Buscar

E-book_ Aulas relevantes

Prévia do material em texto

Aulas relevantes 
 
 
 
Prof. Nidal Ahmad 
Prof. Arnaldo Quaresma 
Profª. Letícia Neves 
Prof. Mauro Stürmer 
 
 
 
 
 
 
 
Olá, alunos!
 
Sejam bem-vindos ao e-book das aulas relevantes! 
 
O presente E-book contém os conteúdos referentes as aulas 
relevantes do nosso curso. 
Qualquer dúvida a respeito da distribuição dos conteúdos, 
estaremos à disposição para auxiliá-los através da ferramenta 
“Pergunte ao professor”! 
 
Bons estudos, 
Abraços, Equipe Ceisc. 
 
2ª FASE OAB | PENAL | 37º EXAME 
Direito Penal e 
Processual Penal 
SUMÁRIO 
 
 
Princípios constitucionais 
1.1 Introdução ............................................................................................................. 10 
1.2 Princípio da legalidade .......................................................................................... 11 
1.2.1 Vertentes do princípio da legalidade .................................................................. 12 
1.2.2 Princípios inerentes ao princípio da legalidade: ................................................. 16 
1.3 Demais princípios ................................................................................................. 17 
Inquérito Policial 
2.1 Conceito ................................................................................................................ 30 
2.2 Persecução Penal ................................................................................................. 30 
2.3 Natureza Jurídica do Inquérito Policial .................................................................. 30 
2.4 Espécies de Inquéritos .......................................................................................... 31 
2.5 Destinatários ......................................................................................................... 32 
2.6 Finalidade ............................................................................................................. 32 
2.7 Instauração do Inquérito Policial ........................................................................... 32 
2.8 Características ...................................................................................................... 35 
2.9 Prazo do Inquérito Policial .................................................................................... 39 
2.9.1 Prazos especiais ................................................................................................ 40 
2.9.2 Prazo máximo para instauração ........................................................................ 40 
2.10 Vícios no Inquérito Policial .................................................................................. 41 
2.11 Procedimentos .................................................................................................... 41 
2.12 Indiciamento ....................................................................................................... 44 
2.13 Encerramento do Inquérito Policial ..................................................................... 44 
2.13.1 Procedimentos no encerramento ..................................................................... 45 
Acordo de não persecução penal 
3.1 Conceito ................................................................................................................ 50 
3.2 Requisitos ............................................................................................................. 50 
3.3 Infração penal com pena mínima cominada inferior a quatro anos....................... 50 
3.4 Infração penal praticada sem violência ou grave ameaça .................................... 51 
3.5 Confissão formal e circunstanciada ...................................................................... 51 
3.6 Condições ............................................................................................................. 52 
3.7 Vedações à celebração do acordo de não persecução penal .............................. 52 
3.8 Direito subjetivo do acusado? ............................................................................... 53 
3.9 Descumprimento do acordo .................................................................................. 53 
3.10 Cumprimento do acordo ..................................................................................... 54 
Da conduta 
4.1 Introdução ............................................................................................................. 57 
4.2 Conceito ................................................................................................................ 57 
4.3 Ausência de conduta ............................................................................................ 58 
4.4 Dos crimes omissivos ........................................................................................... 61 
4.4.1. Crimes omissivos próprios ............................................................................... 61 
4.4.2. Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão ................................ 62 
Descriminante putativa 
5.1 Conceito ................................................................................................................ 68 
5.2 Espécies ............................................................................................................... 68 
5.3 Consequências ..................................................................................................... 70 
Estatuto do desarmamento 
6.1 Bem jurídico tutelado no estatuto desarmamento ................................................. 73 
6.2 Do registro ............................................................................................................ 73 
6.3 Do porte ................................................................................................................ 75 
6.3.1 Porte rural .......................................................................................................... 76 
6.3.2 Guardas Municipais de Regiões Metropolitanas ................................................ 76 
6.3.3 Porte para estrangeiros ..................................................................................... 77 
6.3.4 Porte civil ........................................................................................................... 77 
6.4 Dos crimes ............................................................................................................ 78 
6.4.1 Posse irregular de arma de fogo de uso permitido ............................................ 78 
6.4.2 Omissão de cautela ........................................................................................... 79 
6.4.3 Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido................................................... 81 
6.4.4 Disparo de arma de fogo ................................................................................... 82 
6.4.5 Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito ....................................... 82 
6.4.6 Comércio ilegal de arma de fogo ....................................................................... 86 
Organização criminosa e colaboração premiada 
7.1 Introdução ............................................................................................................. 88 
7.2 Crime organizado por natureza ............................................................................ 90 
7.2.1 Meios de obtenção de provas trazidos pela lei .................................................. 92 
7.3 Colaboração premiada .......................................................................................... 93 
7.3.1 Benefícios .......................................................................................................... 96 
7.4 Ação controlada ...................................................................................................102 
7.4.1 Infiltração de agentes ........................................................................................1037.4.2 Acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações...................106 
7.4.3 Dos crimes ocorridos na investigação e na obtenção da prova ........................106 
Lei de abuso de autoridade 
8.1 Introdução ............................................................................................................111 
8.2 Aspecto histórico..................................................................................................111 
8.3 Crítica sobre sua constitucionalidade ..................................................................112 
8.4 Principais destinatários da lei ..............................................................................112 
8.5 Topografia da lei ..................................................................................................113 
8.6 Objeto tutelado (plurissubjetivo)...........................................................................113 
8.6.1 Bem jurídico principal ........................................................................................113 
8.6.2 Bem jurídico secundário ...................................................................................113 
8.7 Sujeito ativo .........................................................................................................115 
8.8 Sujeito passivo .....................................................................................................116 
8.9 Ação penal ...........................................................................................................116 
8.10 Efeitos da condenação ......................................................................................116 
8.11 Penas restritivas de direito .................................................................................117 
8.12 Independência das instâncias ............................................................................118 
8.13 Procedimento e competência ............................................................................118 
8.14 Parte especial (crimes) ......................................................................................119 
Crimes de trânsito 
9.1 Considerações iniciais .........................................................................................128 
9.2 Legislação ............................................................................................................128 
9.3 Crimes em espécie ..............................................................................................133 
9.3.1 Homicídio culposo.............................................................................................133 
9.3.2 Lesão corporal culposa .....................................................................................134 
9.3.3 Omissão de socorro ..........................................................................................135 
9.3.4 Fuga do local do acidente .................................................................................136 
9.3.5 Embriaguez ao volante .....................................................................................138 
9.3.6 Violação da suspensão ou proibição imposta ...................................................138 
9.3.7 Racha ...............................................................................................................139 
9.3.8 Direção sem habilitação ....................................................................................141 
9.3.9 Entrega de veículo a pessoa não habilitada .....................................................141 
9.3.10 Excesso de velocidade em determinados lugares ..........................................142 
9.3.11 Fraude no procedimento apuratório ................................................................143 
9.4 Substituição por penas restritivas de direitos .......................................................144 
Crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo 
10.1 Introdução ..........................................................................................................148 
10.2 Bens jurídicos tutelados .....................................................................................148 
10.3 Princípio da insignificância e crimes tributários..................................................149 
10.4 Valor para sua aplicação ...................................................................................149 
10.5 Competência criminal ........................................................................................150 
10.6 Concurso de crimes ...........................................................................................151 
10.7 Fiscalização tributária ........................................................................................151 
10.8 Extinção da punibilidade ....................................................................................152 
10.9 Crimes tributários materiais ...............................................................................153 
10.10 Crimes contra a Ordem Tributária da Lei nº 8.137/90 ......................................153 
10.11 Elementos objetivos do tipo .............................................................................154 
10.12 Pena de multa nos crimes contra a Ordem Tributária ......................................156 
10.13 Crime contra a ordem econômica da Lei nº 8.137/90 ......................................157 
10.14 Crimes contra as relações de consumo ...........................................................157 
10.15 Disposições finais ............................................................................................160 
10.16 Ação penal .......................................................................................................161 
Lesão Corporal163 
11.1 Lesão corporal leve ou simples..........................................................................163 
11.2 Lesões corporais graves ....................................................................................163 
11.3 Lesão corporal gravíssima .................................................................................164 
11.4 Lesão corporal seguida de morte.......................................................................165 
11.5 Lesão corporal contra a mulher por razões da condição do sexo feminino .......166 
Crimes contra Dignidade Sexual167 
12.1 Principais crimes contra a dignidade sexual ......................................................167 
12.1.1 Estupro ...........................................................................................................167 
12.1.2 Importunação sexual .......................................................................................169 
12.1.3 Violação sexual mediante fraude ....................................................................170 
12.1.4 Registro não autorizado da intimidade sexual ................................................172 
12.1.5 Estupro de vulnerável .....................................................................................172 
12.1.6 Divulgação de cena de estupro e de estupro de vulnerável ...........................174 
Crimes funcionais contra a Administração Pública 
13.1 Introdução ..........................................................................................................180 
13.2 Peculato .............................................................................................................185 
13.3 Concussão .........................................................................................................190 
13.4 Excesso de exação ............................................................................................192 
13.5 Corrupção passiva .............................................................................................194 
13.6 Prevaricação ......................................................................................................197Crimes praticados por particular contra a Administração Pública199 
14.1 Resistência ........................................................................................................199 
14.2 Desobediência ...................................................................................................202 
14.3 Desacato ............................................................................................................207 
14.4 Corrupção ativa..................................................................................................213 
14.5 Descaminho .......................................................................................................217 
14.6 Contrabando ......................................................................................................224 
Crimes contra a Administração da Justiça 
15.1 Denúncia caluniosa............................................................................................229 
15.2 Comunicação falsa de crime ou de contravenção .............................................230 
15.3 Falso testemunho ou falsa perícia .....................................................................232 
15.4 Coação no curso do processo ...........................................................................238 
15.5 Exercício arbitrário das próprias razões .............................................................240 
15.6 Fraude processual .............................................................................................242 
15.7 Favorecimento pessoal ......................................................................................244 
15.8 Favorecimento real ............................................................................................246 
Crimes contra a Fé Pública 
16.1 Introdução ..........................................................................................................251 
16.2 Moeda falsa .......................................................................................................251 
16.3 Falsidade Documental .......................................................................................258 
16.4 Falsidade Material..............................................................................................258 
16.5 Falsidade ideológica ..........................................................................................264 
16.6 Uso de documento falso ....................................................................................270 
16.7 Falsa identidade.................................................................................................274 
16.8 Fraudes em certames de interesse público .......................................................276 
Cadeia de Custódia 
17.1 Da prova ............................................................................................................279 
17.2 Do exame de corpo de delito, da cadeia de custódia e das perícias em geral ..279 
Efeitos da sentença condenatória 
18.1 Nota introdutória ................................................................................................286 
18.2 Efeitos principais ................................................................................................286 
18.3 Efeitos secundários ............................................................................................286 
18.3.1 Efeitos secundários de natureza penal ...........................................................286 
18.3.2 Efeitos secundários de natureza extrapenal ...................................................287 
 
Queixa-crime subsidiária 
19.1 Cabimento da Ação Privada Subsidiária ............................................................291 
19.2 Identificação .......................................................................................................291 
19.3 Base legal ..........................................................................................................292 
19.4 Prazo .................................................................................................................292 
Razões de Apelação 
20.1 Introdução ..........................................................................................................296 
20.2 Identificação .......................................................................................................296 
20.3 Base legal ..........................................................................................................297 
20.4 Prazo .................................................................................................................297 
20.5 Conteúdo ...........................................................................................................298 
20.6 Pedido ................................................................................................................298 
Contrarrazões de Recurso em Sentido Estrito 
21.1 Introdução ..........................................................................................................304 
21.2 Identificação .......................................................................................................304 
21.3 Prazo .................................................................................................................304 
21.4 Conteúdo ...........................................................................................................305 
21.5 Pedido ................................................................................................................305 
Contrarrazões de Agravo em Execução 
22.1 Introdução ..........................................................................................................309 
22.2 Identificação .......................................................................................................309 
22.3 Prazo .................................................................................................................309 
22.4 Conteúdo ...........................................................................................................309 
22.5 Pedido ................................................................................................................310 
Recurso Especial 
23.1 Conceito .............................................................................................................311 
23.2 Identificação .......................................................................................................311 
23.3 Base legal ..........................................................................................................312 
23.4 Cabimento/conteúdo ..........................................................................................312 
23.5 Prazo, interposição e processamento ................................................................313 
23.6 Prequestionamento ............................................................................................314 
23.7 Estruturação do Recurso Especial .....................................................................315 
Recurso Extraordinário 
24.1 Conceito .............................................................................................................319 
24.2 Identificação .......................................................................................................319 
24.3 Base legal ..........................................................................................................320 
24.4 Cabimento/Conteúdo .........................................................................................320 
24.5 Prazo e interposição ..........................................................................................321 
24.6 Prequestionamento ............................................................................................321 
24.7 Repercussão geral das questões constitucionais ..............................................32224.8 Estruturação do Recurso Extraordinário ............................................................322 
Carta testemunhável 
25.1 Conceito .............................................................................................................327 
25.2 Base legal ..........................................................................................................327 
25.3 Identificação .......................................................................................................327 
25.4 Cabimento/conteúdo ..........................................................................................328 
25.5 Processamento ..................................................................................................328 
25.6 Prazo .................................................................................................................328 
25.7 Possibilidade de analisar o mérito do recurso denegado...................................329 
Mandado de Segurança Criminal 
26.1 Conceito .............................................................................................................335 
26.2 Identificação .......................................................................................................335 
26.3 Base Legal .........................................................................................................336 
26.4 Prazo .................................................................................................................336 
 
Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para 
a 2ª Fase do 37º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. 
Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente. 
 
Bons estudos, Equipe Ceisc. 
Atualizado em fevereiro de 2023. 
Princípios constitucionais
 
Prof. Arnaldo Quaresma 
@profarnaldoquaresma
1.1 Introdução 
Princípios são valores fundamentais que direcionam a criação do sistema normativo, 
indicando os critérios para a compreensão da norma, bem como servindo de base para limitar 
a atuação do legislador ordinário e, até mesmo, do órgão julgador e, assim, preservar os 
direitos e garantias fundamentais do cidadão. 
Os princípios podem ser explícitos, ou seja, expressamente previstos no ordenamento 
jurídico, como, por exemplo, o da ampla defesa e do contraditório, disposto no art. 5º, LV, da 
Constituição Federal/88; pode ser, ainda, implícito, que derivam daqueles expressamente 
positivados, como, por exemplo, o da proporcionalidade entre a gravidade da infração e da 
pena cominada pelo legislador ou aplicada pelo julgador. 
O principal objetivo dessa fonte é limitar o poder punitivo estatal, razão pela qual os 
princípios penais são verdadeiros instrumentos do Estado Democrático de Direito. 
Na concepção de Cezar Roberto Bitencourt: 
 
Poderíamos chamar de princípios reguladores do controle penal princípios 
constitucionais fundamentais de garantia do cidadão, ou simplesmente de Princípios 
Fundamentais de Direito Penal de um Estado Social e Democrático de Direito. Todos 
esses princípios são de garantias do cidadão perante o poder punitivo estatal e estão 
amparados pelo novo texto constitucional de 1988 (art. 5º). (BITENCOURT, 2011, p. 
40) 
 
Conforme ensina Luiz Regis Prado, os princípios “servem de fundamento e de limite à 
responsabilidade penal” (PRADO, 2013, p. 156). 
Com a mudança de paradigma jurídico, em especial a vivenciada após a 2° Guerra 
Mundial, os princípios passam a adquirir força normativa, passando de meras orientações ao 
legislador e assumindo um caráter de norma, possuindo força cogente e, inclusive, servindo 
de parâmetro para o controle de constitucionalidade em nosso sistema jurídico. 
1.2 Princípio da legalidade 
O princípio da legalidade encontra-se previsto no art. 5º, inciso XXXIX, da Constituição 
Federal, o qual determina que “não haverá crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem 
prévia cominação legal.” Trata-se da fórmula latina nullum crimen sine lege, que impossibilita a 
punição por fato não previsto em lei. 
O Código Penal tem idêntica previsão no art. 1º: “Não há crime sem lei anterior que o defina. 
Não há pena sem prévia cominação legal.” 
Para Cezar Roberto Bitencourt, “pelo princípio da legalidade, a elaboração de normas 
incriminadoras é função exclusiva da lei (BITENCOURT, 2011, p. 41). 
 
 Princípio: Nullum crimen, nulla poena sine praevia lege.
Base constitucional: Constituição Federal, art. 5º, inciso XXXIX. 
Cabe, portanto, à lei a tarefa de definir e não proibir o crime, propiciando ao agente prévio 
e integral conhecimento das consequências penais da prática delituosa e evitando, assim, 
qualquer invasão arbitrária em seu direito de liberdade. 
 OBSERVAÇÕES 
 
1) Como só há crime quando presente a perfeita correspondência entre o fato e a 
descrição legal, torna-se impossível sua existência sem lei que o descreva. Conclui-se 
que só há crime nas hipóteses taxativamente previstas em lei (PRÍNCÍPIO DA 
TAXATIVIDADE). 
2) Vale destacar que sanção penal é gênero, do qual são espécies as penas e as 
medidas de segurança. Entretanto, em que pese as medidas de segurança não sejam 
penas, possuem um caráter aflitivo, eis, que na prática, restringem a liberdade de 
locomoção dos inimputáveis em razão de doença mental (artigo 26 do CP), constituindo 
uma verdadeira forma de controle social, razão pela qual para a maioria da doutrina 
também se sujeitam ao princípio da legalidade. 
1.2.1 Vertentes do princípio da legalidade 
O princípio da legalidade, tendo em vista o seu conteúdo limitador do direito punitivo estatal, 
apresenta algumas vertentes, que surgem como decorrência de sua aplicação: 
A) 1° VERTENTE – EXIGÊNCIA DE UMA LEI PRÉVIA (praevia): NÃO HÁ CRIME SEM 
LEI ANTERIOR QUE O DEFINA NEM PENA SEM PRÉVIA COMINAÇÃO LEGAL. 
Essa vertente nada mais é do que o princípio da proibição da retroatividade da lei penal 
insculpido no artigo 5°, inciso XL da Constituição da República, o qual dispõe que a lei penal não 
retroagirá, salvo para beneficiar o acusado. 
Desta feita, a lei penal mais grave (seja a lei incriminadora ou a novatio legis in pejus) para 
incidir a determinado fato tem que ser anterior a ele, justamente para evitar a surpresa e garantir 
a segurança jurídico aos cidadãos. 
Neste sentido, podemos elencar a súmula 471 do STJ, a qual dispõe que os condenados 
por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da lei 11.464/2007 
sujeitam-se ao disposto no artigo 112 da LEP. 
 
B) 2° VERTENTE – EXIGÊNCIA DE UMA LEI ESCRITA (scripta) 
Essa vertente proíbe a criação de crimes e a imposição de penas por meios dos costumes, 
tendo em vista que todo o crime e toda a pena devem estar escritos na lei. 
Desta feita, proíbe-se o costume incriminador, não devendo de forma alguma um costume 
criar uma infração penal. 
Ademais, para a maioria da doutrina e da jurisprudência também é vedado o costume 
abolicionista, ou seja, a possibilidade de um costume revogar uma infração penal diante do 
princípio da simetria (se há a necessidade de lei para criar um crime também deve existir lei para 
revogar uma infração penal). 
Neste sentido, o STF já decidiu que não cabe a revogação do crime previsto no artigo 229 
do CP pelo princípio da adequação social, tendo em vista que não cabe ao órgão julgador 
descriminalizar uma conduta tipificada formal e materialmente pela legislação penal (HC 
104.467/ Julgado em 08/02/2011, 1º Turma do STF, Informativo 615). 
Também já decidiu o STJ no sentido de se reconhecer a impossibilidade de absolvição da 
contravenção penal de jogo do bicho pelo costume em razão do Princípio da Supremacia da Lei 
Escrita ( RESP 30705/SP). 
 
 FINALIDADE DOS COSTUMES NO DIREITO PENAL MODERNO 
Tendo em vista que os costumes não podem criar nem revogar uma infração penal,podemos destacar que tais fontes servem como vetor interpretativo das normas 
jurídicas (por exemplo para interpretar o conceito de repouso noturno como majorante 
do furto prevista no artigo 155, parágrafo 1° do CP) bem como para fundamentar uma 
futura lei penal abolicionista (como por exemplo no caso do adultério que era tipificado 
como crime no artigo 240 do CP e foi revogado posteriormente pela lei 11.106/2005). 
 
C) 3° VERTENTE – EXIGÊNCIA DE UMA LEI ESTRITA (stricta) 
Essa vertente se refere a exigência de uma lei estrita, ou seja, uma lei formal (ordinária ou 
complementar) oriunda do Poder Legislativo da União. 
Desta feita, como uma das consequências dessa exigência, podemos elencar a proibição 
da Analogia in malam partem no Direito Penal. 
A analogia é uma forma de suprir uma lacuna legislativa, na qual diante de um caso de 
omissão legislativa o intérprete se utiliza de uma norma aplicada a um caso semelhante. No 
direito penal, diante do princípio da legalidade, há a proibição da analogia em prejuízo ao réu, só 
podendo ser utilizada para benefício do acusado. 
 
 
 
 
 
 
 
 OBSERVAÇÃO 
A medida provisória não é uma lei formal oriunda do Poder Legislativo da União, razão 
pela qual, nos termos do artigo 62, parágrafo 1°, inciso II da Constituição da República 
é vedada a edição de medida provisória em matéria penal. Neste sentido podemos 
afirmar que: 
i) Uma medida provisória não é lei em sentido estrito, razão pela qual jamais poderá 
veicular matéria atinente a uma norma penal incriminadora, ou seja, não pode criar 
crime em hipótese nenhuma. 
ii) Há controvérsia doutrinária a respeito da possibilidade de uma medida provisória 
veicular matéria penal de caráter não incriminador como por exemplo prever uma 
extinção de punibilidade, alguma excludente de ilicitude: a) Uma primeira corrente 
defendida por Cléber Masson e Rogério Greco defende que não, uma vez que diante 
da redação do artigo 62, parágrafo 1°, inciso II da Constituição haveria vedação 
absoluta de medida provisória em matéria penal; b) Já uma segunda corrente 
defendida por Rogério Sanches e Luís Flávio Gomes defende que a medida provisória 
pode veicular matéria penal não incriminadora, em benefício ao réu. 
 
Cumpre ressaltar que o STF já se pronunciou pela legalidade da MP 1571/97 no informativo 
220 (antes da EC 32/01 que expressamente previu a vedação de MP em matéria penal) que 
extinguia a punibilidade em razão da reparação do dano em crimes de natureza previdenciária e 
tributária, bem como já se manifestou pela legalidade da MP 417/08 (após a EC 32/01) que 
estendia a vacatio legis do delito de posse irregular de arma de fogo de uso permitido. 
Ademais, o STJ já admitiu medida provisória em favor do acusado (MP 2.187-12 – desconto 
direto do Fundo de Participação dos Municípios e repasse mensal ao INSS das parcelas devidas, 
equiparando-se ao pagamento do acusado) na PET no Inquérito 512 AC 2004/0177711-8, 
Publicado em 08/02/2017). 
 
 
 
 OBSERVAÇÃO 
 
Competência da União para legislar sobre Direito Penal: Segundo o artigo 22, inciso I 
compete privativamente a União legislar sobre direito penal. Entretanto, o artigo 22, 
parágrafo único admite que lei complementar federal pode autorizar os Estados a 
legislarem sobre direito penal em questões específicas. Entretanto, adverte a doutrina 
que essa delegação não pode abranger assuntos referentes à missão fundamental do 
direito de penal. 
D) 4° VERTENTE – EXIGÊNCIA DE UMA LEI CERTA 
A Lei penal deve ser certa, clara, precisa, proibindo-se a incriminação através de conceitos 
vagos e imprecisos, justamente para evitar a insegurança jurídica. 
Nada mais é do que o princípio da Determinação. 
Exemplo: Artigo 5° da Lei 13260/16 – realizar atos preparatórios de terrorismo com o 
propósito inequívoco de consumar tal delito. 
 
D.1) PRINCÍPIO DA DETERMINAÇÃO E NORMA EM BRANCO 
O Princípio da Determinação exige que a lei penal seja precisa e certa, incriminando a 
conduta com precisão, razão pela qual discute-se se a norma penal em branco viola esse 
princípio. 
Norma Penal em Branco é aquela que para ter aplicabilidade necessita de um 
complemento normativo: 
1) Norma penal em branco homogênea, em sentido amplo ou imprópria – ocorre quando 
o complemento tem origem em uma outra lei em sentido formal da União: 
 
 
Pode ser homovitelina 
quando se origina da mesma instância legislativa, como por exemplo, no caso dos crimes 
funcionais contra a administração pública (312 a 326 do CP) precisamos buscar o conceito 
de funcionário público que também se encontra no CP – artigo 327. 
 
 Pode ser heterovitelina 
 
quando se origina de uma estrutura legislativa diversa, como por exemplo, no crime de 
bigamia previsto no artigo 235 do CP precisamos ir ao Código Civil para entender o 
conceito jurídico de casamento. 
2) Norma penal em branco, em sentido estrito ou própria – ocorre quando o complemento 
tem origem em órgão sem competência legislativa, como por exemplo, no crime de tráfico de 
drogas, precisamos da Portaria 344/98 da Anvisa para entender o que pode ser considerado 
como droga). 
Desta feita, podemos destacar que a maioria da doutrina entende pela constitucionalidade 
da norma penal em branco, inclusive no caso da norma penal em branco heterogênea cujo 
complemento se origina de órgão sem competência legislativa diversa. 
 
1.2.2 Princípios inerentes ao princípio da legalidade: 
A) PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL 
Somente a lei, sem seu sentido estrito, pode definir crimes e cominar penalidades, uma vez 
que “a matéria penal deve ser expressamente disciplinada por uma manifestação de vontade 
daquele poder estatal a que, por força da Constituição, compete a faculdade de legislar, isto é, 
poder legislativo”. (BETTIOL, 1974, p. 108). 
 
 
 
B) PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE 
Aqui, “para que haja crime e seja imposta pena é preciso que o fato tenha sido cometido 
depois de a lei entrar em vigor” (JESUS, 2013, pp. 51-52). 
I) PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE – dispõe que o rol incriminador é taxativo, não se 
admitindo a incriminação através da analogia e dos costumes. 
II) PRINCÍPIO DA DETERMINAÇÃO – a lei penal deve ser precisa e determinada, não se 
admitindo a edição de tipos penais abstratos e genéricos. 
 
1.3 Demais princípios 
A) PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA 
O art. 5º, XLVI, da Constituição Federal dispõe que “a lei regulará a individualização da 
pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição de liberdade; b) perda de 
bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos.” 
Segundo Queiroz (2013, p. 448), “individualizar a pena significa assim tornar individual uma 
situação, algo ou alguém, isto é, particularizar o que antes era geral, a evitar a estandardização.” 
Em outras palavras, tal princípio surge da necessidade de individualização da pena para 
encontrar a pena justa e se desdobra em 3 fases: 
I - 1º Fase: Cominação – é realizada pelo legislador ao estipular uma pena mínima e uma 
pena máxima em abstrato na lei penal incriminadora; 
II – 2° Fase: Aplicação da pena – é realizada pelo julgador do processo criminal ao proferir 
uma sentença condenatória, devendo fixar a pena definitiva (critério trifásico – 68 do CP), 
estabelecer o regime inicial de cumprimento de pena (artigo 33, parágrafo 2° do CP), a 
possibilidade ou não de substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (artigo 
44 do CP) e se há a possibilidade de suspender a execução da pena privativa de liberdade (artigo 
77 do CP); 
III – 3° Fase: Execução da pena – é realizada pelo juízo da VEC que irá acompanhar e 
decidir sobre o cumprimento da pena. 
 OBSERVAÇÃO 
 
O princípio da individualização da pena já foi utilizado pelo STF inúmeras vezes para 
se reconhecer a inconstitucionalidade de uma lei, dentre as quais podemos citar,em 
especial: 
I – STF HC 82959/SP – 23/02/06: O STF reconheceu a inconstitucionalidade do 
regime integralmente fechado estabelecido pela redação original da lei 8072/90, por 
entender que a imposição genérica de um mesmo regime sem considerar as 
circunstâncias do caso concreto violava a individualização da pena. Desta feita, foi 
permitida a progressão de regime utilizando-se como parâmetro o requisito de 1/6 do 
cumprimento da pena estabelecido no artigo 112 da LEP; 
II – STF HC 111840/ES – INFORMATIVO 672: O STF reconheceu a 
inconstitucionalidade da lei 11464/07 (que alterou a lei dos crimes hediondos, 
passando a admitir a progressão de regime, entretanto previu a obrigatoriedade do 
regime inicial fechado) ao impor de maneira obrigatória o regime inicial fechado nos 
crimes hediondos e equiparados (artigo 2°, parágrafo 1° da lei 8072/90 com redação 
determinada pela lei 11464/07); 
III – STF HC 97256 – INFORMATIVO 604: O STF reconheceu a inconstitucionalidade 
dos artigos 33, parágrafo 4° (vedava a substituição da pena privativa de liberdade por 
pena restritiva de direito no tráfico privilegiado) e do artigo 44 da lei 11343/06 
(vedação da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos nos 
crimes dos artigos 33, caput, 33 parágrafo 1°, 34 a 37 da lei de drogas por violar a 
individualização da pena. Posteriormente, o Senado Federal editou a resolução 5 de 
2012 suspendendo a execução parcial do parágrafo 4º do artigo 33 em relação ao 
trecho que vedava a conversão em pena restritiva de direitos. 
 
 
B) PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE OU DA INTRANSCENDÊNCIA 
Acerca deste importante princípio, o art. 5º, XLV, da Constituição Federal dispõe que 
“nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a 
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra 
eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.” 
Esse princípio representou um verdadeiro marco no Direito Penal, impondo que a 
responsabilização penal é individual e intransferível, não podendo passar da pessoa do 
condenado. 
Assim, a sanção penal não é transmitida de uma pessoa para a outra, mas as obrigações 
cíveis oriundas do ilícito penal podem transferida aos sucessores. 
Consiste na expressão do senso comum de que cada um responde pelos seus próprios 
atos. Nas palavras de SALIM (2008, p. 224), tal princípio significa, em outras palavras, que só o 
autor da infração penal pode ser responsabilizado criminalmente, ou seja, ninguém pode ser 
punido por delito cometido por outra pessoa.” 
Consequências jurídicas: 
1) Em razão do princípio da personalidade ou instranscendência da pena havendo a morte 
do agente haverá a extinção da punibilidade, nos termos do artigo 107, inciso I, CP; 
2) Em razão desse princípio, a peça acusatória deve individualizar o acusado e descrever 
de forma específica o fato a ele imputado, sob pena de não recebimento pela inépcia (CPP, art. 
395, I). 
 
C) PRINCÍPIO DA HUMANIDADE 
Fruto da humanização do Direito Penal, o agente (suspeito/indiciado/réu/condenado) deve 
ser tratado como pessoa humana e sujeito de direitos fundamentais. 
Decorre do art. 1º, III, da Constituição Federal, que especifica a dignidade da pessoa 
humana como fundamento do Estado Democrático. 
Mais especificamente, advém da vedação às penas de morte (salvo no caso de guerra 
declarada), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e cruéis ou degradantes 
(art. 5º, XLVII, da CF). 
Podemos citar a influência desse princípio com a edição da súmula vinculante 56 do STF, 
a qual dispõe que a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do 
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os 
parâmetros fixados no RE 641.320/RS: 
Teses de Repercussão Geral: Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema 
normativo, manter em seus presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no 
ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a 
obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em 
decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento. 
Ademais, podemos falar que a súmula vinculante 56 também se fundamenta nos princípios 
da legalidade e da individualização da pena: 
 
Precedente representativo: Cumprimento de pena em regime fechado, na hipótese de 
inexistir vaga em estabelecimento adequado a seu regime. Violação aos princípios da 
individualização da pena (art. 5º, XLVI) e da legalidade (art. 5º, XXXIX). A falta de 
estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime 
prisional mais gravoso. 3. Os juízes da execução penal poderão avaliar os 
estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e aberto, para qualificação como 
adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como 
“colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou 
estabelecimento adequado” (regime aberto) (art. 33, § 1º, b e c). No entanto, não deverá 
haver alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com presos do 
regime fechado. 4. Havendo déficit de vagas, deverão ser determinados: (i) a saída 
antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente 
monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por 
falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao 
sentenciado que progride ao regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas 
alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado. [RE 
641.320, rel. min. Gilmar Mendes, P, j. 11-5-2016, DJE 159 de 1º-8-2016] 
 
D) PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU DA LESIVIDADE 
Por esse princípio, não é possível a criminalização de atos que não ofendam seriamente 
bem jurídico (QUEIROZ, 2013, p. 100). Também é necessário que tal ato ofenda bem jurídico de 
terceiro. 
Enquanto o princípio da legalidade fornece o limite formal ao poder de punir do Estado, 
dizendo como o Estado deve exercer o seu poder punitivo (através de uma lei prévia, escrita, 
estrita e certa), o princípio da ofensividade ou da lesividade fornece o limite material a esse poder 
de punir, dispondo sobre quais condutas não devem ser objetos de punição, em especial aquelas 
que não possuem o condão de ofender materialmente o bem jurídico tutelado. 
Há na doutrina quem defenda que o princípio da lesividade ou ofensividade possui dois 
princípios decorrentes, quais sejam o princípio da alteridade ou da transcendentalidade e o da 
insignificância ou bagatela, os quais serão explorados a seguir de maneira específica. 
 
 
E) PRINCÍPIO DA ALTERIDADE OU DA TRANSCENDENTALIDADE 
Por este princípio teorizado por Claus Roxin, “a prática criminosa pressupõe uma conduta 
que transcenda a esfera individual do agente, sendo capaz de atingir interesse alheio” (SALIM, 
2008, p. 226). 
Nesse esteio, a conduta puramente interna, ou seja, que não sai da esfera do agente, não 
tem lesividade, não devendo ser objeto do Direito Penal. 
Como efeito prático desse princípios, o suicídio e a autolesão não são puníveis. 
Vale lembrar que induzimento ao suicídio (art. 122 do CP) é crime, pois o agente pratica 
uma conduta que ofende direito de outrem. Da mesma forma, a autolesão para fraudar seguro 
(art. 171, §2º, inciso V, do CP) é crime, uma vez que o indivíduo estará, ao gerar lesão em si 
mesmo, objetivando receber vantagem ilícita em prejuízo da seguradora. 
Por fim, esse princípio é um argumento utilizados por aqueles que entendem pela 
inadmissibilidade do delito de posse de drogas para uso próprio (art. 28 da Lei de Drogas), 
porquanto o usuário não causaria lesão aos direitos de outras pessoas, mas apenas a si próprio. 
Neste sentido, o STF está para concluir o julgamentodo RE 635.559/SP (com repercussão 
geral reconhecida), o qual visa o reconhecimento da inconstitucionalidade do delito previsto no 
artigo 28, sendo que até agora três ministros já votaram e a tese que está prevalecendo até o 
momento é a de reconhecer a inconstitucionalidade da posse de maconha para uso pessoal (o 
relator, ministro Gilmar Mendes, votou pela inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas 
(Lei 11.343/2006), que define como crime o porte de drogas para uso pessoal, enquanto o 
ministro Edson Fachin e Roberto Barroso votaram para descriminalizar apenas o porte de 
maconha para consumo próprio). 
 
F) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
Também idealizado por Claus Roxin, é assim definido por Queiroz (2013, p. 91): 
 
O princípio da insignificância constitui, portanto, um instrumento por cujo meio o juiz, em 
razão da manifesta desproporção entre crime e castigo, reconhece o caráter não criminoso 
de um fato que, embora formalmente típico, não constitui uma lesão digna de proteção 
penal, por não traduzir uma violação realmente importante ao bem jurídico tutelado. 
Em suma, pelo princípio da insignificância, o fato é materialmente atípico, apesar de estar 
previsto na lei como infração penal, em razão da pequena (insignificante) lesão ao bem jurídico 
tutelado. A insignificância afeta a tipicidade material. 
O principal exemplo seria o furto de 10 reais praticado contra uma pessoa de boas 
condições financeiras. 
Segundo o STF (HC 92.961/SP), são requisitos: 
i) a Mínima ofensividade da conduta; 
ii) a Ausência de periculosidade social da ação; 
iii) o Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; 
iv) a Inexpressividade da lesão jurídica. 
 
 OBSERVAÇÃO 
1) Crimes contra a Administração Pública: O STJ entende inadmissível a 
aplicação da insignificância, nos termos da súmula 599 do STJ. Entretanto, o próprio 
STJ já afastou a incidência da súmula 599 e reconheceu o princípio em questão nos 
crimes contra a administração pública, em um caso ocorrido em novembro de 2013, na 
cidade de Gravataí (RS), quando o denunciado passou o carro por cima de um cone de 
trânsito ao furar um bloqueio da Polícia Rodoviária Federal. 
O relator do recurso no STJ, ministro Nefi Cordeiro, ressaltou que o réu era primário, 
tinha 83 anos na época dos fatos e o cone avariado custava menos de R$ 20, ou seja, 
menos de 3% do salário-mínimo vigente à época. “A despeito do teor do enunciado 
599, as peculiaridades do caso concreto justificam a mitigação da referida súmula, haja 
vista que nenhum interesse social existe na onerosa intervenção estatal diante da 
inexpressiva lesão jurídica provocada”, entendeu o ministro. (RHC 85.272, 6° TURMA 
DO STJ, 31/08/2018) 
2) Crimes contra a ordem tributária: é aplicável, havendo um limite de R$ 
20.000,00, que é o valor que a Fazenda pode requerer o arquivamento (STF e STJ). 
3) Crimes com violência ou grave ameaça: não é aplicável. 
4) Posse de drogas para uso próprio: Normalmente a jurisprudência da 1° turma 
do STF e do STJ vem entendendo pela inaplicabilidade do princípio da insignificância, 
ainda que a quantidade de drogas seja ínfima. 
Entretanto, vale destacar que recentemente a 2° Turma do STF (12/11/2019, em sessão 
virtual, anulou a condenação por tráfico de drogas imposta a uma mulher flagrada com 1g de 
maconha. Por maioria, o colegiado concedeu o Habeas Corpus (HC) 127573, seguindo o voto 
do relator, ministro Gilmar Mendes, que entendeu aplicável ao caso o princípio da insignificância, 
pois a conduta descrita nos autos não é capaz de lesionar ou colocar em perigo a paz social, a 
segurança ou a saúde pública. 
O juízo da 1º Vara de Bariri (SP) condenou a mulher à pena de seis anos e nove meses de 
reclusão, em regime inicial fechado, pelo crime de tráfico, previsto no artigo 33 da Lei de Drogas 
(Lei 11.343/2006). A sentença foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-
SP). A Defensoria Pública paulista então impetrou habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça 
(STJ) alegando a desproporção da pena aplicada e buscando a incidência do princípio da 
insignificância. Negado o pedido por decisão monocrática daquela corte, a defensoria impetrou 
o habeas corpus no Supremo. 
Em seu voto, o relator destacou que a resposta do Estado não foi adequada nem necessária 
para repelir o tráfico de 1g de maconha. Segundo Gilmar Mendes, esse é um exemplo 
emblemático de flagrante desproporcionalidade na aplicação da pena em hipóteses de 
quantidade irrisória de entorpecentes, e não houve indícios de que a mulher teria anteriormente 
comercializado quantidade maior de droga. De acordo com o ministro, no âmbito dos crimes de 
tráfico de drogas, a solução para a desproporcionalidade entre a lesividade da conduta e a 
reprimenda estatal é a adoção do princípio da insignificância. 
O relator observou que o STF tem entendido que o princípio da insignificância não se aplica 
ao delito de tráfico, ainda que a quantidade de droga apreendida seja ínfima. Porém, considerou 
que a jurisprudência deve avançar na criação de critérios objetivos para separar o traficante de 
grande porte do traficante de pequenas quantidades, que vende drogas apenas em razão de seu 
próprio vício. 
Para ele, se não houver uma clara comprovação da possibilidade de risco de dano da 
conduta, o comportamento não deverá constituir crime, ainda que o ato praticado se adeque à 
definição legal. “Em verdade, não haverá crime quando o comportamento não for suficiente para 
causar um dano ou um perigo efetivo de dano ao bem jurídico, diante da mínima ofensividade 
da conduta”, explicou. 
Seu voto foi seguido pelos ministros Celso de Mello e Ricardo Lewandowski. Ficaram 
vencidos os ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia. 
 
 OBSERVAÇÃO 
5) Crimes patrimoniais cometidos sem violência ou grave ameaça: O STJ vem 
reconhecendo a possibilidade de se reconhecer a insignificância se o valor da res é até 
10% do valor do salário-mínimo vigente na época dos fatos. 
6) Furto qualificado: Em regra a jurisprudência no furto qualificado diante da 
reprovabilidade maior da conduta vem negando a aplicação do princípio da 
insignificância. 
 
Entretanto recentemente, o STJ admitiu a insignificância de um furto qualificado pelo 
concurso de agentes, tendo em vista que os objetos subtraídos eram do gênero alimentício e 
foram avaliados aproximadamente em 69 reais: 
Informativo 665 do STJ de março de 2020: A despeito da presença de qualificadora no 
crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da 
conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do 
fato imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância. No julgamento do 
HC 553.872/SP (j. 11/02/2020), o STJ admitiu a insignificância de um furto qualificado pelo 
concurso de agentes, tendo em vista que os objetos subtraídos eram do gênero alimentício e 
foram avaliados em aproximadamente sessenta e nove reais: 
 
A admissão da ocorrência de um crime de bagatela reflete o entendimento de que o 
Direito Penal deve intervir somente nos casos em que a conduta ocasionar lesão 
jurídica de certa gravidade, devendo ser reconhecida a atipicidade material de 
perturbações jurídicas mínimas ou leves, estas consideradas não só no seu sentido 
econômico, mas também em função do grau de afetação da ordem social que 
ocasionem. 
O referido princípio deve ser analisado em conexão com os postulados da 
fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria penal, no sentido de 
excluir ou afastar a própria tipicidade penal, observando-se a presença de “certos 
vetores, como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma 
periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do 
comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada” (HC n. 
98.152/MG, Rel. Ministro Celso de Mello, SegundaTurma, DJe 5/6/2009). 
 
Na hipótese analisada, verifica-se que os fatos autorizam a incidência excepcional do 
princípio da insignificância, haja vista as circunstâncias em que o delito ocorreu. Muito embora 
esteja presente uma circunstância qualificadora — o concurso de agentes — os demais 
elementos descritos nos autos permitem concluir que, neste caso, a conduta perpetrada não 
apresenta grau de lesividade suficiente para atrair a incidência da norma penal, considerando 
a natureza dos bens subtraídos (gêneros alimentícios) e seu valor reduzido. 
 
G) PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA 
No conceito de Damásio de Jesus , tal princípio significa que a “criação de tipos 
delituosos deve obedecer a imprescindibilidade, só devendo intervir o Estado, por intermédio 
do Direito Penal, quando os outros ramos do Direito não conseguirem prevenir a conduta 
ilícita.” 
Logo, o Direito Penal é subsidiário, sendo a ultima ratio, ou seja, o último meio de 
regulamentação a ser utilizado. 
Há na doutrina quem defenda que o princípio da intervenção mínima possui dois 
princípios decorrentes, quais sejam o princípio da subsidiariedade e o princípio da 
fragmentariedade, os quais serão explorados a seguir de maneira específica. 
 
H) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE 
O princípio da subsidiariedade constitui uma variação do princípio da intervenção 
mínima. 
Pelo princípio da subsidiariedade, o Direito Penal deverá incidir somente em último caso, 
quando os demais ramos do direito falharam na tutela do bem jurídico. Busca-se, primeiro, 
adotar medidas mais brandas, menos invasivas à liberdade do agente que praticou um ilícito. 
Se necessário, o Direito Penal é chamado a atuar como último recurso para a proteção do 
bem jurídico violado. 
Num primeiro momento, pode parecer que o princípio da subsidiariedade se assemelha 
ao da fragmentariedade. A diferença, no entanto, reside no plano de atuação. O princípio da 
fragmentariedade se projeta no plano abstrato, ao passo que o princípio da subsidiariedade 
se verifica no plano Concreto, quando os demais ramos não se mostrarem eficazes para 
tutelar o bem jurídico. 
Vê-se, pois, que em relação ao princípio da subsidiariedade, a infração penal já foi 
praticada, devendo, no plano concreto, o Direito Penal ser aplicado se outro ramo do direito 
for ineficaz. Assim, se a aplicação de outro ramo do direito se mostrar suficiente, não haverá 
legitimidade para a aplicação da lei penal. 
Como já julgou o Superior Tribunal de Justiça: 
 
A desobediência à ordem de parada emitida pela autoridade de trânsito ou por seus 
agentes, ou mesmo por policiais ou outros agentes públicos no exercício de atividades 
relacionadas ao trânsito, não constitui crime de desobediência, pois prevista sanção 
administrativa específica no art. 195 do Código de Trânsito Brasileiro, o qual não 
estabelece a possibilidade de cumulação de sanção penal. Assim, em razão dos 
princípios da subsidiariedade do Direito Penal e da intervenção mínima, inviável a 
responsabilização da conduta na esfera criminal (AgRg no REsp 1803414/MS, Superior 
Tribunal de Justiça, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, julgado em 07/05/2019). 
 
I) PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE 
Em razão do princípio da fragmentariedade, o Direito Penal protege apenas um 
fragmento dos interesses jurídicos, que são os casos de maior gravidade e de bens jurídicos 
mais relevantes. É uma decorrência dos princípios da reserva legal e da intervenção mínima 
(JESUS, 2013, p. 52). 
Trata-se de um princípio mais abstrato e referente a forma de legislar. Assim, as leis 
penais devem ser feitas de forma fragmentária, tutelando os bens jurídicos mais importantes. 
Podemos citar como exemplo do princípio da fragmentariedade o crime de dano, o qual 
o legislador somente pune o dano doloso, sendo o dano culposo atípico, ensejando a atuação 
da esfera cível e não penal. 
Entretanto, vale destacar que em determinados bens jurídicos há uma proteção ampla 
do direito penal, por exemplo, no caso da vida, na qual o legislador protege a vida humana 
extrauterina ou intrauterina. 
 
J) PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE 
No Direito Penal o termo culpabilidade pode ter diferentes acepções: 
i) Culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime (fato típico, 
antijurídico e culpável); 
ii) Culpabilidade como elemento medidor da aplicação da pena (artigo 59 do CP: O juiz, 
atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, 
aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da 
vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do 
crime); 
iii) Culpabilidade como elemento que visa afastar a responsabilidade penal objetiva – Princípio 
da Responsabilidade Penal Subjetiva, o qual será analisado neste item. 
 
J.1) PRINCÍPIO DA RESPONSABILIZAÇÃO PENAL SUBJETIVA 
É a base do direito penal moderno, o qual não admite a responsabilização penal 
objetiva, ou seja, o agente só pode ser responsabilizado penalmente se tiver agido com dolo 
ou culpa. 
Desta feita, podemos dizer que se não há dolo ou culpa no caso em questão não haverá 
conduta penalmente relevante para o direito penal, razão pela qual o fato será atípico, uma 
vez que com o finalismo penal tanto o dolo como a culpa fazem parte do conceito de conduta. 
Logo, além da necessidade de demonstrar que a conduta foi praticada pelo agente, em 
consonância com o princípio da responsabilidade pessoal, deve-se ainda comprovar ter ele 
agido com dolo ou culpa, conforme o princípio da responsabilidade penal subjetiva. Neste 
sentido, por exemplo, nos crimes de trânsito, não basta que o Ministério Público descreva na 
denúncia que o acusado estava na direção do veículo automotor e causou a lesão corporal ou 
a morte de alguém, devendo o MP descrever em que consistiu a conduta culposa do agente, 
ou seja, qual foi a violação do dever de cuidado em que este agente incorreu (se foi negligente, 
imperito ou imprudente), sob pena de inépcia e responsabilidade penal objetiva (Informativo 
553, 6° Turma do STJ, HC 305194, 01/12/2014). 
Não obstante isso, identificam-se resquícios da responsabilidade objetiva no contexto 
da rixa qualificada (CP, art. 137, parágrafo único), na embriaguez voluntária ou culposa 
decorrente da actio libera in causa (CP, art.28, II, do CP), na responsabilidade penal da pessoa 
jurídica por crimes ambientais (artigo 3° da lei 9605/98), no artigo 73, parágrafo 2° da lei 
4728/65 (lei de mercado de capitais) ao dispor que a responsabilidade penal recairá sobre 
todos os diretores da pessoa jurídica, dentre outros. 
 
K) PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL 
Trata-se de princípio oriundo de Hans Welzel, consistindo na ideia de que, mesmo que 
uma conduta esteja prevista na lei como infração, não será considerada típica se for 
socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se a sociedade aceitar a conduta. Gera, 
portanto, a exclusão da tipicidade. 
Exemplos de condutas adequadas socialmente (em algumas há divergência): 
pequenas lesões desportivas, corte de cabelo de calouro, oferecimento de bebida alcoólica a 
adolescentes, manutenção de casa de prostituição. 
Vale destacar que, consoante informado no princípio da legalidade, o STF não aplica o 
princípio da adequação social, tendo em vista o princípio da simetria, uma vez que se há a 
exigência de lei para criar crimes, também deve existir lei para revogar essa infração penal. 
 
L) PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO BIS IN IDEM 
Em matéria penal ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato. Assim, não 
pode sofrer duas penas em face do mesmo crime, tampouco ser processado e julgado duas 
vezes pelo mesmo fato. 
É pacífico que a reincidência, ao ser utilizada como agravante (art. 61, I, do CP), não é 
bis in idem. Logo, pode ser aplicada como agravante. 
Esclarecendo o alcance do referido princípio, QUEIROZ (2013, p. 89) menciona que 
“semelhanteprincípio proíbe, portanto, a multiplicidade de sanções para o mesmo sujeito, por 
um mesmo fato e por sanções que tenham um mesmo fundamento, isto é, que tutelem um 
mesmo bem jurídico.” 
Como decorrência deste princípio dispõe o artigo 8° do CP que a pena cumprida no 
estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é 
computada, quando idênticas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Inquérito Policial 
 
Prof. Mauro Stürmer 
@prof.maurosturmer 
2.1 Conceito 
O processo penal não serve apenas para que o Estado aplique o seu direito de punir, mas 
também para que o indivíduo possa defender-se deste Estado. 
O inquérito policial é um procedimento administrativo, preparatório e inquisitivo, presidido 
pela autoridade policial, que tem por finalidade reunir elementos necessários à apuração da 
prática de uma infração penal e sua autoria, a fim de propiciar a propositura da denúncia ou 
queixa. 
2.2 Persecução Penal 
O caminho a ser percorrido pelo Estado para exercer seu direito de punir: 
1ª etapa – extraprocessual – inquisitiva – inquérito. 
2ª etapa – judicial – contraditória – processo. 
 
2.3 Natureza Jurídica do Inquérito Policial 
O que é natureza Jurídica? (o que é isso para o direito). 
É um procedimento administrativo – não é processo, pois não se constitui de uma 
relação trilateral (delegado – parte A, parte B contraria – contraditório e ampla defesa), por isso 
se fala em investigado, que pode ser o objeto de uma investigação. 
Cuidado: isso não permite ao delegado desrespeitar direitos e garantias fundamentais 
compatíveis com o procedimento. 
2.4 Espécies de Inquéritos 
→ Policiais: Inquérito Policial; Delegados de Polícia de Carreira – PC ou PF. 
→ Não Policiais: Inquéritos Parlamentares – Súmula 397 do STF (Crime ocorrido na 
CD ou SF); Inquéritos Presididos por Autoridades Judiciárias ou do MP; Inquérito 
civil - MP; Inquéritos Policiais Militares – IPM. 
Art. 4º - CPP - A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de 
suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua 
autoria. 
Parágrafo único: A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades 
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. 
 
INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO – Possibilidade 
 
“O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por 
prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e 
garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do 
Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de 
jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso 
País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV 
e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito 
– do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula 
Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”. 
 
STF. Plenário. RE 593727/MG, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015. 
 
2.5 Destinatários 
2.6 Finalidade 
Fornecer elementos de convicção para que o titular da ação penal (Ministério Público ou 
Ofendido) ingresse em juízo. 
 
2.7 Instauração do Inquérito Policial 
 
Art. 5o: Nos crimes de ação pública (incondicionada) o inquérito policial será iniciado: 
I - de ofício; 
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a 
requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. 
§ 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível: 
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; 
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de 
convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou nomeação das 
testemunhas motivos de impossibilidade de o fazer; 
c) a, com indicação de sua profissão e residência. 
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso 
para o chefe de Polícia. 
Destinatários 
Imediatos 
Mediatos 
MP (Ação Penal Pública) 
Ofendido ou 
Representante legal 
(Ação Penal Privada) 
Juiz – para 
fundamentar decisões 
cautelares (prisão 
preventiva, busca e 
apreensão, etc...) 
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal 
em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade 
policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. 
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação 
(condicionada a representação), não poderá sem ela ser iniciado. 
§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a 
inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. 
 
 
A) Ação Penal Pública Incondicionada 
→ De ofício – a autoridade inicia o Inquérito Policial sem a necessidade de que 
alguém o informe, toma conhecimento da infração sem a necessidade da ação penal, a 
peça inaugural é uma portaria e se trata de uma cognição imediata. 
→ Requisição – do juiz ou do Ministério Público – o delegado age provocado 
pelo juiz ou pelo Ministério Público – a peça inaugural pode ser a própria requisição, 
ou pode ser uma portaria, faz em cima da requisição uma portaria, é uma cognição 
mediata. 
Importante saber para os casos de HC. Autoridade Coatora. 
→ Requerimento da vítima ou do seu representante legal – Art. 5º, inciso II, 
do CPP. A peça inaugural pode ser a petição da vítima, ou o delegado inaugura por 
portaria, trata-se de uma cognição mediata. 
 
Art. 5º, § 1º, CPP: O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível: 
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; 
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de 
convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou nomeação das 
testemunhas motivos de impossibilidade de o fazer; 
c) a, com indicação de sua profissão e residência. 
 
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso 
para o chefe de Polícia. 
 
→ Flagrante – pode ser instaurado mediante prisão em flagrante. A peça 
inaugural auto de prisão em flagrante, trata-se de uma cognição coercitiva. 
→ Notícia formulada por qualquer do povo – Art. 5º, § 3º, do CPP. 
 
 
§3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de 
infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por 
escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das 
informações, mandará instaurar inquérito 
 
 
A notícia pode ser anônima? 
Notícia anônima pode fundamentar a instauração de Inquérito Policial, desde que apurado 
preliminarmente a viabilidade da notícia, investigado antes, realizado rápida diligência 
para verificar a veracidade da notícia e, se procedente, elabora portaria e instaura o 
Inquérito Policial. 
 
B) Ação Penal Pública Condicionada: Art. 5º, §4º, do CP 
 
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação (Ação 
Penal Pública Condicionada), não poderá sem ela ser iniciado. 
 
C) Ação Penal de Iniciativa Privada: Art. 5º, §5º, do CPP 
 
§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a 
inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. 
 
 
2.8 Características 
 
 
a) Instrumental: o Inquérito Policial tem por finalidade apurar a materialidade da infração 
penal e indícios da autoria; 
b) Obrigatório: havendo justa causa, o delegado não pode deixar de instaurar o 
procedimento investigatório, a autoridade não pode deixar de instaurar: 
 
 
Características
Instrumental
Obrigatório
Discricionário
Dispensável
Informativo
Escrito
SigilosoInquisitivo
Indisponível
Temporário
Art. 5º: Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: 
§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso 
para o chefe de Polícia. 
 
c) Discricionário: os atos de investigação são da análise exclusiva da autoridade policial, 
que estudará sua conveniência e oportunidade; a discricionariedade diz respeito às diligências: 
 
Art. 14: O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer 
diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade. 
 
Cuidado: no caso de o crime deixar vestígios (não-transeunte) o ECDL será obrigatório. 
 
d) Dispensável: se o titular da ação penal tiver provas da materialidade e indícios da 
autoria por outro meio, o Inquérito Policial é dispensável: 
 
Art. 39, § 5o: O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a 
representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, 
neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de 15 dias. 
 
e) Informativo: os elementos colhidos no IP servirão apenas para subsidiar a ação penal: 
 
Art. 155: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em 
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos 
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não 
repetíveis e antecipadas. 
 
Exclusivamente com base no Inquérito Policial não cabe condenação, mas junto com 
outras provas cabe – Art. 155 do CPP – o Inquérito Policial não pode ser a única fonte para a 
condenação. 
f) Escrito: Art. 9o: Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, 
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. 
g) Sigiloso: Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à 
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. 
Não é sigiloso para: 
1) Juiz; 
2) Ministério Público: pode acompanhar o inquérito e ser o mesmo promotor na ação penal – 
Súmula 234 STJ. 
Súmula 234: A participação de membro do ministério público na fase investigatória criminal não 
acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia. 
3) Advogado: Art. 7º, inciso XIV, do EOAB e Súmula Vinculante 14. 
 
Art. 7 XXI (EAOB): assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, 
sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, 
subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes 
ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva 
apuração: 
a) apresentar razões e quesitos; (perguntas...) 
Art. 7, XIV da Lei 8.906/94 (EOAB): examinar, em qualquer instituição responsável por 
conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de 
qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo 
copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; 
 
Súmula Vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo 
aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório 
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito 
de defesa. 
 
É direito do advogado de acompanhar e auxiliar seu cliente durante o interrogatório ou 
depoimento no curso da investigação 
 
 
• Direito do advogado de examinar os autos de investigação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Art. 7º, § 11 do EOAB: No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá 
delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em 
andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de 
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências. 
Art. 7º, § 12 do EOAB: A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o 
fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de 
peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal e 
funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do 
advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito 
subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz competente. 
Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) 
ANTES AGORA 
 
Art. 7º São direitos do advogado: 
(...) 
XIV – examinar em qualquer 
repartição policial, mesmo sem 
procuração, autos de flagrante e de 
inquérito, findos ou em andamento, 
ainda que conclusos à autoridade 
podendo copiar peças e tomar 
apontamentos; 
 
Art. 7º São direitos do advogado: 
(...) 
XIV – examinar, em qualquer 
instituição responsável por 
conduzir investigação, mesmo sem 
procuração, autos de flagrante e de 
investigações de qualquer 
natureza, findos ou em andamento, 
ainda que conclusos à autoridade, 
podendo copiar peças e tomar 
apontamentos, em meio físico ou 
digital. 
 
A nova legislação trouxe a necessidade de o advogado estar presente no Inquérito 
Policial? 
Não. É pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que o 
inquérito policial é procedimento inquisitivo e não sujeito ao contraditório, razão pela qual 
a realização de interrogatório sem a presença de advogado não é causa de nulidade. (...) 
STJ. 6ª Turma. HC 139.412/SC. 
É possível alegar suspeição do Delegado que preside um Inquérito Policial? 
Não. Art. 107 do CPP: Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos 
do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal. 
 
h) Inquisitivo: não havendo acusado, mas somente suspeito, não se aplica ao 
Inquérito Policial o contraditório e a ampla defesa. 
i) Indisponível: Art. 17 do CPP: A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos 
de inquérito. 
j) Temporário: é uma garantia constitucional. Art. 5º, inciso LXXVIII, da CF/88 – duração 
razoável do processo. 
Art. 5º, inciso LXXVIII: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a 
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. 
 
O Inquérito Policial, estando o investigado solto, pode ser prorrogável enquanto for 
necessário, devendo se comprovar a justa necessidade em cada prorrogação. 
 
2.9 Prazo do Inquérito Policial 
Regra geral: 
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em 
flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do 
dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, 
mediante fiança ou sem ela. 
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá 
requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas 
no prazo marcado pelo juiz.
 
Indiciado preso – 10 dias. Improrrogável 
Indiciado solto – 30 dias. Prorrogável 
2.9.1 Prazos especiais 
Lei nº 5.010/66: prazo de conclusão do Inquérito Policial na Justiça Federal – Art. 66: 
• Indiciado preso: 15 dias, prorrogáveis por mais 15 dias; 
Segundo o artigo 66, o preso deverá ser apresentado ao Juiz para a prorrogação. 
• Indiciado solto: 30 dias, prorrogáveis a critério do juiz – segue o Código de Processo 
Penal. 
 
Lei 11.343/06 – lei de drogas: 
• Indiciado preso: 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias; 
• Indiciado solto – 90 dias, prorrogáveis por mais 90 dias. 
 
2.9.2 Prazo máximo para instauração 
 
Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de 
pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, 
mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações 
e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como 
sinais, informações e outros

Continue navegando