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Unidade 3 Auditoria Hospitalar para certificação e acreditação Auditoria Hospitalar Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria HERMÍNIO OLIVEIRA MEDEIROS AUTORIA Hermínio Oliveira Medeiros Olá! Sou graduado em Farmácia pela Universidade Federal de Ouro Preto (2005) e em Sociologia pela Universidade Paulista (2018). Sou Mestre em Administração em Saúde pela Universidade del Mar (2014), Pós- graduado com MBA em Gestão de Negócios pelo Centro Universitário de Viçosa (2012) e especializado em Gestão em Logística Hospitalar pela FINOM (2009), em Qualidade e Acreditação Hospitalar pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (2014) e em Qualidade em Saúde e Segurança do Paciente pela ENSP/FIOCRUZ (2017). Atuo na docência de cursos superiores da Saúde e na Gestão de Saúde Pública e Hospitalar. Por isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Auditor hospitalar ........................................................................................10 O perfil do auditor ........................................................................................................................... 10 Diretrizes profissionais .................................................................................................................. 11 Ética em Auditoria ........................................................................................................................... 13 Importância da experiência profissional ....................................................................... 15 Planejamento da auditoria .....................................................................17 O planejamento da auditoria .................................................................................................. 17 Solicitação da auditoria ............................................................................................................... 21 A fase analítica ..................................................................................................................................23 A fase da coleta de dados ........................................................................................................24 Técnicas de auditoria ................................................................................ 26 Requisição de documentos .....................................................................................................29 Fontes de dados .............................................................................................................................. 31 Auditoria por amostragem ......................................................................................................34 Outras técnicas de auditoria ...................................................................................................35 O relatório da auditoria ............................................................................37 Estruturação de um relatório de auditoria ................................................................... 40 Constatações e evidências da auditoria ........................................................................ 41 A linguagem do relatório de auditoria .............................................................................43 7 UNIDADE 03 Auditoria Hospitalar 8 INTRODUÇÃO Prezado aluno, nesta unidade, veremos a importância das auditorias nas organizações de saúde que buscam a melhoria de seus processos de forma a assegurar, cada vez mais, segurança e qualidade na sua prestação de serviços. Estudaremos os programas de qualidade que culminam na certificação ou acreditação hospitalar, almejados selos de qualidade nessas instituições. Também veremos como é fundamental, à gestão dos processos, a avaliação dos resultados por meio de indicadores padronizados. Vamos lá! Bons estudos! Auditoria Hospitalar 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Definir qualidade e seus atributos na ambiência hospitalar. 2. Diferenciar certificação e acreditação hospitalar, entendendo seus conceitos e aplicabilidades. 3. Identificar os diferentes programas de qualidade usados nos hospitais, bem como suas características. 4. Criar instrumentais para avaliação de performance em hospitais. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Auditoria Hospitalar 10 Qualidade hospitalar e a auditoria OBJETIVO: Ao concluirmos esta unidade, você será capaz compreender a auditoria de qualidade nos serviços de saúde, apresentando o subsídio teórico e fomentando a discussão sobre essa temática, vivenciando o cotidiano dos hospitais em busca da melhoria contínua da qualidade na prestação de tão importantes serviços à humanidade. Vamos lá! A manutenção da prestação de serviços hospitalares representa um grande desafio diante do cenário atual do setor e dos tabus que trazem consigo: enquanto os serviços hospitalares públicos são vistos com desconfiança, são considerados inseguros, de baixa qualidade e resolutividade; os privados, por sua vez, têm grandes restrições de acesso e são tidos como empresas de saúde antiéticas, na busca pelo lucro a qualquer custo, deixando de lado a humanização. Nesse sentido, como essas complexas organizações podem trabalhar suas falhas e melhorar a imagem junto aos usuários? O processo de auditoria pode auxiliar os hospitais a identificarem os seus desvios de qualidade proporcionando uma possibilidade de melhoria? Veremos como a auditoria se aplica aos ambientes hospitalares, onde, apesar da extensa legislação que regulamenta o setor, ainda se busca a adesão às intrincadas normas voluntárias da qualidade para certificações e acreditação. Porém, existem mesmo benefícios? Ou seja, um hospital certificado ou acreditado apresenta mesmo alguma vantagem administrativa e/ou assistencial em relação aos demais? Conceitos e atributos da qualidade No mundo contemporâneo, a sobrevivência no mercado competitivo é o grande desafio enfrentado por organizações de qualquer Auditoria Hospitalar 11 natureza, inclusive no setor saúde. As organizações prestadoras de serviços de saúde, principalmente as instituições hospitalares, devido à sua complexidade organizacional, que abarca questões assistenciais e administrativas estão, a cada dia, profissionalizando a gestão na busca da eficácia e eficiência administrativas. IMPORTANTE:A necessidade de desenvolver maior competitividade, atrair e fidelizar clientes tem feito com que essas organizações atualizem suas práticas gerenciais, implantando modernas ferramentas e instrumentos com base nas normas e metodologias contidas nas diretrizes que visam um sistema orientado para a qualidade. No que se refere às questões de qualidade, observa-se que este quesito passou a ser reconhecido como pressuposto essencial para definir o nível de compromisso do serviço prestado pela empresa ou pelo funcionário. Nesse sentido, Bonato (2011, p. 319) salienta que “o quesito ‘qualidade’ passou a circular nos meios de comunicação, levando as empresas a transformarem-se, com vistas ao futuro; pela necessidade de sustentabilidade”. Dessa maneira, torna-se visível que o sistema de qualidade no processo de desenvolvimento de um órgão ou serviço depende de algumas ferramentas específicas, como é o caso do planejamento, monitoramento e revisão dos processos. A questão reside na necessidade de se manter a qualidade sistemática da prestação dos serviços e funcionamento dos órgãos sendo, portanto, necessário a aplicação desses mecanismos. Segundo Bonato (2011): O planejamento, a revisão de processos e o acompanhamento de performance, assim como melhorias constantes, passaram a ser vitais para o posicionamento das organizações no mercado. Sistemas de Qualidade foram adotados na busca de competitividade, de eficiência e eficácia dos processos e dos altos índices de desempenho com resultados de sucesso (BONATO, 2011, p. 319). Auditoria Hospitalar 12 Sabendo da importância da qualidade para o processo de construção de um serviço adequado, independente do órgão, destaca-se que a implementação de fatores que favoreçam a construção da qualidade é um grande desafio para as organizações, em virtude justamente das mudanças que ocorrem no sistema produtivo, pois de acordo com o apresentado por Bonato (2011): O esforço de construção e organização de um sistema produtivo que contemple relações mais claras e definidas entre os diversos atores sociais constitui um desafio dos pensadores da administração, da psicologia, entre outros, principalmente quando abordado o tema saúde, seja qual for o cenário em destaque: clínica, consultório, hospital, unidade básica, laboratório (BONATO, 2011, p. 320). Entretanto, ao se deparar com os desafios inerentes à condição na construção do sistema de qualidade, não se pode deixar de pensar que o uso das ferramentas disponibilizadas no mercado é capaz de introduzir um processo de diferenciação no mercado, pois o ambiente de trabalho pode se destacar pelo favorecimento da competitividade e, consequentemente, da busca pelo conhecimento e seu consequente aperfeiçoamento. Bonato (2011) ressalta: Frente ao mundo repleto de transformações tecnológicas, econômicas e sociais, encontra-se no conhecimento e na informação a vantagem competitiva para o indivíduo e para as organizações. Criar um ambiente de trabalho estimulador para compartilhar conhecimento, em que as relações pessoais se manifestam, gerando novos conhecimentos, o desenvolvimento de novas competências, coloca-se como desafio para a organização focada na gestão das pessoas e preocupada com a qualidade (BONATO, 2011, p. 320). E, sabendo da importância da qualidade no processo de desenvolvimento de atividades, convém destacar os atributos da qualidade que, de acordo com BRASIL (2013 online) são ações essenciais para o estabelecimento da segurança do paciente. Nesse sentido, destacam-se os seguintes atributos: • Segurança: ação que se refere a tentativa de afastar a ocorrência de danos físicos nos pacientes. o objetivo através desta medida é, Auditoria Hospitalar 13 tão somente, auxiliar os cuidados com o paciente que se encontra internado no sistema de saúde. • Efetividade e eficiência: o cuidado para com o paciente é fundamentado em técnicas adequadas e o objetivo é se utilizar de técnicas e produtos de forma a evitar danos à saúde ou gastos desnecessários. • Cuidado centrado no paciente: esta ação refere-se ao respeito que o profissional deve ter com o paciente que se encontra sob os seus cuidados e isso inclui aceitar as limitações apresentadas pela cultura ou religião. • Oportunidade: esta ação refere-se a importância de se reduzir o tempo de espera que o paciente pode receber, pois compreende- se que a demora no tratamento pode prejudicar demasiadamente o diagnóstico e, consequentemente, tratamento do paciente. • Equidade: é uma ação importante no processo de tratativa com os pacientes, pois as pessoas que buscarem auxílio no serviço hospitalar, devem ser tratadas igualmente. ATENÇÃO SEGURANÇA DO PACIENTE O Programa Nacional de Segurança do Paciente propõe um conjunto de medidas para prevenir e reduzir a ocorrência de incidentes nos serviços de saúde – eventos ou circunstâncias que poderiam resultar ou que resultaram em dano desnecessário para o paciente. Por exemplo, queda de paciente da cama, aplicação errada de medicamento, falhas durante a cirurgia, etc. Esses problemas podem causar danos à saúde do paciente e devem ser comunicados à Anvisa. A Agência é o órgão do Ministério da Saúde responsável pelo recebimento das informações. Com isso, a Anvisa poderá propor ações visando a melhoria da qualidade dos estabelecimentos, de acordo com a Resolução RDC nº 36, de 25 de julho de 2013. Este espaço é um dos canais pelos quais a Anvisa pode receber essas informações sobre qualquer situação que tenha Auditoria Hospitalar http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0036_25_07_2013.html 14 prejudicado a saúde de alguém durante a internação/atendimento. Profissionais de saúde, pacientes, familiares e acompanhantes: sua contribuição é muito importante para melhorar a assistência à saúde de todos os usuários dos estabelecimentos de saúde do Brasil. Faça a sua notificação para a Anvisa. VOCÊ SABIA? Resolução RDC nº 36, de 25 de julho de 2013 – Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos III e IV, do art. 15 da Lei n.º 9.782, de 26 de janeiro de 1999, o inciso II, e §§ 1° e 3° do art. 54 do Regimento Interno aprovado nos termos do Anexo I da Portaria nº 354 da ANVISA, de 11 de agosto de 2006, republicada no DOU de 21 de agosto de 2006, e suas atualizações, tendo em vista o disposto nos incisos III, do art. 2º, III e IV, do art. 7º da Lei n.º 9.782, de 1999, e o Programa de Melhoria do Processo de Regulamentação da Agência, instituído por meio da Portaria nº 422, de 16 de abril de 2008, em reunião realizada em 23 de julho de 2013, adota a seguinte Resolução da Diretoria Colegiada e eu, Diretor-Presidente , determino a sua publicação (BRASIL, 2013). A busca pela qualidade A busca pela qualidade nos serviços de saúde é uma preocupação antiga, representando atualmente uma responsabilidade ética e social (LABBADIA et al, 2004). No quesito da prestação de serviços hospitalares, as organizações buscam atender os requisitos do cliente para se manterem ativas no atual cenário hospitalar brasileiro, no qual, durante muitos anos, a gestão de saúde não foi entendida e executada nos padrões da administração moderna, em contraposição à evolução do mercado da saúde. Auditoria Hospitalar 15 Figura 1 - A qualidade foco na saúde Fonte: Pixabay. José Serra (2002), que no Governo FHC foi Ministro da Saúde, em discurso pela Conferência do Banco Interamericano de Desenvolvimento, ressaltou que a saúde no Brasil não pode ser sinônimo de desperdício, precariedade administrativa, falta de metas e baixa qualidade dos serviços, demonstrando a preocupação com o gerenciamento profissionalizado e especializado do setor. NOTA: Nesse sentido,os sistemas de gestão da qualidade surgem como um instrumento em torno do qual as instituições podem se reestruturar, a fim de estarem alinhadas às reais necessidades de saúde do país (Cornetta; FELICE, 1994). Sistema de gestão da qualidade hospitalar Os sistemas de gestão são estabelecidos e implementados em uma empresa para facilitar o controle e consistência dos negócios, parametrizando normas técnicas a serem seguidas e gerindo sua Auditoria Hospitalar 16 implantação de acordo com os princípios metodológicos padronizados, tendo o ciclo do PDCA (planejar, executar, avaliar e agir) como referência. IMPORTANTE: Tal implementação proporciona uma visão integrada da tríade “estrutura-processo-resultado”, que irá servir de embasamento para a determinação dos principais indicadores utilizados na avaliação da qualidade de serviços de saúde. Figura 2 - O ciclo do PDCA Fonte: Freepik. A NBR ISO 9000, por exemplo, ressalta que a gestão da qualidade é um conjunto de atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização no que diz respeito à qualidade (ABNT, 2015). No decorrer dos últimos anos, observa-se a busca pela qualidade por meio da criação de sistemas de gestão da qualidade e implantação de normas certificáveis, como a preconizada pela Organização Nacional de Acreditação (ONA) e a normatização ISO, marcando uma nova fase dos hospitais-empresa no país. Auditoria Hospitalar 17 É fato que, devido à caracterização da prestação de serviços ofertados pelas organizações prestadoras de serviços de saúde, a busca pela qualidade e a implantação de sistemas de gestão da qualidade torna-se um desafio maior do que aqueles enfrentados por empresas de outros ramos de atividade. Por esse motivo, a qualidade no setor saúde ainda representa uma grande preocupação por relacionar questões humanitárias, éticas e o mercado da saúde, uma vez que aborda os aspectos administrativos e assistenciais das organizações de saúde. Como é possível compreender, a implementação do processo de qualidade no setor hospitalar é de extrema importância e, por isso, faz-se necessário que, para atingir ao especificado no âmbito do Programa Nacional de Segurança do paciente, estabelecer a aplicação de determinadas etapas que são essenciais para o cumprimento das medidas de qualidade. A primeira das etapas é o planejamento, em que se observa a qualidade nas atividades desenvolvidas no âmbito do sistema hospitalar inclui uma gama de elementos importantes para a sua execução. Portanto, as atividades desenvolvidas no ambiente hospitalar devem ser devidamente planejadas. E, por isso, o planejamento deve ser realizado a partir de uma proposta que favoreça a construção de processos coerentes através do uso dos recursos adequados, com o objetivo apenas de favorecer a eficiência do serviço de saúde. Ainda na fase de planejamento, faz-se essencial especificar qual o tipo de modelo de gerenciamento a ser utilizado nesta proposta, visto que a depender do modelo é que será possível estruturar o tipo de ações que deverão ser aplicadas no setor. A depender das necessidades, um modelo diferenciado pode ser aplicado, visto que existem modelos que focam mais no setor operacional e outros apenas nos setores que merecem melhoria. Nesse sentido, Mello (2021) destaca que: Há ferramentas de gestão que podem facilitar o processo de gerenciamento da qualidade na instituição de saúde. A proposta é que elas simplifiquem a organização das ideias, Auditoria Hospitalar 18 facilitando a sistematização das alternativas pensadas para o fluxo de trabalho e a melhoria da eficiência. Os brainstormings, o ciclo PDCA, as planilhas para verificação e coleta de dados, o diagrama de Pareto e a ferramenta 5S são alguns exemplos. Outra solução que também auxilia na articulação de procedimentos e integração de práticas são os softwares de gestão, estruturados em módulos que se intercomunicam (MELLO, 2021, on-line). Nesse aspecto de planejamento, destaca-se a importância de se preocupar com a sustentabilidade, ou seja, aplicar medidas que corroborem com a proteção ambiental, ou seja, que se evite um planejamento capaz de prejudicar diretamente o meio ambiente. Entretanto, para que isso seja possível, é necessário que os órgãos relacionados com o processo de planejamento para obtenção da qualidade nos serviços de saúde implementem sua estrutura com a máxima qualidade, ou seja, que os equipamentos estejam de acordo com as medidas não apenas de qualidade dos serviços, mas essencialmente em consonância com a proteção ambiental. E, por fim, no sentido de se conseguir atingir os objetivos necessários para atingir a qualidade deseja, indica-se como etapa essencial a análise sistemática dos resultados provenientes das ações de gestão de qualidade de saúde, conforme destaca Mello (2021): É fundamental fazer um bom monitoramento dos resultados das ações de gestão de qualidade em saúde. Utilize métricas e indicadores para avaliar os efeitos das medidas realizadas e mensurar variáveis. Isso auxilia no ganho de controle dos processos e ajuda na estruturação de feedbacks para o aperfeiçoamento contínuo. A medida também oferece parâmetros para a orientação das ações e para análises e comparações (MELLO, 2021, on-line). A gestão de qualidade na saúde é extremamente relevante para o hospital. Ela cria condições para a máxima efetividade na prestação de serviços ao paciente. Neste post, você pôde conferir o quanto esse gerenciamento é essencial para o estabelecimento. Além disso, pôde compreender a importância de equipamentos médicos de alta performance. Encontrar o fornecedor ideal de aparelhos hospitalares Auditoria Hospitalar https://blog.medicalway.com.br/julho-19-software-medico-descubra-6-beneficios-para-sua-clinica/ 19 é primordial para garantir a sustentabilidade e eficiência da instituição (MELLO, 2021). A qualidade em serviços de saúde Para Silva e Brandalize (2006), a qualidade do cuidado em saúde deve ser foco constante e ocupar espaço na agenda das organizações e dos governantes na elaboração das políticas nacionais de saúde. Com relação ao setor hospitalar, destaca-se a importância da humanização do atendimento, problema número um apontado por pesquisas realizadas entre a população atendida nos hospitais. Porém, tal problema não se resume apenas ao aspecto assistencial da organização, ligada somente, como se poderia imaginar, ao comportamento individual dos médicos, mas se relaciona também à organização do atendimento, com instalações básicas e com o desempenho de indivíduos e o conjunto de recepcionistas, porteiros, vigilantes, atendentes, enfermeiras, auxiliares e técnicos de enfermagem, entre outros. Desse modo, caracteriza-se a importância na formação e capacitação de recursos humanos, unindo, a esse grupo, especialistas em políticas de saúde e administradores da área (LUONGO, 2011). VOCÊ SABIA? Observando-se a lista das instituições certificadas pela ONA em 2012, pode-se notar que a maioria dos hospitais que implementaram sistemas de qualidade a ponto de alcançarem a certificação (Acreditação Hospitalar) são da rede particular e estão entre os maiores e mais bem equipados hospitais do país (ONA, 2012). Para os hospitais públicos e filantrópicos, essa realidade ainda é bem distante, sendo que somente as instituições de referência estadual ou macrorregional têm algum tipo de sistema de qualidade implantado. Auditoria Hospitalar 20 Em outros, observa-se o interesse na busca da qualidade por meio da padronização e organização dos processos e documentos. Busca- se, por exemplo, a implantação do modelo japonese 5S (Seiri: Senso de Utilização; Seiton: Senso de Ordenação; Seisou: Senso de Limpeza; Seiketsu: Senso de Saúde; Shitsuke: Senso de Autodisciplina). Essa metodologia de trabalho é uma ferramenta importante, cujo uso pode precederuma avaliação para certificação ISO e Acreditação. VOCÊ SABIA? O 5S é um dos sistemas organizadores surgidos no Japão após a Segunda Guerra Mundial para mobilizar e transformar pessoas e organizações em prol da superação da crise instalada, melhorando as condições de trabalho e gerando um ambiente de qualidade. Podemos também citar filosofias semelhantes como o just-in-time (no tempo certo), kaizen (melhoria contínua), controle de qualidade total, jidoka (autodetecção) e manutenção produtiva total (VANTI, 1999). Outra situação que deve ser mencionada é a crescente contratação de empresas de consultoria de qualidade por essas organizações na busca da implantação de um sistema integrado de qualidade hospitalar, treinamento dos colaboradores e formação de auditores internos. Também são realizadas auditorias externas de qualidade para avaliações periódicas, as quais visam o controle dos processos internos e culminam em uma certificação de qualidade. RESUMINDO: Neste capítulo, definimos a qualidade e seus atributos na ambiência hospitalar. Auditoria Hospitalar 21 Certificação e acreditação Nos últimos anos, a busca pela qualidade ganhou força com a criação de sistemas de gestão da qualidade e implantação de normas certificáveis como a preconizada pela Organização Nacional de Acreditação (ONA). IMPORTANTE: Uma certificação de qualidade demonstra que a organização de saúde adota e respeita uma metodologia de avaliação dos recursos institucionais, que tem por meta garantir a qualidade da assistência. Desse modo, tal instituição atende a padrões definidos com antecedência e que são amplamente aceitos, os quais buscam a eficácia, eficiência e segurança por meio da análise e minimização de riscos. A gestão do risco em saúde Dentro do contexto de qualidade a prevenção, segurança e orientação para resultados são fundamentos básicos. Na gestão de risco, as intervenções e o gerenciamento relativo aos eventos adversos aos pacientes são de extrema importância. EXEMPLO: Esses eventos envolvem, por exemplo, infecções hospitalares, quedas, erros de medicação e procedimentos. Esses são temas recorrentes e ainda são grandes fatores que geram problemas no ambiente institucional (BRASIL, 1998; BRASIL, 2013). Logo, toda a equipe profissional está relacionada à prevenção de eventos adversos que exponham o paciente ao risco assistencial. Porém, o gerenciamento de risco deve também se ater aos processos gerenciais, uma vez que deles demandam as atividades administrativas fundamentais à organização e manutenção dos serviços prestados aos usuários. Auditoria Hospitalar 22 Figura 3 - A qualidade como resultado geral da organização Fonte: Pixabay. Desse modo, o gerenciamento de risco envolve os diversos setores das instituições hospitalares, demandando a formação de comissões específicas às atividades, auditorias internas, levantamento e análise crítica de dados. Tudo isso deve, em termos gerenciais, culminar no desenvolvimento de indicadores, de modo a criar parâmetros para a tomada de decisão. Esse será o objetivo fundamental da implantação de um sistema de gestão da qualidade. Sistemas de gestão da qualidade certificáveis De acordo com a NBR ISO 9001:2015 (ABNT, 2015), um sistema de gestão da qualidade é uma ferramenta administrativa implantada em uma instituição com o objetivo de informar, conscientizar e educar os colaboradores da instituição das normas de qualidade que a empresa busca aderir, orientando a execução de todos os seus processos organizacionais. O sistema é liderado pelo representante da direção, um colaborador do setor de planejamento e qualidade da empresa, com perfil para executar a busca pela qualidade total e pelas certificações. Auditoria Hospitalar 23 Figura 4 - A norma ISO 9000 Fonte: Freepik. O conceito ampliado de qualidade, ou qualidade total, subentende que todas as etapas até o produto ou serviço final entregue ao cliente estão em conformidade com as normas preconizadas. Isso estende-se, inclusive, a serviços terceirizados, distribuidores e fornecedores, que, em algum momento, participam do processo de produção. A certificação vem como um resultado do esforço de todos os colaboradores da empresa em aderir a tais padrões de qualidade, que visam à satisfação completa do cliente. Diante disso, abordaremos as certificações de qualidade mais almejadas no momento que atravessa o setor hospitalar no Brasil: a ISO 9001 e a Acreditação Hospitalar (ONA). Auditoria Hospitalar 24 VOCÊ SABIA? A Organização Internacional de Normalização (ISO) tem sua sede em Genebra, na Suíça, onde foi criada em 1946, sendo atualmente associada a organismos de normalização em mais de 160 países no mundo. Seus objetivos são: criar normas que facilitem o comércio pela garantia de padronização e promover boas práticas de gestão. Suas normas mais conhecidas são a ISO 9000, conhecida como gestão da qualidade total; e a ISO 14000, gestão da qualidade ambiental (INMETRO, 2018). Todas as certificações, de modo geral, necessitam que ferramentas da gestão da qualidade sejam implantadas para organizar e orientar a realização dos processos internos, sejam administrativos ou assistenciais. Ferramentas da qualidade Para a efetiva implantação da acreditação em uma organização prestadora de serviços de saúde, algumas ferramentas são utilizadas no intuito de se avaliar o processo em foco. Figura 5 - Melhoria contínua Fonte: Pixabay. Auditoria Hospitalar 25 A principal ferramenta de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ), uma vez que todas as atividades e processos precisam de evidências, é o registro. NOTA: Esse registro é um documento gerado com a função de comprovar a realização e o desenvolvimento de uma atividade. Desse modo, informa sobre o respeito às normas e às leis e apresenta a sua conformidade aos padrões preconizados (VALLS, 2006). As auditorias, como importantes ferramentas de gestão, desempenham também contribuição relevante na otimização dos recursos físicos e materiais disponíveis nos serviços de saúde. Por meio delas, é possível verificar, analisar dados, identificar os pontos de melhoria e propor intervenções que culminarão na elaboração de um plano de ação que subsidiará a tomada de decisão do gestor (PINTO; MELO, 2010). Outra ferramenta é o mapeamento de processos, que auxilia na melhoria dos processos existentes ou na implantação de uma nova atividade, por permitir visualização ampla e melhor entendimento de seu funcionamento atual, focando sempre na correção de falhas e otimização de recursos (VILLELA, 2000). O Mapa de Processo é o documento que identificará, em cada setor, quais são os seus principais processos, ou quais são os mais críticos, relacionando as atividades diárias às entradas e ao produto final. O mapa é o ponto de partida para se conhecer toda a rotina do setor e suas interações com outros setores (COUTO; PEDROSA, 2009). Complementar ao Mapa de Processos, a Cadeia Cliente/Fornecedor tem por objetivo garantir que as atividades sejam desenvolvidas em conformidade com os requisitos estabelecidos, bem como assegurar a qualidade do produto a ser disponibilizado para o cliente. Esse documento demonstra o acordo interno firmado entre o setor responsável pela elaboração do produto e o cliente, que o receberá (COUTO; PEDROSA, 2009). Auditoria Hospitalar 26 A lista de verificação denominada 5W2H permite a identificação dos componentes estratégicos necessários à elaboração de um projeto. Utilizando essa ferramenta, podemos desenvolver o Plano de Ação, a partir das respostas às seguintes perguntas básicas para qualquer projeto: a. What? – O que será feito? Qual a proposta da melhoria? b. Why? – Por que será feito? Qual a justificativa ou motivos da ação? c. Where? – Onde será feito? Que locais serão afetados pelas ações? d. When? – Quando será feito? Tempos, prazos e periodicidadedas ações. e. Who? – Quem fará? Pessoa ou departamento responsável. f. How? – Como será feito? Método, descrição de como atingir os objetivos. g. – How much? Quanto custará? Pode-se entender a ferramenta 5W2H como uma espécie de Plano de Ação para um problema específico, um mapeamento das atividades de resolução do problema. Após a identificação dos pontos de intervenção, define-se o plano de ação, o produto de um planejamento com o objetivo de orientar as diversas ações a serem implementadas (BITTAR; QUINTO NETO, 2004; COUTO; PEDROSA, 2009). O plano de ação define o que deverá ser feito, indicando quem é o órgão ou pessoa responsável por essa ação e por que a tarefa deve ser executada. Em seguida, define-se onde serão realizadas as atividades, as datas de início e de fim (quando) para o alcance dos resultados e a maneira como devem ser executadas. Pode-se ainda identificar o investimento necessário à execução da tarefa (quanto custa). RESUMINDO: Neste capítulo, aprendemos as diferenças entre certificação e acreditação hospitalar. Também, vimos como se dá a gestão de risco em saúde. Ainda, compreendemos como funcionam os sistemas de gestão de qualidade certificáveis, bem como as ferramentas de qualidade. Auditoria Hospitalar 27 Programas de qualidade hospitalar Os programas de qualidade hospitalar são sistemas orientados por normas de adesão voluntária por parte da organização, no intuito de controlar a execução dos processos internos, sejam assistenciais ou administrativos. Com isso, busca-se, de maneira geral, e por todos os seus setores, atender aos requisitos dos clientes com relação à saúde, segurança, humanização, entre outras necessidades advindas do cuidado e da prestação dos serviços. Historicamente, os hospitais, pela complexidade da organização e pela deficiência de recursos, em um setor marcado pela carência e pelo déficit, buscam se caracterizar como empresas e, portanto, implantar uma gestão profissionalizada, que lhes permita obter maior eficácia e eficiência administrativa e favoreçam a sua permanência no cenário da saúde. Antecedentes da qualidade hospitalar De acordo com levantamentos históricos, Trindade e Lage (2014) relatam que o início da sistematização e dos primeiros modelos voltados à gestão da qualidade da assistência médica e hospitalar é atribuído ao cirurgião norte americano Ernest Amory Codman. VOCÊ SABIA? Ernest Amory Codman é conhecido como o precursor do pensamento e dos conceitos de qualidade em serviços médico-hospitalares. Em 1910, o médico fez trabalhos pioneiros sobre a relevância da garantia da qualidade nos resultados das intervenções e procedimentos médicos que culminaram, em 1913, com a formação do Colégio Americano de Cirurgiões (CAC), que estabeleceu o primeiro Programa de Padronização Hospitalar (PPH) (FELDMAN, 2004). Já a preocupação com a avaliação dessa qualidade, de acordo com Feldman (2004), iniciou-se no século passado quando foi formado o Auditoria Hospitalar 28 Colégio Americano de Cirurgiões que estabeleceu, em meados de 1924, o Programa de Padronização Hospitalar. O programa em questão abordava três aspectos importantes a serem avaliados em nível hospitalar e que determinariam padrões de qualidade assistencial: a organização e o exercício profissional do corpo clínico (conceito criado por tal programa); criação do prontuário médico, contendo todos os dados necessários e relativos ao paciente e sua passagem pelo hospital; e a preconização da existência nos hospitais do Serviço de Diagnóstico e Terapia, que na época se restringia a exames de raios-X e laboratório de análises clínicas. IMPORTANTE: As primeiras preocupações com a qualidade hospitalar restringiam-se à qualidade assistencial, e sua fusão com a qualidade administrativa deu-se na década de 1970, com a fundação do Accreditation Manual for Hospital, criado pela Comissão Conjunta de Acreditação de Hospitais, surgida como evolução da extinta PPH. Atualmente, tais instituições, buscando se manterem competitivas no cenário mercadológico, almejam as certificações de qualidade, que demonstram seu interesse e competência em acompanhar a evolução do setor e em seguir as normas internacionais, de modo a padronizar seus processos, estrutura e resultados de acordo com tais parâmetros. Abordaremos adiante as certificações mais almejadas pela maioria dos hospitais brasileiros, consideradas referências nacionais em qualidade médico-hospitalar: a ISO 9001 e Acreditação Hospitalar (ONA). Norma ISO 9000 A partir de 1987, após a criação das normas da série 9000 pela International Organization for Standardization (ISO), a Europa passou a utilizá-las e, posteriormente, os demais países também, uma vez que a ISO 9000 tornou-se referência de excelência em Sistemas de Qualidade. Auditoria Hospitalar 29 Independente da área de atuação, as empresas estão inseridas em contextos bem complexos, pois vai exigir uma estrutura de funcionamento bem adequada, afastando, portanto, qualquer possibilidade de perda de mercado. Por isso, as empresas se adequam às mudanças sociais no sentido de suprir as demandas provenientes da sociedade e se manter em plena concorrência de mercado. Maekawa (2013) salienta que: As empresas atuam em um ambiente complexo, com intensas mudanças tecnológicas e constantes alterações nos padrões de exigências dos consumidores. Este cenário conturbado faz com que elas tenham que se adaptar constantemente para não perderem espaço no mercado (MAEKAWA, 2013, p. 764). E, por isso, seguir as diretrizes estabelecidas pelo mercado, através da implantação de instrumentos tecnológicos, acaba por favorecer vantagens competitivas para a empresa inserida no processo de mercado. Em face disso, Maekawa (2013, p. 764), ressalta que “se faz necessário desenvolver e implantar instrumentos tecnológicos e gerenciais que gerem consistentes vantagens competitivas para sua distinção positiva”. É justamente neste processo de favorecimento da permanência da empresa no mercado através de programas de implementação da qualidade, que se identifica os sistemas de gestão de qualidade, definidos como (SGQ), conforme destaca Maekawa (2013): Os sistemas de gestão da qualidade (SGQ) são uma interessante alternativa para esta geração de vantagem, pois eles desenvolvem um padrão de melhoria a partir da motivação do quadro de colaboradores, do controle de processos, da identificação de requisitos e atendimento das necessidades dos clientes (MAEKAWA, 2013, p. 765). A partir de 1987, após a criação das normas da série 9000 pela International Organization for Standardization (ISO), a Europa passou a utilizá-las e, posteriormente, os demais países também, uma vez que a ISO 9000 tornou-se referência de excelência em Sistemas de Qualidade. Segundo Machado et al. (2017): A norma ISO 9000 é conhecida como uma norma genérica dentro do Sistema de Gestão, pois possibilita sua aplicação em qualquer organização, seja de grande ou pequeno Auditoria Hospitalar 30 porte, independentemente do tipo de produto, ramo de atividade e meio de negócio (MACHADO et al., 2017, p. 40). Dessa maneira, é perceptível compreender que a norma ISO 9000 introduz o processo de sistema de gestão de qualidade e, que nela estão inseridos, não apenas princípios da GQ (gestão de qualidade), mas também os conceitos próprios do sistema. Machado et al. (2017) salientam que: É uma norma introdutória ao Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) trazido pela série ISO 9000. Nela estão contidos os fundamentos do SGQ, tal como os princípios da gestão da qualidade, os conceitos apresentados nas demais normas e as terminologias comuns (MACHADO et al., 2017, p. 40). A partir dos aspectos apresentados na norma geral ISO 9000, destaca-se o surgimento de outros programas de gestão de qualidade, mas sempre com fundamento específico na proposta centraldo evidenciado na ISSO 9000. Em tese, trata-se de um guia para propiciar o melhor conhecimento do que é um SGQ, função, premissas e restrições, e demais informações para possibilitar a melhor compreensão das normas ISO 9001, 9004 etc. (MACHADO et al, 2017 p.41) O certificado torna-se cada vez mais necessário para atender às exigências internacionais de qualidade. Reflexos disso são sentidos diretamente nos produtos e serviços, na competitividade e na produtividade. As normas da NBR ISO 9000 não são normas para produtos e não incluem requisitos técnicos. Elas apenas descrevem o que deve ser feito, mas não o método a ser utilizado, pois a aplicabilidade é muito abrangente, ou seja, para empresas de diferentes nacionalidades, portes, prestadoras de serviços ou fabricantes de produtos, bem como com ou sem fins lucrativos (SARTONELLI, 2003). Existem diversas críticas sobre a implantação da mais famosa das normas da série ISO 9000 - a ISO 9001, em organizações hospitalares. Contudo, devido à complexidade e características ímpares, esse processo da busca da qualidade não é diferente nessas instituições. Auditoria Hospitalar 31 A implantação da norma é adotada com o objetivo de melhorar a integridade da organização por meio da adoção de uma abordagem de processo para o desenvolvimento, implementação e melhoria da eficácia do sistema de gestão da qualidade, com foco em atender e satisfazer requisitos implícitos e explícitos do cliente (ABNT, 2015). SAIBA MAIS: Caso queira se aprofundar no assunto, o livro Gestão da Qualidade (CARVALHO, 2012) aborda os modelos normativos e certificações de qualidade, bem como abordagens do Programa Seis Sigma, um conjunto de práticas desenvolvidas para maximizar o desempenho dos processos organizacionais. A norma NBR ISO 9000 define os requisitos voltados à documentação de procedimentos de registro de atividades e controle dos processos por meio de auditorias internas periódicas. Ela está fundamentada nos seguintes princípios (MAEKAWA; OLIVEIRA, 2013): a. Organização focada no cliente. b. Liderança. c. Envolvimento das pessoas. d. Abordagem de processo. e. Abordagem sistêmica para a gestão. f. Melhoria contínua (kaizen). g. Fatos para a tomada de decisões. h. Relação mutuamente benéfica com os fornecedores. Outro ponto refere-se à necessidade de estabelecimento e implantação de indicadores ou outras formas de medição, capazes de demonstrar em que grau os serviços cumprem os objetivos planejados e se estão, de fato, atendendo às expectativas dos clientes (VALLS, 2006). Auditoria Hospitalar 32 Conforme Maekawa e Oliveira (2013), as dificuldades identificadas para a implantação de um sistema da qualidade ISO 9001 são vários, destacando-se a carência de recursos humanos capacitados para a implantação e a falta de informações e clareza na comunicação aos colaboradores sobre a metodologia e as vantagens da norma para a organização. Figura 6 - A qualidade como meta Fonte: Freepik. A implementação das normas de qualidade em organizações prestadoras de serviços de saúde é uma tendência atual e demonstrou- se relevante na melhoria da assistência prestada aos pacientes e, por conseguinte, aumentou a satisfação e a confiança relacionadas aos serviços. Nesse contexto, temos uma importante norma de qualidade certificável, cada vez mais trabalhada pelos hospitais no Brasil: a acreditação ONA. Conforme se apresenta, destaca-se que as normas apresentadas na ISO 9000 podem se aplicar a vários segmentos, ou seja, podem estar relacionados ao sistema de vestuário, serviços, alimentos etc., conforme destacam Machado et al. (2017): As normas ISO 9000 se aplicam a diferentes segmentos, dentre produtos, processos, insumos e serviços, e estão Auditoria Hospitalar 33 em constante revisões. A entidade brasileira responsável pela execução destas revisões é a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (MACHADO et al., 2017, p. 41). As normas que compõem o sistema ISO 9000 são as seguintes: • ISO 9001: referente a um sistema de gestão que compõe diretrizes especificas que certificam as empresas que conseguem implementar, manter e controlar processos recursos e, ainda, pessoas. O objetivo central do ISSO 9001 é trazer uma maior qualidade para a prestação de serviços da empresa. Segundo Machado et al. (2017): Sua função é nortear as ações da empresa visando a obtenção da Certificação ISO 9001, que corrobora os esforços da organização para implementar, manter e controlar processos, recursos e pessoas, visando atender às demandas dos clientes com mais qualidade. Essa norma é a mais conhecida, pois é com ela que as empresas mais se preocupam. É atendendo as necessidades dos clientes que a empresa ganha competitividade, rentabilidade e destaque no mercado, por isso a ISO 9001 é tão conhecida (MACHADO et al., 2017, p. 41). No que se refere a compreensão do funcionamento da norma ISO 9004, destaca-se que tem como objetivo a promoção do desenvolvimento de medidas capazes de auxiliar no crescimento da satisfação da gestão de qualidade: A norma ISO 9004 visa promover a adoção de uma abordagem de processo para o desenvolvimento, implementação e melhoria da eficácia e eficiência de um sistema de gestão da qualidade, para aumentar a satisfação das partes interessadas por meio do atendimento aos requisitos destas. Para isso, é necessário que a organização identifique e gerencie as inúmeras atividades interligadas. É denominado processo toda atividade que usa recursos e que é gerida de forma a possibilitar transformação de entradas em saídas, e estas saídas frequentemente são entradas de um próximo processo (MACHADO et al., 2017, p. 42). Caminhando a empresa rumo à uma gestão eficiente e de longo prazo, a ISO 9004 traz uma visão autocrítica junto as lideranças, o que possibilita o surgimento de novas oportunidades de negócios através de Auditoria Hospitalar 34 análises dos pontos fracos e fortes do negócio. Muitas das vezes essas oportunidades não estão ligadas somente a clientes, mas sim a todos os envolvidos no negócio, sugerindo uma visão mais ampla sobre a dificuldade do ambiente organizacional (MACHADO et al., 2017). Acreditação Hospitalar ONA A acreditação de serviços de saúde surgiu nos Estados Unidos, onde atualmente é coordenada pela Joint Comission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) – Comissão Conjunta de Acreditação de Organizações de Assistência à Saúde. Logo, a acreditação se estendeu para outros países. Atualmente, esse processo avaliativo vem adquirindo grande visibilidade, uma vez que os usuários dos serviços de saúde desejam serviços de qualidade, sejam eles privados ou públicos (ANTUNES; RIBEIRO, 2005). NOTA: A acreditação internacional no padrão norte-americano, sob a responsabilidade da Joint Comission International (acreditadora ligada à JCAHO) tem critérios, instrumentos e processos que focam no respeito aos direitos dos usuários e seus familiares, além da busca de metas e padronização de indicadores internacionais de segurança do paciente, gestão do uso de medicamentos, acesso ao cuidado e sua continuidade, bem como a garantia da capacitação de recursos humanos e gestão das informações contidas nos prontuários (ANTUNES; RIBEIRO, 2005). Baseando-se nesse modelo, a Organização Nacional de Acreditação (ONA) é uma entidade não governamental sem fins lucrativos, que atualmente coordena o sistema de acreditação dos serviços de saúde brasileiros. A ONA se refere à acreditação como um método de avaliação institucional, voluntário, periódico e reservado, que visa garantir a qualidade da assistência à saúde por meio da implantação e respeito às normas predefinidas no Manual Brasileiro de Acreditação em três níveis hierárquicos de qualidade (ONA, 2018). Auditoria Hospitalar 35 A implantação das normas de acreditação da ONAnos serviços de saúde demonstra aumento da eficácia organizacional e adequação de sua infraestrutura. De forma geral, contribui para que sejam supridas as necessidades das organizações e de seus usuários, promovendo um melhor ambiente de trabalho e incrementando o desempenho da instituição. Como consequência, gera-se uma maior confiança por parte da sociedade quanto aos serviços ofertados (AZEVEDO et al., 2002). Ainda, considerando-se os níveis da acreditação, pode-se definir o padrão de qualidade da organização. Níveis da acreditação ONA A Organização Nacional de Acreditação define a acreditação como uma metodologia avaliativa dos recursos institucionais, de caráter voluntário e periódico, que busca a garantia da qualidade da assistência pela implantação de padrões predefinidos, expressos em normas preconizadas no Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar. Esse método subdivide-se em três níveis hierárquicos (ONA, 2018), os quais veremos a seguir. Nível 1 Acreditado: refere-se ao atendimento aos requisitos básicos da qualidade prestado aos clientes na vocação, especialidades e serviços ofertados pelo hospital. Nesse nível, as organizações precisam ter quadro de profissionais compatível com a complexidade, qualificação e responsabilidade técnica para as áreas de atuação. Aborda a segurança. Nível 2 Acreditado pleno: nesse nível, as organizações necessitam adotar ferramentas de planejamento da assistência hospitalar evidenciando documentação, corpo profissional, educação continuada, controle estatístico, indicadores e auditorias internas para que subsidiem a tomada de decisão clínica e gerencial. Aborda a gestão integrada. Auditoria Hospitalar 36 Nível 3 Acreditado com excelência: para este nível, a ONA define que as organizações precisam implementar políticas institucionais de melhoria, considerando-se estrutura, incorporação tecnológica (incluindo tecnologia da informação), atualização técnico-profissional, ações assistenciais e procedimentos hospitalares dentro de normas e protocolos padronizados, além da busca pela excelência, de maneira a adotar rotinas de avaliação permanentes. Aborda a excelência em gestão. De acordo com Possoli (2017), a normatização, a racionalização e o ordenamento dos processos hospitalares, preconizados pelas normas da ONA, garantem a qualidade da assistência. A evolução harmônica dos diferentes setores e equipes do hospital favorecerá a eficácia e a eficiência organizacional de forma ideal, permitindo o seu acompanhamento por meio do cálculo e análise de indicadores. RESUMINDO: Com base no Manual Brasileiro de Acreditação, fonte da lista de verificação da auditoria, a organização pode se preparar por meio da realização de auditorias internas, verificando assim o cumprimento da norma, e, posteriormente, trabalhando as não conformidades identificadas pela auditoria certificadora. Auditoria Hospitalar 37 Indicadores hospitalares OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de criar instrumentais para avaliação de performance em hospitais, apresentando o subsídio teórico e fomentando a discussão sobre essa temática, vivenciando o cotidiano dos hospitais em busca da melhoria contínua da qualidade na prestação de tão importantes serviços à humanidade. Vamos lá! A avaliação dos resultados hospitalares é de grande importância, uma vez que permite visualizar a eficácia e a eficiência dos processos internos, mensurar o atendimento aos requisitos dos clientes e criar parâmetros norteadores para o gestor. Com essa finalidade, padroniza- se indicadores que proporcionarão medir, qualitativa e quantitativamente, as repercussões das atividades gerenciais nas organizações hospitalares. Nesse sentido, os indicadores da qualidade em saúde estão relacionados com os critérios utilizados para a realização da avaliação, em determinado contexto social, conforme especifica Portela (2000, p. 260), ao salientar, em outras palavras, “que indicadores de qualidade em saúde correspondem a critérios para a avaliação da qualidade da assistência à saúde a uma população, seja em termos de procedimentos específicos ou de uma rede de serviços”. Ainda no que se refere ao processo de realização da avaliação de qualidade, destacam-se alguns indicadores específicos: I. A quantidade de profissionais de saúde que trabalham efetivamente na área. II. A maneira como os materiais que são utilizados pelos profissionais da saúde são armazenados. III. A quantidade de prescrições medicamentosas atendidas pelos órgãos farmacêuticos. Auditoria Hospitalar 38 IV. A quantidade de diagnósticos precisos realizados pelos profissionais de saúde habilitados para trabalhar no setor. V. Percentual de diagnósticos equivocados emitidos pelo profissional habilitado a trabalhar no setor. VI. Índice de taxa de infecção hospitalar identificada nos pacientes. IMPORTANTE: Os indicadores tornaram-se a ferramenta de medição de resultado mais utilizada na área da saúde e estão presentes em legislações, normas de qualidade e contratos firmados com entes públicos. Visam a prestação de ações e serviços de saúde ao Sistema Único de Saúde, além da avaliação e acompanhamento do cumprimento de metas qualitativas e quantitativas. Os indicadores e padrões de qualidade da estrutura de serviços de indicadores da estrutura da saúde costumam ser utilizados para o credenciamento de unidades de saúde. Alguns exemplos são: existência ou não de um serviço de vigilância epidemiológica em uma unidade de saúde; condições de armazenamento de medicamentos na farmácia de um centro de saúde ou hospital; número de profissionais de saúde - por categoria - envolvidos na assistência a uma população em relação ao número de pessoas assistidas; e número de leitos disponíveis, por especialidade, em um certo hospital ou área geográfica (PORTELA, 2000). Os indicadores tornaram-se a ferramenta de medição de resultado mais utilizada na área da saúde e estão presentes em legislações, normas de qualidade e contratos firmados com entes públicos. Visam a prestação de ações e serviços de saúde ao Sistema Único de Saúde, além da avaliação e acompanhamento do cumprimento de metas qualitativas e quantitativas. Auditoria Hospitalar 39 Avaliação da qualidade em saúde Em Donabedian (1980 apud PORTELA, 2000), a avaliação em saúde engloba ações como a seleção de critérios pré-definidos para que se possa, desse modo, partir para a análise e o julgamento sobre processos, adequações, custos, benefícios, entre outros. Esses elementos analisados constituem os indicadores de qualidade em saúde. Esses indicadores e padrões de processo irão constituir a base de dados para a realização de auditorias de qualidade e custos em serviços de saúde. Figura 7 - Padronização de indicadores Fonte: Pixabay. ATENÇÃO Os indicadores de resultados podem constituir-se em medida direta, ou indireta, das consequências do uso de intervenção em saúde. A redução na transmissão vertical do vírus da AIDS (HIV), por exemplo, é uma medida direta do efeito da administração correta de AZT a gestantes HIV-positivas e aos seus bebês. Por outro lado, a carga viraI ou o nível de células CD4 + de um paciente infectado pelo HIV é uma medida indireta do risco de ocorrência de doenças oportunísticas, a ser diminuído, ou não, pelo uso de medicamentos. Também são medidas indiretas de efeitos na saúde da população Auditoria Hospitalar 40 as medidas próprias de tecnologias diagnósticas; a sensibilidade, a especificidade, e outras medidas utilizadas na avaliação de um exame laboratorial, ou de imagem, por exemplo, falam de as chances de um indivíduo receber tratamento adequado, mas não falam de mudanças no estado de saúde desse indivíduo (PORTELA, 2000). Respeitando-se tais indicadores, o controle de qualidade de serviços hospitalares é resultado da avaliação da adesão a normasdefinidas. Busca, dessa forma, implementar medidas de melhoria contínua da qualidade de práticas e serviços de saúde e da manutenção preventiva contra problemas potenciais. Dessa maneira, ainda em se tratando e controle de qualidade nos serviços de saúde, destaca-se a necessidade de se especificar o objetivo central que é o de verificar a aderência dos indicadores de qualidade e ainda, corrigir possíveis equívocos na prestação de serviços de saúde. Neste sentido, o controle de qualidade decorre da avaliação, e busca implementar medidas de melhoria da qualidade de práticas e serviços de saúde, ou de prevenção de problemas potenciais. O controle em qualidade em saúde deve centrar-se nas relações entre processo e resultados da prestação de cuidados de saúde, mas não deve ignorar aspectos relevantes da estrutura existente. E pode constituir-se sob a perspectiva da garantia de qualidade, ou da melhoria contínua de qualidade (MCQ) (PORTELA, 2000). A abordagem da garantia de qualidade se concentra em elementos relevantes de cada um dos processos que se deseja monitorar em uma organização de atenção à saúde, satisfazendo-se com a observância dos padrões definidos para os indicadores considerados. Se, por um lado, pode fazer com que metas de qualidade sejam distantes, em contextos onde a qualidade dos cuidados de saúde é precária, por outro, é conservadora para contextos onde o nível de qualidade desejado é atingido (PORTELA, 2000). Atualmente, observa-se que poucas são as instituições que trabalham com indicadores de qualquer natureza. As que buscam a qualidade acompanham sua adequação aos parâmetros de qualidade por meio dos indicadores e avaliam a real situação da empresa por meio de Auditoria Hospitalar 41 auditorias internas. Essas auditorias são programadas e realizadas pelas equipes de auditores formadas por colaboradores de todos os setores da empresa. Ademais, também ocorrem as auditorias externas, que são realizadas pelas consultorias de qualidade. SAIBA MAIS: Caso queira se aprofundar no assunto, leia a obra TQC - Controle da Qualidade Total no Estilo Japonês, de Vicente Falconi Campos, que apresenta a metodologia japonesa da qualidade, denominada Controle de Qualidade Total (TQC), atualmente ensinada pela Union of Japanese Scientists and Engineers (JUSE), no Japão. Baseando-se em Bittar e Quinto Neto (2004), medir e acompanhar qualidade e quantidade, por meio de indicadores qualitativos e quantitativos, respectivamente, em ações e serviços de saúde é estratégia fundamental para que as organizações possam embasar seu planejamento, coordenar, avaliar, controlar seus resultados e propor medidas interventivas para que os processos em questão atinjam as metas pré-determinadas. IMPORTANTE: Na definição de metas qualitativas e quantitativas, as organizações têm usado uma técnica conhecida como benchmarking, a qual realiza comparações interna ou externamente, com setores e/ou empresas conhecidas por serem referência. De acordo com Couto e Pedrosa (2009), os resultados apresentados por meio dos indicadores devem passar por minuciosa análise crítica da tendência da melhoria ao longo do tempo e indicar se é favorável (positiva), desfavorável (negativa) ou constante (ausente). Auditoria Hospitalar 42 Análise crítica de indicadores Para Lira (2017), é importante que a empresa identifique as causas dos problemas e realize uma intervenção corretiva diante deles. Nesse sentido, pode-se utilizar uma ferramenta denominada Diagrama de Ishikawa, Diagrama de Causa e Efeito ou Diagrama Espinha de Peixe. A ferramenta tem o objetivo de organizar o raciocínio em uma investigação sobre um efeito negativo e contribuir para sua correção. Na Análise Crítica, utilizando-se o Diagrama de Ishikawa, define- se, primeiramente, o efeito, que deverá ser anotado à direita. Depois, à esquerda, coloca-se uma seta que leva à causa principal. No diagrama, as ramificações representam os fatores que podem ser elencados como causas secundárias (OLIVEIRA et al., 2011). Em um mercado altamente concorrido e globalizado, as certificações e acreditações já se afirmaram como instrumentos fundamentais na consolidação da credibilidade, garantia de eficácia e eficiência nos processos gerenciais, de segurança, de diagnóstico e de melhoria contínua. Nesse sentido, outras metodologias da qualidade de âmbito internacional estão sendo almejadas por hospitais brasileiros. Outras certificações e acreditações hospitalares Alguns indicadores são utilizados no sentido de garantir a certificação da qualidade do serviço, como é o caso dos indicadores ISO 9000 e seus sucessores. As certificações e acreditações se complementam na temática da qualidade, proporcionando ao hospital a possibilidade da excelência na prestação de serviços, consolidando seu nome aos seus usuários. Nesse contexto, além da ISO séries 9000 e 14000, da Acreditação ONA e da Joint Commission International, algumas outras metodologias da qualidade estão sendo trabalhadas por hospitais brasileiros. A Acreditação Hospitalar configura-se como uma metodologia desenvolvida para apreciar a qualidade da assistência oferecida em todos Auditoria Hospitalar 43 os serviços de um hospital. Tem como base a avaliação dos padrões de referência desejáveis, construídos por peritos da área e previamente divulgados, e os indicadores ou instrumento que o avaliador emprega para constatar os padrões que estão sendo analisados. A solicitação da Acreditação pela instituição é um ato voluntário, periódico, espontâneo, reservado e sigiloso em que se pretende obter a condição de acreditada de acordo com padrões previamente aceitos, na qual é escolhida a instituição acreditadora que desenvolverá o processo de Acreditação (ONA, 2014 p.33). IMPORTANTE: Os principais motivos para a busca da acreditação se relacionam à oportunidade de crescimento pessoal e profissional, à maior estabilidade da organização, à sobrevivência da instituição, ao reconhecimento da organização e de seus profissionais, ao estímulo à melhoria contínua dos processos e da assistência ao cliente, ao fortalecimento da confiança da sociedade e ao orgulho de se trabalhar em uma instituição acreditada (ALVES et al., 2013) A partir do que é evidenciado pela ONA, as principais vantagens da Acreditação são: Segurança para os pacientes e profissionais; Busca voluntária da qualidade; Educação da direção e profissionais; Qualidade da assistência; Processo de construção de equipe e melhoria contínua; • Instrumento de gerenciamento; Critérios e objetivos concretos adaptados à realidade brasileira. O caminho para a melhoria contínua (ONA, 2014). ATENÇÃO Instituição Acreditada é aquela que comprova a existência de elementos básicos de segurança assistencial e de estrutura; a Acreditada Plena é aquela que tem sistema de gestão, baseado em planejamento estratégico, cumpre os requisitos do nível anterior e utiliza protocolos de padronização de processos assistenciais e gerenciais. Quanto à instituição Acreditada com Excelência, além do cumprimento dos requisitos estabelecidos nos níveis Auditoria Hospitalar 44 anteriores, nesta modalidade, a instituição necessita comprovar que os seus resultados são baseados em indicadores alinhados com o seu planejamento, e a partir da análise crítica dos resultados, estabelecem-se ações de melhoria contínua (ONA, 2014). A partir do que está sendo apresentado, destaca-se que a avaliação realizada no ambiente hospitalar serve para indicação da acreditação, mas destaca-se que nem toda acreditação pode gerar no processo de certificação. Entretanto, a acreditação realizada, viabilizará a construção de uma educação corporativa eficaz. Mediante tal avaliação, a Acreditação pode ou não resultar em uma certificação. Entretanto, o objetivo primordial dessa estratégia ou sistema de gestão da qualidade é viabilizara educação permanente em toda a organização de saúde e isso quer dizer que não se almeja a atuação fiscalizadora (ONA, 2014). No que se refere ao processo de funcionamento da acreditação ONA, convém destacar o que a IQG estabelece: A Organização Nacional de Acreditação (ONA) é uma entidade não governamental que certifica a qualidade dos serviços de saúde no Brasil, com foco na Segurança do Paciente. Tem como instrumento base de sua metodologia o Manual Brasileiro de Acreditação, aplicado pelo IQG para avaliação de instituições de saúde que buscam utilizar o processo para aprimorar seus serviços e alcançar a excelência (IQG, s. d., on-line). Ainda em se tratando de ONA, no que se refere a metodologia, destaca-se que existe a previsão para acreditar as instituições de saúde, em níveis diferentes. A metodologia prevê a acreditação das instituições de saúde em um de três diferentes níveis (Acreditado, Acreditado Pleno e Acreditado com Excelência), a depender do grau de maturidade de cultura de segurança do paciente em que se encontram. Ao longo do programa, as organizações são incentivadas a estruturar barreiras básicas de segurança, mapear seus processos, identificar perigos, analisar causas de incidentes de segurança do Auditoria Hospitalar 45 paciente e propor ações de melhoria, além de definir e analisar resultados esperados. Tudo isso com o objetivo primário de criar mecanismos de prevenção para garantir a segurança assistencial (IQG, s. d., on-line). As certificações e acreditações se complementam na temática da qualidade, proporcionando ao hospital a possibilidade da excelência na prestação de serviços, consolidando seu nome aos seus usuários. Nesse contexto, além da ISO séries 9000 e 14000, da Acreditação ONA e da Joint Commission International, algumas outras metodologias da qualidade estão sendo trabalhadas por hospitais brasileiros. Uma delas é a Accreditation Canada, metodologia que orienta as práticas organizacionais monitorando padrões de alta performance, qualidade e segurança. É fundamentada nas bases da governança clínica, medicina com base em evidência e redução da sobrecarga de trabalho dos colaboradores por eliminar os fluxos operacionais que não geram valor agregado. Desse modo, gera processos internos de excelência, reduz a burocracia desnecessária e racionaliza o tempo de trabalho (WANDERLEI, 2018). A Accreditation Canada é reconhecida mundialmente, tendo mais de 50 anos de experiência em acreditação no Canadá e no mundo. Através do IQG hoje oferece suporte contínuo no Brasil durante todo o processo de preparação para a certificação, fornecendo apoio para a compreensão e implementação dos padrões e requisitos necessários. Através de um projeto alinhado às necessidades, ao contexto e ao momento de cada organização, trabalhamos em parceria com os clientes para o alcance sustentável do mais alto nível desta inovadora acreditação internacional – o Qmentum International (IQG, on-line). Outra certificação interessante é a Acreditação Nacional Integrada para Organizações de Saúde (Niaho) que, por sua vez, é uma norma norte-americana, a qual aborda segurança assistencial, patrimonial e gestão do corpo clínico. Foi desenvolvida para melhorar os resultados assistenciais dos hospitais. Seu diferencial é seu grande foco na gestão de riscos, na segurança predial e avaliação rígida e contínua do corpo clínico (BERSSANETI et al., 2016). Auditoria Hospitalar 46 A Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS), por sua vez, é uma organização mundial sem fins lucrativos, fundada com o intuito de otimizar a prestação de assistência à saúde por meio da tecnologia da informação. Essa metodologia desenvolve padrões como implementação de prontuário eletrônico, arquivos digitais e banco de dados eletrônicos contidos nas normas para certificação (BERSSANETI et al., 2016) Já a OHSAS 18001 consiste em uma série de normas britânicas que padronizam os requisitos mínimos para práticas de excelência em saúde e segurança ocupacional. Desse modo, é voltada para a redução de acidentes e doenças ocupacionais, aumento da participação dos colaboradores nos processos internos, melhorias no ambiente de trabalho, entre outros temas voltados aos recursos humanos da organização (FERREIRA; GEROLAMO, 2016). Cabe ressaltar que a Acreditação, para produzir melhorias na qualidade da assistência, exige trabalho interdisciplinar e superação da atenção fragmentada. Nessa perspectiva, para viabilizar a qualidade almejada, é preciso que os profissionais internalizem a lógica do cuidado integral e considerem o usuário como foco do processo de atendimento. Em que pese a importância de os profissionais que atuam na gestão da qualidade exercer cargos de liderança no contexto da Acreditação, é primordial que o entendimento desses trabalhadores, sobre as vantagens e as barreiras e/ou dificuldades advindas desse processo, seja objeto de investigações porque os seus resultados podem fomentar a tomada de decisão mais assertiva e também contribuir na elaboração de estratégias voltadas à implantação e monitoramento desse sistema (OLIVEIRA; MATSUDA, 2016). Assim, podemos concluir que as auditorias representam uma importante ferramenta gerencial no que tange à verificação da adesão organizacional à normas de qualidade previamente definidas que, se implementadas de maneira efetiva, irão contribuir sobremaneira na busca pela eficácia e eficiência internas, levando à melhoria contínua dos processos. Auditoria Hospitalar 47 Desse modo, a organização aumenta a segurança e a qualidade dos serviços prestados, o que representa cumprimento dos requisitos dos clientes, melhorando a opinião pública sobre sua imagem no complexo mercado da saúde. Encerramos esse capítulo no qual foi possível apresentar as metodologias e normas da qualidade hospitalar, que servirão de subsídio para a orientação dos processos organizacionais e originarão a lista de verificação das auditorias internas e externas. Apresentamos também os conceitos e atributos de qualidade e como se aplicam no ambiente hospitalar, gerando benefícios administrativos e assistenciais. Como resultado, ocorre um processo de certificação e acreditação e, obviamente, aumentam a qualidade e a segurança dos serviços prestados aos clientes. RESUMINDO: E então? Gostou do que mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Neste capítulo, você teve a oportunidade de refletir sobre o conceito de qualidade e seus atributos no ambiente hospitalar e como utilizar as ferramentas da qualidade visando a melhoria contínua, bem como a certificação e acreditação. Aprendeu também a diferenciar certificação de acreditação e conhecer suas múltiplas aplicações, além de refletir sobre a importância dos programas de qualidade hospitalar para as organizações e seus usuários. Vimos que conhecer as normas e a legislação pertinentes ao setor da saúde permitirá uma aplicação prática no cotidiano das organizações de saúde, garantindo sua regularidade e qualidade. Essas instituições, por sua vez, devem ser monitoradas continuamente por meio do uso de indicadores hospitalares para se controlar a performance organizacional. Auditoria Hospitalar 48 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 9001 2015: Sistemas de gestão da qualidade. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. ABREU, A.; ABRANTES, M. L. 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