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VISÃO INCLUSIVA: DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE 1. INTRODUÇÃO Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a inclusão é um direito assegurado pela Constituição Federal, e o grande desafio da escola, hoje, é criar condições de acesso e de permanência dos sujeitos público-alvo da educação especial no ensino regular. Quando se pensa numa escola na perspectiva inclusiva, há que se pensar num conjunto de fatores que precisam ser repensados e discutidos de modo a se promover uma educação de fato inclusiva. No paradigma da inclusão, à sociedade cabe promover as condições de acessibilidade necessárias, a fim de possibilitar às pessoas com deficiência viverem de forma independente e participarem plenamente de todos os aspectos da vida. Nesse contexto, a educação inclusiva torna-se um direito inquestionável e incondicional para todos que de ela necessitar. A princípio, é necessário que as pessoas reconheçam que todos nós somos diferentes, contrariando a sociedade quando estabelece padrões de normalidade. O que é ser normal? Normal é aquilo que a sociedade estabelece como padrão, como certo, livre de contestações. Está dentro de um estereótipo montado. Aqueles que não são tidos como normais, os deficientes físicos ou mentais, estão incluídos em um seleto grupo ao qual se denomina diversidade. É preciso saber conviver (os ditos normais) com a diversidade. O tema da deficiência, durante muito tempo na história da humanidade, foi sinônimo de desvantagem social, exclusão, silenciamento e invisibilidade. Aí estava, então, demarcado o saber biomédico que dominou esse campo, determinando a deficiência como desvantagem biológica. Um grande marco nessa discussão foi a evidência anunciada pela antropóloga Débora Diniz, que nos provocou a entender essa desvantagem quando retratou a vida de um escritor cego, que, em termos sociológicos, revela que uma lesão é algo recorrente no ciclo da vida humana, ou seja, mostra-nos a complexidade acerca do conceito sobre a deficiência, pois além de reconhecer o corpo com lesão, faz a corrente denúncia da estrutura social que aparta a pessoa com deficiência do convívio social. Para tratarmos do assunto com mais profundidade necessita-se de uma ampla reflexão sobre a educação inclusiva nos dias atuais, em torno dos desafios enfrentados pelo sistema educativo em todo o mundo, para fazer valer os direitos das pessoas com deficiência e em tratamento de doenças, sejam crônicas ou não. O ser humano inicia seu processo de descobertas e aprendizagens na infância, época em que o corpo está em formação e o sistema imunológico desprotegido, o que exige atenção redobrada dos familiares, frente às doenças mais comuns e crônicas, e assim, proteger bem mais as crianças, visando a minimizar possíveis sequelas oriundas de doenças, como algumas deficiências adquiridas. A pessoa com deficiência é aquela que tem algum tipo de limitação de longo prazo que pode gerar obstáculos na sua participação social, assim conceituado pela Lei nº 13.146 de 2015. Tais obstáculos, derivados de barreiras de ordem físicas, sensoriais, mentais ou intelectuais, dificultam a inserção dessas pessoas na educação, no trabalho, na comunicação, dentre outros aspectos da vida diária. “A inclusão deve ser o início de um processo que a sociedade compreenda e aceite as diferenças, oferecendo às pessoas com necessidades especiais, oportunidades de interagirem e vivenciarem situações como qualquer outro ser”. (WERNECK, 2003). 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Referenciais da educação inclusiva A educação inclusiva está firmada nos documentos oficiais, que afirmam caber à escola receber os alunos em situação de inclusão e buscar formas de fazer a inclusão em todo o processo educacional. Sabe-se que frequentar a escola é um direito do educando, independentemente de suas limitações, mas faz-se necessário que haja um ensino que o contemple, sem, contudo, minimizar as possibilidades de usufruir do currículo comum. Para promover uma educação inclusiva de qualidade, faz-se necessário pensarmos em algumas questões que são de fundamental importância para esse processo, a saber; pensar nos espaços físicos e pedagógicos da escola; refletir sobre a formação continuada dos profissionais da educação e da contribuição dessas formações para uma fazer pedagógico eficaz; bem como pensar nas políticas destinadas a esse público. Para se compreender as mudanças das práticas discursivas do acesso à educação do aluno com deficiência, é necessário inserir esse grupo social numa estrutura maior, ou seja, numa macroestrutura que é o contexto social-histórico. Analisar como a pessoa com deficiência é vista em épocas distintas nas práticas discursivas/ideológicas, pois a imagem que a sociedade tem sobre esse grupo mudou/muda ao longo do tempo, com base nas transformações e/ou embates de formações ideológicas. “As condições de produção implicam o que é material (a língua sujeita a equívoco e a historicidade), o que é institucional (a formação social, em sua ordem) e o mecanismo imaginário. Esse mecanismo produz imagens dos sujeitos, assim como do objeto do discurso, dentro de uma conjuntura sócio histórica. Na relação discursiva, são as imagens que constituem as diferentes posições. E isto se faz de tal modo que o que funciona no discurso não é o operário visto empiricamente, mas o operário enquanto posição discursiva produzida pelas formações imaginárias”. (ORLANDI, 2005). Os principais referenciais que enfatizam a educação de qualidade para todos, ao constituir a agenda de discussão das políticas educacionais, reforçam a necessidade de elaboração e implementação de ações voltadas para a universalização do acesso na escola no âmbito da educação fundamental, a oferta da educação infantil nas redes públicas de ensino, a estruturação do atendimento às demandas de alfabetização e da modalidade de educação de jovens e adultos, além da construção da gestão democrática da escola. A Conferência Mundial de Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, realizada pela Unesco em 1994, propõe aprofundar a discussão, problematizando os aspectos acerca da escola acessível a todos os estudantes. A partir dessa reflexão acerca das práticas educacionais que resultam na desigualdade social de diversos grupos, o documento Declaração de Salamanca (1994) e Linhas de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais proclama que as escolas comuns representam o meio eficaz para combater as atitudes discriminatórias. Paradoxalmente ao crescente movimento mundial pela inclusão, o Brasil publica o documento Política Nacional de Educação Especial, alicerçada no paradigma integracionista, fundamentado no princípio da normalização, com foco no modelo clínico de deficiência, atribuindo às características físicas, intelectuais ou sensoriais dos estudantes um caráter incapacitante, que constitui em impedimento para sua inclusão educacional e social. Esse documento define como modalidades de atendimento em educação especial no Brasil: as escolas e classes especiais; o atendimento domiciliar, em classe hospitalar e em sala de recursos; o ensino itinerante, as oficinas pedagógicas; a estimulação essencial e as classes comuns. Ao invés de promover a mudança de concepção, favorecendo os avanços no processo de inclusão escolar, essa política demonstra fragilidade perante os desafios inerentes à construção do novo paradigma educacional. Ao conservar modelo de organização e de classificação de estudantes, estabelece-se o antagonismo entre o discurso inovador de inclusão e o conservadorismo das ações que não atingem a escola comum no sentido da sua ressignificação e mantém a escola especial como espaço de acolhimento daqueles estudantes considerados incapacitados para alcançar os objetivos educacionais estabelecidos.Nesse período, as diretrizes educacionais brasileiras respaldam o caráter substitutivo da educação especial, embora expressem a necessidade de atendimento às especificidades apresentadas pelo estudante na escola comum. Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) quanto a Resolução nº 2 do Conselho Nacional de Educação (2001) denotam ambiguidades quanto à organização da Educação Especial e da escola comum no contexto inclusivo. Ao mesmo tempo em que orientam a matrícula de estudantes público-alvo da educação especial nas escolas comuns da rede regular de ensino, mantém a possibilidade do atendimento educacional especializado substitutivo à escolarização. 2.2 A Teoria Vygotskyana sobre aprendizagem Com base na teoria vygotskyana, afirma-se que o conjunto dos conhecimentos historicamente e culturalmente produzidos pela humanidade deve ser apropriado por cada homem singular, como condição de seu pleno desenvolvimento como ser partícipe do gênero humano, considerando tal apropriação como tarefa por excelência do complexo da educação. Os pressupostos vygotskyanos rompem com a ideia estática e linear de desenvolvimento humano, especificamente no que se refere à aprendizagem. Ao problematizar o processo de ensino e de aprendizagem, o teórico debateu o ensino focado na transmissão de conteúdo para alunos, em posição passiva e receptora de conhecimentos. Assim, o aluno tornou-se alvo das preocupações, e o centro da discussão estava no seu processo de aprendizagem. Com uma visão prospectiva, constituiu, como eixo central da relação ensino e aprendizagem, a função mediadora do professor. Vygotsky (1998) alerta para a necessidade de a prática docente inserir-se nas relações de ensino e de aprendizagem numa posição mediadora. Além disso, permite valorizar toda a produção humana em diferentes contextos e amplia o modelo de compreensão dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem, de acordo com o ritmo e potencial de cada aluno. Sobre a atuação do professor quanto à mediação escolar na aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual é importante salientar que, por via das interações sociais, os alunos são capazes de transformar a sua atividade psíquica, superando as funções mais elementares presentes no desenvolvimento humano. Vygotsky (1997) estudou as possibilidades de desenvolvimento da criança com deficiência por meio da teoria da compensação. De acordo com essa teoria, o defeito torna se o ponto de partida e a principal força motriz do desenvolvimento psíquico da personalidade. O defeito estabelece o objetivo final para o qual tende o desenvolvimento de todas as forças psíquicas, oferecendo uma direção para o processo de crescimento e formação da personalidade. Considera-se que o defeito perturba o curso normal do desenvolvimento e do processo de adaptação da criança, mas as forças oriundas dos defeitos a impulsionam para vencer ou superar as dificuldades. Nessa premissa, a teoria da compensação, para Vygotsky (1997), evidencia o caráter criador da criança em desenvolvimento. Para vencer é preciso uma luta com vitória, produto de um processo criador, orgânico e psicológico de construção e reconstrução da personalidade. A partir da discussão sobre o desenvolvimento cultural da criança com deficiência, a pedagogia da escola especial é criticada por aplicar o método do “observar fazer e fazer”. A intervenção pedagógica especializada é necessária para que a criança com deficiência possa dominar as formas culturais gerais. Por isso, Vygotsky (1997) chama atenção para o fato de o quanto é prejudicial para a criança com deficiência ser privada culturalmente, mediante o impedimento de exercitar e fazer parte das atividades próprias da cultura em que está inserida. O teórico faz questão de ressaltar que o desenvolvimento cultural dessa criança é perfeitamente possível. Para a educação da criança com deficiência intelectual, é importante saber como ela desenvolve-se, o déficit não é importante, mas a reação que surge na personalidade da criança, durante seu processo de desenvolvimento, em resposta à dificuldade com que tropeça. Para Oliveira (2009), a pedagogia sobre o princípio da compensação não nega a existência de processos criativos no aluno com deficiência intelectual. Pois, para realizar operações mentais mais complexas, esse aluno manifesta uma maior criatividade que o aluno sem deficiência intelectual. Assim, a escola, na perspectiva de resolver o problema da defectología, deve buscar consolidar o respeito às diferen ças, vistas não como obstáculo para o cumprimento da ação educativa, mas como fatores de enriquecimento e melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem para todos, tanto para alunos com deficiência quanto para aqueles sem deficiência. Dessa forma, os objetivos propostos pela escola assumem um caráter criativo e fazem a escola fundar-se de compensação social. No plano psicológico, a mediação que se dá a partir dos signos favorece a partilha de conhecimento socialmente acumulados, a comunicação de ideias, os valores, a interpretação de mundo ao redor pela cultura, ter a capacidade de abstrair, generalizar conceitos que estão organizados numa determinada cultura. A autora compreende por signo um sinal, um objeto, um som, uma figura que representa uma realidade, que substitui ideias, servindo como apoios à memória e à atenção humana. A autora ainda enfatiza a relação entre pensamento e linguagem como objeto de destaque nos pressupostos vygotskyanos. Para a autora, Vygotsky define como primeira função básica da linguagem a comunicação; a segunda função da linguagem é o pensamento generalizante, que aparecerá mais tarde no desenvolvimento humano. É nessa segunda função que a língua encaixa com o pensamento, devido ao fato de que o uso da linguagem implica numa compreensão generalizada do mundo, ou seja, ao nomear alguma coisa, o homem está realizando um ato de classificação. Assim, do ponto de vista da teoria histórico-cultural, os processos de desenvolvimento são impulsionados pelo aprendizado. Nesse caso, Rego, (2008), cita, como exemplo, que a criança, para aprender a ler e a escrever, precisa ter acesso a informações sobre o objeto de conhecimento e participar de situações planejadas de leitura e escrita, em colaboração com parceiros mais experientes da c ultura. Na sala de aula, o aluno precisa ser desafiado para estimular seu intelecto, justamente na fase em que está em amadurecimento, e, dessa forma, desenvolver as funções psicológicas superiores. Essa visão de prática pedagógica, incluindo a comunicação e interação entre os pares, é imprescindível para a escolarização do aluno com deficiência intelectual. Ainda Segundo Rego (2008), a partir dessa premissa, Vygotsky explicou a transformação dos processos psicológicos elementares, relacionados aos fatores biológicos do desenvolvimento, em processos superiores, resultantes da inserção do homem num determinado contexto sócio histórico. Portanto, uma prática escolar baseada nesse princípio deve considerar a extrema relevância do papel do professor como elemento mediador das interações entre os alunos e com os objetos de conhecimento na promoção de avanços no desenvolvimento individual. Visto que, no cotidiano escolar, o professor precisa ser visto como o parceiro privilegiado porque tem maior experiência, o educador tem a responsabilidade de tornar acessível, ao aluno, o patrimônio cultural e de desafiar, por meio do ensino, os processos de aprendizagem e desenvolvimento infantil. Em síntese, Díaz (2011) esclarece que todas as pessoas têm intelecto, o que as permite serem inteligentes. Na relação inteligência-aprendizagem, o autor compreende que a inteligência é construída ao longo da vida e tem particularidades que caracterizam como cada pessoa responde com eficiência a qualquer variação do meio ou aspossibilidades de aprender com efetividade. Nesse sentido, é na mediação de professores e de colegas que se encontram os estímulos para propiciar a inteligência, desenvolvê-la e elevá-la aos níveis superiores. Dessa forma, Díaz reafirma o conceito vygotskyano de interação entre as zonas de desenvolvimento, destacando que, por meio de auxílios mediados sobre a zona de desenvolvimento proximal, pode-se acelerar o desenvolvimento das funções e, portanto, da própria aprendizagem. Para o autor, Vygotsky caracteriza a aprendizagem como parte essencial da Zona de Desenvolvimento Proximal, propiciada pela orientação certeira e oportuna de outra pessoa, constituindo-se numa ajuda eficiente e norteadora que não oferece a solução, e sim o caminho que abrevia o processo de obtenção de aprendizados no aluno. 2.3 Zonas de Desenvolvimento Com base nas ideias de Vygotsky, Onrubia (2009) argumenta que a mediação vinda do professor é uma ajuda favorável ao aluno para a construção da aprendizagem, e que se constitui mediante um compromisso social, porque é concebida como uma colaboração na aquisição de conhecimentos acumulados pela humanidade no espaço escolar. Nessa visão, o conhecimento, não é dado por outra pessoa, mas, sim, construído por um ser histórico nas relações sociais. Assim, para o autor a mediação do professor pode servir em um determinado momento, mas, em outro, pode não ser efetiva, por isso os auxílios não devem ser homogêneos, mas diversificados. De acordo com Onrubia (2009), o princípio da ajuda pedagógica ao aluno, a quem cabe a construção do conhecimento, é necessária porque resgata a possibilidade de incidência sobre a aprendizagem, além de encaminhá-la para certa direção. Em outras palavras, na concepção desse autor, a ajuda pedagógica, ao valorizar o papel do professor e do contexto, não pressupõe a transmissão direta de conhecimentos, mas, sobretudo, que a intervenção didática, sem a qual os conhecimentos novos não podem ser adquiridos, ajuste-se à atividade construtiva dos alunos a cada passo do processo de aprendizagem. Isso leva a considerar que a atividade construtiva dos alunos é diversa, portanto, um único método de ensino, utilizado à exaustão, será incapaz de suprir as necessidades de ajuda de todos os alunos ao mesmo tempo, ou de certo aluno em todos os momentos. O autor ressalta que a mediação pedagógica nas zonas de desenvolvimento proximal dos alunos, considerando a noção de ajuda pedagógica ajustada, carrega a seguinte premissa: “Aquilo que o aluno pode realizar com ajuda, em determinado momento, poderá realizar de maneira independente mais tarde, e que o fato de participar da tarefa conjuntamente com um colega mais competente ou experiente é, precisamente, o que provoca as reestruturações e as mudanças nos esquemas de conhecimento que tornarão possível essa atuação independente. ” (ONRUBIA, 2009). Onrubia (2009) classifica a atuação didática pedagógica em três aspectos básicos que podem favorecer a mediação do professor nas zonas de desenvolvimento proximal dos alunos: um planejamento flexível para possíveis e necessários ajustes, conforme as respostas na aprendizagem dos alunos e que serve a uma constante observação dos objetivos desenhados e alcançados numa dinâmica relacional, diferenciando-se de uma dinâmica mecânica e executora de decisões a serem realizadas; tomadas de decisões pelo professor no âmbito da sala de aula e, também, com vistas às condições externas à sala de aula que dependerão do apoio e participação da gestão escolar; a reflexão de um ensino que dá resposta à diversidade presente na sala de aula. Na escola, o aluno não está sozinho, ele é parte de uma comunidade escolar e, de forma mais restrita, em sala de aula, ele compartilha ideias, opiniões, saberes com seus colegas e com o professor. Desse modo, Onrubia (2009) destaca que a apropriação de conhecimento é mediada por momentos de compartilhamento e por momentos de transferência de significados, seja do professor para o aluno ou de aluno para aluno. Em síntese, a construção do conhecimento se dá na troca entre professor e alunos não está em uma das partes. 2.4 O atendimento educacional especializado Essa política pública foi desenvolvida segundo as discussões em vigor sobre a inserção da pessoa com deficiência na escola, convivendo com os demais de igual modo, conforme supracitado, houve movimentos e acordos para se promover uma educação igualitária para todos, independentemente das condições dos sujeitos/alunos. Nesse sentido, as Salas de Recursos Multifuncionais foram fundadas com o objetivo de ser um apoio tanto aos professores quanto aos alunos beneficiários dessa proposta. Nesse sentido, a organização do atendimento educacional especializado busca considerar as peculiaridades de cada aluno, pois educandos com a mesma deficiência poderão necessitar de atendimentos diferenciados. Ropoli (2010) olha o aluno buscando atentar-se para a sua história de vida, sua individualidade, seus desejos e preferências. Assim sendo, o sujeito aprendiz é colocado no centro do processo de ensino-aprendizagem e, é por meio dele, de sua escuta e observação, que a escola terá pistas e/ou indícios de como o ensinar. Nessa perspectiva, há que se pensar no profissional que atuará nessas salas, na formação desses sujeitos, pois não se pode pensar em mudanças sem conhecimento e reflexão. “Para atuar no AEE, os professores devem ter formação específica para esse exercício, que atenda aos objetivos da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Nos cursos de formação continuada, aperfeiçoamento ou especialização, indicados para esta formação os professores atualizarão e ampliarão seus conhecimentos em conteúdo específicos do AEE para melhor atender seus alunos”. (ROPOLI, 2010). A autora ainda contribui pontuando os conteúdos que concernem ao professor das salas multifuncionais desenvolverem, pois se sabe que, muitas vezes, a escola, bem como os familiares, tende a confundir o atendimento especializado com reforço escolar, assim, faz-se necessário, além de se pensar na formação do profissional que irá atuar na sala, discutir junto à comunidade escolar sobre os conteúdos e a forma como devem ser explanados. 2.5 Mudança de paradigma para a Educação Especial A instituição social responsável por assegurar esse direito é a Escola, que tem como função essencial a educação formal, constituindo-se, assim, um referencial para a formação do educando, e é nessa articulação que a educação acontece de forma insubstituível. O contexto escolar é fundamental para o processo de ensino-aprendizagem e formação dos indivíduos, tendo papel relevante na sociedade por se constituir um ambiente de constantes trocas e interações entre pares, formação acadêmica, social e pessoal, bem como de desenvolvimento da sociabilidade, da afetividade e do bem-estar físico dos indivíduos. Beyer (2010) afirma que a inserção da inclusão de alunos com deficiência na rede regular de ensino impulsiona a escola a um novo paradigma que fundamenta a Educação Especial e a coloca numa perspectiva de modificação. Tece questionamentos sobre a Educação Especial, devido ao fato de estar em crise de identidade ou de “continuidade”. Suas discussões partem de uma leitura da situação da escola relacionada à inclusão de alunos com deficiência. Para o autor, ganha uma dimensão de utopia diante dos obstáculos em que se encontra, devido à falta de estrutura física e pedagógica. Explica, entretanto, que toda inovação passa pela fase de utopia, em que se faz necessário observar a que fim ela chegará, no caso da inclusão de alunos com deficiência na rede regular de ensino. Por outro lado, Peter Mittler (2003) apresenta a dimensão política da escola inclusiva e afirma que a escola não trabalha de forma isolada; pertence a uma sociedade com valores,crenças e prioridades que fazem parte de sua conjuntura. E nela é que ocorre o processo de mudança de paradigma. Já Mantoan (2003), infere que a inclusão escolar alude a uma transformação completa na educação para todos os seus participantes, pois desafia a estrutura atual, precisa superar a política e ter nova organização para o ensino regular existente. A projeção dessa nova conjectura educacional demanda a admissão absoluta e ordenada de conhecimentos e ações. Ela concebe que esse radicalismo é baseado na necessidade de mudança de paradigma. Para a autora, o novo paradigma é a escola inclusiva, que precisa se restabelecer em seus fundamentos educacionais de maneira global. Isso implica que tenha respeito pelo ser humano, reconheça a diversidade como característica humana, que se predisponha a programar o conhecimento para que todos os alunos tenham oportunidades, mesmo que apresentem ritmos diversos para aprender, compreender que os indivíduos têm seus direitos e obrigações. A ideia da autora é que a Educação Especial causa provocação que exige mais qualidade do ensino. Apresenta alguns caminhos para a concretização da inclusão, em sala de aulas e nos níveis de ensino. A mudança é um dos caminhos, com forme dito anteriormente; afirma-se que o modelo educativo deve ser pautado em reconhecer e valorizar as diferenças. Dessa forma, enfraquece o tradicional e segue adiante com adaptações de currículos, e estabelecimentos de programas que orientam o fazer de atividades, propostas de aceleração ou de apoio em situações diversas, como no caso de defasagem idade/série. Com esse modelo, os indivíduos convivem com respeito, como cidadãos autônomos, críticos e mais human itários. Esse ambiente solidário e participativo é contexto fértil para todos aprendere m em uma turma. Para a autora, é importante também a descentralização administrativa para que a autonomia pedagógica e financeira ocorra em prol da qualidade de recursos materiais e humanos, com apoio dos conselhos, colegiados e assembleias de pais e alunos. 3. CONCLUSÃO Para existir a inclusão social, é necessário que a sociedade aprenda a respeitar as diferenças, até porque, como diz Rodrigues (2008), a inclusão é para todos porque somos todos diferentes, por isso, atender às necessidades da maioria e das minorias é concretizar a realização da Sociedade Inclusiva, que busca dissipar barreiras e estigmas, consolidados em relação a grupos marginalizados socialmente, do qual fazem parte os portadores de deficiência. O aluno com deficiência intelectual é reconhecido como ser pensante, capaz de vincular sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura, sendo a escola um espaço e um tempo em que esse processo é vivenciado, em que o processo de ensino e de aprendizagem envolve diretamente a o desenvolvimento da aprendizagem, em especial à aprendizagem escolar, constitui-se por intermédio da prática pedagógica que se organiza e se estrutura de forma planejada e com um alto grau de cientificidade, atendendo as necessidades individuais e sociais, além de responder às demandas educacionais exigidas pela diversidade. Para esse fim, não se deve desconsiderar qualquer posicionamento teórico-prático de estudos referentes às questões de aprendizagem, entretanto, o construto histórico cultural de Vygotsky integra de maneira mais científica e humanista as abordagens pedagógicas quanto à educação escolar do aluno com deficiência. Por fim, afirma-se que, para favorecer o processo de aprendizagem escolar do aluno com deficiência intelectual, o professor deverá atuar como mediador na sala de aula, precisando assumir uma postura flexível e criativa, além de rever e transformar sua prática docente. O professor também precisa estar muito atento ao aluno com deficiência intelectual para reconhecer os conhecimentos construídos e as necessidades educacionais que apresentam e, a partir desses dados, elaborar formas alternativas de ensinar que correspondam às necessidades observa das. Enquanto direito humano fundamental, a Educação, na perspectiva da inclusão, é base para uma sociedade mais justa e solidária. A inclusão tem por especificidade ser um movimento de dupla via: por um lado, exige que a sociedade se modifique para o atendimento da diversidade; por outro, que o sujeito trabalhe sua autonomia, transformando-se em cidadão ativo e crítico. A inclusão, mesmo sendo considerada por alguns como uma utopia, pode em uma escola inclusiva levar professores e alunos a aprenderem uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. 4. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394). Brasília: MEC/SEESP,1996. BEYER, H. O. Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades educacionais especiais. Porto Alegre: Mediação, 2005. DÍAZ, F. O processo de aprendizagem e seus transtornos. Salvador: EDUFBA, 2011. OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento um processo sócio histórico. São Paulo: Scipione, 2009. ONRUBIA, J. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. São Paulo: Ática, 2009. VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise do Discurso: princípios e procedimentos. 6. ed. Campinas, SP: Pontes, 2005. ROPOLI, Edilene Aparecida et al. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão. Porto Alegre: UFRGS, 2003. BEYER, Hugo Otto. Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades educativas especiais. Porto Alegre: Mediação, 2010. MANTOAN, M. T. E. Inclusão Escolar que é? Por quê? Como fazer. São Paulo: Moderna, 2003. MITTLER, Peter. Educação Inclusiva – Contextos Sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003. WERNECK, C. Você é gente? O direito de nunca ser questionado sobre o seu valor humano. Rio de Janeiro: WVA, 2003.
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