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POLÍCIA COMUNITÁRIA E 
GESTÃO INTEGRADA 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Danton Gean Perovano 
 
 
 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Com base nesta aula, traçaremos os principais aspectos relacionados ao 
planejamento de ações baseadas nos conceitos de polícia comunitária. 
Utilizaremos métodos e ferramentas consagrados, como facilitadores ao 
entendimento dos problemas nas comunidades relacionados aos diversos tipos 
de violências e que permitam o acesso das instituições de segurança pública e 
defesa social na comunidade. 
O planejamento das ações nos princípios de polícia comunitária enseja 
que as comunidades vislumbrem que as instituições de segurança pública e 
defesa social superem os problemas internos, frutos de aspectos culturais e 
paradigmáticos, seja com a formação inicial e continuada desses profissionais e 
que acompanhe a evolução social, suas conformidades e variações, por 
intermédio do comprometimento com o resultado final do processo de trabalho e 
a adoção de mecanismos que estabeleçam o desenvolvimento do projeto 
comunitário e suas fases que proporcionem a qualidade. 
O foco do trabalho desenvolvido pelos Promotores de Polícia Comunitária 
(PPC) deve estar centrado na atividade preventiva primária, caracterizada pelo 
trabalho realizado pelos órgãos de segurança pública e defesa social na 
antecipação de ações que antecedam a instalação de ambientes com elevado 
nível de agressividade, violências e que chegue ao delito. Portanto, a resolução 
de problemas pelos Promotores de Polícia Comunitária (PPC) é parte 
permanente da rotina do trabalho dos profissionais que atuam na segurança 
pública e defesa social. 
 
TEMA 1 – GESTÃO DE PROCESSOS NO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 
ESCOLAR 
Assim, ferramentas de gestão tais como o georreferenciamento e outros 
conjuntos de tecnologias para o mapeamento do crime e da violência, 
associados à inteligência policial e aliados à participação efetiva da sociedade, 
são importantes para se evitarem crimes. 
Para Goldstein (1990, p. 26): 
 
 
 
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A comunidade torna-se conceito de sentido operacional: comunidade 
é um grupo de pessoas que dividem o interesse por um problema: a 
recuperação de uma praça, a construção de um centro comunitário, a 
prevenção de atos de vandalismo na escola, a alteração de uma lei ou 
a ineficiência de um determinado serviço público. A expectativa é o que 
a somatória de experiências bem-sucedidas de mobilização social em 
torno de problemas possa, ao longo do tempo, contribuir para melhorar 
o relacionamento entre polícia e sociedade e fortalecer os níveis de 
organização da sociedade. 
 
 
A utilização de métodos para a resolução de problemas constitui em 
práticas adotadas inicialmente nos setores de produção em escala, hoje 
presente em todos os setores, e serve para o desenvolvimento de produtos e 
serviços com qualidade (GARVIN, 2002). 
Como é possível perceber, as ações de planejamento de policiamento 
comunitário só serão possíveis se houver o envolvimento das pessoas que vivem 
os problemas na comunidade. Nesse sentido, a composição das equipes de 
trabalho previstas para a participação nas etapas do Método IARA/SARA, que 
estudaremos a partir de agora, deve ser, preferentemente, multidisciplinar, pois 
os resultados serão construídos com uma visão multifacetada do problema, com 
a incorporação dos anseios e do planejamento compartilhado com as pessoas 
que receberão os serviços dos órgãos de segurança pública e defesa social. 
Sob o aspecto funcional, a ocorrência policial é o sintoma de que existe 
alguma espécie de desequilíbrio, seja na organização da comunidade, na 
arquitetura física local ou por situações pontuais de comportamentos não 
requeridos socialmente dos indivíduos. Nesse sentido, os profissionais de 
segurança pública e defesa social devem desenvolver um olhar prático no 
sentido de visualizar e entender a ocorrência policial como uma possibilidade de 
estudo de suas causas fundamentais e incorporar modos inteligentes de 
resolução. 
 
TEMA 2 – A FERRAMENTA DE GESTÃO EM POLÍCIA COMUNITÁRIA: O 
MÉTODO IARA 
O processo de resolução de problemas PDCA é largamente utilizado na 
gestão de empresas e se assemelha com o Método IARA, utilizado no 
Policiamento Orientado à Resolução do Problema (POP). 
Antes de entrar nos desdobramentos do Método IARA (SARA, em inglês), 
vale ressaltar que existem outros métodos de resolução de problemas, tais como 
o Ciclo de Deming ou também conhecido como Ciclo PDCA (Plan, Do, Check e 
 
 
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Act) e o QC Story, adotados como metodologias muito difundidas para 
contingenciar as causas dos problemas. 
No Método IARA, o PPC aplicará as seguintes etapas de trabalho: 
 
Quadro 1 – etapas do Método IARA 
 
ETAPA ATIVIDADE 
1ª Etapa Identificação (scanning) 
2ª Etapa Análise (analysis) 
3ª Etapa Resposta (response) 
4ª Etapa Avaliação (assessment) 
 
Para que o trabalho na comunidade seja desenvolvido com qualidade e 
respeito às expectativas e direitos fundamentais, encontra-se prevista a adoção 
do Método IARA, que corresponde a um conjunto de ferramentas adotadas para 
a resolução de problemas. O método foi criado para ser aplicado em quatro 
etapas. A saber: identificação, análise, resposta e avaliação do problema. 
O Método IARA, criado para trabalhar as causas dos problemas, engloba 
um conjunto de ferramentas de gestão que auxiliarão o PPC a criar, em parceria 
com a comunidade, soluções práticas e dimensionadas às realidades das 
pessoas que convivem em um mesmo ambiente social. 
Nesse sentido, o Método IARA deve ser aplicado na forma de ciclo 
contínuo, que confere a melhoria das atividades com a de repetição de todo o 
processo para sua implementação. 
 
TEMA 3 – IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA NA COMUNIDADE 
Os problemas na comunidade seguem um padrão ou ocorrência de 
repetição (persistência). Assim, o primeiro passo que o policial deve identificar é 
saber quais os problemas que reincidem, ou seja: o que é/qual é o problema? 
Ainda para Goldstein (1990, p. 75) um problema no policiamento 
comunitário pode ser definido como: 
 
(...) um grupo de duas ou mais ocorrências que são similares em um 
ou mais aspectos (procedimentos, localização, pessoas e tempo), que 
causa danos e, além disso, é uma preocupação para a polícia e 
principalmente para a comunidade. 
 
 
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Nesse sentido, o problema na perspectiva de Polícia Comunitária consiste 
em qualquer situação que cause dano, ameaça ou medo e que possa evoluir 
para um distúrbio de qualquer ordem na comunidade. 
Segundo Magno (BRASIL, 2013, p. 137), as ocorrências trazem 
similaridades em vários aspectos, como: 
 
Comportamento (este é o indicador mais comum e inclui atividades 
como: venda de drogas, roubos, furto, pichação e outros); 
Localização (problemas ocorrem em Zonas Quentes de Criminalidade, 
tais como: centro da cidade, parques onde gangues cometem crimes, 
complexos residenciais infestados por assaltantes, etc.); 
Pessoas (pode incluir criminosos reincidentes ou vítimas); 
Tempo (sazonal, dia da semana, hora do dia; exemplos incluem 
congestionamento de trânsito, proximidade de bares, atividades de 
turismo, etc.); 
Eventos (crimes podem aumentar durante alguns eventos, como por 
exemplo, carnaval, shows, etc.). 
 
 
O PPC deverá buscar fontes de informações e dados em quantidade e 
qualidade, de maneira multimodal, ou seja, com a busca de pessoas com 
diversos papéis sociais (moradores, diretores de unidades escolar, empresários, 
representação do governo, policiais, outros), pois isso implica em efetivar de 
forma mais rápida as possíveis soluções para o problema. 
O PPC deve ter o cuidado em observar que as pessoas da comunidade 
que repassam as informações não são “informantes” das instituições policiais, 
mas colaboradores do processo de construção de soluções. Para a realização 
de denúncias, as instituições policiais devem compartilhar seusmecanismos que 
permitem sua realização, a fim de preservar a segurança desse colaborador. 
 
TEMA 4 – A INFORMAÇÃO E A IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA NA 
COMUNIDADE 
Na identificação do problema, serão observadas pela comunidade todas 
as situações indesejadas (problemas) constatadas no cotidiano das pessoas, 
tais como a recorrência de assaltos, consumo de drogas em praças, problemas 
de pavimentação e de iluminação pública nas vias. 
As formas de identificação do problema dependem da constante 
observação das situações do cotidiano na comunidade, e esse atributo poderá 
ser mais estimulado de acordo com o periodicidade de contatos (reuniões, 
palestras etc.) realizadas pelo gestor local, ou seja, o PPC. Assim, a análise de 
 
 
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dados e das informações fornecidas de maneira espontânea e segura e a 
construção de espaços de diálogo com o PPC contribuirão para que sejam 
identificados os problemas na comunidade com maior eficiência. 
Os problemas de segurança pública serão levantados na comunidade por 
algumas vias possíveis: 
 Pela observação dos próprios participantes da comunidade (moradores, 
comerciantes etc.); 
 Pelos indicadores de criminalidade e violência; 
 Por pesquisas de levantamento ou outras modalidades de pesquisa 
realizadas por órgãos oficiais; 
 Pelo próprio PPC. 
 
Outros locais para a busca de informações e dados com muita eficiência 
são as fontes eletrônicas (internet) como jornais, redes sociais e outros. Outra 
possibilidade é a busca de pesquisas de levantamento, como as censitárias 
(IBGE, CEBRID etc.), que têm por finalidade descrever as características da 
população em estudo. 
Esses dados e essas informações auxiliarão o PPC na 
estruturação/elaboração/construção do planejamento das ações e constituirão 
em objeto de planejamento que ensejará a criação de métodos de melhorias. 
Torna-se, nesse caso, fundamental que, após sua identificação, sejam tomadas 
as iniciativas necessárias para o próximo passo dentro da etapa de planejamento 
e sejam estabelecidas as metas. 
 Na sequência serão apresentadas e discutidas algumas das ferramentas 
de gestão que poderão ser utilizadas para as fases do Método IARA. 
 
TEMA 5 – FERRAMENTAS DE GESTÃO QUE AUXILIAM O PROCESSO DE 
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA NA COMUNIDADE 
A primeira ferramenta apresentada é o brain storming, que poderá ser 
utilizada em outras etapas do Método IARA. A finalidade do uso dessa 
ferramenta é a coleta de informações da comunidade, baseada no grau de 
percepção sobre as condições socioambientais. 
O uso dessa ferramenta de gestão, para a coleta de dados, permite ainda 
a análise de interação grupal tanto no exame das vozes individuais na 
comunidade, a partir do processo participativo das pessoas, proporcionando o 
 
 
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caráter comunitário, com características diferentes, advindas de classes 
distintas, várias idades, gênero, formação, minorias sociais, populações em 
situação de risco, dentre outros, que permitem coletar uma gama de 
informações previamente discutidas em uma malha (teia) que caracteriza a 
elaboração de consensos e dissensos fundamentais (PEROVANO, 2014). 
A segunda ferramenta apresentada ao PPC, que será útil na coleta de 
dados e informações, é a “Lista de verificação”, que poderá ainda ser 
denominada de “Lista de Classificação de Problemas”. 
Este procedimento tem por finalidade levantar os principais problemas na 
comunidade que ensejam preocupações com a segurança pessoal, coletiva e 
patrimonial, os seja, os problemas mais importantes, e poderá ser elaborada na 
forma de brain storming (1ª ferramenta). 
O PPC, uma vez definidos os principais problemas na Lista de Verificação, 
deverá estar em consonância com a comunidade e definir de maneira objetiva 
quais os problemas são os mais relevantes para tratá-los. O método GUT 
(Gravidade, Urgência e Tendência) determina três aspectos sequenciais do 
problema: seu nível de importância (gravidade), o de priorização (urgência) e o 
nível de agravamento (tendência) da situação instalada na comunidade. 
 Uma vez levantados os problemas da comunidade em uma lista de 
verificação, por intermédio de brain storming, e identificado com a comunidade 
qual o problema deve ser priorizado (GUT), o PPC poderá criar um fluxograma 
(esta ferramenta é de uso facultativo) para detalhar as características de cada 
problema e determinar o fluxo de trabalho para sua contenção/resolução. 
 
NA PRÁTICA 
Em uma reunião de conselho comunitário de segurança, participaram 
gestores da Polícia Militar, Polícia Civil e Guardas Municipais, em uma discussão 
com a comunidade local sobre sérios problemas de segurança daquele bairro. 
A maioria dos participantes mencionou que tem elevadas expectativas no 
serviço de segurança pública. Inicialmente a população quer que seus 
problemas sejam resolvidos, independente de sua participação (da 
comunidade), com efetividade no combate à violência e aos efeitos da 
criminalidade. Desejam ainda a preservação da ordem pública com o 
atendimento de qualidade e resolução dos problemas das comunidades. 
 
 
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 Diante do exposto, como os gestores de segurança pública poderão 
organizar o trabalho de planejamento de ações de segurança, partindo-se da 
identificação dos problemas daquela comunidade? 
 
 
FINALIZANDO 
Como podemos observar, os problemas de segurança pública somente 
serão resolvidos se houver o planejamento sistêmico das ações nesta área. Os 
gestores deverão buscar a definição do problema, que corresponde ao resultado 
indesejado de um processo. 
Nos princípios de polícia comunitária, a ferramenta de gestão mais 
adotada é o método IARA/SARA, que corresponde a um conjunto de ações que 
determinam um processo contínuo de um projeto social e que permite às 
pessoas de determinada comunidade participarem das discussões sobre seus 
problemas e exigirem a mobilização conjunta do poder público. 
O Método IARA foi desenvolvido para trabalhar as causas dos problemas, 
e não seus efeitos. Os problemas na comunidade seguem um padrão ou 
repetição (deve-se considerar: comportamento, localização, pessoas, tempo, 
eventos), e o profissional de segurança pública deverá identificar quais os 
problemas que reincidem, ou seja, saber qual é o problema que, de maneira 
recorrente, reaparece. O problema na perspectiva de Polícia Comunitária 
consiste em situações que causem alarme, dano, ameaça ou medo, ou que 
possam evoluir para um distúrbio na comunidade. 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BRASIL. Curso Nacional de Promotor de Polícia Comunitária. Ministério da 
Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública. 6. ed. Brasília, 2013. 
GARVIN, D. A. Gerenciando a qualidade: a visão estratégica e competitiva. Rio 
de Janeiro: Qualitymark, 2002. 
GOLDSTEIN, H. Problem-oriented Policing. New York: McGraw-Hill, 1990. 
PEROVANO. D. G. Manual de metodologia científica para a Segurança 
Pública e Defesa Social. Curitiba: Juruá Editora, 2014.

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