e erro), mediante experiência obtida, o fará no próximo período
curto.
Possas aponta que os empresários, em geral, estão muito distantes de
conhecer sua função de demanda. No momento que envolve a decisão de
produção, ele somente possui as expectativas de Curto Prazo em relação ao
produto que irá se materializar no ex post.
Mas não conhecem, a ex ante, a receita. Só tendo noção de preços ou
quantidade a ser vendida, por exemplo, quando produtos não são estocáveis
ou o são a um custo proibitivo. Para o primeiro caso, o preço apresenta
rigidez no período de mercado (fixprice) e no segundo caso, o preço é
flexível no período de mercado (flexprice).
Em caso de fixprice, o ajuste da oferta à demanda no período de mercado
ocorrerá via estoques, já no flexprice “puro” (sem ajuste de quantidades)
acontecerá via preço. Para situações específicas como de flexprice não
“puro” o ajuste será de forma híbrida, ou seja, parte em preços e parte em
quantidades. Keynes procurou enfatizar o primeiro caso, de preços rígidos
no período de curto prazo e com ajustamento de estoques.
Ou seja, é fundamental apresentar que em nenhum caso esse ajuste da
oferta em relação à demanda resulta em equilíbrio. Pelo fato de que como
houve ex post um ajuste dentro do período curto representa que já ocorreu
um desequilíbrio, ou seja, é tarde demais para se alterar a decisão de
produção já tomada. Para que seja possível atingir algum nível de
equilíbrio, acaba por ser necessário tentar novamente nos períodos
seguintes, fato que depende de novas expectativas de curto prazo. Algo que
não estará assegurado, até porque o mundo é marcado pela incerteza.
“Embora Keynes seja omisso em relação a essa análise ex post, vale reforçar o argumento
apresentando as diferentes possibilidades de ajuste da oferta à demanda no período de
mercado, com preços rígidos ou flexíveis, conforme gráfico a seguir.”
De acordo com Possas: “Apenas na vizinhança do ponto A (i.e. dentro de alguma
margem de erro) ocorre equilíbrio – as E.C.P. foram satisfeitas aproximadamente -, de modo
que R = RE . Em todos os demais pontos há ajustes com desequilíbrio: em Be C por ter-se
verificado R > RE, respectivamente com ajuste via redução de estoque (fixprice) e via
preço (flexprice), ou ambos no ponto D; e vice-versa, com R < RE nos demais pontos.”
Os ajustes acima descritos estão ocorrendo dentro do período curto, no
período de mercado. Para extrairmos consequências dinâmicas e mudanças
na produção e emprego, devemos aguardar o próximo período curto, o
início do próximo período de produção.

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