Buscar

teorico 5

Prévia do material em texto

Teoria da História
Material Teórico
Leitura Crítica e Análise de Documentos
Responsáveis pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Ana Bárbara Pederiva e
Profa. Paula Regina La Rosa Veiga
Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
5
• O conhecimento histórico
• A história e o historiador
• Concepções de tempo na história
• Leitura crítica de documentos históricos
 · Estudaremos a Leitura crítica e Análise de Documentos/fontes históricas. Discutiremos 
sobre sua importância no desenvolvimento da pesquisa histórica. Além disso, pedimos 
atenção especial aos materiais complementares da unidade.
Olá, nesta unidade, estudaremos leitura e análise crítica de documentos. Por isso, é 
importante que você leia, atentamente, o material teórico. Além disso, procure ler os livros 
indicados e os sites sugeridos na seção material complementar. 
Procure se aprofundar no tema, realizando pesquisas sobre assuntos que tenham despertado 
sua curiosidade na unidade.
Sendo assim, realize as atividades propostas com seriedade. Fique atento aos prazos da 
unidade. Responda às questões e participe de todas as atividades propostas.
Bons estudos!
Leitura Crítica e Análise de Documentos
6
Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos
Contextualização
Como sabemos, as fontes são a matéria prima do historiador. Entretanto, a grande 
variedade de possibilidades no tocante à escolha de fontes /objetos, pode trazer problemas 
para o pesquisador. É importante que o historiador utilize da técnicas e análises adequadas ao 
trabalhar com o documento/fonte.
Nesta unidade, iremos nos aprofundar um pouco mais nessa questão: leitura crítica e análise 
de documentos. Com isso, será possível perceber a importância de dar às fontes o tratamento 
adequado para que delas se extraiam o maior e mais confiável número de informações possíveis.
7
O conhecimento histórico
A História nasce, assim como várias ciências, inicialmente, unida à Filosofia. No século VI 
antes de Cristo (a.C), Heródoto de Halicarnasso estuda a guerra entre os Gregos e Persas. 
Posteriormente, Tucídides, historiador grego (V-IV a.C.), estuda as guerras do Peloponeso 
entre Esparta e Atenas.
Esses primeiros historiadores preocupavam-se com a realidade imediata e realizavam 
narrações e descrições cronológicas, destacando diversos fatores: costumes, economia, clima, 
política, entre outros. Os historiadores desse período, tentavam afastar-se das explicações 
“sobrenaturais”, míticas para os acontecimentos sociais.
Durante a Idade Média, notamos uma História com visão religiosa e pouco crítica. A visão 
religiosa/teológica da História, com forte influência do cristianismo, define a cronologia do 
passado, ou seja, pensando no acontecimento principal para os cristãos, a chegada do filho 
de Deus à terra, a cronologia passa a ser definida da seguinte forma: antes de Cristo - a.C. e 
depois de Cristo - d.C. 
Nesse momento, a História volta às explicações “sobrenaturais”, míticas dos fenômenos. 
Mas, na transição da Idade Média para a Idade Moderna, a História começa a ganhar maior 
criticidade, por influência dos filósofos Iluministas e a preponderância da “razão” (racionalismo) 
e do empirismo nas análises e interpretações.
No século XIX, a preocupação nacionalista e a chamada História Política ganham destaque 
com os chamados Historiadores Positivistas. 
Para conhecer mais sobre a História Positivista, leia “Discurso 
Preliminar sobre o Espírito Positivo”, de Augusto Comte. 
Disponível em: http://goo.gl/N5qheH 
Acesso em: 15/11/2014.
Ainda nesse período, alguns historiadores alemães, da Escola Científica Alemã querem 
que a história se torne uma ciência segura e exata, bem como utilize uma análise críticas das 
fontes/documentos.
Para conhecer a Escola Científica Alemã e seu principal expoente 
Leopold Von Ranke, leia “O Atual e o Inatual na Obra de 
Leopold Von Ranke” de Sérgio Buarque de Holanda. 
Disponível em: http://goo.gl/W4tjlz
Acesso em: 15/11/2014.
O século XIX ainda trouxe para a Área de História as novas concepções filosóficas/históricas 
de mundo elaboradas por Karl Marx e Friedrich Engels. O conhecido “marxismo” interpreta 
a vida social conforme a dinâmica da luta de classes e pensa a transformação das sociedades 
de acordo com as leis do seu desenvolvimento histórico, de seu sistema produtivo. O chamado 
materialismo histórico propõe que não são as ideias que irão transformar a sociedade e, sim, 
as condições materiais e as relações entre os homens, pois cada sociedade traz dentro de si o 
princípio de sua própria contradição, gerando a transformação constante da história (dialética).
8
Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos
Para saber mais sobre o marxismo, acesse a revista “Marx e o 
Marxismo” e leia os diversos artigos. 
Disponível em: http://www.marxeomarxismo.uff.br/index.php/MM. 
Acesso em: 15/11/2014.
Já no século XX, continuando com o frenesi do XIX, muitas foram as escolas/correntes 
que se destacaram na área de História. A Escola dos Annales e suas gerações e ramificações 
(Nova História, História das Mentalidades, História Cultural etc.) trouxeram uma “revolução” 
para a Historiografia, pois seus pensadores/pesquisadores buscavam novos objetos de estudo, 
novas fontes/documentos para o estudo da História e, consequentemente, destacavam a 
importância da interdisciplinaridade para a pesquisa histórica. A chamada “História Problema” 
ganha muitos adeptos e opõe-se aos paradigmas mais tradicionais da História.
Para saber mais sobre a Escola dos Annales e a Nova História, 
leia “Tendências e Debates: da Escola dos Annales à 
História Nova” de Júlia Silveira Matos. 
Disponível em: http://www.seer.furg.br/hist/article/view/2283. 
Acesso em: 15/11/2014.
Após essa breve retrospectiva, podemos perceber que o conhecimento histórico proporciona 
diferentes análises, abordagens e perspectivas. No entanto, devemos sempre lembrar que o 
objetivo da História é analisar os homens no tempo e no espaço, mas não podemos perder 
de vista que a análise da História é feita por homens (historiadores) e, portanto, é repleta de 
ideologias, visões de mundo, subjetividades, apesar da constante busca da “neutralidade”, 
“distanciamento” e “objetividade”.
Nesse sentido, perguntas importantes surgem: Como o historiador deve trabalhar? Quais 
são as fontes/documentos de análise? Como interpretá-las? É possível a neutralidade científica? 
O historiador pode posicionar-se quando da análise das fontes?
http://www.marxeomarxismo.uff.br/index.php/MM
9
A História e o Historiador
As fontes históricas/documentos (manuscritos, 
audiovisuais, musicais etc.) devem ser analisadas 
pelos historiadores não como reflexo do social, 
mas como parte constitutiva, integrante desse, 
que revelaram tensões, avaliações, problemas e 
propostas. 
Desse modo, o diálogo com as evidências 
apresentadas pelas fontes de pesquisa/documentos 
deve ser realizado, utilizando contribuições de várias 
disciplinas e, ainda, devemos sempre lembrar que é fundamental perguntar, questionar, interrogar 
os documentos, pois ao contrário do que pensavam os positivistas, o documento não é prova da 
verdade histórica e, sim, contém intencionalidades, ideologias, visões de mundo, manipulações, 
esquecimentos (propositais ou não) etc.
Ao mesmo tempo, cabe ressaltar que o “objeto” científico envolve quem o estuda e o recria. 
Portanto, o conhecimento histórico é o registro e a compreensão da realidade histórica e é 
historicamente produzido a partir do presente do historiador.
O historiador, assim como ressaltou Carlo Ginzburg em 
“Sinais: raízes de um paradigma indiciário” na obra Mitos, 
emblemas e sinais: morfologia e história (ver as Referências 
desta unidade), possui uma função “detetivesca” durante a 
investigação histórica.
Ao mesmo tempo, não se pode esquecer que sua análise deve 
ser crítica ao abordar as fontes históricas/documentos, e, ainda, ser 
persistente na coleta dos mesmos, pois se depara, na maior parte 
das vezes, com dificuldades de acesso aos acervosdocumentais 
por diferentes motivos: documentos de propriedade particular, 
documentos deteriorados, documentos em localidades distantes, 
documentos não digitalizados etc.
iSt
oc
k/
Ge
tty
 Im
ag
es
Th
ink
sto
ck
/G
et
ty
 Im
ag
es
10
Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos
Na contemporaneidade, podemos afirmar que os historiadores utilizam em suas pesquisas 
diferentes tipos de fontes, tais como:
• Documentos oficiais;
• Jornais e revistas;
• Mapas;
• Diários;
• Cartas;
• Selos;
• Moedas;
• Pinturas;
• Artefatos arqueológicos;
• Livros de receitas;
• Músicas;
• Fotografias;
• Literatura etc.
Mas, para a utilização e análise destas fontes na pesquisa, é de fundamental importância o 
apoio das outras ciências, que deve ser compreendido já na graduação. 
A formação do historiador nos fundamentos epistemológicos deve ser acompanhada de 
uma formação prática (pesquisa). Ao mesmo tempo, não pode deixar de compreender as 
diferentes concepções de tempo ao longo da história. Assim como deve compreender como 
ocorreu a construção dos conceitos e categorias de análise. 
Sintetizando, o historiador precisa evitar sempre o “anacronismo”. Deve sempre lembrar 
que é necessário estudar o passado para compreender o presente, fortalecer os acertos e não 
cometer os mesmos erros.
A função da História e dos historiadores é auxiliar na construção da consciência crítica e 
levar às reflexões sobre política, economia, cultura etc., pois os indivíduos (sujeitos históricos) 
precisam compreender sua história e sua função no contexto mais amplo da sociedade, 
para, efetivamente, exercer sua cidadania, seus direitos e deveres, e a partir daí, auxiliar 
nas transformações necessárias para todas as sociedades, ou seja, participar do destino das 
sociedades e contribuir para sua melhoria.
A compreensão da História, portanto, tira os homens da passividade, da subserviência, da 
acomodação, perante os acontecimentos. Assim, entende-se que a História deve ser ensinada 
e compreendida, envolvendo práticas sociais concretas, pois é fundamental para a formação 
dos sujeitos.
O estudo da História leva à consciência da diversidade e, consequentemente, ao respeito 
às diferenças, às lutas contra os preconceitos, à compreensão das culturas, identidades e 
tradições ao longo dos tempos.
11
Concepções de tempo na história
Se a História e os historiadores precisam compreender 
as diversidades ao longo dos tempos, ou seja, em diferentes 
contextos históricos, devem lembrar que os conceitos, concepções 
e categorias são construções e, muitas vezes, datadas.
Por exemplo, quando pensamos sobre o tempo e como 
defini-lo em diferentes contextos históricos, muitas vezes, 
não imaginamos as diferentes conceituações que iremos 
nos deparar.
Diálogo com o Autor
“Tamanha é a riqueza das experiências e das interpretações do 
tempo através do curso da história que se acaba sucumbindo à 
impressão de que qualquer intento de atribuir-lhe uma definição que 
se pretendesse exaustiva revelar-se-ia precária e antecipadamente 
anacrônica. São raros os conceitos que podem ostentar uma 
prodigalidade tão grande de abordagens, todas como que a mostrar 
a inesgotabilidade do tema.” (BORNHEIM, Gerd. A Invenção do 
Novo. In: NOVAES, Adauto. (org.) Tempo e História. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1992. p. 103.)
Quando pensamos nas várias concepções de tempo, deparamo-nos, portanto, com os 
“tempos” da intimidade, natural, profissional, sobrenatural, mecanizado, mensurável, 
descontínuo, do pecado, cristão, profano, do capitalismo, cíclico, entre vários outros. Portanto, 
ao analisar um determinado contexto histórico, o pesquisador deve, além de outros elementos, 
ficar atento para sua importância na vida da sociedade. 
As reflexões sobre o tempo dramatizam-se na metade do século XIV, pois já naquele 
momento, 
perder tempo torna-se um pecado grave, um escândalo espiritual. 
Segundo o modelo do dinheiro, por imitação do mercador que, pelo 
menos na Itália, se torna um contabilista do tempo, desenvolve-se uma 
moral calculadora, uma piedade avara. Um dos mais significativos 
propagandistas da nova espiritualidade é o pregador em voga no 
princípio do século XIV, o Dominicano de Pisa, Domenico Cavalca, 
falecido em 1342. Na sua Disciplina degli Spirituali dedica dois 
capítulos à perda de tempo e ao dever de conservá-lo e de medi-lo 
(...) o tempo é já dinheiro (...) o preguiçoso que perde o seu tempo e 
não o mede é semelhante aos animais, não merece ser considerado 
um homem (...) Nasce assim um humanismo à base do tempo bem 
calculado. (LE GOFF, Jacques. O Tempo de Trabalho na Crise 
do Século XIV: do tempo medieval ao tempo moderno. In: Para 
um Novo Conceito de Idade Média. Lisboa: Editorial Estampa/
Imprensa Universitária, 1980. p. 71.)
iSt
oc
k/
Ge
tty
 Im
ag
es
12
Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos
A mudança no modo de encarar o tempo, portanto, afetou a disciplina do trabalho do 
mercador e posteriormente, “[...] a transição para uma sociedade industrial desenvolvida 
exigiu uma severa reestruturação dos hábitos de trabalho [...]”. (THOMPSON, E. P. O Tempo, 
a Disciplina do Trabalho e o Capitalismo Industrial. In: Sociologia da Educação. p. 109.)
Tais experiências com a modernidade foram alteradas. O ritmo da sociedade mudou, 
tornou-se mais acelerado. Com isso, surgiram novas subjetividades e sensibilidades. A rapidez, 
a velocidade e a novidade passaram a ser valorizadas. Os gostos, os costumes, as formas de 
se expressar, a vestimenta e a alimentação, ou seja, os estilos de vida foram se modificando, 
isto é, o conjunto de práticas que o indivíduo abraça, que dão forma material para narrativas 
particulares, transformaram-se.
Surge a ideia de que somente nas grandes metrópoles há privacidade, é a chamada “solidão 
na multidão”, pois as relações pessoais tornaram-se cada vez mais abstratas e o meio de 
trabalho passou a ser fundamental na adoção de um estilo de vida, na sua definição.
Mas essas transformações que ocorreram, inicialmente, em parte da Europa chegaram no 
mesmo período à África? À América?
Perceba que se as concepções de tempo são variadas, devemos lembrar, também, que, em 
diferentes contextos históricos, o tempo possui diferentes significações, portanto, cabe ao 
historiador compreender essas construções. Mas como fazer isso? Como saber, por exemplo, 
como o tempo era concebido? Como saber se a sociedade analisada era de classes? Como 
saber se a religião influenciava mais na política ou menos?
Para essas respostas, o historiador deve ir aos documentos/fontes.
13
Leitura crítica de documentos históricos
Uma das perguntas que mais os historiadores se 
deparam quando apresentam os resultados de suas 
pesquisas é: como você chegou a essas conclusões?
Nesse momento, é de fundamental importância 
que o pesquisador saiba explicar quais foram os 
métodos e técnicas de análise utilizadas, quais foram 
as fontes utilizadas e como a análise foi realizada. 
A partir daí, muitos pesquisadores concordam com suas conclusões, outros discordam e isso é, 
extremamente, positivo, pois as ciências são feitas de embates, de pensar e repensar constantes. Se 
não fosse assim, seria dogma, doutrina e não ciência.
Portanto, não existe “verdade absoluta” na História e em nenhuma outra ciência, e, sim, 
“verdades”, interpretações.
Fonte: iStock/Getty Images
Assim, se para o historiador as informações sobre o passado são conseguidas por intermédio 
das fontes, surge a pergunta: como analisar uma fonte histórica?
A resposta é simples: não existe receita mágica!
Para cada tipo de fonte/documento, precisamos observar suas características e especificidades. 
Devemos ter consciência dos objetivos da nossa pesquisa e da nossa problematização, ou seja, 
dos problemas que queremos responder, das hipóteses que queremos comprovar, para saber 
o que perguntar ao documento, para que ele nos traga pistas, sinais, respostas.
Infelizmente, o debate metodológico sobre o uso de fontesainda é incipiente na historiografia 
brasileira. Mesmo assim, devemos sempre lembrar que as fontes primárias de pesquisa são ao 
mesmo tempo representação da realidade (construída socialmente por um ator, grupo social 
ou instituição) e evidência (de um processo ou evento ocorrido).
Th
ink
sto
ck
/G
et
ty
 Im
ag
es
14
Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos
As fontes primárias de pesquisa são carregadas de intencionalidade, ideologias, visões de 
mundo e parcialidade. Portanto, devemos desvendar, não somente, o que foi dito, claramente, 
nos documentos variados, mas também tentar desvendar o que não foi dito, ou seja, ler nas 
entrelinhas, pois os documentos podem ser, facilmente, utilizados como forma de manipulação 
em um determinado contexto histórico, por interesses políticos, econômicos etc.
Para saber mais sobre a manipulação na História, leia:
FERRO, Marc. A Manipulação da História no Ensino e nos 
Meios de Comunicação. São Paulo: IBRASA. 1983.
Como vimos, as diferentes fontes/documentos devem ser analisadas de acordo com suas 
particularidades e ainda, de acordo com os objetivos e problemas da pesquisa. Mas algumas 
perguntas nunca podem faltar quando iniciamos a análise documental:
• Quando o documento foi produzido?
• Onde o documento foi produzido?
• Por que ele foi produzido? Qual sua finalidade?
• Por quem o documento foi produzido?
• A quem ele era direcionado?
• Como ele foi utilizado?
• Quais suas ideias principais?
A partir destas perguntas básicas que fazemos a qualquer fonte documental, podemos 
acrescentar outras questões que nos auxiliarão a “interrogar” o documento, para que ele nos 
traga respostas sobre nosso objeto de estudo.
Por exemplo, quando analisamos um jornal como fonte/documento histórico, algumas 
outras perguntas não podem faltar, tais como:
• Quem são os seus proprietários?
• Quais seus objetivos e intenções?
• Como se constituiu como força ativa no período de circulação?
• Qual a vendagem / tiragem / distribuição?
• Quais seus aliados e opositores?
• Quais são seus patrocinadores?
• Quem são seus articulistas?
• Quais são seus cadernos?
• Como é seu projeto gráfico?
• Qual sua periodicidade?
Outro exemplo é quando utilizamos fontes audiovisuais e/ou musicais como documento/
fonte (cinema, televisão, fotografia, música etc.). Por muito tempo, elas eram utilizadas nos 
trabalhos como mera ilustração ou como registro mecânico da realidade, mas, desde a década 
de 80, do século XX, no Brasil, essa concepção vem sendo modificada, ou seja, elas são 
tão importantes, quanto qualquer outro documento e, portanto, devem ser analisadas com a 
mesma seriedade e criticidade. 
15
É claro que nesses casos há a necessidade de conhecimento por parte do historiador, da 
linguagem técnico-estética das fontes e das representações da realidade histórica ou social nela 
contidas, para além do seu conteúdo narrativo.
Outra fonte que vem sendo utilizada, com muita frequência, pelos historiadores são 
os depoimentos orais (História Oral). O resgate de depoimentos orais permite explorar a 
vida cotidiana e privada de pessoas de um determinado grupo social, tornando possível ao 
pesquisador estabelecer uma relação entre a história, as trajetórias, a cultura e as experiências. 
Entende-se, portanto, que a grande diferença entre um texto escrito e um testemunho oral 
é que com o texto escrito, o pesquisador faz a documentação falar e com o documento oral, 
ele torna-se responsável, também, por elaborar a documentação e, não somente, analisar. 
Nesse sentido, com a Documentação Oral, realizamos a conservação do conhecimento 
e da experiência pelas fitas de gravação, em que a preocupação com o homem, suas ideias 
e palavras são fundamentais para tentar se compreender o curso de suas ações ao longo 
do tempo. A riqueza da Documentação Oral, por seu caráter pouco formal, encontra-se na 
facilidade para obtenção de dados mais espontâneos. De modo diverso da documentação 
escrita, o empenho realizado pelo narrador, para interpretar dentro do contexto emocional e 
racional suas experiências, pode ser detectado. 
Para saber mais sobre as técnicas da História Oral, leia “História 
Oral: possibilidades e procedimentos” de Sonia Maria Freitas. 
Disponível em: http://goo.gl/yEivNL. 
Acesso em: 15/11/2014.
Desse modo, o significado que cada narrador deu aos eventos demonstra ainda que 
um participante daquele momento pensou no passado daquela maneira e, embora cada 
testemunho em particular interesse ao pesquisador, o conjunto deles ofereceu um leque de 
visões particulares, podendo guiar-nos rumo ao procurado.
Podemos ainda falar sobre a fotografia como fonte de pesquisa para a área de História, 
pois as informações que a fotografia pode trazer sobre os sujeitos históricos, sobre locais, 
instituições, vestimenta, diferenças de classe social, entre outros, é muito grande. Mas, como 
qualquer fonte, ela deve ser pensada como possuindo um realismo aparente, uma segunda 
realidade, sua análise isolada só levantará uma porção de conjecturas. 
Diálogo com o Autor
“Uma imagem fotográfica é algo eminentemente fabricado, e, essa 
fabricação, assenta-se sobre convenções relativas à representação: 
representa somente algo que se assemelha às cenas no momento 
em que são fotografadas.” (DARBON, S. O etnólogo e suas 
imagens. In: SAMAIN, E. (Org.). O fotográfico. São Paulo: 
Hucitec, 1998. P. 103)
Poderíamos dar muitos outros exemplos de diferentes tipos de fontes. Mesmo assim, não 
devemos esquecer que não importa a fonte/documento que utilizaremos em nossas pesquisas, 
o cruzamento de informações apresentadas pelos mesmos, é fundamental, para que possamos 
verificar semelhanças e diferenças e tentarmos nos aproximar das “verdades” de um determinado 
contexto histórico. Segundo Kossoy, “quanto mais pontos comuns um documento apresentar 
com uma série bem homogênea de documentos análogos e já conhecidos, com mais facilidade 
e segurança chegaremos a sua interpretação”. (KOSSOY, B. Realidades e ficções na trama 
fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000. p. 53).
16
Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos
Material Complementar
Sites:
LOPES, F. H. Fontes históricas: desafios, propostas e debates. In: PINSKY, Carla 
Bassanezi; LUCA, Tania Regina de (orgs.). O historiador e suas fontes. São Paulo: 
Contexto, 2009, 333 p. 
Disponível em: http://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/viewFile/496/329. 
Acesso em: 15/11/2014.
MATTOS, A. L. R.; DIETRICH, A. M. Fotografia, Memória e a Diversidade das 
Fontes Históricas. 
Disponível em: http://goo.gl/yBXmvU.
Acesso em: 15/11/2014.
http://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/viewFile/496/329
17
Referências
BARTHES, R. A câmara clara. 6ª edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
BORNHEIM, Gerd. “A Invenção do Novo” In: NOVAES, Adauto. (org.) Tempo e História. 
São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 103.
DARBON, S. O etnólogo e suas imagens. In: SAMAIN, E. (Org.). O fotográfico. São Paulo: 
Hucitec, 1998. p. 101-111.
DUBOIS, P. O ato fotográfico. 2ª edição, Campinas: Papirus, 1998. 
GINZBURG, C. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1989.
KOSSOY, B. Fotografia e história. São Paulo: Ática, 1989. 112 p. (Série Princípios).
________ Realidades e ficções na trama fotográfica. 2ª edição, São Paulo: Ateliê Editorial, 
2000. 
LE GOFF, Jacques. O Tempo de Trabalho na Crise do Século XIV: do tempo medieval ao 
tempo moderno. In: Para um Novo Conceito de Idade Média. Lisboa: Editorial Estampa/
Imprensa Universitária, 1980.
Leite , M. M. e Feldman-Bianco, B (Org). Desafios da Imagem: Campinas: Papirus, 1998.
_________ Retratos de família. São Paulo: EDUSP, 1993. 204 p. (Texto e Arte, v. 9).
NAPOLITANO, Marcos. A História depois do papel. In: PINSKY, Carla Bassanezi. (org.) 
Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006.
NETO, Manoel augusto Vieira. Código Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1984.
RIBEIRO, João Jr. O que é positivismo?São Paulo: Brasiliense, 1982.
VIEIRA, Maria P. A.; PEIXOTO, Maria R. C.; KHOURY, Yara M. A. A pesquisa em historia. 
São Paulo: Ática, 1995 (Série princípios, V. 159).
VEYNE, P. Como se escreve a história. Brasília: Ed. Univ. de Brasília, 1998.
18
Unidade: Leitura Crítica e Análise de Documentos
Anotações

Continue navegando