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WELINGTON SANTOS MATEMÁTICA DISCRETA Código Logístico 59915 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-65-5821-012-2 9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 1 2 2 Matemática Discreta Welington Santos IESDE BRASIL 2021 © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: devotchkah/a_slowik/envatoelements Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S239m Santos, Welington Matemática discreta / Welington Santos. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2021. 136 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-012-2 1. Matemática. 2. Lógica simbólica e matemática. 3. Teoria dos conjun- tos. 4. Análise combinatória. 5. Funções (Matemática). I. Título. 21-69713 CDD: 510 CDU: 51 Welington Santos Doutor e Mestre em Matemática pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduado em Licenciatura em Matemática pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Participou de programa de doutoramento sanduíche na Universidade de Maryland, EUA. Tem experiência na área de Matemática com ênfase em Teoria algébrica dos códigos corretores de erros, Teoria de invariantes, Self-dual codes, Decodificação fracionária e Teoria de matróides. Tem experiência em ensino superior, ministrando aulas no formato presencial e a distância. SUMÁRIO 1 Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 9 1.1 Fundamentos de lógica matemática 9 1.2 Demonstração direta e demonstração por contraposição 20 1.3 Demonstração por contradição 24 1.4 Demonstração por absurdo 25 1.5 Demonstração por indução finita 26 2 Teoria de conjuntos 30 2.1 Noção intuitiva de conjuntos 30 2.2 Descrição e igualdade de conjuntos 31 2.3 Subconjuntos 34 2.4 Operações com conjuntos 36 3 Conjuntos numéricos 47 3.1 Conjunto dos números naturais 47 3.2 Conjunto dos números inteiros 51 3.3 Conjunto dos números racionais 54 3.4 Números reais e cardinalidade 56 3.5 Aritmética modular 58 4 Relações 61 4.1 Produto cartesiano e par ordenado 61 4.2 Conceito de relação 64 4.3 Relação inversa 68 4.4 Propriedades das relações 69 4.5 Operações e fecho de relações 72 4.6 Relação de ordem e de equivalência 74 5 Funções discretas 80 5.1 Conceito e classificação 80 5.2 Função composta e função inversa 85 5.3 Funções recursivas 89 6 Análise combinatória 92 6.1 Princípios de contagem 92 6.2 Arranjos 97 6.3 Permutações 99 6.4 Combinações 102 6.5 Binômio de Newton 106 6 Matemática Discreta 7 Funções geradoras e partição de um inteiro 112 7.1 Funções geradoras 112 7.2 Operações com funções geradoras 114 7.3 Funções geradoras exponenciais 120 7.4 Sequência de Fibonacci 123 7.5 Partição de um inteiro 124 7.6 Gráfico de uma partição 126 Gabarito 129 APRESENTAÇÃO Esta obra oferece uma abordagem introdutória à matemática discreta, área da matemática dedicada ao estudo de objetos que são formados por elementos desconexos entre si, chamados de elementos discretos. Apresentamos, com detalhes, conceitos fundamentais de teoria de conjuntos, conjuntos numéricos e aritmética modular, diferentes problemas de combinatória e funções úteis para a resolução de problemas de contagem. Para tanto, no primeiro capítulo, discorremos sobre os fundamentos básicos da lógica matemática, apresentando operações entre proposições lógicas e suas implicações nas técnicas de demonstração para resultados matemáticos. A matemática é fundamentada por axiomas, lemas, corolários e teoremas, que são validados por meio das demonstrações. Nesse sentido, ao longo de toda a obra, apresentamos e aplicamos as principais técnicas de demonstração (direta, contraposição, contradição, absurdo e indução) para provar fatos bem conhecidos da matemática. No segundo capítulo, abordamos a teoria fundamental de conjuntos, que embasa toda a matemática discreta, apresentando as técnicas básicas de contagem do número de elementos dos conjuntos e as principais operações entre eles, como a intersecção, a união e a diferença. O terceiro capítulo propõe um estudo aprofundado dos principais conjuntos numéricos, explorando as diferentes propriedades e operações que cada um desses conjuntos possui. Além disso, classificamos os conjuntos numéricos em termos de sua cardinalidade, descrevendo o conceito de conjunto enumerável e não enumerável. Diante da importância da aritmética modular em problemas que envolvem contagem, discorremos detalhadamente sobre essa matéria, que é observada na leitura de um CD e na validação do número do Cadastro de Pessoa Física (CPF). No quarto capítulo, com objetivo de introduzir o conceito de relações entre conjuntos, nos debruçamos sobre a operação de produto cartesiano entre conjuntos. Além disso, apresentamos as principais propriedades das relações entre conjuntos e dois tipos especiais de relação: relação de ordem e de equivalência, que são utilizadas na alocação de frota de empresas aéreas, por exemplo. No quinto capítulo, utilizamos o conceito de relações entre conjuntos para definir funções discretas, apresentando os principais elementos que compõem uma função: domínio, contradomínio e imagem. Exploramos também as principais propriedades operatórias entre funções. Por fim, apresentamos os fundamentos básicos de funções recursivas, apontando sua aplicação para a criação de sequências numéricas, como a famosa sequência de Fibonacci. Vídeo 8 Matemática Discreta No sexto capítulo, nos debruçamos sobre os princípios fundamentais de contagem: princípio da adição, da subtração, da multiplicação e o princípio da casa dos pombos, exibindo exemplos de aplicações para cada um deles. Além disso, o capítulo define, classifica e ilustra diferentes problemas de contagem. Por fim, são exploradas as principais propriedades do binômio de Newton e do teorema multinomial. No capítulo final, abordamos a função geradora ordinária de uma sequência numérica, identificando as relações entre operação com sequências numéricas e funções geradoras. Exibimos, por meio de exemplos, como podemos utilizar funções geradoras para solucionar problemas de contagem. Por fim, as ideias básicas de partição de um número inteiro são apresentadas. O livro também apresenta, ao final de cada capítulo, exercícios cuidadosamente selecionados para que você exercite e explore, na prática, os temas apresentados. Bons estudos! Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 9 1 Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração Você já se perguntou como surgiram as diversas fórmulas da ma- temática, como as famosas fórmulas de Bhaskara e de Pitágoras? Já imaginou o porquê de elas sempre funcionarem? Isso se deve ao fato de que essas (e muitas outras) fórmulas foram demonstradas, isto é, alguém, utilizando um método lógico dedutivo, provou que elas são sempre válidas. Neste capítulo, você irá aprender os principais fundamentos da lógica matemática, por exemplo, qual é o principal objetivo de se estudá-la, o que é um paradoxo, o que é uma proposição e como podemos operar com proposições. Além disso, aprenderá os principais métodos de de- monstrações, isto é, as principais técnicas utilizadas para demonstrar que alguma fórmula ou propriedade é verdadeira. Por fim, você realizará suas primeiras demonstrações matemáticas. 1.1 Fundamentos de lógica matemática Vídeo A lógica matemática teve origem no século IV antes de Cristo na Grécia Antiga, com os trabalhos de Parmênides (530-460 a.C) e Zenão (510-470 a.C), mas ganhou status de ciência apenas após os trabalhos do filósofo Aristóteles (384-322 a.C), em especial na obra Organum, na qual ele estabelece os princípios dela e, poresse motivo, é chamado de pai da lógica matemática. O norte da lógica matemática é a busca pela verdade; sendo assim, possui como objeto de estudo as leis de formação do pensamento e as regras para se aplicar essas leis para investigar a verdade. Outro grande objetivo dessa ciência é entender como podemos utilizar noções previamente estabelecidas como verdadeiras para deduzir novos conhecimentos. Com o objetivo de estudar a verdade, precisamos definir o principal objeto de estudo da lógica matemática: as proposições. 10 Matemática Discreta Definição Uma proposição é uma declaração que pode ser verdadeira ou falsa. De modo mais preciso, poderíamos dizer que uma proposição é um conjunto de símbolos e palavras que exprimem um pensamento, o qual pode ser verdadeiro ou falso. Observe os seguintes exemplos de proposições. Σxemρlo 1 São proposições: • p: Tóquio é a capital da China. • q: Wellington é a capital da Nova Zelândia. • r: 1 + 5 = 6. • s: π < 3. Cada uma das proposições do exemplo anterior exprime um pensamento, al- guns verdadeiros, como os pensamentos expressos nas proposições q e r, e alguns falsos, como nas proposições p e s. Assim, dizemos que as proposições q e r pos- suem valor lógico verdadeiro (V) e a as proposições p e s possuem valor lógico falso (F). É possível escrevermos sentenças que não possuem nem valor lógico verdadei- ro nem valor lógico falso. Essas sentenças não são proposições e são conhecidas como paradoxos. Existem alguns exemplos bem conhecidos, os quais são muito utilizados na música e na literatura. Vejamos: • “O amor é ferida que dói e não se sente” – Luís Vaz de Camões. • “Estou cego e vejo” – Carlos Drummond de Andrade. • “Já estou cheio de me sentir vazio” – Renato Russo. Note que não podemos atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para a frase de Carlos Drummond de Andrade, pois estar cego e ver é um paradoxo. A seguir vamos analisar o paradoxo conhecido como paradoxo do mentiroso. Σxemρlo 2 Considere a seguinte sentença: Esta frase não é verdadeira. Agora, faça a análise desse paradoxo. Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 11 Note que, se a sentença é verdadeira, então, pelo seu significado, a sentença é falsa e isso é uma contradição. Semelhantemente, se a sentença for falsa, então o que ela diz não é fato e, assim, a sentença é verdadeira, ou seja, temos novamente uma contradição e, portanto, um paradoxo. A lógica matemática adota alguns axiomas, que são proposições presumida- mente assumidas como verdadeiras, porque se acredita que são de alguma forma razoáveis, por exemplo, o seguinte axioma de Euclides: “pode-se traçar uma única reta ligando dois pontos quaisquer”. Os dois princípios fundamentais da lógica matemática são: Princípio da não contradição Princípio do terceiro excluído Uma proposição não pode ter valor lógico verdadeiro e falso ao mesmo tempo. Por definição, exclui-se a possibilidade de um paradoxo ser uma proposição. Toda proposição ou é verdadeira ou é falsa, não havendo possibilidade de assumir outro valor lógico. Esse princípio diz que toda proposição não abre espaço para interpretação, isto é, ou a proposição é verdadeira ou é falsa; não existe a possibilidade de “talvez” e “depende”. Assim como fazemos com pensamentos, podemos combinar mais de uma proposição para formar uma nova, chamada de proposição composta. Mais preci- samente, dadas proposições simples p, q, r, s, t, ... podemos construir uma nova proposição P(p, q, r, s, t, ...), ou simplesmente P, formada pelas proposições simples que foram dadas. Considere os seguintes exemplos de proposições simples: • p: Welington é professor de matemática. • q: Você é estudante de matemática. • r: Você será professor de matemática. • s: Você será engenheiro. Com essas proposições podemos formar novas proposições compostas, como: • P(p, q): Welington é professor de matemática e você é estudante de matemática. • Q(s, r): Você será engenheiro ou você será professor de matemática. • R(q, r): Se você é estudante de matemática, então você será professor de matemática. • S(p, r): Welington é professor de matemática e você será professor de matemática. Utilizamos algumas palavras para conectar as proposições simples p, q, r, s e produzirmos as proposições compostas P, Q, R, S. Essas palavras são chamadas de conectivos. Na lógica matemática existem cinco conectivos: e, ou, não, se… então, e se, e somente se. O ato de combinar proposições é chamado de operação lógica e os conectivos de operadores. Para cada conector daremos um nome e um símbolo especial. 12 Matemática Discreta O quadro a seguir apresenta as cinco operações lógicas, seus conectivos e res- pectivos símbolos. Quadro 1 Conectivos lógicos e seus símbolos Conectivo Símbolo do conectivo Operação do conectivo e ∧ Conjunção ou ∨ Disjunção não ∼ ou ¬ Negação se… então → Condicional se, e somente se ↔ Bicondicional Fonte: Elaborado pelo autor. Dada uma proposição lógica composta, iremos utilizar o valor lógico das pro- posições simples que a compõem para determinar o seu valor lógico. Isso só será possível se as operações estiverem bem definidas. Para cada conjunto de proposi- ções simples, com seus respectivos valores lógicos, obtemos um único valor lógico possível para a proposição composta. Os valores lógicos das cinco operações lógicas são definidos como segue. 1. Negação A negação da proposição p é a proposição ∼p (não p), cujo valor lógico é definido da seguinte forma: • O valor lógico de ∼p é verdadeiro se o valor lógico de p for falso. • O valor lógico de ∼p é falso se o valor lógico de p for verdadeiro. Podemos organizar essa informação em uma tabela, a qual é chamada de tabela-verdade da proposição ∼p. p ~p V F F V Vejamos no exemplo a seguir como aplicar a tabela-verdade da negação para encontrar o valor lógico de uma proposição composta formada pela negação de uma proposição dada. Σxemρlo 3 Considere a proposição p: Tóquio é a capital da China. Encontre o valor lógico da negação da proposição dada. Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 13 Sabemos que p tem valor lógico falso (F); sendo assim, o valor lógico da proposi- ção ~p: Não é verdade que Tóquio é a capital da China tem valor lógico verdadeiro (V). 2. Conjunção A conjunção das proposições p e q é a proposição p ∧ q (p e q), cujo valor lógico é definido da seguinte maneira: • O valor lógico de p ∧ q é verdadeiro se os valores lógicos de p e q são verdadeiros. • O valor lógico de p ∧ q é falso se o valor lógico de p ou de q é falso. A tabela-verdade da proposição p ∧ q é apresentada a seguir: p q p ∧ q V V V V F F F V F F F F Vejamos no exemplo a seguir como aplicar a tabela-verdade da conjunção para encontrar o valor lógico de uma proposição composta formada pela conjunção de duas proposições simples dadas. Σxemρlo 4 Considere as proposições p: Welington é professor de matemática, q: Wellington é capital da Nova Zelândia e s: π < 3. Encontre o valor lógico de p ∧ q, p ∧ s e q ∧ s. Sabemos que p tem valor lógico (V), q tem valor lógico (V) e s tem valor lógico (F). Sendo assim, p ∧ q tem valor lógico (V), p ∧ s tem valor lógico (F), q ∧ s tem valor lógico (F). 3. Disjunção A disjunção das proposições p e q é a proposição p ∨ q (p ou q), cujo valor lógico é definido do seguinte modo: • O valor lógico de p ∨ q é verdadeiro se o valor lógico de p é verdadeiro ou o valor lógico de q é verdadeiro. • O valor lógico de p ∨ q é falso se o valor lógico de p é falso e o valor lógico de q é falso. A tabela-verdade da proposição p ∨ q é apresentada a seguir: 14 Matemática Discreta p q p ∨ q V V V V F V F V V F F F Vejamos no exemplo a seguir como aplicar a tabela-verdade da disjunção para encontrar o valor lógico de uma proposição composta formada pela disjunção de duas proposições simples dadas. Σxemρlo 5 Considere as proposições p: Welington é professor de matemática,q: Wellington é capital da Nova Zelândia e s: π < 3. Encontre o valor lógico de p ∨ q, p ∨ s e q ∨ s. Sabemos que p tem valor lógico (V), q tem valor lógico (V) e s tem valor lógico (F). Sendo assim, p ∨ q tem valor lógico (V), p ∨ s tem valor lógico (V), q ∨ s tem valor lógico (V). 4. Condicional A condicional das proposições p e q é a proposição p → q (se p então q), cujo valor lógico é definido da seguinte forma: • O valor lógico de p → q é verdadeiro se p e q são verdadeiros. • O valor lógico de p → q é verdadeiro sempre que p é falso. • O valor lógico de p → q é falso se p é verdadeiro e q é falso. A seguir representamos a tabela-verdade da proposição p → q. p q p → q V V V V F F F V V F F V Vejamos no exemplo a seguir como aplicar a tabela-verdade da condicional para encontrar o valor lógico de uma proposição composta formada pela condicional p → q de duas proposições simples. Σxemρlo 6 Considere as proposições p: Welington é professor de matemática, q: Wellington é capital da Nova Zelândia e s: π < 3. Encontre o valor lógico de p → q, p → s e s → q. Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 15 Sabemos que p tem valor lógico (V), q tem valor lógico (V) e s tem valor lógico (F). Sendo assim, p → q tem valor lógico (V), p → s tem valor lógico (F), s → q tem valor lógico (V). 5. Bicondicional A bicondicional de duas proposições p e q é a proposição p ↔ q (p se, e somente se, q), cujo valor lógico é definido da seguinte maneira: • O valor lógico de p ↔ q é verdadeiro se p e q são verdadeiros. • O valor lógico de p ↔ q é verdadeiro se p e q são falsos. • O valor lógico de p ↔ q é falso se p é verdadeiro e q é falso. • O valor lógico de p ↔ q é falso se p é falso e q é verdadeiro. A seguir, representamos a tabela-verdade da proposição p ↔ q. p q p ↔ q V V V V F F F V F F F V Vejamos no exemplo a seguir como aplicar a tabela-verdade da bicondicional para encontrar o valor lógico de uma proposição composta formada pela bicondi- cional p ↔ q de duas proposições simples. Σxemρlo 7 Considere as proposições p: Welington é professor de matemática, q: Welling- ton é capital da Nova Zelândia e s: π < 3. Encontre o valor lógico de p ↔ q, p ↔ s e s ↔ q. Sabemos que p tem valor lógico (V), q tem valor lógico (V) e s tem valor lógico (F). Sendo assim, p ↔ q tem valor lógico (V), p ↔ s tem valor lógico (F), s ↔ q tem valor lógico (F). Podemos construir tabelas-verdade de proposições compostas forma- das por mais de duas proposições simples. Nesse caso, o número de linhas da tabela-verdade vai depender do número de proposições simples; mais especifica- mente, o número de linhas da tabela-verdade da proposição composta P será 2n, onde n é o número de proposições simples que a compõem. Vejamos um exemplo: 16 Matemática Discreta Σxemρlo 8 Sejam p, q e r três proposições simples, vamos construir a tabela-verdade da proposição composta P(p, q, r): p ∧ r → ~q ∨ r. Primeiro note que o número de linhas da tabela-verdade será 2³. Além disso, teremos as colunas p, q, r, ~q, p ∧ r, ~q ∨ r e P: p ∧ r → ~q ∨ r. Mais precisamente, a tabela-verdade de P(p, q, r) é: p q r ~q p ∧ r ~q ∨ r P V V V F V V V V V F F F F V V F V V V V V V F F V F V V F V V F F V V F V F F F F V F F V V F V V F F F V F V V Observamos que a última coluna da tabela-verdade de P(p, q, r): p ∧ r → ~q ∨ r possui apenas valor lógico verdadeiro. Nesse caso, dizemos que P é uma tautologia. Por outro lado, chamaremos de contradição toda proposição composta P que pos- sui apenas valor lógico falso na última coluna de sua tabela-verdade. Podemos então utilizar a tabela-verdade para verificarmos se uma proposição composta é verdadeira ou não. Para tanto, basta considerarmos o valor lógico da última coluna da linha referente aos valores lógicos das proposições simples que a compõem. Por exemplo, se considerarmos p: Welington é professor de matemática (V), q: Wellington é capital da Nova Zelândia (V) e s: π < 3 (F), teremos que o valor lógico de P(p, q, r): p ∧ r → ~q ∨ r será (V). Basta olharmos para a segun- da linha de sua tabela-verdade. Durante a construção da tabela-verdade do exemplo anterior você deve ter se perguntado: “como saberei qual operação lógica irei realizar primeiro?”. Assim como acontece nas operações com números reais, as operações lógicas possuem uma ordem de preferência para serem realizadas. A ordem de preferência para operações lógicas é a seguinte: negação, conjunção, disjunção, condicional, bicon- dicional, sempre dando preferência para as operações entre parênteses. Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 17 Definição Duas proposições compostas P e Q são chamadas de logicamente equivalentes se a tabela-verdade de P ↔ Q é uma tautologia. Nesse caso, escrevemos que P ≡ Q são logicamente equivalentes. A seguir apresentamos dois exemplos de proposições equivalentes. Esses dois exemplos são conhecidos como Leis de De Morgan e são superimportantes. Cons- truiremos a tabela-verdade de uma delas para comprovar que realmente temos uma equivalência lógica. Σxemρlo 9 As seguintes equivalências lógicas são conhecidas como Leis de De Morgan. • ~(p ∨ q) ≡ ~p ∧ ~q. • ~(p ∧ q) ≡ ~p ∨ ~q. Vamos verificar que o segundo item é realmente uma equivalência lógica. Por definição, devemos construir a tabela-verdade de P: ~(p ∧ q) ↔ ~p ∨ ~q e verificar que temos uma tautologia. p q ∼p ∼q p ∧ q ∼(p ∧ q) ∼p ∨ ∼q P V V F F V F F V V F F V F V V V F V V F F V V V F F V V F V V V Observamos que P é uma tautologia; sendo assim, temos a seguinte equivalên- cia: ~(p ∧ q) ≡ ~p ∨ ~q. Como já foi comentado, podemos utilizar a tabela-verdade para analisar o valor lógico de uma proposição composta. A seguir, apresentamos um exemplo de como isso funciona para proposições matemáticas. Σxemρlo 10 Sejam p: π < 3 e q: 1 + 2 = 4 duas proposições matemáticas, vamos analisar o valor lógico de P(p, q): ~p ∧ q ↔ ~q ∧ p. Agora é com você: construa a tabela-verdade para provar que a primeira Lei de De Morgan, apre- sentada no exemplo, realmente é uma equivalência lógica. Desafio 18 Matemática Discreta Inicialmente, vamos traduzir P(p, q) em uma sentença matemática (traduzindo os conectivos para a linguagem formal). Temos que: • ~p: π ≥ 3. • ~q: 1 + 2 ≠ 4. • ~p ∧ q: π ≥ 3 e 1 + 2 = 4. • ~q ∧ p: 1 + 2 ≠ 4 e π < 3. Então, P(p, q): π ≥ 3 e 1 + 2 = 4 se, e somente se, 1 + 2 ≠ 4 e π < 3. Vamos agora construir a tabela-verdade de P(p, q). p q ∼p ∼p ∧ q ∼q ∼q ∧ p P(p, q) V V F F F F V V F F F V V F F V V V F F F F F V F V F V Para analisarmos o valor lógico da proposição composta P(p, q) basta olharmos para os valores lógicos das proposições simples p e q. Sabemos que ambas, p e q, são falsas. Sendo assim, o valor lógico de P(p, q) está na quarta linha de sua tabela-verdade (a linha onde os valores lógicos de p e q são falsos), ou seja, P(p, q) tem valor lógico verdadeiro. Você deve estar se perguntando: “sempre terei que construir a tabela-verdade para provar que uma proposição matemática é verdadeira?”. A resposta para essa questão é não. Nas próximas seções deste capítulo iremos aprender mé- todos e linhas de raciocínio lógico que são utilizados para provar que uma pro- posição matemática é verdadeira. Esses métodos são conhecidos como métodos de demonstração. Antes de iniciarmos o estudo sobre os métodos de demonstração, precisamos estabelecer a estrutura de uma proposição matemática e algumas nomenclaturas. Toda proposição matemática tem sua estrutura formada por uma hipótese, a qual é a premissa que assu- mimos como verdadeira, e por uma tese, uma afirmação que queremos provar utilizando nossa hipótese. Observe a seguinte proposição que estabelece a fórmula de Bhaskara: Seja ax² + bx + c = 0, com a ≠ 0, uma equação do segundo grau, então: x b� � b � ac a � � � � �2 4 2 Nessa proposição, nossa hipótese é “p: ax² + bx + c = 0, com a ≠ 0, é uma equação do segundo grau” e nossa tese é “q:x b b ac a � � � �2 4 2 ”. Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 19 As proposições matemáticas recebem nomes especiais conforme seu grau de importância. Como vimos, os axiomas são proposições presumidamente assumidas como verdadeiras, ou seja, que não requerem provas. Observe os seguintes exemplos de axiomas da adição de números reais: • Associatividade: sejam a, b, c ∈ ℝ, tem-se (a + b) + c = a + (b + c). • Comutatividade: sejam a, b ∈ ℝ, tem-se a + b = b + a. Um teorema é uma sentença matemática que pode ser provada como verdadeira. Podemos citar como exemplo o famoso Teorema de Pitágoras: em qualquer triângulo retângulo, o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos. Um lema é um teorema de menor importância que pode ser utilizado para demonstrar teoremas mais importantes. Nesse sentido, ao nos depararmos com um teorema complicado, para realizar- mos a sua demonstração de modo simples, o dividimos em vários lemas. Como exemplo, vamos considerar o importantíssimo lema que é utilizado para demons- trar o algoritmo da divisão de números inteiros. Lema – Método de divisão de Euclides Sejam a e b inteiros, tais que a ≥ 0 e b > 0, então existem q e r, quociente e resto respectivamente, tais que a = bq + r e 0 ≤ r < b. Um corolário é uma proposição que pode ser provada diretamente de um teorema mais importante já demonstrado. Tomemos como exemplo o seguinte corolário do Teorema de Pitágoras: seja d a diagonal de um quadrado de lado l, então d = l√2. Estabelecida a estrutura de uma proposição matemática e sua nomenclatura, iremos estudar a seguir os métodos de demonstração. 20 Matemática Discreta 1.2 Demonstração direta e demonstração por contraposiçãoVídeo Podemos representar a fórmula de Bhaskara pela proposição composta p → q, onde p: ax² + bx + c = 0, com a ≠ 0, é uma equação do segundo grau e q: x �b� � b � � ac a � � � �2 4 2 . Demonstrar a fórmula de Bhaskara é, portanto, assumir que p é verdade e provar que q também é verdade. Utilizar uma sequência lógica de pensamentos para, com base na hipótese, pro- var que a conclusão é verdadeira é conhecido como método de demonstração direta. Esse tipo de demonstração consiste em utilizar as particularidades da hi- pótese para provar a tese. Vamos apresentar alguns exemplos de demonstrações diretas, inclusive uma demonstração para a famosa fórmula de Bhaskara. Σxemρlo 11 Considere as definições de números inteiros pares e ímpares: • Um número inteiro n é par se existe um k ∈ ℤ tal que n = 2k. • Um número inteiro m é ímpar se existe um t ∈ ℤ tal que m = 2t + 1. Demonstre os teoremas a seguir: a. Se a e b são dois números inteiros ímpares, então o produto ab é um número ímpar. b. Se a e b são dois números inteiros pares, então o produto ab é um número par. a. Demonstração Considere a e b dois números inteiros ímpares. Pela definição de número inteiro ímpar, sabemos que a = 2t1 + 1 e b = 2t2 + 1. Logo, o produto ab é ab = (2t1 + 1)(2t2 + 1) = 2t12t2 + 2t1 + 2t2 + 1 = 2(2t1t2 + t1 + t2) + 1, ou seja, ab = 2t3 + 1, onde t3 = 2t1t2 + t1 + t2. Isso mostra que ab tem a forma de um número inteiro ímpar. Podemos assim concluir que ab é um número inteiro ímpar. b. Demonstração Sejam a e b dois números inteiros pares, pela definição de número inteiro par, sabemos que a = 2k1 e b = 2k2. Logo, o produto ab é ab = (2k1)(2k2) = 2(2k1k2), ou seja, ab = 2k3, onde k3 = 2k1k2. Isso mostra que ab tem a forma de um número inteiro par. Podemos concluir, portanto, que ab é um número inteiro par. Vamos provar propriedades análogas aos teoremas anteriores, porém com relação à soma de números inteiros. Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 21 Σxemρlo 12 Demonstre os seguintes teoremas sobre a soma de números inteiros: a. Se a e b são dois números inteiros ímpares, então a soma a + b é um número inteiro par. b. Se a e b são dois números inteiros pares, então a soma a + b é um número inteiro par. a. Demonstração Considere a e b dois números inteiros ímpares. Pela definição de número inteiro ímpar sabemos que a = 2t1 + 1 e b = 2t2 + 1. Logo, a soma a + b é a + b = (2t1 + 1) + (2t2 + 1) = 2(t1 + t2) + 2 = 2(t1 + t2 + 1), ou seja, a + b = 2k3, onde k3 = t1 + t2 + 1 Isso mostra que a + b tem a forma de um número inteiro par. Podemos assim concluir que a + b é um número inteiro par. b. Demonstração Sejam a e b dois números inteiros pares, pela definição de número inteiro par, sabemos que a = 2k1 e b = 2k2. Logo, a soma a + b é: a + b = (2k1) + (2k2) = 2(k1 + k2), ou seja, a + b = 2k3, onde k3 = k1 + k2 Isso mostra que a + b tem a forma de um número inteiro par. Podemos, portanto, concluir que a + b é um número inteiro par. Vamos agora demonstrar a famosa fórmula de Bhaskara. Teorema (Fórmula de Bhaskara) Seja ax² + bx + c = 0, com a ≠ 0, uma equação do segundo grau, então, x b� � b � � ac a � � � �2 4 2 Demonstração Consideremos a equação ax² + bx + c = 0, com a ≠ 0. Vamos aplicar várias opera- ções nessa equação para chegarmos a nossa tese. ax bx c �2 0� � � � �÷a � � � � a a x b a x c a a ��������������������2 0 � � � � � � �� � � ��x b a x c a 2 + b 4a 2 2 � � � � �x b a x b 4a c a + b 4a � 2 2 2 2 2 22 Matemática Discreta � � � � � � � � � �x b a b ac a2 4 4 2 2 2 � � � � � � � � � �x b a b ac a2 4 4 2 2 2 � � � � � � � � � � �x b a �� b ac a �� 2 4 4 2 2 � � � � � � � � � � �� x b a �� b ac a2 4 2 2 � � � � �x b a b ac a � 2 4 2 2 � x � b b ac a �� � � � � 2 4 2 Sendo assim, utilizamos nossa hipótese para provar que nossa tese é verdadeira, ou seja, a fórmula de Bhaskara é verdadeira. Durante a demonstração da fórmula de Bhaskara você deve ter percebido que há casos em que demonstrar um teorema pelo método direto pode não ser algo simples. Podemos contornar esse fato utilizando o método de demonstração por contraposição. Esse método consiste na seguinte tautologia: P: p → q ↔ ∼q → ∼p. Vamos verificar, por meio de sua tabela-verdade, que P é realmente uma tautologia. p q ~p ~q p → q ∼q → ∼p P V V F F V V V V F F V F F V F V V F V V V F F V V V V V Como todos os valores lógicos da última coluna da tabela-verdade de P são ver- dadeiros, concluímos que P é realmente uma tautologia. Vejamos um exemplo simples de como aplicar o método de demonstração por contraposição. Σxemρlo 13 Considere as proposições p: João é curitibano e q: João é brasileiro, e a proposi- ção composta dada por P: p → q. Aplique o método de demonstração por contra- posição sem usar a tabela-verdade. Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 23 A proposição composta P pode ser traduzida como P: Se João é curitibano, en- tão João é brasileiro. Essa proposição é equivalente à proposição Q: ~q → ~p, que traduzida é Q: Se João não é brasileiro, então João não é curitibano. Claramente, P é verdadeira sempre que Q é verdadeira e vice-versa. Vamos agora aplicar o método de demonstração por contraposição para provar o seguinte teorema: Teorema Se a é um número natural e a² é par, então a é um número par. Demonstração Nossa proposição é “p: a² é par → q: a é par”. Vamos demonstrar que a propo- sição equivalente “∼q: a é ímpar → ∼p: a² é ímpar” é verdadeira. Com efeito, se a é ímpar existe k natural tal que a = 2k + 1. Logo, a² = (2k + 1)² = 4k² + 4k + 1 = 2(2k² + 2k) + 1 = 2k2 + 1, onde k2 = 2k² + 2k, ou seja, a² é um número ímpar, provando que a contrapositiva do teorema é verdadeira. Podemos então concluir que o teorema é verdadeiro. Definição Dizemos que um número a não é múltiplo de b se a divisão de a por b tem resto diferente de zero. Um núme- ro a não é múltiplo de b se a = kb + r, onde 0 < r < b. Por exemplo, 7 não é múltiplo de 3, pois 7 = 2(3) + 1. Vamos demonstrar o seguinte teorema pelo método da contrapositiva. Teorema Se a é um número natural e a³ é múltiplo de três, então a é um múltiplo detrês. Demonstração Nossa proposição é “p: a³ é múltiplo de 3 → q: a é múltiplo de 3”. Vamos de- monstrar que a proposição equivalente “~q: a não é múltiplo de 3 → ∼p: a³ não é múltiplo de 3” é verdadeira. Com efeito, note que se a não é múltiplo de 3, então a = 3k1 + 1 ou a = 3k2 + 2. Analisando ambos os casos: • Se a = 3k1 + 1, temos: a³ = (3k1 + 1)³ = (3k1 + 1)² (3k1 + 1) = 27k1³ + 9k1² + 9k1 + 1 = 3(9k1³ + 3k1² + 3k1) + 1 = 3k3 + 1 Onde k3 = 9k1³ + 3k1² + 3k1. Existe mais de uma maneira de se demons- trar um teorema! Um dos teoremas mais impor- tantes que estudamos e ensinamos para os alunos da educação básica é o Teorema de Pitágoras. Na página Decifrando a Matemática, da Unicamp, você vai encontrar vários caminhos diferentes para a demonstração do Teorema de Pitágoras, além de encontrar boas aborda- gens para o ensino desse teorema. Disponível em: www.ime.unicamp. br/~apmat/teorema-de-pitagoras/. Acesso em: 5 mar. 2021. Saiba mais http://www.ime.unicamp.br/~apmat/teorema-de-pitagoras/ http://www.ime.unicamp.br/~apmat/teorema-de-pitagoras/ 24 Matemática Discreta • Se a = 3k2 + 2, temos: a³ = (3k2 + 2)³ = (3k2 + 2)²(3k2 + 2) = 27k2³ + 18k2² + 36k2 + 6 + 2 = 3(9k2³ + 6k2² + 12k2 + 2) + 2 = 3k4 + 2 Onde k4 = 9k2³ + 6k2² + 12k2. Sendo assim, a³ = 3k3 + 2 ou a³ = 3k4+2, provando que a³ não é múltiplo de três, ou seja, a contrapositiva do teorema é verdadeira. Podemos concluir, portanto, que o teorema é verdadeiro. 1.3 Demonstração por contradição Vídeo Esse método consiste em utilizar uma contradição para mostrar que uma pro- posição é verdadeira e tem como inspiração a seguinte tabela-verdade: p q ~p ∼p → q V V F V V F F V F V V V F F V F Observando as duas primeiras linhas da tabela-verdade, temos que p é verda- deira sempre que ~p → q é verdadeira. Isso significa que para mostrarmos que uma proposição p é verdadeira, basta encontrarmos q, tal que ~p → q é verdadeira. Resumidamente, o método de demonstração por contradição consiste em afirmar a hipótese, negar a tese e chegar a uma contradição. Vejamos alguns exemplos de aplicação do método de demonstração por contradição. Σxemρlo 14 Utilize o método de demonstração por contradição para provar que o único número que, quando somado com ele mesmo, resulta no próprio número é o zero. Queremos demonstrar o seguinte teorema: Se a + a = a, então a = 0. Para isso, vamos utilizar o método da demonstração por contradição. Nossa hipótese p é “a + a = a” e nossa tese q é “a = 0”. Vamos então negar q, ou seja, ~q: a ≠ 0. Suponha então que a + a = a e a ≠ 0. Temos que 2a = a, e como a ≠ 0, podemos realizar a divisão por a (se a = 0, a divisão não pode ser realizada, afinal, não existe divisão por zero). Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 25 Finalmente, 2a a a a = . Concluímos que 2 = 1. Isso é uma contradição; logo, não podemos ter a ≠ 0, então a = 0. Agora, vamos utilizar o método de demonstração por contradição para demons- trar o seguinte teorema, que já foi demonstrado pelo método de demonstração direta. Σxemρlo 15 Utilize o método de demonstração por contradição para provar o seguinte teo- rema: Se a e b são dois números inteiros pares, então a soma a + b é um número inteiro par. Nossa hipótese é “p: a e b são números inteiros pares” e nossa tese é “q: a + b é um número inteiro par”. Vamos então negar q, isto é, ∼q: a + b é um número ímpar. Considere que: • a = 2k1 • b = 2k2 • a + b é um número ímpar Logo, a + b = 2k3 + 1, onde, por um lado, a + b = 2k1 + 2k2 e, por outro lado, a + b = 2k3 + 1. Daí, 2k1 + 2k2 = 2k3 + 1 ⇒ 2(k1 + k2 - k3) = 1. Isso nos diz que 1 é um número par, obvia- mente uma contradição, da qual obtemos que a + b é um número par. 1.4 Demonstração por absurdo Vídeo Esse método consiste em assumir que a hipótese e a negação da tese são verdadeiras, para construir uma linha de raciocínio que nos leve a um absur- do. A demonstração por absurdo tem como inspiração a seguinte tautologia P: (p → q) ↔ (p ∧ ∼q) → c, onde c é uma contradição. Essa tautologia pode ser veri- ficada pela tabela-verdade a seguir. p q c ∼q p ∧ ∼q p → q p ∧ ∼q → c P V V F F F V V V V F F V V F F V F V F F F V V V F F F V F V V V Sendo assim, para demonstrar que um teorema é verdadeiro pelo método de demonstração por absurdo: 1. Assumimos que a hipótese e a negação da tese são verdadeiras. 2. Construímos uma linha de raciocínio de modo a encontrarmos um absurdo. 26 Matemática Discreta Considere o seguinte exemplo de aplicação do método de demonstração por absurdo. Σxemρlo 16 Demonstre o seguinte teorema pelo método de demonstração por absurdo: Se a é um número natural e a² é par, então a é um número par. Para demonstrarmos por absurdo o teorema, temos que nossa hipótese é “p: a² é par” e nossa tese “q: a é par”. Suponha que p e ∼q, “a é ímpar”, sejam verdadeiras. Se a é ímpar, a = 2k1 + 1, de onde a² = (2k1 + 1)² = 4k1² + 4k1 + 1 = 2(2k1² + 2k1) + 1 = 2k2 + 1 Onde k2 = 2k1² + 2k 1. Isto é, a² é par e ímpar ao mesmo tempo. Um absurdo! Portanto, o teorema é válido. 1.5 Demonstração por indução finita Vídeo Em matemática discreta os principais problemas de estudo são problemas de contagem em espaços discretos, por exemplo: o espaço formado por todas as ida- des dos cidadãos brasileiros. Desse modo, o principal método de demonstração que utilizamos é o método da indução finita. Esse método é utilizado para de- monstrar teoremas como os seguintes. Teorema A soma dos n primeiros números naturais é n n� ��� �1 2 . Note que o teorema diz que se somarmos, por exemplo, 1 + 2 + 3 + 4 o resultado será 4 4 1 2 4 5 2 20 2 10 �� � � � � � � . Teorema A soma dos quadrados dos n primeiros números naturais é n n n� � � ��� � �� �1 2 1 6 . Utilizando o teorema podemos concluir, por exemplo, que a soma 1² + 2² + 3² é igual a 3 3 1 2 3 1 6 3 4 7 6 14 �� � � � �� � � � �� � � . Mas como podemos demonstrar que esses teoremas são válidos para qualquer número? O método da indução finita consiste nos seguintes passos: Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 27 Mostrar que o teorema é válido para o menor n possível que satisfaz a hipótese. Assumir que o teorema é válido para n = k. 1 2 Utilizar o fato de o teorema ser válido para n = k para demonstrar que o teorema é verdadeiro para n = k + 1. 3 Podemos observar pelo passo 3 que a principal ideia da demonstração por indução finita é mostrar que o teorema é sempre válido para o próximo núme- ro. Vamos utilizar o método de indução para demonstrar os teoremas utilizados como exemplos. Teorema A soma dos n primeiros números naturais é n n� ��� �1 2 . Demonstração Vamos inicialmente mostrar que o resultado é válido para n = 1. Se n = 1, temos que 1 = 1 1� ��� � � 1 2 2 2 = 1, provando que o teorema é válido para n = 1. Assumindo que o teorema é válido para n = k, ou seja, assumindo que 1 + 2 + 3 + ... + k = k k� ��� �1 2 Vamos mostrar que o teorema é válido para n = k + 1, ou seja, mostraremos que 1 + 2 + 3 + ... + k + (k + 1) = � k� � k� ��� � �� �1 2 2 De fato, � � � �k� �(k + 1) � k k� � � � k� �1 2 3 1 2 1� � � � � � �� � � �� �... =� k k� � � �� � � �1 2 1 2 ( )k =� k� � � �� � �1 2 2 ( )k Provando assim que 1 + 2 + 3 + ... + k + (k + 1) = k� � k� ��� � �� �1 2 2 . Desse modo, podemos concluir que o teorema é válido. Finalizaremos esta seção com o seguinte teorema: 28 Matemática Discreta Teorema A soma dos quadrados dos n primeiros números naturais é n n� � n� ��� � �� �1 2 1 6 . Demonstração Inicialmente, vamos mostrar que o resultado é válido para n = 1. Se n = 1, temos que 1² = 1 1� � (1)� ��� � �� � � � 1 2 1 6 12 3 6 6 6 ( )( ) = 1, provando que o teorema é válido no caso n = 1. Assumindo que o teorema é válido para n = k, ou seja, assumindo que 1² + 2² + 3² + ... + k² = k k� � k� ��� � �� �1 2 1 6 Mostraremos que o teorema é válido para n = k + 1, ou seja, que 1² + 2² + 3² + ... +k² + (k + 1)² = k� � k� � k� ��� � �� � �� �1 2 2 3 6 De fato, 1² + 2² + 3² + ... + k² + (k + 1)² = k k� � k� ��� � �� �1 2 1 6 + (k + 1)² � �� � �� � � �k� � k� �1 2 1 6 1 6 [ ( )]k k � �� � � �� �k k k1 2 7 6 6 2 � �� � �� � �� �k k k1 2 2 3 6 Provando, assim, que 1² + 2² + 3² + ... + k² + (k + 1)² = k� k� � k� ��� � �� � �� �1 2 2 3 6 . Desse modo, podemos concluir que o teorema é válido. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, aprendemos que, para afirmarmos que um teorema ou uma fórmu- la é verdadeira ou não, precisamos realizar um procedimento matemático chamado de demonstração matemática, a qual consiste em provar que o teorema ou a fórmula é verdadeira para qualquer elemento que satisfaça suas hipóteses. Estudamos que é importante conhecermos os diferentes métodos de demonstra- ção, pois podemos utilizar qualquer um deles para mostrar que um teorema ou uma fórmula é verdadeira. Contudo, o ato de construir um raciocínio lógico para demons- trar uma proposição torna-se mais fácil (ou mais difícil) conforme o método escolhido. ATIVIDADES 1. Utilize a técnica de demonstração direta para provar os seguintes teoremas: a) Se a é um número inteiro par e b é um número inteiro ímpar, então a soma a + b é um número inteiro ímpar. b) Se a é um número inteiro par e b um número inteiro ímpar, então o produto ab é um número par. O filme O homem que viu o infinito conta a história do matemático indiano Srinivasa Ramanujan (1887- 1920). No filme, podemos perceber a importância de uma boa escrita matemá- tica, ou seja, saber fazer boas demonstrações. Apesar de ter boas ideias, Ramanujan sofreu muito em sua história como matemático pelo fato de não ter a capacidade de escrever boas demons- trações. Direção Matt Brown. Londres: Animus Films, 2016. Filme Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 29 2. Utilize a técnica de demonstração por contraposição para o seguinte teorema: Se a é um número natural e a² é ímpar, então a é um número ímpar. 3. Utilize a técnica de demonstração por contradição para provar o seguinte teorema: Se a é um número inteiro par e b é um número inteiro ímpar, então a soma a + b é um número inteiro ímpar. 4. Utilize a técnica de demonstração por indução para provar o seguinte teorema: Se n é um número natural, 1² + 3² + 5² + ... + (2n - 1)² = n 2n�-�1 2n�+�1 3 � �� � . REFERÊNCIAS FILHO, E. A. Iniciação à lógica matemática. São Paulo: Nobel, 2002. GRIMALDI, R. P. Discrete and combinatorial mathematics: an applied introduction. 5. ed. Boston: Addison- Wesley, 2004. ROSEN, K. H. Matemática discreta e suas aplicações. 6. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. 30 Matemática Discreta 2 Teoria de conjuntos As ideias fundamentais da teoria dos conjuntos e da álgebra dos con- juntos são provavelmente os conceitos mais importantes em todas as áreas da matemática, e isso não é diferente na matemática discreta. Este capítulo apresenta a teoria dos conjuntos. O material é principal- mente elementar. Lembre-se de que, em matemática, elementar não significa simples, mas sim que não requer vários conhecimentos prévios para ser com- preendido. O material elementar pode ser bastante desafiador, e parte deste capítulo talvez exija que você ajuste seu ponto de vista para compreendê-lo. Um ponto em especial no qual este capítulo pode divergir da sua ex- periência anterior com teoria de conjuntos é o fato de realizarmos a de- monstração das propriedades elementares dos conjuntos. Neste capítulo você aprenderá a noção intuitiva de conjuntos, como descrever um conjunto e seus subconjuntos e, por fim, como realizar ope- rações entre conjuntos e as principais propriedades dessas operações. 2.1 Noção intuitiva de conjuntos Vídeo Uma matilha, um cacho de uvas ou um bando de pombos são exemplos de con- juntos. O conceito matemático de um conjunto pode ser expresso por meio desses exemplos. Porém, como definir um conjunto matemático? Um conjunto matemático pode ser definido simplesmente como uma coleção de objetos diferentes, mais precisamente: Definição Um conjunto A é uma coleção de objetos distintos. Vejamos o exemplo a seguir: Σxemρlo 1 São exemplos de conjuntos: • A = {1, 2, 3, 4, 5}. • B = {quadrado, triângulo, circunferência}. • C = {Pedro, Maria, Welington}. • Os conjuntos são denotados por letras maiúsculas A, B, C, … do nosso alfabeto. • Os objetos de um conjunto A são chamados de elementos do conjunto. • Se A é um conjunto formado pelos objetos a, b, c, d, escreve- mos A = {a, b, c, d}. Importante Teoria de conjuntos 31 Precisamos prestar atenção a um fato bem importante na definição de conjun- tos: em um conjunto não é permitida a repetição de elementos. Σxemρlo 2 Não são conjuntos: • A = {1, 1, 2, 3, 4, 5}. • B = {quadrado, triângulo, triângulo, circunferência}. • C = {Pedro, Maria, Welington, Welington}. Note que, no Exemplo 2, A, B e C não são conjuntos pelo fato de existirem repe- tições entre seus elementos. Quando existem repetições de elementos, chamamos A, B e C de multiconjuntos. Um conjunto A = {a, b, c, d, …} com infinitos elementos é chamado de conjunto infinito. • Se a é um elemento do conjunto A, escrevemos a ∈ A e dizemos que a pertence a A. • Se A é um conjunto e b não é um elemento de A, escrevemos b ∉ A e dizemos que b não pertence a A. Importante 2.2 Descrição e igualdade de conjuntos Vídeo A maneira mais básica de se definir um conjunto é listar seus elementos entre chaves, por exemplo: A = {2, 4, 6, 8, 10}, como feito na seção anterior. Também podemos definir um conjunto fornecendo uma regra chamada lei de formação do conjunto, que determina com segurança se um objeto é um membro ou não, por exemplo: B = {x | 0 < x < 1} 1 , lido como “B é o conjunto dos números x, tal que x é maior que zero e menor que um”. Se A é um conjunto descrito por uma regra, dizemos que um elemento b perten- ce a A se b satisfaz a regra que define A. Σxemρlo 3 Considere os seguintes conjuntos e suas leis de formação. • A = {x ∈ ℕ | x = 2t, onde t é um número natural}. • B = {x ∈ ℕ | x = 2t, onde t é um número natural e 1 < t < 10}. Descrevendo os elementos de A, temos que A = {2, 4, 6, …}, ou seja, A é o conjun- to dos números pares. Descrevendo os elementos de B, temos que B = {4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18}, ou seja, B é o conjunto dos números pares entre 3 e 19. Observamos que A é um conjunto infinito e B é um conjunto finito com oito elementos. Note que, algumas vezes, a regra que define um conjunto não é satisfeita por nenhum elemento. Por exemplo: A = {a ∈ ℕ | a = 2t, onde t é um número natural e 1 < t < 2} O símbolo "|" é lido como tal que (alguns autores usam ":"). 1 32 Matemática Discreta Nesse caso, não existe nenhum elemento que satisfaça a regra de formação do conjunto A. Quando isso acontece, dizemos que o conjunto A é um conjunto vazio. Mais precisamente, temos a seguinte definição de conjunto vazio: Definição Um conjunto que não possui nenhum elemento é chamado de conjunto vazio. Escrevemos ∅ ou { } para representar o conjunto vazio. Σxemρlo 4 São exemplos de conjuntos vazios: • A = {x | x ≠ x}. • B = {x | x é ímpar e múltiplo de dois}. • C = {x | x é um triângulo e possui quatro lados}. • D = {x | x < 0 e x > 0}. • E = {x | x tem 20 anos de idade e x nasceu em 1820}. Na definição de conjuntos não se está exigindo nada com relação à ordem em que seus elementos aparecem, ou seja, a ordem não importa. Isso significa, por exemplo, que os conjuntos A = {1, 3, 4, 7} e B = {3, 1, 4, 7} são iguais. Em geral, po- demos definir a igualdade de dois conjuntos como: Definição Dois conjuntos A e B são iguais se possuem exatamente os mesmos elementos. Em símbolos, escrevemos: A = B ↔ ∀ x, x ∈ A ↔ x ∈ B E lemos: A é igual a B se, e somente se, para todo x, x pertence a A se, e somente se, x pertence a B. Definição Dois conjuntos A e B são diferentes se existe um elemento a ∈ A tal que a ∉ B, ou existe um elemento b ∈ Btal que b ∉ A. Em símbolos, escrevemos: A ≠ B ↔ ∃ a | a ∈ A e a ∉ B, ou ∃ b | b ∈ B e b ∉ A E lemos: A é diferente de B se, e somente se, existe a tal que a pertence a A e a não pertence a B, ou existe b tal que b pertence a B e b não pertence a A A definição de igualdade de conjuntos estabelece que, para provarmos que dois conjuntos A e B são iguais, devemos provar que: 1. Todo elemento de A também é um elemento de B. 2. Todo elemento de B também é um elemento de A. Teoria de conjuntos 33 Vejamos um exemplo. Σxemρlo 5 Prove que os conjuntos A = {x | 2x + 4 = 10} e B = {3} são iguais. Devemos mostrar que todo elemento de A é um elemento de B e que todo ele- mento de B é um elemento de A. Seja a ∈ A, pela definição do conjunto A, a é tal que 2a + 4 = 10. Resolvendo essa equação linear, temos que a = 3, ou seja, a ∈ B, uma vez que 3 ∈ B. Note que 2(3) + 4 = 10, ou seja, 3 satisfaz a definição do conjunto A e, assim, 3 ∈ A, provando que A = B. Definição Para um conjunto finito, a cardinalidade é o número de elementos que ele contém. Em notação simbóli- ca, a cardinalidade de um conjunto A é descrita como |A| ou n(A). Se A é um conjunto com infinitos elementos, dizemos que a cardinalidade de A é infinita e escrevemos |A| = ∞ ou n(A) = ∞. Vejamos o exemplo a seguir: Σxemρlo 6 A cardinalidade do conjunto A = {1, 3, 10, 40, 400} é n(A) = 5, e a cardinalidade do conjunto B = {x | x é um número par} é n(B) = ∞. Chamaremos de conjunto unitário todo conjunto que possui apenas um elemen- to. O conjunto A = {27}, por exemplo, é um conjunto unitário. Quando vamos descrever um conjunto, por exemplo, o conjunto A = {todos os homens que possuem 27 anos de idade}, admitimos a existência de um conjunto maior ao qual pertencem todos os elementos que compõem o conjunto que esta- mos definindo. Esse conjunto maior é chamado de conjunto universo e é denota- do pela letra U. No nosso exemplo, U = {todos os homens}. Σxemρlo 7 Se A = {x ∈ N | x = 2k, onde k é um número natural} é o conjunto dos números naturais pares, o universo U é o conjunto de todos os números naturais. Utilizando a definição de conjunto universo, podemos introduzir um novo con- junto com base em um conjunto dado A. 34 Matemática Discreta Definição Dado um conjunto A e seja U seu conjunto universo, o conjunto dos elementos que pertencem a U e não pertencem a A é chamado de conjunto complementar de A. Denotamos o complementar de A por AC ou C(A). Vejamos no exemplo a seguir: Σxemρlo 8 Se A = {x ∈ ℕ | x = 2k, onde k é um número natural} é o conjunto dos números naturais pares, sabemos que seu universo U é o conjunto de todos os números naturais. Desse modo, pela definição de complementar, temos: AC = {x ∈ ℕ | x ≠ 2k, onde k é um número natural} Ou seja, AC é o conjunto dos números naturais ímpares. Nesta seção, você aprendeu a classificar vários objetos da vida real em termos de conjuntos. Além disso, vimos diferentes maneiras de descrever um conjunto e como podemos considerar um conjunto como parte menor de um conjunto maior (chamado de conjunto universo). Introduzindo a noção de subconjunto, vamos, na próxima seção, explorar o fato de podermos considerar um conjunto como uma parte menor de outro conjunto. 2.3 Subconjuntos Vídeo Consideremos os seguintes conjuntos: A = {capitais brasileiras} e B = {São Paulo, Porto Alegre, Curitiba}. Observamos que todos os elementos do conjunto B também são elementos do conjunto A, pois São Paulo, Porto Alegre e Curitiba são capitais brasileiras. Nesse caso, dizemos que o conjunto B é um subconjunto do conjunto A. O mesmo acontece com os conjuntos C = {0, 10, 7, 8, 79, 5} e D = {0, 7, 5}, onde D é um subconjunto de C. A definição matemática de subconjunto é apresentada a seguir: Definição Um conjunto B é subconjunto de um conjunto A se, e somente se, todo elemento de B for um elemento de A. Vejamos no exemplo a seguir: • Escrevemos B ⊂ A se B é um subconjunto de A. Nesse caso, também dizemos que B está contido em A. • Em símbolos, temos: B ⊂ A ↔ ∀ b ∈ B → b ∈ A • Escrevemos B ⊄ A se B não é subconjunto de A. Nesse caso, dizemos que B não está contido em A. • Todo conjunto A é um subcon- junto do seu universo U. Importante Teoria de conjuntos 35 Σxemρlo 9 a. {⊠, ⊝} ⊂ {⊠, ⨁, ⊟, ⊝}. b. {a, b, c} ⊄ {b, c, d}. c. {x | x é um número natural par} ⊂ {x | x é um número natural}. Podemos representar a inclusão de conjuntos de modo gráfico por meio do Dia- grama de Venn. Seja A um conjunto, U seu universo e B ⊂ A, graficamente temos: A B U Teorema A inclusão de conjuntos satisfaz as seguintes propriedades: a. ∅ ⊂ A para todo conjunto A. b. A ⊂ A (reflexiva). c. Se A ⊂ B e B ⊂ A, então A = B (antissimétrica). d. Se A ⊂ B e B ⊂ C, então A ⊂ C (transitiva). Demonstração O item a pode ser descrito na seguinte proposição: ∀ x ∈ ∅ → x ∈ A Onde temos p: ∀ x ∈ ∅ e q: x ∈ A. Como p é falsa, pois não há elementos em ∅, a proposição é sempre verdadeira, pois p → q é sempre verdadeira. Provando, então, que ∅ ⊂ A. O item b segue do fato de que, se x ∈ A, então x ∈ A. O item c segue da definição de igualdade de conjuntos. Para o item d, temos: seja x ∈ A, então, como A ⊂ B, temos que x ∈ B, mas B ⊂ C, onde x ∈ C, ou seja, A ⊂ C. Pela definição de igualdade de conjuntos, dois conjuntos A e B são iguais se, e somente se, A ⊂ B e B ⊂ A. Importante 36 Matemática Discreta Σxemρlo 10 Considere os conjuntos A = {números naturais}, B = {números naturais pares} e C = {números naturais que dividem 4}. Temos que: a. B ⊂ A e n(B) = n(A) = ∞. b. C ⊂ A e n(C) = 3 < n(A) = ∞. A inclusão de conjuntos e seus complementares está relacionada ao seguinte teorema. Teorema Sejam A e B dois conjuntos e AC e BC seus complementares, se A ⊂ B, então BC ⊂ AC. Demonstração Seja x ∈ BC, então, pela definição de conjunto complementar, temos que x ∉ B. Como A ⊂ B, tem-se que x ∉ A, ou seja, x ∈ AC. Provando, assim, que BC ⊂ AC. Definição Para qualquer conjunto A, definimos o conjunto das partes de A, denotado por ℘(A), como sendo o conjunto formado por todos os subconjuntos de A. Em símbolos: ℘(A) = {B | B ⊂ A} Observamos que, pela definição de conjunto das partes, ∅ ∈ ℘(A) e A ∈ ℘(A) para todo conjunto A. Vejamos um exemplo de como encontrar o conjunto das partes de um conjunto A. Σxemρlo 11 Seja A = {1, 11, 0}, então o conjunto das partes de A é: ℘(A) = {∅, {0}, {1}, {11}, {1,11}, {1,0}, {11,0}, {1,11,0}} No exemplo é possível notar que se n(A) < ∞, então a cardinalidade de ℘(A) também será finita; além disso, teremos que n(℘(A)) > n(A). Na verdade, é possível provar que n(℘(A)) = 2n(A). Obviamente, n(℘(A)) = ∞ se n(A) = ∞. 2.4 Operações com conjuntos Vídeo Em teoria de conjuntos, assim como em todos os tópicos estudados em mate- mática, estamos interessados em definir e compreender operações matemáticas que podem ser realizadas entres seus objetos. Nesta seção vamos definir as princi- pais operações entre conjuntos. Observamos a seguinte proprie- dade elementar da inclusão de conjuntos: Se A ⊂ B, então n(A) ≤ n(B) Importante Teoria de conjuntos 37 Começaremos com a interseção. Definição A interseção entre os conjuntos A e B é o conjunto A∩B formado pelos elementos que estão simultanea- mente em A e B. Em símbolos: A∩B = {x | x ∈ A e x ∈ B} O Diagrama de Venn da interseção de dois conjuntos é dado por: A B A∩B Vejamos um exemplo a seguir: Σxemρlo 12 Sejam A = {1, ∆, ∇} e B = {1, a, ∇, Θ}, então A∩B = {1, ∇}. A definição de interseção de conjuntos pode ser generalizada para uma quanti- dade finita de conjuntos, conforme segue: Definição A interseção entre os conjuntos A 1 , A 2 , …, A n é o conjunto A 1 ∩A 2 ∩…∩A n , formado pelos elementos que estão simultaneamente em A 1 , A 2 , …, A n . Em símbolos: i =1 n iA = A1∩A2∩...∩An = {x | x ∈ A1 e x ∈ Ai, ∀ i = 2, 3, ..., n} Vejamos um exemplo: Σxemρlo 13 Vamos representar as diversas interseções que podem ser estudadas com rela- ção aosconjuntos: A = {01,11, 001, 10, 00, 010}, B = {01, 11, 001, 101, 011, 111} e C = {01,11, 011, 101, 10, 000, 110} 38 Matemática Discreta A B C 00100,010 111 01,11 000,110 10 101,011 Temos que: A∩B∩C = {01, 11} A∩B = {01, 11, 001} A∩C = {01, 11, 10} B∩C = {01, 11, 101, 011} Definição Dois conjuntos A e B são ditos conjuntos disjuntos se A∩B = ∅, ou seja, se A e B não possuem elementos em comum. Σxemρlo 14 Sejam A = {101, 111} e B = {010, 100}, então A∩B = ∅. Apresentaremos a seguir algumas das principais propriedades da interseção entre conjuntos. As propriedades são apresentadas considerando, em geral, a in- terseção entre dois ou três conjuntos, mas podem ser facilmente generalizadas para a interseção de n conjuntos. Teorema Sejam A e B dois conjuntos tais que A ⊂ B, então A∩B = A. Demonstração Vamos mostrar que A∩B ⊂ A e A ⊂ A∩B. De fato, seja x ∈ A∩B, isso significa que x ∈ A e x ∈ B e, como x ∈ A, prova que A∩B ⊂ A. Seja agora y ∈ A, como A ⊂ B, temos que y ∈ B, isto é, y ∈ A∩B, provando que A ⊂ A∩B. Concluímos, então, que A∩B = A. Σxemρlo 15 Sejam A = {1010, 0101} e B = {1010, 1001, 1111, 0101}, então, como A ⊂ B: A∩B = A = {1010, 0101} Teoria de conjuntos 39 Teorema Sejam A e B dois conjuntos quaisquer, então: A∩B ⊂ B e A∩B ⊂ A Demonstração Vamos mostrar apenas a primeira inclusão, já que a segunda é análoga. Seja x ∈ A∩B, então x ∈ A e x ∈ B, onde x ∈ B, provando que A∩B ⊂ B. Σxemρlo 16 Sejam A = {11010, 10110} e B = {11010, 11111, 00000}, então: A∩B = {11010} ⊂ {11010, 11111, 00000} Teorema Sejam A, B e C conjuntos quaisquer, se A ⊂ B, então: C∩A ⊂ C∩B Demonstração Seja x ∈ C∩A → x ∈ C e x ∈ A ⊂ B → x ∈ C e x ∈ B → x ∈ C∩B, onde C∩A ⊂ C∩B. Σxemρlo 17 Sejam A = {101, 111}, B = {101, 111, 110, 001} e C = {001, 111}, então: A ⊂ B e A∩C = {111} ⊂ {111, 001} = B∩C Teorema (propriedades fundamentais da interseção de conjuntos) Sejam A, B e C conjuntos quaisquer e U o conjunto universo, a interseção de conjuntos satisfaz as seguintes propriedades: a. A∩∅ = ∅. b. A∩AC = ∅. c. A∩A = A (idempotente). d. A∩U = A (elemento neutro). e. A∩B = B∩A (comutativa). f. A∩(B∩C) = (A∩B)∩C (associativa). Demonstração Provaremos apenas a propriedade associativa: seja x ∈ A∩(B∩C) ↔ x ∈ A e x ∈ (B∩C) ↔ x ∈ A e (x ∈ B e x ∈ C) ↔ (x ∈ A e x ∈ B) e x ∈ C ↔ x ∈ (A∩B) e x ∈ C ↔ x ∈ (A∩B)∩C, então temos que A∩(B∩C) = (A∩B)∩C. Outra operação importante entre dois ou mais conjuntos é a operação de união, que consiste em reunir elementos para formar um novo conjunto. Mais pre- cisamente, a união de conjuntos é definida como segue: 40 Matemática Discreta Definição A união entre os conjuntos A e B é o conjunto A∪B, formado pela reunião dos elementos de A e B. Em símbolos: A∪B = {x | x ∈ A ou x ∈ B} Vejamos o exemplo a seguir: Σxemρlo 18 Sejam A = {∆, 11, ∇} e B = {1, ∆, 11, α, β}, então: A∪B = {1, ∆, 11, ∇, α, β} A definição de união de conjuntos pode ser generalizada para uma quantidade finita de conjuntos, conforme segue: Definição A união entre os conjuntos A 1 , A 2 , …, A n é o conjunto A 1 ∪A 2 ∪…∪A n , formado por todos os elementos de A 1 , A 2 , …, A n . Em símbolos: i =1 n iA = A1∪A2∪...∪An = {x | x ∈ A1 ou x ∈ Ai, ∀ i = 2, 3, ..., n} Vejamos o exemplo a seguir: Σxemρlo 19 Vamos representar a união dos conjuntos. A = {01, 11, 001, 10, 00, 010}, B = {01, 11, 001, 101, 001, 111} e C = {01, 11, 011, 101, 10, 000, 110} Um ponto importante que devemos notar ao escrever a união de conjuntos é que nunca repetiremos elementos, ou seja, cada elemento deverá aparecer uma única vez no conjunto união. Sendo assim, temos: A∪B∪C = {01, 11, 001, 00, 010, 101, 001, 111, 011, 10, 000, 110} A seguir, apresentaremos algumas das principais propriedades da união de con- juntos. As propriedades são apresentadas considerando, em geral, a união entre dois ou três conjuntos, porém podem ser facilmente generalizadas para a união de n conjuntos. Teoria de conjuntos 41 Teorema Sejam A e B dois conjuntos, então A ⊂ A∪B e B ⊂ A∪B. Demonstração Vamos mostrar que A ⊂ A∪B. De fato, seja x ∈ A, isso significa que x ∈ A ou x ∈ B, isto é, x ∈ A∪B, provando que A ⊂ A∪B. Σxemρlo 20 Sejam A = {∆, ⊗, ⊠} e B = {111, 101}, então A∪B = {∆, ⊗, ⊠, 111, 101} e, claramente, A ⊂ A∪B, assim como B ⊂ A∪B. Teorema Sejam A e B dois conjuntos, então A∪B = B ↔ A ⊂ B. Demonstração De fato, já sabemos que A ⊂ A∪B. Como A∪B = B, temos que A ⊂ B. Agora, sabendo que A ⊂ B, vamos mostrar que A∪B = B. De fato, já sabemos que B ⊂ A∪B, isso significa que basta provarmos que A∪B ⊂ B para termos a igual- dade A∪B = B. Então, se x ∈ A∪B, isso significa que x ∈ A ou x ∈ B, mas A ⊂ B. Em qualquer caso, teremos que x ∈ B; se x ∈ A∪B, temos que x ∈ B, provando que A∪B = B. Σxemρlo 21 Sejam A = {4, 7} e B = {4, 7, 8, 9}, então: A∪B = {4, 7, 8, 9} = B Teorema Sejam A, B e C conjuntos tais que A ⊂ C e B ⊂ C, então A∪B ⊂ C. Demonstração De fato, seja x ∈ A∪B, então, por definição, x ∈ A ou x ∈ B. Como A ⊂ C e B ⊂ C, segue que x ∈ A ⊂ C ou x ∈ B ⊂ C, ou seja, x ∈ C. Provando que A∪B ⊂ C. Teorema (propriedades fundamentais da união de conjuntos) Sejam A, B e C conjuntos quaisquer e U o conjunto universo, a união de conjun- tos satisfaz as seguintes propriedades: a. A∪∅ = A (elemento neutro). b. A∪U = U. c. A∪AC = U. d. A∪A = A (idempotente). e. A∪B = B∪A (comutativa). f. A∪(B∪C) = (A∪B)∪C (associativa). Agora é com você: faça a demons- tração de que B ⊂ A∪B Desafio 42 Matemática Discreta Σxemρlo 22 Sejam A = {α, θ} e B = {101, 111, 110}, então: A∪B = {α, θ, 101, 111, 110} = B∪A Podemos também combinar as operações de união e interseção de conjun- tos para obter um novo conjunto. A combinação das operações de interseção e união de conjuntos satisfaz as seguintes propriedades, que são chamadas de leis de absorção: Teorema Sejam A e B conjuntos, então: A∩(A∪B) = A e A∪(A∩B) = A Demonstração Sabemos que A ⊂ A∪B e, assim, segue do teorema ilustrado no Exemplo 15 que A∩(A∪B) = A. De maneira análoga, temos que A∪(A∩B) = A. Duas propriedades importantes na combinação entre união e interseção de conjuntos são as propriedades de distributividade, que são equivalentes às pro- priedades de distributividade com relação à soma e multiplicação de números reais. A seguir, vamos enunciar e provar as propriedades de distributividade da interseção e união de conjuntos. Teorema Sejam A, B e C conjuntos, então valem as seguintes distributivas: a. A∩(B∪C) = (A∩B)∪(A∩C). b. A∪(B∩C) = (A∪B)∩(A∪C). Demonstração Para provar essas propriedades, utilizaremos as leis distributivas da lógica ma- temática. Vamos provar o item a. Seja x ∈ A∩(B∪C) ↔ x ∈ A e x ∈ B∪C ↔ x ∈ A e (x ∈ B ou x ∈ C) ↔ (x ∈ A e x ∈ B) ou (x ∈ A e x ∈ C) ↔ x ∈ A∩B ou x ∈ A∩C ↔ x ∈ (A∩B)∪(A∩C) Provando que A∩(B∪C) = (A∩B)∪(A∩C). Agora é com você: faça a demons- tração do item b. Desafio Teoria de conjuntos 43 Σxemρlo 23 Considere A = {1, 2}, B = {0, 1, 3, 4} e C = {1, 4, 5}. Note inicialmente que B∩C = {1, 4}, onde A∪(B∩C) = {1, 2, 4}. Por outro lado, temos que A∪B = {0, 1, 2, 3, 4} e A∪C = {1, 2, 4, 5}, onde (A∪B)∩(A∪C) = {1, 2, 4}. Sendo assim, A∪(B∩C) = (A∪B)∩(A∪C). Vamos agora demonstrar um teorema muito importante, conhecido como Leis de De Morgan para conjuntos. Essas leis recebem esse nome porque sua demonstra- ção é feita com base nas Leis de De Morgan da lógica matemática. Teorema (Leis de De Morgan) Sejam A e B conjuntos, então valem as seguintes leis de De Morgan: a. (A∩B)C = AC∪BC. b. (A∪B)C = AC∩BC. Demonstração Vamos provar o item a. Seja x ∈ (A∩B)C ↔ x ∉ A∩B ↔ ~(x ∈ A∩B) ↔ ~(x ∈ A e x ∈ B) ↔ ~(x ∈ A) ou ~(x ∈ B) ↔ x ∉ A ou x ∉ B ↔ x ∈ AC ou x ∈ BC ↔ x ∈ AC∪BC Uma terceira operação importante entre conjuntos é a diferença entre conjun- tos, a qual está definida a seguir. Definição A diferença entre os conjuntos A e B é o conjunto A\B 2 , formado pelos elementos de A que não estão em B. Em símbolos: A\B= {x | x ∈ A e x ∉ B} A diferença entre conjuntos pode ser denotada também por A – B. 2 Vejamos o exemplo a seguir: Σxemρlo 24 Sejam A = {0, 3, 7} e B = {3, 5, 7} dois conjuntos, então: A\B = {0} e B\A = {5} Agora é com você: faça a demons- tração do item b. Desafio A diferença entre dois conjuntos A e B não é comutativa, ou seja, A\B ≠ B\A. Importante 44 Matemática Discreta Teorema Sejam A, B e C conjuntos em um universo U, então valem as seguintes proprie- dades relacionadas com a diferença entre conjuntos: a. A\∅ = A. b. U\A = AC. c. A\A = ∅. d. A\AC = A. e. (A\B)C = AC\B. f. A\B = BC\AC. g. (A\B)\C = A\(B∪C). h. A\(B\C) = (A\B)∪(A∩C). Demonstração Vamos provar apenas o item g. Seja x ∈ (A\B)\C, temos por definição da opera- ção de diferença de conjuntos que: x ∈ (A\B)\C ↔ x ∈ A\B e x ∉ C ↔ (x ∈ A e x ∉ B) e x ∉ C ↔ x ∈ A e (x ∉ B e x ∉ C) ↔ x ∈ A e (~(x ∈ B) e ~(x ∈ C)) ↔ x ∈ A e ~(x ∈ B ou x ∈ C) ↔ x ∈ A e ~(x ∈ B∪C) ↔ x ∈ A\(B∪C) Ou seja, (A\B)\C = A\(B∪C). Para finalizar este capítulo, iremos apresentar alguns exemplos de como pode- mos utilizar operações entre conjuntos para analisar afirmações ou um conjunto de afirmações. Σxemρlo 25 Dado que Pedro é um homem e que todos os homens são mortais, mostre que Welington é mortal. Vamos utilizar a propriedade de que se A ⊂ B e B ⊂ C, então A ⊂ C. Sejam: U: Conjunto de todos os seres vivos. B: Conjunto de todos os seres humanos. C: Conjunto de todos os mortais. A: Conjunto unitário cujo único elemento é Pedro. Temos que A ⊂ B, B ⊂ C. Logo, A ⊂ C, onde Pedro é mortal. Teoria de conjuntos 45 Σxemρlo 26 Em uma escola de 1.000 alunos, 800 gostam de sorvete de chocolate, 700 gos- tam de sorvete de morango e 600 gostam dos dois sabores. Quantos alunos não gostam de nenhum dos dois sabores? Seja U = {Alunos da escola}, A = {Alunos que gostam de sorvete de chocolate} e B = {Alunos que gostam de sorvete de morango}. Vamos construir o Diagrama de Venn após analisar os dados. Temos que n(A∩B) = 600, ou seja, 600 alunos gostam dos sabores chocolate e morango. Para sabermos quantos alunos gostam apenas do sabor chocolate, fazemos a subtração da quantidade de alunos que gostam desse sabor pela quantidade de alunos que gostam de ambos os sabores. Assim: n(A)\n(A∩B) = 800 – 600 = 200 Agora, para determinarmos a quantidade de alunos que gostam apenas do sabor morango, o processo é análogo ao anterior, fazemos: n(B)\n(A∩B) = 700 – 600 = 100 Sabemos que n(U) = 1.000, que é composto pela quantidade de alunos que gos- tam apenas do sabor chocolate, de ambos os sabores, apenas do sabor de moran- go e alunos que não gostam de nenhum dos dois sabores, logo: n(U) = n(A\(A∩B)) + n(A∩B) + n(B\(A∩B)) + n(U\(AUB)) = 200 + 600 + 100 + n(U\(AUB)) Sendo assim, n(U\(AUB)) = 1.000 – 900 = 100, ou seja, 100 alunos não gostam de nenhum dos sabores. O Diagrama de Venn ficará da seguinte forma: Alunos da escola Chocolate e morango 600 Chocolate Morango 100 200 100 Podemos definir outras operações entre conjuntos. Uma operação bem conhe- cida é a diferença simétrica entre conjuntos. Saiba mais sobre essa operação na página Matemática Essencial, da UEL. Disponível em: http://www.uel.br/ projetos/matessencial/basico/medio/ conjuntos.html#sec11. Acesso em: 5 mar. 2021. Saiba mais Sempre que você for resolver um exercício com interseções e uniões de conjuntos, inicie anotando a cardinalidade das interseções e lembre-se de que as subtrações da cardinalidade de cada conjunto com a interseção são realizadas para que não façamos a soma de cada interseção mais de uma vez, ou seja, para determinar a cardinalidade apenas de cada conjunto, sem a interseção. Importante http://www.uel.br/projetos/matessencial/basico/medio/conjuntos.html#sec11 http://www.uel.br/projetos/matessencial/basico/medio/conjuntos.html#sec11 http://www.uel.br/projetos/matessencial/basico/medio/conjuntos.html#sec11 46 Matemática Discreta CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo você aprendeu os conceitos fundamentais de teoria de conjuntos, as diferentes formas de descrevê-los e como relacioná-los com objetos da vida real. Pôde entender, ainda, como realizar várias operações básicas entre conjuntos, que estão diretamente relacionadas com fatos e temas de estudos da matemática discreta. Por fim, compreendeu como podemos utilizar a teoria de conjuntos para demons- trar afirmações matemáticas. ATIVIDADES 1. Demonstre a propriedade comutativa da interseção de conjuntos. Mais precisamente, demonstre que dados dois conjuntos A e B, então A∩B = B∩A. 2. Prove que, se A, B e C são conjuntos, então: A∪(B∩C) = (A∪B)∩(B∪C) 3. Verifique a validade da seguinte lei de De Morgan: se A e B são conjuntos, então (A∪B)C = AC∩BC. 4. Prove que, se A e B são conjuntos, então A\B = BC\AC. REFERÊNCIAS IEZZI, G.; MURAKAMI, C. Fundamentos da matemática elementar. São Paulo: Atual, 2013. FILHO, E. A. Teoria elementar dos conjuntos. São Paulo: Nobel, 1980. ROSEN, K. H. Matemática discreta e suas aplicações. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. GRIMALDI, R. P. Discrete and combinatorial mathematics: an applied introduction. 5. ed. Boston: Addison- -Wesley, 2004. Conjuntos numéricos 47 3 Conjuntos numéricos Você deve concordar que o conceito fundamental em matemática é a ideia de número. Mais ainda, é provável que a primeira palavra que surge na sua cabeça ao pensar em matemática seja números. A ideia de número se desenvolveu com a capacidade de contar e vem evo- luindo conforme a evolução da matemática como ciência. Da necessidade de contar objetos surgiram os números naturais, que já foram representados por diversas notações até chegar à notação que utilizamos hoje. Com o desenvolvi- mento de novos problemas matemáticos, fez-se necessária a criação de novos conjuntos numéricos: inteiros, racionais, reais e imaginários. Neste capítulo, você vai aprender os principais conjuntos numéricos, suas principais operações e propriedades. Além disso, vai aprender a trabalhar com aritmética modular, uma ferramenta fundamental para que nossos computa- dores realizem tarefas, como executar um vídeo da internet de modo pratica- mente instantâneo. 3.1 Conjunto dos números naturais Vídeo “Deus criou os números naturais, todo o resto é obra do homem”. Essa frase foi dita pelo famoso matemático alemão Leopold Kronecker (1823-1891) para dar ênfase à importância dos números naturais. Na verdade, toda a sistemática dos conjuntos numéricos conhecidos na ma- temática pode ser feita por meio dos números que utilizamos para contar. Esses números são conhecidos como números naturais. Definição Chamamos de conjunto dos números naturais, denotando por , o conjunto formado pelos números 1, 2, 3, …. = {1, 2, 3, …} Assumiremos que já é sabido que podemos realizar duas operações fundamen- tais com números naturais: adição e multiplicação. Essas operações satisfazem al- gumas propriedades bem interessantes, que serão anunciadas em seguida. Teorema A operação da adição de números naturais satisfaz as propriedades a seguir: 48 Matemática Discreta a. Associativa da adição: (a + b) + c = a + (b + c), para todo a, b, c ∈ . b. Comutativa da adição: a + b = b + a, para todo a, b ∈ . Observamos que na definição apresentada o número zero não pertence ao conjunto dos números naturais, já que a criação dos números naturais se dá com o objetivo de contagem, por exemplo, para um pastor contar suas ovelhas. Sendo assim, não incluímos o zero como número natural; afinal, ninguém conta zero ovelhas. Em algumas oportunidades é conveniente trabalhar com o número zero. Sendo assim, vamos denotar por 0 o conjunto dos números naturais unido ao elemento zero, ou seja, 0 = ∪{0}. Nesse caso, chamaremos o zero de elemento neutro da adição em 0, pois para todo a ∈ , temos que a + 0 = a. A multiplicação de números naturais também possui propriedades bem defini- das, a saber: Teorema A operação de multiplicação de númerosnaturais satisfaz as propriedades a seguir: a. Associativa da multiplicação: (ab)c = a(bc), para todo a, b, c ∈ . b. Comutativa da multiplicação: ab = ba, para todo a, b ∈ . c. Elemento neutro da multiplicação: a · 1 = a, para todo a ∈ . d. Distributiva da multiplicação relativamente à adição: a(b + c) = ab + ac, para todo a, b, c ∈ . Outra propriedade importante que os números naturais satisfazem é a proprie- dade conhecida como tricotomiaI, enunciada a seguir. Dados a, b ∈ , pode ocorrer exatamente uma das três alternativas seguintes: • a = b. • Existe p ∈ tal que a = b + p. • Existe q ∈ com b = a + q. Além das suas propriedades operatórias e da propriedade da tricotomia, o con- junto dos números naturais possui outra propriedade muito importante: a orde- nação dos números naturais, que diz que dados dois números naturais diferentes, existe sempre um maior que o outro. A ordenação dos números naturais é chamada de relação de ordem. A relação de ordem no conjunto dos números naturais é definida da seguinte forma: Conjuntos numéricos 49 Definição Dados a, b ∈ , dizemos que a é menor que b, e escrevemos a < b, se existe p ∈ tal que b = a + p. Nessas condições, dizemos que b é maior que a. Também podemos utilizar a notação a ≤ b para dizer que um número a é menor ou igual a um número b, ou seja, quando a = b + p com p ∈ 0. Teorema A relação de ordem dos números naturais satisfaz as propriedades a seguir: a. Transitividade: se a < b e b < c, então a < c. b. Tricotomia: dados a e b, pode ocorrer exatamente uma das alternativas: a = b ou a < b ou b < a. c. Monotonicidade da adição: se a < b, então para todo p ∈ tem-se a + p < b + p. Demonstração Vamos demonstrar apenas os itens a e c. Para o item a, suponhamos que a < b e b < c. Isso significa que existem p, q ∈ tais que b = a + p e c = b + q, em que c = (a + p) + q = a + (p + q), ou seja, a < c. Para o item c, temos que a < b, em que existe q ∈ tal que a + q = b. Sendo assim, (a + p) + q < b + p, ou seja, a + p < b + p. As propriedades do teorema apresentado continuam verdadeiras quando con- sideramos ≤. Além disso, podemos descrever uma propriedade de monotonicidade para multiplicação, mais precisamente: Teorema A relação de ordem dos números naturais satisfaz a seguinte propriedade de monotonicidade da multiplicação: Se a < b e p ∈ , então ap < bp. A demonstração desse fato segue diretamente da propriedade distributiva da multiplicação com relação à soma de números naturais. Outra propriedade importante é a propriedade do corte, ou propriedade do cancelamento, a qual é utilizada com frequência quando estamos fazendo cálculos e comparações de números naturais. A lei do corte para números naturais é dada pelo seguinte teorema: Teorema (lei do corte) Sejam a, b e c números naturais tais que c ≠ 0 e ac = bc. Então, a = b. Demonstração Suponhamos por contraposição que a ≠ b. Por tricotomia, a < b ou b < a. Se a < b, existe m ∈ tal que b = a + m, em que bc = (a + m)c = ac + mc. Logo, ac < bc. Se a > b, existe n ∈ tal que a = b + n, em que ac = (b + n)c = bc + nc. Logo, ac > bc. Sendo assim, se ac = bc, então a = b. Agora é com você: prove o item b. Desafio 50 Matemática Discreta Existem infinitos números naturais, ou seja, a cardinalidade do conjunto dos números naturais é infinita. Esse fato é enunciado e demonstrado no teorema a seguir: Teorema O conjunto dos números naturais tem cardinalidade infinita, isto é, n() = ∞. Demonstração Suponhamos que é um conjunto finito. Então, utilizando a tricotomia para comparar todos os elementos de , dois a dois, obtemos um natural b maior que todos os elementos de . Mas b + 1 também é natural e é maior que b, uma con- tradição, provando que tem cardinalidade infinita. Para encerrar esta seção, demonstraremos um teorema muito importante, pois possui várias aplicações, em especial na computação. Esse teorema é conhecido como teorema fundamental da aritmética e indica que todo número natural pode ser escrito como a multiplicação de números primos. Lembramos que a definição de número primo é dada por: Definição Um número natural p é chamado de número primo quando p ≠ 1 e não existem a, b ∈ tais que p = ab. Entre os cem primeiros números naturais, temos os seguintes números primos: 2 3 5 7 11 13 17 19 23 29 31 37 41 43 47 53 59 61 67 71 73 79 83 89 97 Teorema (teorema fundamental da aritmética) Se b ∈ , então b pode ser escrito (de maneira única) como o produto de nú- meros primos. Demonstração Vamos utilizar um método de demonstração conhecido como segundo princípio da indução. Seja b ∈ e suponha que todo número natural menor que b pode ser escrito como o produto de fatores primos, então b é primo (nesse caso, b é trivial- mente um produto de fatores primos) ou b = cd, com c < b e d < b. Pela hipótese de indução, c e d podem ser escritos como o produto de fatores primos. Sendo assim, o teorema é válido. Conjuntos numéricos 51 3.2 Conjunto dos números inteiros Vídeo Ao longo do tempo, com o desenvolvimento de novos problemas matemáti- cos, fez-se necessária a ampliação do conjunto dos números naturais de modo que fosse possível, por exemplo, obter a solução de uma equação do tipo x + 3 = 1. Ou seja, foi preciso estender o conjunto dos números naturais para um conjunto que apresentasse entre seus elementos números negativos. Esse conjunto é chamado de conjunto dos números inteiros e é definido da seguinte maneira: Definição Chamamos de conjunto dos números inteiros, denotado por , o conjunto formado pelos números …, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, …. = {…, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, …} O conjunto dos números inteiros possui alguns subconjuntos notáveis, a saber: • + = {0, 1, 2, 3, …} = ∪{0}, chamado de conjunto dos números inteiros não negativos. • – = {..., -3, -2, -1, 0}, chamado de conjunto dos números inteiros não positivos. * = {…, -3, -2, -1, 1, 2, 3, …}, chamado de conjunto dos inteiros não nulos. Assim como no caso do conjunto dos números naturais, o conjunto dos nú- meros inteiros também apresenta um número infinito de elementos. Esse fato é sintetizado no seguinte teorema: Teorema O conjunto dos números inteiros possui cardinalidade infinita, isto é, n( ) = ∞. Demonstração Segue desse fato que n() = ∞ e ⊂ . A grande importância dos números inteiros se dá pelo fato de que podemos realizar três das quatro operações fundamentais (adição, subtração e multiplica- ção). Vamos assumir que essas operações já nos são conhecidas. Sendo assim, ire- mos rever apenas algumas notações e propriedades. Existem algumas diferenças básicas nas propriedades operatórias da multiplica- ção e da soma quando consideramos o conjunto dos números inteiros em relação ao conjunto dos números naturais. Podemos citar, por exemplo, a existência de um elemento simétrico da adição, ou seja, dado a ∈ , existe um elemento b ∈ tal que a + b = 0. Nesse caso, denotamos b = -a. A operação de subtração de números inteiros não é simétrica, pois é claro que, por exemplo, 1 - 3 ≠ 3 - 1. A seguir, elencamos algumas propriedades operatórias. Teorema As operações de adição e subtração de números inteiros satisfazem as proprie- dades a seguir: a. Associativa da adição e subtração: (a ± b) ± c = a ± (b ± c), para todo a, b, c ∈ . 52 Matemática Discreta b. Comutativa da adição: a + b = b + a, para todo a, b ∈ . c. Elemento neutro da adição e subtração: a ± 0 = a, para todo a ∈ . Além disso, existem propriedades análogas para a operação de multiplicação de números inteiros. Teorema A operação de multiplicação de números inteiros satisfaz as propriedades a seguir: a. Associativa da multiplicação: (ab)c = a(bc), para todo a, b, c ∈ . b. Comutativa da multiplicação: ab = ba, para todo a, b ∈ . c. Elemento neutro da multiplicação: a · 1 = a, para todo a ∈ . d. Distributiva da multiplicação relativamente à adição e à subtração:a(b ± c) = ab ± ac, para todo a, b, c ∈ . O elemento 0 ∈ é chamado de elemento absorvente da multiplicação, pois 0 · b = b · 0 = 0, para todo b ∈ . Além disso, a multiplicação de números inteiros satisfaz a chamada regra de sinais. Vejamos: dados a, b ∈ , então a multiplicação de a e b é tal que: • a(-b) = -(ab). • (-a)(-b) = (ab). • ab = 0 se, e somente se, a = 0 ou b = 0. A lei do corte pode ser estendida para números inteiros da seguinte forma: Teorema (lei do corte para números inteiros) Se 0 ≠ a ∈ , então ab = ac ↔ b = c, para todo b, c ∈ . Outra operação fundamental entre números inteiros é a operação de divisão inteira. Essa operação é esquematizada pelo algoritmo da divisão de Euclides: sejam a, b ∈ com b ≠ 0, podemos escrever a da seguinte forma: a = bq + r em que q, r ∈ são únicos para 0 ≤ r < b. Nesse caso, dizemos que q é o quociente da divisão e r é o resto da divisão. Σxemρlo 1 Considerando os números inteiros -2, -15 e 10, temos: a. -2 = (-15) · 0 + (-2) b. 10 = (-2)(-5) + 0 c. -15 = (-2)(7) + (-1) Note que no item b do exemplo temos que o resto é zero. Nesse caso, temos que a = 10 é um múltiplo de b = -2. Isso nos leva à definição de divisor de um nú- mero inteiro. Conjuntos numéricos 53 Definição Sejam a, b ∈ , dizemos que b divide a, ou que b é divisor de a, ou ainda que a é divisível por b, se existe q ∈ tal que: a = bq Se não existe q ∈ , dizemos que b não divide a. Observamos então que b divide a se, e somente se, o resto da divisão de a por b é zero. Vamos escrever b | a para representar que b divide a. Se b não divide a, vamos escrever b ∤ a. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 2 Considerando os números inteiros -2, -10 e 13, temos que: -2 | -10 e -2 ∤ 13. A noção de divisibilidade possui propriedades importantes, as quais nos ajudam a operar e encontrar os divisores de um número. Essas propriedades estão elenca- das no seguinte teorema: Teorema Sejam a, b, c ∈ , temos que: a. Se a | b e b | c, então a | c. b. Se a | b e b | a, então |a| = |b|. c. Se a, b > 0 e a | b, então a ≤ b. Demonstração Vamos demonstrar apenas o item a. Se a | b e b | c, então existem m, n ∈ tais que b = na e c = mb, em que c = mna, e isso significa que a | c. Lembramos que o módulo, ou valor absoluto, de um número a ∈ é defi- nido por: |a| = a se�a a �� se�a , , � � � � � � �� 0 0 Agora é com você: prove os itens b e c. Desafio Note que, pela definição de valor absoluto, é sempre válido que |a| ≥ 0 e |a| = |-a| para qualquer a ∈ . Importante 54 Matemática Discreta 3.3 Conjunto dos números racionais Vídeo A fim de definir a divisão de dois números, iremos estender o conjunto dos números inteiros para um conjunto maior, chamado de conjunto dos números racio- nais. Note que a divisão de dois números inteiros nem sempre tem como resultado um número inteiro, por exemplo, 3 e 2 ∈ , porém 3 2 ∉ , ou seja, não é um número inteiro. O conjunto dos números racionais é definido da seguinte maneira: Definição Chamamos de conjunto dos números racionais, denotado por , o conjunto formado pelas frações p q , em que p, q ∈ e q ≠ 0. Para b = p q ∈ , chamamos p de numerador e q de denominador de b. Dizemos que dois números racionais pq e r s são iguais se ps = rq. Note, por exemplo, que os números racionais 9 4 e 18 8 são iguais. As operações de adição, subtração, multiplicação e divisão de números racio- nais são definidas da seguinte forma: Definição (operações fundamentais de números racionais) Sejam pq e r s ∈ , então as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão são definidas como: a. pq r s ps ± rq qs ± = b. pq r s pr qs . = c. p q p qr s s r ps qr .= = O conjunto dos números racionais possui alguns subconjuntos notáveis, a saber: • +, chamado de conjunto dos números racionais não negativos. • –, chamado de conjunto dos números racionais não positivos. • *, chamado de conjunto dos números racionais não nulos. Teorema As operações de adição e subtração de números racionais satisfazem as pro- priedades a seguir: Note que se a ∈ ou a ∈ , então a ∈ . Importante Conjuntos numéricos 55 a. Associativa da adição e da subtração: p q r s c d � � � � � � � � = p q r s ± c d � � � � � � � , para todo �p q r s c d , , ∈ . b. Comutativa da adição: p q r s ps rq qs � � � p q r s r s p q p q r s c d p q r s c d �para�todo�p q r s c � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � , , dd �, para todo p q r s , � ∈ . c. Elemento neutro da adição e da subtração: p q ± 0 = p q , para todo p q ∈ . d. Elemento oposto da adição: p q + p q � � � � � � � � � � � � � � 0 , para todo p q ∈ . Demonstração Vamos demonstrar apenas o item b. Temos, por um lado, que: p q r s ps rq qs sp qr sq � � � � � Por outro lado, r s p q rq sp sq sp qr sq � � � � � . Sendo assim, p q r s r s p q � � � . Teorema A operação de multiplicação de números racionais satisfaz as propriedades a seguir: a. Associativa da multiplicação: p q r s c d p q r s c d � � � � � � � � � � � � � � � , para todo p q r s c d , , ∈ . b. Comutativa da multiplicação: p q r s r s p q �� � � , para todo p q r s , ∈ . c. Elemento neutro da multiplicação: p q 1= p q ⋅ , para todo p q ∈ . d. Elemento inverso da multiplicação: p q q p � � 1, para todo p q ∈ . e. Distributiva da multiplicação relativamente à adição e à subtração: p q r s c d p q r s p q c d �, para todo p q r s c d � � � � � � � � � � � �, , . Demonstração Vamos demonstrar apenas o item b. Pela definição de igualdade de números ra- cionais, verificamos que o produto pr · sq = qs · rp; isso, é claro, pelas propriedades de números inteiros. Todo número racional pode ser escrito na forma decimal. Quando transforma- mos um número racional que está na forma de fração para a notação na forma decimal, pode ocorrer um dos seguintes casos: Agora é com você: prove os itens a, c e d. Desafio Agora é com você: prove os itens a, c, d e e. Desafio 56 Matemática Discreta I. O número decimal é exato, ou seja, o número de algoritmos é finito. Por exemplo: a. 1 2 = 0,5. b. 6 2 = 3,0. II. O número decimal é uma dízima periódica, ou seja, tem infinitos algoritmos que se repetem periodicamente. Por exemplo: a. 13 = 0,333... b. 2 7 = 0,285714285714... O caminho inverso nem sempre é verdadeiro, ou seja, dado um número escrito em sua forma decimal, nem sempre é possível escrevê-lo na forma de fração. Esses números são chamados de números irracionais. 3.4 Números reais e cardinalidade Vídeo Para finalizar nosso estudo sobre conjuntos numéricos, vamos definir um con- junto numérico maior, que abrange todos os conjuntos já estudados. Esse conjunto recebe o nome de conjunto dos números reais. Definição Chamamos de conjunto dos números reais, denotado por , o conjunto formado pelos números com representação decimal finita ou periódica (chamados de números racionais) e pelos decimais infinitos não periódicos (chamados de números irracionais). Observamos que, pela definição de números reais: • , , ⊂ . • As operações de adição, subtração, multiplicação e divisão de números reais satisfazem todas as propriedades operatórias já enunciadas para os demais conjuntos numéricos. O conjunto dos números reais possui alguns subconjuntos notáveis. A saber: • +, chamado de conjunto dos números reais não negativos. • –, chamado de conjunto dos números reais não positivos. • *, chamado de conjunto dos números reais não nulos. Ao estudarmos conjuntos, definimos a cardinalidade de um conjunto finito como seu número de elementos. Desse modo, dizemos que dois conjuntos pos- suem a mesma cardinalidade se apresentam o mesmo número de elementos. Vamos estender a ideia de igualdade entre cardinalidade para conjuntoscom in- finitos elementos. O número irracional mais fa- moso que existe é o número 3,141592653589…, o qual possui infinitas casas deci- mais e é conhecido como π. No vídeo Para que serve o Pi e por que esse número causa tanto fascínio?, produzido pela BBC News Brasil, você vai encontrar uma pequena descrição e várias curiosida- des sobre o número π. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=vY6965UdcLI. Acesso em: 5 mar. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=vY6965UdcLI https://www.youtube.com/watch?v=vY6965UdcLI Conjuntos numéricos 57 Definição Dois conjuntos A e B possuem a mesma cardinalidade se, e somente se, existe uma bijeção f: A → B. Uma bijeção f: A → B é uma função que associa cada elemento de A a um único elemento de B e vice-versa, a cada elemento de B, um único elemento de A. Tam- bém chamamos esse tipo de associação de associação biunívoca ou um para um. Utilizaremos a definição anterior para classificar os conjuntos de cardinalidade infinita em dois grupos diferentes: o grupo dos conjuntos que possuem a mesma cardinalidade do conjunto dos números naturais e o grupo dos conjuntos que pos- suem cardinalidade diferente. Definição Um conjunto que é finito ou tem a mesma cardinalidade do conjunto dos números naturais é chama- do de conjunto enumerável ou conjunto contável. Quando um conjunto infinito A é enumerável, indicamos a cardinalidade de A por n(A) = ℵ0 (ℵ é alef, a primeira letra do alfabeto hebraico) e dizemos que A tem cardinalidade alef zero. Definição Um conjunto que não é contável é chamado de incontável ou não enumerável. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 3 Vamos mostrar que o conjunto dos números inteiros é enumerável. Demonstração Basta considerarmos f: → , dada por: f n n se�n�é�par n - �� se�n�é�ímpar � � � � � � �� � � � 2 1 2 , , É fácil perceber que f é uma bijeção. 58 Matemática Discreta 3.5 Aritmética modular Vídeo Para finalizar este capítulo, iremos introduzir a ideia de congruência modular. A teoria de congruência modular é muito rica e extensa. Além disso, possui várias aplicações; por exemplo, na leitura de um CD. Durante esta seção iremos estudar os conceitos básicos de congruência modular. Definição Seja m ∈ um número natural, dizemos que a, b ∈ são congruentes módulo m, e escrevemos a ≡ b mod m se m divide a - b, ou seja, se b = a + km para um certo k ∈ . Vejamos um exemplo: Σxemρlo 4 a. Se m = 10, temos 32 ≡ 2 mod 10, já que 32 - 2 = 3(10). b. Se m = 2, temos 27 ≡ -5 mod 2, já que 27 - (-5) = 16(2). Consideremos as seguintes congruências: • 28 ≡ 7 mod 3 • 26 ≡ -4 mod 3 Note que 28 + 26 ≡ 7 + (-4) mod 3, pois 28 + 26 - (7 + (-4)) = 51 = 17(3). Esse fato nos indica que podemos somar congruências. Podemos resumir essa propriedade no seguinte teorema: Teorema Sejam m ∈ e a, b, c, d ∈ tais que a ≡ b mod m, c ≡ d mod m. Então, a ± c ≡ b ± d mod m. Além disso, podemos multiplicar congruências, conforme enunciado no próxi- mo teorema. Teorema Sejam m ∈ e a, b, c, d ∈ tais que a ≡ b mod m, c ≡ d mod m. Então, ac ≡ bd mod m. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 5 Sejam 2 ≡ -5 mod 7 e -5 ≡ 16 mod 7. Então, pelo teorema da multiplicação de congruências, temos que 2(-5) ≡ (-5)(16) mod 7. A aritmética modular está presente em vários campos da nossa vida. No site Campus Code, , você irá en- tender como funciona a validação de documentos como o CPF. Disponível em: https://www. campuscode.com.br/conteudos/o- -calculo-do-digito-verificador- -do-cpf-e-do-cnpj. Acesso em: 5 mar. 2021. Saiba mais Conjuntos numéricos 59 Uma outra propriedade da congruência é que para qualquer a ∈ e m ∈ , a ≡ 0 mod m se, e somente se, a é múltiplo de m. Além disso, dado um número natural m fixo, qualquer número inteiro pode ser descrito por uma con- gruência com m. Teorema Sejam m ∈ e a ∈ , então existe um único r ∈ {0, 1, …, m - 1} tal que a ≡ r mod m Demonstração Dividindo a por m, utilizando o algoritmo da divisão de Euclides, temos a = qm + r, com r ∈ {0, 1, …, m - 1}. Logo, a - r = qm, e isso significa que a ≡ r mod m. A unicidade de r é clara, pois o resto da divisão é único. Σxemρlo 6 Se m = 6, temos 40 ≡ 4 mod 6, já que 40 - 4 = 6(6). Nesse caso, temos a = 40 e r = 4 ∈ {0, 1, 2, 3, 4, 5}. A operação de congruência módulo m é uma relação de equivalência, ou seja, satisfaz as propriedades a seguir: Teorema Sejam m ∈ e a, b, c ∈ . a. Reflexiva: a ≡ a mod m. b. Simétrica: se a ≡ b mod m, então b ≡ a mod m. c. Transitiva: se a ≡ b mod m e b ≡ c mod m, então a ≡ c mod m. Demonstração Vamos provar apenas o item c. Como m | (a - b) e m | (b - c), existem inteiros s e t tais que b = a + sm, c = b + tm, em que c = a + (s + t)m, e isso significa que a ≡ c mod m. Σxemρlo 7 Se m = 6, temos 40 ≡ 4 mod 6 e 4 ≡ 22 mod 6. Sendo assim, pelo item c do teo- rema apresentado, temos que 40 ≡ 22 mod 6. Agora é com você: prove os itens a e b. Desafio No livro Códigos correto- res de erros, você pode aprofundar seus conheci- mentos sobre aritmética modular por meio de reflexões valiosas sobre as propriedades operatórias das classes residuais e apli- cações do tema na teoria de informação. HEFEZ, A.; VILLELA, M. L. T. Rio de Janeiro: IMPA, 2017. Livro 60 Matemática Discreta CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, você aprendeu conceitos fundamentais dos principais conjun- tos numéricos, as operações essenciais e suas propriedades operatórias. Com- preendeu o conceito de divisibilidade e como podemos aplicá-lo para resolver problemas matemáticos. Por fim, você aprendeu a trabalhar com aritmética modular, presente em várias aplicações de tecnologia e de segurança, como na criação de um código de barras ou de um número de CPF. ATIVIDADES 1. Mostre que se a, b ∈ , com a, b > 0 e a | b, então a ≤ b. 2. Sejam p q r s c d , , ∈ , mostre que p q r s c d p q r s c d � � � � � � � � � � � � � � � � � . 3. Demonstre o seguinte teorema: sejam m ∈ e a, b, c, d ∈ , tais que a ≡ b mod m, c ≡ d mod m, então a + c ≡ b + d mod m. 4. Mostre que a ∈ é par se, e somente se, a ≡ 0 mod 2 e que a é ímpar se, e somente se, a ≡ 1 mod 2. REFERÊNCIAS GRIMALDI, R. P. Discrete and combinatorial mathematics: an applied introduction. 5. ed. Boston: Addison-Wesley, 2004. IEZZI, G.; MURAKAMI, C. Fundamentos da matemática elementar 1: conjuntos, funções. São Paulo: Atual, 2013. LIPSCHUTZ, S.; LIPSON, M. Matemática discreta. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. ROSEN, K. H. Matemática discreta e suas aplicações. 6. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. Relações 61 4 Relações Ao estudarmos a teoria elementar de conjuntos, aprendemos a realizar diversas operações e comparações entre conjuntos. Porém, quando apro- fundamos nossos estudos em matemática, geralmente também estamos interessados em comparar os elementos dos conjuntos e não apenas os conjuntos. Por exemplo, é mais comum comparar números em relação à ordem e divisibilidade do que conjuntos numéricos. Em matemática, a comparação entre elementos de um ou mais conjuntos é chamada de relação entre os conjuntos. No nosso dia a dia, estamos frequentemente utilizando o conceito de relações, como quando comparamos objetos (maior, menor, igual). Relações podem ser usadas para resolver problemas tais como determi- nar quais pares de cidades são ligadas por linhas aéreas em uma rede. Neste capítulo serão apresentadas as principais propriedades opera- tórias entre relações, com destaque para dois tipos muito especiais: rela- ção de ordem e relação de equivalência. 4.1 Produto cartesiano e par ordenado Vídeo O principal objetivo deste capítulo é estudar relações entre elementos que per- tencem a um ou mais conjuntos. Para isso precisamos definir uma maneira espe- cial de organizar elementos. Definição Dados dois objetos quaisquer, a e b, chamamos de par ordenado um terceiro objeto (a, b). Nesse caso, dizemos que a é a primeira coordenada e b éa segunda coordenada de (a, b). Observe alguns fatos importantes que decorrem da definição: a. A ordem dos elementos importa! Ou seja, o par ordenado (a, b) é diferente do par ordenado (b, a). b. Não devemos confundir um par ordenado (a, b) com um conjunto {a, b}. c. Dois pares ordenados (a, b) e (c, d) são iguais se, e somente se, a = c e b = d. 62 Matemática Discreta São exemplos triviais de pares ordenados: • (1, 4), (4, 1), (100, 0). • (carro, motocicleta), (Maria, José), (futebol, voleibol). Durante seus estudos no ensino médio, você provavelmente aprendeu geometria analítica e conheceu uma forma de representar pontos ordenados em um plano cha- mado cartesiano. Para construirmos um plano cartesiano, basta que fixemos uma ori- gem e dois eixos perpendiculares. O plano cartesiano que conhecemos é, então, um conjunto de todos os pares or- denados de números reais. Esse conjunto é chamado de produto cartesiano e pode ser generalizado para o produto de conjuntos quaisquer, conforme a definição: Definição Dados dois conjuntos A e B, o conjunto de todos os pares ordenados (a, b), com a ∈ A e b ∈ B, é chama- do de produto cartesiano de A e B, e é denotado por A x B. Em linguagem de conjuntos: A x B = {(a, b) | a ∈ A e b ∈ B} Vejamos um exemplo: Σxemρlo 1 Sejam A � � ��,�� e B � �� � �0 1 2, , , então: A × B � � � � � � � � � � � � �� �� � �,�� ,� ,�� ,� ,�� , ,�� ,� ,�� ,�� ,��0 1 2 0 1 2 B × A � � � � � � � � � � � � �� �0 0 1 1 2 2,�� ,� ,�� ,� ,�� ,� ,�� ,� ,�� ,� ,��� � � Observamos no exemplo que, em geral, A x B ≠ B x A. Além disso, podemos pro- var que se n(A) e n(B) são finitos, então: n(A x B) = n(B x A) = n(A)n(B) A ideia de produto cartesiano de dois conjuntos pode ser estendida para o pro- duto cartesiano de um número finito de conjuntos. Definição Dados n conjuntos A 1 , A 2 , ..., A n . O conjunto de todas as n-uplas ordenados (a 1 , a 2 , ..., a n ) com a i ∈ A i é chamado de produto cartesiano de A 1 , A 2 , ..., A n, e é denotado por A 1 x A 2 x ... x A n . Em linguagem de conjuntos: A 1 x A 2 x ... x A n = {(a 1 , a 2 , ..., a n ) | a i ∈ A i } n-upla: é uma lista ordenada, denotada por (a 1 , a 2 , ..., a n ), onde a 1 , a 2 , ..., a n são elementos pertencentes a um conjunto A i. Glossário Observamos novamente que a ordem dos elementos de uma n-upla importa, ou seja, (a1, ..., aj, ..., ak, ..., an) ≠ (a1, ..., ak, ..., aj, ..., an) se ak ≠ (aj). Além disso, se todos os n conjuntos Ai são finitos, vale que: n(A1 x A2 x ... x An) = n(A1) n(A2) ...n(An) Relações 63 Σxemρlo 2 Sejam A ��� { , }� , B = {0, 1, 2} e C = {00, 11}, então: A × B × C � � � � � � � � �{ ,� ,� ,� ,� ,� ,� ,� ,� , ,� ,� ,� ,�� � � � �0 00 0 11 1 00 111 2,,� , ,� ,� ,�00 2 11� � � �� ����������������� , , , , , , , , , , , � � � � � � � � � �0 00 0 11 1 00 1� � � � � � 111 2 00 2 11� � � � � �, , , , , , }� � � � � E observamos que: (Δ, 0, 11) ∈ A x B x C, (0, Δ, 11) ∈ B x A x C, (Δ, 11, 0) ∈ A x C x B A operação de produto cartesiano possui algumas propriedades operatórias. Observe algumas no teorema a seguir: Teorema Sejam A, B e C conjuntos, então são válidas as seguintes propriedades: a. A x B = Ø ↔ A = Ø ou B = Ø. b. Se A ≠ Ø e B ≠ Ø, então A x B = B x A ↔ A = B. c. Se A ⊂ B, então A x C ⊂ B x C e C x A ⊂ C x B. d. Se A ≠ Ø, então A x B ⊂ A x C ↔ B ⊂ C. Demonstração Vamos provar apenas o item d. Note que se B = Ø, então o resultado é trivial. Vamos supor que B ≠ Ø. Seja b ∈ B um elemento qualquer. Como A ≠ Ø, existe no mínimo um elemento em A. Vamos considerar que esse elemento seja a, então a ∈ A. Assim, se A x B ⊂ A x C, temos: a ∈ A e b ∈ B → (a, b) ∈ A x B → (a, b) ∈ A x C → a ∈ A e b ∈ C Onde B ⊂ C. Suponha agora que B ⊂ C. Seja (a, b) ∈ A x B, então, pela definição de produto cartesiano, a ∈ A e b ∈ B. Como B ⊂ C, temos que b ∈ C, ou seja, (a, b) ∈ A x C. Pro- vando que A x B ⊂ A x C. A operação de produto cartesiano também pode ser combinada com as demais operações entre conjuntos (interseção, união e diferença), satisfazendo as seguin- tes propriedades distributivas. Teorema Sejam A, B e C conjuntos, então são válidas as seguintes propriedades distributivas: a. A x (B∩C) = (A x B)∩(A x C). b. (A∩B) x C = (A x C)∩(B x C). c. A x (B∪C) = (A x B)∪(A x C). d. (A∪B) x C = (A x C)∪(B x C). a. A x (B\C) = (A x B)\(A x C). b. (A\B) x C = (A x C)\(B x C). Agora é com você: prove os itens a, b e c. Desafio 64 Matemática Discreta Demonstração Vamos provar apenas os itens c e e. Para o item c, temos que: (a, b) ∈ A x (B∪C) ↔ a ∈ A e b ∈ (B∪C) ↔ a ∈ A e (b ∈ B ou b ∈ C) ↔ (a ∈ A e b ∈ B) ou (a ∈ A e b ∈ C) ↔ (a, b) ∈ A x B ou (a, b) ∈ A x C ↔ (a, b) ∈ (A x B) U (A x C) Provando que A x (B∪C) = (A x B)∪(A x C). Para o item e, temos que: (a, b) ∈ A x (B\C) ↔ a ∈ A e b ∈ (B\C) ↔ a ∈ A e (b ∈ B e b ∉ C) ↔ (a ∈ A e a ∈ A) e (b ∈ B e b ∉ C) ↔ a ∈ A e (b ∈ B e a ∈ A) e b ∉ C) ↔ (a ∈ A e b ∈ B) e (a ∈ A e b ∉ C) ↔ (a, b) ∈ A x B e (a, b) ∉ A x C ↔ (a, b) ∈ (A x B)\(A x C) Provando que A x (B\C) = (A x B)\(A x C). O produto cartesiano A x A é chamado de quadrado cartesiano de A, o qual é denotado por A2, ou seja, A2 = {(x, y) | x, y ∈ A}. Denotamos por Da o conjunto cha- mado de diagonal de A2, o qual é formado pelos pares ordenados (x, x) ∈ A2, ou seja, Da = {(x, x) | x ∈ A}. Por exemplo, considerando o conjunto A = {1, 2}, temos: A2 = {(1, 1), (1, 2), (2, 1), (2, 2)} e Da = {(1, 1), (2, 2)} Observamos também que se A é um conjunto com cardinalidade finita, digamos n(A) = m, então n(A2) = m2 e n(Da) = m. 4.2 Conceito de relação Vídeo Uma relação é uma ferramenta matemática que considera o vínculo de certo elemento de um conjunto com elementos de um ou mais conjuntos. As relações são amplamente utilizadas na ciência da computação, especialmente em bancos de dados e códigos corretores de erros. No artigo Modelagem do problema de alocação de frota de uma empresa aérea brasileira, dos auto- res Daniel J. Caetano e Nicolau D. F. Gualda, publicado em 2008 no congresso anual da Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (ANPET), você pode conhecer mais a respeito de resolução de problemas com relações entre conjuntos. Acesso em: 5 mar. 2021. https://www.caetano.eng.br/trabalhos/getfile.php?fn=2008_XXII_ANPET_Anais.pdf Artigo Agora é com você: prove os itens a, b, d e f. Desafio https://www.caetano.eng.br/trabalhos/getfile.php?fn=2008_XXII_ANPET_Anais.pdf Relações 65 Notemos as seguintes relações matemáticas: • Menor que: 1 < π, o número real 1 está relacionado com o número π por essa relação. • Contido em: {1, 2} ⊂ , o conjunto {1, 2} está relacionado com o conjunto por essa relação. Observamos, então, que uma relação é uma regra para fazer uma afirmação sobre dois elementos, que podem ou não pertencer ao mesmo conjunto. Em ou- tros termos, para descrevermos uma relação de um conjunto A em B, precisamos escolher (ou definir uma regra de como escolher) pares (a, b) ∈ A x B. Em termos de teoria de conjuntos, podemos definir uma relação como segue. Definição Dados dois conjuntos A e B, uma relação binária R de A em B é um subconjunto do produto cartesiano A x B. Se A = B, chamaremos a relação R de relação binária em A. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 3 Dados A = {4, 5, 6} e B = {a, b, c}, podemos definir relações de A e B escolhendo pares ordenados aleatoriamente em A x B, por exemplo: R �a �R �a � �c1 � � �� � � � � � �� �4 4 62, , , , , e R a b c b3 � � � � � � � � �� �4 5 6 6,� , ,� , ,� , ,� Observe também que, no exemplo anterior, R R21 ⊂ e R R31 ⊂ , porém, R R2 3⊄ . Dado dois conjuntos A e B e uma relação R de A em B, existem alguns subcon- juntos especiais de R que são utilizados para descrever a relação. Definição Seja R A B� � uma relação de A em B, o domínio de R , denotado por Dom R� � é o conjunto de todos os elementos em A que estão relacionados com algum elemento em B. Vejamosum exemplo: Σxemρlo 4 Considere os conjuntos A = {4, 5, 6} e B = {a, b, c}. Qual é o domínio da relação R3 de A em B, dada por R 4, a , 5, b3 � � � � �� �? 66 Matemática Discreta Temos por definição que o domínio de R3 é Dom R = 4, �53� � � �. Definição Seja R A B � � uma relação de A em B, a imagem de R, denotada por Ran R� � ou Im R� � , é o con- junto de todos os termos de B que são os segundos termos dos pares de R. Vamos considerar um exemplo: Σxemρlo 5 Considere os conjuntos A = {8, 9, 10} e B = {x, y, z}. Qual é a imagem da relação R1 de A em B, onde R1 é dada por R = 8, x , 9, y ,� 10,� y 1 � � � � � �� �? Temos por definição que a imagem de R1 é Im R x �y1� � � � �, , pois x e y são os se- gundos termos dos pares (8, x), (9, y) e (10, y), ou seja, pares de R1. Definição Seja R A B� � uma relação de A em B, se x ∈ A, definimos o conjunto R x� � dos R-relativos de x como sendo o conjunto de todos os y ∈ B com a propriedade de que x está relacionado a y por R , ou seja: R x = {y B | xRy}� � � Esclarecemos a definição de R -relativos de x com o seguinte exemplo: Σxemρlo 6 Sejam A e B dois conjuntos, onde A = {8, 9, 10}, B = {x, y, z} e R1 a relação de A em B dada por: R = 8,�x , 9,�y ,� 10,�y ,� 8,�z ,� 9,�z 1 � � � � � � � � � �� � Descreva o conjunto R1 8� �. Pela definição de conjunto dos 1-relativos de 8, tem-se R y B � R y1 18 8� � � �{ | }. Como em R1 temos 8 nos pares (8, x) e (8, z), ou seja, o 8 está relacionado a x e z, temos que R x �z1 8� � � � �, . Relações 67 Definição Seja R A B� � uma relação de A em B, se A 1 ⊂ A, definimos o conjunto R A1� � dos R-relativos de A 1 como sendo o conjunto de todos os b ∈ B com a propriedade de que x está relacionado a y por R e x ∈ A 1 . Em símbolos: R A b B xRy e x A1 1� �� � �{ | } Esclareceremos a definição de -relativos de A1 com o exemplo a seguir. Σxemρlo 7 Considere A e B dois conjuntos, onde A = {8, 9, 10} e B = {x, y, z}, sendo R1 a re- lação entre eles dada por: R = 8, x ,� 8, y , 9, y ,� 10,�y ,� 8, z ,� 9,�z 1 � � � �� � � � � � � � � � � �� � Considerando A1 ⊂ A dado por A1 = {9, 10}, descreva o conjunto R A1 1� �. Pela definição de conjunto dos R1-relativos de um subconjunto A1 de A, tem-se R A b B� �xR y�e�x A1 1� � � � �{ | }1 1 . Ou seja, R A = y,�z1 1� � � � . Para finalizar esta seção, destacamos as seguintes relações triviais para um con- junto A: • Relação vazia: corresponde ao conjunto vazio Ø ⊂ A2. • Relação total: corresponde ao próprio produto cartesiano A2. • Relação diagonal: � A a b A b a2 2� � �� �� �, ; . A relação diagonal também é chamada de relação identidade e é denotada por Ia ou Ida. Observamos também que o número de elementos da relação diagonal é igual ao número de elementos do conjunto A. Σxemρlo 8 Considere os conjuntos A = {0, 1, 2, 3} e B = {x, y}. Determine a relação diagonal de cada conjunto. Pela definição, temos que � A a b A b a2 2� � �� �� �, ; , ou seja, a relação diagonal do conjunto A é dada por � A2 � � � � � � � � �� �0,�0 , 1,�1 , 2,�2 , 3,�3 , e a relação diagonal do conjunto B é dada por � B2 � � � � �� �x,�x , y,�y . 68 Matemática Discreta 4.3 Relação inversa Vídeo Nesta seção aprenderemos a definir uma relação do conjunto B no conjunto A, com base em uma relação de A em B. Definição Dada uma relação binária R de A em B, chamamos de relação inversa de R o conjunto R y, x B A x, y R� � � �� � � ��1 { | } Notamos que se R é uma relação binária de A em B, então R-1 é subconjunto de B x A, ou seja, R-1 é uma relação binária de B em A. Além disso, temos que: y,�x R x, y R� �� � ����1 Segue da definição que R−1 é o conjunto dos pares ordenados obtidos a partir dos pares ordenados de R, invertendo-se a ordem dos termos em cada par. Veja- mos um exemplo: Σxemρlo 9 Dados A = {0, 1, 2, 3} e B = {1, 3, 5, 7} com relação R entre esses conjuntos dada por R x �y A B� �x y� � �� � � �{ , | }1 , determine os elementos de R e de R−1, usando a notação de conjunto. Pela definição de R, temos que: R= 0,�3 ,� 0,�5 ,� 0,�7 ,� 1,�3 ,� 1,�5 ,� 1,�7 ,� 2,�5 ,�� � � � � � � � � � � � � � 22,�7 ,� 3,�5 ,� 3,�7� � � � � �� � E pela definição de relação inversa, teremos: R = 3,�0 ,� 5,�0 ,� 7,�0 ,� 3,�1 ,� 5,�1 ,� 7,�1 ,� 5,�2-1 � � � � � � � � � � � � � � ,,� 7,�2 ,� 5,�3 ,� 7,�3� � � � � �� � Teorema Sejam A e B conjuntos, R uma relação de A em B e R−1 sua relação inversa, então são válidas as seguintes propriedades: • Dom R = Im R-1� � � �; • Im R = Dom R-1� � � �; • R = R-1 -1� � . Não demonstraremos o teorema anterior, mas vamos ilustrá-lo com um exemplo. Σxemρlo 10 Dados A = {a, b, c} e B = {1, 3}, e a relação R de A em B dada por R = a,�1 , b,�1 ,� b,�3 ,� c,�3� � � � � � � �� �, vamos comparar o domínio e a imagem de R e de R−1. Relações 69 Como R = a,�1 , b,�1 ,� b,�3 ,� c,�3� � � � � � � �� �, tem-se por definição que Dom R = a,�b,�c� � � � e Im R = 1,�3� � � �. Determinando R−1, temos que R = 1,�a , 1,�b ,� 3,�b ,� 3,�c -1 � � � � � � � �� �, onde Dom R = 1,�3-1� � � � e Im R = a,�b,�c-1� � � � . Sendo assim, são verdadeiras as afirmações do teorema anterior. 4.4 Propriedades das relações Vídeo Ao definirmos relações de A em B como subconjuntos do produto cartesiano A x B, adquirimos a grande vantagem de colocar à nossa disposição todo o nosso co- nhecimento sobre teoria de conjuntos para descrever propriedades a respeito de relações. Entretanto, é comum encontrarmos na literatura a descrição de relação entre dois elementos por meio de um símbolo entre eles. Por exemplo, x + y e x > y expressam duas relações matemáticas: a relação de soma e a relação de maior que. As relações x + y e x > y podem ser escritas na linguagem de conjuntos como: • x y x,�y� � � ��� • x y x,�y� � � ���� Em geral, para uma dada relação R de A em B, escrevemos: aRb a �b R� � ��, para representar que a está relacionado com b. Ao considerarmos um conjunto A não vazio e uma relação interna R em A, isto é, uma relação R de A em A, podemos explorar algumas propriedades importantes. São elas o objeto de estudo desta seção. Definição Dado um conjunto A não vazio, uma relação binária R em A é reflexiva se para todo a ∈ A temos que a está relacionado com a. Em símbolos: R é reflexiva se� �a A aRa, . A relação de igualdade (=) é reflexiva em qualquer conjunto numérico, uma vez que escrever, por exemplo, 2 = 2 é equivalente a escrever 2 = 2 (invertendo a ordem dos números dois). Nem toda relação em um conjunto é reflexiva, como podemos observar no se- guinte exemplo. Σxemρlo 11 Dado o conjunto A = {1, 2, 3}, considere a relação R1 em A dada por R = 1,1 , 2,2 , 1,2 , 2,1 1 � � � � � � � �� �. Verifique que R1 não é reflexiva. Claramente R1 não é reflexiva, pois 3 ∈ A e 3 3 1, .� R� �� 70 Matemática Discreta Definição Dado um conjunto A não vazio, uma relação binária R em A é simétrica se, para todo a, b ∈ A, temos que a está relacionado com b se, e somente se, b está relacionado com a. Em símbolos: R é simétrica se � , ,� � ��a �b A �aRb bRa A relação de diferença (≠) é simétrica em qualquer conjunto numérico, uma vez que escrever, por exemplo, 3 ≠ 2 é equivalente a escrever 2 ≠ 3. Nem toda relação em um conjunto é simétrica, como podemos observar no seguinte exemplo. Σxemρlo 12 Dado o conjunto A = {a, b, c}, considere a relação R2 em A dada por R = a, a , b, b , c, c , a, b , b, c , a, c 2 � � � � � � � � � � � �� � . Verifique que R2 não é simétrica. Claramente R2 não é simétrica, pois a �c A � a �c R �e� c �a R �, , , , .� � �� � ��2 2 Definição Dado um conjunto A não vazio, uma relação binária R em A é assimétrica se, para todo a, b ∈ A, tal que a está relacionado com b, temos que b não está relacionado com a. Em símbolos. R é assimétrica se� � � �� �� ��a b A se a, b R b, a R, . Vejamos um exemplo: Σxemρlo 13 Dado o conjunto A = {1, 2, 3}, claramente a relação R1 em A, dada por R = 1,�2 ,�� 3,1 1 � � � �� �, é assimétrica. Novamente, nem todarelação em um conjunto é assimétrica, como podemos observar no seguinte exemplo: Σxemρlo 14 Dado o conjunto A = {a, 3, d}, considere a relação R2 em A dada por R = a, a , d, d , d, a ,� a, d2 � � � � � � � �� �. Verifique que R2 não é assimétrica. Relações 71 Claramente 2 não é assimétrica, pois a �d A � a �d R �e� d �a R �, , , , .� � �� � ��2 2 Definição Dado um conjunto A não vazio, uma relação binária R em A é antissimétrica se, para todo a, b ∈ A, tal que a está relacionado com b e b está relacionado com a, então a = b. Em símbolos: R é antissimétrica se� � � �� � �� �a b A se a, b R e b, a R a = b, A relação “menor que” (<) é antissimétrica em qualquer conjunto numérico. Uma vez que escrever, por exemplo, 1 < 2 implica que não podemos escrever 2 < 1, pois 2 não é menor que 1. Nem toda relação em um conjunto é antissimétrica, como podemos observar no exemplo a seguir. Σxemρlo 15 Dado o conjunto A = {a, 3, d}, considere a relação R2 em A dada por R = a, a , d, d , d, a , � a, d 2 � � � � � � � �� �. Verifique que R2 não é antissimétrica. Claramente R2 não é antissimétrica, pois a �d A � a �d R �e� d �a R, , , ,� � �� � ��2 2 e a ≠ d. Definição Dado um conjunto A não vazio, uma relação binária R em A é transitiva se, para todo a, b, c ∈ A, tal que a está relacionado com b e b está relacionado com c, então a está relacionado com c. Em símbolos: R é transitiva se� � �a b c Ase aRb e bRc aRc, , , . A relação “menor que” (<) é transitiva em qualquer conjunto numérico, uma vez que escrever, por exemplo, 1 < 2 e 2 < 3 implica escrever que 1 < 3. Nem toda relação em um conjunto é transitiva, como podemos observar no seguinte exemplo. Σxemρlo 16 Considere a seguinte relação no conjunto dos números reais: � � � � ��x �y �xRy x� �y, , 1 � � � � ��x �y �xRy x� �y, , 1. Verifique que essa relação R não é transitiva. R não é transitiva. Para provar isso basta apresentar um contraexemplo. Note que 2 2,� ��R e 2 12, � � � � � ��R , porém 2 1 2 ,� � � � � ��R . 72 Matemática Discreta 4.5 Operações e fecho de relações Vídeo Utilizando o fato de que uma relação entre dois conjuntos A e B pode ser consi- derada como um subconjunto do produto cartesiano A x B, iremos utilizar as ope- rações usuais entre conjuntos para definir algumas operações entre relações. Definição Sejam R e S A B� � duas relações de A em B, então a relação interseção entre R e S é a relação R S∩ de A em B dada por: a R S b aRb e aSb�� � � Vejamos um exemplo: Σxemρlo 17 Considere A = {0, 1, 2, 3} e B = {x, y}, e as relações: R = 0, x , 1, x , 2, y , 3, x� � � � � � � �� � e S = 0, x , 3, y� � � �� � Descreva a relação R S∩ . Note que 0, �x R�e� 0, x S� �� � �� , onde o único elemento da relação R S∩ é (0, x). Ou seja, R S �x� � � �� �0, . Definição Sejam R e S A B� � duas relações de A em B, então a relação união entre R e S é a relação R S∪ de A em B dada por: a R S b aRb ou aSb�� � � Vejamos um exemplo: Σxemρlo 18 Considere A = {0, 1, 2, 3} e B = {x, y}, e as relações: R = 0, x , 1, x , 2, y , 3, x� � � � � � � �� � e S = 0, x , 3, y� � � �� � Descreva a relação R S∪ . Note que, por definição, precisamos apenas reunir todos os elementos das rela- ções R e S, ou seja, R S = 0,�x ,� 1,�x ,� 2,�y ,�� 3,�x ,� 3,�y .� � � � � � � � � � �� � Relações 73 Definição Sejam R e S A B� � duas relações de A em B, então a relação diferença entre R e S é a relação R\S de A em B dada por: a R\S b a b R e a, b S� � �� �� � ��, Vejamos um exemplo: Σxemρlo 19 Considere A = {0, 1, 2, 3} e B = {x, y}, e as relações: R = 0, x , 1, x , 2, y , 3, x� � � � � � � �� � e S = 0, x , 3, y� � � �� � Descreva a relação R S\ . Pela definição de R S\ , temos que R\S = 1,�x ,� 2,�y ,� 3,�x� � � � � �� �. Definição Seja R A B� � uma relação de A em B, então a relação complementar de R é a relação Rc de A em B dada por: a R b a, b Rc� � � � � � Essa definição nos diz que a relação complementar é formada por todos os ele- mentos (a, b) ∈ A x B que não estão R-relacionados. Por fim, definiremos a operação mais importante entre relações: a operação composição. Definição Seja R uma relação de A em B e S uma relação de B em C, definimos a relação composta S R de A e C da seguinte forma: S R a, c A C b B a, b R e b, c S � � � � � � �� � � � � � � �� �; , Vejamos um exemplo: Σxemρlo 20 Sejam A = {1, 2, 3}, B = {x, y, z} e C = {α, β, γ} três conjuntos dados, considere as seguintes relações: R = 1, x , 2, x , 3, z A B� � � � � �� � � � ; S = x, , y, , y, , z, B C� � � �� � � � � � � �� � � � . Verifique que 1,���� ��S R . O símbolo ∘ significa a compo- sição das funções e lemos “ S bola R ”. É a notação utilizada para a função g composta com a função f. Glossário 74 Matemática Discreta De fato, notamos que 1,���� ��S R , pois 1, x R� �� e x S,���� �� . A relação composta satisfaz as propriedades enunciadas no teorema a seguir. Teorema Considere as relações R A B �S B C� � � �, e T C D� � , então: a. T S R = T S R � � � � . b. S R = R S-1 -1 -1 � � . Demonstração Provaremos apenas o item a. Claramente, T S R � � e T S R � � são relações de A e D. Seja (a, d) ∈ A x B um elemento qualquer, se a, d T S R� �� � � , pela definição de composição, existe um elemento c ∈ C tal que a, c S R� �� e c, d T� �� . Como a, c S R� �� , podemos usar novamente a definição de composição e obter um ele- mento b ∈ B tal que a, b R� �� e b, c S� �� . Agora, sabemos que b, c S� �� e c, d T� �� , e podemos concluir que b, d �T S.� �� Da mesma forma, de a, b R� � � e b, d �T S� � � , segue-se que a, d T S R� � � � � . Isso prova que T S R T S R � � � � � . Para provar a inclusão contrária e concluir a prova, basta repetir o argumento apre- sentado a partir de um elemento a, d T S R� � � � � , para mostrar que a, d T S R� � � � � . 4.6 Relação de ordem e de equivalência Vídeo Nesta seção, iremos estudar duas classes muito especiais de relações entre con- juntos: as relações de ordem e de equivalência. Essas duas classes de relações são as mais estudas em toda a matemática. Definição Dado um conjunto A não vazio, uma relação binária R em A é dita relação de ordem parcial em A se for reflexiva, antissimétrica e transitiva. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 21 Verifique que a relação “divide” nos números naturais é uma relação de ordem parcial. Agora é com você: prove o item b. Desafio Relações 75 Para verificar que a relação “divide” é de ordem parcial, analisamos suas propriedades: • É reflexiva porque x | x. • É antissimétrica porque x | y e y | x implica x = y. • É transitiva porque x | y e y | z implica x | z. Portanto, é uma relação de ordem parcial. Outra relação de ordem parcial clássica que podemos citar é a relação “menor ou igual” (≤) nos números naturais. Porém, note que a relação “menor que” (<) não é uma ordem parcial, porque não é reflexiva. Frequentemente, uma relação de ordem parcial é denotada com o símbolo em vez de uma letra, como R. Isso faz sentido, uma vez que evoca o símbolo ≤, que é uma das ordens parciais mais comuns. Definição Dado um conjunto A e uma ordem parcial no conjunto A, o par P A�� �, é chamado de conjunto parcialmente ordenado ou poset. A representação gráfica dos posets, quando A é finito, é dada pelo Diagrama de Hasse. Dado um poset finito A �, ,� � os elementos de A são representados por vér- tices e as relações dos elementos por arestas, convencionando que um elemento a ∈ A está abaixo de b ∈ A se, e somente se, a b . Vejamos um exemplo: Σxemρlo 22 Considere P A �� � �, o poset definido sobre o conjunto A = {1, 2, 3, 4} e com ordem parcial: :� , , , , , ,� � �� � � � � � �1 1 2 2 3 3 4 4 1 3 2 3 2 4 Descreva o Diagrama de Hasse de P. O Diagrama de Hasse de P A �� � �, é 3 4 1 2 Vejamos como é descrito o Diagrama de Hasse de uma relação de ordem parcialformada apenas por relações reflexivas. 76 Matemática Discreta Σxemρlo 23 Considere P A �� � �, o poset definido sobre o conjunto A = {1, ..., n} e com ordem parcial formado apenas pelas relações reflexivas dos elementos, ou seja, :� , , , ,� �� �� � � �n n1 1 2 2 3 3 Descreva o Diagrama de Hasse de P. Como não existem elementos a, b ∈ A distintos, tais que a ≠ b e a b , isso signi- fica que não existirá nenhuma aresta no Diagrama de Hasse de P A �� � �, . Sendo assim, o Diagrama de Hasse de P A �� � �, é: 1 2 n – 1 n… O poset do exemplo anterior é muito importante e recebe o nome de poset de Hamming ou poset anticadeia. Sua importância se dá pelo fato de estar relacionado com a famosa métrica de Hamming, a qual é utilizada para identificar erros em teoria de informação. Definição Dado um conjunto A não vazio, uma relação binária R em A é dita relação de equivalência em A se for reflexiva, simétrica e transitiva. O exemplo mais óbvio de relação de equivalência é a igualdade em um conjunto numérico. Σxemρlo 24 Verifique que a igualdade no conjunto dos números reais é uma relação de equivalência. Para verificar que a igualdade é uma relação de equivalência, analisamos suas propriedades: • É reflexiva: ∀ a ∈ , a = a. • É simétrica: ∀ a, b ∈ , a = b → b = a. • É transitiva: ∀ a, b, c ∈ , a = b e b = c → a = c. Portanto, é uma relação de equivalência. Para saber mais sobre a identificação de erros na teoria de informação, re- comendamos o Capítulo 1 do livro Códigos corretores de erros. Nele, é abordado o conceito e equivalên- cia de códigos, além da métrica de Hamming. Uma excelente complementa- ção para seus estudos. HEFEZ, A.; VILLELA, M. L. Rio de Janeiro: IMPA, 2017. Saiba mais Relações 77 Observe que existe uma pequena diferença entre relação de ordem e relação de equivalência: Toda relação de ordem é antissimétrica e toda relação de equi- valência é simétrica. Vejamos mais um exemplo de relação de equivalência: Σxemρlo 25 Verifique que se a, b ∈ , a relação a ≡ b mod 2 é uma relação de equivalência em . Para verificarmos que é relação de equivalência, vamos mostrar que é uma re- lação reflexiva, simétrica e transitiva. De fato, • É reflexiva: Para cada a ∈ , temos: a – a = 0 = 2 · 0 → a ≡ a mod 2 • É simétrica: Se a, b ∈ , tais que a ≡ b mod 2, então existe k ∈ , tal que: a – b = 2k → b – a = 2(–k) → b ≡ a mod 2 • É transitiva: Se a, b, c ∈ , tais que a ≡ b mod 2 e b ≡ c mod 2, então existe k1, k2 ∈ , tais que b – a = 2k1 e c – b = 2k2. Adicionando essas duas igualdades, temos: (c – b) + (b – a) = 2k1 + 2k2 → c – a = 2(k1 + k2) → c – a = 2k, com k = k1 + k2 ∈ Portanto, a ≡ c mod 2. Logo, a relação a ≡ b mod 2 é de equivalência. Há outra maneira de pensarmos sobre as relações de equivalência, mas vamos precisar de algumas definições para entender essa perspectiva alternativa. Definição Dado que R é uma relação de equivalência em um conjunto A, então, a classe de equivalência de um elemento x ∈ A é o conjunto de todos os elementos em A relacionados a x por R. A classe de equiva- lência de x é denotada por [x]. Assim, em símbolos: x x� �xRy�� �� � { | } . 78 Matemática Discreta Vejamos um exemplo: Σxemρlo 26 Seja A = e R x �y�mod�� �� �5 � uma relação de A. Determine a classe de equiva- lência [7] e a compare com as classes [12] e [17]. Nesse caso, temos que [7] é o conjunto de todos os elementos em que estão relacionados a 7 por R x �y�mod�� �� �� �5 , assim: [7] = {..., -3, 2, 7, 12, 17, 22, ...}. Ao comparar [7] com as classes [12] e [17], observamos que [7] = [12] = [17]. Definição Uma partição de um conjunto A é uma coleção de subconjuntos disjuntos e não vazios A 1 , A 2 , ..., A n cuja união é A. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 27 Considere o conjunto A = {a, b, c, d, e}. Vamos encontrar uma partição de A. Existe mais de uma partição possível para A. Podemos considerar, por exem- plo, a partição formada pelos conjuntos A1 = {a, c}, A2 = {b, e}, A3 = {d}. Existe uma correspondência entre relações de equivalência em A e partições de A. Podemos simplificar essa correspondência no seguinte teorema. Teorema As classes de equivalência de uma relação de equivalência em um conjunto A formam uma partição de A. Vejamos um exemplo do teorema: Σxemρlo 28 Considere o conjunto dos números inteiros ℤ e a relação de congruência mó- dulo 5 (≡ mod 5). Determine a quantidade e quais são as classes de equivalência dessa relação. Relações 79 Essa relação particiona o conjunto dos números inteiros em cinco classes de equivalência, a saber: • [0] = {..., -5, 0, 5, 10, 15, 20, ...} • [1] = {..., -4, 1, 6, 11, 16, 21, ...} • [2] = {..., -3, 2, 7, 12, 17, 22, ...} • [3] = {..., -2, 3, 8, 13, 18, 23, ...} • [4] = {..., -1, 4, 9, 14, 19, 24, ...} CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, você aprendeu a realizar o produto cartesiano entre conjuntos e viu que essa operação pode ser utilizada para definir relações entres conjun- tos que, por sua vez, podem ser empregadas para solucionar problemas práticos, como na malha aérea de uma empresa. Além disso, estudamos que é possível realizar operações entre relações e como definir a relação inversa de uma dada relação. E, por fim, nos debruçamos sobre dois tipos especiais de relações, as de ordem – que podem ser encontradas em aplicações de teoria da informação – e as de equivalência – aprendendo a relacioná-las com par- tição de um conjunto. ATIVIDADES 1. Sejam A, B e C conjuntos. Prove que: Se A ⊂ B, então A x C ⊂ B x C. 2. Sejam A, B e C conjuntos. Prove que: (A∩B) x C = (A x C)∩(B x C). 3. Sejam A = {x ∈ ℕ | x ≤ 7} e R a relação em A dada por: R { x �y A A�|x y 9� � �� � � �, } Determine os conjuntos R,�R ,�Dom R ,�Dom R ,�Im R ,�Im R-1 -1 -1� � � � � � � � . 4. Seja m ∈ N, m > 1. Mostre que R { x,�y |x y�mod�m� � � � } é uma relação de equivalência em Z. REFERÊNCIAS GERSTING, J. L. Fundamentos matemáticos para Ciência da Computação. 4. ed. São Paulo: LTC, 2001. GRIMALDI, R. P. Discrete and combinatorial mathematics: an applied introduction. 5. ed. Boston: Addison- Wesley, 2004. IEℤℤI, G.; MURAKAMI, C. Fundamentos da matemática elementar 1: conjuntos, funções. São Paulo: Atual, 2013. ROSEN, K. H. Matemática discreta e suas aplicações. 6. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. 80 Matemática Discreta 5 Funções discretas O objetivo primordial de estudar matemática é aprender técnicas para conseguir descrever objetos da natureza por meio de ferramentas mate- máticas, a fim de solucionar problemas e desenvolver novas tecnologias. A principal ferramenta é o conceito de função, o qual nos ajuda a agrupar e descrever elementos por meio de uma regra. Neste capítulo, vamos apresentar as principais propriedades de fun- ções. Você aprenderá a definir uma função entre dois conjuntos A e B por meio de uma relação entre esses conjuntos e a classificá-la em inje- tora, sobrejetora e bijetora. Além disso, aprenderá a realizar uma opera- ção muito importante entre funções: a composição. Iremos ainda utilizar funções para contar o número de elementos em um conjunto e, por fim, definiremos funções de maneira recursiva. 5.1 Conceito e classificação Vídeo Funções como f(x) = x2 + x – 1 e g(x) = x · tg–1(x) são certamente bastante fami- liares nas disciplinas de cálculo. Em matemática discreta, usaremos funções para contagem, mas de uma forma que pode não ser familiar. Em vez de utilizarmos fun- ções que mapeiam um número real para outro, usaremos funções que relacionam elementos de conjuntos finitos. Para contar com precisão, precisamos definir cuidadosamente a noção de função. Definição Uma função f entre os conjuntos X e Y é uma regra que associa a cada elemento x ∈ X um único ele- mento de Y, denotado por f(x) ∈ Y. É comum representarmos uma função de um conjunto X em um conjunto Y por: f: X → Y x y = f(x) Uma função f: X → Y também pode ser considerada uma relação entre dois con-juntos, X e Y, que relaciona cada elemento de X a um elemento de Y. O conjunto X é chamado de domínio da função f, e Y é chamado de contradomínio. Funções discretas 81 Aqui está um exemplo ilustrativo de uma função: Domínio Contradomínio a b c d e X f Y 1 2 3 4 5 Notamos que f: X → Y, onde o conjunto X = {a, b, c, d, e} é o domínio e o contra- domínio é o conjunto Y = {1, 2, 3, 4, 5}. Os elementos relacionados são unidos por uma seta e indicam que f mapeia: • a para 1. • b para 3. • c para 4. • d para 3. • e para 5. De modo equivalente, f(a) = 1, f(b) = 3, f(c) = 4, f(d) = 3 e f(e) = 5. É importante lembrarmos que para uma relação de um conjunto X em um con- junto Y definir uma função de X em Y, é necessário que cada elemento de X esteja relacionado com um, e apenas um, elemento de Y. Observe, por exemplo, as rela- ções a seguir: a b c d e X Y 1 2 3 4 5 a b c d e X Y 1 2 3 4 5 As relações apresentadas não são funções; a primeira, porque a está relaciona- do com dois elementos do contradomínio (1 e 2), e a segunda, porque b e d não estão relacionados com nenhum elemento do contradomínio. Definição Sejam X e Y conjuntos, A ⊂ X e f: X → Y uma função, a imagem direta de A é o conjunto f(A) = {f(x) ∈ Y | x ∈ A} Observe que dada uma função f: X → Y, a imagem direta de um conjunto A ⊂ X é formada pelos elementos y do contradomínio Y, tais que existe um x ∈ A que está relacionado com y. Além disso, a imagem direta de A é um subconjunto do contradomínio. 82 Matemática Discreta Σxemρlo 1 Seja uma função f, com domínio X = {a, b, c, d, e} e contradomínio Y = {1, 2, 3, 4, 5}, onde f(a) = 1, f(b) = 3, f(c) = 4, f(d) = 3 e f(e) = 5. Determine a imagem direta dos sub- conjuntos A1 = {a, b} e A2 = {c, d, e}. Se A1 = {a, b}, temos que f(A1) = {1, 3}. Analogamente, se A2 = {c, d, e}, temos que f(A2) = {3, 4, 5}. Teorema Sejam A, B ⊂ X e f: X → Y uma função, a imagem direta é tal que: a. f(A∪B) = f(A)∪f(B) b. f(A∩B) ⊂ f(A)∩f(B) Demonstração Vamos provar apenas o item a. Se y ∈ f(A∪B), então, existe x ∈ A∪B, tal que f(x) = y. Se x ∈ A, temos que y ∈ f(A). Se, porém, x ∈ B, temos que y ∈ f(B). Em qual- quer caso, y ∈ f(A)∪f(B). Logo, f(A∪B) ⊂ f(A)∪f(B). Reciprocamente, seja z ∈ f(A)∪f(B), então z ∈ f(A) ou z ∈ f(B). No primeiro caso, existe x ∈ A, tal que z = f(x). No segundo, existe y ∈ B, tal que z = f(y). De qualquer modo, existe w ∈ A∪B, tal que z = f(w). Assim, z ∈ f(A∪B), isto é, f(A)∪f(B) ⊂ f(A∪B). Essas duas inclusões mostram que f(A∪B) = f(A)∪f(B). Definição Sejam X, Y conjuntos, B ⊂ Y e f: X → Y uma função, a imagem inversa de B é o conjunto f–1(B) = {x ∈ X | f(x) ∈ B} ⊂ X Observe que dada uma função f: X → Y, a imagem inversa de um conjunto B ⊂ Y é formada pelos elementos x do domínio X, tais que existe um y ∈ B que está rela- cionado com x. Além disso, a imagem inversa de B é um subconjunto do domínio. Σxemρlo 2 Seja uma função f, com domínio X = {a, b, c, d, e} e contradomínio Y = {7, 8, 9, 10, 11}, onde f(a) = 7, f(b) = 8, f(c) = 10, f(d) = 9 e f(e) = 11. Determine a imagem inversa dos conjuntos B1 = {7, 8} e B2 = {7, 9, 10, 11}. Se B1 = {7, 8}, temos que f –1(B1) = {a, b}. Analogamente, se B2 = {7, 9, 10, 11}, temos que f–1(B2) = {a, c, d, e}. Agora é com você: prove o item b. Desafio Funções discretas 83 Teorema Sejam A, B ⊂ Y e f: X → Y uma função, a imagem inversa é tal que: a. f–1(A∪B) = f–1(A)∪f–1(B) b. f–1(A∩B) = f–1(A)∩f–1(B) Demonstração Vamos provar apenas o item b. Temos que x ∈ f–1(A∩B) ↔ f(x) ∈ A∩B ↔ f(x) ∈ A e f(x) ∈ B ↔ x ∈ f–1(A) e x ∈ f–1(B) ↔ x ∈ f–1(A)∩f–1(B) Portanto, f–1(A∩B) = f–1(A)∩f–1(B). Definição Seja f: X → Y uma função, dizemos que f é injetora se f(x 1 ) ≠ f(x 2 ), sempre que x 1 ≠ x 2 para x 1 , x 2 ∈ X. Note que dizer que uma função f: X → Y é injetora equivale a dizer que, se f(x1) = f(x2), então x1 = x2. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 3 Sejam f: ℕ → ℕ dada por f(x) = 2x e g: ℤ → ℕ dada por g(x) = x2, verifique que f é injetora e que g não é injetora. Suponhamos que existem x1, x2 ∈ ℕ tais que f(x1) = f(x2). Vamos mostrar que x1 = x2. De fato, se f(x1) = f(x2), então 2x1 = 2x2, onde x1 = x2 e, assim, f é injetora. É fácil ver que g não é injetora pela contrapositiva: se x1 ≠ x2, então f(x1) ≠ f(x2), mas se x1 = -2 e x2 = 2 ∈ ℤ, temos que g(-2) = g(2) = 4. Funções injetoras são especiais, pois transformam f(A∩B) ⊂ f(A)∩f(B) em uma igualdade. Mais precisamente, temos o seguinte teorema. Teorema Seja A, B ⊂ X e f: X → Y uma função injetora, então: f(A∩B) = f(A)∩f(B) Demonstração Dado y ∈ f(A)∩f(B), temos y ∈ f(A) e y ∈ f(B). Logo, existem x1 ∈ A e x2 ∈ B, com y = f(x1) e y = f(x2). Como f é injetora, deve ser x1 = x2 e, portanto, x1 ∈ A∩B. Segue-se que y = f(x1) pertence a f(A∩B), o que mostra f(A)∩f(B) ⊂ f(A∩B). Como a inclusão oposta é sempre verdadeira, concluímos que f(A∩B) = f(A)∩f(B). 84 Matemática Discreta Definição Definimos f: X → Y uma função sobrejetora (ou sobrejetiva) se, para todo y ∈ Y, existe x ∈ X tal que f(x) = y. Note que dizer que uma função f: X → Y é sobrejetora equivale a dizer que todo elemento de Y está relacionado com, no mínimo, um elemento de X. Σxemρlo 4 Sejam f: ℤ → ℤ dada por f(x) = x + 1 e g: ℤ → ℤ dada por g(x) = x2, vamos verificar que f é sobrejetora e que g não é sobrejetora. De fato, para todo y ∈ ℤ, basta escolhermos x = y - 1 para termos f(x) = f(y - 1) = (y - 1) + 1 = y Portanto, f é sobrejetora. Escolhendo y = -1 ∈ ℤ, não existe x ∈ ℤ, tal que g(x) = y, ou seja, g não é sobrejetora. Definição Definimos f: X → Y uma função bijetora se f é injetora e sobrejetora. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 5 Sejam f: ℤ → ℤ dada por f(x) = x + 1 e g: ℝ → ℝ dada por g(x) = 6x + 5, vamos verificar que f e g são bijetoras. Segue do Exemplo 4 que f é sobrejetora. Além disso, dados x1, x2 ∈ ℤ tais que f(x1) = f(x2), então x1 + 1 = x2 + 1, onde x1 = x2, provando que f também é injetora. Portanto, f é bijetora. É fácil verificar que g é injetora. De fato, dados x1, x2 ∈ ℤ tais que g(x1) = g(x2), então 6x1 + 5 = 6x2 + 5, onde x1 = x2, provando que g é injetora. Considere y ∈ ℝ e x y� � � � 5 6 , temos que g(x) = y e, assim, g também é sobrejetora. Portanto, g é bijetora. Definição Seja n ∈ ℕ, definiremos os conjuntos [n] e [n]0 por: [n] ≔ {1, 2, ..., n}. [n] 0 ≔ {0, 1, 2, ..., n}.O símbolo ≔ significa igual por definição. Glossário Funções discretas 85 Relacionamos funções e o conjunto [n] pelo seguinte teorema. Teorema Considere os conjuntos [n] e [m] com n ≠ m. Seja também f: [n] → [m] uma fun- ção, então: • Se n < m, f não é sobrejetora. • Se n > m, f não é injetora. Podemos utilizar o teorema anterior para demonstrar o seguinte resultado que relaciona conjuntos de cardinalidade finita e funções. Teorema Sejam A e B conjuntos de cardinalidade finita. Se existe uma bijeção f: A → B, então |A| = |B|. Demonstração Sejam |A| = n e |B| = m, podemos, então, corresponder cada elemento de ai ∈ A com i ∈ n�� �� , e cada elemento bj ∈ B com o elemento j ∈ m�� �� . Como f é in- jetora, temos que n ≤ m e, como f é sobrejetora, temos que n ≥ m, onde n = m, ou seja, |A| = |B|. Um exemplo simples de aplicação do teorema é apresentado a seguir. Σxemρlo 6 Considerando X um conjunto formado por meninos e Y um conjunto formado por meninas, vamos formular uma função que nos ajude a verificar se o número de meninos é igual ao número de meninas. Chamaremos um par ordenado da forma (menino, menina) de casal e defini- remos f: X → Y como a função que define o modo que um casal é formado. f ser bijetora significa que para cada menino existe uma única menina que é seu par (in- jetora) e que para toda menina existe um único menino que é seu par (sobrejetora), ou seja, o número de meninos é igual ao número de meninas. Portanto, |X| = |Y|. 5.2 Função composta e função inversa Vídeo Definiremos agora um procedimento que pode ser utilizado para construirno- vas funções a partir de funções dadas. Esse procedimento é chamado de composi- ção de funções. Definição Sejam X, Y e Z conjuntos e f: X → Y e g: Y → Z funções, a composição das funções f: X → Y e g: Y → Z é a função definida por g ∘ f: X → Z x g(f(x)) 86 Matemática Discreta Observe que a função g ∘ f está bem definida, pois f(x) ∈ Y, e Y é o domínio de g. Porém, a composição pela outra ordem (f ∘ g) não está definida. Além disso, f ∘ g só estaria definida se g(y) ∈ X para todo y ∈ Y, ou seja, se g(y) ⊂ X. Σxemρlo 7 Sejam f: ℕ → ℝ a função definida por f(x) = log x e g: ℝ → ℝ dada por g(x) = x² + 1. Determine (g ∘ f)(x). Note que g ∘ f: ℕ → ℝ é dada por (g ∘ f)(x) = g(f(x)) = (log x)² + 1. Além disso, observe que a função (f ∘ g) não está definida, pois 1,25 ∈ Im(g) = ℝ e 1,25 ∉ Dom(f) = ℕ. Veja mais um exemplo sobre composição de funções: Σxemρlo 8 Sejam f: ℕ → ℕ a função definida por f(x) = x + 1 e g: ℕ → ℕ dada por g(x) = x² + x + 1. Determine (g ∘ f)(x) e (f ∘ g)(x). Note que ambas, (g ∘ f)(x) e (f ∘ g)(x), estão bem definidas. Inicialmente, vamos calcular (g ∘ f)(x). (g ∘ f)(x) = g(f(x)) = [f(x)]2 + f(x) + 1 = (x + 1)2 + x + 1 + 1 = x2 + 2x + 1 + x + 2 = x2 + 3x + 3 Portanto, (g ∘ f)(x) = x2 + 3x + 3. Agora, (f ∘ g)(x). (f ∘ g)(x) = f(g(x)) = g(x) + 1 = x2 + x + 1 + 1 = x2 + x + 2 Portanto, (f ∘ g)(x) = x2 + x + 2. No exemplo, observamos que (g ∘ f)(x) ≠ (f ∘ g)(x). Esse fato nos diz que a com- posição de funções não é, em geral, comutativa. Por outro lado, o teorema a seguir enuncia que a composição de funções é associativa. Teorema Quaisquer que sejam f: X → Y, g: Y → Z e h: Z → W, tem-se que: (h ∘ g) ∘ f = h ∘ (g ∘ f) Funções discretas 87 Demonstração Considerando um elemento qualquer x de X e considerando f(x) = y, g(y) = z e h(z) = w, temos: ((h ∘ g) ∘ f)(x) = (h ∘ g)(f(x)) = (h ∘ g)(y) = h(g(y)) = h(z) = w Notamos que (g ∘ f)(x) = g(f(x)) = g(y) = z Portanto, (h ∘ (g ∘ f))(x) = h((g ∘ f)(x)) = h(z) = w Então, para todo x de A: ((h ∘ g) ∘ f)(x) = (h ∘ (g ∘ f))(x) Teorema Se duas funções f: X → Y e g: Y → Z são sobrejetoras, então a função composta g ∘ f: A → C é sobrejetora. Demonstração Sendo g sobrejetora, então, para todo z ∈ Z, existe y ∈ Y tal que g(y) = z e, como a função f é sobrejetora, isto é, dado y ∈ Y, existe x ∈ X tal que f(x) = y. Logo, para todo z ∈ Z, existe x ∈ X tal que z = g(y) = g(f(x)) = (g ∘ f)(x) Provando que g ∘ f é sobrejetora. O teorema anterior afirma que a composição de funções conserva a sobreti- vidade, ou seja, informa que a composta de funções sobrejetoras é uma função sobrejetora. O mesmo ocorre com funções injetoras, como podemos observar no teorema a seguir. Teorema Se duas funções f: X → Y e g: Y → Z são injetoras, então a função composta g ∘ f: A → C é injetora. Demonstração Consideremos x1 e x2 dois elementos quaisquer de X e suponhamos que (g ∘ f)(x1) = (g ∘ f)(x2), isto é, g(f(x1)) = g(f(x2)). Como g é injetora, da última igual- dade resulta que f(x1) = f(x2); como f é também injetora, temos que x1 = x2. Portanto, g ∘ f é injetora. A operação de composição de funções é utilizada para definir a função inversa de uma função. Definição Seja f: X → Y uma função, se existe g: Y → X tal que (f ∘ g)(x) = x, ∀ x ∈ Y, e (g ∘ f )(x) = x, ∀ x ∈ A, então uma função g é chamada de função inversa de f e é denotada por f–1. 88 Matemática Discreta Vejamos um exemplo: Σxemρlo 9 Considere as funções f: ℝ → ℝ definida por f(x) = x + 2 e g: ℝ → ℝ dada por g(x) = x - 2. Calcule e mostre que g é a função inversa de f. De fato, nota-se que (f ∘ g)(x) = f(g(x)) = f(x - 2) = (x - 2) + 2 = x e (g ∘ f)(x) = g(f(x)) = g(x + 2) = (x + 2) - 2 = x Portanto, g é a inversa de f, ou seja, g = f–1. Já sabemos que podemos considerar uma função f: X → Y como uma relação de X em Y, isto é, f = {(x, y) ∈ X × Y | y = f(x)} = {(x, f(x)) | x ∈ X} Desse modo, você pode ser levado ao erro de relacionar função inversa com relação inversa. Mas não faça isso! Relação inversa e função inversa são dois conceitos totalmente diferentes. Ade- mais, possuem algumas propriedades que as diferenciam; por exemplo, a relação inversa sempre existe, o que não acontece com a função inversa. A existência ou não da inversa de uma função está relacionada com sua sobre- jetividade, como estabelece o seguinte teorema. Teorema Seja f: X → Y uma função, a inversa, f–1: Y → X, existe se, e somente se, f for bijetora. Podemos concluir, com as funções do Exemplo 9, f(x) = x + 2 e g(x) = x - 2, que devido ao fato de g ser a inversa de f, ou seja, a inversa de f existir, temos que f(x) = x + 2 é bijetora. Analogamente, por f(x) = x + 2 ser bijetora, concluímos que f possui inversa g, dada por g(x) = x – 2. Outra propriedade interessante da função inversa relaciona a inversa de uma função composta com a composta de suas inversas. Teorema Sejam f: X → Y e g: Y → Z duas funções bijetoras, então: (g ∘ f)–1 = f–1 ∘ g–1 Funções discretas 89 Demonstração Se as funções f e g são bijetoras, então a função composta g ∘ f de X em Z é bije- tora; logo, existe a função inversa (g ∘ f)–1 de X em Z. Para provar que (g ∘ f)–1 = f–1 ∘ g–1, basta provar que (f–1 ∘ g–1) ∘ (g ∘ f)(x) = x e (g ∘ f) ∘ (f–1 ∘ g–1)(x) = x. De fato, (f–1 ∘ g–1) ∘ (g ∘ f)(x) = [(f–1 ∘ g–1) ∘ g] ∘ f(x) = [f–1 ∘ (g–1 ∘ g)] ∘ f(x) = f–1 ∘ [(g–1 ∘ g) ∘ f(x)] = f–1 ∘ f(x) = x e (g ∘ f) ∘ (f–1 ∘ g–1)(x) = [(g ∘ f) ∘ f–1] ∘ g–1(x) = [g ∘ (f ∘ f–1)] ∘ g–1(x) = g ∘ [(f ∘ f–1) ∘ g–1(x)] = g ∘ g–1(x) = x Provamos, assim, que f–1 ∘ g–1 é a inversa da função composta g ∘ f. 5.3 Funções recursivas Vídeo Recursividade é um método utilizado para definir funções f: ℕ∪{0} → Y, onde Y é um conjunto numérico qualquer. Esse método consiste em duas etapas: a. Definir um valor para a função f em zero. b. Fornecer uma regra para encontrar o valor de f(x + 1) a partir dos valores de f(0), f(1), …, f(x). Σxemρlo 10 Seja f: ℕ∪{0} → ℕ a função definida recursivamente por f(0) = 7 e f(x + 1) = 3f(x) + 1. Determine os valores de f(1), f(2) e f(3). Por definição, temos que: f(1) = f(0 + 1) = 3f(0) + 1 = 3 · 7 + 1 = 22 f(2) = f(1 + 1) = 3f(1) + 1 = 3 · 22 + 1 = 67 f(3) = f(2 + 1) = 3f(2) + 1 = 3 · 67 + 1 = 202 90 Matemática Discreta Várias operações podem ser estudadas por meio de funções recursivas. Lem- bramos, por exemplo, que a operação fatorial de um número natural x é definida como x! = 1 · 2 · 3 · … · x. A operação fatorial pode ser definida por meio da seguinte função recursiva f: ℕ∪{0} → ℕ, dada por: f(0) = 1 f(x + 1) = (x + 1)f(x) Por exemplo, temos que: • f(1) = f(0 + 1) = (0 + 1)f(0) = 1 · 1 = 1! • f(2) = f(1 + 1) = (1 + 1)f(1) = 2 · 1! = 2 · 1 = 2! Para finalizar este capítulo, apresentaremos uma função que é definida de ma- neira recursiva e gera uma sequência de números, conhecidos como números de Fibonacci. Esses números foram introduzidos pelo matemático italiano Leonardo de Pisa (1170-1250), mais conhecido por Fibonacci, e possuem várias aplicações em ciência da computação e teoria de jogos. Além disso, essa sequência de números está intrinsecamente ligada à natureza, descrevendo perfeitamente, por exemplo, a reprodução das abelhas. Σxemρlo 11 Os números de Fibonacci f(0), f(1), f(2), … são dados pela função f: ℕ∪{0} → ℕ, definida recursivamente por • f(0) = 0 • f(1) = 1 • f(x) = f(x - 1) + f(x - 2) Calcule os valores de f(2), f(3), f(4) e f(5). Temos, por definição, que f(2) = f(2 - 1) + f(2 - 2) = f(1) + f(0) = 1 + 0 = 1 f(3) = f(3 - 1) + f(3 - 2) = f(2) + f(1) = 1 + 1 = 2 f(4) = f(4 - 1) + f(4 - 2) = f(3) + f(2) = 2 + 1 = 3 f(5) = f(5 - 1) + f(5 - 2) = f(4) + f(3) = 3 + 2 = 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, vimos que uma função entre dois conjuntos X e Y pode ser vis- ta como uma relação e que toda função é classificada conforme sua injetividade, sobrejetividadee bijetividade. Além disso, você aprendeu que dadas duas funções, f: X → Y e g: Y → Z, podemos produzir uma nova função g ∘ f: X → Z, chamada de função composta. Vimos a importância das funções para contar o número de ele- mentos de um conjunto finito e como podemos utilizar funções recursivas para produzir uma sequência de números. No filme O código da Vinci, o simbologista Robert Langdon e a criptóloga Sophie Neveu encontram números na cena de um crime ocorrido no Museu do Louvre, em Paris. Os números pintados a sangue, postos em ordem aleatória, revelam-se mais tarde um código, a série de Fibonacci, que os pro- tagonistas usam para abrir um cofre e dar sequência à resolução do mistério. Direção: Ron Howard. EUA: Sony Pictures, 2006. Filme Funções discretas 91 ATIVIDADES 1. Sejam A, B ⊂ X e f: X → Y uma função, mostre que a imagem direta de f é tal que: f(A∩B) ⊂ f(A)∩f(B) 2. Sejam A, B ⊂ Y e f: X → Y uma função, mostre que imagem inversa de f é tal que: f–1(A∪B) = f–1(A)∪f–1(B) 3. Mostre que a função f: ℕ → ℕ dada por f(x) = 4x + 7 é injetora. 4. Mostre que a função f: ℤ → ℕ dada por f(x) = 2x2 não é injetora. 5. Mostre que a função f: ℝ → ℕ dada por f(x) = 4x + 7 é sobrejetora. Se o domínio de f fosse o conjunto dos números naturais f ainda seria sobrejetora? REFERÊNCIAS GERSTING, J. L. Fundamentos Matemáticos para Ciência da Computação. 4. ed. São Paulo: LTC, 2001. GRIMALDI, R. P. Discrete and combinatorial mathematics: an applied introduction. 5 ed. Boston: Addison- Wesley, 2004. ROSEN, K. H. Matemática discreta e suas aplicações. 6 ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. 92 Matemática Discreta 6 Análise combinatória A análise combinatória é a área da matemática que se dedica a desen- volver técnicas de contagem, preocupando-se em como, e não com o que, vamos contar. Muitos dos problemas de contagem tiveram sua origem ligada a jogos e loterias. As principais publicações da análise combinatória foram feitas pelos matemáticos Blaise Pascal e Pierre de Fermat. Neste capítulo, vamos apresentar as principais técnicas de contagem, como combinações, arranjos e permutações, e demonstrar como utilizá-las em diferentes situações. 6.1 Princípios de contagem Vídeo A análise combinatória é baseada em alguns princípios de contagem muito sim- ples e intuitivos. Você pode pensar que eles são tão fáceis que nem mesmo mere- cem um nome. Mas, para levarmos a contagem a sério, devemos estar cientes de fatos simples que usamos implicitamente o tempo todo. Definição (princípio da adição) Dizemos que um conjunto finito A é particionado nas partes A 1 , …, A k se as partes são disjuntas e sua união é A. Em outras palavras, temos A i ∩A j = ∅ para i ≠ j e A 1 ∪A 2 ∪…∪A k = A. Nesse caso, |A| = |A 1 | + |A 2 | + … + |A k | O princípio da adição mostra que se existem |A1| maneiras de tomar a decisão A1, |A2| maneiras de tomar a decisão A2, …, |Ak| maneiras de tomar a decisão Ak, então o número de maneiras de se tomar a decisão A1 ou a decisão A2, … ou a de- cisão Ak é |A1| + |A2| + … + |Ak|. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 1 Seja A o conjunto de alunos que assistem à aula de combinatória. Esse conjunto pode ser particionado nas partes A1 e A2, tais que: A1 = {Alunos que gostam de exemplos fáceis}. A2 = {Alunos que não gostam de exemplos fáceis}. Análise combinatória 93 Se |A1| = 22 e |A2| = 8, de quantas maneiras distintas podemos escolher um aluno que assiste à aula de combinatória? Como A = A1∪A2 com A1∩A2 = ∅, então podemos concluir, pelo princípio da adi- ção, que existem |A| = |A1| + |A2| = 30 maneiras diferentes de escolher um aluno que assiste à aula de combinatória. Acompanhe outro exemplo. Σxemρlo 2 Você vai a um restaurante e, ao observar o cardápio, encontra 4 diferentes pra- tos italianos e 3 diferentes pratos portugueses. De quantas maneiras você pode escolher um único prato para fazer sua refeição? Considere os seguintes conjuntos: • A = {Pratos do restaurante}. • A1 = {Pratos italianos}. • A2 = {Pratos portugueses}. Observamos que: A = A1∪A2 com A1∩A2 = ∅ e |A| = |A1| + |A2| = 7 Logo, existem sete maneiras diferentes de se escolher um prato para realizar uma refeição. Definição (princípio da subtração) Seja A um subconjunto de um conjunto finito X, definimos A ≔ X\S como o complemento de A em X. Então: |A| = |X| - | A | Σxemρlo 3 Considere X o conjunto de alunos que estudam análise combinatória e A o con- junto de alunos que não são do curso de Matemática nem do curso de Ciência da Computação. Considerando que o total de alunos é 23.905, se 20.178 não fazem parte do curso de Matemática e nem do curso de Ciência da Computação, quantos alunos estão cursando Matemática ou Ciência da Computação? Sabemos que |X| = 23.905 e |A| = 20.178. Além disso, 94 Matemática Discreta |A| = {Alunos que cursam Matemática ou Ciência da Computação}. |A| = |X| - |A| = 23.905 – 20.178 = 3.727 Ou seja, existem 3.727 alunos que cursam Matemática ou Ciência da Computação. A seguir, apresentaremos dois outros princípios que são igualmente intuitivos e naturais e que ocorrerão com frequência na resolução de exercícios e nas demons- trações de teoremas. Definição (princípio da multiplicação) Se A é um conjunto finito, definido pelo produto cartesiano de A 1 , . ..., A k , ou seja, A = A 1 x A 2 x ... x A k , então: |A| = |A 1 | x |A 2 | x ... x |A k | O princípio da multiplicação mostra que se existem |A1|maneiras de tomar a decisão A1, |A2| maneiras de tomar a decisão A2, …, |Ak| maneiras de tomar a de- cisão Ak, então o número de maneiras de se tomar sucessivamente as decisões A1, A2, …, Ak é |A1| x |A2| x … x |Ak|. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 4 Você vai a um restaurante e, ao observar o cardápio, encontra 4 opções de pra- tos principais e 3 opções de sobremesa. De quantas maneiras você pode fazer uma refeição formada por um prato principal e uma sobremesa? Considere os seguintes conjuntos: • A = {Refeições com um prato principal e uma sobremesa}. • A1 = {Pratos principais}. • A2 = {Sobremesa}. Observamos que: A = A1 × A2 e |A| = |A1| × |A2| = 12 Logo, existem 12 maneiras diferentes de realizar uma refeição formada por um prato principal e uma sobremesa. Acompanhe mais um exemplo do princípio da multiplicação. Σxemρlo 5 Quantos números de três dígitos podemos formar com os algarismos 2, 3, 4 e 6? Análise combinatória 95 Considere os seguintes conjuntos: • A = {Números de três dígitos formados por 2, 3, 4 e 6}. • A1 = {Opções para o primeiro dígito}. • A2 = {Opções para o segundo dígito}. • A3 = {Opções para o terceiro dígito}. Temos que: A = A1 × A2 × A3 e |A1| = 4, |A2| = 4, |A3| = 4 Então: |A| = |A1| × |A2| × |A3| = 4 × 4 × 4 = 64 Portanto, podemos formar 64 números de três dígitos com os algarismos 2, 3, 4 e 6. Agora, um último exemplo utilizando o princípio da multiplicação. Σxemρlo 6 Em uma cidade fictícia, as placas dos carros têm a seguinte forma: CF – l1l2n1n2n3 Nessas placas, l1, l2 são letras do conjunto {A, …, Z} e n1, n2, n3 são dígitos do conjunto {0, …, 9}. No entanto, l2 e n3 podem ser omitidos. Quantas placas podem ser confeccionadas nessa cidade? Vamos considerar o caso em que l2 é omitido, acrescentando um valor ⊥ para l2, que significa omitido. O mesmo vale para n3. Seja A = {Placas válidas}, o conjunto de todas as placas válidas é dado como os produtos: {T} × {T} × {–} × {A, …, Z} × {A, …, Z, ⊥} × {0, …, 9} × {0, …, 9} × {0, …, 9, ⊥} Pelo princípio de multiplicação, temos que: |A| = |{T}| × |{T}| × |{–}| × |{A, …, Z}| × |{A, …, Z, ⊥}| × |{0, …, 9}| × |{0, …, 9}| × |{0, …, 9, ⊥}| |A| = 1 × 1 × 1 × 26 × 27 × 10 × 10 × 11 = 772.200 Ou seja, podem ser confeccionadas 772.200 placas. Definição (princípio da casa dos pombos) Sejam A 1 , . ..., A m conjuntos finitos tais que A i ∩A j = ∅ para i ≠ j e |A 1 | + |A 2 | + ... + |A m | = n, então: ∃ i ∈ {1, …, m} | |S i | ≥ n m � �� � �� e ∃ j ∈ {1, …, m} ||S j | ≤ n m � �� � �� 96 Matemática Discreta Lembramos que n m � �� � �� é a função denominada de maior inteiro, ou seja, n m � �� � �� = menor a ∈ , tal que a ≥ n m . Se, por exemplo, n = 10 e m = 3, então 10 3 �=�3,333 �=�4.� �� � �� Já a função n m �� �� � �� é denominada de menor inteiro, ou seja, n m � �� � �� = maior a ∈ , tal que a ≤ n m . Temos, por exemplo, que se n = 10 e m = 3, então 10 3 3 333 3� �� � �� � �, � . Vejamos um exemplo: Σxemρlo 7 Suponha que haja 5 buracos na parede, nos quais 17 pombos se aninham. Uti- lizando o princípio da casa dos pombos, o que podemos dizer sobre a distribuição dos pombos nesses buracos? Pelo princípio da casa dos pombos, temos que m = 5 e n = 17. Então, podemos concluir que: • Existe algum buraco com pelo menos 17 5 � �� � �� = 4 pombos. • Existe algum buraco com no máximo 17 5 � �� � �� = 3 pombos. Vejamos mais um exemplo. Σxemρlo 8 Se as notas da disciplina de Matemática Discreta são graduadas por A, B, C e D, quantos alunos devem ter na sala de aula para garantirmos que no mínimo 4 alunos tirem a mesma nota? Vamos aplicar o princípio da casa dos pombos. Note que temos 4 possibilidades de notas (A, B, C e D). Logo, m = 4. Queremos que alguma das notas seja atingida por no mínimo 3 alunos, ou seja, queremos que n 4 � �� � �� = 4, em que n é o número de alunos na turma. Sendo assim, devemos ter n = 13, pois, nesse caso, 13 4 =�4� �� � �� . Note que se n = 12, então 12 4 �=�3�<�4� �� � �� . Portanto, o número mínimo de alunos que a sala de aula deve ter para garantirmos que no mínimo 3 alunos tirem a mes- ma nota é 13. A nomenclatura desse princípio chama a atenção, não é mesmo? Para saber mais sobre o princípio da casa dos pombos, assista ao vídeo Isto é Matemática T06E08: O Princípio do Pombal, publicado pelo canal sigma3web. Nele, o matemático Rogério Martins aborda o tema relacionando-o a uma modalidade de loteria regional. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=IzaobO14n- cA&feature=emb_logo. Acesso em: 5 mar. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=IzaobO14ncA&feature=emb_logo https://www.youtube.com/watch?v=IzaobO14ncA&feature=emb_logo https://www.youtube.com/watch?v=IzaobO14ncA&feature=emb_logo Análise combinatória 97 Definição (princípio da contagem dupla) Se contarmos a mesma quantidade de duas maneiras diferentes, o processo pode fornecer uma identi- dade não trivial. Vamos aplicar esse princípio no famoso lema do aperto de mão (handshaking lemma). Σxemρlo 9 Suponha que n pessoas estejam em uma festa e que todos irão apertar a mão um do outro. Quantos apertos de mão irão ocorrer? Vamos fazer a contagem do número de apertos de mão utilizando duas estra- tégias diferentes: • Primeira estratégia Cada pessoa aperta um total de n - 1 mãos. Contudo, duas pessoas estão envol- vidas em um aperto de mão, então se apenas multiplicarmos n(n - 1), cada aperto de mão será contado duas vezes. Logo, devemos dividir por dois. Portanto, o núme- ro total de apertos de mão é n(n�-�1) 2 . • Segunda estratégia Numeramos as pessoas de 1 a n. Para evitar a contagem de um aperto de mão duas vezes, contamos, para a pessoa i, apenas os apertos de mão com pessoas de números menores. Então, o número total de apertos de mão é: i n i n i n i i i � � � � � � � ��� � � � 1 0 1 1 1 1� � Ou seja, utilizando as duas estratégias para contar o número de apertos de mão, obtemos a seguinte identidade não trivial: i n i n n � � � � �� � 0 1 1 2 6.2 Arranjos Vídeo Denotamos o conjunto dos n primeiros números naturais por [n]. Ou seja, [n] ≔ {1, 2, …, n}. Definição (princípio da contagem dupla) Seja A um conjunto finito, um arranjo ordenado de A é uma função s: [n] → A. 98 Matemática Discreta Arranjos ordenados são tão comuns que ocorrem em muitas situações e são conhecidos por nomes diferentes. Aprendemos que BANANA é uma palavra e que 0815422372 é uma sequência de números, embora ambos sejam arranjos orde- nados de elementos. BANANA é um arranjo ordenado dos elementos do conjunto A = {A, B, N} e 0815422372 é um arranjo ordenado dos elementos do conjunto B = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8}. A seguir, apresentamos as perspectivas mais comuns sobre o que é um arranjo ordenado e os nomes e notações que os acompanham. Definição Seja s: [n] → A um arranjo ordenado do conjunto finito A, temos que [n] é o domínio de s. A imagem de s é s(i), com i ∈ [n], e pode ser denotada pelo conjunto {x ∈ A | s(i) = x para algum i ∈ [n]}. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 10 Seja A�=�{ ,� ,�|,� ,� }� �⊗ e o arranjo ordenado s: [7] → A dado pela tabela a seguir: i 1 2 3 4 5 6 7 s(i) ⊗ ⊗ ⊗ Encontre o domínio de s, a imagem de 3 e a imagem de s. Por definição, o domínio de s é [7] = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7}, a imagem de 3 é ⊗ e a imagem de s é s(i) = { ,� ,� ,� }� �⊗ . Observe que o elemento | não está na imagem de s. Definição Seja s: [n] → A um arranjo ordenado do conjunto finito A, chamamos s de uma A-string (ou apenas string) de comprimento n e escrevemos s = s(1)s(2)s(3)…s(n). A i-ésima posição (ou caractere) em s é denotada por s i = s(i). O conjunto A é chamado de alfabeto, e seus elementos são chamados de letras. Frequentemente, uma string s é chamada de palavra. No Exemplo 10, escrevemos que s�=� � �⊗⊗ ⊗ é uma string (ou palavra) de comprimento n sobre o alfabeto A, de cinco letras. O quarto caractere de s é s4 �= . Podemos ver s: [n] → A como um elemento do produto cartesiano. A1 × … × An, em que Ai = A, para i ∈ [n] Chamamos s de tupla e a escrevemos como s = (s1, s2, …, sn). O elemento si (i ∈ [n]) é chamado de i-ésima coordenada. Ver os arranjos como elementos de produtos torna mais fácil restringir o número de valores permitidos para uma de- terminada coordenada (basta escolher Ai A ). Análise combinatória 99 Arranjos ordenados são tão comuns que ocorrem em muitas situações e são conhecidos por nomes diferentes. Aprendemos que BANANA é uma palavra e que 0815422372 é uma sequência de números, embora ambos sejam arranjos orde- nados de elementos. BANANA é um arranjo ordenado dos elementos do conjunto A = {A, B, N} e 0815422372 é um arranjo ordenado dos elementos do conjunto B = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8}. A seguir, apresentamos as perspectivas mais comuns sobre o que é um arranjo ordenado e os nomes e notações que os acompanham. Definição Seja s: [n] → A um arranjo ordenado do conjunto finito A, temos que [n] é o domínio de s. A imagem de s é s(i), com i ∈ [n], e pode ser denotada pelo conjunto {x ∈ A | s(i) = x para algum i ∈ [n]}. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 10 Seja A�=�{ ,� ,�|,� ,� }� �⊗ e o arranjo ordenado s: [7] → A dado pela tabela a seguir: i 1 2 3 4 5 6 7 s(i) ⊗ ⊗ ⊗ Encontre o domínio de s, a imagem de 3 e a imagem de s. Por definição, o domínio de s é [7] = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7}, a imagem de 3 é ⊗ e a imagem de s é s(i) = { ,� ,� ,� }� �⊗ . Observe que o elemento | não está na imagem de s. Definição Seja s: [n] → A um arranjo ordenado do conjunto finito A, chamamos s de uma A-string (ou apenas string) de comprimento n e escrevemos s = s(1)s(2)s(3)…s(n). A i-ésima posição (ou caractere) em s é denotada por s i = s(i). O conjunto A é chamado de alfabeto, e seus elementos são chamados de letras. Frequentemente, uma string s é chamada de palavra. No Exemplo 10, escrevemos que s�=� � �⊗⊗ ⊗ é uma string (ou palavra) de comprimento n sobre o alfabeto A, de cinco letras. O quarto caractere de s é s4 �= . Podemos ver s: [n] → A como um elemento do produto cartesiano. A1 × … × An, em que Ai = A, para i ∈ [n] Chamamos s de tupla e a escrevemos como s = (s1, s2, …, sn). O elemento si (i ∈ [n]) é chamado de i-ésima coordenada. Ver os arranjos como elementos de produtos torna mais fácil restringir o número de valores permitidos para uma de- terminada coordenada (basta escolher Ai A ). No exemplo mencionado anteriormente, temos s�=�(,� ,� ,� ,� ,� ,� )� � �⊗ ⊗ ⊗ , e sua pri- meira coordenada é . Utilizaremos as notações apresentadas nesta seção para, nas próximas seções, contarmos o número total de arranjos que podemos definir em um conjunto finito A. 6.3 Permutações Vídeo Os arranjos ordenados mais importantes são aqueles em que a função é inje- tiva, ou seja, s(i) ≠ s(j) para i ≠ j. Esse tipo de arranjo será chamado de permutação, como definido a seguir. Definição Seja A um conjunto finito, uma permutação de A é uma função bijetiva. π: [n] → A Quando A = [n], denotamos o conjunto de todas as permutações de [n] por Sn. Geralmente, escrevemos permutações como sequências numéricas se n < 10. Vejamos um exemplo. Σxemρlo 11 Seja A = [7], vamos descrever a permutação π: [7] → [7], dada por π = 2713546. Ao denotarmos π = 2713546, estamos escrevendo que π é a função dada por: i 1 2 3 4 5 6 7 π(i) 2 7 1 3 5 4 6 Ou seja, π(1) = 2, π(2) = 7, π(3) = 1, π(4) = 3, π(5) = 5, π(6) = 4 e π(7) = 6. Definição Para 0 ≤ k ≤ |A|, uma k-permutação de A é um arranjo ordenado de k elementos distintos de A, ou seja, uma função injetiva π: [k] → A. Se A = [n], vamos denotar o conjunto de todas as k-permutações de A por P(n, k). Em particular, temos Sn = P(n, n). 100 Matemática Discreta Σxemρlo 12 Seja A = [7], vamos descrever a 3-permutação π: [3] → [7] , dada por π = 312. Ao denotarmos π = 312, estamos escrevendo que π é a função dada por: i 1 2 3 π(i) 3 1 2 Ou seja, π(1) = 3, π(2) = 1 e π(3) = 2. Essa relação de equivalência divide P(n, k) em classes de equivalência, e cada classe de equivalência é chamada de k-permutação circular. O conjunto de todas as k-permutações circulares é denotado por Pc(n, k). Acompanhe um exemplo de k-permutação circular. Σxemρlo 13 Sejam π1 = 76123, π2 = 12376 e π3 = 32167, verifique que π1 e π2 são circulares equivalentes e que π3 não é circular equivalente a π1 e π2. Observe o seguinte desenho representando cada permutação: π1 6 7 3 1 2 π2 2 1 6 3 7 π3 2 3 7 1 6 Nesse desenho, → indica a seta “circular” de um número ao outro, fechando a circunferência. Observamos que conseguimos sair da permutação π1 para a permutação π2 reali- zando três giros da direita para esquerda, ou seja, existem s = 3 ∈ [5] tal que se i + 3 ≡ j mod 5 → π1(i) = π2(j). Para conseguir chegar da permutação π1 (ou da permutação π2) à permutação π3, precisaríamos inverter os elementos 6 e 7, e isso não é permitido na definição de permutação circular equivalente, em que π3 não é equivalente a π1 e π2. No próximo teorema, contaremos o número de k-permutações (circulares). Para isso, recordamos a notação e a definição de fatoriais: n! = n · (n - 1) · (n - 2) · … · 2 · 1, em que 0! = 1. Teorema Para qualquer número natural 0 ≤ k ≤ n, temos: a. P n, k n n n k n n k � � � � �� � ��� � �� � � �� �1 1 ! � � ! b. P n �k n k n� �kC , ! ! � � � �� � No vídeo Lógica e Ma- temática Discreta – Aula 17 – Permutações circulares e caóticas, da professora Deborah M. Raphael, publicado no canal da UNIVESP, é possível en- contrar mais exemplos de permutações circulares. Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=FrJSVVHvoIY&ab. Acsso em: 5 mar. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=FrJSVVHvoIY&ab https://www.youtube.com/watch?v=FrJSVVHvoIY&ab Análise combinatória 101 Demonstração Para provar a, uma k-permutação é uma função injetiva π: [k] → [n]. Vamos contar as várias maneiras de escolher essa função, escolhendo as imagens uma após a outra. Existem n maneiras de escolher π(1). Dado um valor para π(1), existem n - 1 ma- neiras de escolher π(2), pois não podemos escolher π(1) novamente. Continuando desse modo, existem n – i + 1 maneiras de escolher π(1), e o último valor que esco- lhemos é π(k), com n – k + 1 possibilidades. Cada k-permutação pode ser construída exatamente de uma maneira. O núme- ro total de k-permutações é, portanto, dado como o produto: P n, k n n n k n n k � � � � �� � ��� � �� � � �� �1 1 ! � � ! Para provar b, contamos duplamente |P(n, k)|. A primeira estratégia é P n k n n k , ! � � ! � � � �� � , que provamos em a. A segunda estratégia é |P(n, k)| = |PC(n, k)| · k, pois cada classe de equivalência em PC(n, k) contém k permutações de P(n, k), uma vez que existem k maneiras para girar uma permutação k. Então, utilizando o princípio da contagem dupla, obtemos: n n k P n k kC ! ! , �� � � � � � → P n k n k n kC , ! ! � � � �� � Observe que pelo teorema anterior temos que |P(n, n)| = n!, ou seja, o número total de permutações de n elementos é n! Podemos utilizar permutações para resolver alguns problemas de contagem. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 14 Quantos anagramas podemos formar com as letras da palavra LETO? Queremos encontrar o número de maneiras diferentes que podemos ordenar utilizando as letras da palavra LETO, ou seja, estamos interessados em saber qual é o número total de permutações que podemos fazer com os elementos do conjunto A = {E, L, O, T}. Como |A| = 4, utilizando o fato de que o número total de permutações de n ele- mentos é dado por |P(n, n)| = n!, temos que |P(4, 4)| = 4! = 4 · 3 · 2 · 1 = 24. Portanto, existem 24 anagramas diferentes com as letras da palavra LETO. Acompanhe mais um exemplo de permutação. Σxemρlo 15 Quantos resultados possíveis existem em uma prova de ciclismo disputada por 6 atletas, desconsiderando os empates? 102 Matemática Discreta Queremos encontrar o número de maneiras diferentes em que podemos clas- sificar os atletas em primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto colocado. Considerando A = {1, 2, 3, 4, 5, 6} como o conjunto das possíveis classificações, temos que |A| = 6; portanto, queremos encontrar |P(n, n)| com n = 6. Logo, exis- tem |P(6, 6)| = 6! = 6 · 5 · 4 · 3 · 2 · 1 = 720 possíveis resultados. Observamos que, em geral, o número de permutações de n elementos sem ne- nhuma repetição de elementos é dado por Pn = P(n, n) = n! Nem sempre os elementos que serão ordenados são distintos. Nesse caso, de- notaremos por Pn ±,�³ ,�² ,& o número de permutações de n elementos, dos quais um é repetido α vezes, outro é repetido γ vezes, outro é repetido β vezes, e assim por diante. O número total dessa permutação é: P n! ±! ³ ! ² !&n ±,�³ ,�² ,& = Vejamos um exemplo: Σxemρlo 16 Quantos anagramas diferentes podemos formar com as letras da palavra MATEMÁTICA, desconsiderando o acento agudo? Considerando o multiconjunto B = {A, A, A, M, M, T, T, E, I, C}, temos que |B| = 10 e que A se repete 3 vezes, M 2 vezes, e T 2 vezes. Portanto, o número de anagramas dife- rentes que podemos fazer com as letras da palavra MATEMÁTICA é dado por: P10 3 2 2 10 3 2 2 151 200,� ,� ! ! ! ! .= = Ou seja, podemos formar 151.200 anagramas com as letras da palavra MATEMÁTICA, sem considerarmos o acento agudo. No vídeo Lógica e Mate- mática Discreta – Aula 15 – Permutações sem repetição, da professora Deborah M. Raphael, publicado no canal da UNIVESP, é possível encontrar mais exemplos de permutações sem repetições. Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=SVXCfdtXdiI&ab. Acesso em: 5 mar. 2021. Vídeo 6.4 Combinações Vídeo Existem algumas situações em combinatória nas quais a escolha dos elementos para formar um determinado agrupamento não depende da ordem em que esses elementos são escolhidos ou dispostos. Esse fato nos leva à definição a seguir. Definição Seja A um conjunto finito e k ∈ ℕ, um arranjo não ordenado de k elementos de A é um multicon- junto S de cardinalidade k com elementos de A. Podemos considerar, por exemplo, A�=�{ ,� ,�|,� ,� }� �⊗ . Então, S�=�{ ,� ,� ,� ,� ,� ,� }� � �⊗ é um arranjo não ordenado de sete elementos de A; note que | ∉ S. Como S é um multiconjunto e a ordem em que os elementos aparecem não importa, temos que S também pode ser escrito como S�=�{ ,� ,� ,� ,� ,� ,� } � � � ⊗ . https://www.youtube.com/watch?v=SVXCfdtXdiI&ab https://www.youtube.com/watch?v=SVXCfdtXdiI&ab Análise combinatória103 Durante o capítulo, utilizaremos a seguinte notação: cada elemento x ∈ A que está em S é escrito apenas uma vez, acompanhado de seu número de repetição rx. Nessa notação, o exemplo anterior será escrito como: S = {2 · ⊡, 1 · ⊗, 0 ·�|, 3 · △, 1 · ⋆} Dizemos que tem r � = 2 repetições, ⊗ tem r� � 1 repetição, | tem r| = 0 repeti- ção, tem r = 3 repetições e ⋆ tem r⋆ = 1 repetição. Notamos a diferença entre os arranjos verificando que arranjos ordenados são seleções de elementos de A, feitas uma de cada vez, enquanto arranjos não orde- nados são seleções de objetos feitas ao mesmo tempo. Um exemplo típico de arranjos não ordenados é a lista de compras, pois você pode precisar de três bananas e duas peras, e isso é o mesmo que precisar de uma pera, três bananas e outra pera. Em certo sentido, você precisa de tudo de uma vez, sem ordenação temporal. Isso contrasta, por exemplo, com um número de telefone (o qual é um arranjo ordenado), em que discar primeiro o dígito 5 e depois o dígito 9 é diferente de discar 9 primeiro e 5 em seguida. Tal como acontece com arranjos ordenados, o caso mais importante para arranjos não ordenados é o caso em que todos os elementos aparecem apenas uma vez, isto é, rx = 1 para todos os x ∈ S. Ou seja, o caso mais importante de arranjos não ordenados é aquele em que S é simplesmente um subconjunto de A, denotado por S ⊆ A. Definição Seja A um conjunto finito, uma k-combinação de A é um arranjo não ordenado de k elementos distintos de A. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 17 Seja A = {Ana, Pedro, Maria, Tiago}, descreva duas 3-combinações de A e uma 1-combinação de A. Uma 3-combinação de A é um subconjunto de cardinalidade três. Então, pode- mos tomar, por exemplo, as 3-combinações: S1 = {Ana, Pedro, Maria} e S2 = {Pedro, Maria, Tiago} Uma 1-combinação de A é um subconjunto de cardinalidade um. Podemos to- mar, por exemplo, a 1-combinação: S3 = {Maria} O conjunto de todos os k-subconjuntos de A é denotado por A k � � � � � �, e se |A| = n, denotamos: n k A k Cn k� � � � � � � � � � � � � �: 104 Matemática Discreta Teorema Para 0 ≤ k ≤ n, temos: P n,�k = n k k!� � � � � � � � Demonstração Para construir um elemento de P(n, k), primeiro escolhemos k elementos de [n]. Pela definição de n k � � � � � �, existem exatamente n k � � � � � � maneiras de fazer isso. Então, esco- lhemos uma ordem para esses k elementos. Existem P k,�k �=�k! 0! �=�k!� � maneiras de fazer isso. Cada elemento de P(n, k) pode ser construído, assim, de exatamente uma maneira em que P n,�k �= n k k!� � � � � � � � , o que prova a afirmação. Note que o teorema anterior nos diz que o número de k-combinações de um conjunto finito A com |A| = n é dado por: n k A k =�C �=� P n,�k k! �=� n! k n�-�k !n k� � � � � � � � � � � � � � � � �: Vejamos um exemplo: Σxemρlo 18 Um grupo de 5 pessoas está organizando um evento científico, sendo que 2 dessas 5 pessoas ficarão encarregadas de organizar a festa de encerramento. De quantas maneiras diferentes podemos escolher essas duas pessoas? Queremos contar o número total de 2-combinações do conjunto A = {p1, p2, p3, p4, p5}, em que pi representa a pessoa i do conjunto. Como |A| = 5, quere- mos encontrar: C �=� 5! 2! 5�-�2 ! �=� 5! 2! 3! �=�5�·�4�·�3! 2�·�3! �=�20 2 �=�105 2 � � · Ou seja, existem 10 maneiras possíveis de escolher duas pessoas para organizar a festa de encerramento. Acompanhe outro exemplo de combinação. Σxemρlo 19 Considere um sistema de comunicação composto de quatro antenas. De ny s D ro zd /S hu tte rs to ck Análise combinatória 105 Quantas possibilidades existem de exatamente três antenas estarem com defeito? Queremos contar o número total de 3-combinações do conjunto A = {A1, A2, A3, A4}, em que Ai representa a antena i do conjunto. Como |A| = 4, queremos encontrar: C4 3 4 3 4 3 4 3 1 4 3 3 4� � ! ! ! � � ! ! ! � � � ! ! � �� �� � � � � � � Ou seja, existem 4 maneiras possíveis de exatamente três antenas estarem com defeito. Vejamos mais um exemplo: Σxemρlo 20 Em um campeonato de futebol, cada um dos 16 times joga uma única vez contra todos os demais. Quantas partidas serão realizadas? Como cada partida é formada por dois times, queremos contar o número total de 2-combinações do conjunto A = {T1, T2, …, T16}, em que Ti representa o time i. Como |A| = 16, queremos encontrar: C �=� 16! 2! 16�-�2 ! �= � 16! 2�·�14! �= 16�·�15�·�14! 2�·�14!16 2 � � = 16�·�15 2 �=�8�·�15�=�120 Ou seja, ocorrerão 120 partidas no campeonato. A seguir, observe outro exemplo no qual usamos a combinatória. Σxemρlo 21 De 5 mulheres e 7 homens, quantos comitês diferentes de 2 mulheres e 3 ho- mens podem ser formados? Vamos considerar A = {M1, M2, M3, M4, M5}, em que Mi denota a mulher i, e B = {H1, H2, H3, H4, H5, H6, H7}, sendo que Hj denota o homem j. Em cada comitê tere- mos um conjunto de 2 mulheres. Como |A| = 5, precisamos calcular: C =� 5! 2! 5�-�2 ! �=� 5! 2�·�3! �=�5�·�4�·�3! 2�·�3! �=�105� 2 � � Analogamente, em cada comitê teremos um conjunto de 3 homens. Como |B| = 7, precisamos calcular: C �=� 7! 3! 7�-�3 ! �=� 7! 3!�·�4! �=�7�·�6�·�5�·�4! 6�·�4! �=�357 3 � � 106 Matemática Discreta Como cada comitê é formado por 2 mulheres e 3 homens, precisamos utilizar o princípio multiplicativo para obter o número total de comitês diferentes que pode- mos formar. Ou seja, o número total T será: T�=�C �·�C �=�10�·�35�=�3505 2 7 3 Portanto, podemos formar 350 comitês diferentes. 6.5 Binômio de Newton Vídeo Os números n k � � � � � � para 0 ≤ k ≤ n são chamados também de coeficientes binomiais, pois são os coeficientes encontrados ao se expandir a enésima potência de uma soma de duas variáveis: (x + y)n. Coeficientes binomiais são utilizados no método conhecido como binômio de Newton. Para demonstrar o binômio de Newton, utili- zaremos o teorema a seguir. Teorema Sejam m, n ∈ , então: m k m k m k� � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � �1 1 Vejamos um exemplo: Σxemρlo 22 Verifique que: 4 2 4 3 5 3 � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Temos que: 4 2 4 2 4 2 12 2 6 � � � � � � � �� � � � � ! ! ! 4 · 3�·�2! 2�·�2! 4 3 4 3 4 3 4 1 4 � � � � � � � �� � � � � ! ! ! �����4�·�3! 3!�·�1! 5 3 5 3 5 3 20 2 10 � � � � � � � �� � � � � ! ! ! 5 · 4�·�3! 3!�·�2! Portanto: 4 2 4 3 5 3 � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � O binômio de Newton é descrito e demonstrado a seguir. Teorema Sejam x, y variáveis e n ∈ , então: x y n k x yn k n n k k�� � � � � � � � � � �� 0 Análise combinatória 107 Demonstração Vamos demonstrar, por indução, que o binômio de Newton é válido para qual- quer n ≥ 1. Para n = 1, temos (x + y)1 = x + y e k n k k k y x y x y x y � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 0 1 1 0 0 1 1 11 1 0 1 1 x Ou seja: x y k x y k n k k�� � � � � � � � � � �� 1 0 1 1 Logo, o binômio de Newton é válido para n = 1. Agora, suponha que o resultado é verdadeiro para n = m, ou seja, vale x y m k x ym k m m k k�� � � � � � � � � � �� 0 Vamos demonstrar que o resultado é válido para n = m + 1. De fato: x y x y x ym m�� � � �� � �� ��1 �� �� � � � � � � � � ��x y m k x y k m m k k 0 �� � � � � � � � � � � � � � � � � �� �x m k x y y m k x y k m m k k k m m k k 0 0 �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � k m m k k k m m k km k x y m k x y 0 1 0 1 A primeira soma pode ser escrita como: k m m k k m k m m k kx y x m k x y � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � 0 1 1 1 1m k A segunda soma pode ser escrita como: k m m k k m k m m k km k x y y m k x y � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � 0 1 1 0 1 1�� � � � � � � � �� � � ��y m k x ym k m m k k1 1 1 1 Então, temos: x y x m k x y y m k xm m k m m k k m k m m�� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 1 1 1 1 1 1 1 �� �1 k ky � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � ��x y m k m k x ym m k m m k k1 1 1 1 1 108 Matemática Discreta Mas m k m k m k� � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � �1 1 Então: x y x y m k x ym m m k m m k k�� � � � � �� � � � � � � � � � � �� 1 1 1 1 11 � � m k x y k m m k k� �� � � � � � � � �� 0 1 1 Assim, fica provado que o teorema é válido para todo n ∈ . A fórmula binomial pode ser generalizada para mais de duas variáveis. Definição Para inteiros não negativos k 1 , . ..., k r , com k 1 + ... + k r = n, os coeficientes multinomiais n k , ..., k1 r � � � � � � são os coeficientes encontrados ao se expandir a n-ésima potência de uma soma de r variáveis. Em outras palavras, definimos os coeficientes multinomiais n k , ..., k1 r � � � � � � como os únicos números que satisfaçam a seguinte identidade: x x n k , ..., k x xr n k kr n k kr 1 r 1 k1 2 k2 1 1 1 ���� � � � � � � � � � � � � ... ,..., ....xr kr Vejamos um exemplo: Σxemρlo 23 Utilize o polinômio (x1 + x2 + x3) 4 para encontrar 4 2 11 4 2 0 2 4 0 0 4,� ,� ,� ,� ,� ,� ,� ,� . � � � � � � � � � � � � � � � � � � Temos que: x x x x x x1 2� �� � � � � �� �3 4 14 24 341 � � � � � � �� ��4 x x x x x x x x x x x x13 2 13 3 1 23 23 3 1 33 2 33 � � � �� ��6 x x x x x x12 22 12 32 22 32 � � � �� ��12 x x x x x x x x x12 2 3 1 22 3 1 2 32 Análise combinatória 109 O coeficiente de x x x1 2 2 3 é 12, o coeficiente de x x1 2 3 2 é 6 e o coeficiente de x3 4 é 1. De acordo com a definição de coeficiente multinomial, temos que: 4 2 11 12 4 2 0 2 6 4 0 0 4 1 ,� ,� �,� ,� ,� �,� ,� ,� . � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Note que, por exemplo, n k ,�...,�k1 r � � �� � � �� � 4 2 11 12 ,� ,� � � � � � � � → k1 = 2, k2 = 1 e k3 = 1 → k1 + k2 + k3 = 4 = n. Além disso, observe que em x x x1 2 2 3 temos que o expoente de x1 é k1 = 2, o ex- poente de x2 é k2 = 1 e o expoente de x3 é k3 = 1, conforme a definição. A seguir, apresentamos um teorema que nos ensina a calcular de modo prático os coeficientes multinomiais de uma expansão polinomial da forma x � xr n 1 ���� � . Teorema Para inteiros não negativos k1, …, kr, com k1 + … + kr = n, tem-se: n k ,�...,k n k n k k1 r 1 2 � � �� � � �� � � � �� � � ��� �� � �� � � ��� ��� � � ��...�1 �� � � � �... � ! ! ! �... � ! n k k k n k k k r r r � � �� � �� � � �� � � � � �1 1 1 2 Demonstração Pela definição de potenciação, temos que x � � � �xr n 1 � �� �... pode ser escrito como: x � � x x x xr n i r i r in r i i in n�somas 1 1 1 2 1 1 1 2 � �� � � � � � � � �... ... ... � ������ ����� Nessa demonstração, os monômios xi1, xi2, …, xin são iguais a x ��x k r kr 1 1,��..., se os índices i1, …, in são exatamente iguais a 1, 2 …, r. Contaremos o número de atribui- ções de valores aos índices i1, …, in, satisfazendo isso. • Escolhendo os índices k1 iguais a 1 Existem n k �1� � � �� � � �� maneiras de fazer isso. • Escolhendo os índices k2 iguais a 2 Existem n-índices k1 restantes para escolher, então há �n�-�k � k � 1 2 � � �� � � �� maneiras de es- colher k2 deles. • Escolhendo índices kJ iguais a j (j ∈ [r]) Há n - k1 - … - kj-1 índices restantes para escolher, então há n� �k � � � �k � k j j � � �� � � � � � � � �1 1... maneiras de escolher kj deles. Logo, o coeficiente multinomial (ou seja, o coeficiente de x x xk k r kr 1 1 2 2 ... ) é: n k ,�...,k n k n k k 1 r � � �� � � ��� � � �� � � ��� �� � �� � � ���� � �� � ...� 1 1 2 �� � �� � �� � � �� � � � �...� �� � �-��n k k k k r r 1 2 1 110 Matemática Discreta Assim, a primeira identidade é provada. Agora: n k n k k n k k k 1 r� � �� � � �� � �� � �� � � ��� � � � � �� � �� ��1 2 1 2 1��...�� ... kr �� �� � � �� � � �� � � �� � � � � � �� �n k n k n k k n k k n k kr! ! ! ! ! ! ... ... 1 1 1 2 1 2 1 1�� � � �� � ! ! ... !k n k kr r1 Convenientemente, muitos dos termos fatoriais se cancelam; desse modo teremos: n k n k k � �� n k k k k r r1 1 2 1 2 1� � �� � � �� � �� � �� � � �� � � � � � �� � �� � � �... ... ��� � � � � n k k � � kr ! ! ! ... !1 2 Σxemρlo 24 Utilize o teorema anterior para calcular 5 1,�2,�2 � � � � � �. Temos que 1 + 2 + 2 = 5. Então, pelo teorema anterior, obtemos: 5 1 2 2 5 1 2 2 5 4 3 2 1 2 2 5 ,� ,� ! !�� !�� ! �� �� �� ! �� �� ! �� � � � � � � � � � � � � � � � ��� ��4 3 2 5 2 3 30� � � � � CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, vimos que a análise combinatória está fundamentada em alguns princípios básicos da contagem, como o princípio multiplicativo, o princípio aditivo e o princípio da casa dos pombos. Além disso, você aprendeu que podemos utilizar funções para contar o número de elementos de subconjuntos especiais de um conjunto finito dado. Essas funções são utilizadas para definir novas fórmulas de contagem, que são importantíssimas em vários problemas de matemática, como no desenvolvimento polinomial. ATIVIDADES 1. Uma pequena comunidade tem 10 mulheres, cada uma delas com 3 filhos. Se, em um festival, uma mulher e uma criança forem selecionadas como “mãe e filho do ano” (independentemente de serem mãe e filho de fato), quantas são as possibilidades diferentes de escolhermos uma dupla vencedora? 2. Suponha que queremos colocar 10 livros na estante. Desses, 4 são de Matemática, 3 são de Química, 2 são de História e 1 é de Literatura. Os livros de mesmo assunto devem ser colocados juntos. Quantos arranjos diferentes são possíveis? Análise combinatória 111 3. Ao pendurar 9 bandeiras em uma linha, das quais 4 são brancas, 3 são vermelhas e 2 são azuis, quantas formas diferentes são possíveis? 4. Se em um grupo de 12 pessoas 3 delas são escolhidas para ganhar uma viajem, de quantas maneiras diferentes pode ocorrer a escolha? REFERÊNCIAS GERSTING, J. L. Fundamentos matemáticos para ciência da computação. 4. ed. São Paulo: LTC, 2001. GRIMALDI, R. P. Discrete and combinatorial mathematics: an applied introduction. 5. ed. Boston: Addison-Wesley, 2004. HAZZAN, S. Fundamentos da matemática elementar: combinatória, probabilidade. São Paulo: Atual, 2013. v. 5. ROSEN, K. H. Matemática discreta e suas aplicações. 6. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. SANTOS, J. P. O.; MELLO, M. P.; MURARI, I. T. C. Introdução à análise combinatória. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2008. 112 Matemática Discreta 7 Funções geradoras e partição de um inteiro Funções geradoras são uma das invenções mais surpreendentes, úteis e inteligentes da matemática discreta. De modo geral, funções ge- radoras transformam problemas sobre sequências numéricas em pro- blemas de funções de valor real. Isso é ótimo porque já conhecemos várias propriedades e técnicas matemáticas para manipular funções de valor real. Graças às funções geradoras, podemos aplicar todo o nosso conhe- cimento sobre funções aos problemas de sequências numéricas. Dessa forma, podemos utilizar funções geradoras para resolver todos os tipos de problemas de contagem. Há um grande espaço da matemática de- dicada ao estudo de funções geradoras, portanto, neste capítulo, apre- sentaremos apenas uma pequena abordagem do assunto. Você irá aprender a calcular a função geradora ordinária e a fun- ção geradora exponencial de uma sequência numérica, a realizar ope- rações em funções geradoras e utilizá-las para resolver problemas de contagem. Por fim,aprenderá o conceito e a como representar a parti- ção de um número inteiro positivo. 7.1 Funções geradoras Vídeo Iniciaremos com a definição formal de função geradora ordinária de uma se- quência numérica. Definição A função geradora ordinária (FGO) para a sequência numérica infinita (g 0 , g 1 , g 2 , ...) é a série de potência formal G x g g x g x g x g x i i i� �� � � � ��� � � �0 1 2 2 3 3 0 Indicaremos a correspondência entre uma sequência e sua função de geração com uma seta dupla-face (↔), da seguinte forma: (g 0, g1, g3, ...) ↔ g0 + g1 x + g2 x 2 + g3 x 3 + … Funções geradoras e partição de um inteiro 113 Por exemplo, aqui estão algumas sequências e suas funções geradoras: (0, 0, 0, 0, ...) ↔ 0 + 0x + 0x² + 0x³ + ... = 0 (1, 0, 0, 0, ...) ↔ 1 + 0x + 0x² + 0x³ + ... = 1 (3, 2, 1, 0, ...) ↔ 3 + 2x + 1x² + 0x³ + ... = 3 + 2x + x² Observamos que o padrão para fazermos correspondência entre uma sequên- cia numérica e sua função geradora ordinária é: o i-ésimo termo na sequência (in- dexação de 0) é o coeficiente de xi na função geradora. Também podemos relacionar função geradora e sequências numéricas defini- das por recorrência. Vejamos um exemplo. Σxemρlo 1 Considere a sequência numérica (gk), onde gk = (k 2 + 1) para k = 0, 1, 2, 3. Descreva (gk) e sua função geradora. Temos que (gk) = (g0, g1, g2, …) = ((0 2 + 1), (12 + 1), (22 + 1), …) = (1, 2, 5, ...). Sendo assim, a função geradora de (gk) é G x x x � k x i i� � � � � � �� �� � � �1 2 5 12 0 2 � De maneira análoga, podemos definir a função geradora ordinária de uma se- quência numérica infinita. Definição A função geradora ordinária (FGO) para a sequência numérica finita (g 0 , g 1 , g 3 , . .., g n ) é o polinômio G x g g x g x g x g x g xn n i n i i� �� � � � ��� � � �0 1 2 2 3 3 0 Observe que a função geradora ordinária para uma sequência numérica finita (g0, g1, g3, ..., gn) também pode ser vista como uma série infinita i=0 i ig x � � , onde gi = 0 para todo i > n. Acompanhe um exemplo de FGO para uma sequência numérica finita. Σxemρlo 2 Qual a função geradora da sequência numérica (2, 3, 5, 7, 11, 13)? Tem-se, por definição, que 114 Matemática Discreta G x g x x x x x x i i i� � � � � � � � � � � 0 5 2 3 4 52 3 5 7 11 13 Lembre-se de que a soma de uma série geométrica infinita i iz � � 0 � , para |z| < 1, é 1 1 1 � � � � � � z z z � �z ² ³ ... Isto nos diz que a função 1 1� �x− é uma função geradora ordinária para a sequên- cia numérica infinita (1, 1, 1, ...), pois G(x) = 1 + x + x² + x³ + ... = 1 1� ��x− . Nesse caso, dizemos que 1 1� ��x− é a forma fechada da função geradora G(x) = 1 + x + x² + x³ + ... Podemos utilizar a soma da série geométrica infinita para encontrar funções gera- doras na forma fechada para uma ampla gama de sequências. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 3 Considere a sequência numérica infinita dada por (1, a, a2, a3, ...). Encontre uma função geradora na forma fechada para essa sequência. Temos que (1, a, a2, a3, ...) ↔ 1 + ax + a²x² + a³x³ + ... = 1 1� �ax− , pois 1 1 1 � �ax ax a x a x � � � � � � � �² ² ³ ³ Quando |ax| < 1 ou equivalente, para |x| < 1 a com a ≠ 0. 7.2 Operações com funções geradoras Vídeo A mágica de gerar funções relacionadas com sequências numéricas é que po- demos realizar todos os tipos de manipulações em sequências, executando ope- rações matemáticas em suas funções geradoras associadas. Vamos realizar várias operações e analisar o seu efeito nas sequências relacionadas. Teorema (regra de escala) Seja (f0, f1, f2, ...) uma sequência numérica infinita e c ∈ ℝ. Se (f0, f1, f2, ...) ↔ F(x), então, (cf0, cf1, cf2, ...) ↔ c · F(x) Demonstração (cf0, cf1, cf2, ...) ↔ cf0 + cf1x + cf2 x 2 + … = c · (f0 + f1x + f2x 2+ ...) = c · F(x). O teorema anterior nos mostra que multiplicar uma função geradora por uma constante dimensiona cada termo na sequência associada pela mesma constante. Funções geradoras e partição de um inteiro 115 Σxemρlo 4 Qual é a sequência numérica infinita associada à função geradora G x � �x � � � � 10 1 ? Note que 10 1 10 1 1 10 10 � �x � � F x � � � � � �· , onde F x � �x � � � � 1 1 é a função geradora associada à sequência numérica infinita (1, 1, 1, ...). Pelo teorema da regra de esca- la, temos que a sequência (10, 10, 10, ...) é associada à função geradora G x � �x � � � � 10 1 . No teorema a seguir, veremos como a soma de sequências numéricas interfere nas suas funções geradoras ordinárias. Teorema (regra da adição) Seja (f0, f1, f2, ...) e (g0, g1, g2, ...) duas sequências numéricas infinitas tais que (f0, f1, f2, ...) ↔ F(x) e (g0, g1, g2, ...) ↔ G(x). Então, (f0 + g0, f1 + g1, f2 + g2, ...) ↔ F(x) + G(x). Demonstração f g f g f g f g x n n n n 0 0 1 1 2 2 0 � � �� � � �� � � � �, , ,... ��������������� ������������������������ � � � � � � � � � � � � n n n n f x 0 �� � � � � � � � � � � 0 g xn n = F(x) + G(x) Acompanhe um exemplo: Σxemρlo 5 Sejam (1, 3, 5, 7, 9 ...) e (g0, g1, g2, ...) duas sequências numéricas infinitas, onde g �g �g � G x � �x0 1 2 2 7 1 , , , ...� � � � � � � , qual é a função geradora associada à sequência nu- mérica (1 + g0, 3 + g1, 5 + g2, 7 + g3, 9 + g4, ...)? Note que 1 3 5 7 9 1 3 5 7 2 12 3 0 , , , , ...� � � � x x x � i x i i� � � � � � � �� �� � � � � e G x � �x � �x � � � � � � 7 1 7 1 12 2 , então, pela regra da escala, (g0, g1, g2, ...) = (7, 7, 7, ...). Pelo teorema anterior, temos que (1, 3, 5, 7, 9...) + (g0, g1, g2, ...) = (1 + g0, 3 + g1, 5 + g2, 7 + g3, 9 + g4, ...) = (1 + 7, 3 + 7, 5 + 7, 7 + 7, 9 + 7, …) 116 Matemática Discreta = (8, 10, 12, 14, 16, …) ↔ H(x) = 8 + 10x + 12x2 + 14x3 + 16x5 + ... O próximo teorema demonstra o efeito de inserir zeros à esquerda de uma sequência numérica dada. Teorema (regra do deslocamento à direita) Se (f0, f1, f2, ...) ↔ F(x), então, 0 0 0 0 1 2,� ,�...,� ,� , , ,�... �k zeros kf f f x F x��� �� � � � � � � � � � � �� Demonstração Temos que 0 0 0 0 1 2 0 1,� ,�...,� ,� , , ,�... �k zeros kf f f f x f x ��� ��� � � �� � � � �� � � kk k kf x f x� � �� � ��1 2 2 3 3 � � = xk · (f0 + f1x + f2x² + f3x³ + ...) = xk · F(x) Σxemρlo 6 Qual é função geradora ordinária da sequência numérica (0, 0, 0, 10, 10, 10, 10, 10, ...)? No Exemplo 4 vimos que a sequência (10, 10, 10, ...) está relacionada com a função geradora ordinária G x � �x � � � � 10 1 . Como adicionamos 3 zeros à esquerda da sequência (10, 10, 10, ...) para obter (0, 0, 0, 10,10,10, 10, 10, ...), podemos utilizar o teorema anterior e concluir que a sequência geradora ordinária de (0, 0, 0, 10,10,10, 10, 10, ...) é G x � �x � � � � 10 1 3x . Vejamos agora como a derivada de uma função afeta funções geradoras e suas respectivas sequências numéricas. Teorema (regra da derivada) Se (f0, f1, f2, ...) ↔ F(x), então (f1, 2f2, 3f3, ...) ↔ F’(x). Demonstração Temos que (f1, 2f2, 3f3, ...) = f1 + 2f2x + 3f3x² + ... � ² ³ �...� � � � �� �d dx f f x f x f x0 1 2 3 � �� � �d dx F x A regra da derivada é muito útil e importante. Vejamos um exemplo: Funções geradoras e partição de um inteiro 117 Σxemρlo 7 Encontre uma função geradora fechada para a sequência de quadrados perfei- tos (0, 1, 4, 9, 16, ...). Utilizaremos as operações com funções geradoras da seguinte forma: vamos começar com a função geradora para (1, 1, 1, 1, ...), diferenciar e multiplicar por x e, em seguida, diferenciar e multiplicar por x novamente. 1111 1 1 ,� ,� ,� ,�... � � � � �x 1 2 3 4 1 1 1 1 ,� ,� ,� ,�... � � ² � � � � � �� � d dx x x 0 1 2 3 1 1 1 ,� ,� ,� ,�... � ² � ² � � � � �� � � �� �x x x x 1 4 9 16 1 1 1 ,� ,� ,� ,�... � ² � ³ � � � �� � � � �� � d dx x x x x 0 1 4 9 1 1 1 1 ,� ,� ,� ,�... � ³ � ³ � � � � � �� � � ��� �� �x x x x x x Assim, a função geradora da sequência numérica dos quadrados é: x � �x � �x 1 1 �� � �� � ³ . Funções geradoras são particularmente úteis para resolver problemas de contagem. Especificamente, problemas envolvendo a escolha de itens de um conjunto geralmen- te levam a funções de geração interessantes. Quando funções geradoras são usadas dessa forma, o coeficiente de xn é o número de maneiras de escolher n itens. Antes de apresentarmos aplicações de funções geradoras, iremos enunciar uma versão estendida do teorema binomial. Definição Considere m um número real e k um número inteiro não negativo. Então, o coeficiente binomial esten- dido m k � � � � � � é dado por: m k m m m k k se k � � � � � �� � �� ���� � �� � � 1 1 0 ! , e m k se k � � � � � �� �1 0, 118 Matemática Discreta Vejamos um exemplo: Σxemρlo 8 Encontre os valores binomiais estendidos de �� � � � � � 3 2 e 1 2 3 � � � �� � � � �� . Temos, por definição, que �� � � � � � � �� � �� � � �� � �� � � 3 2 3 4 2 3 4 2 6 ! e 1 2 3 1 2 1 2 1 1 2 2 3 1 2 1 2� � � �� � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � ! �� � � � � � � � � � � � 3 2 6 1 16 Se m = -n ∈ ℤ, com n ∈ ℕ, temos que m k n k n k k k� � � � � �� �� � � � � �� �� � � �� � � � � �1 1 Segundo a observação, se m é um número inteiro negativo, o coeficiente bino- mial estendido pode ser escrito em termos do coeficiente binomial clássico. Agora, vamos enunciar o teorema binomial estendido. Teorema Considerando x um número real com |x| < 1 e n um número real, temos que 1 0 �� � � � � � � � � � �x n k xn k k � Não realizaremos a demonstração desse teorema, uma vez que precisaríamos nos aprofundar em séries numéricas, que não é objeto deste livro. Mas vamos ilus- trá-lo com o seguinte exemplo: Σxemρlo 9 Encontre uma função geradora para (1 + x)–n, em que n é um número inteiro positivo. Do teorema binomial estendido, temos que 1 0 �� � � �� � � � � � � � �x n k xn k k � Funções geradoras e partição de um inteiro 119 Pela observação apresentada anteriormente, temos que �� � � � � � � �� � � �� � � � � � n k n k k k1 1� � � � . Então, 1 1 1 0 �� � � �� � � �� � � � � � � � �x n k k xn k k k � � ³ ...� �� � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � �� � � � � � � n n x n x n x � 1 0 1 1 2 2 3 2 Vejamos algumas aplicações de funções geradoras em problemas de contagem. Σxemρlo 10 Quantas são as soluções inteiras de x1 + x2 + x3 = 7 sabendo que x1, x2 ∈ {1, 2, 3} e x3 ∈ {3, 4}? Para resolvermos este tipo de problema basta associarmos a cada variável xi um polinômio pi(x), onde os expoentes i representam os valores que a variável xi pode assumir. Ou seja, p1(x) = x + x 2 + x3, p2(x) = x + x 2 +x3 e p3(x) = x 3 + x4 Queremos, como solução, números x1, x2, x3 cuja soma seja 7 e que estejam, cada um, no conjunto cujos elementos são os expoentes do polinômio correspon- dente. Sendo assim, a solução do problema será o coeficiente de x7 do polinômio G(x) = p1(x) · p2(x) · p3(x) = (x + x2 + x3 )2 · (x3 + x4) = x10 + 3x9 + 5x8 + 5x7 + 3x6 + x5 Ou seja, existem cinco soluções para x1 + x2 + x3 = 7 com x1, x2 ∈ {1, 2, 3} e x3 ∈ {3, 4}. Acompanhe outro exemplo: Σxemρlo 11 De quantas maneiras podemos escolher 4 pessoas de um grupo de 6 pessoas? Para resolvermos esse tipo de problema, consideramos (1 + x) como o poli- nômio que representa a presença de uma pessoa. Como temos seis pessoas no total, então o número de maneiras que podemos formar um grupo com quatro pessoas é representado pelo coeficiente de x4 no desenvolvimento do polinômio G(x) = (1 + x)6. Observamos que G(x) = (1 + x)6 = x6 + 6x5 + 15x4 + 20x3 + 15x2 + 6x + 1 Portanto, podemos escolher 4 pessoas de um grupo de 6 pessoas de 15 maneiras. 120 Matemática Discreta Acompanhe mais um exemplo: Σxemρlo 12 De quantas maneiras podemos escolher 10 calças de 4 marcas diferentes? A função geradora que determina o número de calças de uma marca é 1 + x + x2 + ... + x10 Como são quatro marcas diferentes, a solução será o coeficiente de x10 em (1 + x + x2 + … + x10)4 Sabemos que 1 1 1 2 10 11 � � ��� � � � x x x x x Logo 1 1 1 1 12 10 4 11 4 11 4 4� � ���� � � �� � � �� � � �� � �� � �� � �x x x x x x x Como (1 – x11)4 = 1 – 4x11 + 6x22 – 4x33 + x44 temos que o coeficiente de x10 em (1 + x + x2 + … + x10)4 é o coeficiente de x10 em (1 – x)–4. Como 1 1 4 14 0 �� � � �� � � �� � � � � � � � �x k k x k k k � o coeficiente de x10 é �� � � �� � � � � � �1 4 10 1 10 28610 Portanto, existem 286 modos de se escolher 10 calças de 4 marcas diferentes. 7.3 Funções geradoras exponenciais Vídeo Na seção anterior vimos alguns exemplos de como utilizar a função geradora ordinária para resolver problemas de contagem cuja ordem em que os objetos aparecem é irrelevante. Agora vamos estudar as funções geradoras exponenciais, utilizadas para solucionar problemas de contagem em que a ordem dos objetos retirados é importante. Definição A função geradora exponencial (FGE) para a sequência numérica infinita (g 0 , g 1 , g 3 , ...) é a série de po- tência formal G x g g x g x g x g x ii i i � �� � � � ��� � � �0 1 2 2 3 3 01 2 3! ! ! ! Funções geradoras e partição de um inteiro 121 Essa definição tem como motivação o fato bem conhecido do cálculo de que e x i x i i � � � 0 � ! Ou seja, a exponencial ex é igual à função geradora exponencial da sequência numérica (1, 1, 1, ...). Vejamos dois exemplos: Σxemρlo 13 Encontre a função geradora exponencial que determina o número de senhas com no máximo três dígitos e formadas pelos números 1, 2 e 3, em que 1 e 2 apa- recem no máximo uma vez e 3 aparece no máximo duas vezes. Precisamos considerar o produto dos polinômios a seguir, onde cada um deter- mina a presença do dígito 1, 2 e 3: f x x x x x� � � �� � �� � � � � � �� � � ��1 1 1 2 2 ! � ! ! � �� � � � � � � �� � � ��1 1 2 3 2 2 2 3 x x x x � ! ! ! � � � � �1 3 7 2 4 2 2 2 3 4 x x x x � ! ! ! ! � � � � �1 3 1 7 2 4 3 1 4 2 3 4x x x x Portanto, a função geradora exponencial que determina o número de senhas é � ! ! ! ! � � � � �1 3 1 7 2 4 3 1 4 2 3 4x x x x Σxemρlo 14 Uma rede de restaurantes contrata 6 pessoas para trabalhar em 3 unidades di- ferentes. De quantas maneiras diferentes podemos distribuir esses 6 funcionários de modo que cada unidade receba ao menos um funcionário? Nenhuma unidade pode receber mais de quatro funcionários, pois, do contrário, um restaurante não receberá nenhum funcionário. Como o número de funcionários que cada unidade vai receber importa, ou seja, a ordem de distribuição importa, usa- remos para resolver esse problema a seguinte função geradora exponencial: f x x x x x� � � � � � � � �� � � ��1 2 3 4 2 3 4 3 ! ! ! ! 122 Matemática Discreta A resposta é o coeficiente de x 6 6! nessa função. Notemos que esse coeficiente é o mesmo se tomarmos f x x x x x� � � � � � �� � � �� � � ��1 2 3 4 2 3 4 3 ! ! ! ! � x x x x� � � � � ��� � � �� � � ��1 1 2 3 4 1 2 3 4 3 ! ! ! ! = (ex – 1)3 = e3x – 3e2x + 3ex – 1 uma vez que as potências extras não alteram o coeficiente de x 6 6! . Sabemos também que e x x x xx � � � � � ��1 1 2 3 4 2 3 4 ! ! ! ! Então, e x x x xx3 2 3 4 1 3 1 3 2 3 3 3 4 � � � � � � � � � � � �� ! ! ! ! Assim, o coeficiente de x 6 6! é 36. De maneira análoga, encontramos o coeficiente de x 6 6! em e2x, que é 26. Logo, o coeficiente de x 6 6! em f x e e e ex x x x� � �� � � � � ��� 1 3 3 13 3 2 será 36 – 3 · 26 + 3 = 729 – 192 + 3 = 540. Portanto, existem 540 modos diferentes de distribuir os funcionários de modo que cada unidade receba ao mínimo um novo funcionário. Esse tipo de solução pode ser resumido no seguinte teorema. Teorema O número de modos distintosque podemos distribuir n objetos diferentes em k compartimentos diferentes sem que nenhum fique vazio é dado por: D n k k i k i i k i n,� � � �� � � � � � � � �� � � � 0 1 Aplicando esse teorema ao Exemplo 14, temos que D i i ��������������������������� i i6 3 1 3 3 0 3 6,� � � �� � � � � � � � �� � � � ���������������������������������������������������������������������������� �� �� � � � � � � � �� � � �� � � � � � � � �� � � �� � � � � � � � �� 1 3 0 3 0 1 3 1 3 1 1 3 2 30 6 1 6 2 22 06� � � = 36 – 3 · 26 + 3 = 540 Na dissertação Resolução de problemas combinatórios utilizando funções gerado- ras, defendida em 2013 por Domingos Boaes Garcia, ele apresenta a aplicação de funções geradoras e relações de recorrência no cálculo do tamanho de uma população de coelhos. Vale a pena conferir! Disponível em: https://sca.profmat-sbm. org.br/sca_v2/get_tcc3.php?id=37752. Acesso em: 5 mar. 2021. Leitura https://sca.profmat-sbm.org.br/sca_v2/get_tcc3.php?id=37752 https://sca.profmat-sbm.org.br/sca_v2/get_tcc3.php?id=37752 https://sca.profmat-sbm.org.br/sca_v2/get_tcc3.php?id=37752 Funções geradoras e partição de um inteiro 123 7.4 Sequência de Fibonacci Vídeo Às vezes podemos encontrar funções geradoras interessantes, e relativamente simples, para sequências mais complicadas. Por exemplo, aqui está uma função geradora para os números de Fibonacci: 0 1 1 2 3 5 8 13 21 1 , , , , , , , , , ... ² � � � � � � � � � x � �x� �x � � � � � É sabido que a função de recorrência que define os números de Fibonacci é bas- tante complicada, mas sua função geradora ordinária é bem simples! Vamos demonstrar, no teorema a seguir, a função geradora para a sequência de Fibonacci. Teorema A sequência de Fibonacci, definida por: f0 = 0, f1 = 1 e fn = fn-1 + fn-2 (para n ≥ 2), possui função geradora ordinária dada por G x x � �x� �x � � � � �1 ² Demonstração Vamos utilizar a sequência F(x) = f0 + f1x + f2x 2 + f3x 3 + f4x 4 + ... para encontrar G(x), função geradora da sequência (0, 1, f1 + f0, f2 + f1, f2 + f3, ...). Observamos que (0, 1, f1 + f0, f2 + f1, f2 + f3, …) = (0, 1, 0, 0, 0, …) + (0, f0, f1, f2, f3, …) + (0, 0, f0, f1, f2, ...) e que (0,1, 0, 0, 0, ...) ↔ x (0, f0, f1, f2, f3, ...) ↔ xF(x) (0, 0, f0, f1, f2, ...) ↔ x²F(x) Portanto, (0, 1 + f0, f1 + f0, f2 + f1, f3 + f2, ...) ↔ x + xF(x) + x²F(x) Essa sequência é quase idêntica aos lados direitos das equações de Fibonacci. O único defeito é que o segundo termo é 1 + f0, em vez de simplesmente 1. No entanto, isso não é um problema, já que f0 = 0. Agora, se igualarmos F(x) com a nova função x + xF(x) + x²F(x), calcularemos implicitamente todas as equações que definem os números de Fibonacci de uma só vez, pois x + xF(x) + x2F(x) = 0 + (1 + f0)x + (f1 + f0)x 2 + (f2 + f1)x 3 + (f3 + f2)x 4 + ... Resolvendo para F(x), teremos a função geradora para a sequência de Fibonacci: F x x xF x x F x� � � � � � � � �² �� � � � � � F x x � �x� �x1 2 124 Matemática Discreta 7.5 Partição de um inteiro Vídeo Não é difícil perceber que quanto mais restrições possui um problema de con- tagem, mais difícil é para encontrar sua solução. Vimos que uma ferramenta da análise combinatória que facilita a resolução desses problemas é a função geradora ordinária. Essa ferramenta é importante para resolver problemas que podem ser traduzidos em equação do tipo x1 + x2 + ... + xn = r de números inteiros não negativos. Consideremos agora o seguinte problema: de quantas maneiras diferentes po- demos colocar quatro bolas idênticas em duas caixas idênticas de modo que ne- nhuma caixa fique vazia? Podemos resolver esse problema de um modo mais simples, sem precisar re- correr a uma equação do tipo x1 + x2 + ... + xn = r. Note que o número 4 pode ser escrito como: • 4. • 3 + 1. • 2 + 2. • 2 + 1 + 1. • 1 + 1 + 1 + 1. As diferentes maneiras de escrever o número 4 são chamadas de partições do número 4. Considerando cada parcela como uma caixa, temos que existem apenas duas opções diferentes de colocar quatro bolas idênticas em duas caixas idênticas. A saber, {3, 1} e {2, 2}. Esse método, a princípio, é bem simples. Mas, ao considerarmos números maio- res, notamos que o número de partições aumenta de maneira considerável. Por exemplo, o número 200 possui 3.972.999.029.388 partições. Vamos estudar em mais detalhes as partições de um número. Definição Dado um número inteiro positivo n, uma partição de n é uma coleção de números inteiros positivos cuja soma é n. O número de partições de n será denotado por p(n). Já vimos, como exemplo, que p(4) = 5 e p(200) = 3.972.999.029.388. Vamos es- crever pk(n) para indicar o número de partições com k parcelas de um número inteiro positivo n. Por exemplo, p2(4) = 2 e p3(4) = 1. É fácil ver que k n kp n p n � � � � � � � 0 Funções geradoras e partição de um inteiro 125 Observamos que uma partição de um número inteiro define uma sequência nu- mérica. A partição p = {3, 2, 2, 1} do número n = 8, por exemplo, define a sequência numérica (3, 2, 2, 1). Vamos então relacionar partições de um inteiro e a função geradora de uma sequência numérica. Teorema Seja n um número inteiro positivo e p(n) o número de partições de n, a função geradora para p(n) é: n n k k p x x x� � � �� � � �1 1 1 1 � � Onde p(0) = 1. Demonstração Sabemos que 1 1 1 2 3 � � � � � �� x x x x , 1 1 1 2 2 4 6 � � � � � �� x x x x , 1 1 1 2 3 � � � � � �� x x x x m m m m Portanto, k kx x x x x x x � � � � � � � � ��� � � � � � �� ��1 2 3 2 4 61 1 1 1 � Assim, notamos que os coeficientes do termo xn derivam de um termo xb1 da primeira série, de x b2 2 da segunda, e assim por diante, com bi ≥ 0 para todo i. Pela regra da potenciação, temos que b1 + 2b2 + 3b3 +… + mbm = m Cada bi deve ser visto como o número de i’s que aparecem na partição de n, ou seja, podemos escrever n como N = (1 + 1 + ... + 1) + (2 + 2 + ... + 2) + ... + (m + m + ... + m) onde temos b1 1’s no primeiro parêntese, b2 2’s no segundo e bm m’s no m-ésimo parêntese. Assim, cada partição de um n contribui em uma unidade para o coefi- ciente de xn. Portanto, k kx x x x � � x x x � � � � � � � �� � � � � � � �� � � � � � �� ��1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 21 1 1 1 � Ou seja, a função geradora para as partições de n, em que nenhuma parte su- pera m, é dado por k m kx� � �1 1 1 126 Matemática Discreta 7.6 Gráfico de uma partição Vídeo Seja n um número inteiro positivo, o gráfico de uma partição de n é representado por meio de um conjunto de n pontos no plano, onde em cada linha inserimos em or- dem decrescente o número de pontos correspondentes a cada uma de suas partes. Σxemρlo 15 Construa o gráfico para a partição {3, 2, 1, 1} do número 7. Por definição, temos que a primeira linha do gráfico possui três pontos, a se- gunda linha possui dois pontos e as duas últimas linhas possuem um ponto cada. Portanto, o gráfico da partição {3, 2, 1, 1} é dado por: Note que ao invertemos as linhas e as colunas do gráfico de uma partição de um número inteiro n, obtemos o gráfico de outra partição de n. Isso nos leva à seguinte definição: Definição Dado um número inteiro positivo n e uma partição p de n, a partição conjugada de p é a partição p de n, obtida pela inversão das linhas e colunas do gráfico de p. Vejamos um exemplo: Σxemρlo 16 Determine a partição conjugada da partição p = {4, 2, 1} do número 7. Temos, por definição, que o gráfico da partição {4, 2, 1} é dado por Funções geradoras e partição de um inteiro 127 Se invertemos as linhas e colunas, vamos obter o seguinte gráfico: que corresponde à partição {3, 2, 1, 1}, ou seja, p = {3, 2, 1, 1}. Definição Dado um número inteiro positivo n e uma partição p de n, a partição conjugada de p é chamada de autoconjugada se p = p. Se considerarmos, por exemplo, a partição p = {3, 2, 1} de n = 6: temos que p = p . CONSIDERAÇÕESFINAIS Neste capítulo você aprendeu a relacionar sequências numéricas com funções geradoras, a função geradora polinomial e a função geradora exponencial, além de conceitos fundamentais de teoria de conjuntos, as diferentes formas de descrevê- -los e como relacioná-los com objetos da vida real. Aprendeu a realizar várias operações básicas entre as funções geradoras e como essas operações são traduzidas em termos de sequências numéricas, além de construir partições de um número inteiro não negativo e relacionar partições de um inteiro e funções geradoras. Por fim, aprendeu como podemos resolver problemas de contagem por meio de funções geradoras. ATIVIDADES 1. Mostre que a função geradora da sequência (1, -1, 1, -1, ...) é G x � �x x � �x � x � � � � � � � � � 1 1 1 ² ³ ... 2. Encontre o coeficiente de x³ no desenvolvimento binomial de 1 1 2�� �x . 3. Encontre a sequência gerada pela função geradora ordinária f x x x � � � �� � 2 1 2 2 128 Matemática Discreta REFERÊNCIAS GERSTING, J. L. Fundamentos Matemáticos para Ciência da Computação 4 ed. São Paulo: LTC, 2001. GRIMALDI, R. P. Discrete and combinatorial mathematics: an applied introduction. 5 ed. Boston: Addison- Wesley, 2004. ROSEN, K. H. Matemática discreta e suas aplicações. 6 ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. Gabarito 129 GABARITO 1 Fundamentos de lógica matemática e métodos de demonstração 1. a) Teorema Se a é um número inteiro par e b é um número inteiro ímpar, então a soma a + b é um número inteiro ímpar. Demonstração Seja a um número inteiro par e b um número inteiro ímpar, pela definição de número inteiro par, sabemos que a = 2k e, pela definição de número inteiro ímpar, b = 2t + 1. Logo, a soma a + b é a + b = 2k + (2t + 1) = 2(k + t) + 1 = 2t1 + 1, ou seja, a + b = 2t1 + 1, onde t1 = k + t. Isso mostra que a + b tem a forma de um número inteiro ímpar. Podemos, assim, concluir que a + b é um número inteiro ímpar. b) Teorema Se a é um número inteiro par e b um número inteiro ímpar, então o produto ab é um número par. Demonstração Seja a um número inteiro par e b um número inteiro ímpar, pela definição de número inteiro par, sabemos que a = 2k e, pela definição de número inteiro ímpar, b = 2t + 1. Logo, o produto ab é ab = (2k)(2t + 1) = 2k2t + 2k = 2(2kt + k), ou seja, ab = 2k1, onde k1 = 2kt + k. Isso mostra que ab tem a forma de um número inteiro par. Podemos, assim, concluir que ab é um número inteiro par. 2. Teorema Se a é um número natural e a² é ímpar, então a é um número ímpar. Demonstração Nossa proposição é “p: a² é ímpar → q: a é ímpar”. Vamos demonstrar que a proposição equivalente “~q: a é par → ~p: a² é par” é verdadeira. Com efeito, se a é par existe k natural tal que a = 2k. Logo, a² = (2k)² = 4k² = 2(2k²) = 2k2, onde k2 = 2k², ou seja, a² é um número par, provando que a contrapositiva do teorema é verdadeira. Podemos, então, concluir que o teorema é verdadeiro. 3. Teorema Se a é um número inteiro par e b é um número inteiro ímpar, então a soma a + b é um número inteiro ímpar. 130 Matemática Discreta Demonstração Nossa hipótese é “p: a é um número inteiro par e b é um número inteiro ímpar” e nossa tese é “q: a + b é um número inteiro ímpar”. Vamos então negar q, isto é, “∼q: a + b é um número par”. Suponha, então, que a = 2k1, b = 2t + 1 e a + b é um número par. Digamos que a + b = 2k2, onde, por um lado, a + b = 2k1 + (2t + 1) e, por outro lado, a + b = 2k2. Daí, 2k1 + (2t + 1) = 2k2 ⇒ 2(-k1 - t + k2) = 1. Isso nos diz que 1 é um número par, obviamente uma contradição, de onde devemos ter que a + b é um número ímpar. 4. Teorema Se n é um número natural, 1² + 3² + 5² + ... + (2n - 1)² = n 2n�-�1 2n�+�1 3 � �� � . Demonstração Vamos, inicialmente, mostrar que o resultado é válido para n = 1. Se n = 1 temos que 1² = 1 2(1) -1) 2(1)�+�1 3 =1(1)(3) 3 = 3 3 � � � � = 1, provando que o teorema é válido no caso n = 1. Assumindo que o teorema é válido para n = k, ou seja, assumindo que 1² + 3² + 5² + ... + (2k - 1)² = k 2k�-�1 2k�+�1 3 � �� � , Vamos mostrar que o teorema é válido para n = k + 1, ou seja, mostraremos que 1² + 3² + 5² + ... + (2k + 1)² = k�+�1 2k�+�1 2k�+�3 3 � �� �� � . De fato, 1² + 3² + 5² + ... + (2k - 1)² + (2k + 1)² = k 2k�-�1 2k�+�1 3 � �� � + (2k + 1)² ����������������������������������������������������������������������= 2k+1 k 2k-1 +3 2k+1 3 � � � � � ��� �� �= 3 (2k +1)(2k +5k +3)2 �= k+1 2k+1 2k+3 . 6 � �� �� � Provando, assim, que 1² + 2² + 3² + ... + (k + 1)² �= k+1 2k+1 2k+3 . 6 � �� �� � Desse modo, podemos concluir que o teorema é válido. 2 Teoria de conjuntos 1. Demonstração Seja x ∈ A∩B, significa que (x ∈ A e x ∈ B), que pode ser lido como (x ∈ B e x ∈ A). Isso significa que x ∈ B∩A, ou seja, A∩B ⊂ B∩A. De modo análogo, temos que B∩A ⊂ A∩B e podemos concluir que A∩B = B∩A. Gabarito 131 2. Demonstração Para provar essa propriedade, utilizaremos as leis distributivas da lógica matemática. Seja: x ∈ A∪(B∩C) ↔ x ∈ A ou x ∈ B∩C ↔ x ∈ A ou (x ∈ B e x ∈ C) ↔ (x ∈ A ou x ∈ B) e (x ∈ A ou x ∈ C) ↔ x ∈ A∪B e x ∈ A∪C ↔ x ∈ (A∪B)∩(A∪C) Provando que A∪(B∩C) = (A∪B)∩(A∪C). 3. Demonstração Seja: x ∈ (A∪B)C ↔ x ∉ A∪B ↔ ~(x ∈ A∪B) ↔ ~(x ∈ A ou x ∈ B) ↔ ~(x ∈ A) e ~(x ∈ B) ↔ x ∉ A e x ∉ B ↔ x ∈ AC e x ∈ BC ↔ x ∈ AC∩BC. Provando que (A∪B)C = AC∩BC. 4. Demonstração Temos que: x ∈ A\B ↔ x ∈ A e x ∉ B ↔ x ∉ AC e x ∈ BC ↔ x ∈ BC e x ∉ AC ↔ x ∈ BC\AC. Provando que A\B = BC\AC. 3 Conjuntos numéricos 1. Demonstração Suponha que a, b > 0 e a | b, ou seja, b = ak com k ∈ . Como a e b são positivos, temos que k ≥ 1. Multiplicando por a > 0, temos que ak ≥ a, ou seja, a ≤ b. 2. Demonstração Note que: p q + r s + c d = sp+qr qs + c d = d sp+qr +qsc qsd = dsp+dqr+qsc qsd � � � � � � � � Por outro lado, p q + r s + c d = p q + dr�+�sc sd = sdp�+�q dr�+�sc qsd = dsp�� � � � � � � � � � � � � � ++�dqr�+�qsc qsd Ou seja, p q + r s + c d = p q + r s + c d � � � � � � � � � � � � . 132 Matemática Discreta 3. Demonstração Se a ≡ b mod m e c ≡ d mod m, então, por definição, existem k1, k2 ∈ , tais que a - b = mk1 e c - d = mk2, em que a - b + c - d = mk1 + mk2, ou seja, (a + c) - (b + d) = m(k1 + k2). Isso significa que a + c ≡ b + d mod m. 4. Demonstração Temos que a é par se, e somente se, existe k ∈ , tal que a = 2k, e isso ocorre se, e somente se, a - 0 = 2k, ou seja, se, e somente se, a ≡ 0 mod 2. Analogamente, temos que a é ímpar se, e somente se, existe k ∈ , tal que a = 2k + 1, e isso ocorre se, e somente se, a - 1 = 2k, ou seja, se, e somente se, a ≡ 1 mod 2. 4 Relações 1. Demonstração Sabendo que A ⊂ B, queremos provar que A x C ⊂ B x C. Para isso, precisamos mostrar que se (x, y) ∈ A x C, então (x, y) ∈ B x C. Seja então (x, y) ∈ A x C, pela definição de produto cartesiano, temos x ∈ A e y ∈ C. Como A ⊂ B, temos que x ∈ B, ou seja, x ∈ B e y ∈ C, provando que (x, y) ∈ B x C. Portanto, A x C ⊂ B x C. 2. Demonstração Temos que: (x, y) ∈ (A∩B) x C ↔ x ∈ (A∩B) e y ∈ C ↔ (x ∈ A e x ∈ B) e y ∈ C ↔ (x ∈ A e y ∈ C) e (x ∈ B e y ∈ C) ↔ (x, y) ∈ A x C e (x, y) ∈ B x C ↔ (x, y) ∈ (A x C)∩(B x C) Portanto, (A∩B) x C = (A x C)∩(B x C). 3. Demonstração Pela definição de A, temos que A = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7}. Sendo assim: � � �� � � � � � � � � � � � �{ , | }x �y A A �x y 9 2,�7 ,� 3,�6 ,� 4,�5 ,� 5,�4 ,� 6,�3�� � � �� �,� 7,�2 Onde, Dom 2,�3,�4,�5,�6,�7� � � � � e Im = 2,�3,�4,�5,�6,�7� � � � . Observamos também que � �1 . Sendo assim, Dom Dom �� � � � �1 e Im Im �� � � � �1 . 4. Demonstração Para verificar que � � � �{ x �y |x y�mod�m, } é uma relação de equivalência, vamos demonstrar que essa relação é reflexiva, simétrica e transitiva. É reflexiva: note que, para todo x ∈ ℤ, temos x – x = 0 · m, ou seja, x ≡ x mod m. É simétrica: suponha que x ≡ y mod m. Então, existe k ∈ ℤ, tal que x – y = km. → y – x = (-k) m → y ≡ x mod m. Gabarito 133 É transitiva:suponha que x ≡ y mod m e y ≡ z mod m. Assim, existem k1, k2 ∈ ℤ, tal que x – y = k1m e y – z = k2m. Então, temos que: → (x – y) + (y – z) = k1m + k2m → x – z = (k1 + k2)m Com k1 + k2 ∈ ℤ. Assim, x ≡ z mod m. 5 Funções discretas 1. Demonstração Seja y ∈ f(A∩B), existe x ∈ A∩B tal que f(x) = y. Então, x ∈ A e, portanto, y ∈ f(A). Também, x ∈ B e, portanto, y ∈ f(B). Logo, y ∈ f(A)∩f(B). Provando que f(A∩B) ⊂ f(A)∩f(B). 2. Demonstração Temos que: x ∈ f–1(A∪B) ↔ f(x) ∈ A∪B ↔ f(x) ∈ A ou f(x) ∈ B ↔ x ∈ f–1(A) ou x ∈ f–1(B) ↔ x ∈ f–1(A)∪f–1(B) Provando que f–1(A∪B) = f–1(A)∪f–1(B). 3. Demonstração Suponhamos que existem x1, x2 ∈ ℕ tais que f(x1) = f(x2). Vamos mostrar que x1 = x2. De fato, se f(x1) = f(x2), então 4x1 + 7 = 4x2 + 7, onde 4x1 = 4x2 e, assim, x1 = x2, onde f é injetora. 4. Demonstração Basta escolhermos x1 = 1 e x2 = -1 e teremos f(x1) = f(x2) com x1 ≠ x2, ou seja, f não é injetora. 5. Demonstração Para todo y ∈ ℕ, temos que, se x y�-�7 4 = , então: f x = f y�-�7 4 = 4 y�-�7 4 + 7 = y - 7 + 7 = y� � � � � � � � � � � � � � � � Onde f é sobrejetora. Se o domínio fosse o conjunto dos números naturais, então f não seria sobrejetora. 134 Matemática Discreta 6 Análise combinatória 1. Considerando M = {M1, M2, …, M10} o conjunto das mulheres e Fi = {Fi1, Fi2, Fi3} o conjunto dos filhos da mulher i, como não importa o laço de maternidade entre eles, temos que existem 10 possibilidades para escolher a mulher e 3 possibilidades para escolher o filho. Sendo assim, no total temos T = |M| · |F| = 10 · 30 = 300 maneiras diferentes para realizar nossa escolha. 2. Considerando M = {Livros de Matemática}, Q = {Livros que Química}, H = {Livros de História}, L = {Livro de Literatura}, temos que existem 4! maneiras de organizar os livros de Matemática, 3! maneiras de organizar os livros de Química, 2! maneiras de organizar os livros de História e 1! maneira de organizar os livros de Literatura. Sendo assim, existem 4! · 3! · 2! · 1! = 288 modos de organizar os livros na seguinte ordem: MQHL. No entanto, a ordem em que os livros estão organizados pode ser diferente (por exemplo, QMHL), e sabemos que existem 4! maneiras diferentes de escolher a ordem de organização dos livros por tema. Sendo assim, o número total de arranjos em que podemos organizar os livros é 288 · 4! = 6.912. 3. Fazendo n1 = 4, n2 = 2, n3 = 3 e n = 9, temos que n1 + n2 + n3 = n, pois 4 + 2 + 3 = 9, e estamos interessados em encontrar n n ,�n ,�n �=� 9 4,�2,�3 �=� 9! 4!�·�3!�·�2! �=�1. 1 2 3 � � �� � � �� � � � � � � 2260 pelo teorema multinomial. Portanto, existem 1.260 formas possíveis nessas configurações. 4. Basta escolhermos 3 pessoas entre as 12 disponíveis. Não estamos preocupados com a ordem da escolha, mas sim com quais pessoas serão escolhidas. O número de maneiras de fazer isso é: C = 12 3 = 12! 3! 12-3 ! =12�·�11�·�10�·�9! 3!�·�9! =12�·�12 3 � � � � � � � � 111�·�10 3 =220 Portanto, existem 220 modos diferentes para escolher as 3 pessoas. 7 Funções geradoras e partição de um inteiro 1. Sabemos que (1, 1, 1, 1, ...) ↔ 1+�x+x +�x +�...= 1 1�-�x 2 3 Substituindo x por -x nos dois lados da igualdade, temos que 1+ -x + -x +� -x +�...= 1 1- -x 2 3� � � � � � � � Ou seja, 1-�x+x -x +�...= 1 1+x 2 3 Provando que a função geradora de (1, -1, 1, -1, ...) é G x = 1 1+x � � 2. Utilizando o teorema binomial, temos: 1+x = 1 2 p x = 1 2 · 1 2 -1 ·&�· 1 2 -p+11 2 p=0 ¥ p p=0 ¥ å å� � � � � �� � � � �� � � � � � � � �� � � � � p! x ,p Gabarito 135 Logo, o coeficiente de x3 é 1 2 1 2 -1 1 2 -3+1 3! = 1 16 � � � � � � � � � � � � 3. Sabemos que 1 1-x =1+�x+x +�x +&�2 3 Substituindo x por 2x nos dois lados da igualdade, temos que 1 1-2x =1+�2x+4x +�8x +16x +�...2 3 4 Multiplicando os dois lados por 2x², tem-se 2x 1-2x =2x +�4x +8x +�16x +32x +�& 2 2 3 4 5 6 Logo, f(x) é a função geradora da sequência (0, 0, 2, 4, 8, 16, 32, …). WELINGTON SANTOS MATEMÁTICA DISCRETA Código Logístico 59915 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-65-5821-012-2 9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 1 2 2