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Teoria da História Material Teórico Leitura Crítica e Análise de Documentos Responsáveis pelo Conteúdo: Profa. Dra. Ana Bárbara Pederiva e Profa. Paula Regina La Rosa Veiga Revisão Textual: Profa. Esp. Márcia Ota 5 • O conhecimento histórico • A história e o historiador • Concepções de tempo na história • Leitura crítica de documentos históricos · Estudaremos a Leitura crítica e Análise de Documentos/fontes históricas. Discutiremos sobre sua importância no desenvolvimento da pesquisa histórica. Além disso, pedimos atenção especial aos materiais complementares da unidade. Olá, nesta unidade, estudaremos leitura e análise crítica de documentos. Por isso, é importante que você leia, atentamente, o material teórico. Além disso, procure ler os livros indicados e os sites sugeridos na seção material complementar. Procure se aprofundar no tema, realizando pesquisas sobre assuntos que tenham despertado sua curiosidade na unidade. Sendo assim, realize as atividades propostas com seriedade. Fique atento aos prazos da unidade. Responda às questões e participe de todas as atividades propostas. Bons estudos! Leitura Crítica e Análise de Documentos 6 Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos Contextualização Como sabemos, as fontes são a matéria prima do historiador. Entretanto, a grande variedade de possibilidades no tocante à escolha de fontes /objetos, pode trazer problemas para o pesquisador. É importante que o historiador utilize da técnicas e análises adequadas ao trabalhar com o documento/fonte. Nesta unidade, iremos nos aprofundar um pouco mais nessa questão: leitura crítica e análise de documentos. Com isso, será possível perceber a importância de dar às fontes o tratamento adequado para que delas se extraiam o maior e mais confiável número de informações possíveis. 7 O conhecimento histórico A História nasce, assim como várias ciências, inicialmente, unida à Filosofia. No século VI antes de Cristo (a.C), Heródoto de Halicarnasso estuda a guerra entre os Gregos e Persas. Posteriormente, Tucídides, historiador grego (V-IV a.C.), estuda as guerras do Peloponeso entre Esparta e Atenas. Esses primeiros historiadores preocupavam-se com a realidade imediata e realizavam narrações e descrições cronológicas, destacando diversos fatores: costumes, economia, clima, política, entre outros. Os historiadores desse período, tentavam afastar-se das explicações “sobrenaturais”, míticas para os acontecimentos sociais. Durante a Idade Média, notamos uma História com visão religiosa e pouco crítica. A visão religiosa/teológica da História, com forte influência do cristianismo, define a cronologia do passado, ou seja, pensando no acontecimento principal para os cristãos, a chegada do filho de Deus à terra, a cronologia passa a ser definida da seguinte forma: antes de Cristo - a.C. e depois de Cristo - d.C. Nesse momento, a História volta às explicações “sobrenaturais”, míticas dos fenômenos. Mas, na transição da Idade Média para a Idade Moderna, a História começa a ganhar maior criticidade, por influência dos filósofos Iluministas e a preponderância da “razão” (racionalismo) e do empirismo nas análises e interpretações. No século XIX, a preocupação nacionalista e a chamada História Política ganham destaque com os chamados Historiadores Positivistas. Para conhecer mais sobre a História Positivista, leia “Discurso Preliminar sobre o Espírito Positivo”, de Augusto Comte. Disponível em: http://goo.gl/N5qheH Acesso em: 15/11/2014. Ainda nesse período, alguns historiadores alemães, da Escola Científica Alemã querem que a história se torne uma ciência segura e exata, bem como utilize uma análise críticas das fontes/documentos. Para conhecer a Escola Científica Alemã e seu principal expoente Leopold Von Ranke, leia “O Atual e o Inatual na Obra de Leopold Von Ranke” de Sérgio Buarque de Holanda. Disponível em: http://goo.gl/W4tjlz Acesso em: 15/11/2014. O século XIX ainda trouxe para a Área de História as novas concepções filosóficas/históricas de mundo elaboradas por Karl Marx e Friedrich Engels. O conhecido “marxismo” interpreta a vida social conforme a dinâmica da luta de classes e pensa a transformação das sociedades de acordo com as leis do seu desenvolvimento histórico, de seu sistema produtivo. O chamado materialismo histórico propõe que não são as ideias que irão transformar a sociedade e, sim, as condições materiais e as relações entre os homens, pois cada sociedade traz dentro de si o princípio de sua própria contradição, gerando a transformação constante da história (dialética). 8 Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos Para saber mais sobre o marxismo, acesse a revista “Marx e o Marxismo” e leia os diversos artigos. Disponível em: http://www.marxeomarxismo.uff.br/index.php/MM. Acesso em: 15/11/2014. Já no século XX, continuando com o frenesi do XIX, muitas foram as escolas/correntes que se destacaram na área de História. A Escola dos Annales e suas gerações e ramificações (Nova História, História das Mentalidades, História Cultural etc.) trouxeram uma “revolução” para a Historiografia, pois seus pensadores/pesquisadores buscavam novos objetos de estudo, novas fontes/documentos para o estudo da História e, consequentemente, destacavam a importância da interdisciplinaridade para a pesquisa histórica. A chamada “História Problema” ganha muitos adeptos e opõe-se aos paradigmas mais tradicionais da História. Para saber mais sobre a Escola dos Annales e a Nova História, leia “Tendências e Debates: da Escola dos Annales à História Nova” de Júlia Silveira Matos. Disponível em: http://www.seer.furg.br/hist/article/view/2283. Acesso em: 15/11/2014. Após essa breve retrospectiva, podemos perceber que o conhecimento histórico proporciona diferentes análises, abordagens e perspectivas. No entanto, devemos sempre lembrar que o objetivo da História é analisar os homens no tempo e no espaço, mas não podemos perder de vista que a análise da História é feita por homens (historiadores) e, portanto, é repleta de ideologias, visões de mundo, subjetividades, apesar da constante busca da “neutralidade”, “distanciamento” e “objetividade”. Nesse sentido, perguntas importantes surgem: Como o historiador deve trabalhar? Quais são as fontes/documentos de análise? Como interpretá-las? É possível a neutralidade científica? O historiador pode posicionar-se quando da análise das fontes? http://www.marxeomarxismo.uff.br/index.php/MM 9 A História e o Historiador As fontes históricas/documentos (manuscritos, audiovisuais, musicais etc.) devem ser analisadas pelos historiadores não como reflexo do social, mas como parte constitutiva, integrante desse, que revelaram tensões, avaliações, problemas e propostas. Desse modo, o diálogo com as evidências apresentadas pelas fontes de pesquisa/documentos deve ser realizado, utilizando contribuições de várias disciplinas e, ainda, devemos sempre lembrar que é fundamental perguntar, questionar, interrogar os documentos, pois ao contrário do que pensavam os positivistas, o documento não é prova da verdade histórica e, sim, contém intencionalidades, ideologias, visões de mundo, manipulações, esquecimentos (propositais ou não) etc. Ao mesmo tempo, cabe ressaltar que o “objeto” científico envolve quem o estuda e o recria. Portanto, o conhecimento histórico é o registro e a compreensão da realidade histórica e é historicamente produzido a partir do presente do historiador. O historiador, assim como ressaltou Carlo Ginzburg em “Sinais: raízes de um paradigma indiciário” na obra Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história (ver as Referências desta unidade), possui uma função “detetivesca” durante a investigação histórica. Ao mesmo tempo, não se pode esquecer que sua análise deve ser crítica ao abordar as fontes históricas/documentos, e, ainda, ser persistente na coleta dos mesmos, pois se depara, na maior parte das vezes, com dificuldades de acesso aos acervosdocumentais por diferentes motivos: documentos de propriedade particular, documentos deteriorados, documentos em localidades distantes, documentos não digitalizados etc. iSt oc k/ Ge tty Im ag es Th ink sto ck /G et ty Im ag es 10 Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos Na contemporaneidade, podemos afirmar que os historiadores utilizam em suas pesquisas diferentes tipos de fontes, tais como: • Documentos oficiais; • Jornais e revistas; • Mapas; • Diários; • Cartas; • Selos; • Moedas; • Pinturas; • Artefatos arqueológicos; • Livros de receitas; • Músicas; • Fotografias; • Literatura etc. Mas, para a utilização e análise destas fontes na pesquisa, é de fundamental importância o apoio das outras ciências, que deve ser compreendido já na graduação. A formação do historiador nos fundamentos epistemológicos deve ser acompanhada de uma formação prática (pesquisa). Ao mesmo tempo, não pode deixar de compreender as diferentes concepções de tempo ao longo da história. Assim como deve compreender como ocorreu a construção dos conceitos e categorias de análise. Sintetizando, o historiador precisa evitar sempre o “anacronismo”. Deve sempre lembrar que é necessário estudar o passado para compreender o presente, fortalecer os acertos e não cometer os mesmos erros. A função da História e dos historiadores é auxiliar na construção da consciência crítica e levar às reflexões sobre política, economia, cultura etc., pois os indivíduos (sujeitos históricos) precisam compreender sua história e sua função no contexto mais amplo da sociedade, para, efetivamente, exercer sua cidadania, seus direitos e deveres, e a partir daí, auxiliar nas transformações necessárias para todas as sociedades, ou seja, participar do destino das sociedades e contribuir para sua melhoria. A compreensão da História, portanto, tira os homens da passividade, da subserviência, da acomodação, perante os acontecimentos. Assim, entende-se que a História deve ser ensinada e compreendida, envolvendo práticas sociais concretas, pois é fundamental para a formação dos sujeitos. O estudo da História leva à consciência da diversidade e, consequentemente, ao respeito às diferenças, às lutas contra os preconceitos, à compreensão das culturas, identidades e tradições ao longo dos tempos. 11 Concepções de tempo na história Se a História e os historiadores precisam compreender as diversidades ao longo dos tempos, ou seja, em diferentes contextos históricos, devem lembrar que os conceitos, concepções e categorias são construções e, muitas vezes, datadas. Por exemplo, quando pensamos sobre o tempo e como defini-lo em diferentes contextos históricos, muitas vezes, não imaginamos as diferentes conceituações que iremos nos deparar. Diálogo com o Autor “Tamanha é a riqueza das experiências e das interpretações do tempo através do curso da história que se acaba sucumbindo à impressão de que qualquer intento de atribuir-lhe uma definição que se pretendesse exaustiva revelar-se-ia precária e antecipadamente anacrônica. São raros os conceitos que podem ostentar uma prodigalidade tão grande de abordagens, todas como que a mostrar a inesgotabilidade do tema.” (BORNHEIM, Gerd. A Invenção do Novo. In: NOVAES, Adauto. (org.) Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 103.) Quando pensamos nas várias concepções de tempo, deparamo-nos, portanto, com os “tempos” da intimidade, natural, profissional, sobrenatural, mecanizado, mensurável, descontínuo, do pecado, cristão, profano, do capitalismo, cíclico, entre vários outros. Portanto, ao analisar um determinado contexto histórico, o pesquisador deve, além de outros elementos, ficar atento para sua importância na vida da sociedade. As reflexões sobre o tempo dramatizam-se na metade do século XIV, pois já naquele momento, perder tempo torna-se um pecado grave, um escândalo espiritual. Segundo o modelo do dinheiro, por imitação do mercador que, pelo menos na Itália, se torna um contabilista do tempo, desenvolve-se uma moral calculadora, uma piedade avara. Um dos mais significativos propagandistas da nova espiritualidade é o pregador em voga no princípio do século XIV, o Dominicano de Pisa, Domenico Cavalca, falecido em 1342. Na sua Disciplina degli Spirituali dedica dois capítulos à perda de tempo e ao dever de conservá-lo e de medi-lo (...) o tempo é já dinheiro (...) o preguiçoso que perde o seu tempo e não o mede é semelhante aos animais, não merece ser considerado um homem (...) Nasce assim um humanismo à base do tempo bem calculado. (LE GOFF, Jacques. O Tempo de Trabalho na Crise do Século XIV: do tempo medieval ao tempo moderno. In: Para um Novo Conceito de Idade Média. Lisboa: Editorial Estampa/ Imprensa Universitária, 1980. p. 71.) iSt oc k/ Ge tty Im ag es 12 Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos A mudança no modo de encarar o tempo, portanto, afetou a disciplina do trabalho do mercador e posteriormente, “[...] a transição para uma sociedade industrial desenvolvida exigiu uma severa reestruturação dos hábitos de trabalho [...]”. (THOMPSON, E. P. O Tempo, a Disciplina do Trabalho e o Capitalismo Industrial. In: Sociologia da Educação. p. 109.) Tais experiências com a modernidade foram alteradas. O ritmo da sociedade mudou, tornou-se mais acelerado. Com isso, surgiram novas subjetividades e sensibilidades. A rapidez, a velocidade e a novidade passaram a ser valorizadas. Os gostos, os costumes, as formas de se expressar, a vestimenta e a alimentação, ou seja, os estilos de vida foram se modificando, isto é, o conjunto de práticas que o indivíduo abraça, que dão forma material para narrativas particulares, transformaram-se. Surge a ideia de que somente nas grandes metrópoles há privacidade, é a chamada “solidão na multidão”, pois as relações pessoais tornaram-se cada vez mais abstratas e o meio de trabalho passou a ser fundamental na adoção de um estilo de vida, na sua definição. Mas essas transformações que ocorreram, inicialmente, em parte da Europa chegaram no mesmo período à África? À América? Perceba que se as concepções de tempo são variadas, devemos lembrar, também, que, em diferentes contextos históricos, o tempo possui diferentes significações, portanto, cabe ao historiador compreender essas construções. Mas como fazer isso? Como saber, por exemplo, como o tempo era concebido? Como saber se a sociedade analisada era de classes? Como saber se a religião influenciava mais na política ou menos? Para essas respostas, o historiador deve ir aos documentos/fontes. 13 Leitura crítica de documentos históricos Uma das perguntas que mais os historiadores se deparam quando apresentam os resultados de suas pesquisas é: como você chegou a essas conclusões? Nesse momento, é de fundamental importância que o pesquisador saiba explicar quais foram os métodos e técnicas de análise utilizadas, quais foram as fontes utilizadas e como a análise foi realizada. A partir daí, muitos pesquisadores concordam com suas conclusões, outros discordam e isso é, extremamente, positivo, pois as ciências são feitas de embates, de pensar e repensar constantes. Se não fosse assim, seria dogma, doutrina e não ciência. Portanto, não existe “verdade absoluta” na História e em nenhuma outra ciência, e, sim, “verdades”, interpretações. Fonte: iStock/Getty Images Assim, se para o historiador as informações sobre o passado são conseguidas por intermédio das fontes, surge a pergunta: como analisar uma fonte histórica? A resposta é simples: não existe receita mágica! Para cada tipo de fonte/documento, precisamos observar suas características e especificidades. Devemos ter consciência dos objetivos da nossa pesquisa e da nossa problematização, ou seja, dos problemas que queremos responder, das hipóteses que queremos comprovar, para saber o que perguntar ao documento, para que ele nos traga pistas, sinais, respostas. Infelizmente, o debate metodológico sobre o uso de fontesainda é incipiente na historiografia brasileira. Mesmo assim, devemos sempre lembrar que as fontes primárias de pesquisa são ao mesmo tempo representação da realidade (construída socialmente por um ator, grupo social ou instituição) e evidência (de um processo ou evento ocorrido). Th ink sto ck /G et ty Im ag es 14 Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos As fontes primárias de pesquisa são carregadas de intencionalidade, ideologias, visões de mundo e parcialidade. Portanto, devemos desvendar, não somente, o que foi dito, claramente, nos documentos variados, mas também tentar desvendar o que não foi dito, ou seja, ler nas entrelinhas, pois os documentos podem ser, facilmente, utilizados como forma de manipulação em um determinado contexto histórico, por interesses políticos, econômicos etc. Para saber mais sobre a manipulação na História, leia: FERRO, Marc. A Manipulação da História no Ensino e nos Meios de Comunicação. São Paulo: IBRASA. 1983. Como vimos, as diferentes fontes/documentos devem ser analisadas de acordo com suas particularidades e ainda, de acordo com os objetivos e problemas da pesquisa. Mas algumas perguntas nunca podem faltar quando iniciamos a análise documental: • Quando o documento foi produzido? • Onde o documento foi produzido? • Por que ele foi produzido? Qual sua finalidade? • Por quem o documento foi produzido? • A quem ele era direcionado? • Como ele foi utilizado? • Quais suas ideias principais? A partir destas perguntas básicas que fazemos a qualquer fonte documental, podemos acrescentar outras questões que nos auxiliarão a “interrogar” o documento, para que ele nos traga respostas sobre nosso objeto de estudo. Por exemplo, quando analisamos um jornal como fonte/documento histórico, algumas outras perguntas não podem faltar, tais como: • Quem são os seus proprietários? • Quais seus objetivos e intenções? • Como se constituiu como força ativa no período de circulação? • Qual a vendagem / tiragem / distribuição? • Quais seus aliados e opositores? • Quais são seus patrocinadores? • Quem são seus articulistas? • Quais são seus cadernos? • Como é seu projeto gráfico? • Qual sua periodicidade? Outro exemplo é quando utilizamos fontes audiovisuais e/ou musicais como documento/ fonte (cinema, televisão, fotografia, música etc.). Por muito tempo, elas eram utilizadas nos trabalhos como mera ilustração ou como registro mecânico da realidade, mas, desde a década de 80, do século XX, no Brasil, essa concepção vem sendo modificada, ou seja, elas são tão importantes, quanto qualquer outro documento e, portanto, devem ser analisadas com a mesma seriedade e criticidade. 15 É claro que nesses casos há a necessidade de conhecimento por parte do historiador, da linguagem técnico-estética das fontes e das representações da realidade histórica ou social nela contidas, para além do seu conteúdo narrativo. Outra fonte que vem sendo utilizada, com muita frequência, pelos historiadores são os depoimentos orais (História Oral). O resgate de depoimentos orais permite explorar a vida cotidiana e privada de pessoas de um determinado grupo social, tornando possível ao pesquisador estabelecer uma relação entre a história, as trajetórias, a cultura e as experiências. Entende-se, portanto, que a grande diferença entre um texto escrito e um testemunho oral é que com o texto escrito, o pesquisador faz a documentação falar e com o documento oral, ele torna-se responsável, também, por elaborar a documentação e, não somente, analisar. Nesse sentido, com a Documentação Oral, realizamos a conservação do conhecimento e da experiência pelas fitas de gravação, em que a preocupação com o homem, suas ideias e palavras são fundamentais para tentar se compreender o curso de suas ações ao longo do tempo. A riqueza da Documentação Oral, por seu caráter pouco formal, encontra-se na facilidade para obtenção de dados mais espontâneos. De modo diverso da documentação escrita, o empenho realizado pelo narrador, para interpretar dentro do contexto emocional e racional suas experiências, pode ser detectado. Para saber mais sobre as técnicas da História Oral, leia “História Oral: possibilidades e procedimentos” de Sonia Maria Freitas. Disponível em: http://goo.gl/yEivNL. Acesso em: 15/11/2014. Desse modo, o significado que cada narrador deu aos eventos demonstra ainda que um participante daquele momento pensou no passado daquela maneira e, embora cada testemunho em particular interesse ao pesquisador, o conjunto deles ofereceu um leque de visões particulares, podendo guiar-nos rumo ao procurado. Podemos ainda falar sobre a fotografia como fonte de pesquisa para a área de História, pois as informações que a fotografia pode trazer sobre os sujeitos históricos, sobre locais, instituições, vestimenta, diferenças de classe social, entre outros, é muito grande. Mas, como qualquer fonte, ela deve ser pensada como possuindo um realismo aparente, uma segunda realidade, sua análise isolada só levantará uma porção de conjecturas. Diálogo com o Autor “Uma imagem fotográfica é algo eminentemente fabricado, e, essa fabricação, assenta-se sobre convenções relativas à representação: representa somente algo que se assemelha às cenas no momento em que são fotografadas.” (DARBON, S. O etnólogo e suas imagens. In: SAMAIN, E. (Org.). O fotográfico. São Paulo: Hucitec, 1998. P. 103) Poderíamos dar muitos outros exemplos de diferentes tipos de fontes. Mesmo assim, não devemos esquecer que não importa a fonte/documento que utilizaremos em nossas pesquisas, o cruzamento de informações apresentadas pelos mesmos, é fundamental, para que possamos verificar semelhanças e diferenças e tentarmos nos aproximar das “verdades” de um determinado contexto histórico. Segundo Kossoy, “quanto mais pontos comuns um documento apresentar com uma série bem homogênea de documentos análogos e já conhecidos, com mais facilidade e segurança chegaremos a sua interpretação”. (KOSSOY, B. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000. p. 53). 16 Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos Material Complementar Sites: LOPES, F. H. Fontes históricas: desafios, propostas e debates. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de (orgs.). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009, 333 p. Disponível em: http://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/viewFile/496/329. Acesso em: 15/11/2014. MATTOS, A. L. R.; DIETRICH, A. M. Fotografia, Memória e a Diversidade das Fontes Históricas. Disponível em: http://goo.gl/yBXmvU. Acesso em: 15/11/2014. http://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/viewFile/496/329 17 Referências BARTHES, R. A câmara clara. 6ª edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. BORNHEIM, Gerd. “A Invenção do Novo” In: NOVAES, Adauto. (org.) Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 103. DARBON, S. O etnólogo e suas imagens. In: SAMAIN, E. (Org.). O fotográfico. São Paulo: Hucitec, 1998. p. 101-111. DUBOIS, P. O ato fotográfico. 2ª edição, Campinas: Papirus, 1998. GINZBURG, C. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. KOSSOY, B. Fotografia e história. São Paulo: Ática, 1989. 112 p. (Série Princípios). ________ Realidades e ficções na trama fotográfica. 2ª edição, São Paulo: Ateliê Editorial, 2000. LE GOFF, Jacques. O Tempo de Trabalho na Crise do Século XIV: do tempo medieval ao tempo moderno. In: Para um Novo Conceito de Idade Média. Lisboa: Editorial Estampa/ Imprensa Universitária, 1980. Leite , M. M. e Feldman-Bianco, B (Org). Desafios da Imagem: Campinas: Papirus, 1998. _________ Retratos de família. São Paulo: EDUSP, 1993. 204 p. (Texto e Arte, v. 9). NAPOLITANO, Marcos. A História depois do papel. In: PINSKY, Carla Bassanezi. (org.) Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006. NETO, Manoel augusto Vieira. Código Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1984. RIBEIRO, João Jr. O que é positivismo?São Paulo: Brasiliense, 1982. VIEIRA, Maria P. A.; PEIXOTO, Maria R. C.; KHOURY, Yara M. A. A pesquisa em historia. São Paulo: Ática, 1995 (Série princípios, V. 159). VEYNE, P. Como se escreve a história. Brasília: Ed. Univ. de Brasília, 1998. 18 Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos Anotações
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