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Guia da Disciplina - Fundamentos Sociológicos e Antropológicos da Educação - PEDAGOGIA Unisanta

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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E 
ANTROPOLÓGICOS 
Me. Tássio Acosta 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 2022 
 
 
1 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. APROXIMAÇÕES NECESSÁRIAS 
 
Objetivo 
Aproximar à temática da sociologia e antropologia a partir de questões cotidianas, 
presentes em todo território nacional e problematizada em diversas frentes, sobretudo 
aquelas ancoradas no senso comum. 
 
Introdução 
Para o aluno recém-ingressado no ‘mundo universitário’, alguns nomes soarão 
bastante estranhos e poderão trazer medos e ojerizas. Para aqueles formandos e em vias 
de se tornarem ‘formados’, os nomes se tornarão conceitos e a serem consolidados ao 
longo de sua trajetória profissional. Para ambos, o mais importante é saber que o caminhar 
acadêmico e profissional se dá ao longo do próprio percurso em si. Tal qual a sinuosidade 
de um rio, ser estudante universitário ou recém-formado e, em muitos casos, ter que 
conciliar as atividades diárias são realidades que requerem maestria e dedicação. 
 
Nesse primeiro parágrafo já temos uma série de questões que são passíveis de 
análises – e não meras palavras soltas num parágrafo inicial. Estamos falando de questões 
sociais, culturais, econômicas que se fazem presentes em nossos cotidianos. Marcadores 
sociais esses que se apresentam em nossas vidas e ajudam a nos constituirmos como 
sujeitos históricos e agentes sociais, como participantes ativos da construção da sociedade 
e da consolidação da democracia. Produzimos sentidos e somos produtos de outros. 
Influenciamos e somos influenciados, impactamos e somos impactados. Viver em 
sociedade é compreender que não existe apenas uma única forma de viver, ‘que é a nossa’, 
mas que também há outras formas de vida, de expressões de vida. Aquilo que chamamos 
de vidas outras. 
 
O objetivo principal da disciplina de Fundamentos Sociológicos e Antropológicos é 
exatamente esse: um convite à reflexão sobre nós mesmos enquanto sujeitos históricos e 
em como vivemos em sociedade, como devemos produzir balizas morais estruturadas no 
respeito e solidariedade. Dentre os objetivos secundários pensa-se na importância da 
emancipação dos sujeitos, da construção da coletividade e valorização das diferenças 
como forma de produzirmos vidas possíveis. 
 
 
 
2 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1.1. O senso comum 
É muito comum escutarmos que não cabe ao professor emitir a sua opinião porque 
‘ela é apenas sua’, assim como não se deve debater temas sensíveis à determinadas 
parcelas sociais porque o professor deve ser apenas um transmissor do conhecimento. 
Estes dois primeiros sensos comuns se fazem bastante presentes na sociedade e não 
encontram lastros necessários para a sua manutenção. 
 
Primeiro porque esta ‘neutralidade’ presente na teoria clássica não se sustenta mais 
frente às demandas da sociedade contemporânea; segundo porque a característica 
principal do ser humano é a racionalidade1, ou seja, produzir sentidos para o seu cotidiano 
e, por fim, em último lugar, porque o posicionamento político se dá a partir daquilo que 
olhamos, interpretamos e validamos como certo ou errado, assim como será a começar da 
nossa interpretação de mundo que emitiremos nossas compreensões. 
 
Logo, sendo o ser humano um ser social e consequentemente receptor/emissor de 
percepções, qualquer que seja a sua profissão no futuro, todos nós somos seres políticos 
e agentes localizados num contexto sociohistórico em específico, atravessados por 
questões do presente e consequentemente produzindo sentido para aquilo que vivemos. 
Conforme destacado pelo filósofo Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento, mas 
criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção" (FREIRE, 2003, p. 
47), dando-se na prática, nas ações cotidianas dos sujeitos interessados em 
transformarem-se. 
 
Entretanto, enuncio o primeiro problema que se fará presente ao longo de toda a 
nossa matéria: se a educação se dá na práxis e se todos nós somos sujeitos sociais, como 
fica o direito ao contraditório? Existe apenas uma verdade? Se as ideias são diferentes e 
‘cada um pensa à sua maneira’, como fica a questão da diferença? Essas perguntas nos 
são bastante interessantes por serem o convite inicial ao próprio curso, por se fazerem 
presentes em todos os ambientes de ensino-aprendizagens. Um espaço que prioriza o 
ensino necessita ser obrigatoriamente democrático e, por isso, o contraditório se faz 
presente e é tão importante – seja ele oriundo do aluno ou do professor. Outro ponto em 
questão é que estes ambientes já são espaços do contraditório, uma vez que temos 
 
1 Para saber mais, ass is t i r o cur ta -metragem I lha das F lores. Disponíve l em 
ht tps: / /www.youtube.com/watch?v=Xxuei6Br6Fg 
https://www.youtube.com/watch?v=Xxuei6Br6Fg
 
 
3 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
pessoas com suas histórias de vida, com seus entendimentos e com suas perspectivas, 
com seus valores. 
 
1.2. Antropologia 
A antropologia visa estudar o ser humano em suas esferas sociais, culturais e 
biológicas e costuma andar conjuntamente com outras ciências para melhor análise do 
objeto de pesquisa. Destaca-se, nesse campo, o filósofo francês Claude Lévi-Strauss 
(1996, 2017, 2021), cuja obras são referências no campo da antropologia2. Para ele, de 
forma bastante sucinta, o pensamento do ser humano é comum a todas as sociedades e, 
para melhor compreender tanto a sociedade como o sujeito, faz-se importante a imersão 
do pesquisador no campo para fazer a observação daquilo que se percebe (que é a 
etnografia) e, posteriormente, à síntese daquilo que se percebeu e como se engendram tais 
relações (que é a etnologia). A finalização dessas duas etapas da pesquisa é o que se 
entende por Antropologia. 
 
Quando da impossibilidade de imersão num determinado grupo social, por qualquer 
que seja o motivo, podemos fazer uso de fontes históricas como as narrativas e relatos, as 
cartas e pinturas, para melhor compreensão. As análises do período colonial, por exemplo, 
sobre como se deu a exploração das negritudes e indígenas pelos senhores de engenho 
só são possíveis pelos relatos registrados em cartas, mapas, desenhos e utensílios. 
 
A potencialidade presente num olhar mais crítico e mais político no fazer antropologia 
se mostra presente no trecho do filme Quanto vale ou é por quilo?3, ao destacar como os 
instrumentos de tortura eram utilizados contra negros sequestrados de seus continentes de 
origem e escravizados no Brasil ao longo da empreitada colonialista da política 
expansionista. 
 
Ao longo de toda sua consolidação enquanto ciência, diversas escolas com 
tendências de pensamento e modus operandi de realização foram se produzindo e 
tensionando. Hoje, valoriza-se como o fazer cultural atravessa todas as sociedades em 
suas peculiaridades e especificidades, como também as formas que esses fazeres culturais 
se apresentam nos grupos sociais. Olha-se não apenas para a sociedade de forma macro, 
 
2 A lém de Franz Boas, Peter Fry, Margaret Mead , por exemplo. No Bras i l , c i ta -se Darcy Ribei ro . 
3 Para ass is t i r ao t recho, c l icar no l i nk d isponíve l em 
ht tps: / /www.youtube.com/watch?v=7UC6CKrrmVs 
https://www.youtube.com/watch?v=7UC6CKrrmVs
 
 
4 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
de forma abrangente, mas atenta-se também às suas micro relações, às formas como os 
sujeitos se relacionam. Como exemplo de sua atenção, basta você refletir sobre as 
manifestações culturais presentes em sua sociedade. Todos os bairros têm as mesmas 
manifestações ou cada localidade de sua cidade tem uma forma de manifestar-se à sua 
maneira? 
 
1.3. SociologiaGanhou força analítica com a sociedade capitalista, logo em sua gênese, em virtude 
das rápidas transformações sociais que se vivia à época com o fortalecimento da 
monetarização e precificação das relações sociais. Os lucros obtidos das produções de 
mercadoria modificavam sobremaneira a forma como a sociedade se organizava e, como 
consequência, mudaram-se os valores então presentes. A mecanização do trabalho 
oriundo pela Revolução Industrial, junto com a aceleração da produção de mercadorias, 
mudou sobremaneira a dinâmica da sociedade europeia, criando trabalhadores operários 
ou trabalhadores desempregados de um lado e empresários donos de indústrias do outro 
lado. 
 
A Revolução Francesa também merece grande destaque pelas mudanças sociais 
promovidas à época, uma vez que a transformação de mentalidade da sociedade também 
produziu uma série de questões bastante interessantes. Com a sua realização e o 
afastamento da aristocracia e do clero, os burgueses passaram a explorar ainda mais os 
trabalhadores do que anteriormente à sua efetivação. A sociologia começa a ganhar grande 
atenção quando Auguste Comte (2020, 2021), tido como o pai da sociologia clássica, 
entende que a sociedade só poderia ser plenamente modificada a partir de uma reforma 
intelectual das pessoas. 
 
Positivista, Comte estruturou seu pensamento em três grandes etapas: a primeira 
conhecida como Estado Teológico vem a ser as explicações influenciadas pela perspectiva 
religiosidade; a segunda é o Estado Metafísico, quando as explicações abstratas ganham 
força para compreensão do meio e, por fim, o Estado Científico, entendido por ele como o 
estado ideal, quando a ciência é capaz de explicar tudo e todos. 
 
Destaca-se, como consequência da evolução do pensamento sociológico, os 
filósofos alemães Karl Marx (2011, 2014, 2017) e Friedrich Engels (2015, 2020) como um 
 
 
5 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
dos grandes responsáveis pelo caráter estruturante da sociologia enquanto ciência crítica4. 
Destoavam dos positivistas e inseriram criticidade bastante acentuada para a leitura do 
mundo, sobretudo a partir das relações de trabalho. 
 
Seus pensamentos influenciam de forma bastante proeminente a sociologia 
contemporânea, assim como outras ciências como a História, a Geografia, a Economia, a 
Filosofia, dentre outros. Na Ditadura Militar do Brasil, por exemplo, destaca-se a Teologia 
da Libertação5, corrente católica influenciada pela filosofia marxista com teólogos 
participando ativamente na luta pela redemocratização do país. A importância do 
pensamento marxista se dá pela completude analítica perante a organização social 
estruturada pelo capitalismo e em como esse sistema econômico produz transformações 
sociais. 
 
Do pensamento analítico à metodologia, seus conhecimentos se fazem presentes 
em diversas academias mundo afora e ainda hoje ajudam a analisar diversos conflitos 
existentes, assim como influenciaram revoluções ao longo do século passado. Destacam-
se, nesse sentido, as Revoluções Socialistas na antiga União Soviética, na China, a 
cubana, dentre outras. Hoje, pode-se estruturar o socialismo em três grandes momentos: o 
socialismo utópico, existente antes da teoria marxista; o socialismo científico, posterior à 
teoria marxista e que serviu de base para implementação das revoluções e, por fim, o 
socialismo real, qual seja, governos que implementaram o socialismo, mas se afastaram do 
pensamento de Marx. 
 
Logo, como se pode imaginar, o campo das ciências sociais é fortemente 
influenciado por análises políticas da própria sociedade e seus pesquisadores, professores 
e cientistas entendem-se como sujeitos históricos participantes das mudanças sociais e, 
por consequência, impossibilita-se pensar numa ciência ‘isenta’, que ‘apenas transmite o 
conhecimento’ e que ‘não emite opiniões pessoais’. Em suas gêneses, tais ciências são 
derivadas de posicionamentos políticos. 
 
4 A lém de Emi le Durkheim, Max Weber , Web Du Bois por exemplo. No Bras i l , c i ta -se F lorestan 
Fernandes. 
5 Para saber mais , ass is t i r os f i lmes Bat ismo de Sangue (2006) e Mar ighel la (2021). 
 
 
6 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. SUJEITO, PRODUTOR DE CONHECIMENTO 
 
 
Objetivo 
Destacar como o sujeito, enquanto produtor de conhecimento, é capaz de se 
compreender enquanto ser cultural, ser social e ser político para então possibilitar a 
aplicabilidade de alguns conceitos até então introduzidos nesse curso. 
 
Introdução 
Como vimos na aula passada, será a partir das práticas cotidianas que os sentidos 
serão produzidos. Logo, estes só têm lógica se forem capazes de ecoarem dentro dessa 
mesma sociedade. Ou seja, será a partir de nossas práticas cotidianas (as práticas 
culturais) que nos reconheceremos como sujeitos históricos, como seres sociais e seres 
culturais. Ao nos entendermos como dotados de cultura e de história, entendemo-nos 
também como produtores de sentidos. 
 
Dois pontos merecem destaque em nossa introdução: serão os sujeitos ‘folhas em 
branco ao nascerem’ ou eles já têm seus ‘futuros determinados a partir de onde nascem’? 
Nem um e nem outro. Embora, ao nascermos, tenhamos fatores sociais e culturais que 
influenciarão nossos comportamentos, eles estão longe de serem capazes de 
determinarem nossas ações ao longo de nossas vidas. Isso porque temos nosso livre 
arbítrio e será a partir da possibilidade de nossas escolhas que nos constituiremos como 
seres políticos. 
 
Essa triangulação entre ser cultural (aquele dotado de sua cultura, de seus 
costumes), ser social (aquele capaz de olhar para si e refletir sobre suas percepções) e o 
ser político (aquele que analisa e compreende os caminhos escolhidos ao longo de seu 
percurso) é o que nos interessa nesse capítulo. 
 
Convido-te, concomitantemente aos estudos do capítulo em tela, produzir uma 
reflexão perante os caminhos feitos ao longo de sua vida, os motivos que o levaram a 
determinadas ações, os por quês de ter escolhido esse curso de graduação, quais seus 
objetivos com ele e sobre as potencialidades que poderão ser despertadas em você, 
sobretudo quando se deparar com o contrário ao que sempre pensou, em sua trajetória 
acadêmica e profissional. Afinal, viver em sociedade é reconhecer a sua pluralidade. 
 
 
7 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2.1. Ser cultural 
Um dos fatores de maior identificação que temos ao viver em sociedade é a questão 
cultural. Afinal, quem nunca sentiu saudade da comida da vó, do café passado na hora, de 
determinado sorvete, do pé de alguma fruta após passar muitos dias longe de sua casa, 
seja a passeio ou trabalho. Arroz e feijão, macaxeira, jabá, arroz com pequi, baião de dois, 
tucupi, buchada de bode, acarajé, sarapatel, galinhada, feijão tropeiro, virado à paulista, 
arroz carreteiro, costela assada, fogo de chão... Convenhamos, poderíamos ocupar todo o 
guia da disciplina com a nossa culinária e nem assim contemplaríamos todas as nossas 
delícias. 
 
Não estamos falando apenas de comida, mas sim de memória afetivas, de cheiros e 
aromas, temperos e cores. O que nos une (e o que nos separa) enquanto brasileiros é a 
nossa cultura, nossos costumes. É a partir destas identificações que nos organizamos 
socialmente, que nos reconhecemos entre nossos pares e identificamos dissemelhanças 
para com o outro. O mesmo ocorre com a música, com a vestimenta, com os vícios de 
linguagens, dentre outros. Logo, temos uma pluralidade cultural capaz de abarcar todos os 
gostos e estilos. Ao mesmo tempo, devemos evitar o etnocentrismo, ou seja, julgar a cultura 
do outro a partir da nossa, tendo a nossa como referência da correta e cunhando a outra 
como incorreta, imoral. 
 
Sendo assim,entende-se não existir uma cultura superior e uma inferior, uma melhor 
e outra pior. O que existe são formas e práticas culturais diferentes entre si, cabendo a nós, 
enquanto sujeitos históricos, compreender e valorizá-las em suas multiplicidades. Deve-se 
ainda atenção às culturas que são historicamente marginalizadas para a identificação dos 
motivos que levam a estas marginalizações, como no caso brasileiro quando o samba, a 
capoeira, o rap, o funk, dentre outras manifestações culturais já foram perseguidas, 
proibidas e até mesmo criminalizadas. 
 
Atentar-se a tais processos estigmatizantes levarão ao entendimento de que, no 
caso brasileiro, as culturas ligadas às negritudes foram aquelas mais perseguidas ao longo 
de nossa história6, ao passo que as culturas ligadas às branquitudes, sobretudo aquelas 
eurocentradas, foram o farol moral da nação7 - aquilo entendido como pacto da branquitude. 
 
6 Para saber mais , ler Sansone (2003) , Seraf im e Azeredo (2009) , Ol ive i ra F i lho (2016) 
7 Para saber mais , ler Miskolc i (2012) , Mul ler (2017) , 
 
 
8 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Convida-se, portanto, em estudos mais recentes, ao desenvolvimento de uma cultura 
antirracista8, conforme apontado por Oliveira (2014), Ribeiro (2019) Diangelo (2020). 
 
2.2. Ser social 
Embora devamos respeitar as diferenças culturais, temos que nos atentar às práticas 
culturais que violentam determinadas parcelas sociais. Por mais que possam estar 
respaldadas por ‘práticas culturais milenares’, reconhece-se que as sociedades mudam 
seus padrões e valores ao longo de suas épocas e determinadas práticas, outrora 
reconhecidas como culturais, passam a ser observadas sob outra perspectiva, a da análise 
estrutural de seus próprios costumes. Em outras palavras, aquilo que já foi aceito num 
determinado período passa a ser discutido e alvo de críticas num momento posterior. 
 
A mudança de entendimento das práticas culturais decorre do próprio entendimento 
que as pessoas têm de si e de seus pares. Enquanto ao longo da década de 1990 o trabalho 
infantil se fazia presente em diversas regiões do país, na década seguinte, com a 
instituições de diversos programas sociais voltados à infância, mudou-se o entendimento 
acerca desse período da vida e atenções foram canalizadas para as crianças brasileiras. 
Ao mesmo tempo, impossibilita-se falar sobre infância no singular quando as diversas 
regiões do país são capazes de produzir infâncias diferentes. Afinal, não é razoável 
imaginarmos que uma criança de uma cidade de grande porte, como São Paulo, tem a 
mesma infância de uma criança de cidades pequenas. 
 
Essa possibilidade de compreensão de formas de vida diferentes é o que nos faz 
sermos seres sociais, seres influenciados e atravessados pelas práticas sociais de nossos 
cotidianos. Por exemplo, enquanto Jânio Quadros proibiu a prática de skate em São Paulo, 
em 1988, por estar associado às periferias, Luiza Erundina, ao concorrer e sair vitoriosa na 
campanha à Prefeitura de São Paulo no ano seguinte revogou a medida de Jânio Quadros 
e criou pistas para a modalidade na cidade. Hoje, décadas depois, tivemos Rayssa Leal 
como medalhista olímpica. Percebe-se aqui o encontro das questões culturais (skate e 
cultura urbana de rua) com as questões sociais (elitização dos espaços públicos e política 
proibicionista) na produção de noções comportamentais, de balizas morais compreendidas 
como corretas e incorretas, respeitosas e perigosas. 
 
8 Para saber mais, ler a co leç ão Femin ismos Plura is , organizada por Djami la Ribei ro e publ icada 
pela Polén Edi tora. 
 
 
9 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Essa criminalização das classes subalternas nos espaços urbanos, conforme 
destacado por Duriguetto (2017), seja por meio da penalização dos ‘pobres’ ou da 
criminalização dos movimentos sociais “constituem ações sociopolíticas orquestradas pelos 
Estados, nas variadas formações socioeconômicas, como respostas às expressões das 
desigualdades sociais acentuadas pelas ofensivas do capital para recuperação dos 
processos de sua expansão e valorização” (id. Ibd. p. 105-106). Esse fenômeno foi 
densamente analisado por Marx (2011), quando se dedicou aos estudos sobre a punição 
daquilo que se entendia por ‘classes perigosas’ – ou seja, trabalhadores não incorporados 
às novas relações de produção do capital. 
 
Essa produção social da subalternidade é o que ‘empurra’ cada vez mais setores 
sociais, tidos como indesejados pela elite econômica, para as margens da sociedade, para 
os bairros periféricos, para locais cada vez mais afastados dos bairros nobres e centros de 
grande circulação do capital. Esconde-se a pobreza, marginaliza-se as culturas e persegue 
os que resistem a essa política de silenciamento social. 
 
2.3. Ser político 
Percebe-se, portanto, que a partir da junção de nossos marcadores culturais e 
sociais deriva-se o que se entende por sujeitos políticos. Ou seja, um olhar crítico para a 
sociedade, valorizando o respeito às diferenças e contrário às práticas discriminatórias e 
violentas – por mais que essas estejam ancoradas em questões socioculturais locais. Cita-
se, como exemplo, casamentos de adultos com crianças, mutilação genital feminina9 etc. 
Essas práticas são violentas, objetificam determinada parcela social e cada vez mais é 
criticada por diversas frentes sociais, sobretudo aquelas ancoradas nas políticas de Direitos 
Humanos. Não obstante, será nesse encontro entre questões sociais e costumes culturais 
que a noção de ‘ser político’ é desenvolvida. 
 
Cada vez mais participamos de debates acerca dos limites da arte, do que é arte, do 
que é aceito ou proibido. Galerias de arte e museus expõem trabalhos de pixadores10, o 
Museu de Arte Moderna de Nova Iorque convidou o Mc Bin Laden (do hit ‘ta tranquilo, ta 
 
9 D isponíve l em ht tps: / / rev is tamar iec la i re.g lobo.com/Mulheres -do-
Mundo/not ic ia /2013/10/mut i lacao -geni ta l -nao-e-cu l tura-e-v io lenc ia -d iz -at iv is ta -af r icana.html 
10 D isponíve l em ht tps: / /www.agazeta.com.br /ent reten imento/cu l tura/capixaba -expoe-p ichacao-
na-reaber tura-do-museu-da- l ingua-por tuguesa-0821 
https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2013/10/mutilacao-genital-nao-e-cultura-e-violencia-diz-ativista-africana.html
https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2013/10/mutilacao-genital-nao-e-cultura-e-violencia-diz-ativista-africana.html
https://www.agazeta.com.br/entretenimento/cultura/capixaba-expoe-pichacao-na-reabertura-do-museu-da-lingua-portuguesa-0821
https://www.agazeta.com.br/entretenimento/cultura/capixaba-expoe-pichacao-na-reabertura-do-museu-da-lingua-portuguesa-0821
 
 
10 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
favorável’) a se apresentar na 19ª edição do festival de música11, os grafiteiros Os Gêmeos, 
Nina Pandolfo e Nunca grafitaram um castelo na Escócia12. Esse fator político presente nas 
manifestações socioculturais é o que nos possibilita produzir entendimentos outros, 
conhecimentos plurais e vivências diversificadas. 
 
Logo, a importância de pensarmos nos fundamentos sociológicos e antropológicos 
de nossa sociedade se dá a partir do reconhecimento de que os valores vão se modificando 
contemporaneamente ao longo de seu próprio tempo, assim como os entendimentos do 
que é certo e errado estão localizados em seus próprios contextos. 
 
Retomando a questão do skate já proibido no Brasil, no final de 2021 a ONG de skate 
vencedora do Oscar na categoria melhor curta-metragem de 2011 teve que encerrar suas 
atividades no Afeganistão e sua equipe teve que fugir do país em virtude da retomada do 
Talibã na região. Como o grupo é historicamente contrário aparticipação de meninas e 
mulheres em práticas esportivas, escolares e políticas, a ONG se viu na necessidade de 
encerrar suas atividades para segurança de todos envolvidos. 
 
Entende-se, portanto, que o encontro das questões culturais para com as sociais 
produz sujeitos políticos, agentes sociais capazes de perceberem as desigualdades, os 
marcadores das diferenças e as produções de precariedades e vulnerabilidades, conforme 
destacado por Judith Butler (2015). Por fim, será com o encontro e desencontro destas 
questões que se produzirá uma sociedade capaz de discutir sobre seus limites e suas 
necessidades. 
 
11 D isponíve l em ht tp: / /g1.g lobo.com/musica/not ic ia/2016/05/ mc-b in- laden-vai -cantar -no-moma-
museu-de-ar te-moderna-de-nova-york .html 
12 D isponíve l em ht tps: / /cat racal ivre.com.br /cr iat iv idade/os -gemeos-graf i tam-caste lo-na-escoc ia/ 
http://g1.globo.com/musica/noticia/2016/05/mc-bin-laden-vai-cantar-no-moma-museu-de-arte-moderna-de-nova-york.html
http://g1.globo.com/musica/noticia/2016/05/mc-bin-laden-vai-cantar-no-moma-museu-de-arte-moderna-de-nova-york.html
https://catracalivre.com.br/criatividade/os-gemeos-grafitam-castelo-na-escocia/
 
 
11 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE 
 
 
Objetivo 
Analisar como a família, a escola e a sociedade dialogam entre si na produção da 
organização social e em como estas são capazes de criarem noções de normalidade e 
anormalidade, assim como as formas como os costumes socioculturais mudam ao longo 
do tempo. 
 
Introdução 
Muito costumeiramente ouvimos discursos em ‘defesa da família’, sobre como 
‘antigamente as escolas eram melhores do que as de hoje em dia’ e sobre o ‘problema da 
insegurança e ausência de espaços para brincar’: no meu tempo, filho respeitava o pai, 
aluno respeitava o professor e as crianças brincavam na rua. Hoje em dia é filho que xinga 
o pai, aluno que bate no professor e a criançada o tempo todo nesses eletrônicos. Dizem 
‘os mais puristas’. 
 
Entretanto, se nos atentarmos à literatura científica e aos dados do Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística (IBGE), perceberemos que essa visão do passado é mais 
produzida no imaginário social do que de fato existiu num outro tempo. Ao mesmo tempo, 
não significa que tais afirmações sejam totalmente inverídicas. O que ocorre, na verdade, 
é a reprodução de um senso comum, algo dito em todas as gerações. Ouvimos nossos 
avós falando isso, nossos pais reproduzindo e hoje reverberamos tais afirmações. 
 
Ao nos observarmos ao passado, poderemos perceber que muitas dessas visões 
romantizadas do passado não encontram bases sólidas. Historicamente, tivemos 
problemas de distribuição de renda (gerando violência), baixos investimentos públicos 
(preconizando a atuação da escola), exploração da mão de obra (diminutos rendimentos 
laborais), ausência dos espaços públicos coletivos (elitização e criação de espaços 
privados de entretenimento), dentre outros. Logo, nos é de grande importância a 
identificação de como o senso comum moldou os entendimentos e percepções sobre 
normalidades e anormalidades para que possamos compreender como a organização 
social se desenvolve na família, na escola e na sociedade, como um todo. 
 
 
 
12 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3.1. Família 
A família é o primeiro pilar de socialização da criança, por isso foram desenvolvidas 
inúmeras políticas públicas em defesa das infâncias a partir do fim da ditadura militar no 
Brasil, conforme destacado por Silvio Gallo (2017), naquilo que o filósofo cunhou de 
governamentalidade democrática. A atenção primária às infâncias é de grande importância 
para que seus plenos desenvolvimentos possam ser vivenciados de forma positiva. Logo, 
o que entendemos por família está localizado num contexto histórico em específico, assim 
como aquilo que era entendido como família há cem, duzentos ou trezentos anos atrás não 
o é contemporaneamente. 
 
Justifica-se as mudanças no conceito de família ao tempo presente em que a 
sociedade está, aos valores que são produzidos e criados naquele determinado momento. 
Há muito tempo, famílias impunham castigos físicos aos seus filhos, frases como ‘briga 
entre marido e mulher não se mete a colher’ e violências diversas eram tidas como formas 
necessárias para melhor educação. Hoje, sabe-se que tais comportamentos não são mais 
permitidos e uma série de legislações foi criada para a proteção de todos os envolvidos. 
 
Essas mudanças se devem justamente às discussões que são produzidas ao longo 
de nossos períodos históricos. A constituição familiar mudou, os arranjos familiares 
mudaram. Como consequência, os valores também mudam. Mas vale destacar sobre qual 
família estamos falando, sobretudo porque em nossa modernidade outros arranjos 
familiares foram reconhecidos, como no caso das famílias homoafetivas (DIAS, 2003, 
2006a, 2006b, 2007). Temos as mães solos, as crianças criadas por seus avós, as famílias 
que trabalham o dia inteiro e contam com a ajuda de vizinhas no cuidar, aquelas mais 
abastadas e têm auxílio de babás, as crianças que estudam em escolas integrais e têm 
contato com seus pais apenas no período noturno, dentre outras. 
 
Hoje, no contexto pós-pandêmico, novas mudanças foram vivenciadas nas famílias, 
a nível mundial, uma vez que temos crianças oriundas do luto da perda de suas mães, pais 
e avós vitimadas pela pandemia do Corona vírus, aquilo que cunho como órfãos 
pandêmicos. As perdas das vidas foram ainda mais potencializadas em virtude dos 
discursos negacionistas minimizando a pandemia e coadunando às perdas de vidas nas 
 
 
13 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
famílias brasileiras, conforme destacado pelo IBGE13. Lamentavelmente, o impacto da 
pandemia em nossas subjetividades, assim como a consequência da perda destas vidas 
(das mães, dos pais e dos avós) ainda serão sentidas ao longo de muitos anos e não 
conseguimos mensurar tais impactos em nossas socializações, embora reconheçamos que 
novas mudanças foram e serão vivenciadas nos núcleos familiares. 
 
3.2. Escola 
Instituição de grande importância para o balizamento comportamental das crianças, 
ao mesmo tempo que ela possibilita a vivência com as diferenças, com outras infâncias, ela 
também tem como objetivo normalizar os comportamentos em séries, em horários e regras. 
Não surpreendente, a escola tem horários muito rígidos a serem cumpridos e uma 
hierarquia fortemente presente. Para além destas objetividades, a escola também opera na 
subjetividade, sobretudo por meio de seu currículo oculto. 
 
Entende-se aqui a escola como um dispositivo disciplinar (FOUCAULT, 1979), ou 
seja, um importante local para o desenvolvimento da noção de normalidade e 
anormalidade. Nesse sentido, entende-se também que estas mesmas noções são 
produções socioculturais e aquilo outrora já foi compreendido como patológico e desviante, 
hoje não é mais. Essa relação entre o ‘dar a visibilidade e impor à invisibilidade’ 
(RAIMONDI, MOREIRA e BARROS, 2019) possibilita que apenas determinadas vidas 
tenham o direito a pleno desenvolvimento escolar, ao passo que vidas outras necessitam 
produzir formas de resistências para sobreviverem. 
 
Muitas escolas, realizando a manutenção das LGBTfobias, recriminam meninos que 
brincam com bonecas e usam roupas de fadas, tal qual estimulam meninas a brincarem de 
cozinha e faxina. Costumam falar que não podem ‘incentivar a homossexualidade’. 
Evidentemente que esse discurso discriminatório não se sustenta, uma vez que, se o lúdico 
influenciasse o comportamento das crianças, aquelas que brincam com super-heróis com 
capa sairiam voando por aí, assim como aquelas que brincam com cozinha chegariam em 
casae se tornariam exímios cozinheiros. 
 
 
13 D isponíve l em ht tps: / /agenc iadenot ic ias. ibge.gov.br /agenc ia -sa la-de- imprensa/2013-agenc ia-
de-not ic ias/ re leases/32270 -regis t ro-c iv i l -2020-numero-de-regis t ros-de-obi tos-cresce-14-9-e-o-
de-nasc imentos -ca i -4-7 
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/32270-registro-civil-2020-numero-de-registros-de-obitos-cresce-14-9-e-o-de-nascimentos-cai-4-7
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/32270-registro-civil-2020-numero-de-registros-de-obitos-cresce-14-9-e-o-de-nascimentos-cai-4-7
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/32270-registro-civil-2020-numero-de-registros-de-obitos-cresce-14-9-e-o-de-nascimentos-cai-4-7
 
 
14 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O lúdico, não apenas faz parte do desenvolvimento das infâncias, como também se 
faz necessário para a produção do respeito e da tolerância (MOURA, SOUZA e ROCHA, 
2018). Logo, recriminar e proibir que crianças brinquem com aquilo que gostam apenas 
prejudica suas socializações, desenvolvimentos e vivências de infâncias positivas. 
 
O mesmo ocorre com o problema do racismo estrutural (ALMEIDA, 2018), quando 
os responsáveis das crianças recebem bilhetes nas agendas das crianças pedindo para 
prenderem ou cortarem o cabelo crespos de seus filhos. Justificativa mil são dadas e 
atentados são produzidos contra suas autoestimas pois “os símbolos de beleza, exaltados 
e protagonistas de diversas histórias sempre foram brancos (BERTH, 2018, p. 21)”. Esse 
racismo na infância necessita ser combatido veementemente a partir de uma educação 
antirracista. 
 
3.3. Sociedade 
Ao olharmos para a sociedade em busca de entendermos como se dá a sua 
organização, o teórico francês Michel Foucault muito nos ajuda a compreender as suas 
questões. Ao desenvolver o conceito de Biopolítica, Foucault (2008) identificou como o 
Estado se organiza para o melhor controle e produção desta sociedade. Não obstante, hoje 
temos uma série de dispositivos disciplinares com condições de melhor extração do poder 
produtivo dos corpos. Como exemplo, cita-se o acompanhamento médico que passamos 
desde quando ainda fetos até o final de nossa vida. Novas áreas do conhecimento são 
produzidas, novas formas de viver as faixas etárias são desenvolvidas e novos 
entendimentos são realizados. 
 
A terceira idade, por exemplo, em tempos atuais é tida como uma fase da vida em 
que há capacidade e condições plenas para seu gozo, dentro de suas especificidades, 
evidentemente. Dedicam-se atividades físicas a ela, programações culturais, centro de 
lazer e entretenimento, programas educacionais específicos, como a Faculdade da Terceira 
Idade, por exemplo, e diversas atenções desenvolvidas pelas Unidades Básicas de Saúde 
e por profissionais do Serviço Social para atendimento às suas demandas e consequentes 
acolhimentos. 
 
Percebe-se assim que a cada contexto, formas outras de viver são produzidas. Com 
a pandemia da Covid-19 e com a sua manutenção ao longo de um significativo período de 
nossas vidas, adotamos o distanciamento social, nossos sorrisos foram encobertos pelas 
 
 
15 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
máscaras e deixamos de ter um aproximado contato com pessoas que antes frequentavam 
nosso entorno. Ao mesmo tempo, passamos a nos relacionar com aplicativos de celulares 
que nos apresentaram, por meio de seus algoritmos, à um mundo até então desconhecido. 
 
Como se pode imaginar, de acordo com o que estamos discutindo nesse capítulo, 
mudanças e balizas comportamentais são produzidas a partir de suas localidades, de seus 
contextos socioculturais e do intercâmbio entre pessoas, seja no mundo presencial ou no 
virtual. Um fator merece grande destaque para que a nossa sociedade vivencie 
significativas mudanças a largo passos, qual seja, a internet. 
 
Enquanto em gerações anteriores a informação era hierarquizada de forma vertical, 
normalmente passada pelos mais velhos aos mais novos e centrada em poucos locais, 
como a escola, por exemplo, hoje, com a popularização da internet – e sobretudo das redes 
sociais – cada vez mais jovens têm contato com culturas diferentes àquelas vivenciadas 
em seu entorno. Como consequência, pode-se dizer que existe um intercâmbio cultural 
entre os usuários das redes sociais. 
 
Hoje, um jovem não precisa mais ‘sair de casa’ para ter contato com costumes de 
outras regiões do país ou até mesmo com outras culturas de outros países, uma vez que 
ele obtém tais vivências em suas redes sociais, realiza contato com pessoas distantes via 
WhatsApp, alargando as relações sociais. Como já debatido anteriormente, não se trata de 
uma cultura ser melhor que a outra, mas sim da permissividade às novas formas de se 
viver. 
 
 
 
 
16 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. INSTITUIÇÕES SOCIAIS 
 
 
Objetivo 
Compreender como as instituições sociais servem tanto para organização da 
sociedade como também para o seu controle, por meio da produção de comportamentos 
para convívio coletivo. 
 
Introdução 
Como já vimos, a sociedade é formada por algumas balizas comportamentais que 
se alteram ao longo do tempo e que convergem ou divergem com entendimentos de 
outrora, ou aqueles presentes em outras sociedades. Vimos também que com a expansão 
das redes sociais, cada vez mais produzimos comportamentos alinhados a diversas 
culturas a nível mundial ao mesmo tempo que será também a partir destas redes sociais 
que teremos contato com culturas diferentes àquelas já habituados. 
 
Por exemplo, países democráticos, com suas Constituições Federais, têm 
concepções institucionais distintas de países teocráticos, influenciados por seus livros 
sagrados. Enquanto num país democrático a Constituição Federal costuma ser promulgada 
a partir de ampla participação popular, em suas discussões e resoluções, países teocráticos 
visam implementar políticas influenciadas a partir de determinadas visões religiosas. Pode-
se imaginar que esta distinção marca preponderantemente a sociedade em questão. Como 
exemplo, cita-se o regime do Talibã e a imposição de suas políticas influenciadas por uma 
determinada leitura de seu livro sagrado. 
 
Ao mesmo tempo, a democracia, como no caso da brasileira, também tem uma série 
de fragilidades, sobretudo por ser tão jovem e com histórico processo de rupturas 
institucionais. Durkheim, ao analisar a instituição social, entende-a como uma série de 
regras e normas produzidas no bojo da própria sociedade para evitar a criação e 
manutenção do caos. Esse ‘caos’, na concepção durkeineana, é aquilo que o teórico 
cunhou de anomia, quando estudou o suicídio, ou seja, patologia social capaz de 
desorganizar os arranjos existentes. 
 
 
 
17 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4.1. Biopolítica e governamentalidade 
Conceitos muito importantes na obra de Michel Foucault, ambos servem em sua 
análise para destacar as formas como as pessoas e a população foram subjetivados a um 
determinado comportamento. Quanto ao primeiro conceito, o de Biopolítica, Foucault (2007) 
compreende como os diversos dispositivos presentes na sociedade desde a sua 
modernidade foram influenciando nossos comportamentos. Cita-se, como exemplo, os 
dispositivos medicinais na produção da normalidade e anormalidade, o dispositivo da 
sexualidade na constituição de entendimentos acerca de sexualidades sadias e 
patológicas, o dispositivo de raça na hierarquização da sociedade para melhor exploração 
do capital, o dispositivo econômico na consolidação do sistema liberal e o dispositivode 
segurança, frente a imposição do castigo e encarceramento da sociedade. 
 
A importância presente no conceito de dispositivo se dá por ser oriundo de produções 
de padrões de comportamento interligados entre si e constituídos no bojo da sociedade: 
todos os dispositivos se ancoram uns nos outros. Por exemplo, até 1990 as 
homossexualidades eram vistas como patologias a serem tratadas, chegando ao limite de 
internarem homossexuais em manicômios e impô-los às ‘terapias de cura’, fossem elas 
psicológicas e/ou religiosas – ou seja, produzia-se a anormalidade a partir do dispositivo da 
sexualidade, do dispositivo médico, do dispositivo legal e do dispositivo religioso. O mesmo 
ocorre com diversas produções e entendimentos que temos contemporaneamente; todas 
as acepções do que é normal e anormal, patológico e sadio, bom e ruim estão localizados 
no contexto em que vivemos e são produzidos socialmente e ancorados na Biopolítica. 
 
Já a governamentalidade (FOUCAULT, 1991) é a arte de governar, “dos problemas 
do território para os problemas da população, da administração dos recursos para a 
administração do poder sobre a vida (ou seja, o biopoder), das ameaças exteriores ao 
Estado para os riscos internos que emergem em relação à população” (FIMYAR, 2009, p. 
38). O controle do Estado não se dá mais apenas a partir do soberano, do rei, do mandatário 
do país, mas em conformidade com toda a população: na família, na escola, no bairro, na 
vizinhança, no hospital. Sendo o governo uma forma prática de colocar algo em ação e a 
mentalidade a forma como desenvolvemos o entendimento sobre nossos cotidianos, a 
governamentalidade vem a ser a mudança da mentalidade na arte de governar a 
população. 
 
 
 
18 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Com o desenvolvimento da arte de governar, o Estado liberal se viu na necessidade 
de conduzir as vidas para melhor extração de seu poder, de seu capital de trabalho. Logo, 
diversas balizas foram produzidas e conhecimentos criados. Cita-se as ciências 
educacionais escolarizando todas as faixas etárias da sociedade (ensino infantil, 
fundamental I, fundamental II, médio, superior e pós-graduação), as ciências médicas 
destrinchando o corpo humano e desenvolvendo especializações para todas as partes do 
corpo, as ciências jurídicas determinando quais pessoas são imputáveis ou não pelo poder 
legal, dentre outros. A atenção ao agente interno da sociedade, aos sujeitos e à população, 
fez com que o entendimento de governamentalidade ganhasse corpo, matéria. 
 
4.2. Governamentalidade democrática 
Seguindo o entendimento de Michel Foucault quanto a concepção de 
governamentalidade, o filósofo Silvio Gallo (2017) desenvolve o conceito de 
governamentalidade democrática. Para o autor, com a redemocratização do país após vinte 
anos de ditadura civil-militar, “assistimos então a um grande esforço de constituição de um 
Estado democrático, centrado na afirmação dos direitos humanos e civis dos cidadãos, na 
construção de seus marcos legais, mas também, e sobretudo, na construção de uma forma 
de governar nitidamente inscrita na Biopolítica, no governo das populações, mais do que 
territórios” (2017, p. 86). Essa produção de cidadãos de direitos foi importante para que a 
população pudesse ser governada pelo novo regime democrático em curso. 
 
Ao contrário do estado ditatorial, quando a cidadania é suprimida pela imposição 
unilateral de forças, a democracia olha para a população em sua individualidade e 
desenvolve balizas comportamentais presentes na Constituição Federal de 1988, no 
conjunto do ordenamento jurídico. Oito anos depois, em 1996, aprova-se a Lei de Diretrizes 
e Bases da Educação (BRASIL, 1996) objetivada ao “exercício da cidadania” seguida pelos 
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) até chegarem na Base Nacional 
Comum Curricular (BRASIL, 2017). 
 
Ainda que nosso objetivo não seja o de analisar a implementação das políticas 
públicas educacionais, entendemo-las como pilares estruturantes dessa 
governamentalidade democrática, quando a produção da noção de cidadania se mostra 
presente logo no ensino infantil, entendo as crianças como cidadãs, como sujeitos de 
direitos. Sendo a escola um propício local para o pleno desenvolvimento da cidadania e 
formação do cidadão crítico, não nos surpreende que este mesmo espaço se tornou um 
 
 
19 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
campo de disputas ao longo da última década, sobretudo quando setores conservadores 
da sociedade brasileira incutiram à escola um propício local para a ‘imposição ideológica 
esquerdista-marxista’ e/ou derivados, requerendo a necessidade da criação de um projeto 
de lei intitulado ‘escola sem partido’, que buscava cercear a liberdade de cátedra. 
 
Estudos recentes (FRIGOTTO, 2017) reafirmam o espaço de formação presente na 
escola e a importância da pluralidade de ideias ancoradas na criticidade – por mais que 
essas vão contra os interesses governamentais. Justamente por isso, a liberdade de 
cátedra é de extrema importância em nossa legislação e foi a partir dela que o Supremo 
Tribunal Federal (BRASIL, 2017) votou pela ilegalidade dos Projetos de Lei que visavam 
impor à escola explícita censura. Um fator que merece grande destaque é que projetos 
conservadores e censores à educação se deram justamente num momento em que as 
instituições passam por significativa descrença: ataques sistemáticos são realizados contra 
a instituição escolar, contra o sistema judiciário, contra o sistema único de saúde (o SUS), 
dentre outros, ao passo que se valoriza setores da iniciativa privada. Ao mesmo tempo, tais 
ataques ocorrem sobremaneira nas redes sociais, esse novo espaço público balizado por 
algoritmos. 
 
4.3. Governamentalidade algorítmica 
Como já vimos à exaustão, as transformações sociais são engendradas no bojo da 
própria sociedade e a partir de suas necessidades que vão se apresentando ao longo de 
seu percurso. Noções de a/normalidade e comportamento se modificam em seu meio e 
subjetividades outras são produzidas. O filósofo francês Félix Guattari (2012) foi preciso ao 
afirmar que “as máquinas tecnológicas de informação e de comunicação operam no núcleo 
da subjetividade humana, não apenas no seio de suas memórias, da sua inteligência, mas 
também da sua sensibilidade, dos seus afetos, dos seus fantasmas inconscientes” (2012, 
p. 14). Também já sabendo que a arte de governar, presente nas acepções de Michel 
Foucault, foi responsável pela instituição do Estado liberal atual. Interessa-nos, portanto, 
nesse momento, detida atenção à uma noção de governamentalidade algorítmica. 
 
Com a pandemia de Covid-19, nossas vidas foram empurradas às conectividades 
por meio de home office, homeschooling pandêmico, ensino híbrido, Google Classroom, 
grupos estudantis de WhatsApp, compras em aplicativos de celular, Festa do Livro da 
 
 
20 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
USP14 com seus 50% de desconto nos milhares de títulos disponíveis e realizada 
virtualmente, comidas entregues a ‘um aplicativo de distância’, reuniões realizadas via 
Google Meet e claro, o mais principal disso tudo, interminável fluxo de dados. 
 
Dados é o que tem de mais interessante por trás dos aplicativos que usamos. Como 
se diz no jargão popular, não existe almoço e graça. Se o aplicativo é de graça, nós somos 
o produto dele. Nossas buscas no Google logo viram anúncios de produtos em sites e redes 
sociais, nossos pedidos em aplicativo sinalizam nossas preferências alimentares, nossa 
solicitação de destino se torna mapeamento geolocalizado de onde estamos, para onde 
vamos e como está o trânsito no percurso. O termo do momento é Big Data. 
 
Embora para o ativista e cientista social Edson Teles, “asfunções algorítmicas têm 
a característica de produzirem mecanismos de controle sem a necessidade de acionar 
discursos e ideologias como estratégias centrais de governo” (TELES, 2018, p. 436), 
vazamentos de informações recentes vêm demonstrando como o Facebook influenciou as 
eleições de 2018 no Brasil e o impacto das Fake News a nível mundial, seja no período 
eleitoral ou nos ataques às vacinas contra o coronavírus. A cisão vivenciada na sociedade 
atual – e não apenas na brasileira – onde ideias antagônicas não encontram mais trânsito, 
grupos familiares estão rachados e a intolerância se faz presente em nosso meio encontra-
se presente concomitantemente com o aumento da tecnologia da informação em nossos 
cotidianos. 
 
Ao mesmo tempo, torna-se inviável pensarmos numa proibição, censura e/ou 
‘movimento antitecnológico contemporâneo’, mas é de grande importância discutirmos a 
respeito de como os algoritmos vêm influenciando nossos entendimentos, fragilizando as 
instituições e promovendo ataque à democracia mundial. Ou, em outras palavras, como 
precisamos estourar as bolhas das redes sociais para que o direito ao contraditório, ao 
diferente e as ideias divergentes possam encontrar espaços de diálogo, de afetos. 
 
 
 
14 D isponíve l em ht tps: / / fes tadol iv ro.edusp.com.br 
https://festadolivro.edusp.com.br/
 
 
21 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
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5. MOVIMENTOS SOCIAIS 
 
 
Objetivo 
Evidenciar os movimentos sociais como organizações coletivas interessadas em 
representar determinadas parcelas sociais, historicamente ligados às minorias sociais sem, 
entretanto, ignorar a existência de diversos movimentos das mais variadas vertentes 
político-ideológicas. 
 
Introdução 
Formadas por grupos minoritários – e, já de antemão, destaca-se que a noção de 
‘minoria social’ não vem a ser quantitativa, ou seja, de acordo com a quantidade de pessoas 
presentes na sociedade, mas sim frente ao Estado, às representatividades nos locais de 
poder, como no caso da população negra que, embora seja maioria quantitativamente, 
representando XX%, de acordo com o levantamento do IBGE de XXXX, não ocupam os 
locais de poder como, por exemplo, profissões de alto rendimento financeiro – têm como 
objetivo a reivindicação de seus direitos sociais. 
 
Havendo a necessidade de fazer com que as demandas destes setores fossem mais 
bem propagadas, passam a se organizarem coletivamente para que tenham mais força de 
combate. Os movimentos sociais não têm necessariamente um interesse econômico por 
trás, mas sim reivindicatório para que as desigualdades possam ser mais explicitadas. A 
nível internacional, temos os movimentos sociais de combate às mudanças climáticas, pró-
desarmamento, de abolicionismo penal, dentre outros. A nível nacional, temos os 
movimentos sociais de trabalhadores sem terra (MST), dos trabalhadores sem teto (MTST), 
os identitários, religiosos. A nível local, temos as organizações de bairro, associações civis, 
coletivos e grupos de jovens, dentre outros. 
 
Como se pode observar, a existência de movimentos sociais não é exclusivamente 
brasileira e muito menos de um determinado espectro político-ideológico. Ao mesmo tempo 
em que há organizações contrárias ao armamento, há aquelas favoráveis. Enquanto há 
movimentos sociais da terra, há organizações representando o agronegócio, e assim por 
diante. Os movimentos sociais estão inseridos na dinâmica da própria sociedade 
contemporânea e são necessários para que as pautas diversas se façam presentes em 
nossos cotidianos. 
 
 
22 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
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5.1. Reivindicação coletiva 
Interessada em ser escutada e vista com maior magnitude, a organização social 
coletiva tem como objetivo aumentar o corpus para que suas demandas sejam postas em 
visibilidade e para que sejam mais facilmente identificados como, por exemplo, o problema 
fundiário brasileiro (denunciado pelo MST15), a centralização de renda (denunciada pelo 
MTST16), o direito do aborto à mulher (destacado pelas Católicas Pelo Direito de Decidir17) 
e a exclusão de LGBTQI+ do acolhimento religioso (explicitado pelas Igrejas Inclusivas18). 
 
Com pautas diversificadas e diferentes entre si, os movimentos sociais buscam 
melhor organização para fortalecimento da rede de apoio, de escuta e de influência política 
para que suas demandas sejam atendidas – ou, ao menos, tenham visibilidade e 
consequente discussão nacional. Ao mesmo tempo, os movimentos sociais não podem ser 
entendidos apenas a nível nacional, visto que também se fazem presentes em nosso 
entorno: comunidades de bairro, associações, grupo de jovens, sindicatos. Todas essas 
organizações podem ser entendidas como movimentos sociais, uma vez que organizam e 
sistematizam uma determinada parcela da sociedade interessada por algo em comum 
(ideias, identidades, trabalho etc.). 
 
Os movimentos realizam diagnósticos sobre a realidade social, constroem 
propostas. Atuando em redes, constroem ações coletivas que agem como 
resistência à exclusão e lutam pela inclusão social. Constituem e desenvolvem o 
chamado empowerment de atores da sociedade civil organizada à medida que 
criam sujeitos sociais para essa atuação em rede. Tanto os movimentos sociais dos 
anos 1980 como os atuais têm construído representações simbólicas afirmativas 
por meio de discursos e práticas. (GOHN, 2011, p. 336) 
 
Se não fosse pela organização destes movimentos sociais, dificilmente teríamos 
legislações específicas, visto que o Direito à Inclusão e à Educação Especial, por exemplo, 
foram determinantes para que crianças e adolescentes tivessem políticas públicas 
específicas para as suas necessidades, por exemplo, e se tivemos tais ganhos a partir da 
organização desta parcela social. Logo, reconhece-se a importância dos movimentos 
sociais em virtude de estes explicitarem e evidenciarem demandas outrora ‘longe’ da vista 
da maioria. Outro ponto que vale destacar quanto aos movimentos sociais diz respeito a 
pluralidade às suas pautas presentes em diversos setores sociais. A concordância e a 
 
15 D isponíve l em ht tps: / /mst .org.br 
16 D isponíve l em ht tps: / /mtst .org 
17 D isponíve l em ht tp: / /cato l icas.org.br 
18 D isponíve l em ht tps: / /www.conic.org.br /por ta l /not ic ias /2 577- igre jas- inc lus ivas-uma-real idade-
cada-vez-mais -presente 
https://mst.org.br/
https://mtst.org/
http://catolicas.org.br/
https://www.conic.org.br/portal/noticias/2577-igrejas-inclusivas-uma-realidade-cada-vez-mais-presente
https://www.conic.org.br/portal/noticias/2577-igrejas-inclusivas-uma-realidade-cada-vez-mais-presente
 
 
23 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
discordância fazem parte da democracia e são benéficas para que melhorias possam ser 
encontradas de forma coletiva, de modo tal que se evite a marginalização e exclusão social 
em detrimento de uma parcela social. 
 
5.2. A questão da representatividade 
Evidenciada mais contemporaneamente, sobretudo nas redes sociais, a discussão 
sobre o ‘lugar de fala’ (RIBEIRO, 2019) oxigenou o debate nos movimentos sociais, 
representações civis e pautas identitárias – temática até então não fortemente presente em 
outros contextos históricos, a pauta hoje se tornou central justamente em virtude da 
mudança de mentalidade vivenciada contemporaneamente. 
 
A questão da representatividade é perceptível em diversos setores sociais, uma vez 
que no Brasil a pobreza tem cor, conforme destacado por Richarlls Martins: “do total de 
pessoas pobres no Brasil, 73% são pessoas negras, sendo 38% mulheres pretas e pardas 
e 35% homens pretos e pardos. Na extrema pobreza, é ainda maior a população negra. Os 
últimos dados oficiais do governo brasileiro indicam: 77% extremamente pobresno Brasil 
são negros; destes, 40% são mulheres negras e 37% homens negros”19, evidenciando 
ainda mais nosso passado colonialista fortemente presente em nosso presente. 
 
No Congresso Nacional, a ‘casa do povo’ também tem números alarmantes: “entre 
os 513 deputados eleitos, há 436 homens e 77 mulheres. São 27 deputadas a mais do que 
na legislatura anterior. Apesar de a representação feminina na Câmara ter subido de 10% 
para 15%, ainda fica bem distante do índice de 51,5% que faz das mulheres a maioria da 
população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os 
negros, incluindo pretos e pardos, também permanecem sub-representados na Câmara, 
apesar do aumento de 5% no número de eleitos. Ao todo, 125 deputados se autodeclaram 
negros (104 pardos e 21 pretos), o que corresponde a 24,3% do total. Os brancos chegam 
a 75% da nova Câmara. Já o IBGE mostra que a população brasileira é formada por 54,9% 
de negros e 44,2% de brancos. Quanto à faixa etária, enquanto a maioria da população 
tem cerca de 34 anos, a maior parte dos deputados (145) têm entre 51 e 60 anos”, conforme 
destacado pelo site20 da própria Câmara. 
 
19 D isponíve l em ht tps: / /s in tuf r j .org.br /2020/11/a -pobreza-no-bras i l - tem-cor-e la-e-
hegemonicamente-negra/ 
20 D isponíve l em ht tps: / /www.camara. leg.br /not ic ias /550900 -nova-composicao-da-camara-a inda-
tem-descompasso-em-re lacao-ao-per f i l -da-populacao-bras i le i ra / 
https://sintufrj.org.br/2020/11/a-pobreza-no-brasil-tem-cor-ela-e-hegemonicamente-negra/
https://sintufrj.org.br/2020/11/a-pobreza-no-brasil-tem-cor-ela-e-hegemonicamente-negra/
https://www.camara.leg.br/noticias/550900-nova-composicao-da-camara-ainda-tem-descompasso-em-relacao-ao-perfil-da-populacao-brasileira/
https://www.camara.leg.br/noticias/550900-nova-composicao-da-camara-ainda-tem-descompasso-em-relacao-ao-perfil-da-populacao-brasileira/
 
 
24 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 Outro problema já anunciado está na baixa adesão que o ENEM sofreu no início 
dessa década, uma vez que esta ausência diminuirá de forma substancial a presença de 
parcelas sociais historicamente marginalizadas e estigmatizadas dos bancos universitários 
e trabalhos que requeiram melhore preparos. Como pode-se perceber, a questão de 
representatividade no Brasil está estruturada naquilo cunhado como racismo estrutural 
(ALMEIDA, 2018). 
 
Ao mesmo tempo, sopros de esperança aparecem quando nos deparamos com a 
atenção dada pelas artes à problemática da falta de representatividade como, por exemplo, 
o show AmarElo21, do Emicida, no Theatro Municipal e a apresentação de standup comedy, 
no mesmo local, no dia da Consciência Negra, intitulado de Risadas Pretas Importam22, o 
primeiro show do gênero em toda a história do Theatro Municipal numa marcada reparação 
histórica. 
 
5.3. Disputas de narrativas 
Enquanto vivenciamos o fortalecimento das pautas identitárias e em defesa da 
representatividade social, sobretudo a partir do lugar de fala, concomitantemente assistimos 
setores da sociedade brasileira afirmando que tais questões são ‘mimimi’ e que ‘hoje em 
dia tudo é racismo, tudo é discriminação’. Esse senso comum, fortemente presente nas 
redes sociais, enuncia e denuncia um problema ainda mais profundo em nossa sociedade: 
o da alienação, ausência de criticidade e de uma educação em oposição àquela 
preconizada por Paulo Freire. 
 
A educação libertadora freireana visava educar as pessoas a partir de uma formação 
política, usando de seu meio e de suas realidades para a escolarização crítica, dando não 
apenas sentido para a educação como produzindo ressonância entre os escolarizados. 
Como não foi posta em prática no país, ficando mais circunscrita a diminutas escolas e 
professores interessados na pedagogia freireana, a educação hoje em voga é alienadora e 
visa produzir mão de obra ao capital. Ou seja, atenta-se mais à formação de pessoas para 
o mercado de trabalho em detrimento da criticidade. Como consequência, o processo de 
alienação escolar acaba por produzir adultos alienados à sua própria realidade, não 
 
21 D isponíve l em 
ht tps: / /www.youtube.com/watch?v=1IXTGu4cYmc&l is t=PL_N6VL1gm0aL6VZCAyFmJbSqt6 iYCr jv I 
22 D isponíve l em ht tps: / / tab.uol .com.br /not ic ias/ redacao/2021/11/21/humor is tas -negros-provocam-
reparacao-his tor ica-no-palco-do-munic ipa l .h tm 
https://www.youtube.com/watch?v=1IXTGu4cYmc&list=PL_N6VL1gm0aL6VZCAyFmJbSqt6iYCrjvI
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2021/11/21/humoristas-negros-provocam-reparacao-historica-no-palco-do-municipal.htm
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2021/11/21/humoristas-negros-provocam-reparacao-historica-no-palco-do-municipal.htm
 
 
25 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
percebendo – ou não querendo perceber – que as desigualdades no país têm cor, gênero, 
sexualidade e classe social. 
 
 Esse ‘fechar os olhos’ à realidade coaduna à postura de desqualificar movimentos 
sociais que reivindicam direitos historicamente negados e a silenciar parcelas sociais 
tradicionalmente invisibilizadas. Não obstante, o terreno fértil para a discussão e produção 
de intolerância foi as redes sociais, conforme pudemos ver na discussão da aula anterior 
sobre a governamentalidade algorítmica. 
 
 A própria problemática da disputa de narrativas se faz bastante presente na 
contemporaneidade, quando a ‘liberdade de expressão’ é fortemente atravessada com o 
‘discurso de ódio’ e com a ‘prática da desinformação’. Canais no YouTube propagam fake 
news, lives institucionais divulgam desinformações e discursos científicos são postos em 
dúvida sistematicamente. Percebe-se a questão também presente nos locais de ensino-
aprendizagens quando professores são perseguidos por trabalharem com temas sensíveis, 
sobretudo as identitárias como as questões de gêneros, sexualidades e étnico-raciais. 
 
 Por fim, destaco trecho de matéria do jornal Diplomatique23 
 
É com base nessa produção teórica e política conservadora que se abre um novo 
campo de disputas e começa a batalha da comunicação: a tradução dessas 
narrativas para professores e estudantes das universidades, para formadores de 
opinião e para o público em geral. Jornais, revistas e televisão levam essa visão de 
mundo, simplificada, para a opinião pública. 
[...] 
A luta por direitos é também a luta contra a desigualdade e requer narrativas que 
desvendem as formas de exploração e opressão e tornem ilegítimas as políticas 
promotoras da desigualdade. Mas não bastam as denúncias; essas mobilizações 
precisam também trazer a público propostas afirmativas para a reconstrução de 
uma área social específica, como é o caso da tarifa zero nas mobilizações contra o 
aumento das tarifas. A disputa pelos recursos e por novas políticas públicas é uma 
disputa concreta, ponto a ponto, que precisa de alternativas concretas para 
contrapor a lógica dos direitos à lógica do mercado. 
 
23 D isponíve l em ht tps: / /d ip lomat ique.org.br /a -guerra-das- ide ias-a-d isputa-das-narrat ivas/ 
https://diplomatique.org.br/a-guerra-das-ideias-a-disputa-das-narrativas/
 
 
26 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
6. MULTICULTURALISMO EM GIRO DECOLONIAL 
 
 
Objetivo 
Evidenciar a existência de diversas culturas e etnias dentro do Brasil e como tais 
características enriquecem nossos cotidianos. Destaca-se ainda a problemática do 
eurocentrismo, a partir da perspectiva decolonial, e a existência do pacto narcísico da 
branquitude como forma de tentar invisibilizar os marcadores das diferenças. 
 
Introdução 
Historicamente, o Brasil é entendido como um país multicultural e multiétnico, essa 
característica se dá por conta da invasão portuguesa no processo de colonizaçãoe do 
sequestro de negros escravizados24 do continente africano e trazidos à força para cá25, no 
que é conhecido de Diáspora Africana26. Para que se possa mensurar a magnitude dessa 
exploração, “o Brasil é o segundo país em população negra do mundo, só perdendo para a 
Nigéria. Mais da metade do povo brasileiro descende de povos africanos” (TRIUMPHO, 
2004, p. 21). 
 
Outro dado significativamente alarmante é o da população indígena brasileira, 
conforme destacado pelo censo do IBGE, realizado em 2010, “o Brasil apresenta um 
significativo contingente de indígenas, embora corresponda a somente 0,4% da população 
total” (BRASIL, 2012, p. 5). Mais preocupante ainda é o fato de o Censo não ter sido 
realizado em 2021 por falta de verbas, uma vez que é a partir destes dados que o Governo 
Federal, independentemente do partido e da ideologia, baseia-se para a efetivação de 
políticas públicas direcionadas às parcelas populacionais em específico. 
 
Nossa diversidade cultural foi capaz de produzir um o país bastante antagônico: 
enquanto é rico em suas diferenças, é pobre em seu reconhecimento. Os privilégios se 
fazem presentes, as desigualdades gritam e a fome (a)bate – embora o país tenha deixado 
 
24 A esse respei to , o ator e escr i tor a f ro -serg ipano Severo D'Acel ino, coordenador da Casa de 
Cul tura Afro Serg ipana, na cap i ta l Aracaju, dec lama seu poema "A Árvore do Esquecimento" 
durante cer imônia de recebimento da Comenda Abdias Nasc imento na ALESE. Disponíve l em 
ht tps: / /www.youtube.com/watch?v= - f5LqV97xos 
25 Sobre a questão, Humanish produz iu a música in t i tu lada Árvore do Esquecimento 
ht tps: / /www.youtube.com/watch?v=GeMNZeD4Oso 
26 Para saber mais, ass is t i r a conferênc ia rea l izada por Kabengele Munang a sobre Histór ia da 
Diáspora Afr icana ht tps: / /www.youtube.com/watch?v=BDKzWSouaqo 
https://www.youtube.com/watch?v=-f5LqV97xos
https://www.youtube.com/watch?v=GeMNZeD4Oso
https://www.youtube.com/watch?v=BDKzWSouaqo
 
 
27 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
o Mapa da Fome das Organizações das Nações Unidas, em 2014, após uma década de 
políticas públicas de combate à forme, retornamos à essa realidade desde 2018. 
 
6.1. Pluralidade étnica 
No campo educacional, de acordo com o Plano Nacional da Educação (BRASIL, 
2014), em seu segundo artigo a respeito das diretrizes do PNE, decreta-se a “promoção 
dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade 
socioambiental”, preconiza-se também, a partir da Base Nacional Comum Curricular, 
“exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se 
respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e 
valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, 
culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza”. (BRASIL, 2017, p. 
10). 
 
A importância do destaque nos dois últimos documentos oficiais de políticas públicas 
educacionais está no fato de que, conforme já discutido anteriormente, a escola é um 
importante local de socialização e de promoção do respeito às diferenças. Ao mesmo 
tempo, reconhece-se o conturbado período em que a BNCC foi discutida e a problemática 
da supressão de importantes temas27. 
 
Sabendo que as políticas públicas devem atender a sociedade, é de grande 
importância que todas as questões presentes nela se façam presentes nos documentos 
oficiais, uma vez que elas servem para direcionar o trabalho dos profissionais do país. Logo, 
independente de ideologias, um país com democracia consolidada é aquele que atende às 
especificidades de sua nação. No caso dos Parâmetros para Atuação de Assistentes 
Sociais na Política de Assistência Social, “para a efetivação da Assistência Social como 
política pública, contudo, é imprescindível sua integração e articulação à seguridade social 
e às demais políticas sociais”. (BRASIL, 2011, p. 7). 
 
Como se pode perceber, a interconexão de diversos agentes sociais é de grande 
importância para a valorização das diferenças, reconhecimento das diversidades e 
promoção de seguridades diversas. Quando se reconhece a pluralidade étnico-cultural do 
 
27 D isponíve l em ht tps: / /www.unicamp.br /un icamp/ index.php/ ju /not ic ias /2017/04/07/espec ia l is tas -
veem-ret rocesso-em-supressao-do- termo-or ientacao-sexual -da 
https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2017/04/07/especialistas-veem-retrocesso-em-supressao-do-termo-orientacao-sexual-da
https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2017/04/07/especialistas-veem-retrocesso-em-supressao-do-termo-orientacao-sexual-da
 
 
28 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
país, permite-se pensar e produzir ações específicas para todas as camadas sociais. Afinal, 
não basta apenas um dia comemorativo para uma determinada questão, faz-se importante 
e imprescindível que ações políticas sejam realizadas para a valorização dessa mesma 
diversidade enquanto forma de combater marginalizações, invisiblizações e violências 
diversas. 
 
6.2. Decolonialidade 
Pensada a partir da crítica à colonialização – e a toda subjetivação que a colonização 
incutiu em nós –, a teoria decolonial busca ressignificar a produção do conhecimento 
estruturada em teóricos tradicionais, sobretudo os de origem europeia e estadunidense, 
para valorizar autores africanos, latino-americanos ou até mesmo das nações europeias e 
estadunidenses, mas que historicamente foram mantidos às margens de suas sociedades. 
 
o projeto decolonial reconhece a dominação colonial nas margens/ fronteiras 
externas dos impérios (nas Américas, no sudeste da Ásia, no norte da África), bem 
como reconhece a dominação colonial nas margens/fronteiras internas dos 
impérios, por exemplo, negro e chicanos nos Estados Unidos, paquistaneses e 
indianos na Inglaterra, magrebinos no França, negros e indígenas no Brasil etc. 
(BERNARDINO-COSTA, GROSFOGUEL, 2016, p. 20) 
 
 Ao valorizar a produção de conhecimentos marginais (ou seja, aqueles postos às 
margens da centralidade do conhecimento dominante), a decolonialidade tem condições de 
potencializar nossos olhares cotidianos, uma vez que ela não busca se fazer presente 
apenas nos bancos acadêmicos, ‘escondida’ em títulos universitários, mas permeia todo o 
tecido social: escolas, movimentos sociais, comunidades de bairro, organizações sociais, 
dentre outros. Um exemplo de como ela se faz presente nesse trânsito está no álbum 
Sobrevivendo no inferno28, dos Racionais MC’s, lançado em 1997, tornando livro em 2018 
e sendo obra obrigatória no vestibular da Unicamp, em 2020. 
 
Um ponto de partida importante na teoria decolonial é a luta contra um pensamento 
totalizante e universalista, uma vez que entende que cada região é capaz de ter as suas 
especificidades e por isso, uma teoria/olhar não é capaz de responder a todas as demandas 
ali presentes. Por exemplo, olhando para o Brasil, sabe-se que temos inúmeros brasis 
dentro do próprio Brasil: a diversidade étnico-cultural, de gênero, de sexualidade, dentre 
 
28 D isponíve l em ht tps: / /www.youtube.com/watch?v=pL4bzW2qGqQ&l is t=OLAK5uy_nXyWjwypr -
yMtSmeWyapr9gsaecYZe7rQ 
https://www.youtube.com/watch?v=pL4bzW2qGqQ&list=OLAK5uy_nXyWjwypr-yMtSmeWyapr9gsaecYZe7rQ
https://www.youtube.com/watch?v=pL4bzW2qGqQ&list=OLAK5uy_nXyWjwypr-yMtSmeWyapr9gsaecYZe7rQ
 
 
29 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
outros nos permite compreender a existência de diversos marcadores que mudam as 
vivências das pessoas. 
 
A realidade de quem mora em São Paulo é diferente daquela de quem mora em 
Santos, no interior do estado, numa região afastada dos grandes centros urbanos, em 
outros estados do país e assim por diante.Comunidades ribeirinhas e quilombolas têm suas 
demandas específicas, produzem seus conhecimentos históricos, passados 
tradicionalmente por meio da oralidade e até hoje resistem às opressões diversas – isso 
pensando a decolonialidade a nível nacional29. Se pensarmos, conforme preconizado por 
Boaventura Santos (2009), numa produção de conhecimento ao Sul global, conectaremos 
diversos povos e nações colonializados e com capacidades de produzirem seus 
conhecimentos às suas perspectivas30. 
 
6.3. Pacto narcísico da branquitude 
Termo cunhado por Maria Aparecida Silva Bento, em sua tese de doutorado pelo 
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP), destaca que seu trabalho 
teve como objetivo analisar como as desigualdades são reproduzidas no ambiente de 
trabalho a partir do marcador da branquitudes, ou seja, a racialidade branca como produtora 
de subjetividades capazes de influenciar as ações dos sujeitos. Ao destacar a desigualdade 
existente entre brancos e negros, Bento (2002) discorre sobre a invisibilização impostas aos 
negros no ambiente de trabalho. 
 
Para a autora, percebe-se a existência do que ela cunhou de pacto narcisístico, ou 
seja, “um pacto entre brancos, aqui chamado de pacto narcísico, que implica na negação, 
no evitamento do problema com vistas a manutenção de privilégios raciais” (BENTO, 2002, 
p. 7). Ainda para a autora, “alianças inter-grupais entre brancos são forjadas e caracterizam-se 
pela ambigüidade, pela negação de um problema racial, pelo silenciamento, pela interdição de 
negros em espaço de poder, pelo permanente esforço de exclusão moral, afetiva, econômica, 
política do negros, no universo social” (2002, p. 7). A importância de sua análise nisso que cunhou 
como “pacto narcísico da branquitude” decorre pela percepção de como a sua existência é capaz 
de preservar hierarquias e privilégios. 
 
29 Para saber mais , consul tar a obra Decolonia l idade e pensa mento af rodiaspór ico , organizada por 
BERNARDINO-COSTA, MALDONADO-TORRES, GROSFOGUEL,2019. 
30 Para saber mais, ler Uma breve h is tór ia dos estudos decolon ia is (QUINTERO, FIGUEIRA E 
ELIZALDE, 2019) 
 
 
30 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Como exemplo, anualmente assistimos nas redes sociais brasileiras o ressurgimento 
da frase do ator Morgan Freeman, datada de 2005, o qual falava que uma forma de acabar 
com os racismos era parando de falar deles. Entretanto, a partir de um processo de 
autorreflexão e autocrítica, Freeman já afirmou diversas vezes ter mudado de ideia e 
reconhecido a importância da data para o combate dos racismos. Nesse sentido, o ator 
apoiou o movimento Black Lives Matter31, criado em decorrência do assassinato de George 
Floyd, nos Estados Unidos, e passou a fazer uso de suas redes sociais para o 
compartilhamento de narrativas de pessoas que vivenciaram tais discriminações. No Brasil, 
derivou-se o movimento Vidas Negras Importam a partir de uma série de ações no campo 
cultural (como a música homônima de Martinho da Vila32) social33 e político34. 
 
Esse compartilhar narrativas, também conhecido como lugar de fala (RIBEIRO, 
2019), foi cunhado por Conceição Evaristo (2006, 2017) como escrevivência35, ou seja, uma 
escrita a partir da própria vivência das pessoas negras enquanto forma de produzirem 
sentidos e conhecimentos de suas próprias histórias. Obra referencial na noção de 
escrevivência, ganhadora de prêmios nacionais e internacionais, Olhos d’Água36 
(EVARISTO, 2016) traz escritas e/de vivências como forma de produção de conhecimentos 
outros e contra hegemônicos37. 
 
Como se pode perceber, o diálogo para com a decolonialidade decorre justamente 
das vivências, das escritas e das perspectivas de pessoas que vivem e vivenciaram 
históricos processos de discriminações, de marginalizações e subalternidades diversas, 
incidindo de forma substancial em suas precariedades e vulnerabilidades. Essas 
especificidades da vivência e do olhar são capazes de produzir uma escrita mais política e 
potente38, sobremaneira porque desloca a produção do conhecimento para a pluralidade 
presente na sociedade contemporânea. 
 
31 D isponíve l em ht tps: / /www.youtube.com/watch?v=CXpuvmOyRrs 
32 D isponíve l em ht tps: / /www.youtube.com/watch?v= -IusmZFN_4w 
33 D isponíve l em ht tps: / /youtu.be/hyAGftWKEh0?t=105 
34 D isponíve l em ht tps: / /www.camara. leg.br /not ic ias /718949 -camara-aprovou-convencao-contra-o-
rac ismo-e-propostas-para-aumentar -protecao-ao-consumidor / 
35 Para saber mais , ass is t i r a entrev is ta de Conceição Evar is to exc lus ivamente sobre a noção de 
escrev ivência, d isponíve l em ht tps: / /www.youtube.com/watch?v=QXopKuvxevY 
36 D isponíve l em 
ht tps: / / f i les.ufgd.edu.br /arquivos/arquivos/78/NEAB/Grupo%20de%20Estudos/7.%20EVARISTO,%
20Conceição%20-%20Olhos%20dagua.pdf 
37 Dent re os inúmeros contos, c i to Mar ia , d isponíve l em 
ht tps: / /www.youtube.com/watch?v=PmuNPnk_1F4 
38 Destaca-se, a esse respei to , as memór ias escolares da própr ia Conceição Evar is to , d isponível 
em ht tps: / /www.youtube.com/watch?v=9POX2gt fmFI 
https://www.youtube.com/watch?v=CXpuvmOyRrs
https://www.youtube.com/watch?v=-IusmZFN_4w
https://youtu.be/hyAGftWKEh0?t=105
https://www.camara.leg.br/noticias/718949-camara-aprovou-convencao-contra-o-racismo-e-propostas-para-aumentar-protecao-ao-consumidor/
https://www.camara.leg.br/noticias/718949-camara-aprovou-convencao-contra-o-racismo-e-propostas-para-aumentar-protecao-ao-consumidor/
https://files.ufgd.edu.br/arquivos/arquivos/78/NEAB/Grupo%20de%20Estudos/7.%20EVARISTO,%20Conceição%20-%20Olhos%20dagua.pdf
https://files.ufgd.edu.br/arquivos/arquivos/78/NEAB/Grupo%20de%20Estudos/7.%20EVARISTO,%20Conceição%20-%20Olhos%20dagua.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=PmuNPnk_1F4
https://www.youtube.com/watch?v=9POX2gtfmFI
 
 
31 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Esse deslocamento não ocorre de forma simples e pacífica, uma vez que as disputas 
de forças existem na sociedade e setores que antes detinham significativos privilégios 
deixam de gozar deles e, como consequência, buscam deslegitimar essa forma de escrita 
outras e escritas plurais, uma vez que toda mudança de mentalidade acaba vivenciando 
processos de tensionamentos e rupturas. 
 
Por fim, encerrando a discussão sobre estas questões socioculturais e as mudanças 
que a sociedade contemporânea vem passando nas últimas décadas, vale destacar que o 
capitalismo tira proveito de tais mudanças de mentalidade para continuar com sua prática 
hegemônica de poder. Em outras palavras, vimos um aumento de propagandas televisivas 
de diversas marcas trabalhando do empoderamento às outras formas de arranjos familiares 
enquanto política inclusiva institucional, mas, vale destacar, que o projeto de poder 
hegemônico do capitalismo tem como princípio a sua manutenção em evidência e controle 
da sociedade para que continue a lucrar com tais mudanças – o que não anula a 
importância destas empresas adotarem práticas inclusivas, evidentemente. 
 
 
 
 
32 Fundamentos Sociológicos e Antropológicos 
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7. GLOBALIZAÇÃO 
 
 
Objetivo 
Apresentar os conceitos de globalização como fábula, globalização como 
perversidade e globalização como possibilidade a partir das ideias do geógrafo Milton 
Santos. Para tanto, os subcapítulos a seguir são transcrições literais da Introdução Geral 
do livro Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal39, do 
próprio autor. 
 
Introdução 
Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Haveria nisto um paradoxo 
pedindo uma explicação? De um lado, é abusivamente mencionado o extraordinário 
progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos são os novos materiais 
artificiais

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