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Introdução à patologia clínica Patologia clínica é a ciência que estuda as análises clínicas como forma de avaliar a condição fisiológica do paciente. Para isso se usa um fluido biológico ou tecido, onde se observará a presença, quantidade ou características de um analito. Deve-se ter conhecimento de quatro aspectos para determinar o analito usado no diagnóstico, sendo: ➔ Componente ou elemento químico analisado; ➔ Magnitude, número, volume, atividade ou concentração do analito; ➔ Unidade de medida; ➔ Meio em que o analito se encontra. Os objetivos das análises clínicas são: ➔ Distinguir uma situação normal de uma patológica; ➔ Contribuir para o diagnóstico; ➔ Especificar o grau de alteração e a severidade da afecção; ➔ Definir o prognóstico; ➔ Avaliar o curso e evolução de um quadro; ➔ Definir uma terapia, bem como verificar sua eficácia; ➔ Avaliar variações em resposta a tratamentos de pesquisa; ➔ Estabelecer a etiopatogenia das enfermidades. Etapas para a solicitação de exames: ➔ Conhecimento; ➔ Indicação ou objetivo; ➔ Amostra; ➔ Análise; ➔ Comparação; ➔ Interpretação. Amostra Antes da obtenção da amostra é importante contatar o laboratório que a analisará para ter conhecimento de quais devem ser as características da amostra, que incluem tipo, volume, duração, necessidade de aditivos ou conservantes, formas de manipulação e transporte, alterações in vitro e in vivo. Tipos de amostras: ➔ Tecidos: obtidos de acordo com sua localização e volume por meio de punção com agulha, cânulas ou biópsia cirúrgica. Sendo o sangue o mais utilizado; ➔ Fluidos: os mais utilizados são urina, leite, fluido cefalorraquidiano, humor vítreo ou aquoso (análises post-mortem), líquidos cavitários, fluido sinovial e fluido ruminal; ➔ Outros: fezes para exames parasitológicos, bacteriológico ou bioquímico, secreção nasal, vaginal ou outra para exame bacteriológico e citologia, raspado de pele ou pelos de uma região lesionada para análise microscópica, lavado traqueobrônquico ou brônquio-alveolar para citologia. O volume de amostra deve ser suficiente para mensurar todos os analitos desejados, bem como realizar repetições caso necessário. Normalmente se usa volume de tecido de 1 a 10 g e de líquido de 1 a 10 mL. Os tecidos possuem uma duração breve (menos de um dia) e devem ser mantidos refrigerados de 0°C a 5°C, mas não congelados, já os fluidos podem ser refrigerados e congelados a -25°C, tendo duração de seis meses ou mais. Quando se deseja avaliar células não se deve congelar e nem demorar muito tempo, pois elas se desintegram rapidamente. A refrigeração não é adequada para avaliação de plaquetas, pois elas se aglomeram, impedindo a contagem plaquetária. Os aditivos ou conservantes são utilizados para prolongar a duração da amostra, inibindo metabolismo in vitro, contaminação bacteriana ou coagulação do sangue, os mais utilizados são os anticoagulantes como EDTA, heparina e fluoreto de sódio (NaF). Junto às amostras deve constar a requisição de exame, a qual apresenta o nome, endereço e dados do proprietário, identificação e endereço do médico veterinário solicitante, identificação do animal (espécie, raça, sexo, idade, nome ou marca e número do caso) e os exames requisitados. Amostra de sangue Tubos e suas cores: ● Sem aditivos; ● Acelerador de coagulação; ● EDTA; ● Heparina; ● Fluoreto de sódio; ● Citrato. Tipos de amostra de sangue: ➔ Com anticoagulante: usado nos estudos dos elementos figurados e para obtenção do plasma. Após a coleta, o tubo deve ser tampado e invertido +/- 15 vezes para uma boa homogeneização; ➔ Plasma: parte líquida do sangue e diferencia-se do soro por conter fibrinogênio, seu uso é similar ao soro porém a obtenção é mais rápida e sem hemólise, sendo obtido através de centrifugação de uma amostra com anticoagulante, em que a fração de baixo corresponde a massa eritrocitária e a superior ao plasma, entre elas há a capa leucocitária ou capa flogística; ➔ Soro: parte líquida liberada após a formação e retração do coágulo. Obtido após repouso da amostra em temperatura ambiente ou banho térmico. Comumente usado para exames imunológicos e bioquímica sérica; ➔ Esfregaço sanguíneo: deposita-se uma gota de sangue próximo de uma das extremidades de uma lâmina ou lamínula, se posiciona um extensor, distribui o sangue e movimenta o extensor, terminando na outra extremidade, chamada de cauda, onde se faz a observação ao microscópio. Usado para hemoparasitas e exame hematológico. Anticoagulantes: ➔ EDTA: sal dissódica, inibe a coagulação quelando o Ca, mediante seus dois radicais ácidos, formando um quelato insolúvel. É o anticoagulante de eleição para hematologia por não interferir na morfologia celular; ➔ Heparina: sódica, potássica ou lítica, é um anticoagulante natural que inibe a transformação de protrombina em trombina e tromboplastina. É usada para obtenção de plasma livre de outros aditivos, como Na e K; ➔ Fluoreto de sódio: inibe a coagulação quelando o Ca, bem como inibe a glicólise in vitro, sendo usado em amostras para glicemia ou lactacidemia; ➔ Citrato de sódio: inibe a coagulação ao quelar o Ca plasmático, formando um sal insolúvel. Utilizado em transfusão sanguínea ou em amostras para estudos de coagulação. Vasos para coleta: ➔ Felinos: veia jugular; ➔ Caninos: veia cefálica radial, safena tibial ou jugular e artéria femoral ou carótida; ➔ Bovinos: veia jugular, mamária ou coccígea e artéria marginal da orelha ou carótida; ➔ Ovinos: veia jugular ou cefálica e artéria carótida. Importante cuidar para não ocorrer hemólise já que os eritrócitos ovinos são mais propensos à lise; ➔ Equinos: veia jugular e artéria facial ou carótida; ➔ Suínos: veia cava anterior ou coccígea, também pode-se fazer corte de ponta de orelha ou cauda para coletar pequenos volumes. Análise Os exames podem avaliar a condição fisiológica do animal ou verificar a presença de um agente patogênico. Os exames que avaliam a condição fisiológica do animal são: ➔ Hematológicos: avaliam alterações no número, morfologia ou propriedades de células sanguíneas. Ex: leucograma e hematócrito; ➔ Bioquímicos clínicos: determinam a presença e/ou concentração ou atividade de constituintes bioquímicos. Como substratos (ureia e glicose), enzimas ou eletrólitos; ➔ Análises de fluidos: estabelecem características químicas, físicas e microscópicos de secreções, como urina e leite, ou de fluidos orgânicos, como o fluido cefalorraquidiano, ou ainda permitem diferenciar se uma amostra de fluido abdominal ou torácico é transudato ou exsudato; ➔ Citodiagnóstico: determinam as características e distribuição das células em amostras de tecidos, que podem ser obtidas por punção com agulha, raspados ou lavados de mucosas; ➔ Histopatológicos: são feitos em amostras obtidas por biópsias de tecido, que são fixados no formol, submetido à corte histológico, corado e examinado ao microscópio, estabelecendo características morfopatológicas do tecido em questão. Os exames que determinam a presença de um agente patogênico no animal são: ➔ Parasitológicos: determinam presença e quantidade de parasitos em exames de fezes, exames microscópicos de raspados de pele para diagnosticar sarnas ou dermatomicoses, ou ainda esfregaço sanguíneo para hemoparasitas; ➔ Microbiológicos: avaliam a presença de bactérias, vírus ou fungos ou sua sensibilidade frente a agentes quimioterápicos; ➔ Toxicológicos: presença ou concentração de substâncias tóxicas em animais ou alimentos; ➔ Imunológicos: presença ou quantidade de anticorpos. Tipos de resultados laboratoriais Os resultados laboratoriais podem ser qualitativos ou quantitativos, a depender do tipo de analito e da metodologia de análise empregada pelo laboratório. Os qualitativos podem entregar: ➔ Características: como são os achados morfológicos encontrados em células ou tipos celulares. Ex: Howell Jolly e hipersegmentação de neutrófilo; ➔ Dicotômicos: ausência ou presença de um analito na amostra. Ex: glicosúria; ➔ Escalas/graus: negativo, leve, moderado e intenso.Usado em química seca, como fitas de exame químico de urina. Resultados quantitativos são valores expressados numericamente, que indicam a quantidade do analito presente na amostra em relação ao seu volume, podendo comparar os resultados obtidos com valores referenciais. Podendo ser expressado como: ➔ Número: expressa a unidade de um elemento por volume de amostra. Encontrado em resultados hematológicos, onde há contagens celulares. Quando abaixo do limite inferior de referência se adiciona o sufixo “penia”, acima se usa “citose” ou “filia” quando polimorfonuclear; ➔ Concentração: expressa a unidade de uma substância por volume de amostra. Quando dentro do intervalo de referência se usa o prefixo “normo”, abaixo do limite inferior “hipo” e acima do limite superior “hiper”; ➔ Atividade: expressa ação da enzima medida em condições analíticas de temperatura e pH definidas. Onde uma unidade de atividade (UI) corresponde à ação da enzima sobre 1 umol (micromol) de substrato/minuto. Quando abaixo do limite inferior a atividade da enzima está diminuída, quando acima do limite superior, a atividade está aumentada. Unidades Praticamente todos os resultados quantitativos são expressados em uma unidade de medida que deve ser considerada para comparação com os valores referenciais. Densidade e pH não possuem unidade. Então para comparar deve-se identificar e padronizar a unidade do analito e referencial, sendo usados dois sistemas de unidade: ➔ Tradicional ou antiga: trabalha com o peso do analito, sendo as unidades mais utilizadas mg/dL, g/dL, atividade enzimática expressa por UI;; ➔ Sistema internacional de unidades (SIU): analito com peso molecular definido expressado pela quantidade do analito em mmol/L, já analitos com peso molecular indefinido em g/L e atividade enzimática por katal, onde 1 katal equivale à ação da enzima em um mol de substrato por segundo. Para fazer a comparação de resultados e referenciais com unidades diferentes se usa os fatores de conversão, disponíveis em livros de patologia clínica, bioquímica clínica, etc. Outro cuidado a ser tomado é reconhecer como o substrato foi analisado, pois alguns podem ser expressados pelo seu principal elemento de constituição, por exemplo a ureia e nitrogênio ureico. Valores de referência São valores definidos para um analito numa determinada espécie em condições fisiológicas e ambientais similares. Fatores que alteram os valores de referência: ➔ Ambientais: altitude, manejo, dieta; ➔ Indivíduo: espécie, raça, sexo, idade, peso, condição fisiológica (gestante, lactante), condição genética e variações no indivíduo dentro e entre dias; ➔ Metrológicos: condições do laboratório que realizou as análises, por diferenças metodológicas e erros de medição. Os valores de referência são calculados usando os valores do analito em 95% dos indivíduos de uma população em condições normais de saúde, manejo e nutrição e determinado com metodologia definida. Etapas para calcular valores de referência: ➔ Amostragem da população saudável: idealmente deve ser >120 indivíduos da mesma espécie, raça, idade, condições fisiológicas ou manejo, em animais silvestres ou exóticos se usa um N menor; ➔ Resultados do analito nos indivíduos amostrados; ➔ Analisar os resultados: inclui identificar e eliminar os outliers, que são valores fora do esperado que podem decorrer de erros analíticos, e determinar a distribuição dos dados por histogramas e análises de distribuição, podendo ser paramétrica, gaussiana ou normal ou não paramétrica ou não gaussiana, que ocorre mais em enzimas marcadoras de lesão de órgãos; Métodos de cálculo de VR O método utilizado se baseia no número de amostras e distribuição observada, sendo: ➔ Robusto: 40 a 120 amostras, distribuição paramétrica ou não paramétrica, usa interações sucessivas até encontrar o centro e dispersão de dados; ➔ Média: >120 amostras e distribuição paramétrica, em que IR = média +/- 2 DP, em que o limite inferior = média - 2DP e limite superior = média + 2DP. O IR envolve 95% da população; ➔ Percentis: >120 amostras e distribuição não paramétrica, consiste em ranquear os dados em ordem crescente, em que o limite inferior = (n+1) x 0,025, sendo equivalente à posição 2,5%, e o limite superior = (n+1) x 0,975, equivalente à posição 97,5%; ➔ Logaritmos: >120 amostras e distribuição não paramétrica, normalização dos dados pelo logaritmo natural e analisar pelo método das médias, porém o valor biológico é perdido. Comparação e interpretação Para comparar, devemos considerar a forma de expressão do resultado, que pode ser qualitativa ou quantitativa, identificar e padronizar a unidade do analito, comparar com padrões de referência e avaliar alterações significativas. O método mais utilizado é a variação comparada ao valor de referência populacional, sendo uma comparação absoluta. Esse método indica o risco de o animal estar doente, sendo importante considerar que 2,5% dos animais saudáveis estão abaixo do limite inferior e 2,5% dos animais saudáveis estão acima do limite superior, por isso é importante fazer a comparação relativa, que avalia a magnitude do aumento ou diminuição, sendo calculado por: DPx = (valor da amostra - média de referência) ___________________________ DP referência A comparação relativa calcula a distância do resultado em relação à média, transformando-o em desvio padrão. Valores de DPx e magnitude da alteração: ➔ Normal: entre -2 e +2; ➔ Leve: -2 a -3 ou +2 a +3; ➔ Moderada: -3 a -4 ou +3 a +4; ➔ Intensa: >+4 ou <-4. Outra forma de fazer comparação é o ponto de corte, que considera a população saudável e doente, definindo o limite antes da doença. Há também a variação comparada com um valor prévio do mesmo indivíduo, se avaliando a diferença entre dois resultados, que deve ser maior que 2 CV (coeficiente de variação da técnica).
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