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SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka Professora Titular de Direito Civil da Faculdade de Direito da USP 2020 TESTAMENTO É negócio jurídico unilateral, formal e pessoal, cujos efeitos ficam suspensos até que ocorra o evento futuro e indeterminado no tempo, que é a morte do próprio testador. (Paulo Lôbo) Contrariamente ao que se dá com a sucessão legítima, a sucessão testamentária pressupõe uma aquisição de situação jurídica decorrente da intervenção volitiva do autor da herança, o testador. (Giselda Hironaka) Testamento – negócio jurídico unilateral O Código Civil não define expressamente o testamento, mas positiva algumas de suas características em seus arts. 1.857 e 1.858. É negócio jurídico unilateral – o momento de seu aperfeiçoamento é aquele em que o autor da herança declara a sua vontade, na forma da lei, dispondo, desta maneira, sobre a própria sucessão. A futura aceitação da herança ou legado não desvirtua a unilateralidade do testamento, já que se trata de manifestação de vontade posterior ao momento de formação, aperfeiçoamento e eficácia do negócio. EM SÍNTESE O testamento é negócio jurídico: Personalíssimo – apenas o testador pode realizá-lo; Revogável – a qualquer tempo o testador pode produzir novo instrumento revocatório do anterior, no que respeita às disposições de caráter patrimonial; Unilateral – porque se aperfeiçoa apenas e exclusivamente com a manifestação de vontade do testador; Gratuito – não se compadece e não suporta qualquer aspecto oneroso; Solene – exige, para valer, a estrita observância dos requisitos essenciais e das formalidades legais; Causa mortis – sua eficácia só será produzida após a morte do testador. TESTAMENTO - FORMALIDADES A validade e consequente eficácia do testamento dependerá do estrito cumprimento das formalidades do modelo testamentário em cada caso concreto, isto é, dependerá do atendimento a determinada forma externa que fixará a espécie (escolhida ou imposta), traduzindo a livre vontade do testador. Conserva-se, no direito brasileiro, a duplicidade herdada do direito romano, classificando as formas testamentárias em ordinárias e especiais. Formalidades testamentárias Interna: capacidade testamentária, distribuição dos bens, observância da quota legitimária. Externa: nº de testemunhas, modo especial de expressão da vontade, pessoas encarregadas do cumprimento das disposições testamentárias. Finalidade principal: preservação da autenticidade do testamento e preservação da vontade do testador. Espécies de testamentos Ordinários: público, cerrado e particular – art. 1.862 e ss. CC Especiais: aeronáutico, militar e marítimo - art. 1.886 e ss. CC São proibidos os testamentos conjuntivos, ou simultâneos, ou de mão comum, ou mancomunados. Testamento público Testamento cerrado Testamento particular CODICILO “Codicilo é o diminutivo de codex, pequeno rolo, caderninho, que se mantém através dos tempos, com forma simplificada, inferior a do testamento, constituindo vitória da vontade contra a forma.” (Pontes de Miranda – Tratado de Direito Privado, vol.59, § 5.908) Trata-se de escrito muito pouco usado, no Brasil, mas não deixa de figurar na legislação privada (CC/16 e CC/02). Suporte legal: arts. 1.881 a 1.885 CC. Art. 1.881 CC - Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado e assinado, fazer disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como legar móveis, roupas ou jóias, de pouco valor, de seu uso pessoal. CODICILO É permitido que se faça codicilo sem que haja testamento (art. 1.882 CC) Embora o caráter próprio deste negócio jurídico, admite a lei que por meio dele se possa nomear ou substituir testamenteiros (art. 1.883 CC) Revogação do codicilo: Revoga-se pelo mesmo modo que o constituiu; Considera-se revogado um codicilo se existir testamento posterior que não o confirme ou modifique (art. 1.884 CC). CODICILO FECHADO CODICILO Tratando-se de codicilo fechado, ele deverá ser aberto do mesmo modo pelo qual se abrem os testamentos cerrados (art. 1.885 CC): pelo juiz. Se for aberto inadvertida ou propositalmente por outro modo, invalidar-se-á o documento. O codicilo se rompe (não produz eficácia) se houver descendente do falecido, que este desconhecia, quando o fez, especialmente quanto às disposições sobre legados de pequeno valor. As disposições não econômicas podem subsistir a essa ruptura do codicilo. Testamento de emergência (particular) SEM TESTEMUNHAS, excepcionalmente (art. 1.879 CC). Poderá o juiz considerá-lo válido. Se o testador não morrer em até 90 dias, o testamento terá sua eficácia afastada. Proposta inclui herança digital no Código Civil (janeiro 2020) Tramita na Câmara dos Deputados o PL 5.820/19, que trata da herança digital e inclui a possibilidade de realização de codicilo em vídeo no Código Civil. A proposta aguarda parecer do relator na CCJ da Casa. A proposta visa alterar o art. 1.881 CC: a disposição de vontade (codicilo) pode ser escrita com subscrição ao final, ou ainda assinada por meio eletrônico, "valendo-se de certificação digital, dispensando-se a presença de testemunhas e sempre registrando a data de efetivação do ato". “[...] pretende aprimorar o Codicilo, possibilitando que ele seja feito não só na forma tradicional, escrito, mas também em meio eletrônico, digital, nos moldes da sugestão que segue abaixo para a nova redação dos artigos pertinentes ao tema." Proposta inclui herança digital no Código Civil (janeiro 2020) A proposta inclui, ainda, considerações sobre o destino da chamada herança digital (vídeos, fotos, livros, senhas de redes sociais e outros elementos armazenados exclusivamente na internet, em nuvem), para depois da morte do declarante. Essa expressão de última vontade sobre o seu patrimônio digital poderá constar de codicilo. TESTAMENTO DE SANTOS DUMONT http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/122670/119170