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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E POPULAÇÃO SST VELAME, Kamila Tessarolo Vigilância epidemiológica e população / Kamila Tessarolo Velame Ano: 2020 nº de p.: 09 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E POPULAÇÃO 3 Apresentação Vamos, ao longo destes estudos, conhecer o cenário nacional da epidemiologia e da vigilância epidemiológica, identificando o papel do Ministério da Saúde, das secretarias estaduais e municipais da saúde no controle das doenças e agravos à saúde. Estudaremos também sobre a legislação relacionada à vigilância epidemiológica. IMPORTÂNCIA DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA PARA A SAÚDE POPULACIONAL A vigilância é uma ferramenta metodológica importante para a prevenção e controle de doenças em saúde pública. Inexistem ações de prevenção e controle de doenças que não sejam estruturadas sobre sistemas de Vigilância Epidemiológica (municipal, estadual ou federal), ou seja, em todos os níveis de governo. Sem dúvidas, são ações imprescindíveis ao controle e qualidade de vida populacional. Um exemplo bem-sucedido de um programa de Vigilância Epidemiológica atualmente é o Programa Nacional de Imunização (PNI). O documento do Ministério da Saúde afirma tal questão quando relata: “Os bons resultados das imunizações, no Brasil, devem ser atribuídos à abnegação dos vacinadores e a uma política de saúde que se sobrepôs às ideologias dos diferentes governos desde 1973” (BRASIL, 2016). Reflita 4 O documento se refere ao ano de 1973, por causa da Campanha de Erradicação da Varíola, que foi reconhecida como marco da institucionalização das ações de vigilância no país, tendo fomentado e apoiado a organização de unidades de vigilância epidemiológica na estrutura das secretarias de saúde (BRASIL, 2016). Figura 1: A importância da vigilância epidemiológica no controle de doenças Fonte: Plataforma Deduca (2020). Nesse contexto, a vigilância epidemiológica tem como objetivo fornecer orientação técnica permanente para os profissionais de saúde, os quais, por sua vez, têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos fatores que a condicionam, numa área geográfica ou população definida. Dessa forma, esse órgão consegue traduzir a saúde populacional em números (mas não somente), os quais permitem que ações sejam colocadas em prática e que surtos sejam evitados (BRASIL, 2009). O APARELHAMENTO DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA A operacionalização da vigilância epidemiológica compreende um ciclo de funções específicas e intercomplementares, desenvolvidas de modo contínuo, permitindo conhecer, a cada momento, o comportamento da doença ou agravo selecionado como alvo das ações para que as medidas de intervenção pertinentes possam ser desencadeadas com oportunidade e eficácia. São funções da vigilância epidemiológica (BRASIL, 2010): 5 • coleta de dados; • processamento de dados coletados; • análise e interpretação dos dados processados; • recomendação das medidas de prevenção e controle apropriadas; • promoção das ações de prevenção e controle indicadas; • avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas. Cada nível de governo (municipal, estadual e federal) possui a sua competência frente às funções da vigilância epidemiológica. Por exemplo, em relação às doenças infectocontagiosas, vários aspectos têm contribuído para a sua ocorrência. Há causas relacionadas às questões macroestruturais, como as condições de moradia, saneamento básico, infraestrutura urbana e de serviços essenciais, como saúde (BRASIL, 1988). Figura 2: Aspectos sociais que influenciam a demanda por serviços de saúde Fonte: Plataforma Deduca (2020). Para enfrentar as doenças infectocontagiosas, é necessário investir na melhoria da infraestrutura dos serviços de saúde pública, incremento de recursos humanos e capacitação dos profissionais, implantação de políticas de medidas de controle e vigilância, além de mobilização de toda sociedade, considerando que seus comportamentos e hábitos são também caracterizados como fatores que contribuem para a ocorrência das doenças infectocontagiosas (BRASIL, 2010). Portanto, cada nível de governo, dentro das competências da vigilância em saúde, vai atuar em um ou mais desses setores para sanar os problemas e arrumar uma solução para cada um, mais especificamente: 6 • Investir em pesquisas e produção de medicamentos e vacinas para tratamento e prevenção de doenças emergentes e re-emergentes, principalmente, aquelas doenças consideradas negligenciadas. • Fortalecer as ações de Vigilância Sanitária e Vigilância Epidemiológica, o que requer implantar serviços e capacitar profissionais para realizar essas ações. • Aumentar a capacidade diagnóstica dos serviços de saúde e a produção de dados estatísticos confiáveis, o que permitirá acompanhar o comportamento das doenças e a efetividade das ações de controle, bem como as possíveis falhas (MEDRONHO; BLOCH, 2011). Atenção Além da Constituição Federal, que estabelece as diretrizes e princípios que regem o SUS e define várias competências, há também as Leis Orgânicas da Saúde (LOS), que regulamentam a Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, e a Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, complementar à Constituição Federal de 1988 (CF/88). Estas determinam as atribuições dos governos federal, estadual e municipal, responsabilizando os órgãos a eles vinculados (Ministério da Saúde, secretaria estadual de saúde, secretaria municipal de saúde) pelas realizações de diversas ações e atividades no SUS. A Lei n. 8.080/90, ao tratar sobre o SUS, em seu Título II, Capítulo IV, Seção I, define as competências e as atribuições comuns aos três níveis de governo, destacando- se algumas: • definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscaliza- ção das ações e serviços de saúde; • acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das condições ambientais; • participação de formulação da política e da execução das ações de sanea- mento básico e colaboração na proteção e recuperação do meio ambiente; 7 • participação na formulação e na execução da política de formação e desen- volvimento de recursos humanos para a saúde; • organização e coordenação do sistema de informação de saúde (SIS) (BRA- SIL, 1990). Essa lei também define e direciona o atendimento a epidemias, no Parágrafo XIII, do artigo 15: [...] para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade competente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa indenização. (BRASIL, 1990) VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E AS COMPETÊNCIAS DOS ENTES FEDERATIVOS No que tange às atribuições específicas de cada esfera de governo, a Lei n. 8.080/90 define, no artigo art. 16, as competências da União (Ministério da Saúde); no art. 17, as do estado (secretaria do estado da saúde) e, no art. 18, as do município (secretaria municipal de saúde) (BRASIL, 1990). Figura 3: Os níveis de governo e suas atribuições na prestação dos serviços de saúde Fonte: Plataforma Deduca (2020). 8 Em relação à competência dos entes federados: À União Compete a formulação e implementação das políticas de saúde. Ao estado Compete promover a descentralização dos serviços e ações de saúde, acompanhar, controlar e avaliar a rede de serviços do SUS, prestar apoio técnico e financeiro aos municípios e coordenar e executar, complementarmente, ações e serviços de saúde. Ao município Cabe planejar, organizar, controlar, avaliar, gerir e executar as ações que foram definidas pelo MS a partir da instituição das Políticas de Saúde (BRASIL,1988; BRASIL, 1990). Observe que, a partir dessa legislação, é determinada a instituição e consolidação dos Sistemas de Vigilância em Saúde e suas demais vigilâncias (epidemiológica, ambiental e do trabalhador) e dos Sistemas de Vigilância Sanitária, em todo o território nacional, a partir da constituição das Secretarias Nacionais de Vigilância em Saúde (Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde), e no âmbito dos estados e municípios, os serviços de vigilância em saúde e vigilância sanitária (BRASIL, 2016). 9 Fechamento Pudemos conhecer, nestes estudos, o contexto nacional da epidemiologia e da vigilância epidemiológica. Assim, identificamos o papel do Ministério da Saúde, bem como das secretarias estaduais e municipais da saúde no controle das doenças e agravos à saúde. Referências BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 2 jul. 2020. ______. Lei n. 8.080/90, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília: DF, 1990. ______. Guia de Vigilância Epidemiológica. Fundação Nacional de Saúde. 7. ed. Brasília: FUNASA, 2009. 816p. ______. Doenças Infecciosas e Parasitárias: guia de Bolso. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. 8. ed. rev. 448 p. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. ______. Decreto n. 8.901, de 10 de novembro de 2016. Aprova a estrutura regimental do Ministério da Saúde. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 11 nov. 2016. MEDRONHO, R. A.; BLOCH, K. V. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2011. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm