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1 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA LÍNGUA PORTUGUESA 2 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999 atua no mercado capixaba, des- tacando-se pela oferta de cursos de gradua- ção, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimen- to: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sem- pre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com cons- ciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institui- ções avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. missÃo Formar profissionais com consciência cida- dã para o mercado de trabalho, com ele- vado padrão de qualidade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. VisÃo Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci- da nacionalmente como referência em qualidade educacional. GRUPO MULTIVIX 3 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO BiBlioteca multiViX (dados de publicação na fonte) As imagens e ilustrações utilizadas nesta apostila foram obtidas no site: http://br.freepik.com Magda Mulati Gardelli Fundamentos Teóricos Metodológicos da Língua Portuguesa / Magda Mulati Gardelli . – Serra: Multivix, 2019. editorial Catalogação: Biblioteca Central Anisio Teixeira – Multivix Serra 2019 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. Faculdade caPiXaBa da serra • multiViX Diretor Executivo Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretora Acadêmica Eliene Maria Gava Ferrão Penina Diretor Administrativo Financeiro Fernando Bom Costalonga Diretor Geral Helber Barcellos da Costa Diretor da Educação a Distância Pedro Cunha Conselho Editorial Eliene Maria Gava Ferrão Penina (presidente do Conselho Editorial) Kessya Penitente Fabiano Costalonga Carina Sabadim Veloso Patrícia de Oliveira Penina Roberta Caldas Simões Revisão de Língua Portuguesa Leandro Siqueira Lima Revisão Técnica Alexandra Oliveira Alessandro Ventorin Graziela Vieira Carneiro Design Editorial e Controle de Produção de Conteúdo Carina Sabadim Veloso Maico Pagani Roncatto Ednilson José Roncatto Aline Ximenes Fragoso Genivaldo Félix Soares Multivix Educação a Distância Gestão Acadêmica - Coord. Didático Pedagógico Gestão Acadêmica - Coord. Didático Semipresencial Gestão de Materiais Pedagógicos e Metodologia Direção EaD Coordenação Acadêmica EaD 4 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Aluno (a) Multivix, Estamos muito felizes por você agora fazer parte do maior grupo educacional de Ensino Superior do Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional. A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoei- ro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999, no mercado capixaba, destaca-se pela oferta de cursos de graduação, pós-graduação e extensão de qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, tanto na mo- dalidade presencial quanto a distância. Além da qualidade de ensino já comprova- da pelo MEC, que coloca todas as unidades do Grupo Multivix como parte do seleto grupo das Instituições de Ensino Superior de excelência no Brasil, contando com sete unidades do Grupo en- tre as 100 melhores do País, a Multivix preocupa- -se bastante com o contexto da realidade local e com o desenvolvimento do país. E para isso, pro- cura fazer a sua parte, investindo em projetos so- ciais, ambientais e na promoção de oportunida- des para os que sonham em fazer uma faculdade de qualidade mas que precisam superar alguns obstáculos. Buscamos a cada dia cumprir nossa missão que é: “Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores.” Entendemos que a educação de qualidade sempre foi a melhor resposta para um país crescer. Para a Multivix, educar é mais que ensinar. É transformar o mundo à sua volta. Seja bem-vindo! APRESENTAÇÃO DA DIREÇÃO EXECUTIVA Prof. Tadeu Antônio de Oliveira Penina diretor executivo do grupo multivix 5 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO lista de Figuras > FIGURA 1 - Comunicação 16 > FIGURA 2 - Comunicação truncada 18 > FIGURA 3 - Pedido de casamento 20 > FIGURA 4 - Estrutura da comunicação 20 > FIGURA 5 - Ação e reação 21 > FIGURA 6 - Primeiros meses 28 > FIGURA 7 - Primeiro ano de vida 29 > FIGURA 8 - criança ao telefone 31 > FIGURA 9 - Crianças brincando 32 > FIGURA 10 - Escrita cuneiforme 39 > FIGURA 11 - Ideograma 39 > FIGURA 12 - Exemplos de conversa no aplicativo de celular 41 > FIGURA 13 - O processo seletivo 42 > FIGURA 14 - Semáforo 51 > FIGURA 15 - Alimento 51 > FIGURA 16 - Currículo escolar 57 > FIGURA 17 - Estrutura dos PCN 61 > FIGURA 18 - O aluno, a língua e o ensino 64 > FIGURA 19 - Publicação 66 > FIGURA 20 - Reciclagem de lixo 67 > FIGURA 21 - Treinador 68 > FIGURA 22 - Atelier de criação 69 > FIGURA 23 - Igualdade e equidade 71 > FIGURA 24 - Estrutura da BNCC (educação básica) 72 > FIGURA 25 - Competências gerais da BNCC 74 > FIGURA 26 - Competências específicas para o ensino de língua portuguesa 77 > FIGURA 27 - Campos de atuação 78 > FIGURA 28 - Produção de texto 82 > FIGURA 29 - Placa de silêncio 83 > FIGURA 30 - Textos 84 6 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO lista de Figuras > FIGURA 31 - Bolo de laranja 87 > FIGURA 32 - Cantiga de roda 90 > FIGURA 33 - Teatro de fantoche 91 > FIGURA 34 - Feiras de ciências 91 > FIGURA 35 - Jogo 96 > FIGURA 36 - Criatividade 100 > FIGURA 37 - Alfabetização de adultos 107 > FIGURA 38 - Alfabeto 108 > FIGURA 39 - Escrita espontânea 110 > FIGURA 40 - Crianças lendo 113 > FIGURA 41 - Crianças escrevendo 113 > FIGURA 42 - Nível um 116 > FIGURA 43 - Nível dois: pré-silábico 117 > FIGURA 44 - Nível dois: silábico 117 > FIGURA 45 - Fase silábica 118 > FIGURA 46 - Silábico-alfabético 119 > FIGURA 47 - Nível alfabético 120 > FIGURA 48 - Tecnologias Digitais de Comunicação 126 > FIGURA 49 - Objetivos da oralidade na BNCC - Ensino Fundamental 129 > FIGURA 50 - Roda de conversa 131 > FIGURA 51 - Objetivos da leitura/escuta na BNCC - Ensino Fundamental 133 > FIGURA 52 - Crianças lendo 137 > FIGURA 53 - Objetivos da produção de texto na BNCC - Ensino Fundamental 139 > FIGURA 54 -Crianças produzindo textos 140 > FIGURA 55 - Objetivos da análise linguística/semiótica na BNCC - Ensino Fundamental 142 > FIGURA 56 - BRINCADEIRA 145 > FIGURA 57 - JOGOS 145 7 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO lista de Quadros > QUADRO 1 - Diferenças entre as línguas falada e escrita 41 8 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO sumÁrio 1UNIDADE 2UNIDADE 1 aQuisiÇÃo e desenVolVimento da linguagem 15 1.1 AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM 15 1.1.1 CONCEITOS 16 1.1.1.1 LINGUAGEM 16 1.1.2 LÍNGUA 18 1.1.3 ESTRUTURA DA COMUNICAÇÃO 18 1.2 TEORIAS SOBRE A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM 20 1.2.1 BEHAVIORISMO 21 1.2.2 A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA BEHAVIORISTA 23 1.2.3 COGNITIVISMO CONSTRUTIVISTA 23 1.2.4 A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA COGNITIVISTA 24 1.2.5 1.2.5 INATISMO 25 1.2.6 A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA INATISTA 26 1.2.7 SOCIOINTERACIONISMO 27 1.2.8 A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA SOCIOINTERACIONISTA 27 1.3 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM 28 1.3.1 ESTÁGIO PRÉ-LINGUÍSTICO 28 1.3.2 ESTÁGIO LINGUÍSTICO – PRIMEIRAS PALAVRAS 29 1.3.3 ESTÁGIO LINGUÍSTICO – AS PRIMEIRAS DUAS PALAVRAS 31 1.3.4 ESTÁGIO LINGUÍSTICO – MAIS QUE DUAS PALAVRAS 32 conclusÃo 33 2 articulaÇÃo entre língua Falada e escrita 37 2.1 ARTICULAÇÃO DA LÍNGUA FALADA E ESCRITA 37 2.2 CARACTERÍSTICAS DAS LÍNGUAS FALADA E ESCRITA 38 2.2.1 NORMA CULTA, LÍNGUA COLOQUIAL 42 2.2.2 A FALA, A ESCRITA E O ENSINO 44 2.3 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS 46 2.3.1 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E O PRECONCEITO LINGUÍSTICO 47 2.3.2 TIPOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA 48 2.3.3 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS E O ENSINO 52 conclusÃo 54 9 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO sumÁrio 3 estudo dos ParÂmetros curriculares nacionais e da Base nacional comum curricular 56 3.1 ESTUDO DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR 56 3.2 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA 59 3.2.1 PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DOS PCN 62 3.2.2 ESTRUTURA DOS PCN DE LÍNGUA PORTUGUESA 64 3.3 BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR 70 3.3.1 PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DA BNCC 73 3.3.2 ESTRUTURA DA BNCC DE LÍNGUA PORTUGUESA 76 conclusÃo 79 4 ProduÇÃo oral e escrita 81 4.1 PRODUÇÃO ORAL E ESCRITA 81 4.1.1 GÊNEROS TEXTUAIS 84 4.1.2 GÊNEROS ORAIS 89 4.1.3 GÊNEROS ESCRITOS 92 4.2 ELEMENTOS DE COESÃO E COERÊNCIA 93 4.2.1 COESÃO REFERENCIAL E COESÃO SEQUENCIAL 94 4.2.2 COERÊNCIA E METARREGRAS 97 4.3 GERAÇÃO DE TEXTOS CRIATIVOS 99 conclusÃo 102 3UNIDADE 4UNIDADE 10 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 5 desenVolVimento da leitura e da escrita nas sÉries iniciais do ensino Fundamental 104 5.1 DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 104 5.2 PERSPECTIVA HISTÓRICA DA LEITURA E DA ESCRITA 105 5.2.1 ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL 106 5.2.2 ALFABETIZAÇÃO E AS CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM 107 5.3 ALGUNS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO 111 5.4 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 112 5.5 PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA 115 conclusÃo 121 6 metodologia e estratÉgias esPecíFicas no ensino de língua Portuguesa e integraÇÃo com as demais Áreas do ensino 123 6.1 METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS ESPECÍFICAS PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E INTEGRAÇÃO COM AS DEMAIS ÁREAS DO ENSINO 124 6.2 ORALIDADE E ENSINO 127 6.2.1 TRABALHO COM GÊNEROS ORAIS E A ESCOLA 128 6.3 LEITURA E ENSINO 131 6.3.1 TRABALHO COM A LEITURA E A ESCOLA 133 6.4 PRODUÇÃO DE TEXTO E ENSINO 138 6.4.1 TRABALHO COM A PRODUÇÃO DE TEXTO E A ESCOLA 139 6.5 ANÁLISE LINGUÍSTICA E SEMIÓTICA E ENSINO 141 6.5.1 TRABALHO COM A ANÁLISE LINGUÍSTICA/SEMIÓTICA E A ESCOLA 142 6.6 JOGOS E BRINCADEIRAS 144 conclusÃo 147 glossÁrio 149 reFerÊncias 151 5UNIDADE 6UNIDADE 11 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO iconograFia ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS 12 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Bem-vindo à disciplina Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Língua Portu- guesa. Na década de 1970, acreditava-se que ensinar Língua Portuguesa era simplesmen- te fazer os alunos decorarem uma mera listagem de regras da gramática normativa – classes gramaticais e as regras ortográficas, que eram expostas ao estudante de forma desvinculada da realidade quotidiana do uso da língua. Atualmente, após os estudos sobre o cognitivismo, construtivismo e sociolinguística, percebe-se que a língua deve ser compreendida pela concepção de linguagem como interação. Hoje, o estudo de gêneros textuais é conteúdo obrigatório e necessário para a aprendi- zagem da leitura e da escrita da língua em geral e, no nosso caso, da língua por- tuguesa. Por isso, nesta disciplina, você refletirá sobre os fundamentos teórico-me- todológicos do ensino/aprendizagem de Língua Portuguesa, orientado por uma perspectiva sociointeracionista de linguagem. Objetiva-se que você tenha subsídios para poder elaborar planos de aula utilizando estratégias que favoreçam essa pers- pectiva. Para isso, estudará as teorias que embasam os estudos sobre aquisição e desenvolvimento da linguagem. Na unidade 2, estudará as diferenças entre língua falada e escrita e sua importância no ensino de Língua Portuguesa. Na unidade 3, verá os conceitos, fundamentos, diretrizes e estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN e Base Nacional Comum Curricular. Na unidade 4, serão apresenta- das as metodologias e estratégias de ensino na produção oral e escrita e na geração de textos criativos. Nas unidades 5 e 6, o foco será o desenvolvimento da leitura e da escrita nas séries iniciais do Ensino Fundamental, por meio do estudo das meto- dologias e das estratégias específicas sob o enfoque da sociolinguística, bem com a integração com as demais áreas do ensino. Lembre-se de que, para que você possa aproveitar bem os seus estudos, tem de planejar os seus horários criando uma roti- na de estudo. É importante também sempre iniciar as atividades pela leitura atenta do conteúdo. Não se esqueça também de que sua participação no fórum e a leitura das postagens dos outros colegas será uma outra fonte de reflexão do conteúdo. 13 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO Objetivos da disciplina Ao final desta disciplina, esperamos que você: • • Refletir sobre como se estrutura a língua e sua dimensão linguística e dialógica. • • Refletir sobre os fundamentos teórico-metodológicos do ensino/apren- dizagem de Língua Portuguesa, orientado por uma perspectiva sociointera- cionista de linguagem. • • Identificar a linguagem como instrumento de mediação entre o mun- do e a consciência humana e construir ações do ensino da língua como parti- cipante dessa mediação. • • Identificar e relacionar conteúdos propostos nos PCNs de Língua Portu- guesa e na Base Nacional Comum Curricular com estratégiasde ensino. • • Construir estratégias de abordagem do ensino da língua sob a perspec- tiva dos gêneros textuais. 14 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você: > Identificar as diferenças entre linguagem e língua. > Localizar e reconhecer os elementos da comunicação. > Identificar e reconhecer as concepções de linguagem. > Identificar as características das teorias da aprendizagem como behaviorismo, inatismo, cognitivismo construtivismo e sociointeracionismo e relacioná-las à aquisição e desenvolvimento da linguagem. > Identificar as características dos estágios do desenvolvimento da linguagem. UNIDADE 1 15 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO 1 AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Esta unidade se compõe do conteúdo relacionado à aquisição e desenvolvimento da linguagem. Serão tratados conceitos como os de linguagem e língua, que possuem extrema importância, para que você compreenda quais são as suas distinções e, as- sim, possa se valer ao pensar uma aula cujas competências sejam específicas para o ensino de Língua Portuguesa para a Educação Básica. Concomitante a esse conteú- do, você relembrará os elementos de comunicação: emissor, receptor, mensagem, ca- nal, código e referente. Relembrar esses conceitos auxiliará você a entender as formas como pode elaborar sua aula com coerência e interação adequadas. Além disso, es- tudará as teorias de desenvolvimento de aprendizagem: o behaviorismo, o inatismo e o sociointeracionismo. Refletirá sobre como a aquisição e o desenvolvimento da lin- guagem são entendidos por cada uma das teorias – as quais não serão apresentadas de forma excludente umas das outras, mas complementar. Atualmente, a teoria mais utilizada é a sociointeracionista, mas que não descarta totalmente os postulados das outras duas. Por fim, serão abordados os estágios de aquisição da linguagem desde o nascimento até os dois anos. Tais conteúdos tratam das questões que serão úteis no entendimento de metodologias para o desenvolvimento de competências na Língua Portuguesa na Educação Infantil e seus reflexos para a idades posteriores. 1.1 AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Quando nascemos, nosso primeiro contato de comunicação com quem está ao nosso redor ocorre quando choramos. Mesmo que ainda existam novos métodos e formas de se trazer uma criança ao mundo, é o choro que ajuda o bebê a chamar a atenção da família quando se encontra com necessidade: de alimentação, de cuidados de higiene ou com algum desconforto sensorial, como dor, calor, frio etc. Para você en- tender como ocorre o desenvolvimento da linguagem, é importante conhecer como ocorre a sua aquisição. 16 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 1.1.1 CONCEITOS Para que você compreenda melhor como se dá a aquisição da linguagem e seu de- senvolvimento, veja, a seguir, os conceitos de linguagem, língua e estrutura da comu- nicação. 1.1.1.1 LINGUAGEM FIGURA 1 - COMUNICAÇÃO FONTE: SHUTTERSTOCK, 2018 A linguagem é toda e qualquer forma de comunicação entre alguém que deseja transmitir uma mensagem a outro alguém, ou seja, um emissor deseja comunicar algo a um receptor. Ela pode ocorrer de diversas formas: por meio de símbolos, códi- gos, signos convencionais, gestos, sons etc. Sinais de trânsito, a cruz para simbolizar o cristianismo, as letras para represen- tar os sons que unidos formam palavras, os ícones de um celular etc. Como forma de classificar os tipos de linguagem temos: a linguagem verbal e a não verbal. A linguagem verbal integra basicamente dois sistemas, o da fala e o da escrita, e ambos utilizam de signos convencionalmente criados, como: palavras, números e símbolos (como os sinais de pontuação, os sinais matemáticos etc.). A linguagem não verbal compõe-se de todos os outros recursos de comunicação, como imagens, desenhos, símbolos, músicas, gestos, tom de voz etc. 17 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO Três modos de se ver a linguagem vêm permeando a história dos estudos linguísticos. > A linguagem como expressão do pensamento – para essa concepção, o não saber pensar é a causa de as pessoas não saberem se expressar. Pensar logi- camente é um requisito básico para se falar e escrever, já que a linguagem traduz a expressão que se constrói no interior da mente, a linguagem é o “espelho” do pensamento (CHOMSKY, 1968). Segundo Travaglia (1997, p. 21), o fenômeno linguístico é reduzido a um ato racional, “a um ato monológico, individual, que não é afetado pelo outro nem pelas circunstâncias que cons- tituem a situação social em que a enunciação acontece”. > A linguagem como meio de comunicação – essa concepção de linguagem se liga à Teoria da Comunicação (GERALDI, 1997). A língua é vista como um sistema organizado de sinais (signos) que serve como meio de comunicação entre os indivíduos possibilitando ao emissor transmitir uma certa mensa- gem ao receptor. Para tanto, o código utilizado deve ser compreendido pelos dois polos da estrutura da comunicação: emissor e receptor. > A linguagem como forma ou processo de interação - nessa concepção, a linguagem se faz pela interação comunicativa mediada pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores (emissor e receptor), em uma dada situação e em um contexto socio-histórico e ideológico, sendo que os interlo- cutores são sujeitos que ocupam lugares sociais. Segundo Koch (1992, p. 9), a concepção de linguagem como forma de interação “é aquela que encara a linguagem como atividade, como forma de ação, ação interindividual finalis- ticamente orientada; como lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos, que vão exigir dos semelhantes reações e ou comportamentos”. A concepção sociointeracionista é a forma como vemos a função da linguagem nos tempos atuais. Para saber mais, leia: GERALDI, J. W. Concepções de Linguagem e Ensino de Por- tuguês. In: GERALDI, João Wanderley (Org.). O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 39-46. 18 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 1.1.2 LÍNGUA A língua é o sistema linguístico utilizado por determinada comunidade para a comu- nicação entre seus membros. É composta por palavras e regras que são compreendi- das por este grupo. A língua pode ser oral e escrita. A diferença entre linguagem e língua é que a língua pertence à linguagem. A lin- guagem é mais ampla e se constitui de muitas outras formas de comunicação, além da língua. A língua é uma parte da linguagem. Quando forem abordadas questões sobre as variações linguísticas, você se aprofundará sobre a questão das línguas oral e escrita. 1.1.3 ESTRUTURA DA COMUNICAÇÃO FIGURA 2 - COMUNICAÇÃO TRUNCADA FONTE: SHUTTERSTOCK, 2018 Roman Jakobson, ao observar o funcionamento da comunicação, identificou que al- guns elementos são sempre identificados. Ele propôs um sistema de comunicação composto por seis componentes que realizam seis funções. A partir desse estudo, ele elaborou uma teoria da comunicação, dando origem à seguinte estrutura: • Emissor – aquele que possui a intenção da comunicação. Ele pode ser represen- tado por uma pessoa ou um grupo. • Receptor – é aquele que a quemse destina a mensagem. Aquele que recebe a mensagem. 19 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO • Mensagem – é o objeto da comunicação composta pelos seus conteúdos. O que se deseja comunicar. • Código – é o sistema de representação que será escolhido para realizar a comu- nicação. Pode ser a língua, símbolos, imagens etc. • Canal – é o meio optado pelo emissor para transmitir sua mensagem. O canal tem de garantir o contato entre emissor e receptor. • Contexto – é a situação em que ocorre a comunicação. São as circunstâncias de espaço e tempo do contexto. Pode estar se referindo ao contexto do emissor ou dizer a respeito dos aspectos do mundo da mensagem. Emissor – um professor ao dar uma aula, um namorado ao pedir uma namora- da em casamento, um jornalista ao escrever uma notícia. Receptor - estabelecendo um paralelo com os exemplos dados para emissor, temos respectivamente os alunos, a namorada, o leitor. Mensagem – é o assunto da comunicação. Estabelecendo um paralelo com os exemplos dados para emissor e receptor, podemos apresentar respectivamen- te: o conteúdo que se refere à aula do professor, o pedido de casamento, o as- sunto da notícia. Código – os exemplos, nesses casos supracitados, têm como código a palavra, língua. Canal – no caso do professor, pode ser a voz ou qualquer outro instrumento que possa contribuir para o aprendizado do aluno. No pedido de casamento, o canal vai depender das escolhas do futuro noivo: música, gestos etc. Para o jornalista, o canal será o jornal, o blog etc. Contexto - como exemplo para o que é contexto na estrutura da comunicação, pode-se descrever o do pedido de casamento. O contexto é, pressupostamente, de um noivo apaixonado e desejoso em se casar. Pressupõe-se que quem se deseja casar está apaixonado, amando e com desejo de ter uma vida a dois. Mas isso não é padrão, e o contexto pode ser diferente. 20 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO FIGURA 3 - PEDIDO DE CASAMENTO FONTE: SHUTTERSTOCK, 2018 Jakobson foi o pioneiro nesses estudos. A partir de sua teoria, os estudos avançaram, surgindo a teoria da enunciação, que você estudará mais adiante, quando se falar sobre o sentido do texto. FIGURA 4 - ESTRUTURA DA COMUNICAÇÃO Fonte: elaborada pela autora. 1.2 TEORIAS SOBRE A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM Neste tópico, você estudará como as teorias da aprendizagem estão relacionadas aos processos de aquisição da linguagem. Serão abordados o inatismo, behaviorismo, cognitivismo construtivista e sociointeracionismo. 21 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO O interesse pela linguagem é antigo. Há relatos que contam que Heródoto, aproximadamente no século VII a.C., narrava uma história de que o rei Pasméti- co, do Egito, muito interessado em saber como surgiram as línguas, ordena que duas crianças fossem isoladas do convívio interativo, trancadas em um quarto, até os dois anos de idade. Sua hipótese era de que a primeira palavra que es- sas crianças falassem, ao saírem do quarto, pertenceria a língua mais antiga da humanidade. Era como se as pessoas tivessem uma língua internalizada e aprendesse outras com o convívio. Essas crianças, ao saírem dos seus quartos, emitiram um som que se assemelhava à palavra pão, do idioma frígio. Concluiu- -se a partir dessa experiência que a língua mais antiga da humanidade era a do povo frígio e não a dos egípcios. Fonte: CAMPBELL, R.; GRIEVE, R. Royal investigations of the origin of language. Historiographia linguística, Amsterdam, John Benjamins, v. 1/2, n. IX, 1982. 1.2.1 BEHAVIORISMO FIGURA 5 - AÇÃO E REAÇÃO FONTE: SHUTTERSTOCK, 2018. 22 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO O behaviorismo é uma teoria que tem por método de investigação psicológica o exa- me objetivo do comportamento humano e dos animais com ênfase em estímulos e respostas. Para essa teoria, toda ação provoca uma reação e o indivíduo é movido por isso. Tem por objeto de análise e observação o comportamento do ser vivo. Beha- vior, em inglês, significa comportamento ou conduta. Não faz uma observação ou reflexão filosófica ou subjetiva desse objeto. É com o olhar objetivo que os behavioris- tas explicam os comportamentos. Para essa teoria, a aprendizagem se dá por meio da imitação. Ela é conhecida também por comportamentalismo. Dois estudiosos se destacaram nessa teoria: John Watson e Burrhus Frederic Skinner. Watson era reconhecido como o pai do behaviorismo metodológico. Para ele, o estu- do do meio que envolve um indivíduo possibilita a previsão e o controle do compor- tamento humano. Skinner, conhecido como o precursor do behaviorismo radical, era claramente contra a utilização de elementos não observáveis para explicar a conduta humana. Segundo ele, o behaviorismo radical é a filosofia da ciência do comporta- mento humano, cujo meio ambiente é o responsável pelo comportamento humano. Os indivíduos reagem de acordo com os estímulos que lhes é dado, como: reforço positivo ou reforço negativo. Essa vertente do behaviorismo teve grande popularida- de no Brasil e nos Estados Unidos. Reforço positivo – em uma empresa, o funcionário que conseguir atingir uma meta de vendas, recebe um bônus como forma de gratificação. Reforço negativo – as multas de trânsito, ao infringir uma lei. O excesso de velo- cidade deveria ser um ato de consciência do motorista. Todavia, são os radares de controle de velocidade espalhados que fazem com que o motorista respeite o limite, mesmo que seja apenas no local onde o radar esteja instalado. 23 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO 1.2.2 A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA BEHAVIORISTA Sob a perspectiva linguística, a teoria behaviorista considera que a criança adquire a linguagem por meio da exposição ao meio e em decorrência da imitação e do re- forço que ocorre através do reforço positivo, quando há o acerto, e negativo, quando há o erro. Essa teoria defende que o ser humano aprende por condicionamento. Os behavioristas tendem a ver a criança como um receptor passivo da linguagem. Toda- via, não explicam como a criança pode construir expressões que nunca foram ouvidas por elas. Essa teoria foi bastante utilizada no desenvolvimento das metodologias de en- sino de Língua Portuguesa, na década de 1970, quando os exercícios programá- ticos de repetição eram muito utilizados. Solicitava-se que a criança repetisse diversas vezes a mesma palavra. Outro recurso utilizado como instrumento de aprendizagem e que provém do behaviorismo é o sistema de punição. A repro- vação, as notas baixas e os “castigos” eram entendidos como ferramentas “posi- tivas”, já que eram estímulos negativos, ao desenvolvimento da aprendizagem. 1.2.3 COGNITIVISMO CONSTRUTIVISTA Cognitivismo construtivista é uma teoria sobre o desenvolvimento que considera que a criança passa por estágios para adquirir o conhecimento. Seu precursor é Jean Pia- get (1970), que considera quatro fatores essenciais para o desenvolvimento da crian- ça: a. Biológico – relacionado ao crescimento orgânico e maturação do sistema bio- lógico. b. Da experiência e exercícios – adquirido na relação da criança com o objeto. 24 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciadapela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO c. Das interações sociais – que se desenvolve por meio da linguagem e da inte- ração. d. Da equilibração nas ações – relacionada à adaptação ao meio (POZO, 1998). Piaget afirma que a criança, para desenvolver e adquirir conhecimento, precisa estar madura biologicamente, interagir com os objetos de aprendizagem e com o meio social. Para isso, ela tem de estar inserida em um esquema de ação composto por assimilação e acomodação. O indivíduo incorpora o objeto enquanto meio de conhe- cimento, fenômeno este chamado de assimilação. Assim, o sujeito assimila o objeto. Em um segundo momento, transforma sua estrutura anterior para incorporar o ob- jeto já assimilado, o que é chamado de acomodação. Após a acomodação, o sujeito entra em um novo processo de assimilação, mas com um “up grade” ou atualizado pela acomodação anterior. Isto é, a relação entre o ambiente físico e o social ocasiona as oportunidades de inte- ração entre sujeito e objeto, gerando conflitos e, consequentemente, uma reestrutu- ração, pelo sujeito, de suas construções mentais anteriores. O equilíbrio/equilibração surge quando o indivíduo organiza o conhecimento. Para o autor, o conhecimento acontece a partir da ação do indivíduo na realidade e de seu estágio de desenvolvi- mento. 1.2.4 A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA COGNITIVISTA A teoria piagetiana sugere que o desenvolvimento linguístico depende do desenvol- vimento da inteligência. Para o teórico, o desenvolvimento cognitivo que irá possibi- litar o nascimento do simbolismo é a representação do que a criança vê e vivência. A linguagem nasce da interiorização dos esquemas sensório-motores produzidos pela experimentação ativa da criança. Piaget considera que as crianças não herdam capa- cidades mentais prontas, apenas o modo de interação com o ambiente. A linguagem é construída mediante a interação entre criança e meio, mostrando-se como um re- flexo das capacidades cognitivas. 25 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO A grande precursora da aplicação dessa teoria no desenvolvimento da lingua- gem, mais especificamente na alfabetização, foi Emília Ferreiro (1970), quando em seu doutorado, sob orientação de Jean Piaget, desenvolve um método de alfabetização. Para ela (FERREIRO, 1996), a linguagem é adquirida paulatina- mente e de acordo com o desenvolvimento da criança. A partir dessa perspec- tiva, ela desenvolveu um método de alfabetização cujo principal argumento é o do respeito às etapas de desenvolvimento da criança. A esse método deu-se o nome de psicogênese da língua escrita. 1.2.5 1.2.5 INATISMO Inatismo vem da palavra inato, que significa algo que pertence ao ser desde o nas- cimento – inerente, natural, congênito. Ou seja, tudo aquilo que nasce com o indiví- duo é inato. São características que independem daquilo que o indivíduo venha a experimentar e perceber após o seu nascimento. Para os inatistas, a linguagem nasce com o indivíduo e não possui interferência externa da convivência. Essa teoria vem em contraposição com a behaviorista. Essa teoria postula que o desenvolvimento da linguagem ocorre de acordo com a maturação biológica, por isso é gradativa. Noam Chomsky, um dos precursores dessa perspectiva, com seus estudos sobre a es- trutura da linguagem, no final da década de 1950, impulsionou e reforçou os estudos que diziam que a língua é inata. 26 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Uma das diferenças entre o behaviorismo e o inatismo está no fato de que, enquanto este está ligado a teorias racionalistas, aquele está ligado a teorias ambientalistas. Esse é um assunto a ser aprofundado pelas disciplinas de Psico- logia da Aprendizagem e Psicologia do Desenvolvimento. 1.2.6 A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA INATISTA A partir de um ponto de vista da Teoria Gerativista de Chomsky (ORLANDI, 2003), a criança possui a capacidade inata de adquirir uma língua rapidamente, porque possui uma gramática internalizada. Sabe, por exemplo, que a estrutura elementar de uma gramática é a de sujeito e verbo. Há um princípio universal das línguas. Isso porque todas as línguas naturais apresentam partes em comum, apesar de serem aparentemente diferentes. Por isso, toda criança está apta a aprender uma ou mais línguas, desde que a elas esteja exposta ou em contato (CHOMSKY, 1968). A partir dessa perspectiva, pressupõe-se que todo aprendizado é uniforme, então toda crian- ça passa pelos mesmos processos e fases de aquisição da linguagem. Para Chomsky (1968), a língua não é um repertório de palavras, frases e estruturas memorizadas, por serem imitadas, mas sim uma combinação infinita de frases a partir de uma lista finita de palavras. É a gramática universal. Segundo o autor, a linguagem é uma dotação genética do ser humano. A criança nasce pré-programada para adquirir a linguagem e, quando exposta à fala, é capaz de construir hipóteses sobre a língua em que está imersa. Os teóricos de Chomsky foram criticados por duas correntes das seguintes vertentes teóricas: o cognitivismo construtivista e o interacionismo social. 27 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO Essa teoria foi utilizada no desenvolvimento das metodologias de ensino de Lín- gua Portuguesa na década de 1980, quando os exercícios para o entendimen- to das estruturas gramaticais ocorriam por meio das análises de três ângulos: sintático, semântico e fonológico. A teoria gerativa fornece uma teoria sintática universal, isto é, estabelece a lista das relações gramaticais capazes de dar uma descrição estrutural de todas as frases. 1.2.7 SOCIOINTERACIONISMO A teoria sociointeracionista é a que está sendo usada na educação no que se refere à elaboração de metodologias de ensino de Língua Portuguesa. Essa é uma teoria de aprendizagem com o foco na interação, ou seja, a aprendizagem tem de ser contex- tualizada histórica, sócia e culturalmente. É o conhecimento real da criança o ponto de partida para o conhecimento potencial. A aprendizagem só ocorre quando há a interação entre o sujeito e o objeto do conhecimento, isto é, o homem precisa socia- lizar-se para estar predisposto à aprendizagem. 1.2.8 A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA SOCIOINTERACIONISTA Por volta da década de 1970, os estudos de Lev Vygotsky (1896 – 1934) deram impul- so ao desenvolvimento da teoria sociointeracionista. Tal fato se deu porque o autor discutiu sobre a importância das relações do sujeito com o contexto para a aprendi- zagem. Ele não acredita no simples processo de estímulo e resposta, como aponta o behaviorismo, para o desenvolvimento da aprendizagem. Nessa perspectiva, a crian- ça desenvolverá a linguagem a partir das interações com o meio em que convive. É a aprendizagem contextualizada e significativa. Por essa ótica, só ocorre a aprendiza- gem quando há interação entre o sujeito aprendiz e o objeto a ser apreendido. 28 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Dica: assista ao filme O enigma de Kaspar Hauser (1974). Kaspar Hauser é um jovem que foi trancado a vida inteira num cativeiro, desconhecendo toda a exis- tência exterior. Quando ele é solto nas ruas sem motivo aparente, a sociedade se organiza para ajudá-lo, que sequer conseguia falar ou andar, mas este logo acaba se tornando uma atração popular. É interessanteobservar como é o com- portamento desse menino em relação ao desenvolvimento de sua linguagem. Encontra-se o filme na web legendado. 1.3 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM Agora que você já estudou um pouco sobre as teorias da psicologia da aprendizagem e como estão relacionadas ao processo de aquisição da linguagem, verá como ocor- rem os seus estágios de aprendizagem. 1.3.1 ESTÁGIO PRÉ-LINGUÍSTICO FIGURA 6 - PRIMEIROS MESES FONTE: SHUTTERSTOCK, 2018. 29 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO Nos primeiros meses, a criança chora e começa a balbuciar, emitindo sons que não têm nenhum significado. Emite sons que não representam algo substancialmente, mas que estão servindo como exercício para o desenvolvimento físico para a pro- núncia das palavras futuramente. Com o tempo, na interação com seus familiares, a criança percebe que alguns sons estabelecem a interação e com isso passa a repe- ti-los ou utilizá-los para atender às suas necessidades. Este é considerado o estágio pré-linguístico, porque os sons produzidos não estão associados a nenhum significa- do linguístico. Todavia, é importante ressaltar que o conhecimento adquirido pelas crianças nessa fase é imprescindível, visto que serve como elemento de construções linguísticas para o banco de dados que será utilizado posteriormente. 1.3.2 ESTÁGIO LINGUÍSTICO – PRIMEIRAS PALAVRAS FIGURA 7 - PRIMEIRO ANO DE VIDA FONTE: SHUTTERSTOCK, 2018. 30 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO O estágio linguístico aparece, normalmente, próximo ao primeiro ano de vida da criança. Ela passa a produzir sons que se relacionam aos que são significativos dentro do idioma nativo. Esse é o momento em que a criança começa a dizer mamãe, papai, água etc., que, mesmo sem a pronúncia fonética adequada ao signo correspondente, é interpretada e entendida pelas pessoas que estão ao seu redor, ou seja, não fala igual ao adulto, que, por questão da convivência, a compreende. Isso ocorre porque a criança ainda depende da maturação de alguns nervos cerebrais e vocais. Durante esse estágio, a comunicação se limita a uma palavra. A relação dessa palavra com o objeto a que ela se refere, nem sempre é exata, visto que a criança se apropria do contexto em que está ou que deseja atender à sua ne- cessidade para estabelecer a inter-relação. Por exemplo, a criança pode dizer bolsa, quando deseja sair para passear, se quem a leva reforça a importância de se ter a bolsa para essa ocasião e diz a palavra bolsa nesse momento. Aqui, podemos observar que há traços das teorias do desenvolvimento apresen- tadas anteriormente. Elas se complementam. Há o aspecto de imitação tratado pelo behaviorismo, o aspecto da interação, abordado pelo cognitivismo cons- trutivismo e sociointeracionismo, e também o inatismo, quando consideramos a questão da gramática universal ‘internalizada’. É evidente que a questão so- ciointeracionista é essencial para que o desenvolvimento da linguagem ocorra de forma plena, já que este será o motivador para que a criança deseje apren- der, mas não se pode ignorar os outros aspectos. 31 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO 1.3.3 ESTÁGIO LINGUÍSTICO – AS PRIMEIRAS DUAS PALAVRAS FIGURA 8 - CRIANÇA AO TELEFONE FONTE: SHUTTERSTOCK, 2018. Quando a criança começa a produzir duas palavras associadas, está iniciando o pro- cesso de construção sintática da língua, mesmo que seja de maneira rudimentar. A partir daí, começa a desenvolver o processo de fala. Associa as palavras com uma lógica sintática, mesmo que não seja a correta. Isso porque a primeira gramática da criança está baseada na suposição de que toda relação sintática está correlacionada a uma relação temática. Toda sequência nome/verbo estará relacionada a sujeito/ ação, por exemplo. Quando deseja dizer que o bebê está chorando, diz: “bebê chora” em vez de “o bebê está chorando”. 32 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 1.3.4 ESTÁGIO LINGUÍSTICO – MAIS QUE DUAS PALAVRAS FIGURA 9 - CRIANÇAS BRINCANDO FONTE: SHUTTERSTOCK, 2018. Quando a criança vai crescendo, a partir dos 2 anos, aproximadamente, ela começa a desenvolver a comunicação com períodos mais complexos e com mais palavras. Ainda não desenvolve a comunicação como a dos adultos, mas já consegue elaborar expressões que vão além da imitação. Os autores costumam chamar o fenômeno de discurso telegráfico, visto que as crianças omitem alguns elementos, como também, por associação a regras já assimiladas, trocam algumas estruturas que não fazem parte da regra. 33 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO Por exemplo, a criança diz “eu sabo” em vez de “eu sei”, porque associa à conju- gação dos verbos regulares: ‘eu como’, ‘eu bebo’, então, ‘eu sabo’. Após o estágio de duas palavras, as crianças vão ganhando mais autonomia em suas construções linguísticas, visto as interações que têm com o meio. Ampliam seu vo- cabulário e sua compreensão pela estrutura sintática do idioma que aprendem. A construção linguística e discursiva dessa criança estará intrinsecamente relacionada às experiências vividas e conhecimentos adquiridos durante sua infância. Esse assun- to será tratado mais adiante, quando formos abordar as variações linguísticas. CONCLUSÃO Nesta unidade, você estudou o conteúdo que traz conhecimentos sobre a aquisição e o desenvolvimento da linguagem. Inicialmente, foi feita a distinção entre os con- ceitos de linguagem e língua. Pode-se perceber que a língua pertence ao grupo da linguagem que possui um espectro amplo na comunicação, como: símbolos, ima- gens, signos etc. Você estudou também quais são os elementos da comunicação, como emissor, receptor, mensagem, canal, código e contexto. A estrutura da comu- nicação é o princípio básico para se compreender as metodologias sociointeracio- nistas no ensino da Língua Portuguesa. Estudou, mesmo que com pouca profundi- dade, as teorias que embasam a aquisição da linguagem: behaviorismo, inatismo, sociointeracionismo e cognitivismo. Refletiu que, apesar de possuírem sensíveis di- ferenças, não são excludentes. O behaviorismo aponta que a linguagem é adquirida pelo comportamento de estímulo e resposta, e acredita-se que o indivíduo aprende por imitação e repetição. Já o inatismo diz que o indivíduo nasce com a capacidade de desenvolver a linguagem. Ambas, de alguma forma, embasam as teorias mais utilizadas atualmente: o sociointeracionismo e cognitivismo construtivismo, quan- do abordam a questão das relações com o meio e da importância dos estágios de desenvolvimento. Por fim, você viu como ocorre o desenvolvimento da linguagem desde o nascimento da criança até aproximadamente 2 anos. 34 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Esta unidade oferece conhecimentos importantes em sua formação profissional, vis- to que o curso de Pedagogia forma o educador para atuar como professor, coorde- nador pedagógico e diretor pedagógico na Educação Infantil (composta por creche e pré-escola) e Educação Básica (composta pelos Ensinos Fundamental e Médio). A Educação Infantil, principalmente na creche,é a etapa em que a criança adqui- re e desenvolve a linguagem. Saber identificar as etapas e conhecer o processo de comunicação e as teorias cognitivas que embasam o desenvolvimento infantil per- mite aprofundar os conhecimentos relacionados à educação e ao ensino de Língua Portuguesa. É importante que o profissional que esteja atuando nessa área tenha conhecimentos sobre o tema para poder saber como planejar, desenvolver e avaliar as ações educativas. 35 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO Teoria gerativista – a gramática gerativa tem por pressuposto que há uma es- trutura universal de inspiração lógica na construção da língua. As línguas apre- sentam caráter lógico e se organizam segundo leis e padrões universais. Afirma- -se que todo falante possui uma gramática universal (GU) internalizada que lhe possibilita formar sentenças gramaticais em sua língua. 36 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você: > Descrever a língua como construção humana, histórica e social, o seu caráter constitutivo de organização e significação da realidade, e como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que pertencem. > Diferenciar a língua falada e a escrita. > Distinguir língua formal e informal. > Identificar atitude respeitosa diante de variedades linguísticas, rejeitando preconceitos linguísticos. UNIDADE 2 37 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO 2 ARTICULAÇÃO ENTRE LÍNGUA FALADA E ESCRITA Nessa unidade, será abordado um tema bastante polêmico quando se trata dos estu- dos em língua portuguesa. Você refletirá a respeito do erro e do acerto. Essa discussão tem por objetivo trazer a reflexão sobre por que o conceito de errado na língua portu- guesa é polêmico atualmente. Para que se compreenda essa discussão, é importante saber distinguir o que é língua falada e língua escrita e por que há diferenças subs- tanciais entre elas, entender por que achamos a língua portuguesa tão difícil e iden- tificar o que é língua da norma informal ou coloquial e língua culta. Além disso, é im- portante estudar o que são as variações linguísticas, quais são os seus tipos, por que elas ocorrem e como se deve compreender esse tema para não cometer preconceito linguístico e fazer com que os alunos também não o cometam. Esses conhecimentos são extremamente importantes para o ensino de língua portuguesa da atualidade. Tanto os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) quanto a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) orientam que a sociolinguística seja a disciplina de base para a ela- boração de metodologias para o ensino de língua na escola. Esperamos que, ao final da unidade, você reflita sobre o tema e seja capaz de criar planos de aula que privile- giem o ensino da língua como instrumento de interação. 2.1 ARTICULAÇÃO DA LÍNGUA FALADA E ESCRITA “Nois vai” ou “nós vamos”, “me dá” aquela caneta ou “dê-me” aquela caneta, “os me- nino” ou “os meninos”. O que é certo? O que é errado? Muitas são as discussões em relação a isso. Houve, inclusive, uma polêmica em 2011 quando o Ministério da Edu- cação editou um livro didático que, entre outros assuntos, tratava do uso das línguas falada e escrita. Na obra Por uma vida melhor, voltada para a educação de jovens e adultos, há uma parte em que se afirma que a expressão “os menino pega o peixe” não está errada. O que você pensa sobre isso? Nesta unidade, vamos discutir sobre as características e diferenças entre as línguas falada e escrita para que você entenda como deve ser seu trabalho em sala de aula diante das competências que devem ser desenvolvidas no trabalho com os alunos. 38 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO O livro Por uma vida melhor: intelectuais, pesquisadores e educadores falam sobre o livro (Coleção viver e aprender. Ed. Ação Educativa) possui artigos que discutem sobre questões das variações linguísticas, seus usos e preconceitos deles advindos. É uma sugestão de leitura que você encontra disponível na internet. Para aprimorar a sua reflexão, busque também na internet por vídeos com entrevistas e debates com pessoas renomadas sobre esse livro. 2.2 CARACTERÍSTICAS DAS LÍNGUAS FALADA E ESCRITA A língua é uma só, mas as possibilidades de seus registros criam variações que, em alguns casos, distanciam a forma escrita da falada. Para entendermos por que há diferença entre a língua falada e a escrita, temos de entender um pouco sobre como elas se desenvolvem. É sabido que a língua falada surgiu antes da língua escrita. Primeiramente, surgiu a necessidade de se comunicar oralmente. Com o tempo, a necessidade de se registrar o que se comunicava fez com que a escrita ganhasse sua relevância. Daí surgiram os diversos códigos escritos. 39 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO O primeiro sistema de língua escrita conhecido é o cuneiforme, pois era feito por cunhas que talhavam as pedras. Acredita-se que foram os sumérios que o criaram. A escrita era do tipo semântico-fonética, pois fazia uma associação com a forma de se falar. Havia também os ideogramas, que são códigos que representam palavras inteiras, como ocorre com a língua escrita no Japão, por exemplo. Várias foram as formas de se escrever desde que se tem conhe- cimento. FIGURA 10 - ESCRITA CUNEIFORME FONTE: SHUTTERSTOCK, 2018. FIGURA 11 - IDEOGRAMA FONTE: SHUTTERSTOCK, 2018. 40 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO É importante ressaltar que a língua falada é viva, pois é utilizada, recriada, reelabora- da e inventada pelo falante. Essa característica não é um privilégio apenas da língua portuguesa. Outros idiomas também passam por transformações. O pronome de tratamento você(s), muito utilizado em diversas regiões do Brasil em substituição aos pronomes de 2ª pessoa (tu e vós), surgiu de vossa mercê. Pelo fato de a maioria dos falantes não conhecer a escrita, ao repro- duzir este pronome da forma como era escrito, dizia-se “vosmicê”, “vuncê”; então, surgiu o você. A transformação não parou por aí, pois, atualmente, na fala muitos dizem “cê” e, na escrita, por conta da comunicação digital das redes sociais, encontramos o “vc”. Importante destacar que, com o advento das tecnologias de informação e co- municação (TIC) e a ampliação ao acesso das redes sociais digitais, está surgin- do uma nova variedade de língua escrita que poderíamos chamar de língua falada escrita. Nas redes sociais da internet, o momento de interação entre o emissor e receptor ocorre , normalmente, em um ambiente informal e sur- ge como um exercício da oralidade por meio da escrita. É o que Marchuschi (2004) chama de conversação em forma de escrita com marcas da oralidade. w 41 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO FIGURA 12 - EXEMPLOS DE CONVERSA NO APLICATIVO DE CELULAR Fonte: Elaborada pela autora. QUADRO 1 - DIFERENÇAS ENTRE AS LÍNGUAS FALADA E ESCRITA LÍNGUA FALADA LÍNGUA FALADA ESCRITA (REDESSOCIAIS) LÍNGUA ESCRITA Interação face a face – síncrona. Interação online ou offline – síncrona ou assíncrona. Interação assíncrona: os tem- pos de emissão e recepção não ocorrem concomitante- mente. O emissor utiliza, além das pa- lavras para falar, outros códigos linguísticos, como entonação da voz, gestos e pausas. O emissor utiliza, além das palavras, desenhos, figurinhas e reticências. Aqui, esse uso é opcional. Há o uso de sinais de pontua- ção padronizados (vírgula e pontos). 42 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO LÍNGUA FALADA LÍNGUA FALADA ESCRITA (REDES SOCIAIS) LÍNGUA ESCRITA Costuma ser mais espontânea. Costuma ser mais espontânea. Costuma ser mais formal e programada. Permite a recondução da informação caso não ocorra a interação desejada. Permite a recondução da informação caso não ocorra a interação desejada. Não permite reescrita caso não seja bem compreendida. Por ter uma comunicação síncrona, costuma ser menos planejada. A comunicação nesses casos poder ser síncrona ou assíncro- na. O planejamento da escrita depende do contexto (formal ou informal) e da intenção do emissor. Permite o planejamento do discurso que se deseja trans- mitir, pois pode ser lida, relida e reescrita, já que a interação não é síncrona. Fonte: Elaborado pela autora. 2.2.1 NORMA CULTA, LÍNGUA COLOQUIAL FIGURA 13 - O PROCESSO SELETIVO Fonte: UOL EDTECH, 2019. Na situação apresentada, o jovem candidato não está tendo a postura adequada ou desejada para a vaga que está disponível. Seu discurso é extremamente informal para uma situação que pressupõe formalidade e uso da norma culta. A palavra formal vem do latim formālis e que significa “relativo a” ou “que serve de molde ou fôrma”. É o que se refere ao formato, àquilo que segue um padrão e possui 43 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO um rigor. Por isso, está associada à norma culta. informal significa não formal, pois o prefixo in (de origem latina), entre outros significados, representa negação. Associa- mos a comunicação informal à língua coloquial. Os contextos formais possuem regras sociais ou de cortesia. Não que as pessoas se- jam obrigadas a segui-las, mas é comum que as sigam para poderem estar de acordo com o seu precedente social e cultural. Com a língua, acontece o mesmo. Na situação apresentada, não é comum utilizar gírias como as ditas pelo candidato. Não porque seja desrespeitoso, mas porque as gírias são expressões utilizadas em determinados grupos que as compreendem e que podem não ser compreendidas por outros. Ima- gine esse candidato em uma recepção de hotel em que chegam pessoas de todas as partes do país? Nesse contexto, é desejável que se use a norma culta padrão. O contexto de comunicação é um dos elementos que deve ser considerado para que de fato a interação ocorra e a mensagem seja compreendida. Então, deve-se usar linguagem formal em contextos formais, mas, por outro lado, caso se esteja em um contexto cuja linguagem formal não é bem compreendida, deve-se valer da lingua- gem informal. O bom comunicador é aquele que é poliglota em seu próprio idioma, aquele que consegue se comunicar com todas as pessoas, de todas as classes sociais, de todas as regiões do país, de todas as faixas etárias. Todavia, isso é muito difícil, pois, como a língua é viva, esse poliglota teria de se atuali- zar quase que diariamente para conhecer todas as novas palavras, expressões e gírias que surgem. Uma boa razão para que todos tenham conhecimento das regras que regulam a lín- gua é que, além de ser a utilizada em contextos formais, ela permite que possamos nos comunicar no país inteiro por meio de um “único” idioma. Por isso, que se estuda a língua portuguesa pelo viés da norma culta padrão durante a educação básica, mesmo sendo a língua materna e já termos sido alfabetizados. Para saber mais, pesquise na internet sobre variações linguísticas: o modo de falar do brasileiro. 44 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 2.2.2 A FALA, A ESCRITA E O ENSINO O ensino de língua portuguesa só começou a ser valorizado a partir de 1871 quando ela passou a ser necessária para o ingresso nas faculdades do Império. Todavia, a dis- cussão a respeito do formato de seu estudo teve sua primeira crítica apenas em 1919, quando Said Ali publicou uma gramática que não partia do latim para o português, como era feito até então, mas do português arcaico para o moderno. Essa sua crítica, porém, não foi acolhida naquela ocasião. Somente em 1930, quando Ismael de Lima Coutinho publicou a gramática Histórica, é que tal forma de se estudar passou a ser valorizada. Juntamente com essa publicação de Ismael Coutinho, surge outra obra importante, porém antagônica à anterior: lições de Português, de Souza da Silveira, que criticava o dogmatismo purista do ensino da língua e valorizava os regionalismos. O fato é que, desde aquele tempo, já não se havia um consenso de como se ensinar a língua portuguesa. Em 11 de agosto de 1971, o governo federal publica a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (Lei nº 5.692). Essa lei determina que a disciplina de língua portugue- sa tenha o nome de Comunicação e Expressão (da 1ª à 4ª série) e Língua Portuguesa (da 5ª série ao 3ª ano do ensino médio). Essa nomenclatura ficou até a década de 1980, quando Comunicação e Expressão voltou a ser Língua Portuguesa. Em 1985, novas discussões surgiram a respeito do ensino da língua portuguesa. Gra- máticos como Evanildo Bechara (1987) eram defensores de um ensino de gramática mais contextualizado e significativo. (...) uma língua histórica não é um sistema homogêneo e unitário, mas um diassistema, que abarca diversas realidades diatópicas (isto é, a diversidade de dialetos regionais), diastráticas (isto é, a diversidade de nível social) e diafásicas (isto é, a diversidade de estilos de língua), e que cada porção da linguística re- almente possui de direito sua língua funcional (BECHARA, 1987, p. 15). Em 1997, surgem os Parâmetros Curriculares Nacionais, que, a respeito do ensino de língua portuguesa, orientam que ele deve ser contextualizado para que haja uma aprendizagem de fato e que sejam respeitadas as diferenças para que se cumpra um direito de todos: 45 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidada- nia, direito inalienável de todos (BRASIL, 1997, p. 21). A Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018, p. 7) também mantém os princípios dos PCN quanto aos direitos para o exercício da cidadania: Este documento normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1o do Artigo 1o da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional (LDB, Lei no 9.394/1996), e está orientado pelos princípios éticos, políti- cos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes CurricularesNacionais da Educação Básica (DCN) (BRASIL, 2018, p. 7). tipos de gramática Na escola, costumamos priorizar o estudo da gramática da norma culta, que é usada no contexto de língua formal. No entanto, há outras, a saber: • gramática de usos – é uma obra que parte da observação dos usos realmente ocorrentes no Brasil para, refletindo sobre eles, oferecer uma organização que os sistematize. • gramática descritiva – busca descrever o mecanismo pelo qual deter- minada língua funciona, num dado momento, como meio de comu- nicação entre os seus falantes e analisar a sua estrutura ou configura- ção formal que nesse momento a caracteriza. • gramática histórica – é aquela que estuda e analisa a evolução histó- rica de uma língua. • gramática comparativa – tem como objetivo estabelecer correspon- dências entre línguas para determinar suas relações de parentesco. 46 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 2.3 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompa- nhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da úl- tima hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comi- go que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado” (ASSIS, 1994). Esse trecho da obra de Machado de Assis é o segundo parágrafo do primeiro capítu- lo do romance memórias Póstumas de Brás cubas, escrito em 1881. Ele descreve a própria morte e funeral. Você pode observar que há, nesse trecho, várias palavras que não são mais utilizadas na língua portuguesa nos dias atuais, por exemplo: (i) expirei, no sentido de morrer, e (ii) a segunda pessoa do plural – vós – “Vós, que o conhecestes”. Por que esse fato ocorre? Por que muitas vezes precisamos utilizar o dicionário para compreender textos escritos em tempos mais antigos? Porque a língua muda! Porque a língua é viva! Só não muda a língua morta, aquela que não é mais utilizada, aquela que não é mais falada; por exemplo, o latim. Por que isso ocorre? Porque a língua é falada pelos falantes que são vivos e, no seu cotidiano, transformam termos, criam expressões, palavras etc. O linguista brasileiro Marcos Bagno fez um estudo sobre este assunto e, em sua obra Preconceito linguístico: o que é e como se faz, explica por que tais transformações ocorrem: “Só existe língua se houver humanos que a falem” (BAGNO, 2007, p. 9). Como humanos, somos seres criativos, dinâmicos e inovadores. Imagine você se fôssemos conservadores? Quantas coisas não teríamos nos dias de hoje? 47 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO O mesmo ocorre com a língua. Ela vai se adaptando aos tempos, porque os falantes a transformam. Há um jeito particular de cada um ao falar. E o que isso tem a ver com o preconceito linguístico? É o que vamos estudar no pró- ximo tópico. 2.3.1 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E O PRECONCEITO LINGUÍSTICO Ficou claro até aqui que a língua falada é diferente da escrita, que temos as línguas formal e informal, a coloquial e a culta etc. O distanciamento da língua escrita da fa- lada se dá porque quem faz a língua é o falante e, consequentemente, é ele quem faz a gramática, e não o contrário. Como estudamos anteriormente, há várias gramáticas. Todavia, a que nos referimos neste tópico é a gramática da norma culta padrão (ou de prestígio, como alguns linguistas chamam). É a partir desse viés que construímos nossa reflexão. O que é preconceito? É a criação de um conceito sem que se faça um exame crítico do contexto. É a discriminação do outro por sua diferença ou por não se encaixar em um padrão predeterminado. Há o preconceito de diversas formas: raça, condição so- cial, gênero etc. Dentro desse universo, temos o preconceito linguístico. Qualquer pessoa que não utilize a norma culta padrão ou de prestígio está sujeita a sofrer preconceito, sendo assim discriminada. Ou a pessoa é discriminada pelo modo de falar de sua região, ou pelo modo de falar do grupo ao qual pertence; ou seja, toda pessoa que é discriminada por ser diferente em seu modo de falar sofre preconceito. O que temos de combater como educadores é justamente o julgamento que se faz do outro por conta da sua maneira de falar. Sabemos que há, por exemplo, precon- ceito entre os povos das diversas regiões do país. Há uma tendência a se acreditar que há uma região que fala o português correto. As explicações são muitas para essa afirmação: • Há os que dizem que regiões que foram as primeiras a serem colonizadas falam o português correto, pois falam o português mais próximo de Portugal, país que colonizou o Brasil. 48 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO • Há quem diga que São Paulo é quem utiliza o português mais correto, pois recebe pessoas do Brasil inteiro e mescla os falares. E por aí vão as opiniões. Na verdade, isso é um mito que se tem em relação à lín- gua portuguesa e que, muitas vezes, gera preconceito linguístico. Na verdade, não há quem fale o português correto, pois a fala une as características culturais e sociais de cada um. A fala representa a identidade de um povo. Há diversos tipos de variedade linguística, como veremos no próximo tópico. Para saber mais, sugere-se a leitura do livro Preconceito linguístico: o que é e como se faz. Nessa obra, Marcos Bagno (1999) chama a atenção para outro tipo de preconceito, que, em geral, passa despercebido ou é ignorado pela maioria da população brasileira: o preconceito linguístico. 2.3.2 TIPOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Estudos dos registros linguísticos apontam que há tipos de variação linguística. Varia- ções são as diferentes manifestações e realizações da língua, as suas diversas formas, que decorrem de fatores de natureza histórica, regional, social ou situacional. Essas variações podem ocorrer na fonética ou fonologia, morfologia, sintaxe e semântica. Podemos considerar os seguintes campos de estudo da variação linguística: Variação diacrônica ou histórica – é aquela que ocorre porque a língua é viva e muda. É a que faz com que um texto antigo seja mais difícil de ser compreendido. São as manifestações da língua dentro de um tempo. 49 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO Eram dois, ele e ela, ambos na flor da beleza e da mocidade. O viço da saúde rebentava-lhes no encarnado das faces, mais aveludadas que a açucena escarlate recém aberta ali com os orvalhos da noite. No fres- co sorriso dos lábios, como nos olhos límpidos e brilhantes, brotava-lhes a seiva d’alma. Ela, pequena, esbelta, ligeira, buliçosa, saltitava sobre a relva, gárrula e cin- tilante do prazer de pular e correr; saciando-se na delícia inefável de se di- fundir pela criação e sentir-se flor no regaço daquela natureza luxuriante. (ALENCAR,2012). Variação diafásica - é aquela que ocorre devido ao contexto ou situação em que ocorre a fala. Está associada às línguas formal e informal. Se o senhor num tá alembrado Dá licença de contar Ali agora onde está Aquele ardifício alto (BARBOSA, Adoniran. Saudosa Maloca. In: DEMÔNIOS DA GAROA. saudosa maloca: Os Demônios da Garoa nos Sambas de Adoniran Barbosa. Rio de Janeiro: Odeon, 1955) 50 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Variação diastrática (ou social) – é aquela que ocorre para demarcar o grupo so- cial do falante. Podemos citar a linguagem técnica de juristas, médicos, policiais etc., como também as gírias utilizadas por grupos de surfistas. Trecho de um processo jurídico No caso posto a julgamento, não há qualquer prova de ter sido a guarda da autora deferida ao avô. Os documentos carreados ao processo - a exemplo do processo de Justificação Judicial - se prestam a provar, unicamente, que a postulante vivia sob a dependência econômica do de cujus, mas não só ela, como também seus pais, já que possuidores de uma condição sócio-econô- mica insuficiente para prover seu sustento. Apelação improvida. Variação diatópica ou regionalismo – refere-se a variações resultantes da região em que a pessoa nasceu ou vive, tais como pronúncia diferente, diferentes palavras para designar as mesmas realidades ou conceitos, expressões peculiares da região, pro- núncias, modos de falar, etc. A palavras sinal, sinaleira, semáforo e farol indicam o mesmo objeto, mas são utilizadas de acordo com o lugar em que a pessoa está falando – sinaleira, no Paraná; sinal, no Rio de Janeiro; semáforo ou farol, em São Paulo. 51 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO FIGURA 14 - SEMÁFORO Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019. Mandioca, macaxeira, aipim, costelinha, uaipi, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre, mandioca-brava e mandioca-amarga dão o nome para o mesmo alimento. FIGURA 15 - ALIMENTO Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019.[[[ 52 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 2.3.3 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS E O ENSINO Ninguém está falando aqui que você, como professor, não deva ter como conteúdo o ensino da norma culta – o aluno tem de ser poliglota no seu idioma. Ele deve saber se expressar em várias situações, mas deve saber respeitar o outro em sua forma de falar. Tanto os Parâmetros Curriculares quanto a Base Nacional Comum Curricular privile- giam o ensino sob a ótica da concepção de linguagem como forma ou processo de interação. Por isso, o trabalho com os gêneros textuais é o mais usado. O foco fica na leitura e interpretação de texto e redação e produção de texto. Em relação à variação linguística, a norma culta é apenas mais uma variante entre ou- tras. A gramática da norma culta é a possibilidade que representa a forma da língua a ser utilizada em contextos formais. Não existe o certo ou errado, mas o adequado ou inadequado de acordo com o contexto. O texto é visto como uma forma de interação social; por isso, é importante fazer com que os alunos reflitam sobre o contexto de utilização da língua. O professor não pos- sui o papel de avaliador ou juiz dos textos produzidos pelos alunos, mas, sim, o de orientador. Ele age como interlocutor: questiona, sugere, provoca, refuta, exige expli- cações e argumentos. Faz com que o aluno tenha a consciência do seu papel como autor do seu texto, sempre vislumbrando todos os elementos que compõem a comu- nicação (emissor, receptor, mensagem, canal, código, contexto). Sob a ótica da sociolinguística, que considera a fala e suas variantes, a sala de aula se torna um espaço de interação, construção e compartilhamento do conhecimento. E para compartilhar, o aluno precisa saber registrar e reconhecer o contexto desse re- gistro. Para dizer isso por escrito, ele deve saber escolher os recursos linguísticos mais adequados para que o objetivo de comunicação seja atendido. Os diferentes saberes estabelecem uma relação dialógica com o conhecimento. A prática pedagógica é exercida por meio da ação e da reflexão para o domínio do uso dos textos em situações concretas e compreensão das diferenças entre uma for- ma de expressão e outra. Nesse formato de ensino, a gramática da norma culta deixa de ser o único referencial no ensino da língua culta padrão. Textos publicados em mídias como jornais, revistas, sites etc. podem servir de referência para a redação. 53 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO É importante destacar que em nenhuma literatura a sociolinguística despreza a gramática da norma culta, tampouco o trabalho com ela no ensino e apren- dizagem da língua. A gramática é o registro de normas e regras de mais uma variante da língua no contexto formal. É imprescindível que o aluno saiba uti- lizar esse registro para ser um cidadão ativo em todos os setores existentes. É importante que ele saiba reconhecer as variações linguísticas e os contextos comunicativos em que estão ocorrendo e que ele tenha o direito de usar qual- quer tipo de linguagem. Alienar o aluno dessa variante é ampliar o abismo social. Evanildo Bechara (1987) comenta que o privilégio não deve ser dado nem à língua culta, nem à coloquial, mas, sim, a adequação da linguagem em suas diversas situações de uso. 54 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO CONCLUSÃO Os estudos desta unidade são muito importantes para os futuros educadores. Eles são a resposta para uma grande polêmica que existe, desde a década de 1980, em relação ao ensino de língua portuguesa: o que se deve considerar certo ou errado. Tal fato se deu porque, como vimos, a língua portuguesa era ensinada a partir da gramática que era desvinculada da prática de comunicação. Nesta unidade, vimos que a língua da gramática é a escrita, e ela nem sempre é a correspondência direta da língua falada. Vimos também que a língua falada é viva e se renova a cada dia, e que a gramática é estanque, feita a partir de um recorte de um registro considerado culto da língua. Refletimos sobre o preconceito linguístico gerado por tais diferenças. Tais estudos são importantes para o que propõem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), em que a sociolinguística é a tendência pedagógica a ser observada na elaboração de planos de aula. Importante ressaltar que em hipótese alguma defendemos que a gramática seja abolida da escola, mas apontamos que seu uso deve ser contextualizado e significativo diante da perspecti- va da língua, pois tratamos o ensino de língua portuguesa sob a concepção da língua como construção humana, histórica e social e, também, como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que pertencem. 55 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Fundamentos teóricos e metodológicos da língua Portuguesa SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você: > Identificar os princípios e fundamentos que norteiam os Parâmetros Curriculares Nacionais. > Identificar os princípios e fundamentos que norteiam a Base Nacional Comum Curricular. > Aplicar os conhecimentos dos PCN e da BNCC em práticas educativas. UNIDADE 3 56 Fundamentos