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1 - Para o antropólogo Ruben G. Oliven (1990), o que caracterizaria o nosso país, em relação às demais manifestações culturais nacionais do restante do globo, é que na sociedade brasileira, tomada por uma imensa desigualdade social e diversidades socioculturais das mais diferentes matizes, há um processo de reelaboração de símbolos e de práticas culturais que tendem a serem transformadas, tal qual na imagem de um caleidoscópio, em símbolos de uma nacionalidade, o que faria residir, neste movimento antropológico mais amplo, os elementos de nossa coesão social, manipulados como formas de identidade nacional. OLIVEN, R. G. A antropologia e a diversidade cultural no Brasil. In: Revista de Antropologia, São Paulo, USP, n. 33, 1990. p. 130. Portanto, falar em cultura brasileira implica: RESPOSTA: Na sociedade e cultura brasileiras há um processo de conversão das mais diferentes contribuições culturais, dos mais diferentes grupos, ao longo de nossa história, que tornaram símbolos particulares em símbolos nacionais, convivendo ao lado das identidades particulares, em um grande esforço de síntese e reelaboração culturais. nota: Falar em cultura brasileira implica reconhecer um cenário de imensa diversidade e desigualdade social, onde diversas matizes socioculturais se entrelaçam e interagem de maneira complexa. Nesse contexto, a cultura brasileira não é estática, mas um processo contínuo de reelaboração de símbolos e práticas culturais. Assim como as peças de um caleidoscópio em constante movimento, esses elementos culturais são transformados e rearranjados, resultando em uma miríade de formas de expressão e identidade. A rica tapeçaria cultural do Brasil é tecida por meio de interações dinâmicas entre diferentes grupos étnicos, classes sociais, regiões geográficas e influências históricas. A coesão social no país não surge da uniformidade cultural, mas da maneira como essa diversidade é incorporada e ressignificada em uma busca constante por identidade nacional. A cultura brasileira é uma construção em constante evolução, onde as características únicas de cada grupo e região se entrelaçam para formar uma narrativa cultural complexa e em constante transformação. 2 - Para o antropólogo Ruben G. Oliven (1990), o que caracterizaria o nosso país, em relação às demais manifestações culturais nacionais do restante do globo, é que na sociedade brasileira, tomada por uma imensa desigualdade social e diversidades socioculturais das mais diferentes matizes, há um processo de reelaboração de símbolos e de práticas culturais que tendem a serem transformadas, tal qual na imagem de um caleidoscópio, em símbolos de uma nacionalidade, o que faria residir, neste movimento antropológico mais amplo, os elementos de nossa coesão social, manipulados como formas de identidade nacional. OLIVEN, R. G. A antropologia e a diversidade cultural no Brasil. In: Revista de Antropologia, São Paulo, USP, n. 33, 1990. p. 130. Portanto, falar em cultura brasileira implica: RESPOSTA: Na sociedade e cultura brasileiras há um processo de conversão das mais diferentes contribuições culturais, dos mais diferentes grupos, ao longo de nossa história, que tornaram símbolos particulares em símbolos nacionais, convivendo ao lado das identidades particulares, em um grande esforço de síntese e reelaboração culturais. nota: Resposta correta: a discussão acerca da construção da identidade nacional brasileira é recorrente na literatura antropológica. Nesse caso, Ruben G. Oliven demonstra que as mais diferentes contribuições, de grupos completamente distintos, terminaram por convergir em uma identidade nacional plural, que tem como base vários elementos desses grupos, mas revestidos com um caráter nacional. 3 - Segundo Howard Becker (2008), regras, desvios e rótulos são sempre construídos em processos políticos, nos quais alguns grupos conseguem impor seus pontos de vista como mais legítimos do que outros. O desvio, diz o autor, não é inerente aos atos ou aos indivíduos que os praticam; ele é definido ao longo de processos de julgamento que envolvem disputas em torno de objetivos de grupos específicos. "Desvio não é uma qualidade que reside no próprio comportamento, mas na interação entre a pessoa que comete um ato e aquelas que reagem a ele" (BECKER, 2008, p. 27). Como as sociedades complexas são sempre compostas por diversos grupos, imposições de regras e rotulações de atos e pessoas, elas envolvem também conflitos e divergências acerca de definições: "aquele que infringe a regra pode pensar que seus juízes são outsiders" (BECKER, 2008, p. 15). BECKER, H. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. VELHO, G. Observando o familiar “a versão qualitativa”. In:A aventura sociológica: objetividade, paixão, improviso e método na pesquisa social. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. Tendo como base o texto e suas leituras a respeito do desvio e da divergência (VELHO, 2003), analise as sentenças a seguir, respondendo ao que se pede: I. O comportamento desviante é atribuído a criminosos, drogados, loucos etc. sendo muitas vezes abordado por órgãos de imprensa sob o rótulo da marginalidade que beira a malignidade ou ainda uma pseudociência em relação ao indivíduo criminoso. II. Os meios de comunicação realizam um trabalho importantíssimo ao espetacularizar a conduta criminosa e cobrir, minuciosamente, os detalhes da mente e da ação dos criminosos. Isso contribui para o conhecimento do público acerca do comportamento desviante da mesma forma como os mais diferentes especialistas o realizam em suas respectivas áreas. III. A cobertura da violência, particularmente a hedionda, por setores da imprensa colabora para o maior entendimento e compreensão da existência de indivíduos, que, em suas escolhas particulares e valores distorcidos, decidiram agir contra os valores da sociedade. IV. Para Gilberto Velho, dialogando com Howard Becker (2008, s. p.), “os grupos sociais criam o desvio ao estabelecer a regra cuja infração constitui desvio e ao aplicá-las a pessoas particulares, marcando-as como outsiders”. V. Há a produção de estereótipos que não auxiliam a compreensão do fenômeno dos sujeitos desviantes, mas sua mistificação. Segundo Gilberto Velho (2003, p. 19), a extrema individualização dos sujeitos desviantes - “criminoso”, “drogado”, “insano”, deforma-o como fenômeno social e cultural, cabendo à antropologia e às demais ciências sociais a compreensão de seu “inter-relacionamento complexo e permanente”, que une os sujeitos desviantes aos seus grupos mais amplos. Assinale as alternativas corretas: RESPOSTA: I, IV e V. nota: Gilberto Velho, dialogando com Howard Becker (2008), vem nos trazer as discussões acerca do desvio e da divergência, sinalizando, entre outros fatores, a importância de se verificar que, nas condutas desviantes e/ou criminosas, de qualquer natureza, há uma íntima relação dos indivíduos que delinquem e o seu grupo e o meio social, sendo difícil detalharmos um fato típico ou conduta criminosa sem relacionarmos tal conduta aos valores do grupo ao qual o indivíduo faz parte. 4 Gilberto Velho foi um dos mais importantes pesquisadores em antropologia urbana no Brasil. Uma de suas primeiras investigações resultou no livro Autopia urbana, no qual o autor leva a cabo uma etnografia sobre moradores e o bairro de Copacabana no Rio de Janeiro. Sobre essa etnografia é correto afirmar que: I. Foi realizada com o intuito de se verificar como grupos médios, de um conjunto de apartamentos, percebiam as mudanças sociais que atingiam a bairro e a cidade como um todo, revelando-nos a maneira como tais grupos vivenciavam o fenômeno urbano. II. A etnografia demonstrou um grupo extremamente coeso em seu processo de diferenciação e identidades sociais, particularmente em relação aos mais pobres, moradores dos subúrbios ou dos morros cariocas. III. A pesquisa de Gilberto Velho apontou como parte significativa das classes médias cariocas, em particular, e, brasileiras, em geral, são alienadas e distantes dos problemas sociais. IV. O apegoa viver em Copacabana demonstrava a importância que se dava à ascensão social e à manutenção de um conjunto de valores que defendiam e reafirmavam essa ascensão. O bairro representaria, assim, os méritos da ação individual, sua distinção em morar em um dos bairros mais famosos do país. Assinale as alternativas corretas: RESPOSTA: I e IV. Resposta correta: para Gilberto Velho (1989), o apego ao viver no bairro de Copacabana representaria, para esses sujeitos, um “lócus das boas coisas da vida”, reforçando o seu olhar de pertencimento e da superioridade de sua amada Copacabana em relação ao subúrbio, a Zona Norte e, evidentemente, os morros e suas favelas, que, para esses atores pesquisados, tornavam-se cada vez mais próximos e ameaçadores. Também representaria um status, símbolo de sucesso e de ascensão social que “reforçaria suas qualidades pessoais” diante da extrema competição pela mobilidade social e das instabilidades resultantes da vida (VELHO, 1989, p. 8-9). 5 - Ana L. C. da Rocha e Cornelia Eckert (2008) descrevem a etnografia da seguinte forma: “A prática da pesquisa de campo etnográfica responde, pois a uma demanda científica de produção de dados de conhecimento antropológico a partir de uma inter-relação entre o(a) pesquisador(a) e o(s) sujeito(s) pesquisados que interagem no contexto recorrendo primordialmente as técnicas de pesquisa da observação direta, de conversas informais e formais, as entrevistas não-diretivas, etc.” ECKERT, C.; ROCHA, A. L. C. Etnografia saberes e práticas. In: GUAZELLI, A. B.; JARDIM PINTO, C. R. (org.). Ciências humanas: pesquisa e método. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2008. s. p. A partir das discussões acerca do método etnográfico, é correto afirmar que: I. A pesquisa etnográfica é plenamente objetiva, não envolvendo nenhum aspecto subjetivo ou intersubjetivo entre o pesquisador e seu objeto de pesquisa (ECKERT; ROCHA, 2008). Assim, o antropólogo vai a campo, observa, descreve, análise e coleta dados com seus informantes e os grupos sociais que são alvo de sua investigação, retornando ileso, no sentido de sua visão de mundo e do lugar ao qual sua sociedade pertence ao final do processo. II. Roberto DaMatta (1978) relata o “antropological blues” como um processo subjetivo pelo qual o pesquisador passa durante o processo que antecede o trabalho de campo e a pesquisa propriamente dita. Aqui, vem à tona toda uma gama de emoções contraditórias que tornam a experiência antropológica tão interessante, sempre relacional e interpretativa. III. Gilberto Velho (1978), dialogando com a discussão de DaMatta (1978) acerca do “antropological blues”, salienta o processo de estranhar o familiar, tornando-o exótico, e o familiar, em exótico. Desse modo, à antropologia social cabe descortinar os elementos culturais, aquilo que terminamos por naturalizar, demonstrando a amplitude das construções sociais e culturais como processos que criam e são criados pelos sujeitos e coletividades. IV. A etnografia é uma técnica de coleta de dados trabalhada também de forma quantitativa, podendo ser mensurável como quaisquer outros dados. É de sua mensuração, de base matemática, que a pesquisa etnográfica retira sua objetividade. V. É importante também o pesquisador compreender que o distanciamento e o estranhamento tornam possível a explicação do universo de valores e práticas sociais de um outro, sendo contraproducente a transformação do pesquisador nesse outro. Assinale as alternativas corretas: RESPOSTA: II, III e V. Resposta correta: Roberto DaMatta e Gilberto Velho (1978) nos trazem uma importante discussão acerca do método e da experiência etnográfica, ressaltando que essa forma de levantamento de dados é carregada de elementos interpretativos e intersubjetivos que colocam um sujeito pesquisador em rota de compreensão das experiências vividas pelos sujeitos investigados, estabelecendo com esses sujeitos um diálogo que traz à tona o conhecimento antropológico. 6 - Os casos de intolerância, antes apenas episódicos e sem grandes repercussões, hoje se avolumaram e saíram da esfera das relações cotidianas menos visíveis para ganhar visibilidade pública, conforme atestam as frequentes notícias de jornais que os registram em inúmeros pontos do Brasil [...] o panteão afro-brasileiro é especialmente alvo deste ataque [...]. SILVA, V. G. da. Prefácio ou notícias de uma guerra particular. Os ataques neopentecostais às religiões afro-brasileiras e aos símbolos da herança africana no Brasil. In: SILVA, V. G. da (org.). Intolerância religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. São Paulo: EDUSP, 2007. p. 10. Sobre isso, analise as afirmações abaixo. I. Não há intolerância religiosa em nosso país, pois as diferentes práticas religiosas convivem em harmonia, sendo parte integrante da visão hegemônica do brasileiro sobre si mesmo e sua terra, pluricultural e multiétnica. II. As diferentes confissões religiosas, em particular as correntes cristãs e as religiosidades de matriz afro, desenvolveram um grande diálogo ecumênico sobre a busca do sagrado. Tal diálogo envolveu também a esmagadora maioria de seus fiéis, respeitosos em relação às práticas religiosas que lhes são estranhas, criando um campo de respeito à religiosidade sem igual no mundo contemporâneo. III. Falar sobre diversidade religiosa no Brasil leva à problematização do fenômeno da intolerância religiosa e dos conflitos entre as diferentes fés que compõem o campo religioso brasileiro. A ideia de convivência plural e respeitosa entre adeptos de diferentes crenças no Brasil é mais imaginativa do que real, sendo parte constitutiva da maneira como fomos ensinados a ver o nosso país, como uma terra de “democracia racial”, aberta e plural (SILVA, 2007). IV. Há uma crescente visibilidade de ataques e perseguição religiosa contra adeptos do panteão afro-brasileiro, que se expressa por meio de diferentes formas de violência, incluindo a violência simbólica, a qual se manifesta sobre a consideração do panteão afro-brasileiro como um mal a ser combatido (SILVA, 2007). Tal visão é dominante em algumas correntes neopentecostais contemporâneas, que associam as práticas religiosas afro-brasileiras, em especial o candomblé, ao mal, concebido dentro de uma cosmovisão judaico-cristã. Assinale a opção que traz as afirmações corretas. RESPOSTA: III e IV. Resposta correta: infelizmente, há um aumento preocupante na violência física e simbólica contra os praticantes de confissões religiosas não cristãs em nosso país, em especial os adeptos das religiões afro-brasileiras, principalmente os fiéis do candomblé. Tal violência, física e simbólica, derruba nossos mitos acerca do respeito à diversidade cultural e religiosa em nosso país, trazendo à tona temas relacionados não apenas à intolerância em si, mas como esta deve ser pensada também a partir do racismo estrutural, presente em nossa sociedade. 7: Segundo Ruth Cardoso (2011) e Eunice Durham (2004), há sérias implicações na ausência de observação metodológica necessária a todo e qualquer trabalho de campo. CARDOSO, R. As aventuras de antropólogos em campo ou como escapar das armadilhas do método. In: CALDEIRA, T. P. do R. (org.) Obra reunida. São Paulo: Mameluco, 2011. DURHAM, E. R. A pesquisa antropológica com populações urbanas. In: A dinâmica da cultura. São Paulo: Cosac & Naify, 2004. Assinale a alternativa que melhor demonstra essas preocupações metodológicas: RESPOSTA: A pesquisa de campo antropológica deve se preocupar com a plena realização da etnografia, investigação que exige um maior contato com os sujeitos de pesquisa, motivada, principalmente, pela observação participante, deixando de lado um dos principais deslizes semânticos apontados por Durham (2004. e Cardoso (2011., que é a sua “passagem” para uma participação observante, desviando o foco de atenção do pesquisador e, portanto, alterando a típica relação que se estabelece com o universo de valores pesquisado. nota: A ausência de observação metodológica pode levar a interpretaçõesequivocadas e distorcidas dos dados coletados, comprometendo a validade e a confiabilidade das conclusões da pesquisa. A falta de uma abordagem cuidadosa pode resultar em generalizações inadequadas, estereótipos, reducionismo e falta de contexto. Além disso, a ausência de observação metodológica pode dificultar a compreensão profunda dos fenômenos estudados, limitando a capacidade de identificar relações complexas e sutilezas presentes na realidade social. Portanto, é essencial adotar uma abordagem metodológica rigorosa para garantir a qualidade e a precisão da pesquisa de campo. 8: Urpi Montoya Uriarte (2012), em seu trabalho O que é fazer etnografia para o antropólogo? traz à baila a importância das discussões metodológicas, envolvendo o trabalho de campo e outras técnicas e abordagens, rediscutindo as propostas de Velho (1989), Durham (2004), Cardoso (2011) e outros autores acerca da realização de uma etnografia. Considerando tais discussões, veja as sentenças a seguir e assinale a alternativa correta: I. A etnografia não é apenas um método e técnica de pesquisa de campo, mas principalmente uma “teoria vivida” (PEIRANO, 2008), em que o pesquisador vivencia a experiência de vida de outros sujeitos e grupos, observando, descrevendo e analisando suas maneiras de compreender sua humanidade. II. Algumas das dificuldades de se levar a cabo uma pesquisa etnográfica no espaço urbano é a não observação dos deslizes semânticos (DURHAM, 2004), em que, muitas vezes, de maneira irrefletida, o pesquisador deixa de realizar uma observação participante e em profundidade, e passa a atuar politicamente ao lado dos sujeitos que ele deveria compreender. III. Os estudos culturais, surgidos nos EUA nos anos 1960, são vistos como o futuro da antropologia das sociedades complexas, já que tais estudos conseguiram romper com as dificuldades metodológicas de estudo de sociedades de onde se originam também os pesquisadores. IV. Para Gilberto Velho, citando DaMatta (VELHO, 1978 apud DAMATTA, 1978), é importante o estranhamento e a relativização antropológicas, com o intuito de se tornar “exótico” aquilo que a princípio acreditamos ser “familiar” e tornar esse “familiar” em “exótico”. Tais transformações são importantes para se conceber o espaço urbano pela abordagem antropológica e empreender objetivamente o estudo da cultura. RESPOSTA: I, II e IV.
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