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Mentalidade Tática Policial - Irlan Calaça

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Prévia do material em texto

Mentalidade Tática Policial 
& 
As 4 etapas do treinamento de alto rendimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Irlan Massai Calaça dos Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
@fator3treinamento 
 
SOBRE O AUTOR E INSTRUTOR 
 
Irlan Massai Calaça dos Santos 
 
 Dizem que esses materiais didáticos devem possuir uma página falando sobre o autor, 
uma espécie de: “- confie no que vou falar, pois já fiz isso e aquilo outro e já estudei em tal 
local!”. Apesar de não concordar plenamente com essa forma de convencimento, confesso 
que sempre leio essa parte de todos os materiais didáticos que tenho acesso e considero 
importante saber “quem” está falando. 
 
 Nasci em 1990, na cidade de Maceió-AL, ingressando na Polícia Militar do Estado de 
Sergipe aos 18 anos, em 2008, através do Concurso para Oficial Combatente. Realizei o 
Curso de Formação de Oficiais na Polícia Militar da Bahia, uma vez que a Policia Militar de 
Sergipe até então não possui Academia de Formação de Oficiais, enviando então os Cadetes 
(nome dado ao oficial-aluno) para outros estados da federação para realizar sua capacitação. 
Formei em 2011, aos 21 anos de idade. Trabalhei em unidades do interior do estado de 
Sergipe e aos 22 anos fui para a Força Nacional de Segurança Pública, onde fiz parte de 47ª 
INC (Instrução de Nivelamento de Conhecimento, capacitação obrigatória que dura cerca de 
18 dias). Passei um ano em missões nos estados de Goiás, Amazonas e Rio de Janeiro, onde 
nesse último tive a oportunidade de fazer o VI COCD (Curso de operações de controle de 
distúrbios), promovido pela PRF, tendo então a alegria de me tornar o Choqueano 14 do VI 
COCD, ou Choqueano 209, na numérica nacional. Após o período na Força Nacional, tive a 
oportunidade de servir brevemente no Batalhão de Choque da PMSE e depois de cerca de 4 
meses, fui convidado em 2014 para fazer parte do Comando de Operações Especiais – COE, 
unidade pela qual eu guardava a mais profunda admiração e não me considerava capacitado 
o suficiente para fazer parte, mas estava disposto a aprender. No mesmo ano tive a 
oportunidade de fazer o Curso de Ações Táticas Especiais no BOPE da Polícia Militar de 
Alagoas, onde me tornei o Cateano 04 do V CATE ou Cateano 79, na numérica geral. No ano 
seguinte, tive a oportunidade de realizar o I CTEP (Curso de Técnico Explosivista Policial) no 
BOPE da Polícia Militar da Bahia. De 2016 até o início de 2018, tive a oportunidade de realizar 
uma pós-graduação na Universidade Federal de Sergipe sobre Criminalidade violenta, 
controle social e Políticas Públicas, onde apresentei monografia versando sobre a capacitação 
 
3 
@fator3treinamento 
 
em tiro no âmbito do curso de formação de soldados da PMSE. Entre os anos de 2014 e 2018, 
tive a honra e a responsabilidade de fazer parte da formação de todas as turmas de formação 
de soldados da PMSE, algumas turmas de formação de cabos, de sargentos, de habilitação 
de oficiais, do primeiro COTAM ( Curso que habilita o profissional do GETAM, Grupamento 
Especial Tático de Motos), do primeiro EMOPAT (Estágio que habilitou os operadores do 
GETAM de Itabaiana-SE), do curso de formação de mais de cinco Guardas Municipais de 
Cidades do interior de Sergipe, do curso de perícia em material explosivo, ministrado para os 
peritos do estado de Sergipe, do estágio de aplicações táticas, que capacitou a Força tática 
do 5ºBPM, do estágio que capacitou Policiais da Cia de transito para atuação tática, além de 
ter sido coordenador do II EATE (Estágio de Ações Táticas Especiais) que é a habilitação 
mínima para compor os grupos táticos do COE/PMSE. Desde que ingressei na instituição, me 
interesso fortemente em compreender qual a melhor forma de treinar e de dar treinamento, 
focado em resultados práticos, preservação da vida do operador e máximo rendimento 
operacional. Com esse intuito criei a FATOR 3 TREINAMENTO TÁTICO, que tem como 
missão primordial juntar ciência e atuação tática em uma linguagem simples e acessível, 
correndo longe dos embustes sem conexão com a realidade e teorias vazias que muitas vezes 
desorientam operadores. Bem, acho que é isso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
@fator3treinamento 
 
PRECEITOS FUNDAMENTAIS 
 
 Antes de começar, gostaria de salientar que esse material tem como base os preceitos 
da educação de adultos, formulados a partir das ideias de Malcolm Knowles na década de 70 
e publicados na página eletrônica do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação 
Continuada-CPDEC. 
 
Os seis preceitos da Andragogia e do nosso curso são: 
1. Necessidade – Aplicabilidade 
 Os adultos são estimulados a aprender conforme vivenciam as necessidades 
que a aprendizagem satisfará. Portanto, o curso ou treinamento deve ser relevante, 
deve estar relacionado com as atividades profissionais e contribuir para a solução de 
problemas reais. 
2. Autonomia – Autodiretividade 
 Os aprendizes adultos têm forte necessidade de se autodirigir, de decidir 
quando, como e o que querem aprender. Porém, nem todos os adultos aprendem da 
mesma forma. As diferenças individuais entre as pessoas aumentam com a idade. 
Portanto, dentro dos princípios da andragogia, deve-se prever as diferenças de 
estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem. 
3. Experiências prévias 
 Os adultos gostam de compartilhar suas experiências e conhecimentos 
acumulados. Os relatos podem servir como base para a construção de novos 
conhecimentos. 
 
 
 
5 
@fator3treinamento 
 
4. Interatividade 
 A interação entre os aprendizes e com o multiplicador é essencial para 
a qualidade da aprendizagem. Para isso, é preciso que haja o estímulo de situações 
interativas, como discussões, debates, atividades em grupo, cases e jogos. 
5. Clima de segurança e respeito 
 Os adultos tendem a ter orgulho de si mesmos, de suas conquistas, 
experiências e conhecimentos, e não gostam de se sentir expostos perante outras 
pessoas. O clima de aprendizagem deve ser acolhedor, respeitoso e seguro durante 
todo o treinamento, evitando intimidações e constrangimentos. Geralmente, no início 
de um treinamento os adultos adotam uma postura reservada até perceberam que o 
ambiente não é “ameaçador”. Pessoas tímidas levam mais tempo para ficarem à 
vontade. 
6. Reflexão – Feedback 
 Os aprendizes devem ter a oportunidade de praticar os novos conhecimentos 
e de refletir sobre sua prática, analisar e avaliar seu próprio desempenho. Só assim 
poderão descobrir novas perspectivas e opções de aprimoramento. Nesse sentido, o 
feedback do instrutor ou dos colegas é muito valioso. 
 
 
 
 
 
 
6 
@fator3treinamento 
 
SUMÁRIO 
 
1- O que é mentalidade tática policial?......................................................................07 
 
2- Ciclo OODA – Os ensinamentos de Boyd.............................................................10 
 
3- Fricções de guerra – Os ensinamentos de Clausewitz.........................................16 
 
4- Relação entre estresse e performance.................................................................19 
 
5- Teoria da simplicidade tática.................................................................................21 
 
6- Estágios de competência.......................................................................................24 
 
7- Inoculação de estresse..........................................................................................27 
 
8- Distorções Perceptuais..........................................................................................30 
 
9- Princípio de Pareto................................................................................................31 
 
10- As quatro etapas do treinamento de alto rendimento..........................................33 
 
11- Método R.A.I.O....................................................................................................43 
 
12- Bannerde treino cognitivo Ciclo O.O.D.A...........................................................48 
 
13- Referências Bibliográficas...................................................................................53 
 
 
 
7 
@fator3treinamento 
 
1- O QUE É MENTALIDADE TÁTICA POLICIAL? 
 
 Quando pensamos sobre o nome “tático” e suas variações, de maneira intuitiva 
nos remetemos às questões relacionadas com o combate armado, ações policiais ou 
de guerra. Ao menos é o que vai passar na cabeça de qualquer agente de segurança, 
ainda mais ao ler um material sobre “mentalidade tática” que foi escrito por um Policial 
Militar. Porém, quando digitamos “mentalidade tática” nas páginas de busca da 
internet, a primeira resposta remete ao trabalho do Professor Ricardo Luiz Pace 
Júnior, professor de educação física com atuação voltada para a “mentalidade tática” 
no treinamento de futsal. Isso mesmo, futebol de salão! 
 Mas aí vocês me perguntam: Qual a relação entre o conceito de mentalidade 
tática do futsal e a atividade de segurança pública e confronto armado? É aí que a 
coisa fica interessante, pois a relação é TOTAL! No decorrer desse conteúdo, iremos 
tentar destrinchar o conceito do esporte, sua similaridade com as necessidades da 
atividade policial e sua aplicabilidade prática no policiamento ordinário, no confronto 
armado dentro e fora do serviço, bem como nas Ações Táticas Especiais. 
 Segundo a definição do professor Ricardo, Mentalidade Tática é “a capacidade 
que deve possuir o jogador de futsal, para analisar com rapidez as ações do jogo 
durante uma partida. Desta forma, poderá assumir responsabilidade de realizar gestos 
técnicos tanto quando tem a posse de bola ou não, tenha a sua equipe a posse ou 
não”. A importância desse conceito, no futsal, se deve ao fato de que, por conta das 
dimensões da quadra serem bem menores do que as de um campo de futebol, o jogo 
acontece de forma muito mais rápida, fazendo com que os jogadores não tenham 
muito tempo para pensar, precisam agir. Dessa forma, precisam realizar gestos 
técnicos que ajudem a atingir o objetivo do time, que é fazer gols e não tomar gols. 
Os jogadores precisam entender qual o posicionamento mais eficiente para receber 
ou passar a bola, num cenário que é extremamente dinâmico, que muda o tempo todo, 
onde uma interpretação errada pode significar a derrota. 
 Essa capacidade de compreender o jogo e estar preparado para atuar nele da 
forma mais eficiente possível é o que chamamos de “Mentalidade Tática”. Ao analisar 
 
8 
@fator3treinamento 
 
esse conceito do esporte, fiquei impressionado com o nível de semelhança com o que 
é exigido de um operador de segurança pública durante sua atividade. As ocorrências 
policiais são como os jogos de futsal, pois se desenrolam de forma muito rápida e 
exigem que o operador possua a capacidade de compreender tudo que está 
ocorrendo em fração de segundos e adote uma postura que salvaguarde sua vida, da 
sua equipe e da sociedade em geral. Essa é a Mentalidade Tática Policial. 
 Nas discussões sobre o conceito esportivo de Mentalidade Tática (Que alguns 
também chamam de “Leitura de jogo” ou “Leitura tática de jogo”), presentes não 
apenas no futsal, mas também no vôlei, basquete e até pôquer, é comum observarmos 
princípios a serem seguidos pelo jogador, com objetivo de ter mais eficiência na 
partida. No futsal, por exemplo, o professor Ricardo Pace fala em: 
 
1-Fazer sempre o mais fácil (vamos falar mais à frente sobre a importância dessa 
simplicidade) 
2- Assegurar o controle da bola 
3- Procurar as linhas diagonais de passe 
 
 Esses princípios possibilitam que o jogador tenha um comportamento mais 
eficiente durante a partida, além de permitir maiores oportunidades para quem possui 
a melhor “leitura do jogo”. Mas esse material não é sobre futsal. Precisamos entender 
como esse conceito influencia ou deveria influenciar nosso comportamento no serviço 
policial, bem como fora dele. 
 O grande diferencial da Mentalidade Tática Policial é o risco de morte envolvido 
em toda e qualquer ação, fazendo com que detalhes não percebidos ou até 
menosprezados pelas pessoas comuns tenham grande importância e caráter decisivo 
no desfecho de ocorrências. O operador de segurança precisa prever 
comportamentos, se posicionar de maneira favorável para mitigar riscos, fazer análise 
legal de suas ações, dominar as técnicas e táticas que irá aplicar, realizar um 
planejamento mínimo antes de agir, além de possuir a resiliência necessária para 
transpor os obstáculos que, sem dúvida, irão aparecer no desenrolar de suas ações. 
O número de demandas cognitivas é muito grande. Por esse motivo, é fundamental 
 
9 
@fator3treinamento 
 
seguir princípios e protocolos de atuação e treinamento, adequados à realidade, para 
reduzir o número de possibilidades de erro. Erro, na atividade policial, geralmente 
significa a morte do operador, de outras pessoas inocentes, ou a liberdade do infrator. 
 No que diz respeito ao treinamento, veremos que a estrutura e metodologias 
aplicadas no ambiente de formação dos operadores de segurança pública na maioria 
das vezes é inadequada ou completamente alienada da realidade operacional 
vivenciada posteriormente por esses profissionais. Seja por falta de investimento em 
capacitação ou por falta de pesquisa e desenvolvimento de uma metodologia eficiente 
de instrução, a verdade é que as instituições, não raramente, capacitam os 
operadores de forma equivocada, ensinando técnicas muitas vezes inúteis e deixando 
de ensinar técnicas que o operador utilizaria todos os dias. 
 A ciência tem ajudado as forças de segurança do mundo todo a treinar melhor 
e de forma mais eficiente, ajudando a entender quais são as necessidades do 
operador e como melhorar sua performance tática. As discussões sobre questões 
como a influência da visão de túnel e como ela deve ser considerada no treinamento, 
ou a respeito do ciclo cognitivo sob estresse e como simular esses fatores 
estressantes, como adquirir a memória muscular adequada e até como treinar a visão 
e capacidade de “ler” cenários com maior eficácia nos mostram o quanto a ciência 
pode ser um poderoso impulso para formas mais eficazes de capacitar. A seguir 
discutiremos algumas dessas temáticas de cunho teórico e sua relação prática com a 
Mentalidade Tática Policial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
@fator3treinamento 
 
2-CICLO O.O.D.A: OS ENSINAMENTOS DE BOYD 
 
 
Imagem 1: John Boyd Imagem 2: Ciclo OODA versão simplificada 
 
 
 O Ciclo O.O.D.A (acrônimo para: Observar, Orientar-se, Decidir e Agir), foi o 
resultado de uma vida de análises de um Piloto da Força Aérea Norte Americana 
chamado John Boyd. Ele foi piloto na guerra da Coréia e lá pode observar algo 
incomum no combate aéreo. Na época, os americanos utilizavam os F-86 Sabres, 
contra os MIG-15 Russo. Os MIG-15 eram extremamente superiores ao modelo 
americano. Eram mais rápidos, maiores e mais potentes. Mesmo com toda essa 
vantagem para os Russos, os pilotos Americanos alcançaram uma taxa de abate de 
10:1 contra os MIG-15, algo que despertou a curiosidade de Boyd. Ele analisou as 
táticas de combate utilizadas e verificou que a grande vantagem do F-86 estava na 
maior visibilidade que o piloto possuía, provocando uma maior “consciência 
situacional”, aliada com capacidade de manobra da aeronave de maneira menos 
cansativa. Essa análise inicial levou Boyd a uma série de estudos sobra tática de 
combate, estratégia de guerra e até o desenvolvimento de novos modelos de caça. 
 Durante sua vida profissional, Boyd organizou o que viria a ser conhecido como 
ciclo de Boyd, ou ciclo O.O.D.A. Ele percebeu que nosso pensamento funciona de 
maneira cíclica, em “loops”. Fazemos isso centenas de vezes todos os dias. Por 
Observar
OrientarDecidir
Agir
 
11 
@fator3treinamento 
 
exemplo: Quandoestamos em um local conhecido pela alta taxa de crimes e 
“observamos” dois homens em uma moto, passamos a entender (nos “orientamos”) 
que é provável que sejam assaltantes e “decidimos” entrar em um estabelecimento 
comercial com maior movimento, “agindo” assim com o objetivo de evitar o assalto. 
 Na maioria dos cursos e análises no Brasil sobre o ciclo O.O.D.A e sua 
utilização por profissionais de segurança pública dentro e fora de serviço, é falado que 
devemos realizar nosso ciclo de maneira mais rápida que o nosso adversário, pois 
quando fazemos isso obrigamos ele a reiniciar o próprio processo e obtemos 
vantagem tática sobre o oponente. Beleza, isso faz todo sentido, mas não nos diz 
tanto assim sobre nossas formas de treinar. Além do mais, a maioria das pessoas 
relaciona o ciclo O.O.D.A apenas com a necessidade de agir preventivamente (se eu 
não estiver no celular e estiver “observando” o ambiente, tenho vantagem sobre meu 
adversário na realização do ciclo O.O.D.A e vou conseguir entender o cenário de 
forma mais rápida), citando uma série de casos práticos que mostram como é 
importante estar atento ao que acontece ao redor, mas nem sempre isso explica uma 
série de problemas que experimentamos em ocorrências reais, como quando não 
percebemos algo que está na nossa frente, ou quando não ouvimos algo que está 
sendo gritado do nosso lado ou quando não conseguimos tomar certas atitudes 
racionais por conta de cargas emocionais relacionadas com o que está sendo visto. 
 A maioria das pessoas ignora as melhores análises de Boyd sobre o que ele 
chamou de “Grande O”, que é a “Orientação”. No esquema abaixo, temos a versão 
expandida e mais profunda do ciclo, mostrando os principais pilares que tornam a 
orientação algo complexo e multifatorial. 
 
 
12 
@fator3treinamento 
 
Imagem 3: Ciclo OODA versão expandida e traduzida. 
 
 De acordo com o gráfico, a herança genética, tradições culturais, experiências 
passadas, novas informações e capacidade de análise e síntese definem a forma 
como iremos entender as informações que chegam ao nosso cérebro através dos 
sentidos (principalmente a visão). Desde os antigos filósofos, existe a noção de que o 
que a gente vê pode ser totalmente diferente do que a gente entende. Ver é algo físico, 
resultado de estimulo luminoso no globo ocular que se transforma em estimulo elétrico 
e chega ao cérebro. Entender o que está sendo visto é algo psicológico, e os fatores 
que falamos acima e que estão no esquema de Boyd são espécie de filtros, lupas ou 
barreiras que alteram essa percepção a respeito do que foi visto. 
 A compreensão disso é vital para o operador que trabalha no patrulhamento 
tático, em blitz de trânsito, em unidades especiais que realizam resgate de reféns ou 
 
13 
@fator3treinamento 
 
agentes de segurança de qualquer atividade que lida diretamente com os riscos da 
imprevisibilidade. A forma como agimos está sujeita a influências específicas que nem 
sempre poderão ser identificadas facilmente por quem vai analisar essas ações 
(judiciário, imprensa, sociedade), e o operador precisa ser treinado de maneira 
adequada para compreender essas interferências e realizar um julgamento mais 
adequado sob forte estresse. 
 
CICLO O.O.D.A na prática: 
 
-Posicionamento em ambientes de acesso público (bares, lotéricas, restaurantes, 
farmácias): Para ter maior “Consciência situacional”, você deve ficar num local onde 
possa ver de maneira antecipada quem vai entrar no ambiente e quem já está dentro 
do ambiente. Quem Observa primeiro, consegue se Orientar antecipadamente e tem 
vantagem no tempo de Decisão para Agir. 
 
-Briefing de operações: Tenha consciência de que você não conseguirá decorar 
todas as informações passadas, então selecione as mais importantes e não defina 
elas como 100% corretas, pois frequentemente ocorrem enganos em levantamentos 
de dados e a interpretação incorreta pode levar a um erro de decisão por parte do 
operador. Se você será responsável por realizar o briefing de uma missão, tenha em 
mente que você já está familiarizado com os dados, mas os operadores que irão 
participar da missão talvez não estejam. Seu papel é proporcionar essa familiarização 
para que os operadores tenham segurança para operar. Alguns briefings precisam de 
alguns minutos, outros precisam de várias horas. Esteja atento a isso. 
Frequentemente o que faz missões darem errado são erros muito simples de 
percepção. 
 
-Informações do rádio: Diversos são os relatos em que informações são passadas 
de maneira equivocada no rádio, fazendo com que os operadores decidam as 
próximas ações com base em uma premissa falsa. Ter em mente que a informação 
pode não ser verdadeira ou completa permitirá que o operador interprete com maior 
 
14 
@fator3treinamento 
 
eficácia as novas informações que serão apresentadas durante o decorrer da ação. 
Isso reduzirá as chances de erro na ação policial. 
 
-“A previsibilidade do imprevisível é previsível”: Essa frase era dita por um 
instrutor meu na Academia de Policia Militar da Bahia e deve ser levada sempre em 
consideração por todos que trabalham na segurança pública. Muitos operadores 
trabalham como se nada de anormal fosse acontecer no seu serviço, tendo em vista 
que já tiraram vários serviços semelhantes e nada ocorreu. Esse operador inclusive 
mantém uma rotina de preparação que considera apenas os fatos que se repetem em 
sua atividade, mas ignora completamente as possibilidades reais, porém pouco 
frequentes. O problema disso é que a natureza da atividade policial está na 
capacidade de agir em situação de ANORMALIDADE. Então, é previsível que em 
algum momento o operador será cobrado para que tenha performance adequada em 
situações críticas. Mentalizar e estabelecer planos de ação para essas situações 
pouco frequentes mas prováveis é fundamental e está totalmente relacionado com o 
conceito do ciclo OODA. 
 
-Quebre o ciclo OODA do adversário: Para obter vantagem tática é fundamental 
quebrar o ciclo OODA do adversário. Quem nunca presenciou uma cena do cotidiano 
em que alguém faz algo totalmente inesperado e as pessoas em volta demoram a 
reagir, pois não esperavam aquela atitude e precisam avaliar a reação diante de um 
estimulo novo? Diversas são as técnicas pautadas no objetivo de quebrar o ciclo 
OODA, como a utilização de granadas na entrada tática, cargas de distração e até o 
princípio da “Surpresa” que aprendemos nas aulas sobre abordagem policial. Toda 
pessoa que é confrontada com um estimulo novo demora mais a reagir, e isso fornece 
maior segurança para ação policial. 
 
- A experiência: Ela é fundamental para obter repertório profissional, que possibilita 
o desenvolvimento da capacidade de identificar padrões com maior facilidade. Isso 
permitirá que o operador consiga atuar com maior segurança e eficácia. Nem todas 
as pessoas absorvem da mesma forma o aprendizado promovido pela experiência e 
 
15 
@fator3treinamento 
 
as experiências profissionais podem ter intensidades diferentes. Isso significa que a 
experiência não se mede pelo tempo que a pessoa está em uma profissão, mas pela 
intensidade das experiências que teve e o quanto de aprendizado ela conseguiu 
extrair disso. Boyd identificou como fundamental o repertório de vida e capacidade de 
analisar informações e identificar padrões para o entendimento do que está 
acontecendo. 
 
- Ver é fundamental: A maior fonte de informação sensorial vem da visão. O que foi 
visto será confrontado com o que foi ouvido, com o que o sujeito conhece sobre o que 
foi visto e o que essas coisas significam. Logo, é importante sempre garantir boa 
visualização. Tenha lanterna sempre disponível, mesmo no serviço durante o dia. Em 
alguns momentos é importante ver e ser visto, em outros é importante não ser visto 
(para quebrar o ciclo OODA adversário). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
@fator3treinamento3-FRICÇÕES DE GUERRA: OS ENSINAMENTOS DE 
CLAUSEWITZ 
 
Imagem 4: Capa do livro On War, de Clausewitz 
 
 No meio policial existem expressões do tipo: “só sabe como é quem está na 
rua”, “Na área (ambiente operacional) é diferente”, “Fulano não sabe comandar pois 
nunca trabalhou na rua”. Essas frases são estimuladas por uma cultura específica, 
porém, trazem consigo uma verdade tratada por teóricos de guerra, grandes líderes 
militares, psicólogos e instrutores policiais de várias partes do mundo: Só entende as 
particularidades do ambiente operacional quem tem experiência nesse ambiente! Nós 
chamamos essas particularidades de “Fricções”. 
 O conceito de Fricção foi amplamente descrito por Clausewitz, General do 
Reino da Prússia no final do século XVIII, início do século XIX. Ele escreveu um 
clássico sobre estratégia de guerra chamado “Da Guerra”, onde dedica um capítulo 
para descrever o que seriam essas fricções que tanto interferem no resultado das 
 
17 
@fator3treinamento 
 
batalhas e que devem ser encaradas com seriedade pelo comandante de uma força 
militar. 
 Em resumo, fricção é o que distingue a guerra no papel da guerra de verdade. 
É a diferença entre pensar e fazer. Só consegue compreender o valor de considerar 
as fricções em um planejamento aqueles que possuem experiência com elas. Na 
época em que o livro foi escrito, uma das fricções que mais atrapalhavam os 
resultados das batalhas era o tempo. Para quem nunca esteve em uma batalha não 
seria simples de entender o quanto uma chuva podia mudar o resultado de uma 
guerra, mas quem vivenciou as fricções e deu a devida importância a elas, esteve em 
vantagem na batalha. Será que esses conceitos de guerra do início do século XIX 
servem para analisar e criticar as formas de operar e de treinar para atuação tática 
nas demandas de segurança pública atuais? 
 A resposta é sim. Os tipos de fricções mudaram mas continuam sendo de 
extrema importância para uma intervenção eficiente na resolução de conflitos, 
execução de operações policiais e sobrevivência no confronto armado. Quem nunca 
esteve envolvido em operações policiais de alto risco não compreende com facilidade 
a importância de ter um objetivo de missão bem definido, comunicação eficiente, 
realizar checagem de abandono, briefing detalhado, estar preparado para lidar com 
alterações no plano e compreender o que é sucesso e o que é fracasso no ambiente 
operacional. 
 Quem elabora planos complexos para uma ação operacional, geralmente, é 
quem possui pouca experiência nisso. O treinamento deve proporcionar ao máximo a 
aproximação do operador com o maior número possível de fricções, objetivando o 
fortalecimento de mapas mentais eficientes, que provoquem uma resposta mais 
rápida do operador, diante da situação inusitada. Ninguém treina a possibilidade de 
escorregar, de não conseguir romper o cadeado para a entrada tática, da 
comunicação falhar de maneira repentina. O treinamento precisa ser próximo da 
realidade. 
 Quando o operador não sabe lidar direito com as fricções, ele pode acabar 
entrando no que o autor Gary Klugiewicz chama de “Fixação tática”, que é quando 
 
 
18 
@fator3treinamento 
 
nosso cognitivo esbarra com um problema, mas não tem capacidade de resolver de 
outra forma que não seja a que já tentou e não funcionou. Exemplo: um membro da 
equipe tática, responsável por fazer a abertura de uma porta com aríete, entende que 
o plano é bater o mais forte possível em um ponto e então provocar a abertura da 
porta. Quando começa ele percebe que a porta possui uma série de treliças de 
contenção, além de ser feita de um material extremamente resistente, ou seja, não 
será possível provocar a abertura da porta com aquele aríete, porém, o operador 
continua batendo indefinidamente, sem nem ao menos variar a posição do ataque. 
 Isso ocorre pelo fato de que, no momento de tensão, segundo o autor, 
perdemos boa parte da capacidade adaptativa para traçar outros planejamentos e 
propor uma nova solução para o problema. Como não foi considerada a possibilidade 
de a porta não abrir, o operador não consegue se afastar da ideia que foi treinada ou 
decidida antes de operação. 
 Você já parou para pensar que as barras anti-pânico da saída de emergência 
do cinema são feitas daquela maneira pelo mesmo motivo? 
 Com relação ao treinamento, as instituições falham frequentemente em não 
conseguir oferecer o ambiente de instrução mais próximo possível da realidade, seja 
por questões logísticas e de baixo investimento, ou para garantir a segurança da 
instrução, já que o ambiente operacional real é extremamente arriscado. Algumas 
situações são até mais fáceis de contornar, como o treinamento em casas mobiliadas 
ao invés de casas vazias de instrução. O treinamento com uso de airsoft ou paintball 
são soluções que também fornecem uma experiência mais rica em termos de fricção 
e proporcionam melhor aprendizado e em menor tempo, devido à importância da 
“Inoculação de estresse” para o aprendizado tático. 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
@fator3treinamento 
 
4- RELAÇÃO ENTRE ESTRESSE E PERFORMANCE 
 
 Quando comecei a estudar com maior profundidade a estrutura do treinamento 
tático e suas consequências para a atividade de segurança pública, me chamaram a 
atenção os trabalhos do Psicólogo e Oficial do Exército americano Dave Grossman. 
O nível de praticidade e importância acadêmica e operacional dos comentários 
contidos em seus livros são assustadoramente notáveis, porém pouco incrementados 
aos processos de ensino para forças policiais no Brasil. Em uma de suas 
constatações, que reuniu diversas pesquisas corroborando sua conclusão, o autor nos 
apresenta o Gráfico abaixo, que relaciona estresse e performance: 
Imagem 5: Gráfico proposto por Grossman no livro “On Combat”. 
 
 
20 
@fator3treinamento 
 
 Ele é a junção do tradicional modelo de U invertido da curva de tensão x 
performance com os trabalhos sobre os níveis de tensão e suas consequências 
fisiológicas, que resultaram no modelo de cores que se tornou famoso através da 
difusão desse modelo pelo coronel Jeff Cooper. É de suma importância compreender 
de forma antecipada (sem precisar ter passado por situações críticas) como a tensão 
de uma ocorrência pode mudar o rendimento e a capacidade de pensar e de agir. 
 As cores, de acordo com Cooper, representam os estados da mente, onde, na 
condição BRANCA, o indivíduo está completamente relaxado e vulnerável. Na 
condição AMARELA o indivíduo está calmo, porém alerta ao que ocorre ao seu redor, 
com ritmo cardíaco maior que na condição branca. A condição amarela é a que deve 
se encontrar todo policial durante seu período de serviço. A condição VERMELHA é 
relacionada ao momento da intervenção em uma ocorrência crítica, uma vez que o 
ritmo cardíaco vai estar ainda mais elevado, uma série de hormônios entram em ação 
e o indivíduo estará em sua capacidade máxima de performance para sobreviver 
(lutando ou fugindo). Após a condição vermelha, os estudos mostram que os 
indivíduos comuns perdem rendimento de maneira proporcional ao aumento do ritmo 
cardíaco provocado pela tensão. Foram acrescentadas então a condição CINZA e 
PRETA, que detalham esses problemas e o quanto isso pode interferir no resultado 
de operações de alto risco e confronto armado fora do serviço. 
 O grande destaque das observações de Dave Grossman, no entanto, é 
entender as cores como uma representação não apenas de um estado da mente (algo 
que escolhemos) mas uma sólida consequência fisiológica e psicológica da elevação 
do ritmo cardíaco mediante tensão. Podemos estar em uma viatura, numa situação 
calma, ao lado de uma pessoa que já está passando da condição vermelha para a 
condição cinza. Temos que entender também que esses estágios acarretam em 
alterações perceptuais nos sentidos (falaremos disso mais a frente) e que isso precisa 
ser amplamente consideradodurante o treinamento. 
 A última e mais importante observação é a respeito da linha pontilhada do 
gráfico, mostrando uma extensão do pico de performance até a condição cinza. Essa 
 
 
 
21 
@fator3treinamento 
 
linha pontilhada se refere aos profissionais de ALTO RENDIMENTO, ou seja, 
profissionais que treinaram tanto que conseguem se manter no pico de performance 
 
mesmo com toda a carga de tensão da condição cinza, em que efeitos psicológicos 
como o de “piloto automático”, em que a pessoa não pensa sobre o que está fazendo, 
agem no indivíduo, mas o seu treinamento foi tão intenso que ele simplesmente 
consegue fazer o que treinou sem pensar! Sim, isso existe! 
 Aí reside a motivação pela qual devemos levar a sério a forma como instruímos 
e o quanto investimos em capacitação, evitando formar operadores que não 
compreendem as próprias limitações e que acham que desenvolveram uma 
determinada habilidade por ter praticado algumas vezes. 
 
5-TEORIA DA SIMPLICIDADE TÁTICA 
 
 Leo Frankowski é um brilhante engenheiro com várias patentes e muitos 
livros de ficção científica em seu nome. Ele e eu colaboramos em várias 
obras militares de ficção científica. Ele diz que, “nas paredes dos 
vestiários dos engenheiros, você encontrará uma placa onde se lê ‘KISS!’ 
Quando alguém pergunta do que se trata, lhe dizem que significa “Keep It 
Simple Stupid” (Que em tradução livre pode ser interpretado como “não 
complique seu estúpido!” Esta regra fundamental também se aplica no 
treinamento e preparação de guerreiros para o combate. (Grossman, 
Dave. On Combat, p. 27) 
 
 Mesmo com quase todos os seriados policiais tentando mostrar o contrário, a 
simplicidade sempre foi o maior vetor de sucesso, mesmo para as ações mais 
audaciosas já vistas, em termos táticos. Quem já participou de uma operação policial, 
com ou sem confronto armado, vai entender e concordar com a importância da 
simplicidade e com o poder que a tensão das ocorrências tem de complicar as coisas 
 
22 
@fator3treinamento 
 
e fazer elas darem errado para quem não se preparou para situações absurdamente 
obvias. 
 A atuação policial é extremamente complexa por si só, pois precisamos tomar 
decisões vitais em segundos, com consequências muito sérias para a sociedade e 
para a integridade física do próprio operador. Além disso, o policial precisa dominar o 
uso de uma série de equipamentos que podem estar disponíveis para o seu trabalho, 
como armas de fogo, instrumentos de menor potencial ofensivo, equipamento 
radiotransmissor, dentre outros. A demanda de treinamento específico é gigantesca, 
uma vez que o policial precisa estar preparado para fazer uso de cada instrumento e 
equipamento, de forma rápida, precisa, sob grande tensão e realizando análises 
jurídicas sob pena de ser responsabilizado pelo abuso de sua autoridade, excesso no 
uso da força ou pela omissão de dever agir. 
 O psicólogo experimental William Edmund Hick, em 1952, pesquisou e 
escreveu sobre um assunto que ficaria conhecido posteriormente como “lei de Hick”, 
em seu trabalho, ele analisou o tempo de tomada de decisão mediante o número de 
escolhas apresentadas como opção. Com isso, ele chegou à conclusão de que ao 
aumentar o número de opções de uma para duas, o tempo de resposta sobe mais de 
50%, de maneira logarítmica. Esse tempo de resposta é chamado de “taxa de ganho 
de informação”. 
 Algumas questões interferem nesse tempo de resposta e a principal delas é o 
estímulo ser conhecido ou não, pois estímulos conhecidos geram respostas mais 
rápidas, e é aí que precisamos trazer essas noções da ciência para nossa realidade 
da atuação tática e metodologia de treinamento, pois precisamos refletir sobre a 
relação entre carga horária e conteúdo ministrado para desenvolver uma nova 
habilidade. 
 Algo que sempre observei nas instruções de tiro que ministrei formalmente pela 
instituição nos cursos de formação é que dificilmente o aluno saía preparado para 
solucionar uma pane de tiro, simplesmente pelo fato de que passávamos mais de uma 
forma de solucionar a pane e não havia tempo para simular essas panes e transformar 
o estímulo em algo conhecido, além do aluno ser bombardeado com várias opções, 
 
 
23 
@fator3treinamento 
 
que iriam demandar maior tempo para uma resposta adequada no cenário real. Quem 
planeja e/ou executa operações táticas, tanto de cunho convencional quanto de ações 
táticas especiais, consegue perceber com maior facilidade quais são as fricções 
envolvidas em cada situação e como se preparar melhor para isso. 
 Outro aspecto a ser observado é sobre a simplicidade da orientação aos 
operadores que participarão da ação, a respeito do que devem fazer e qual objetivo 
deve ser atingido. Para isso faço referência ao trabalho dos pesquisadores Franklin 
Henry e Donald Rogers, que em 1960 verificaram em suas pesquisas que aumentar 
o número de tarefas aumenta também o tempo de execução da primeira tarefa. Você 
pode estar achando que isso parece bem óbvio, mas deixa eu explicar de outra forma. 
Eles mediram o tempo em que uma pessoa levava para cumprir uma tarefa simples 
(acender uma luz), depois adicionaram outras tarefas e mediram novamente o tempo 
que essa mesma pessoa levava para cumprir as tarefas, porém só estava sendo 
analisado o tempo levado para a primeira tarefa, que não tinha mudado. Pelo fato de 
ter outra tarefa para executar após acender a luz, a pessoa demorava mais para 
acender. Isso nos mostra o motivo pelo qual precisamos ser objetivos nas orientações, 
de modo a exigir o mínimo possível do cognitivo do operador com questões 
desnecessárias à compreensão da tarefa dele e do objetivo da missão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
@fator3treinamento 
 
6-ESTÁGIOS DE COMPETÊNCIA: 
 
 Desenvolver uma nova habilidade definitivamente é um processo. Não 
acontece da noite para o dia, ainda mais quando essa habilidade envolve o manuseio 
de equipamentos específicos, sob forte estresse, em situação de risco real. Quando 
estou preparando minhas instruções, sempre recorro à análise do meu próprio 
processo de aprendizagem durante a carreira (pois me considero uma pessoa com 
capacidade cognitiva na média da sociedade) para poder definir o tempo mais 
adequado para passar certos conhecimentos e poder avaliar se o aluno está tendo o 
rendimento esperado no aprendizado daquela habilidade. 
 Um exemplo prático foram as minhas experiências com a espingarda Gauge 
12. Tive o primeiro contato no manuseio dessa arma durante o Curso de Formação 
de Oficiais, na Bahia em 2009, porém nunca disparei com ela durante o curso. Tive 
contato novamente em 2011 durante estágio realizado na Companhia de Policiamento 
Especializado de Caatinga, onde me perguntaram se eu era habilitado para utilizar a 
arma e eu afirmei que não, pois nunca havia disparado e o tempo que tive de instrução 
não foi suficiente. Após alguma instrução e alguns disparos me senti apto para utilizar 
naquele momento. 
 Depois dessa experiência só fui ter contato com a arma novamente no final de 
2012, na Instrução de Nivelamento de Conhecimento da Força Nacional de Segurança 
Pública, onde mais uma vez aleguei que não me sentia seguro para fazer o uso da 
arma e pedi por mais instrução. Finalmente, em 2013, realizei o curso de Operações 
de Controle de Distúrbios, ministrado pela PRF no Rio de Janeiro, onde a habilidade 
no manuseio da espingarda era bastante cobrado. Ainda assim, depois de todas essas 
experiências de aprendizagem, o instrutor percebeu que eu não era extremamente 
familiarizado com a arma e me deu algumas dicas e pude treinar bastante durante as 
atividades de instrução e avaliação. 
 Onde quero chegar com tudo isso? Quero simplesmente afirmar que 
desenvolver uma habilidade leva certo tempo e que uma nova habilidade atrofia muito 
mais rápido que outra que foi sedimentada por mais tempo. Outra conclusão seria25 
@fator3treinamento 
 
sobre a necessidade de elencar quais habilidades são mais importantes para poder 
investir maior carga horária nelas. Não adianta querer habilitar um aluno para utilizar 
todas as armas da instituição se para isso eu acabar prejudicando o processo de 
aprendizagem dele para o uso da pistola, sendo que a pistola será utilizada por todos 
os policiais em todos os serviços e as outras armas não. 
 Autores de diversas áreas conexas à tática policial, psicologia do combate, tiro 
tático, Programação Neurolinguistica e Neuropsicologia citam o conceito dos níveis 
de competência para explicar de forma simplificada como funciona esse processo de 
aprendizagem. Dentre os autores temos: Joseph O’Connor (2012), Dave Grossman 
(2008), Pellegrini (2018). A teoria é atribuída originalmente ao autor Noel Burch (1970) 
mas frequentemente associada ao psicólogo Abraham Maslow, o mesmo que 
desenvolveu a famosa pirâmide das necessidades de Maslow. Para resumir a história, 
os estágios de competência são quatro: 
 
Incompetência Inconsciente: O operador não sabe e não sabe que não sabe. É o 
nível mais perigoso pois muitas vezes o operador não compreende que precisa 
desenvolver certa habilidade pois ainda não se tornou consciente da própria 
incompetência. 
Incompetência Consciente: Nesse estágio o operador começou a praticar 
determinada habilidade e percebeu que precisa treinar muito ainda para dominá-la. 
Ele entendeu que não sabe algo. Isso é muito bom para o manuseio de qualquer 
material potencialmente lesivo, pois o operador ao menos já se dá conta dos riscos 
envolvidos e age com maior prudência. 
Competência Consciente: Nesse estágio o operador já possui pleno domínio da 
nova habilidade, mas ainda precisa investir seu cognitivo consciente para executar a 
habilidade de forma correta. 
Competência Inconsciente: Esse é o estágio almejado por todos para qualquer 
habilidade. Esse estágio significa que você dominou e treinou de tal forma que não é 
mais necessário pensar em como fazer, o processo é automático e intuitivo. O 
operador faz sem pensar e irá conseguir fazer sob forte tensão. 
 
 
26 
@fator3treinamento 
 
 Um autor adiciona ainda o estágio de Maestria, onde poucos indivíduos 
conseguem chegar e que transcende a competência inconsciente, permitindo que o 
indivíduo execute uma determinada habilidade em altíssimo nível de rendimento e 
perfeição, fazendo parecer algo fácil aos olhos alheios. Outro Autor relaciona uma 
carga horária média de treinamento para atingir cada nível de competência já descrito, 
ficando a relação como mostra o quadro abaixo: 
 
 
NÍVEL DE COMPETÊNCIA CARGA HORÁRIA 
Incompetência Inconsciente ------------ 
Incompetência Consciente ------------ 
Competência Consciente 1.000 horas 
Competência Inconsciente 5.000 horas 
Maestria 25.000 horas 
 
 O estágio de Incompetência Inconsciente é associado geralmente ao indivíduo 
que nunca teve contato com o treinamento para desenvolver determinada habilidade, 
então não consegue nem ao menos compreender se aquilo é algo difícil de fazer ou 
não. Porém, devemos fazer uma referência ao treinamento de tiro policial, em que 
isso se observa em diversos operadores, que tem contato apenas com o tiro estático 
e entende que foi capacitado para o “tiro policial”. Esse operador não sabe atirar sob 
as condições de uma ocorrência policial e ainda não sabe disso. Entendo que esse 
seja o maior risco operacional que as instituições policiais passam hoje em dia: 
Formam operadores para uma atividade, afirmando que estão formando para outra 
completamente diferente. 
 
 
 
 
 
27 
@fator3treinamento 
 
7-INOCULAÇÃO DE ESTRESSE 
 
 “O General Barry McCaffrey (melhor conhecido como o Czar da Droga durante 
a administração Clinton) contou uma história a um grupo de cadetes de West Point 
sobre suas experiências no Vietnã que exemplificam muito bem sobre o que se trata 
a inoculação do estresse. Um dia ele e um amigo (um colega da Escola de RANGERS 
de West Point) estavam no Vietnã deitados atrás de um arrozal quando balas 
passaram por cima de suas cabeças. No pique da batalha, o amigo do General se 
virou para ele e disse, “Que inferno, pelo menos nós não estamos na escola de 
RANGERS” (Grossman, Dave. On Combat. 2008, p. 125) 
 
 O termo “Inoculação” foi inserido por Dave Grossman em seus trabalhos, 
porém, seu conceito encontra correspondência com diversos termos explanados por 
outros autores e que tratam basicamente da mesma coisa. A ideia é bastante simples, 
mas com muito suporte de pesquisa realizada por psicólogos e instrutores militares e 
policiais. Inoculação de estresse é uma ferramenta pedagógica, onde o indivíduo deve 
ser submetido a situações que elevem a tensão, durante o seu treinamento, com 
objetivo de deixa-lo preparado para o que vai encontrar na situação real. 
 A inoculação de estresse, durante o treinamento, vai aproximar o operador das 
fricções da situação real, onde os disparos são reais, os alvos se movimentam, o 
operador tem exclusão auditiva, visão de túnel, perde capacidade motora complexa, 
entra em “piloto automático”, dentre outras situações. Quando o operador é exposto 
no treinamento ao que vai sentir na situação real, ele corresponde melhor e fica 
habilitado para lidar de forma mais eficiente com esses problemas. 
 Uma pesquisa foi realizada nos Estados Unidos com ratos para entender como 
funciona a inoculação de estresse. Eles foram separados em três grupos distintos e 
fizeram o seguinte: Pegaram o primeiro grupo de ratos e jogaram todos dentro de uma 
banheira cheia de água e esperaram para saber em quanto tempo os ratos morreriam 
afogados. Levou 60 horas para que parassem de se debater e morressem afogados. 
 
28 
@fator3treinamento 
 
Depois disso pegaram o segundo grupo e penduraram de cabeça para baixo, gerando 
altíssima tensão e fazendo com que se agitassem em grande desespero e esperaram 
até que parassem de se mover. Quando desistiram de lutar contra aquela condição e 
ficaram imóveis, foram então colocados dentro da banheira cheia de água e foi 
marcado o tempo que levavam para morrer afogados. Levou apenas 20 minutos. Eles 
foram expostos a uma situação de extrema tensão pela primeira vez e logo após 
tiveram que lutar por suas vidas. A tensão os levou a desistir de lutar, pois não sabiam 
que era possível lutar e sobreviver. 
 O terceiro grupo também foi colocado de cabeça para baixo, mas depois de 
certo tempo foram retirados e colocados na gaiola novamente. Isso foi repetido 
diversas vezes e só depois os ratos foram colocados também na banheira. Dessa vez 
os ratos passaram as 60 horas e ainda não haviam se afogado. A diferença é que 
esses ratos receberam inoculação de estresse, de forma repetida, nas vezes que 
foram colocados de cabeça para baixo, porém sempre ficavam vivos após isso. 
Quando foram colocados na banheira ficaram por mais tempo lutando para não morrer 
afogados, condicionados para lutar e sobreviver. 
 Muitas pessoas criticam o formato pedagógico doutrinário dos cursos de 
formação de unidades especiais militares em vários lugares do mundo. Levar o aluno 
ao limite do cansaço físico e mental, estabelecer tensão constante, seja através de 
diversas avaliações, seja na exposição do aluno aos seus maiores medos, ou 
colocando o aluno em situações aparentemente de humilhação ou degradação moral, 
são algumas das ferramentas duramente criticadas por pessoas alheias à realidade 
operacional de alto risco. 
 Esses cursos, extremamente rígidos, são os melhores inoculadores de estresse 
de combate, preparando com maior eficácia o operador para a realidade que ele irá 
enfrentar. Outro tipo de inoculação de estresse frequentemente observado em cursos 
de formação policial militar é o papel do chefe de turma ou “Xerife”. Nos ambientes de 
formação, o “Xerife”, como é chamado o aluno escolhido para estar à frente da turmadurante certo período de tempo, é sempre bombardeado de responsabilidades e 
cobrado por todas elas de maneira enérgica, precisando tomar decisões rápidas, 
criativas e eficientes, de modo que essa pressão estabelecida de forma pedagógica 
 
29 
@fator3treinamento 
 
possibilitará que o mesmo consiga reagir adequadamente em momentos de tensão e 
consiga tomar decisões no ambiente operacional. 
 É fundamental que a capacitação exija do operador a utilização, sob tensão, 
das mais diversas técnicas aprendidas durante as atividades acadêmicas, uma vez 
que essas técnicas só terão serventia se o operador conseguir utilizá-las nessas 
condições. Não adianta saber como empunhar uma arma, saber disparar, se no 
momento da ocorrência o operador deixar de fazer isso por nervosismo, medo ou outro 
motivo que poderia ter sido descoberto e trabalhado durante o treinamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
@fator3treinamento 
 
8-DISTORÇÕES PERCEPTUAIS 
 
 Para entender melhor sobre os fenômenos psicológicos durante momentos de 
extrema tensão, a Dra. Alexis Artwohl realizou pesquisa com 141 oficiais de polícia 
que haviam se envolvido em confronto armado. Os resultados foram importantes para 
desmistificar um pouco do efeito dos filmes de hollywood no imaginário da população 
e de boa parte dos operadores, trazendo-os para a realidade e destacando questões 
que tornam muitos treinamentos inúteis ou inadequados, mas dando sentido a outros 
treinamentos que os instrutores utilizam faz tempo, às vezes até sem saber o 
verdadeiro motivo. Sob forte tensão, não conseguimos ouvir direito, não conseguimos 
ver direito, e muitas vezes não conseguimos simplesmente pensar. O quadro abaixo 
organiza de forma simplificada e com o percentual de operadores que apresentaram 
cada tipo de distorção perceptual. 
 
DISTORÇÕES DE PERCEPÇÃO EM COMBATE 
FONTE: DEADLY FORCE ENCOUNTERS, POR DRA. ALEXIS ARTWOHL E LOREN 
CHRISTENSEN, BASEADO NA PESQUISA COM 141 OFICIAIS 
% TIPO DE DISTORÇÃO 
85 DIMINUÍRAM A PERCEPÇÃO DO SOM (EXCLUSÃO AUDITIVA) 
16 INTENSIFICARAM A PERCEPÇÃO DO SOM 
80 VISÃO DE TÚNEL 
74 PILOTO AUTOMÁTICO 
72 AUMENTARAM A CLARIDADE VISUAL 
65 TEMPO DE MOVIMENTO LENTO 
7 PARALISIA TEMPORÁRIA 
51 PERDA DE MEMÓRIA PARA PARTES DO EVENTO 
47 PERDA DE MEMÓRIA PARA ALGUMAS DE SUAS AÇÕES 
40 DISSOCIAÇÃO (SEPARAÇÃO) 
26 PENSAMENTOS DISTRAÍDOS INTRUSIVOS 
22 DISTORÇÃO DE MEMÓRIA 
16 TEMPO DE MOVIMENTO RÁPIDO 
 
31 
@fator3treinamento 
 
 Essas distorções possuem TOTAL relação com o gráfico de estresse e 
performance que discutimos anteriormente. São efeitos físicos e psicológicos 
resultantes do aumento do ritmo cardíaco, provocado pela tensão da ocorrência. De 
acordo com isso, podemos entender a importância de exercícios de memória muscular 
que favoreçam o escaneamento do ambiente, checagem da arma de fogo, 
conhecimento prévio de onde está localizado cada carregador de pistola ou arma 
longa e formas de comunicação visual como linguagem das armas. Devemos fazer 
com que o treinamento desafogue o nosso cognitivo, deixando ele livre para as 
fricções especificas da ocorrência. 
 
9- PRINCÍPIO DE PARETO 
 
 Também chamado de regra do 80/20 ou lei dos poucos vitais, o princípio foi 
sugerido por Joseph Moses, que deu o nome em homenagem ao economista Vilfredo 
Pareto, que, no século 19, observou em seu jardim que 80% das ervilhas eram 
produzidas por apenas 20% das vagens. Ele observou a distribuição de terras na Itália 
e verificou a mesma proporção, onde 80% das terras pertenciam a apenas 20% das 
famílias. Esse princípio então passou a ser aplicado em diversas áreas do 
conhecimento, como uma espécie de regra da tumba. O princípio de Pareto, em 
síntese, afirma de 80% das consequências são efetivadas por 20% das causas. 
 Trazendo para a questão tática, o princípio de Pareto deve ser considerado 
com seriedade em nossos treinamentos, uma vez que em breve análise, percebemos 
que 80% dos problemas de desempenho tático são causados por 20% dos erros, bem 
como 20% das técnicas são utilizadas em 80% das situações. Se juntarmos o princípio 
de Pareto com a lei da simplicidade tática de Hick, veremos que é mais valioso treinar 
poucas técnicas e as técnicas mais utilizadas na realidade do operador, ou treinar um 
procedimento que resulta em uma solução mais abrangente. Caso clássico seria a 
solução de panes em armas curtas. Outro exemplo prático seria o treino de 
fundamentos de tiro, onde é possível observar que apenas dois ou três erros 
(antecipação do recuo, esmagamento incorreto do gatilho e pouca força na mão de 
suporte) atingem cerca de 80% dos atiradores, sendo muito mais produtivo dedicar 
 
32 
@fator3treinamento 
 
mais tempo a esses fundamentos do que aos outros, que possuem pouca interferência 
estatística na qualidade dos disparos. 
 É fundamental compreender quais habilidades geram mais resultados na 
atuação profissional e quais falhas são mais recorrentes, para que o esforço de 
qualificação seja mais eficiente, principalmente na distribuição de carga horária e 
elaboração de ementas dos componentes curriculares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mas, como deve ser a estrutura desse 
treinamento, então? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
@fator3treinamento 
 
10- AS QUATRO ETAPAS DO TREINAMENTO DE ALTO 
RENDIMENTO 
 
“Todo exercício tático ajuda em alguma coisa e atrapalha em 
outra. É fundamental entender o que está sendo treinado e por 
que” (Irlan Calaça) 
 
 Uma metodologia eficiente de treino tático deverá contemplar a capacidade de 
criação de uma memória muscular eficiente e um mapa cognitivo bem definido, para 
que, sob estresse, o consciente cognitivo esteja livre para lidar com as fricções que 
tornam cada ocorrência um evento singular. 
 Apesar de uma infinidade de técnicas, doutrinas e cursos de especialização 
tática existentes no Brasil, o estudo metodológico do treinamento tático é quase 
inexistente, fazendo com que as várias formas de treinar sejam analisadas como 
sistemas fechados e independentes entre si, corroborando ainda para a limitação do 
aprendizado e aplicação dos conhecimentos na prática. 
 Outra situação recorrente é o fato de diversos instrutores ensinarem técnicas e 
aplicarem metodologias de treino de forma consuetudinária, apenas por que 
aprenderam daquela forma em seus cursos e não aplicam filtros críticos para analisar 
se aquele método ou aquela técnica serve para sua atividade. Não é incomum 
observar instrutores que ensinam técnicas que dizem respeito a uma atividade que 
não executam, transmitindo assim uma visão procedimental alienada da realidade. 
 O objetivo desse tópico é tentar identificar a estrutura primária de todo e 
qualquer treinamento tático, observando os objetivos de cada forma de treinar, suas 
limitações como ferramenta pedagógica, o papel do instrutor no uso da ferramenta, 
além de orientar o usuário do treinamento para possibilitar melhor aproveitamento do 
tempo investido em instrução. 
 Basicamente, todas as metodologias atuais de treino tático (pensadas 
realmente como metodologia ou não) compreendem a utilização, em maior ou menor 
 
 
34 
@fator3treinamento 
 
escala, das mesmas ferramentas, que tive a ousadia de organizar em uma proposta 
de “Estrutura Geral do Treino Tático” que irei definir agora de maneira resumida: 
 
 
 
Imagem 6: Esquema gráfico da estrutura do treino tático 
 
10.1-CRIAÇÃO DE MEMÓRIA MUSCULAR: 
 
 A criação de memória muscular das ações táticas é a forma mais elementar e 
fundamental de desenvolver uma habilidade neuromotora específica, sendo obtida 
através de repetição dos movimentos, com correção. Marcel Pellegrini e Edimar 
Moraes, ex-operadores do Comando de Operações Táticas da Policia Federal e 
instrutores de tiro, no livro “Tiro de combate Pistola: Fundamentos e 
Habilidades”(2017) citam o trabalho de Richard A. Schmidt, que emsua obra “Motor 
Learning and Performance” (2013) estipula a necessidade de cerca de 300 a 500 
repetições de um movimento correto para o estabelecimento de uma nova memória 
Treinamento 
Tático
Memória 
muscular
Treino 
Cognitivo
Protocolo 
Doutrinário
Realidade 
Simulada
 
35 
@fator3treinamento 
 
muscular. Já para a conversão de uma memória muscular incorreta sedimentada 
seriam necessárias de 3 mil a 5 mil repetições com correção. Essa informação nos 
mostra o quanto é trabalhoso consertar algo que foi aprendido errado. 
 Quanto mais repetimos e corrigimos determinado movimento, aumentamos a 
previsibilidade do resultado dele, sedimentando uma trilha cognitiva que aumentará a 
possibilidade do resultado satisfatório no momento de tensão. Por esse mesmo 
motivo, é primordial existir a correção, uma vez que a repetição de movimento 
inadequado fará com que ele seja reproduzido, mesmo que o erro seja consciente, 
provocado por falta de estrutura de treinamento ou algo similar (ex: treinar 
procedimentos de abordagem fingindo estar com uma arma ou treinar tiro com a 
realização de apenas dois disparos em cada alvo) 
 
Exemplos de treino de memória muscular: 
 
-Saque da arma, apresentação da arma, deslocamento, giro estacionário, posições 
de tiro, varredura, solução de panes de tiro, uso da bandoleira, recarga do armamento, 
dentre outros! 
 
Exemplos de metodologia específica de treino de memória muscular para ações 
táticas: 
-Método R.A.I.O (Desenvolvido em 2008 por Policiais Rodoviários Federais e Policiais 
Militares do Distrito Federal), lembrando que esse método entra no espaço dos 
exercícios cognitivos também. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
@fator3treinamento 
 
10.2-EXERCÍCIO COGNITIVO: 
 
 Provavelmente, o começo das falhas nos processos de treinamento aplicados 
nas forças de segurança esteja na forma de trabalhar o cognitivo nos exercícios. Não 
adianta saber atirar, se não soubermos definir em quem atirar ou quando atirar. Não 
adianta saber engajar um armamento com grande velocidade se você não for capaz 
de compreender um cenário e identificar o seu agressor com a mesma velocidade. 
Não adianta fazer o deslocamento mais rápido, com a melhor postura tática, se você 
não sabe para onde ir. 
 Logo, devemos entender que o movimento treinado exaustivamente será uma 
ferramenta para diminuir as demandas cognitivas no momento de estresse, uma vez 
que no confronto armado não há tempo para pensar em como será realizado o saque 
da arma, ou se a empunhadura está sendo feita de maneira correta. Isso deve ser 
feito de maneira automática para que o cognitivo seja utilizado exclusivamente no 
processo de interpretação do cenário (que nunca é igual), tomada de decisão e ação. 
 O exercício cognitivo deve estimular a capacidade analítica consciente de 
tomar uma decisão e agir. Ele deve ser o passo seguinte ao treino de memória 
muscular, já que ele utiliza a memória muscular como ferramenta para possibilitar a 
ação em tempo adequado e com eficácia. Como mostra o modelo abaixo, a correta 
identificação do estímulo irá levar a uma resposta motora adequada, possibilitando 
inclusive formas de antecipação eficiente, quando a resposta motora inicia antes 
mesmo do estimulo ocorrer, sendo baseado em indicativos antecedentes ao estímulo 
em si. (alguém já fez com você a pegadinha do copo de cerveja falso? Se você tentou 
desviar da “possível” cerveja que seria jogada sabe bem sobre formas de antecipação 
ao estímulo) 
 
 
 
 
 
 
 
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@fator3treinamento 
 
 
Imagem 7: Modelo de processamento de informação. (Schmidt, 2016) 
 
 É nessa fase que começaremos a incluir a importância do ciclo OODA e dos 
mapas mentais na forma de treinar, estimulando o operador a absorver informações 
e instruções e agir de acordo com a interpretação dessas informações e não mais 
apenas esperar o apito do instrutor autorizando a atirar. 
 No exercício cognitivo, o aluno receberá instruções prévias e precisa reagir de 
acordo com as informações que recebeu. Não existe ainda uma correspondência com 
a realidade, porém os estímulos são pensados de forma semelhante com as 
demandas da ocorrência. É como um treino funcional para o cérebro. Fazemos 
treinamentos de tiro com cores ou formas geométricas mas sabemos que nossos 
alvos na rua não serão triângulos azuis ou retângulos vermelhos, porém sabemos que 
esses estímulos ativam a mesma parte do cérebro e podem ser reproduzidos de 
maneira mais sistemática. 
 Devemos observar a qualidade da transferência promovida pelo exercício 
cognitivo. Transferência, de acordo com Schmidt (2016) “Refere-se à idéia de que a 
aprendizagem adquirida durante a prática de uma determinada tarefa pode ser 
aplicada a, ou transferida para, outras situações de trabalho.” (pág 216) 
Input
Identificação 
do estímulo
Seleção da 
resposta
Programação 
do movimento
Output
 
38 
@fator3treinamento 
 
Exemplos de exercícios cognitivos: 
 
- Banner de treino cognitivo Ciclo O.O.D.A 
-Atirar utilizando alvos de cores diferentes e receber instruções a respeito de quais 
cores atirar -Utilizar alvos que diferenciam agressor de refém 
-Realizar pistas de tiro do tipo IPSC (esse seria o limiar entre os exercícios cognitivos 
e os exercícios de realidade simulada) 
-Treinar a visão para identificar diferentes tipos de cenário 
-Treinar procedimentos cognitivos para driblar a visão de túnel 
 
10.3-PROTOCOLO DOUTRINÁRIO: 
 
 O protocolo doutrinário é um guia pré-definido de procedimentos pensados por 
uma unidade ou instituição para que seus operadores apliquem nas mais variadas 
situações, objetivando padronizar a atuação e aumentar a possibilidade geral de 
sucesso. Protocolo é algo que existe nas mais variadas profissões e serve para 
estabelecer um parâmetro de atuação que protege o operador e faz com que não seja 
necessário reinventar a roda em cada situação com que ele se depara. Um cirurgião 
não precisa estudar de que forma irá fazer uma incisão para extrair um apêndice, uma 
vez que já existe um protocolo para isso e esse protocolo funciona, na maioria das 
vezes. Normas ABNT são uma definição protocolar, bem como o manual de redação 
da presidência da república ou as orientações para atendimento médico de urgência 
feitas pela OMS. 
 O problema do treinamento policial, com relação ao protocolo doutrinário, é que 
a instituição precisa estudar e definir seus protocolos com clareza, de modo que o 
protocolo definido corresponda à realidade e proporcione sucesso à atuação. Muitas 
vezes o que observamos são protocolos doutrinários desatualizados ou que foram 
copiados de outras instituições, mas que não atendem as demandas especificas e 
acabam caindo no descrédito e dando espaço às pessoas que querem reinventar a 
roda a cada ocorrência e definir sua própria forma de atuação. A área de técnicas 
policiais é recheada de diferentes protocolos doutrinários, no Brasil. A situação onde 
 
39 
@fator3treinamento 
 
é mais fácil de observar essas diferenças está na “Abordagem policial”, que mesmo 
com o frequente intercambio de conhecimento entre polícias e tentativas de 
padronização doutrinária, verificamos muitas diferenças na forma de cada instituição 
realizar uma busca pessoal em individuo suspeito. A ROTA de São Paulo faz de uma 
forma, a RONDESP da Bahia faz de outra forma, a Rádio Patrulha em Sergipe faz de 
outra forma diferente das duas primeiras. 
 Quero apenas salientar que um protocolo doutrinário não é necessariamente 
melhor do que outro e uma demanda tática pode ter sucesso sendo solucionada com 
vários tipos de protocolos diferentes. Porém, é temerário apenas misturar os 
protocolos dentro de uma mesma instituição, uma vez que feito isso, deixará de ser 
um protocolo e os operadores serão colocados em situação de risco a cada 
ocorrência. 
 
Exemplos de treinamentos que envolvem protocolo doutrinário: 
 
-Treinamento de Condutade patrulha Falcão (CORE RJ) 
-Procedimentos de Força Tática (PMESP) 
-Entrada tática SWAT plena 
-Entrada tática SAS adaptada 
-Entrada tática Sistemática. 
 
 
10.4- REALIDADE SIMULADA: 
 
 Aqui é onde todo treinamento tático deve chegar, se a intenção é de 
verdadeiramente desenvolver uma habilidade que será utilizada pelo operador em sua 
atividade fim. Vários autores falam isso utilizando palavras diferentes e analisando 
aspectos diferentes da aprendizagem, dentre eles: Marcel Pellegrini e Edimar Moraes 
(2017), Dave Grossman (2004), Giraldi (1999), Erico Flores (2006), Vasconcelos 
(2015), Patrícia Raquel (2009), Frans Osinga (2005), mas todos são unânimes em 
afirmar que o treinamento tem que buscar o maior nível de semelhança possível com 
 
40 
@fator3treinamento 
 
a atividade real. O mais próximo que temos do ideal, em termos de treinamento tático, 
chamamos de “realidade simulada”, que pode ser feita de várias formas e com 
diferentes níveis de investimento. Nem sempre o maior investimento irá significar 
maior aprendizado, mas em geral os melhores métodos de realidade simulada 
significam maior investimento. 
 Na execução de exercícios de realidade simulada, é importante que o aluno 
receba as instruções abrangentes sobre as condições de simulação e seja apenas 
observado e avaliado quanto a sua capacidade de aplicar o conteúdo aprendido de 
forma prática, uma vez que o grande diferencial da realidade simulada é a 
responsabilidade cognitiva que o operador terá em fazer escolhas. Não existe apenas 
uma resposta certa quando se trata de ocorrência policial ou confronto armado. Nessa 
fase do treinamento o instrutor não te mostra o caminho ou o que pode ou não pode 
fazer. Além disso, essa fase de treinamento tem como objetivo preparar o aluno para 
as singularidades das ocorrências, além de proporcionar inoculação de estresse, 
principal recurso pedagógico para capacitar o operador para situações de alto risco. 
 O processo de transferência da habilidade desenvolvida também será elevado 
ao passo que os estímulos do treinamento forem se tornando mais semelhantes aos 
estímulos da situação real. 
 
Regras gerais da simulação de realidade “force on force”: 
 
 O treinamento ou simulação de realidade do tipo “force on force” é o tipo de 
simulação que envolve pessoas contra pessoas, utilizando armas de airsoft, paintball, 
simunition, de emissão infravermelho ou laser visível, festim, blueguns ou outros 
recursos semelhantes. A vantagem desse tipo de treinamento, sem uso de munição 
real, é que podem ser treinadas situações que seriam impossíveis no estande de tiro, 
como simular um assalto, emboscada, e reproduzir com fidelidade as fricções e 
desafios atitudinais desse tipo de ocorrência. De qualquer forma, esse tipo de 
atividade apresenta riscos de lesão e riscos de eficiência da aprendizagem se for mal 
conduzido. Tentarei agora definir algumas regras gerais que devem ser observadas 
na realização desse tipo de treinamento. 
 
41 
@fator3treinamento 
 
-Tenha um protocolo de segurança muito bem definido. A simulação aumenta o 
realismo e, de forma incontestável, aumenta também o risco geral de lesões. 
Obrigatoriedade de utilização de equipamentos de proteção e verificações repetidas 
dos armamentos utilizados são parte desse protocolo. 
 
-Delimite o espaço físico da simulação e deixe todos cientes disso. 
 
-Identifique quem são os participantes da simulação por meio de adereço (pode ser 
um braçal) para evitar conflitos cognitivos que dificultem a imersão no ambiente de 
simulação. (o uso do adereço pode ser dispensado se o isolamento físico do ambiente 
de simulação for absoluto) 
 
- Delimite pedagogicamente quais os objetivos de aprendizagem da simulação. A 
simulação deve fornecer realismo e compatibilidade com o conteúdo ministrado e a 
realidade do aluno. 
 
-O figurante da simulação é peça fundamental para atingir os objetivos de 
aprendizagem. Um figurante ruim pode gerar fricções que guardam pouca relação 
com a realidade operacional. O figurante deve ser orientado sobre o contexto do seu 
personagem e os limites de atuação, para que atue de forma a estimular o 
aprendizado. 
 
-O condutor da simulação deve dispor de recurso (apito, buzina) para interromper a 
atividade no momento em que os objetivos de aprendizagem forem conseguidos ou a 
segurança de qualquer participante for comprometida. 
 
Exemplos de treinamento de realidade simulada: 
 
-Pistas policiais especiais de tiro (Giraldi, 1999) 
-Simulações de ocorrência utilizando festim, airsoft, kits simunition, paintball. 
-Simuladores virtuais, dentre outros. 
 
42 
@fator3treinamento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vejamos agora métodos inovadores para 
treinamento tático... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
@fator3treinamento 
 
11-MÉTODO RAIO 
 
 Das poucas metodologias existentes para o ensino dos movimentos mais 
básicos das ações táticas individuais, destaco o método R.A.I.O (RETANGULOS 
ALTERNADOS DE INSTRUÇÃO OPERACIONAL), o qual postarei o documento 
explicativo na íntegra e posteriormente farei alguns pouco comentários. 
 
_____________________________________________________________________ 
RETÂNGULOS ALTERNADOS DE INSTRUÇÃO OPERACIONAL 
RAIO ® 
 
 
1) Histórico: 
 
Com uma preocupação semelhante à dos instrutores norte-americanos Max Joseph e 
Alan Brosnan1, que em meados dos anos 90, desenvolveram a “Posição Sul”, o 
treinamento com RAIO® foi desenvolvido durante as instruções básicas de Patrulha 
Urbana e Rural em Ambientes de Risco, no 10º Curso de Operações Policiais Especiais 
– 10º COESP/08, da Polícia Militar do Distrito Federal – PMDF. No intuito de automatizar 
o controle da direção do cano, de maneira dinâmica e interativa, os instrutores 
propuseram um treinamento em que policiais pudessem aprimorar essa habilidade 
enquanto trabalhavam outras aptidões. Além do policial militar do Distrito Federal Jeisson 
Antônio da Silva, participaram do processo de criação e desenvolvimento do método os 
policiais rodoviários federais Jetson José da Silva, Elisrael Rodrigues Passos, Andrei 
Gomes Cirilo, André Wilson Medeiros Carneiro e Wellker Cesar Farias. O nome RAIO® foi 
uma sugestão do policial militar do Distrito Federal Peterson, à época, um dos alunos do 
10º COESP/08. Devido aos vários benefícios propiciados, outras instituições de 
segurança têm utilizado este método durante seus treinamentos de tiro, patrulha policial, 
abordagem, entre outros. 
1 Disponível em: <http://www.teesbrazil.com.br/ >. Acesso em: 10 de janeiro de 2016. 
 
44 
@fator3treinamento 
 
2) Finalidades do RAIO® 
 
O principal fundamento do método é a automatização do controle na execução de 
movimentos a serem adquiridos durante o deslocamento em uma trajetória pré-definida, 
antes de treinamentos de maior complexidade. Durante os exercícios com o RAIO®, os 
policiais podem desenvolver as seguintes habilidades: 
a) Caminhar tático; 
b) Controle da direção do cano; 
c) Transição de armamento; 
d) Respiração durante execução de atividade física específica; 
e) Tomada de “Posição Torre”; 
f) Mudanças de direção; 
g) Visão Periférica; 
 
h) Melhoria da capacidade cardiorrespiratória. 
3) Pré-requisitos técnicos: 
 
Para um melhor aproveitamento do método é indispensável que o instruendo tenha 
passado pelas seguintes etapas de Instrução Tática Individual – ITI: 
 
a) Fundamentos de tiro de pistola e armas longas, tais como, empunhadura, visada, base, 
plataforma de tiro, respiração, olho “diretor”, entre outros fundamentos; 
b) Posição de tiro – em pé, de joelhos (torre) e deitado; 
c) Caminhar “Tático”; 
d) Mudanças na direção da posição de tiro. 
4) Descrição do método: 
 
 
45 
@fator3treinamento 
 
Simples, prático, barato e de fácil aprendizado, o método consiste no deslocamento pré-
definido dos alunos, cada um em um retângulo, com dimensõesmínimas de 12 metros de 
comprimento por 4 metros de largura, que se cruzam perpendicularmente, dois a dois, 
conforme desenho abaixo: 
 
Figura 01. Esquema do RAIO® 
 
 
 
a) Na hipótese de um local permanente, a delimitação dos retângulos pode ser feita 
desenhando diretamente o piso, cada um com uma cor diferente para facilitar a 
visualização. É importante que seja terreno um plano e o mais regular possível. 
Entretanto, a demarcação pode ser feita com cal ou, simplesmente, delimitada por cones. 
b) Posicionamento inicial - Após a montagem do cenário, conforme figura 01, quatro 
instruendos mobiliarão os quatro retângulos, sendo que cada dupla iniciará em um vértice 
oposto à outra. 
 
46 
@fator3treinamento 
 
c) Início da atividade – Os instruendos iniciarão o deslocamento na posição “engajado”, 
em pé. Ao se cruzarem, o que ocorre durante todo o exercício, deverão fazer a retenção 
da arma, passando para a posição “pronto baixo”, sem parar de caminhar. Imediatamente 
após o cruzamento a arma, deve voltar ao engajamento. 
d) Duração da atividade deve ser entre 01:30 a 02:00 minutos. 
e) Dinâmica da atividade – Cada quarteto deverá passar pelo menos três vezes pelo 
exercício. A primeira passagem deverá ser em um deslocamento lento. A segunda de 
maneira moderada e, por conseguinte, a última mais acelerada. A partir da segunda 
passagem, serão dados os comandos de “CONTATO!”, onde o policial deverá assumir a 
posição de joelhos. Ao comando de “DESLOCA!”, a equipe retomará a movimentação. Na 
última etapa, o instrutor também deverá comandar “retaguarda!” para que aluno execute 
a mudança de direção. A partir da segunda passagem o instrutor pode comandar a 
transição do armamento, por meio da verbalização “TRANSIÇÃO!”. Esta manobra pode 
ser para que a arma longa seja substituída pela pistola e vice-versa. 
f) Para facilitar o entendimento, o instrutor deverá usar um quadro branco fixado em 
cavaletes ou um flipchart para explicar a dinâmica. 
g) O treinando não avançará nas etapas enquanto não executar corretamente e sem 
dificuldades, o procedimento anterior. 
h) Durante os deslocamentos, o instrutor deverá interromper o exercício para ajustar ou 
corrigir os procedimentos. 
i) Ao término da instrução, o instrutor deverá informar aos policiais os pontos fracos que 
necessitam ser melhorados. 
j) Caso o treinamento de ITI não seja bem automatizado, o método pode ficar bastante 
prejudicado. Os alunos podem apresentar dificuldades na transição do armamento, 
empunhadura deficiente, deslocando de maneira inadequada, entre outras deficiências. 
k) Respiração durante execução de atividade física é de grande importância. Muitos 
instruendos se preocupam muito em executar o exercício da forma correta, porém sem se 
atentar para uma respiração adequada. Assim, executam os movimentos em apneia, 
 
47 
@fator3treinamento 
 
provocando um cansaço excessivo. Deve-se alertar ao aluno que inspire e expire como 
se estivesse realizando atividade física aeróbica. 
 
l) Com relação às mudanças de direção destacamos que o cone ou o limitador do 
retângulo não é uma esquina. Ou seja, não é necessário executar procedimentos de 
tomada de ângulo (“fatiamento”). O limitador do retângulo serve apenas como substituto 
para uma ordem verbal de mudança na direção, portanto, o exercício deve ser realizado 
de forma contínua, sem paradas. 
m) Uma das vantagens do método é desenvolvimento da visão periférica em conjunto 
com o controle de cano. Atentar para que os policiais saibam o que acontece ao seu redor, 
trabalhando a atenção de maneira difusa. 
5) Registro e utilização do método: 
 
O RAIO® é um pequeno legado, embora registrado e publicado, está à disposição para 
todas as polícias. Entretanto, a única obrigatoriedade é a citação do nome do método e 
suas origens. Qualquer tipo de plágio será levado à Justiça. 
 
JETSON José da Silva 
INSTRUTOR PRF 
Caveira PMPR/18 
Ações Táticas Especiais PMPI/33 
 
 
 Tive contato pela primeira vez com o método RAIO durante o VI Curso de 
Operações de Controle de Distúrbios-COCD ministrado pela PRF no Rio de Janeiro, 
em 2013, onde o criador do método foi um dos instrutores. Depois que conheci o 
exercício, a simplicidade e efetividade, tanto para o aluno quanto para o instrutor, 
passei a utilizar em todas as instruções possíveis e imagináveis para diversos 
segmentos operacionais da PMSE, cometendo a ousadia, inclusive, de fazer algumas 
adaptações do método para atender às demandas específicas de alguns cursos. O 
exercício permite treinar, em deslocamento, uma série de movimentos táticos para os 
 
48 
@fator3treinamento 
 
quais é absolutamente necessário desenvolver uma eficiente memória muscular, 
aliando isso com aspectos cognitivos importantes da relação do operador com o 
cenário, como a utilização da visão periférica, comunicação verbal e não verbal com 
outros operadores e começar a sentir algumas das fricções da realidade operacional. 
O método permite ainda uma série de adaptações, com inserção de habilidades 
diversas, podendo ser convertido em uma atividade de intensidade física ao substituir 
as armas por anilhas de peso, podendo utilizar airsoft, paintball, podendo adaptar 
regras especificas ou fazer a adaptação de procedimentos doutrinários, permitindo ao 
instrutor observar vários operadores ao mesmo tempo, todos em movimento. Uma das 
melhores características da metodologia, no entanto, é a efetividade relacionada ao 
baixíssimo custo logístico, pois basicamente precisamos apenas de cones e armas, 
para realizar a instrução. 
 
12- BANNER DE TREINO COGNITIVO CICLO O.O.D.A 
 
 O treinamento prático do ciclo OODA com utilização de banners é mais uma 
adaptação do esporte (dessa vez o vôlei) para exercícios cognitivos de níveis 
variados, que proponho como uma atividade complementar a qualquer operador 
tático, uma vez que ajudará em todas as atividades que possuem maior exigência 
neuromotora. O método desse banner foi originalmente desenvolvido por Andor 
Gyulai, professor norte americano de vôlei. Eu fiz a devida adaptação para atender às 
demandas policiais, cognitivas e táticas. 
 Já falamos aqui sobre a importância dos ensinamentos de Boyd para a 
capacitação de operadores e como o ciclo OODA deve estar intrinsicamente 
relacionado com os aspectos do treinamento, uma vez que, nas palavras de Dave 
Grossman: “ você não age à altura dos acontecimentos em combate, você mergulha 
ao nível do seu treinamento”. 
 O treinamento com o banner permite desde exercícios de escaneamento de 
ambiente (treinamento da musculatura dos olhos e que auxilia no processo cognitivo 
de busca por um elemento especifico, como em um caça-palavras), que fica restrito à 
 
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@fator3treinamento 
 
etapa “observar” do ciclo, até a associação de elementos do banner com uma “ação” 
física condicionada à correta “orientação” do operador e consequente decisão, 
passando assim por todas as etapas do ciclo. As vantagens do uso do banner estão 
na praticidade de poder desenvolver vários exercícios com poucos recursos, ter maior 
efetividade em exercícios cognitivos, aumentar a capacidade de ganho de informação 
e reflexo neuromotor do operador, capacidade de leitura de cenários, além do 
operador poder utilizar o recurso principalmente em casa, a qualquer momento, por 
horas ou apenas alguns minutos. 
 O banner é composto por vários círculos que possuem uma série de elementos, 
que podem ser utilizados de maneira singular ou integrada nos treinamentos, para 
realização de atividades mais simples e mais complexas. O operador pode integrar ao 
banner o uso de alvos de quatro cores da PF, que irão auxiliar nos exercícios com 
seletividade de disparo. Os disparos dever ser feitos preferencialmente com airsoft ou 
em seco, objetivando o baixo custo e simplicidade do uso, mas também pode ser feito 
com disparo real. O treinamento pode

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