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¹ Gays, Lésbicas e simpatizantes ² Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, Não-binárias e mais Um olhar antropológico sobre a Level Cult. Nicole Peyrot da Silva – Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Caxias do Sul. A análise de espaços culturais tem se revelado cada vez mais importante para que possamos compreender os processos de socialização dos jovens, mormente na questão de gênero e sexualidade, frente a isso, somos conduzidos à um espaço social na cidade de Caxias do Sul - RS, onde a cultura da diversidade é acolhida e pode ser expressada, dando cada vez mais enfoque a locais acolhedores ao público GLS¹ neste local, a diversidade pode ser cultivada e vivenciada constantemente, o que faz da casa noturna Level Cult um importante local para pensarmos sobre sociabilidade, identidade, lazer e cultura. A Level é uma casa noturna alternativa voltada para o público LGBTQIAPN+² e seus simpatizantes, oferecendo além de entretenimento, acolhimento, alimentação e diversão aos seus frequentadores, localizada no segundo andar em um dos locais mais frequentados pelos jovens aos fins de semana, os “Trilhos”, na Rua Coronel Flores, 789, em São Pelegrino, centro da cidade. Inaugurada em 2012 e popularmente conhecida como Level, é um ponto de encontro de todos os tipos de pessoas, onde todos podem ser como quiserem sem serem julgados, inclusive, ao entrevistar um frequentador, que chamaremos de “entrevistado A”, o mesmo acaba por resumir a casa da seguinte forma: - A Level é alegria, descoberta e acolhimento, se não fossemos diversos, quão chato seria o mundo? Partindo destas primeiras informações, é importante destacar que fiz de minha presença ali anônima, ou seja, os proprietários não souberam que eu estava ali realizando uma pesquisa, para todos os efeitos, eu não passava de uma frequentadora. Para realizar este trabalho, escolhi como questão norteadora de análise as expressões de identidade nas festas da casa noturna. Também é importante ressaltar que os frequentadores entrevistados foram pessoas aleatórias e desconhecidas, para que assim a análise pudesse ser realizada de modo apropriado. Em Caxias do Sul, é interessante destacar que as boates voltadas para o público LGBTQIAPN+ são basicamente apenas duas, além da analisada, temos a NOX versus, que foi inaugurada antes da Level e se localiza no bairro Villagio, foi a primeira casa apoiadora da causa LGBTQIAPN+ em Caxias do Sul, quebrando com um pouco dos grandes preconceitos que temos na região da serra gaúcha. Mas qual a real importância dessa casa noturna para a cidade? Sem dúvida alguma, a Level representa o principal espaço que vincula o público LGBTQIAPN+ trazendo um espaço seguro e acolhedor, muito pelo fato de ser administrada por um casal de mulheres lésbicas e por fazer parte do movimento como um todo, se diferenciou dos demais. Encontramos na Level alguns relatos sobre casos recentes de Transfobia, porém, é importante destacar e conhecer o trabalho da Ander, uma travesti que faz uma mediação interna durante as festas para que ocorra um acolhimento frente as pessoas transgênero na casa. Destaca-se também que de todas as pessoas entrevistadas, todas com unanimidade afirmaram se sentir bem no ambiente e frequentá-lo por sentirem uma segurança ao poder expressar a sua própria identidade sem sentir preconceitos. A Level traz elementos importantes para pensarmos, no contexto do acolhimento, um hétero é muito bem recebido lá e se sente tranquilo para curtir a festa, diferentemente de um integrante do movimento LGBTQIAPN+ frequentando uma festa dominada por pessoas heterossexuais, lá. Nesse sentido, podemos dizer que a Level representa ponto de encontro e de sociabilidade muito importante no centro de Caxias do Sul, em especial de cidadãos LGBQIAPN+ que nas noites de quintas, sextas, sábados e até as conhecidas “lages de domingo”, que ocorrem nos fins de tarde passam a adentrar o ambiente, aglomerando-se na pista, juntando-se com seus amigos e muitas vezes conhecendo pessoas novas e curtindo aquela música pop sem medo de ser julgado, cantando Madonna e até dançando, como relatou o “entrevistado B”: - Lá eu me sinto seguro para dançar, nem na minha formatura dancei tanto como danço na Level, frequento aqui desde abril de 2022 e não troco mais por nada, aqui eu realmente posso ser quem eu sou. Os ritmos estendem-se até a madrugada, muitas vezes até a manhã, enquanto o público vai cantando e dançando, os DJ’s embalam a noite com seus repertórios, viajando no tempo e trazendo músicas da atualidade também. Foto: Carlos Henz A interação do público com tudo faz casa se encher de alegria, as festas temáticas, o requebrar do corpo, os adesivos e toda o empenho da casa para fazer o público se sentir em casa e se dedicar para participar dos eventos, podemos destacar nesse quesito as premiações oferecidas para “o melhor look” ou até os jogos que acontecem no meio da festa, fazendo que nos sintamos sempre entre amigos. No local, cruzam pessoas de várias etnia e orientações sexuais que interagem em um ambiente pluricultural. Foto: Carlos Henz Perceptivelmente, há na Level Cult, um cuidado pelo convívio harmônico e um respeito pelas diferenças, lá o diferente é bonito e acima de tudo é respeitado: - “Quando acontece algo que não gostamos, por exemplo, comigo aconteceu de eu estar ficando com uma menina e dois caras ficarem olhando, claro, a casa não pode proibir eles de entrarem ou até de olharem, mas tenho certeza que se algo a mais acontecesse, eu poderia chegar, falar com o pessoal e eles fariam alguma coisa, afinal aqui é para todos se sentirem em casa.”, afirmava uma terceira frequentadora entrevistada. Por tudo isso acabo por julgar que a Level é um importante palco de manifestações culturais e de expressões pessoais e de gênero em Caxias do Sul, extremamente necessária para a expressão do povo e construção no âmbito social de todas as personalidades. REFERÊNCIAS: DA SILVEIRA, Lucas Matias; DE MATTOS MOTTA, Flavia. FESTAR E APRENDER. Revista Ambivalências, v. 9, n. 17, p. 152-178, 2021. DOS SANTOS, Leonel Cardoso. Gradientes hierárquicos na balada: etnografia, corpos e sociabilidades nas boates GLS de Belo Horizonte. 2012.
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