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Consumidor - Lipp

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Direito do consumidor
Prof. Me. Alexandre Lipp
Bibliografia:
Bruno Miragem – Curso de Direito do Consumidor
Cláudia Lima Marques
Bibliografia complementar:
- Interesses difusos, conceito e legitimação para agir. Rodolfo de Camargo Mancuso. Editora RT.
- A defesa dos direitos difusos em juízo. Hugo Nigro Mazzili. Editora Saraiva.
- Processo coletivo. Teori Zavaski. Editora RT.
- Teoria Geral da ação civil pública. Pedro Lenza.
1. Introdução	2
2. A Constituição Federal de 88 e a defesa do consumidor	3
3. Código de Defesa do Consumidor	5
3.1 Características	5
3.2 Estrutura	5
3.3 Relação com outros dispositivos legais: Tutela coletiva.	7
3.4 Campo de aplicação	11
3.4.1 Conceitos de consumidor	12
3.4.1.1 Consumidor determinado	12
3.4.1.2 Consumidor por equiparação	13
i. Coletividade	13
ii. Pessoas expostas a práticas abusivas (direitos difusos)	14
iii. Vítimas de acidente de consumo	14
3.5 A defesa do consumidor em juízo	16
3.5.1 Defesa coletiva	17
3.5.1.1 Direito difuso	18
3.5.1.2 Direito coletivo em sentido estrito	18
3.5.1.3 Direito individual homogêneo	18
3.5.2 IRDR x ação coletiva	19
1. Introdução
	O dia 15 de março de 1962 representa, internacionalmente, o dia do consumidor. É a data em que o então presidente americano, John Kennedy, enviou uma mensagem ao congresso americano para destacar a importância da defesa do consumidor. Os EUA, é claro, são grande potência no mundo capitalista. É um país bastante liberal, com pouca presença de Estado, que, a par dessa característica, foi inovador no que diz respeito à defesa do consumidor, preocupando-se, a partir dessa data, com 4 eixos:
	1) Direito de informação: o fornecedor deve prestar informação, independentemente do requerimento por parte do consumidor;
	2) Proteção contra produtos e serviços perigosos: muitos consumidores perderam suas vidas, ao longo dos anos, em razão de produtos defeituosos. Por exemplo, as empresas automobilísticas passaram a investir em tecnologia de segurança, porque começaram a pagar indenizações vultosas;
	3) Direito de escolha / concorrência: se o consumidor não tem assegurado seu direito de escolha, o único fornecedor daquele produto poderá elevar o preço e não manter a qualidade. É uma questão fundamental, pois regula o preço e a qualidade do produto.
	4) Direito de ser ouvido: o consumidor passou a ter voz, inclusive, por meio de associações representativas.
	A ONU, no ano de 1985, através da Resolução nº 39/248, orientou para a necessidade de reconhecer o consumidor como vulnerável e para a elaboração de normas protetivas pelos países em geral, notadamente aqueles em desenvolvimento. Uma coisa levou à outra. Essa resolução é considerada, pela doutrina brasileira, o mais importante documento internacional referente ao consumidor e à sua defesa. Diversos países da América do Sul utilizaram-se dessa resolução para criar suas medidas protetivas, incluindo o Brasil.
No Brasil, um dos grandes marcos na defesa do consumidor foi a promulgação, em 1985, da Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.247/85, art.1º, inciso II).
Art.1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
ll - ao consumidor;
Promulgada em 1981, a Lei de política nacional do meio ambiente já havia sido um grande passo nessa direção, pois estabeleceu o papel do MP de buscar a responsabilização, civil e penalmente, do poluidor. Surgiu, por isso, a necessidade de uma lei processual que permitisse ao órgão buscar a responsabilização judicialmente. Então, finalmente, no dia 24/07/85, foi publicada a Lei da Ação Civil Pública, que é o instrumento hábil à defesa de interesses difusos e coletivos. O legislador optou por tutelar, além do meio ambiente, também o consumidor.
A defesa do consumidor prevista na LACP não é individual; trata-se de proteção a direitos difusos ou coletivos do consumidor. A característica do mercado de consumo é a impessoalidade, a instantaneidade, a repetição. Contratos padronizados, publicidade etc. Nas questões ligadas à defesa do consumidor, invariavelmente, existe reflexo à coletividade. Por isso, era necessário otimizar os instrumentos de proteção ao consumidor, coletivamente. Uma das primeiras ACPs ajuizadas em SP, pelo MPF conjuntamente com o MPE, impediu a distribuição de leite que havia sido importado do leste europeu, em razão da suspeita de contaminação de Chernobyl.
Duas razões para a importância da proteção coletiva do consumidor: 1) o consumidor individualmente não tem condições, ou é antieconômico; e 2) pela massificação das relações de consumo. O consumidor, individualmente, busca sua parcela; a ACP busca o todo.
2. A Constituição Federal de 88 e a defesa do consumidor
Em 1988, ainda não existia o Código do Consumidor, mas foi reconhecido constitucionalmente o direito fundamental de proteção ao consumidor, que deveria ser promovido pelo Estado (art.5º, inciso XXXII). A orientação/recomendação da ONU foi acolhida pela CF/88, que é o ponto de partida do ordenamento jurídico.
Art.5º, XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
O Estado passou a fiscalizar o mercado de consumo, por meio dos órgãos do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor - SNDC, estabelecidos pelo Decreto 2.181/97[footnoteRef:0] (dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor - SNDC e estabelece as normas gerais de aplicação das sanções administrativas previstas no CDC), tais como a Senacon e os Procons. [0: Art. 1º Fica organizado o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor - SNDC e estabelecidas as normas gerais de aplicação das sanções administrativas, nos termos da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.
Art. 2º Integram o SNDC a Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça e os demais órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal, municipais e as entidades civis de defesa do consumidor.
Art. 9º A fiscalização das relações de consumo de que tratam a Lei no 8.078, de 1990, este Decreto e as demais normas de defesa do consumidor será exercida em todo o território nacional pela Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça, pelos órgãos federais integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, pelos órgãos conveniados com a Secretaria e pelos órgãos de proteção e defesa do consumidor criados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, em suas respectivas áreas de atuação e competência.] 
A Senacon é a Secretaria Nacional do Consumidor. Antes, existia, no âmbito do Ministério da Justiça, o DPDC, que foi extinto. A defesa do consumidor ganhou um status maior: passou de departamento para secretaria. 
A Senacon tem um papel bem importante de constante interlocução com os PROCONs, que são Programas de Defesa dos Direitos do Consumidor criados por cada ente federativo (Estados, Municípios e DF). Ela pode, inclusive, instaurar procedimento administrativo para possíveis ilícitos e aplicar sanções.
O Estado passou a estabelecer padrões de identidade e qualidade, por meio de seus Ministérios e Agências. Por exemplo, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), regula bebidas e alimentos; pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), a gasolina etc.
O art.48 do ADCT[footnoteRef:1] determina a elaboração de um Código de Defesa do Consumidor no prazo de 120 dias da promulgação da Constituição, o que obviamente não foi atendido. O Código de Defesa do Consumidor (CDC) foi promulgado no dia 11 de setembro de 1990, através da Lei 8.078/90[footnoteRef:2]. [1: Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.] [2: Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.] 
A vulnerabilidade do consumidor traduz-se em situações nas quais ele encontra-se em desvantagem, desequilíbrio. São quatro tipos de vulnerabilidade:
- técnica: o fornecedor, em regra, possui muito mais conhecimento técnico do produto ou do serviço. 
- jurídica: o consumidor não conhece seus direitos,ou como acionar o fornecedor.
- fática (ou econômica): o fornecedor tem, como regra, maior capacidade econômica do que o consumidor, isto é, maior acesso ao crédito.
- informacional: Geralmente, a informação que o consumidor recebe não é completa, não é a melhor informação. Isto é, falta qualidade na informação.
Se o consumidor e fornecedor são desiguais, o tratamento jurídico deve ser desigual, pois assim se alcançará a igualdade. O fornecedor é litigante habitual, tem assessoramento jurídico, contábil e econômico e maior facilidade de acesso a crédito. O consumidor não é litigante habitual. Tem muita dificuldade de apoio técnico, jurídico, contábil e de acesso ao crédito. Para que o consumidor chegue ao mesmo patamar de tratamento que o fornecedor, é preciso elevar seu nível de proteção, por meio do CDC. 
Há uma relação importante entre a defesa do consumidor e a ordem econômica. A defesa do consumidor é um dos princípios da ordem econômica (art.170, V, da CF/88).
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
V - defesa do consumidor;
A ordem econômica faz parte do desenvolvimento do país. Para que o país progrida, deve haver uma política que incremente a economia. A economia deve agir em favor da população, a partir de melhores serviços e produtos. Se o consumidor está protegido e não se sujeita a abusos, naturalmente se sentirá seguro para consumir. Esse consumo aquece a economia, porque a indústria produz mais e, consequentemente, abre novos postos de trabalho. O comércio igualmente sentirá esses efeitos. O Estado aumenta a arrecadação e pode reverter aos cidadãos melhores serviços públicos (expectativa). Esse é um cenário ideal, um círculo virtuoso. Se o governo artificialmente aquecer a economia, facilitando o crédito aos consumidores, a tendência é dar tudo errado. Ou gera inflação, ou os consumidores não conseguem mais pagar os produtos que compraram em múltiplas prestações. O consumidor é um elo importante para a economia.
Também há uma relação entre a defesa do consumidor e a defesa do meio ambiente, pois ambos são princípios da ordem econômica. O progresso e desenvolvimento da economia devem passar pelo respeito ao meio ambiente. Exemplos: 1) Produção em massa prejudicando o meio ambiente pelas emissões de gases; 2) consumidor consciente quanto aos resíduos sólidos e lixo; 3) consumidor escolhe suas escolhas a partir da identificação do fornecedor “amigo do verde”. Assim, os fornecedores passam também a ter cuidados, para ganhar mais relações de consumo.
Cada vez mais pessoas são adeptas do consumerismo, que é a tendência de agir conscientemente no mercado de consumo. Entre um produto e outro, escolho aquele que é menos degradante. Entre um fornecedor e outro, escolho o que emite menos gases. E assim por diante. É o movimento dos consumeristas, que são aqueles que agem refletidamente sobre aspectos ambientais, culturais, sociais e econômicos. Essa expressão também é utilizada para definir quem trabalha com o direito do consumidor.
O contrário de consumerista é o consumista, que só quer consumir, em grande proporção, sem preocupar-se com nada. Em alguns casos, diz-se que essa compulsão por consumir pode derivar de um problema psiquiátrico.
3. Código de Defesa do Consumidor
3.1 Características
É uma lei de ordem pública e de interesse social.
Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.
Ordem pública, porque as normas não são afastadas pelo interesse dos particulares. Se o fornecedor pudesse dispor sobre os assuntos do CDC, imporia-se mais ainda sobre o consumidor. Isso foi feito para garantir a proteção do consumidor, por se tratar de relações de desigualdade. O CC, por exemplo, traz diversas normas permissivas, enquanto o CDC traz mais normas proibitivas: “é vedado”, “não pode(m)” etc.
Exemplo do CC: Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.
Exemplo do CDC: Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.
O interesse social é atribuído à lei pelo art.170, V, CF. A defesa do consumidor é importante engrenagem da máquina, que visa, ao fim e ao cabo, à satisfação e retribuição ao cidadão de melhor qualidade de vida, um país que possa se desenvolver, progredir. Sem proteção, os consumidores não serão “seres econômicos”, ou “economicamente ativos”.
3.2 Estrutura
O CDC é um microssistema jurídico de normas. É um código bem completo. Ele traz, por meio de seus capítulos e títulos, diversas normas, algumas voltadas à sanções penais, outras normas processuais, outras voltadas à atuação dos órgãos administrativos do consumidor e, por fim, normas que tratam da responsabilidade civil, em relação aos danos causados ao consumidor.
3.2.1 Normas penais
Presentes no Título II (arts. 61 a 80). O CDC cria crimes específicos ao direito do consumidor, como o art.71, que prevê a conduta de cobrança de dívidas utilizando-se de constrangimento, de atitudes que possam vexar o consumidor (hoje, já com pouco uso na prática), e o art.67, que prevê o crime de publicidade enganosa (esse, bastante aplicado). Vejamos:
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:
Pena Detenção de três meses a um ano e multa.
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva:
Pena Detenção de três meses a um ano e multa.
3.2.2 Normas administrativas
Presentes nos arts.55 e seguintes (CAPÍTULO VII - Das Sanções Administrativas). 
O CDC cria normas de sanção administrativa, especificamente para as relações consumeristas. As sanções administrativas previstas no art.56 são aplicadas por escalonamento, mas também podem ser aplicadas cumulativamente. 
Algumas sanções são específicas para algum tipo de descumprimento administrativo, como nos casos de publicidade abusiva, em que, além da multa, ao fornecedor é imposta a contrapropaganda (uma retratação), que deve ser realizada nos mesmos moldes que a publicação original. Vejamos:
Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas:
[...]
XII - imposição de contrapropaganda.
Art. 60. A imposição de contrapropaganda será cominada quando o fornecedor incorrer na prática de publicidade enganosa ou abusiva, nos termos do art. 36 e seus parágrafos, sempre às expensas do infrator.
§ 1º A contrapropaganda será divulgada pelo responsável da mesma forma, frequência e dimensão e, preferencialmente no mesmo veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício da publicidade enganosa ou abusiva.
3.2.3 Normas processuais
Presentes no Título III - Da Defesa do Consumidor em Juízo (arts.81 e ss). São normas processuais judiciais, que fogem à normativa própria do CPC, em alguns aspectos específicos, tanto para a defesa individual, quanto para a coletiva dos consumidores. Por exemplo, o art.101, I, estabelece uma das possibilidades de foro de competência para o ajuizamento da ação individual de indenização pelo consumidor (também pode ser o local onde foi feita a compra ou o domicílio da empresa).
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;
Já a açãocoletiva deve ser ajuizada no foro em tese, ou seja, no local do dano. O Ministério Público, por exemplo, deve ajuizar possível ação coletiva onde o dano ocorreu. Essa regra está prevista no art.93.
Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;
3.2.4 Normas de responsabilidade civil
São diversas normas espalhadas, tais como os arts. 30, 37, 46, 47, 51 e 54. Vejamos, como exemplo, o art.46:
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.
Ou seja, o contrato que não foi dado a conhecer não obriga o consumidor, ainda que registrado no registro de títulos e documentos. Ademais, o contrato deve ser redigido de maneira a ser facilmente entendido, evitando-se o tecnicismo, palavras estrangeiras, etc. Se as expressões utilizadas não são de conhecimento comum, o contrato deve mostrar sua definição.
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (cláusulas abusivas).
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
3.3 Relação com outros dispositivos legais: Tutela coletiva.
Ainda que o CDC seja uma lei de ordem pública, que se caracteriza por um microssistema, não se encontra isolado no sistema jurídico. Relaciona-se com diversos outros diplomas legais. É aquilo que se chama pela doutrina “diálogo das fontes”: é a coordenação entre os diversos diplomas legais, de modo a, ao invés de se excluir, procurar incluir. Fala-se do CDC como lei especial, porém, é uma lei especial que não tem a pretensão de repetir dispositivos que estão em outros diplomas. Nesse caso, temos uma aplicação complementar, ou, em muitos casos, subsidiária.
CPC/15: Por exemplo, o CDC fala em inversão do ônus da prova. Também fala sobre isso o CPC/15, porém, em uma relação entre iguais. Por isso, deve-se ter um cuidado com o CPC/15, pois nem todos aplicativos de ônus da prova se aplicam para o consumidor. O CDC não prevê recursos, porque utiliza um instrumental do CPC/15. A previsão de que o juiz pode provocar o MP a ajuizar ação coletiva está no CPC/15.
Estatuto do Idoso: O art.93 do Estatuto do Idoso manda aplicar, no que for cabível, a lei da ação civil pública (Lei 7347/85): “Art.93 Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei no 7.347/85”. A LACP, por sua vez, forma um sistema integrado com o CDC. Então, pode-se dizer que, na tutela coletiva do idoso, será aplicado o CDC, título III (Da Defesa do Consumidor em Juízo, individual e coletiva). O art.90 do CDC e o art.2º da LACP se completam.
Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do CPC e da Lei n° 7.347/85, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições.
c/c
Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Estatuto do Torcedor: Por exemplo, pela Lei 10.671 (estatuto do torcedor), art.3º, considera-se fornecedor o clube com mando de jogo e a Federação Gaúcha de Futebol (responsável pela organização).
Art. 3o Para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor, nos termos do CDC, a entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.
Aplica-se integralmente a defesa do consumidor na defesa coletiva do torcedor. É uma relação direta.
Art. 40. A defesa dos interesses e direitos dos torcedores em juízo observará, no que couber, a mesma disciplina da defesa dos consumidores em juízo de que trata o Título III do CDC.
LACP (Lei 7347/85): Forma um sistema integrado e complementar com o CDC. Na ação civil pública ambiental, por exemplo, que visa à defesa do meio ambiente, poderá ser aplicado o CDC, título III (ação coletiva), principalmente no que trata da inversão do ônus da prova. Exemplo: um navio tem vazamento ácido de seus porões. Uma grande quantidade de pescadores não pode pescar por um bom período. Há uma ação civil pública ambiental pedindo a volta do status quo ante, em relação ao mar, e também a reparação das pessoas lesadas. Tratando-se da reparação de pessoas lesadas, aplicam-se na íntegra os dispositivos do CDC que tratam de interesses difusos.
É uma relação de extrema importância, do ponto de vista da tutela coletiva. 
Complementa-se a ACP, no que for cabível, com o CDC, e, subsidiariamente, com o CPC/15.
O CPC trouxe dois importantes instrumentos: 1) a forma do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Já existia o instituto da desconsideração. Agora, veio o instrumento; e 2) o IRDR: incidente de resolução de demandas repetitivas, influenciado pelo modelo alemão[footnoteRef:3]. Aplica-se à questão unicamente de direito que possa estar reproduzida em diversas outras ações, com o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica[footnoteRef:4]. Quem instaura é um órgão designado pela Presidência do Tribunal (TJ ou do TRF4). Quem pede é o MP, a DP, a parte, ou o juiz, de ofício. O incidente tem prazo de 1 ano para julgamento, sendo escolhido um dos diversos processos idênticos para ser o piloto. Se alcançará uma tese jurídica, que pode ser de direito material ou processual. Todas as ações individuais ou coletivas ficaram suspensas, em razão do incidente, durante o prazo de 1 ano. A crítica que se faz ao IRDR é que ele não observou questões de fato, aplica-se somente a questões unicamente de direito. [3: A LACP vem do modelo italiano. A ação coletiva para individuais homogêneos, dentro do CDC (título III, capítulo II), vem do modelo anglo-saxônico.] [4: O primeiro IRDR instaurado no RS tratou da gratificação para policiais militares.] 
Relação bastante importante com o CC: O CDC, quando entrou em vigor, não revogou o CC/16, assim como também o CC/02 não revogou o CDC. A relação que devemos ter é a seguinte: o CDC é uma lei especial, que não revoga lei geral; o contrário também se aplica: lei geral (CC) não revoga lei especial (CDC). Eles possuem uma relação de complementação e subsidiariedade.
O art.422 do CC, por exemplo, trata da boa-fé nos contratos. É um artigo inteiramente aplicável às relações de consumo. Primeiro, porque não restringe. Segundo, porque pode ser complementado pelo art.4º, III, do CDC, que também fala em boa-fé.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
c/c
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilizaçãoda proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
Em determinados momentos, a lei especial afastará a lei geral. Por exemplo, para ocorrer a revisão dos contratos, pelo CDC, basta que a prestação seja desproporcional para uma das partes, ou que fato superveniente torne excessivamente onerosa a obrigação. Isso porque o CDC não adota a teoria da imprevisão, como o CC, mas sim a teoria do rompimento das bases objetivas do negócio jurídico, pela qual exige-se, tão somente, para a sua aplicação, a existência de um fato superveniente e excessivamente oneroso, dispensando, portanto, o requisito da previsibilidade.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...)
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
Já na relação privada, a revisão do contrato, segundo o CC/02 (modificado atualmente em 2019), é medida excepcional:
Art. 421. Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que:
III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
Por exemplo, a revisão das prestações de uma obrigação advinda de um contrato exige que o fato superveniente seja imprevisível para a parte.
Art. 317, CC. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.
Exemplo: antigamente, nos contratos de leasing que tinham como fator de correção o dólar, os consumidores ficaram desesperados quando houve uma maxi-valorização da moeda estrangeira, disparando o valor da prestação mensal. Buscaram, na justiça, a sua revisão, utilizando a regulamentação dos contratos de acordo com o CDC. As instituições defenderam-se alegando que a variação da moeda não era imprevisível, mas o STJ julgou a favor dos consumidores. Portanto, na revisão de contratos, o CC/02 não se aplica, porque não é favorável ao consumidor, porque vai de encontro à norma consumerista.
Para anular um contrato por lesão, no CC/02, é necessária prova da inexperiência ou a premente necessidade do contratante. Já no CDC, o consumidor é vulnerável e não precisará comprovar esses requisitos.
Art. 157, CC. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
O contrário também pode ocorrer, quando o CC/02 for mais benéfico ao consumidor do que o CDC. Por exemplo, no transporte de pessoas (serviço), no caso de acidente causado por terceiro, o CC/02 entende que não se afasta a responsabilidade do transportador, mas ele poderá ajuizar ação regressiva contra o causador (art.735). Já no CDC (art.14, §3º, II), a responsabilidade é afastada. Nesse caso, aplica-se a regra mais benéfica, que é a do CC/02.
Art.735, CC. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida (excluída) por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
(...)
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
(...)
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
	Lei 9294/96: Essa lei trata das restrições de produtos fumígenos e de bebidas alcoólicas[footnoteRef:5]. Por exemplo, obrigação de colocar imagens na carteira de cigarro, restrição de publicidade de determinados produtos etc. Interage com o CDC, que também trata e regulamenta a publicidade. [5: Para os efeitos desta lei, considera-se bebida alcoólica aquela com teor superior a 13g/l.] 
Lei de defesa da ordem econômica (Lei 12.529/11): criou o SBDC – Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. Um dos eixos da defesa da ordem econômica é a proteção do consumidor, que já vimos na CF/88. O titular dos bens protegidos pela lei de defesa da ordem econômica é a coletividade. Essa lei reprime, por exemplo, a figura do Cartel, que é um das práticas concorrenciais desleais – também é um crime. Exemplos: os postos de combustíveis. Os vinhos vindos do Chile e da Argentina são muito baratos, com preços desleais com os brasileiros. Dizem que os próprios países diminuem os impostos, para fazê-los entrar muito baratos em outros países. O SBDC serve para realizar investigações. Todas as práticas concorrenciais, desleais, em certa medida, prejudicam o consumidor, embora, em um primeiro momento, pareçam favoráveis, como a diminuição dos preços de combustível e de vinho.
Lei de resíduos sólidos (Lei 12.305/10): Estabelece a responsabilidade do pós consumo, trazendo a relação do CDC com o meio ambiente. O consumidor também é um dos responsáveis pelo que sobra dos produtos, depois do consumo. A maior parte dos resíduos pode ser reprocessada e reutilizada. O consumidor deve fazer este resíduo chegar ao comerciante, que, por sua vez, deve fazer chegar ao distribuidor, que repassará ao fabricante, que reprocessa e reutiliza, na medida do possível. Apenas o que sobrar chama-se lixo. É a lógica da logística reversa.
O CDC também se relaciona com portarias e decretos, não só com leis.
3.4 Campo de aplicação
Quando se aplica, ou quando se deixa de aplicar o CDC? O CDC é lei especial e, por isso, não se aplica a todas as relações jurídicas, apenas a relações e atos de consumo. As relações de consumo mais comuns são a contratação de produtos e serviços.
	Se o CDC é o diploma que regula relação entre desiguais, é necessário identificar os desiguais. Somente se pode aplicá-lo em relações jurídicas desiguais, para alcançar a igualdade material. Se aplicado entre iguais, a solução será desigual e injusta. O CC regula as relações entre iguais, enquanto o CDC regula as relações entre desiguais. Para que se possa defender o consumidor, é necessário identificar a relação de consumo, entre desiguais, efetivamente.
	Em razão de o CDC trazer um feixe de normas que são caracterizadas como normas de ordem pública, aquelas inderrogáveis, inafastáveis, é de suma importância definir quem poderá ser abrangido por elas. Muitos querem ser consumidores, porque as normas trazem muitos benefícios/proteções. Por exemplo, os condôminos, há alguns anos, tentaram ser reconhecidos como consumidores, para aplicação do CDC em relação ao condomínio. O judiciário, naquele momento, afastou a tese levantada: se é condomínio, a relação é condominial, regida pelo CC e pela Lei dos Condomínios (Lei 4.591/64). Hoje, já está pacificada a matéria. Foi assim, também, com o clube e o associado: ficou decidido que o que rege a relação é o regimento interno, o estatuto social. 
Assim como muitos querem ser considerados consumidores, para serem mais protegidos, também muitos buscam em juízo se excluir da aplicação do CDC. Ninguém quer ser considerado fornecedor, porque ele tem tratamento desigual, tem sua vontade tolhida. 
3.4.1 Conceitos de consumidor
	3.4.1.1 Consumidor determinado
É o consumidor “standart” (padrão), individualmente considerado. É o último elo da cadeia produtiva, que retira o produto do mercado de consumo. Segundo o art.2º, caput, do CDC, “consumidoré toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. 
Há uma discussão doutrinária muito forte a partir desse conceito, no que diz respeito à pessoa jurídica. De regra, o CDC aplica-se a relações entre profissional e não profissional. A dúvida é: será que a CF/88 reconhece o direito fundamental de proteção pelo Estado a toda e qualquer pessoa jurídica? Surgiram, assim, duas correntes que procuram explicar, de início, o art.2º:
	
1ª - Teoria finalista (ou subjetiva): é uma corrente restritiva. É composta pela grande maioria da doutrina, que não quer alargar o conceito de consumidor, com receio de ruptura e fragilização do sistema, com o descrédito do CDC. Aceitam pessoas jurídicas como consumidores, desde que não visem a lucro: basicamente, associações civis e fundações. Eles entendem que a pessoa jurídica que visa ao lucro acaba repassando o custo ao consumidor final. Por exemplo, se a Volvo compra computadores IBM para o ambiente de trabalho dos desenvolvedores, os custos de sua aquisição serão repassados ao cliente/consumidor final. Assim, não podem ser protegidos em pé de igualdade.
	
2ª - Teoria Maximalista, ou Objetiva: Toda pessoa jurídica, quando destinatária final, é consumidora. Parte de uma interpretação literal do art.2º, caput, do CDC. Nesse mesmo exemplo, a Volvo encerra o ciclo econômico dos computadores IBM ao comprá-los. Ela não está comprando pneus, para equipar seus automóveis. Se comprar cadeiras e mesas para o refeitório de seus funcionários, é destinatário final fático, isto é, basta o encerramento. Para os finalistas, a destinação final puramente fática não é o suficiente, querem também questões econômicas.
	Encontra-se resistência em ambas as correntes. A primeira, por ser muito restritiva, excluindo situações cotidianas. A segunda, porque transforma o CDC no regulamento padrão do mercado. O judiciário oscilava entre as duas correntes.
3ª – Teoria finalista mitigada: Fruto das decisões judiciais. Foi firmando-se aos poucos, a partir de 2003, procurando encontrar um meio termo entre as duas teorias. A doutrina que sustentava a teoria finalista evoluiu, trazendo um finalismo aprofundado. O lucro da pessoa jurídica é irrelevante; o que é relevante é a vulnerabilidade, ou não, da pessoa jurídica – ou, inclusive, da pessoa física profissional –, a ser vista no caso concreto. Leva-se em consideração a vulnerabilidade informacional, técnica, econômica, jurídica. É como se fossem as circunstâncias do art.59, na fixação da pena do CP.
A vulnerabilidade informacional é aquela que frustra a legítima expectativa do consumidor: a informação era imprestável. Hoje, entende-se que, tão ruim quanto dar pouca informação, é o excesso de informações imprestáveis. A informação deve ser realmente precisa, oportuna. A vulnerabilidade técnica diz respeito ao conhecimento técnico. A vulnerabilidade econômica é uma das mais importantes, até porque é um balizador fácil de visualizar/identificar, no caso concreto. A vulnerabilidade jurídica diz respeito aos conhecimentos jurídicos e contábeis. Se for encontrada uma das vulnerabilidades, aplica-se o CDC. Para essa teoria, é irrelevante se a pessoa jurídica adquire um produto para incrementar sua atividade econômica. Alguns autores usam o art.29, do CDC, como referência: “equiparam-se a consumidor, todas as pessoas (...)”. Não exclui as pessoas jurídicas.
As palavras chave, portanto, são vulnerabilidade e caso concreto.
Situações estranhas ao CDC: 
- Relação locatícia, locador e locatário (Lei do Inquilinato); 
- Relação associativa, clube e associado (regimento interno + CC); 
- Relação de cooperativismo, cooperativa e cooperado: a cooperativa não pode ser consumidora, mas, excepcionalmente, pode ser fornecedora, como o Sicredi, que atua como banco;
- Relação tributária, fisco e contribuinte;
- Relação condominial, condômino e condomínio (CC/02 + Lei 4591/64); 
- Relação trabalhista, patrão e empregado (CLT e outras leis especiais).
Situações em que se aplica o CDC: 
- comprador e vendedor. Mas depende. Exemplo: a Lu vai vender o tablet ao professor. Eles não manterão relação de consumo, mas sim, civil. Ela não vive disso, ela apenas está vendendo seu produto. Já no mercado livre, sim, pois há publicidade e um intermediário, que lucrará em cima; 
- prestador de serviço e consumidor. Desde que não seja relação trabalhista. Sempre se examinará a situação diante do caso concreto.
3.4.1.2 Consumidor por equiparação
São três tipos de consumidor por equiparação. É uma ficção jurídica.
i. Coletividade 
Equipara-se a consumidor a coletividade de consumidores, cuja identificação não é necessária ou relevante, que já tenham participado das relações de consumo. A identificação é desnecessária/descabida, porque o destinatário da proteção é a coletividade. O pedido da ação deve ser algo que aproveite a todos desse grupo, pois há indivisibilidade do interesse.
Vivemos em uma sociedade de consumo, na qual as relações são impessoais, instantâneas. É uma sociedade de risco e, se vivemos estamos expostos e nos relacionamos com contratos padronizados (como um contrato bancário), haverá situações que atingem diversas pessoas, da mesma forma, indistintamente. Por isso, é necessário positivar a proteção da coletividade. Ação de massa para combater lesões de massa. Exemplo: o fornecedor praticou: cobrança abusiva, venda casada, cláusula abusiva. Atingem a coletividade. Se buscará: 1) cessação da cobrança; 2) devolução do valor na conta; 3) cessação da prática abusiva (venda casada), para não atingir os contratantes; 4) declaração de abusividade (cláusula abusiva); 5) mudança no contrato. Todas essas questões alcançam o interesse geral.
O conceito de coletividade como consumidor visa a permitir a defesa de um grupo de consumidores. Como a defesa não é individual, torna-se desnecessária a identificação desses consumidores. A condição é que ele já tenha participado da relação de consumo.
Art.2º - Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
São pessoas que já consumiram, cuja identificação não é relevante, pois não são protegidas individualmente. Exemplo clássico das pessoas que celebraram um contrato, com cláusula abusiva. Posso pedir a declaração de nulidade da cláusula, bem como a modificação do contrato. Não interessa quem são os celebrantes. Beneficia-se a todos que já realizaram aquele contrato, como um todo. Exemplo: diversas pessoas assinaram um determinado contrato com um plano de saúde, que possuía uma cláusula abusiva. Se forem anulados os efeitos dessa cláusula, todos os contratantes serão afetados. 
ii. Pessoas expostas a práticas abusivas (direitos difusos)
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.
O art.29 conceitua quem são os consumidores por equiparação em relação a direitos difusos. São pessoas que ainda não contrataram ou consumiram, estão meramente expostas às práticas comerciais e aos contratos de consumo. O objetivo é a prevenção geral e abstrata. A ideia é depurar o mercado de consumo, livrando-o das ilegalidades, para que o consumidor individualmente considerado, quando contratar, não seja lesado. Exemplo: não há necessidade de identificar as pessoas que foram efetivamente enganadas com a veiculação de uma publicidade enganosa. Busca-se a cessação e a veiculação do anúncio, para que nenhuma pessoa seja prejudicada. Basta, aqui, a mera exposição à propaganda. Exemplo: contrato padrão em branco (não preenchido), com cláusula abusiva. Protege-se o consumidor que ainda não contratou ou consumiu, mas que pode vir a consumir e ser prejudicado. O que é relevante é que as pessoas estão expostas.
O legitimado deve buscar elementos que permitam ajuizar a ação coletiva. No caso do MP, será o inquérito civil. As informações devem chegar ao conhecimento da Procuradoria, para que possa ser realizadauma investigação. A partir da investigação, o MP terá um lastro para saber o que pedir (qual o dano e sua dimensão), contra quem pedir (quem causou o dano) etc. O inquérito civil é procedimento investigatório previsto no art.8º, §1º, da LACP.
Art.8º, § 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.
iii. Vítimas de acidente de consumo
	Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
É o terceiro conceito de consumidor por equiparação. É a vítima de acidente de consumo que não tenha contratado, comprado, ou adquirido. A princípio, deveria ser um estranho à relação de consumo; o que o torna equiparado é o fato de ter sido vítima de um acidente de consumo, de alguma forma.
O acidente de consumo é um evento danoso produzido diretamente por um produto/serviço defeituoso. A expressão “defeito/defeituoso” não se usa, aqui, como se usa coloquialmente (estragado/não funciona), e sim como expressão de falha na segurança, porque é mais que um produto que não funciona, é um produto que acarretou dano (patrimonial e extrapatrimonial – moral, estético, psicológico, etc). Exemplo: um veículo fabricado com defeito no freio é vendido ao consumidor que, ao utilizá-lo, não consegue acionar os freios e bate em outros carros. O veículo defeituoso foi o causador de um acidente de consumo, e os motoristas dos outros carros, que não tinham relação direta com o produto, foram as vítimas. Eles são equiparados ao consumidor.
O defeito tem várias causas. Uma delas pode ser, inclusive, a falha da informação, como, por exemplo, um medicamento que não tem posologia na bula. O conceito de defeito, que é a falha na segurança, pode ser encontrado nos arts.12, §1º, e 14, §1º.
Art.12 - § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
Art.14 - § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
O produto é considerado defeituoso quando há falha na segurança que legitimamente dele se espera. Se a vítima desse acidente de consumo, cuja causa é um defeito, foi aquela pessoa que contratou, comprou, adquiriu, estamos falando de consumidor determinado (standard); se a vítima do acidente de consumo é um terceiro, aquele que não comprou, não contratou, não adquiriu, equipara-se a consumidor para todos fins, podendo buscar a reparação civil com base no CDC. Será o chamado “bystander”. Exemplo: João compra um carro acreditando estar bom. Ao descer uma lomba, fica sem freio. O próprio proprietário se machuca e, além disso, machuca mais 3 pessoas. A causa do acidente de consumo foi a falha no freio, isto é, o defeito no produto. Ele é consumidor standard, mas as 3 pessoas atingidas podem pedir reparação na esfera cível, porque elas passam a ser consumidores por equiparação.
O acidente de consumo pode atingir:
A) O consumidor determinado ou standard (Art. 2º, caput), destinatário final. Eventualmente, pode ser uma pessoa jurídica, em razão da teoria do finalismo aprofundado (teoria mitigada), se comprovada sua vulnerabilidade (cria uma barreira à entrada de empresas de médio e grande porte, já protegidas pelo CC);
b) O terceiro, que passa a ser consumidor por equiparação (art. 17). A premissa é responsabilizar o fornecedor porque colocou no mercado um produto, ou prestou um serviço, defeituoso (inseguro), que acarretou dano não só ao consumidor determinado, mas a qualquer vítima, que será equiparada ao consumidor.
Em razão de se tratar de uma proteção geral (ampla), de uma questão de incolumidade pública, não haverá discussão de culpa no processo, isto é, a responsabilidade do fabricante será objetiva. Caso seja ajuizada ação contra o motorista, naquele caso do acidente de trânsito, por exemplo, com regramento da responsabilidade civil prevista no CC, haverá discussão de culpa. Já pelo regramento previsto no CDC, se ajuizada contra o fabricante do carro, não se discute culpa. O CDC entrou em vigor em março de 1991, mas é bem atual no que diz respeito a essa situação da incolumidade pública. Ele adotou a equiparação da vítima do acidente a um consumidor com o intuito de responsabilizar o fornecedor por ter colocado o produto defeituoso no mercado. Se a falha do produto atingiu pessoas estranhas à relação de consumo, estas também devem ser indenizadas, em razão do que se esperava do produto: qualidade e segurança. É isso o que esperamos dos fornecedores.
Em resumo, portanto, as definições de consumidor previstas no CDC: 
1 – Determinado: em sentido estrito, standard. Art. 2º, caput. Pessoas jurídicas reconhecidamente vulneráveis são consumidoras, sendo irrelevante se visam ou não lucro -> finalismo aprofundado. 
2 – Por equiparação: 
a) Coletividade: As pessoas que integram essa coletividade já mantiveram relação de consumo. Desnecessária a tipificação, porque o destinatário da proteção é a própria coletividade. Art. 2º, parágrafo único. Ex.: Declaração de nulidade e ajuste da cláusula 15, porquanto abusiva, dos contratos já celebrados.
b) Coletividade de pessoas meramente expostas a práticas abusivas: As pessoas estão meramente expostas às práticas comerciais (estratégias de marketing) e aos contratos de consumo. Desnecessária a identificação, porque aqui se protegem interesses difusos. Art. 29. Ex.: Nulidade da cláusula 15 do contrato em branco.
c) Vítima de acidente de consumo, por um defeito de produto/serviço. Art. 17: Bystander. Fornecedor responde perante TODAS as vítimas desse acidente de consumo.
3.5 A defesa do consumidor em juízo
No mercado de consumo, o fornecedor oferece produtos e serviços de maneira rápida, instantânea, impessoal, geral. Produz produtos de maneira mecânica, não artesanal. Essa é a realidade que o CDC deve tentar fazer frente, a fim de evitar grandes lesões ao consumidor.
A defesa do consumidor é exercida a título individual pelo respectivo lesado, mas também poderá ser exercida a título coletivo. 
3.5.1 Defesa coletiva
Para que a defesa seja exercida a título coletivo (lato sensu), devemos estar diante de uma, entre três categorias jurídicas: 1) interesse e direito difuso do consumidor; 2) interesse e direito coletivo em sentido estrito; 3) interesse e direito individual homogêneo. Para cada categoria jurídica, haverá um pedido distinto na ação coletiva. Em qualquer um delas, a coletividade será o titular coletivo em sentido amplo da ação coletiva.
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
Se evolui da tutela individual para a tutela coletiva. O próprio judiciário não tem condições de absorver, a um só tempo, as ações individuais, em grande número. Também não é justo que duas pessoas em igualdade de condições e de situação fáticarecebam soluções diferentes. A ação coletiva amplia o acesso à justiça, trazendo segurança jurídica, a partir da isonomia de tratamento, e evitando ações individuais desnecessárias.
É possível, na mesma ação coletiva, visar à proteção dos três tipos de direitos coletivos, cada qual com um pedido determinado. Exemplo: uma cláusula de um contrato com um plano de saúde. Se eu pedir a anulação da cláusula e a modificação do contrato, será um direito coletivo em sentido estrito; se eu pedir uma indenização a todas as pessoas que foram lesadas, será um direito individual homogêneo; se eu pedir para que o plano de saúde pare de utilizar esse contrato para contratações futuras, será um direito difuso. Exemplo: se pescadores da colônia z-15 não puderam pescar em razão do derramamento de óleo de um navio, o MP poderia pedir a condenação do proprietário a uma indenização a favor do grupo (direito coletivo stricto sensu); uma reparação ao meio ambiente (direito difuso); se algumas pessoas entrarem nas águas e queimarem a pele, o MP poderá, ainda, pedir, como direito individual homogêneo, uma reparação pelo prejuízo causado. Os pescadores, entre si, possuem uma relação jurídica. Já as pessoas que se queimaram não possuem relação entre si, somente sofreram prejuízo em razão do mesmo fato, que é o elemento comum a todas. Exemplo: consumidores expostos à aquisição de um produto defeituoso, no norte do estado. Pede-se a proibição da comercialização e o recolhimento dos produtos já expostos (direito difuso). Se pessoas compraram esse produto defeituoso e foram prejudicadas, pede-se a indenização/reparação (direito individual homogêneo).
3.5.1.1 Direito difuso 
É considerado como um direito transindividual, ou seja, para além do indivíduo, e possui natureza indivisível. A proteção de um significa a proteção de todos. As pessoas não estão ligadas por circunstâncias jurídicas, apenas por situação fática.
3.5.1.2 Direito coletivo em sentido estrito 
Também é transindividual de natureza indivisível, mas, diferentemente do difuso, exige a presença de uma relação jurídica base. Limita-se o pedido ao interesse geral do grupo. Não há como pedir reparação do prejuízo, para cada pessoa lesada. O art.2º traz um conceito de coletivo em estrito senso. Exemplo: Art.51, §4º.
Art.51, § 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.
Contratos de turismo, imobiliário, educacional, planos de saúde, contrato de transporte, contrato hospitalar etc. A cláusula abusiva é nula de pleno direito.
3.5.1.3 Direito individual homogêneo 
É divisível, isto é, caracteriza-se pela divisibilidade do direito, da lesão. Os titulares são as pessoas lesadas a partir da mesma origem. Busca-se a reparação do prejuízo. Cada pessoa sofreu sua lesão, por isso o pedido é de condenação genérica à indenização dos lesados. Depois, cada um, individualmente, deverá provar a extensão do prejuízo que sofreu, para quantificar o valor. 
Quando é ajuizada a ação de direitos individuais homogêneos, o art.94 prevê uma ampla divulgação, para que os lesados, querendo, possam se habilitar. A sentença é de condenação genérica, pois o dano causado é único; já a extensão da lesão sofrida é variada. Por isso, a sentença deverá ser liquidada. Se os lesados se habilitaram, podem fazer isso na mesma ação coletiva. É possível uma execução coletiva, quando já liquidados os valores apurados. Os que não quiseram se habilitar podem aproveitar a sentença para liquidar a condenação, individualmente, em ação própria. Cada um ganhará um valor diferente. Na prática, ninguém se habilita, porque ninguém fica sabendo. A divulgação é feita no diário oficial, ninguém lê isso. 
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados.
Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.
O legislador fixou um ano para que a sentença seja aproveitada pelos lesados (CDC).
Art. 100. Decorrido o prazo de 1 ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e execução da indenização devida.
A ação coletiva que protege interesses individuais homogêneos será híbrida, porque é um misto de coletivo com individual. O dano causado é reconhecido em favor do legitimado, mas o titular da liquidação e da execução é individual, já que a extensão da lesão sofrida a ser demonstrada é do lesado.
E se ninguém se habilitar? O prazo de 1 ano de que trata o art.100 não é decadencial, nem prescricional. Serve apenas como balizador para ver o fluxo de aproveitamento. O prazo de prescrição, segundo o CC/02, é de 3 anos. Caso ninguém se habilite dentro do “prazo” de 1 ano, os legitimados do art.82 irão propor liquidação e execução para o Fundo de que trata o art.13, da LACP. 
Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados. 
A ação visava a beneficiar pessoas lesadas, que não se interessaram em recompor o prejuízo. Nesse caso, o titular poderá liquidar e executar em favor de um fundo de restituição de bens lesados. Serve como punição para a empresa que foi condenada. É uma exceção à tradição do nosso direito, de medir a indenização pela extensão do dano, da lesão. Como a indenização não foi aproveitada pelos lesados, o legislador criou essa alternativa de punir o fornecedor. Ainda, se apenas 6 pessoas se habilitarem, por exemplo, o titular do art.82 ainda poderá pedir indenização para o fundo, uma vez que o dano, muitas vezes, é grande demais para que apenas 6 indenizações sejam pagas.
O consumidor determinado (standart) e o consumidor bystander (vítima de acidente) só podem ajuizar ação individual para tutelar seus direitos. Todos os demais consumidores podem ser tutelados na ação coletiva.
3.5.2 IRDR x ação coletiva
Digamos que haja 5 mil pessoas envolvidas em cada caso. Se não existisse a ação coletiva, 5mil ações individuais poderiam ser ajuizadas. Seriam ações repetitivas, que poderiam ter desfechos diversos. Os legitimados ativos da ação coletiva são os mesmos da ação civil pública. 
A ação coletiva suspende as ações individuais sobre o mesmo tema. Antes, se eu ajuizasse uma ação individual, eu era questionado se eu queria ou não a suspensão do processo, caso houvesse uma ação coletiva. Hoje, o STJ reconheceu que a ação individual pode ser suspensa de ofício, sem nem ao menos questionar a parte autora, porque entendem que não haveria prejuízo. A ação coletiva não tem prazo máximo.
Além da ação coletiva, quando há um enorme quantidade de ações individuais, de demandas repetitivas, também pode ser suscitado o IRDR (pelo MP, DP, pelas partes, ou pelo juiz), que será analisada por uma câmara específica dentro do TJ. O IRDR tem origem no direito alemão. Poderão ser suscitadas questões de direito (processual ou material): exemplo, o adicional noturno aos policiais militares. Tem prazo máximo de 1 ano. Haverá a suspensão obrigatória de todas as ações repetitivas. Definição do processo piloto (causa piloto), aquele no qual o incidente foi instaurado. Obtenção da tese jurídica, que será levada a todas as ações. Novas ações serão julgadas improcedentes de plano, ou procedentes. O resultado é válidoem todo o Estado, ou nos 3 estados, no caso do TRF4. Pode ser suspensa inclusive a ação coletiva. 
Mas, se ela tiver matéria de fato, não alcança, restringindo muito sua utilização no direito consumerista, uma vez que este trata, na maior parte das vezes, de questões fáticas.
	Em resumo:
- IRDR é um incidente que pode ser instaurado em qualquer ação, individual ou coletiva, mas para ser instaurado, necessita que um tema, necessariamente de direito (material ou processual), seja repetitivo e essa repetição ameace a segurança jurídica. O IRDR visa a alcançar um único precedente, para se ter uma segurança jurídica, que será levado a todas as atuais ações repetitivas ou ações coletivas que estavam suspensas.
- Se antes da instauração de IRDR se ajuizou ação coletiva e se nessa ação coletiva, os juízes solicitaram a suspensão das ações individuais? Qual o risco do art. 976, I, CPC para fins de admissibilidade do IRDR? Ficaria sem esse requisito do art. 976, I, CPC. Apenas haverá cruzamento das ações coletivas como o IRDR na suspensão das ações que tratem de direito e interesses individuais homogêneos.
- Em uma ação o autor, a defensoria, o MP, o juiz ou o réu podem requerer a instauração do IRDR, mas normalmente é o juiz que pede. Se foi solicitada a instauração do IRDR na ação X, essa ação será o processo-piloto e a sentença dela será a tese jurídica, que será levada para todas as ações individuais ou coletivas. 
- Os JEC’s também se sujeitam às teses jurídicas, ou seja, ao IRDR. Quem é o julgador é o órgão indicado pelo regimento interno como o responsável pela uniformização da jurisprudência. 
- Os pedidos da ação coletiva podem versar sobre condenação à obrigação de fazer, não fazer e indenizar (art. 3º da LACP). 
- A AC visa a alcançar uma sentença com eficácia erga omnes ou ultra partes (art. 103 do CDC). 
- Cabe em questões de direito e de fato. 
- A ação coletiva não tem por objeto questões processuais, como o IRDR, não podemos discutir se cabe ou não inversão do ônus da prova. Apenas podemos discutir o dever de indenizar. 
- Pedidos mais amplos.
- Visa a proteger direitos/interesses.
- Difusos ou coletivos e, quanto aos individuais homogêneos quando o objetivo é facilitar a reparação. 
OBS para quem for ler meu arquivo (Sílvia Arroque): O verbo “visar” requer o complemento "a”. Portanto, quem visa, visa A alguma coisa. Com essa explicação, viso A esclarecer questões de português. Beijos no coração.
Conclusão: Sobre a ideia de uma contenção de uma litigiosidade repetitiva de massa, o IRDR é muito mais eficaz, porque a tese jurídica devera ser acolhida, seja para beneficiar ou prejudicar, enquanto a sentença na ação coletiva, só em caso de procedência beneficiará; em caso de improcedência, não prejudica os lesados individualmente.
- Conceito de fornecedor: 
Para a caracterização da relação jurídica de consumo é necessário a figura do fornecedor. Pode ser uma pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira, pública ou privada. Ligada à fabricação, produção, construção, comercialização ou prestação de serviços. Importador e ente despersonalizado (ex.: uma sociedade sem registro). 
	Para ser uma pessoa física, ela deve prestar um serviço de consumo, por exemplo, um professor de inglês que dá aula particular, um pintor, etc. Deve haver um contrato de prestação de serviços.
- Objeto: 
Para a caracterização da relação jurídica de consumo é necessário também o objeto.
Produto: Qualquer bem.
Serviço: Atividade posta à disposição dos consumidores, mediante remuneração, no mercado de consumo. A remuneração pode ser direta ou indireta (ela está diluída). Exemplo: eu não cobro do meu consumidor o estacionamento (estacionamento gratuito), mas esta cobrança está diluída nos preços dos produtos comercializados. Isso porque alguém paga o IPTU, iluminação, limpeza, segurança, então nunca vou estacionar de graça, esse custo estará diluído no produto. O mais honesto seria cobrar o estacionamento. Exemplo: Comprei uma calça e ela precisa de ajuste e o vendedor diz que eles têm uma costureira que faz sem custo. Outro caso de remuneração indireta. 
- Os serviços públicos e a incidência do CDC:
Há uma posição que defende que o CDC se aplica a todos os serviços públicos, mas essa ideia é forçada. Há outra posição que divide em serviços públicos “uti universi” x serviços públicos “uti singuli”.
	Os serviços públicos “uti universi” são também chamados de serviços públicos próprios. Caracterizam-se pela indivisibilidade na prestação, como regra (comporta exceções). Temos aqui um dever do estado, ou seja, uma relação de cidadania. O serviço é custeado pela arrecadação de tributos e arrecadações. Sobre esses serviços, não incide o CDC, porque eles decorrem de uma relação de cidadania em que o estado é obrigado a prestá-los, a qualquer pessoa. O serviço é "gratuito”, porque é custeado pelos tributos e contribuições. Exemplo: segurança e saúde pública. Então, o cidadão X, ou o usuário Y, usam o serviço em razão do dever de o estado prestar, a título universal.
	Os serviços públicos “uti singuli” são chamados de serviços públicos impróprios. Caracterizam-se pela divisibilidade na prestação. Decorrem de uma relação contratual, e são pagos por meio de tarifas ou preço público. Sobre eles, incidirá o CDC. Exemplo: andar de ônibus. Tenho que pagar para andar de ônibus.
O CDC fala em serviços públicos no art. 3º, art.4º, VII, art.6º, X e art.22. 
Aula 06 – 02/04/18 e Aula 07 – 09/04
	Serviços públicos:
	Nem todos os serviços públicos sofrem a incidência do CDC. Precisamos distinguir os serviços públicos a título universal, daquelas a título singular. 
Os serviços públicos “uti universi” são também chamados de próprios. O Estado presta o serviço público de maneira indistinta, universal. O pagamento é de maneira diluída, a partir de todos os contribuintes. O serviço é indistinto, universal, atende a todos, de maneira ampla e geral.
	Já o serviço “uti singuli” geralmente é remunerado por tarifa/preço público. O serviço consumido é pago. A tarifa é normalmente composta pelo preço básico, pela disponibilidade, e o serviço efetivamente consumido. No que diz respeito à telefonia fixa, houve várias discussões acerca das tarifas fixas (preço básico), pelo argumento de que, se se trata de relação de consumo, o consumidor só deve pagar aquilo que consumiu. Todas as ações foram refutadas, pelo custo da disponibilidade do serviço. Sem contar na necessidade que as companhias tem de investir, precisando de recursos. Portanto, o STF indicou que o preço básico, pela disponibilidade, não é ilegal.
	Enquanto o serviço universal é indivisível, com prestação difusa, o serviço singular é divisível, prestado ao contratante.
	Exemplo: art.22, CDC.
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Logo que editado o CDC, surgiu uma dúvida quanto a esse artigo. Os serviços essenciais, como água e luz, devem ser contínuos, segundo esse artigo. A dúvida ficava se, quando o consumidor ficasse inadimplente, poderia haver a suspensão do serviço. Alguns autores entendiam que sim, porque, ainda que fosse serviço essencial, trata-se de contrato sinalagmático. Isto é, existe uma prestação e uma contraprestação. Se um dos lados do contrato falhar, o outro não está obrigado a cumprir sua prestação. Outros autores diziam que não poderia ser suspenso, pois feriria a dignidade da pessoa humana, pois ninguém pode viver sem acesso à água e à luz. 
Hoje, prevalece o primeiro entendimento, pelo STJ e o TJRS, que reconhecem que, ainda que a prestação seja continuada, o serviço não é gratuito. É uma discussão já superada.
Para reforçar essa posição, surgiu a Lei 8987/95, que regulamenta os serviços públicos concedidos. No art.6º, §3º, II, diz que, se houver prévio aviso, o consumidor pode ficar sem o serviço, em razão do interesse da coletividade, ou pelo princípioda solidariedade. Se as pessoas pararem de pagar, o serviço fica mais caro. Alguém teria que pagar para aqueles que não estão pagando.
§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando:
(...)
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.
Existem decisões aqui do TJRs que dizem que a dívida cobrada não pode ser remota. Por exemplo: recomposição tarifária. O ente cobrou errado por algum tempo, e agora está cobrando a diferença do consumidor. Se for por essa dívida antiga, a empresa deve cobrar pelos meios usuais, mas sem poder suspender o fornecimento.
Súmulas do STJ que tratam sobre a relação de consumo:
- 297: se aplica o CDC às instituições financeiras. O STF julgou uma ADIN de alguns dispositivos do CDC, especialmente o art.3º, §2º, que falava em serviços bancários. A confederação nacional dos bancos (FEBRABAN) ajuizou essa ADIN, porque entendia que somente o banco central poderia regular os serviços bancários. Lá pelo ano de 2000, o STF, por maioria, reconheceu que essas expressões que estão dentro do CDC não são inconstitucionais, podendo ser aplicado o CDC. Porém, ficou definido que os juros não são definidos por normas do CDC, mas sim, por outros fatores. O STJ, então editou a súmula 297.
- 469: passados alguns anos, o STJ editou a súmula 469, que diz que o CDC é aplicável, também, aos planos de saúde.
- 321: cancelada, substituída pela 563.
- 563: somente os contratos de previdência privada aberta é que sofrem incidência do CDC. Os contratos de previdência privada fechada, não. Por exemplo, plano da Petrobrás, plano de empresas. As abertas são aquelas abertas ao público em geral. A súmula 321 também reconhecia a incidência do CDC nos contratos de previdência fechada, por isso foi cancelada.
- 602: é bem recente, de 26 de fevereiro. Estabelece que cooperativas habitacionais (sociedades cooperativas), quando colocam imóveis no mercado de consumo, são fornecedoras, para todos os efeitos, aplicando-se o CDC.
Não incide o CDC (Estado arrecada por meio de tributos):
Saúde pública, educação pública, iluminação pública, segurança pública.
Também não incide: nas locações (a não ser que o sujeito contrate uma imobiliária: com ela, terá relação de consumo, mas com o locador terá relação locatícia), condomínios, clubes/associados, cooperativas/cooperados (pode haver atípica relação, em que se aplica a súmula 602, do STJ).
O sujeito que investe na BOVESPA não é consumidor, apesar de comprar ações. Trata-se de mercado de capitais, não de mercado de consumo. Já se o sujeito contrata uma empresa investidora, com ela, terá relação de consumo. Com a empresa da qual comprou as ações, o sujeito só será investidor.
Incide o CDC (tarifa):
Transporte público, estradas pedagiadas, água residencial, luz residencial, telefonia fixa, telefonia móvel celular (um pouco diferente da fixa, na natureza dos contratos).
Também incide o CDC para torcedor que paga ingresso, no estatuto do idoso diversas regras voltadas ao consumidor idoso (exemplo, o idoso internado tem direito a acompanhante, se possui plano de saúde, desconto para espetáculos artísticos, etc), cliente/banco, escolas particulares (desde aula particular até doutorado), saúde privada (hospitais, laboratórios, clínicas), prestação de serviço de conserto, pintura, etc. Locação de veículo também é relação de consumo, ou locação de coisas móveis (por exemplo, alugar um aparelho de som, uma roupa, etc).
A política nacional das relações de consumo:
- São os objetivos almejados pela aplicação do CDC.
A) Proteção da vida (o mais importante), da saúde e segurança do consumidor. Isto é, a incolumidade pública. Especialmente a produtos de risco elevado. Uma forma de reduzi-los é através de alertas, sinais, informações ostensivas e adequadas. Por exemplo, um inseticida. Em alguns casos, retirada do mercado.
B) Proteção dos interesses econômicos do consumidor. Exemplo: fixação de multa moratória de 2%, proibição de aumentos abusivos de preço, sem motivação ou qualquer variação dos insumos. 
C) Atendimento às necessidades do consumidor. Visa a evitar a escassez de produtos. Por exemplo, no mercado de combustível. Manutenção de estoques de alimentos.
D) Respeito à dignidade do consumidor. Exemplo: art.71, respeito na cobrança de dívidas. Hoje em dia é mais raro acontecer isso, mas houve épocas em que a cobrança de dívidas se mostrava sem limites.
E) Melhoria da qualidade de vida. Exemplo: evolução tecnológica de produtos, mais opções, serviços públicos com mais qualidade. Produtos que causam, inclusive, menos problemas de saúde ao consumidor. Produtos mais confortáveis, que não causam lesão por esforço repetitivo. Inclui-se também o sistema do pós-consumo, o que é feito com o lixo produzido.
F) transparência e harmonia nas relações entre fornecedor e consumidor. Ideal para satisfazer ambos os partícipes da relação de consumo. O objetivo do fornecedor é o lucro, que será investido na produção, que abrirá postos de emprego, etc. Consumidor quer preço e qualidade.
- Quais são os instrumentos utilizados para que a política nacional das relações de consumos seja implementada (estratégias):
A) Criação de promotorias/procuradorias especializadas de defesa do consumidor no âmbito do Ministério Público. No âmbito do MP federal, procuradorias.
Em POA, há 4 cargos de promotor de justiça especializados. No interior, a defesa do consumidor é diluída com outras atribuições. Por exemplo, em Caxias, a promotoria é do meio ambiente e do consumidor.
No âmbito do MPF, são 3 cargos de procurador exclusivos e especializados, em POA.
O MP, como órgão agente, atua como parte: a partir do recebimento de notícias, instaura inquéritos civis. O inquérito civil é um procedimento investigatório, feito pelo próprio MP, que permite: a) sejam celebrados TACs (Termo de Ajustamento de conduta) ou b) sejam ajuizadas ACPs (Ações Civis Públicas). O TAC é espontâneo, assina se quiser. Ninguém é obrigado a assinar TAC.
O MP também pode atuar como fiscal da ordem jurídica. Nesse caso, será interveniente. Não ajuíza a ação, mas participa da ACP, que foi ajuizada por outro co-legitimado. Aqui em POA, os 4 cargos de promotor da defesa do consumir exclusivos só atuam como parte. A função de fiscal da ordem jurídica é feita pelos promotores cíveis.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
Residualmente, MP dos Estados. Se não for de nenhuma das matérias acima, será estadual.
Exemplo: ANATEL determina uma conduta às operadoras de TV por assinatura. Se essa normativa é ilegal, quem atuará será o MP federal. A anatel será ré, que é uma autarquia federal. 
Exemplo: Operadora de TV por assinatura veicula um anúncio. Se o anúncio é enganoso, quem atuará será o MP estadual.
Se o MP analisa a notícia e percebe que, lá na frente, o possível réu é de competência federal, encaminha ao MP federal. E o contrário também, porque não adianta investigar se não vai poder atuar.
Exemplo: papel do MP no ajuizamento de ações que visam à declaração de cláusulas abusivas (art.51, §4º, do CDC).
B) Associações civis de defesa do consumidor: São entidade sem fins lucrativos voltadas à defesa do consumidor, de acordo com os seus estatutos. São fruto de propósitos altruístas.
- Podem ajuizar ACP coletivas de consumo (quando existentes há mais de um ano): difuso, coletiva stricto sensu e individuais homogêneas. Exemplo: IDEC, de SP. Além de ações coletivas, costuma fazer publicações e testes de produtos. Podem também realizar seminários, publicações doutrinárias, etc. Exemplo: Brasilcon, que realiza seminários, eventos científicos, publicação da revista de direito do consumidor, pela editora RT (4 edições por ano). Ele não ajuíza ações, masatua nos tribunais superiores como amicus curiae. O Brasilcon foi fundado em 92, em Canela, em um seminário. É uma das associações mais importante no país. (Essas revistas servem como leitura complementar.
- não se limitam a proteger seus associados, porque os interesses difusos e coletivos são indivisíveis, e os individuais homogêneos são provenientes de uma origem comum.
- A lei não autoriza a celebrarem TAC, porque a lei fala apenas em órgão público.
- Não instaura inquérito civil, que é exclusivo do Mp, mas podem solicitar informações para permitir o ajuizamento de ações coletivas. Podem, inclusive, requerer ao juiz que obtenha a informação necessária.
C) SENACON – Secretaria Nacional do Consumidor: previstas suas atribuições no Decreto 2181/97. Atuação voltada à orientação dos consumidores e à fiscalização do mercado de consumo. Tem função de coordenar a atuação dos Procons (dos Estado e Municípios), procurando uniformizar a atuação, especialmente em questões de dimensão regional ou nacional. Por exemplo, quando surgiu o golpe das pirâmides, que começou noAcre, e foi se espalhando por outros Estados, a SENACON emitiu orientações aos Procons, sobre a forma que deveriam atuar. Compõe a estrutura do Ministério da Justiça. Mj.gov.br (informações sobre a defesa do consumidor, especialmente sobre a senacon).
A SENACON substituiu o Departamento de Defesa do Consumidor, que se chamava DPDC, em 2012. A SENACON aumentou o status e, consequentemente, a importância. Art.106, CDC: o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor é liderado pela SENACON. 
Art. 106. O Departamento Nacional de Defesa do Consumidor (hoje, SENACON), da Secretaria Nacional de Direito Econômico (MJ), ou órgão federal que venha substituí-lo, é organismo de coordenação da política do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, cabendo-lhe: (...).
Ela também organiza um banco de dados com informações sobre fornecedores (como se fosse um banco de certidão negativa criminal), interligado com todos os Procons, de todos Estados e Municípios. Isso é importante, porque muitas vezes os fornecedores tem atuação regional, isto é, em mais de um Estado.
D) Defensoria Pública: Importante instituição voltada ao ajuizamento de ações para os consumidores carentes. No entanto, além dessa função originária, desde 2007, com a Lei 11.448, também ficou autorizada a ajuizar ações coletivas. O STF, na ADIN 3943 (promovida pela Associação dos Membros do MP, pois entendia que a DP deveria atuar apenas em favor dos necessitados), pela relatora, entendeu que a defensoria pública tem legitimidade para ajuizar ações coletivas que tratem de interesses difusos, coletivos “stricto sensu” ou individuais homogêneos. A CF/88 dizia que a DP atuaria na defesa dos carentes. Hoje, já foi modificada, para incluir a defesa dos direitos individuais e coletivos (art.134 + EC 80/2014). Agora, essa polêmica acabou.
E) Especialização de Varas e Juizados: Aqui em Porto Alegre, o provimento 39/93 estabelecem que a 15ª e a 16ª Varas Cíveis têm distribuição preferencial para as ações coletivas. No RJ, por exemplo, existiam, até poucas semanas, diversas câmaras cíveis especializadas na defesa do consumidor. Lá também existem Varas empresariais, com competência para a defesa do consumidor.
F) DECON – Delegacias do consumidor. Porto Alegre tem uma única delegacia de polícia especializada em crimes contra o consumidor. Os crimes têm previsão no CDC, título II. São crimes de menor potencial lesivo. Na Lei 8.137/90, art.7º, há alguns crimes com mais gravidade, penas de 2 a 5 anos. Os do CDC vão para o JECRIM.
	- Princípios aplicáveis à Política Nacional das Relações de Consumo:
	a) Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor. É o chamado princípio matriz. Dele decorrem todos os demais. Importante na inclusão de profissionais como consumidores (finalismo aprofundado), que são as pessoas jurídicas reconhecidamente vulneráveis.
	Vetoriais:
	- vulnerabilidade técnica
	- vulnerabilidade jurídica
	- vulnerabilidade econômica
	- vulnerabilidade informacional.
	Pode-se afirmar que a proteção especial conferida ao consumidor se deve ai reconhecimento da sua vulnerabilidade (Resolução 39, da ONU).
	O princípio da vulnerabilidade decorre do princípio da igualdade: tratam-se desigualmente os desiguais, para alcançar igualdade. É a igualdade material. O princípio é o fio condutor do direito do consumidor, auxilia a fazer a ligação da Lei com a interpretação dos juristas. Não pode ser revogado, como as regras.
Há casos em que os consumidores têm vulnerabilidade acentuada – também chamados de hipervulneráveis –, em razão de idade, condição social e doença. Vide art.39, IV, do CDC. 
É o caso, por exemplo, de crianças e idosos frente à publicidade. No RS, houve, há um tempo, o golpe das almofadas terapêuticas, nos idosos. Os criminosos tinham acesso à lista do INSS para verificar quem ainda tinha capacidade de endividamento. A partir disso, faziam visitas a esses idosos, e os convenciam de que eles tinham que comprar a almofada terapêutica, para curar várias doenças, financiando através de bancos e descontadas do benefício previdenciário em várias prestações. O MP entrou contra os bancos e pediu que os descontos fossem suspensos dos benefícios. Os bancos acabaram, por iniciativa própria, devolvendo os valores aos idosos, para não ver seus nomes manchados (eram bancos menores).
Por exemplo, analfabetos, ou pessoas com baixa escolaridade.
Cristiano Schimidt, editora Atlas – Consumidores hipervulneráveis, a proteção do idoso no mercado de consumo.
B) Princípio da boa-fé. Também é um dos mais importantes nas relações de consumo. Não há nada mais importante do que adotar, como conduta, no mercado de consumo: lealdade, respeito, cooperação, educação, informação, sigilo (em algumas situações, como nas relações de saúde). A harmonização dos interesses entre fornecedores e consumidores pressupõe a boa-fé.
Fala-se em boa-fé objetiva, porque se refere a um padrão de conduta a ser adotado no mercado de consumo: ética, probidade (art.422, CC).
Antes do CDC, o consumidor era distante do fornecedor. Cada um via somente o seu lado. Não havia cooperação. Depois do CDC, que adota o princípio da boa-fé objetiva, se busca a harmonização dos interesses. Ambos devem estar satisfeitos com a relação de consumo.
A boa-fé é exigida antes da relação de consumo (consumidor entendeu? Tinham as informações necessárias?), durante (houve alguma surpresa durante a execução do contrato?) e depois.
Exemplo: as chamadas cláusulas surpresa. São aquelas que, no momento da contratação, não são percebidas, mas, durante a execução do contrato, impede ou embaraça algum direito para o consumidor. Muito preocupante nos contratos de longa duração, como planos de saúde, tv por assinatura, etc. 
Exemplo: o medicamento foi colocado no mercado, e o laboratório descobre que ele tem um princípio ativo que causa dependência. Deverá fazer uma publicidade, indicando que as pessoas não devem mais usar aquele medicamento.
C) Princípio da coibição e repressão eficientes dos abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e o uso indevido de sinais, marcar e cores que possam confundir o consumidor e causar prejuízo. Poderá haver, concomitantemente, responsabilização civil, administrativa e penal.
Exemplo: publicidade enganosa. Responsabilidade civil: ação coletiva para cessar e punir o fornecedor; responsabilidade administrativa: art.56, XII, imposição de contrapropaganda (imposta pelo procon ou senacon); responsabilidade penal: art.67, do CDC. Exemplo da BR e da 13R. Faz com que o consumidor se engane, utilizando a mesma cor, quase maquiando a marca original.
Esse princípio tem uma aplicação bem importante em relação à pirataria de marcas e produtos.
G2 – aulas 08 a 15 (prova na aula 16, dia 02/07)
	- Direitos básicos do consumidor:
	1 - Facilitação da sua defesa judicial mediante inversão do ônus da prova: é um dos mais importantes direito básicos, porque o consumidor, se reconhecida a inversão, estará a um passo