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Práticas para 
uma educação 
inclusiva
 
SST
Coelho; Orlando
Práticas para uma educação inclusiva / 
Orlando Coelho
nº de p. : 12
Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
Práticas para uma educação 
inclusiva
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Apresentação
Nesta unidade discutiremos questões relativas à atuação do psicólogo em uma 
perspectiva de educação inclusiva nas situações de mediação e adaptação 
de atividades para o estudante em processo inclusivo. Nesse contexto, 
apresentaremos o conceito de mediação e os aspectos éticos envolvidos nesse 
processo.
Posteriormente, comentaremos o papel histórico do psicólogo e as intervenções 
junto à educação inclusiva na contemporaneidade. Por fim apresentaremos 
algumas das modalidades de atendimento à pessoa com deficiência por meio 
de salas de estimulação essencial, classe comum, classe especial, escola 
especializada, classe hospitalar, oficina pedagógica, atendimento domiciliar, sala de 
recursos, centros de apoio.
Mediação e adaptação de 
atividades para o estudante em 
processo inclusivo 
Iniciamos as discussões compreendendo o conceito de mediação no processo 
educativo e o que significa adaptar com base no mesmo conceito de mediação. O 
mediador escolar pode ser um profissional das mais diversas formações (psicólogo, 
psicopedagogo, fonoaudiólogo), pois isso varia conforme a demanda da pessoa 
com deficiência. Vamos aqui discutir o papel desse mediador de uma forma mais 
geral. Assim, o mediador é
[...] aquele que no processo de aprendizagem favorece a interpretação 
do estímulo ambiental, chamando a atenção para os seus aspectos 
cruciais, atribuindo significado à informação recebida, possibilitando que 
a mesma aprendizagem de regras e princípios sejam aplicados às novas 
aprendizagens, tornando o estímulo ambiental relevante e significativo, 
favorecendo o desenvolvimento. (MOUSINHO et al., 2010, p. 94)
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Como você pode observar, as principais características que se espera de um 
mediador é a capacidade de facilitar a aprendizagem, bem como identificar os 
estímulos e as possibilidades da pessoa com deficiência no ambiente escolar. O 
psicólogo que atua na mediação da aprendizagem de pessoas com deficiência 
precisa conhecer e desmistificar conceitos errôneos baseados no senso comum 
em relação à criança com deficiência. Um dos primeiros mitos se refere à 
necessidade de pessoas com deficiência de forma geral precisarem de cuidados 
especiais. Dependendo da deficiência, e em uma perspectiva inclusiva, uma parcela 
considerável das pessoas com deficiência prefere ser tratada sem nenhuma 
distinção especial (RAMOS, 2015). Assim, uma pessoa com deficiência visual ou 
deficiência física nem sempre vai necessitar ser a primeira da fila para beber água, 
por exemplo.
Outro mito é que o professor deve ser um especialista para atuar com pessoas 
com deficiência. Isso não é de todo verdade, pois, se assim o fosse, os pais não 
saberiam educar e lidar com seus filhos com deficiência. Para cada pessoa se faz 
necessário um diagnóstico e um acompanhamento adequados.
Outro preconceito é o de que as pessoas com deficiência devem frequentar 
somente escolas especiais. Esse talvez seja um dos pilares da inclusão e envolve 
desde uma visão da escola como um espaço de competição e preparação para o 
trabalho e a universidade, e não como um espaço de convivência e aprendizagem 
para além de imediatismos. Estudos comprovam que a convivência da criança com 
deficiência junto a outras que não são deficientes pode ajudar no desenvolvimento 
de ambas (RAMOS, 2015).
Convivência das diferenças
Fonte: Plataforma Deduca (2021).
#PraCegoVer: Rostos sorrindo de jovens de raças, etnias e 
culturas diferentes.
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Para finalizar, o último mito diz que a presença de crianças com deficiência na sala 
de aula pode atrapalhar as demais não se sustenta pelos mesmos argumentos 
anteriormente usados em relação à necessidade de crianças estudarem unicamente 
em escolas especiais. Reforçamos que uma pessoa com deficiência e as limitações 
físicas e intelectuais inerentes à deficiência não perde seus sentimentos, 
habilidades sociais, temperamento (RAMOS, 2015).
O papel do mediador tem a premissa de desmistificar preconceitos em relação a 
pessoas com deficiência e à inclusão escolar. Assim, o mediador é aquele que:
Pode contribuir para que a criança tome mais iniciativa mediante diferentes 
contextos, sem deixar que este processo siga automaticamente, e 
encorajar a criança a ser menos passiva no ambiente [...]. [Ele] pode atuar 
criando pequenas mudanças e problemas para que a criança perceba, 
inicie, tolere mudanças e aprenda a lidar com estas situações. (MOUSINHO 
et al., 2010, p. 94)
Entre as características da mediação estão a possibilidade de 
diferenciar informações sensoriais, identificar obstáculos à 
aprendizagem e à sociabilidade, bem como contribuir para a 
integração da criança em sua autonomia. 
Curiosidade
Uma questão singular da inclusão de pessoas com deficiência no ambiente escolar 
é o preconceito. Como já pontuamos, ele está presente na concepção histórica 
que vincula a deficiência àquilo que falta. A pessoa deixa de ser observada na 
sua integralidade, sendo observada exclusivamente por sua deficiência. Isso é 
importante de perceber-se, pois existe a possibilidade de vincular a pessoa com 
deficiência ao fracasso escolar antes mesmo do próprio fracasso se constituir (se é 
que isso acontecerá). Assim, a criança se torna a própria queixa escolar.
Mas de que maneira efetiva o profissional pode realizar uma atuação que se 
configure como a de mediação escolar, na qual este profissional seja um entre a 
pessoa com deficiência, a aprendizagem e a comunidade escolar? Vamos descobrir 
a seguir. 
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Criança com baixa autoestima
Fonte: Plataforma Deduca (2021).
#PraCegoVer: Criança de aproximadamente 6 anos de idade 
sentada no chão com a cabeça baixa entre as pernas, com sua 
mochila ao lado.
O psicólogo e as intervenções junto à 
educação inclusiva
Pesquisas realizadas consideram que ainda há muito o que mudar na relação e 
atuação do profissional de Psicologia no contexto escolar, sendo que ainda persiste 
a demanda de pais, educadores e gestores por uma atuação baseada no paradigma 
clínico e médico. Cabe aos profissionais compreenderem melhor a atuação do 
psicólogo para além das questões “curativas” ou “terapêuticas” e vislumbrarem a 
sua atuação preventiva e como mediador no espaço, permitindo a circulação dos 
diferentes discursos e saberes sobre a aprendizagem, a deficiência, os limites e 
possibilidades de integração (ALMEIDA, 2010).
A Política Nacional de Educação Especial, vigente desde 2008 no Brasil, define o 
conceito de educação especial:
[...] uma modalidade de educação escolar que permeia todas as etapas e 
níveis de ensino. Esta definição permite desvincular “educação especial” 
de “escola especial”. Permite também, tomar a educação especial como 
um recurso que beneficia a todos os educandos e que atravessa o trabalho 
do professor com toda a diversidade que constitui o seu grupo de alunos. 
(BRASIL, 2005, p. 19).
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Diversidade
Fonte: Plataforma Deduca (2021).
#PraCegoVer: Imagem com figuras representativas de 
símbolos de figura humana de mulher, e homem em sequência, 
e ao lado há o símbolo de pessoa com deficiência (cadeirante).
O psicólogo e as intervenções junto 
à educação inclusiva: formas de 
atuação
Nesse momento, pensa-se na forma de atuação do psicólogo escolar como 
mediador/interventor considerando as diversas possibilidades de atuação no 
contexto escolar. Assim, abordaremos as possíveis ações mediadoras nos 
contextos de atuação possíveis ao psicólogo escolar a seguir.
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Diagnóstico: 
se vamos atuar em um contexto de atendimento a crianças com deficiência, 
devemos observar com atenção e respeito às formas de realizar um 
diagnóstico, pois todo diagnóstico é em si um ato interventivo. Isso significa 
observar para além das limitações inerentes a uma deficiência específica.O psicólogo escolar deve pensar em formas diversas de diagnosticar 
(observação dos alunos em situações de atividade escolar cotidiana, as 
conversações com eles e com aqueles com quem interagem –, de jogos 
e de situações diversas para a compreensão das causas que originam as 
dificuldades) (MARTÍNEZ, 2010, p.44). 
Essa variedade de instrumentos é que determinará as adaptações 
necessárias tanto na relação ensino e aprendizagem quanto nas adaptações 
físicas, metodológicas e de materiais que facilitem a integração da pessoa 
com deficiência.
Orientação a pais e alunos: 
diferentemente do trabalho clínico e terapêutico, a orientação de pais e 
professores aqui sugerida pauta-se pela ação para a resolução de uma 
dificuldade específica de aprendizagem ou limitação inerente à deficiência 
apresentada (MARTINEZ, 2010).
Formação e orientação de professores: 
se a atuação do psicólogo escolar deve se pautar na sua integração à 
equipe multidisciplinar, uma das possibilidades de atuação é justamente na 
formação de professores.
Diagnóstico e intervenção institucional: 
uma das formas de atuação mais contemporâneas para o psicólogo no 
contexto educacional e de inclusão numa perspectiva multidisciplinar é 
a avaliação institucional. Os aspectos psicossociais das instituições que 
atuam junto a pessoas com deficiência ou da escola que tem que acolher as 
crianças não é separado das formas de atuação individuais dos profissionais 
que nela atuam. Assim, um dos desafios colocados é 
[...] poder vislumbrar a escola, simultaneamente, nas dimensões 
psicoeducativa e psicossocial permite ao psicólogo o delineamento 
de estratégias de trabalho que, a partir da articulação das duas 
dimensões, sejam mais efetivas para a otimização dos processos 
educativos que ocorrem nela. (MARTINEZ, 2010, p. 48).
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A seguir, apresentamos algumas das modalidades de atendimento que existem para 
pessoas com deficiência na política pública de educação especial vigente no país. O 
primeiro deles é o conceito de estimulação essencial.
Estimulação
Fonte: Plataforma Deduca (2021).
#PraCegoVer: Mãe carregando bebê e falando com ele, esti-
mulando de maneira visual, tátil e auditiva.
A ação de conversar com o recém-nascido, que podemos considerar cotidiana e 
quase automática, é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança. 
Quando estudamos o desenvolvimento humano, o processo de maturação do 
Sistema Nervoso Central (SNC) e suas implicações no processo de ensino e 
aprendizagem ficamos sabendo da importância dos mais diversos estímulos 
sensoriais, motores, afetivos, táteis, auditivos, visuais.
O termo estimulação essencial que alguns profissionais utilizam não é o mais 
adequado segundo o Ministério da Educação, que por meio das Diretrizes 
Educacionais para a Estimulação Precoce orienta e utiliza a terminologia e o 
conceito de estimulação precoce assim definido:
Assim, para melhor esclarecimento, o conceito da “estimulação precoce” adotado é: 
“Conjunto dinâmico de atividades e de recursos humanos e ambientais incentivadores que 
são destinados a proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências 
significativas para alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo”. (BRASIL, 
1995, p. 11)
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É quase consensual na literatura científica que o período entre 0 e 3 anos de idade 
é fundamental para o desenvolvimento pleno da criança. Embora tenha sua origem 
voltada para crianças com deficiência, os recursos utilizados na metodologia de 
estimulação precoce são fundamentais para todas as crianças nesta faixa etária.
Comenta-se de forma incisiva os cuidados que se devem ter para não estigmatizar 
as pessoas com deficiência ou dedicarmos a um olhar que reduza a deficiência. 
Porém, é fundamental que a prevenção, o diagnóstico e a intervenção junto a 
crianças que necessitem de um apoio clínico e psicológico via programas de 
estimulação precoce sejam rápidos e eficazes para garantir uma intervenção 
adequada. 
Para que você possa ter acesso à política de saúde, os critérios de 
avaliação e diagnósticos e centros de apoio, acesse as “Diretrizes 
de Estimulação Precoce” do Ministério da Saúde no link: <http://
portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/novembro/34/
Diretrizes-de-estimulacao-precoce.pdf>.
Saiba mais
A seguir, temos a definição de classe hospitalar:
Denomina-se classe hospitalar o atendimento pedagógico-educacional 
que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância 
de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância 
do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de 
atenção integral à saúde mental. (BRASIL, 2002, p. 13).
Para finalizar, temos as oficinas pedagógicas, que têm como premissa a preparação 
das pessoas com deficiência para o mundo do trabalho, e que podem ser ofertadas 
em municípios de forma direta pela administração municipal ou em conjunto com 
organizações não governamentais.
http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/novembro/34/Diretrizes-de-estimulacao-precoce.pdf
http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/novembro/34/Diretrizes-de-estimulacao-precoce.pdf
http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/novembro/34/Diretrizes-de-estimulacao-precoce.pdf
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Fechamento
A inclusão é vista como o processo de identificar e responder à diversidade 
das necessidades de todos os alunos por meio de um maior envolvimento na 
aprendizagem, nas culturas e nas comunidades, e reduzindo a exclusão na 
educação. Envolve mudanças e modificações de conteúdo, abordagens, estruturas 
e estratégias, com uma visão comum que inclui todas as crianças, com a convicção 
de que é responsabilidade do sistema regular educar todas as crianças e oferecer 
acessos igualitários. 
As ideias discutidas na unidade pretendem remover todas as barreiras à 
aprendizagem e facilitar a participação de todos os alunos vulneráveis à exclusão 
e marginalização. Inclusão significa permitir que todos os alunos participem 
plenamente da vida e do trabalho nas comunidades.
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Referências
ALMEIDA, S. Psicologia escolar. Campinas: Alínea, 2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Classe hospitalar e atendimento pedagógico 
domiciliar: estratégias e orientações. Brasília: MEC/SEESP, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes 
educacionais sobre estimulação precoce: o portador de necessidades educativas 
especiais. Brasília: MEC/SEESP, 1995. (Série Diretrizes; 3).
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Garantindo o 
acesso e permanência de todos os alunos na escola: alunos com necessidades 
educacionais especiais. Brasília: MEC/SEESP, 2005.
MARTINEZ, A. M. O que pode fazer o psicólogo na escola? Em aberto, Brasília, v. 23, 
n. 83, 2010.
MOUSINHO, R. et al. Mediação escolar e inclusão: revisão, dicas e reflexões. 
Revista de Psicopedagogia. São Paulo, v. 27, n. 82, p. 92-108, 2010. Disponível 
em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862010000100010&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 26 fev. 2018.
RAMOS, R. Inclusão na prática. São Paulo: Summus, 2015.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862010000100010&lng=pt&nrm=iso
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862010000100010&lng=pt&nrm=iso

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