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DIABETES MELLITUS ELCILENE TERRA ALVES Diabetes Mellitus (DM) é uma doença endócrino - metabólica de etiologia heterogênica, que envolve fatores genéticos, biológicos, imunológicos e ambientais, caracterizada por hiperglicemia persistente, decorrente de deficiência na produção de insulina ou na sua ação, ou em ambos mecanismos . A prevalência de DM nos países da América Central e do Sul foi estimada em 26,4 milhões de pessoas e projetada para 40 milhões, em 2030 DM Tipo 1 (5 a 10%): Apresenta deficiência grave de insulina devido a destruição das células ß, associada à autoimunidade. Clínica abrupta, com propensão à cetose e cetoacidose, com necessidade de insulinoterapia plena desde o diagnóstico ou após curto período • Auto-imune / Tipo LADA (Diabetes autoimune latente do adulto) • Idiopático DM Tipo 2 (90 a 95%): início insidioso, caracterizado por resistência à insulina e deficiência parcial de secreção de insulina pelas células ß,pancreáticas, além de alterações na secreção de incretinas. • Obeso • Não obeso Diabetes gestacional: Diabetes gestacional é um estado de hiperglicemia, detectado pela primeira vez na gravidez. Geralmente se resolve no período pós-parto e pode frequentemente retornar anos depois. Hiperglicemias detectadas na gestação que alcançam o critério de diabetes para adultos, em geral, são classificadas como diabetes na gravidez, independentemente do período gestacional e da sua resolução ou não após o parto. Sua detecção deve ser iniciada na primeira consulta de pré- natal Outros tipos específicos: • Pancreatite Crônica • Endocrinopatias (S. Cushing, acromegalia, glucagonoma) • Medicamentoso ( corticóides, pílulas AC, interferon α) • S. Genéticas específicas (S. Prader-Willi, distrofia miotônica) • Defeitos genéticos na função da célula β (MODY) ou da ação da insulina • Infecções: rubéola congênita, etc Indicação para rastreamento de DM2 em pessoas assintomáticas a) Presença de sobre peso ou obesidade (IMC > 25 kg/m2) associado a um ou mais dos seguintes fatores de risco: Familiares de primeiro grau portadores de diabetes. História pessoal de doença cardiovascular. Hipertensão (>140/90 mmHg) ou em tratamento para hipertensão. Colesterol HDL250mg/dL. Mulheres portadoras de síndrome do ovário policísticos (SOP). Sedentarismo. Presença de outras condições associadas a Resistência à insulina (obesidade severa, acantosenigricans, esteatosehepática, etc.1) b) Pacientes com pré-diabetes2 devem ser testados anualmente. c) Mulheres com diagnóstico de diabetes gestacional (DMG) devem ser testadas pelo menos a cada 3 anos. d) Para todos os outros pacientes sem fatores de risco, primeiro teste após os 45 anos. e) Se resultados dos testes normais, repetir a cada 3 anos ou antes, se surgimento de fatores de risco. FATORES GERADORES DE HIPERGLICEMIA FATORES ASSOCIADOS – PREVALÊNCIA Diagnóstico glicemia casual, glicemia de jejum, teste de tolerância à glicose com sobrecarga de 75 g em duas horas (TTG) e, hemoglobina glicada (HbA1c). TIR: Tempo no alvo (“Time in Range”); T Hipog: Tempo em hipoglicemia. Valores normais de glicemia de jejum para adultos não gestantes: 70-99mg/dL; Valores normais de HbA1c para adultos não gestantes < 5,7%; Em pacientes com DM1 não-gestantes, É RECOMENDADO que o tempo em: hipoglicemia nível 1 (glicemia < 70 mg/dL) seja menor do que 4%; hipoglicemia nível 2 (glicemia< 54 mg/dL) seja menor que 1%, obtidos através de dispositivos de monitorização contínua de glicose. Classificação do estado clínico do idoso Mudança do estilo de vida (MEV) recomendada a todos os pacientes com pré-diabetes. Uso de Metformina (850 mg em duas tomadas) pode ser considerado juntamente com MEV especialmente em indivíduos com IMC > 35 kg/m2, idade < 60 anos, mulheres com história de DMG. Diagnóstico recente: MEV associada à metformina. Glicemia < 200 mg/dL: preferir os medicamentos que não promovem aumento da secreção de insulina (principalmente pacientes obesos e idosos). Glicemia > 200 mas < 300 mg/dL: avaliar insulinorresistência versus insulinodeficiência de acordo com a disponibilidade das medicações. Sempre pesquisar sintomas catabólicos, se presentes, indicam necessidade de uso de insulina para melhora da glicotoxicidade. Recomendações práticas: CLASSES DE ANTIDIABÉTICOS ORAIS Sulfoniluréias: Redução de glicemia de jejum esperada entre 60- 70 mg/dL e HbA1c entre 1,5-2%. Uso antes das refeições. Contra-indicações: Gravidez, Insuficiência renal e insuficiência hepática. -Glibenclamida 2,5 a 20 mg/dia. Iniciar antes da principal refeição e conforme a dose for aumentada distribuir antes de 2 ou 3 refeições do dia. Por ex.: glibenclamida 5 mg antes do café, almoço e jantar. Apresenta maior risco de hipoglicemia e se possível deve ser evitada em pacientes com risco muito elevado de hipoglicemia como por exemplo idosos e portadores de insuficiência renal. -Gliclazida MR 30 a 120 mg/dia. Uma a duas tomadas ao dia antes das refeições. Por ex.: Gliclazida MR 30 mg 2 comprimidos antes do café e jantar. - Glimepirida 1 a 8 mg/dia. Uma a duas tomadas ao dia antes das refeições. Por ex.: Glimepirida 4 mg 1 comprimidos antes do café. O SUS não fornece esta medicação Glinidas: Secretores de insulina com menor tempo de ação, cobre principalmente o período pós-prandial, com redução de 1-1,5% da HbA1c. Contra-indicações: Gravidez. Não fornecido pelo SUS. -Nateglinida 120 a 360 mg/dia, antes das refeições. -Repaglinida 0,5 a 16 mg/dia, antes das refeições. Inibidores das alfaglicosidases: Reduzem a velocidade de absorção intestinal de glicose no tubo digestivo, atuando principalmente na glicemia pós-prandial com redução de 0,5 a 0,8% da HbA1c. Os comprimidos devem ser tomados antes ou durante cada refeição. Pode causar efeitos adversos gastrintestinais principalmente quando associados à metformina. Contra-indicações: Gravidez, doença inflamatória intestinal. - Acarbose 50 a 300 mg/dia. Por ex.: Acarbose 50 ou 100 mg 1 comprimidos antes ou durante as refeições. O SUS fornece esta medicação em certos municípios Os que não aumentam a secreção de insulina (antihiperglicemiantes) Biguanidas-Metformina: Diminui a produção hepática de glicose com ação sensibilizadora periférica mais discreta. Reduz a HbA1c em 1,5 a 2%. Não deve ser usada na insuficiência renal grave (TFG < 30 mL/min). Na insuficiência renal moderada, deve ter a sua dose reduzida em 50% (TFG entre 30 e 45 mL/min). Contra-indicações: Insuficiência Renal, ), Insuficiência Cardíaca Congestiva descompensada, Insuficiência Hepática, doença aguda grave com risco de insuficiência renal e acidose lática. -Metformina 1.000 a 2.550 mg em 2 a 3 tomadas/ dia. -Por ex.: Metformina 850 mg 1 comprimidos após café, almoço e jantar. O SUS fornece Metformina de 500 e 850 mg. - Metformina XR 1.000 a 2.550 mg em 1 a 3 tomadas/ dia. -Por ex.: Glifage XR 500 mg 2 comprimidos após café e jantar. O SUS fornece dentro do programa da farmácia popular o Glifage XR de 500 mg. Glitazonas: São sensibilizadores de insulina e atuam predominantemente na resistência insulínica periférica em músculo, adipócito e hepatócito. Reduzem a HbA1c em 0,5 a 1,4%, em média. Os efeitos adversos são retenção hídrica e ganho de peso, com aumento do risco de insuficiência cardíaca e de fraturas. Contra-indicações: Insuficiência Cardíaca CF III e IV, Osteoporose grave, Doença hepática ativa. Pode ser usado em associação à Metformina. Pioglitazona 15 a 45mg em uma tomada/dia independente da refeição. Não fornecido pelo SUS Os que aumentam a secreção de insulina de maneira dependente da glicose Incretinas. Aumentam a secreção de insulina apenas quando a glicemia se eleva e também controlam o incremento inadequado do glucagon pós-prandial observado nos pacientes com diabetes.A isso chama-se efeito incretínico. Gliptinas ou Inibidores da enzima dipeptidil peptidase 4 (DPP-4): O bloqueio da enzima DPP-4 aumenta a sua vida média, com promoção das principais ações, como liberação de insulina, redução da velocidade de esvaziamento gástrico e inibição da secreção de glucagon. Redução de 0,6 a 0,8% da HbA1c e geralmente são bem tolerados. Podem ser utilizados em pacientes com insuficiência renal grave com o ajuste da dose. Vildagliptina 50 mg em duas tomadas/dia. Ajuste conforme função renal Sitagliptina 50 ou 100 mg em uma ou duas tomadas/dia. Ajuste conforme função renal. Saxagliptina 2,5 ou 5 mg, uma tomada/dia. Ajuste conforme função renal. Linagliptina 5 mg, uma tomada/dia. Não necessita ajuste para função renal. Alogliptina 6,25, 12,5 ou 25 mg, uma tomada/dia. Ajuste conforme função renal Definida como: Glicemia < 70 mgdl Sintomas adrenérgicos: palidez, palpitações, sudorese, fome, ansiedade, agitação Sintomas neuroglicopênicos: irritabilidade, fadiga, distúrbios da concentração, cefaleia, sonolência, parestesias, desordens psiquiátricas, distúrbios visual, distúrbio transitório motor e sensorial, convulsão e coma Hipoglicemia preferir a correção por via venosa Preferir a via oral para correção da hipoglicemia se o paciente estiver consciente. Tratamento: Se glicemia entre 40 e 70 mg/dL e/ou sintomas adrenérgicos e o paciente conseguir ingerir sólido ou liquido: Oferecer 15g de carboidrato Se glicemia < 40mg/dl na ausência de sintomas neuroglicopênicos: Oferecer 30g de carboidrato. manejo da hipoglicemia pelo paciente, família e serviço de Saúde Fontes de Carboidratos (15 gramas): 03 tabletes de glicose; 15 gramas de gel de glicose; 03 sachês ou 01 colher de sopa de mel; 01 colher de sopa de xarope de milho; 01 colher de sopa de açúcar; ½ copo de refrigerante regular Abdômen: mais rápida; braços intermediária; coxas e nádegas mais lenta. Hiperglicemias de jejum ou pré-prandial: insulina basal (intermediária ou lenta), Hiperglicemia associada à refeição: insulina de curta ação ou rápida Insulina NPH em dose única, antes de deitar, associada a antidiabéticos orais costuma ser bem recebida pelos usuários, tem o benefício de requerer menores doses de insulina e reduz o risco de hipoglicemia. Cetoacidose Mortalidade em torno de 5%. Ocorre principalmente em pacientes com DM tipo 1, sendo, diversas vezes, a primeira manifestação da doença. Fatores precipitantes: infecção, má aderência ao tratamento (omissão da aplicação de insulina, abuso alimentar), uso de medicações hiperglicemiantes e outras. Sintomas: polidipsia, poliúria, enurese, hálito cetônico, fadiga, visão turva, náuseas e dor abdominal, além de vômitos, desidratação, hiperventilação e alterações do estado mental. Descompensação hiperglicêmica aguda O diagnóstico é realizado por hiperglicemia (glicemia maior de 250 mg/dl), cetonemia e acidose metabólica (pH <7,3 e bicarbonato < 15 mE/ql) Complicações: choque, distúrbio hidroeletrolítico, insuficiência renal, pneumonia de aspiração, síndrome de angústia respiratória do adulto e edema cerebral em crianças Síndrome hiperosmolar hiperglicêmica não cetótica Hiperglicemia grave (superior a 600 mg/dl a 800 mg/dL) acompanhada de desidratação e alteração do estado mental, na ausência de cetose. Ocorre apenas no diabetes tipo 2, em que um mínimo de ação insulínica preservada pode prevenir a cetogênese. A mortalidade é mais elevada que nos casos de cetoacidose diabética devido à idade mais elevada dos pacientes e à gravidade dos fatores precipitantes Avaliação e tratamento da descompensação aguda do DM Primeira causa de cegueira adquirida após a puberdade, a perda de acuidade visual é comum após dez anos de diagnóstico, acontecendo em 20% a 40% dos pacientes mais idosos. Retinopatia não proliferativa leve, moderada ou grave Retinopatia proliferativa. Rastreamento: DM tipo 1: adultos ou crianças maiores de dez anos após cinco anos de diagnóstico do diabetes DM tipo 2: iniciar no momento do diagnóstico Retinopatia diabética Nefropatia diabética Complicação microvascular do diabetes associada com morte prematura por uremia ou problemas cardiovasculares. É a principal causa de doença renal crônica em pacientes que ingressam em serviços de diálise. A nefropatia diabética é classificada em fases: normoalbuminúria, microalbuminúria (ou nefropatia incipiente) e macroalbuminúria (nefropatia clínica ou estabelecida ou proteinúria clínica) O rastreamento DM tipo 2: diagnóstico DM tipo 1: cinco anos após o diagnóstico Apresenta um quadro variado, com múltiplos sinais e sintomas, dependentes de sua localização em fibras nervosas sensoriais, motoras e/ou autonômicas. A neuropatia pode variar de assintomática até fisicamente incapacitante. Neuropatia diabética Neuropatias focais: • Mononeuropatias: são formas raras de início súbito, natureza assimétrica e de curso autolimitado. Exemplos de mononeuropatias com déficit motor são a paralisia facial, oculomotora e ciático-poplítea; mononeuropatia sensitiva é a ocorrência de forte dor na região intercostal. • Miorradiculopatia: apresenta quadro clínico de dor e atrofia muscular intensa na cintura pélvica, nádegas e coxas com início insidioso. • Neurites compressivas: podem ocorrer síndromes como a do túnel carpal ou tarsal. São identificadas por dor e parestesias nas mãos, antebraços ou pés e por hipotrofia dos pequenos músculos das mãos e/ou dos pés. Neuropatias autonômicas Cardiovascular: É caracterizada pela resposta anormal da frequência cardíaca a diferentes estímulos (respiração profunda, levantar-se do decúbito, manobra de Valsalva), mas pode permanecer assintomática por muito tempo. Hipotensão postural: Gastrointestinal: Alterações do hábito intestinal são manifestações comuns de neuropatia autonômica. Urogenital: A bexiga neurogênica leva à retenção, incontinência e infecções urinárias. O diagnóstico baseia-se na demonstração de resíduo vesical após a micção espontânea e deve ser considerado na presença de infecções urinárias de repetição, dilatação do sistema coletor renal ou perda de função renal. •Neuropatia sudomotora: manifesta-se pela anidrose plantar, com pele seca, fissuras e hiperqueratose nos pés, favorecendo o surgimento das úlceras neuropáticas. • Neuropatia pupilar: causa hemeralopia ou dificuldade para visão noturna, que exige cuidados ao conduzir veículos à noite.