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Apostila medicina felina 2

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APOSTILA - PARTE 2
MEDICINA FELINA: 
7 vidas de cuidados
Veterinarius E.J.
Módulo 5 - Análise Laboratorial
“Aquele que depende totalmente do laboratório para fazer seu diagnóstico é
provavelmente inexperiente; aquele que diz que não depende do laboratório é
desinformado. Em ambos os casos, o paciente corre perigo.”
 
(J.A. Halsted – Department of Biochemistry, Washington 
University School of Medicine)
Estresse de coleta
 São muitos os desafios enfrentados pelo médico veterinário quando o
paciente em questão é um felino, visto que um gato estressado pode
influenciar no resultado da anamnese e dos exames laboratoriais. Além
disso, muitas vezes o estresse se inicia antes da chegada à clínica. Dessa
forma, é muito importante que o clínico esteja preparado para orientar os
tutores a respeito do transporte e da preparação para a consulta. O
ambiente da clínica também deve ser devidamente preparado para a
recepção amigável dos felinos. 
 O estresse pode desencadear anormalidades no exame físico (como
taquicardia, bradicardia, aumento da frequência respiratória, dilatação das
pupilas e hipertermia) e nos exames laboratoriais. Quando ocorre
debatimento do paciente, pode-se desencadear hiperglicemia por estresse
muito rapidamente, podendo alcançar valores de 613mg/d ℓ , que pode
perdurar por 90 a 120 min e, inclusive, resultar em glicosúria (para tirar a
dúvida se animal é ou não diabético, pode-se realizar o teste de
frutosamina ou hemoglobina glicada – ambos nos fornecem o histórico da
glicemia do animal). Também pode ser observada hipocalemia na
bioquímica sanguínea, devido à liberação de epinefrina.
 Outras alterações que podem ser observadas no leucograma, em caso
de estresse agudo, em virtude da liberação de epinefrina envolvem:
leucocitose, neutrofilia, linfocitose e eosinofilia; em caso de estresse 
 crônico, pela 
95
ativação do eixo hipotálamo-pituitário-adrenal e liberação de cortisol, as
principais alterações observadas são: leucocitose, neutrofilia, linfopenia e
eosinopenia. 
 No caso da liberação de epinefrina, na conhecida resposta de “luta ou
fuga”, as alterações ocorrem devido ao fato de que os gatos possuem pool
marginal maior que o pool circulante. Logo, com a liberação de epinefrina,
ocorre demarginação dos leucócitos que estavam no pool marginal, indo
para o pool circulante. Com isso, temos, mais comumente, os achados de
leucocitose com neutrofilia e linfocitose. 
 Já no caso do cortisol, os esteroides atuam induzindo a apoptose dos
linfócitos, alterando seus padrões de recirculação e duplicando os
neutrófilos circulantes. 
 Segundo Thrall (2015), já foram observados gatos amedrontados, sem
sinais clínicos relacionados, com valores de linfocitose de até 20000 células/
μℓ (VR: 1500-7000), justificado pela ativação do eixo hipotálamo-pituitário-
adrenal.
96
 COLETA DE AMOSTRAS DE SANGUE
 O médico veterinário que pretende oferecer um atendimento cat friendly
deve ter bom conhecimento acerca do comportamento e das
características da espécie de forma a proporcionar suporte médico que
seja o menos estressante possível para o animal, levando em consideração
que isso pode gerar diversas alterações nos exames laboratoriais. Por isso,
no momento da consulta, já devem estar presentes na sala de atendimento
todos os materiais que possam ser necessários na consulta, tais quais:
agulhas/cateter/scalp, seringas, tubos de coleta, termômetro digital flexível,
estetoscópio (se possível, pediátrico, por ser menor), máquina de tricotomia
- a mais silenciosa possível, toalhas estéreis, glicosímetro, balança próxima
à mesa de exames).
Tipo de material e técnica de coleta 
97
É importante manusear os animais com calma e delicadeza;
Limite, o máximo possível, o número de pessoas presentes no
ambiente;
Uma música tranquila pode ter efeito calmante;
As pessoas presentes no local devem ser orientadas a não manter
contato visual direto e fixo com o gato.
 Para os exames que envolvem coleta de sangue, é útil verificar com o
laboratório que irá realizar as análises o volume realmente necessário das
amostras. Caso seja possível, pode-se coletar o material biológico em
microtubos com EDTA (volume máximo de 0,5mL de sangue), sempre
lembrando de homogeneizar a amostra adequadamente.
 Normalmente, as coletas de amostras em gatos exigem o mínimo de
manuseio possível e o profissional deve assegurar que o paciente esteja o
mais seguro e relaxado possível nesse momento. Caso o clínico considere
necessário, pode permitir que o animal fique deitado ou enrolado sobre
algum cobertor ou algo macio que tenha o cheiro de sua casa, para
possibilitar um maior conforto ao gato. Alguns tutores gostam de estar
presentes nesse momento e isso pode ser muito útil para o clínico, visto
que o gato fica mais despreocupado e calmo na presença de seus tutores.
Orientações para a coleta de sangue, segundo o Feline Advisory
Bureau (FAB):
Métodos para a coleta de sangue:
COLETA DE SANGUE PELA VEIA CEFÁLICA (foto 1):
1) Com o gato em pé, ao lado direito do seu corpo, contorne o corpo do
animal com seu braço e traga-o para perto de você, mantendo o cotovelo
na altura das patas traseiras do gato;
2) Estenda seu braço direito e coloque 3 (três) dedos atrás do cotovelo do
gato e com os dedos indicador e polegar, faça um garrote no animal,
aplicando pressão com cuidado;
3) Mantenha a mão esquerda sob a mandíbula do animal, delicadamente,
para evitar que ele morda ou se movimente;
98
4) Em algumas situações,
o membro torácico
esquerdo pode precisar
ser contido, nesse caso,
use um dos dedos da
sua mão direita para a
contenção;
5) Realize a coleta.
Imagem: exemplificando como pode ser realizada a coleta através da veia
cefálica
Foto 1
COLETA DE SANGUE PELA VEIA JUGULAR – MÉTODO 1 (foto 2):
1) Com o corpo posicionado por trás do
gato, segure os membros torácicos e o
esterno com sua mão direita, inserindo
um dedo entre os membros para não
imprimir muita força, mantendo, com
seu corpo, o corpo do gato sobre a
mesa;
2) Usando a mão esquerda, levante, com
cuidado, a mandíbula do gato para ter
acesso à veia;
3) Faça carinho para distraí-lo e realize a
coleta.
Foto 2
COLETA DE SANGUE PELA VEIA JUGULAR – MÉTODO 2 (foto 3):
 Ideal para filhotes, animais muito medrosos e raças braquicefálicas. É ideal
para ser realizado com a ajuda de um assistente.
Imagem: exemplificando procedimento através
da veia jugular
3) Durante toda a manobra, segure os membros torácicos do animal de
maneira gentil e cuidadosa;
4) O assistente deve permanecer segurando o gato com a mão direita e,
com o braço esquerdo, mantenha-o deitado sobre a mesa, contendo
gentilmente a cabeça do animal;
5) O clínico deve usar o polegar para elevar a veia no sulco entre escápula e
traqueia, sem aplicar pressão excessiva, e realizar a coleta.
99
1) Apoie o gato em uma
toalha ou cobertor sobre a
mesa, se possível, com
cheiro de casa, para deixá-
lo mais confortável e
seguro;
2) Deite-o em decúbito
ventral, de maneira suave e
ágil;
Foto 3Imagem: exemplificando procedimento através daveia jugular
COLETA DE SANGUE PELA VEIA SAFENA MEDIAL (foto 4):
 Nesse método são necessárias 2 assistentes para a contenção, além do
clínico para a coleta.
1) O gato deve ser colocado
em decúbito lateral, com as
pernas em direção ao
médico veterinário;
2) Quando possível, deixe
em posição anatômica os
membros torácicos e a
cabeça, visto que muitos
gatos não gostam de ficar
nesse decúbito;
Imagem: exemplificando coleta através da veia safena. Foto 4
100
3) Os assistentes devem manter-se com o corpo próximo às costas do
animal (para evitar o confronto direto);
4) Um dos assistentes deve usar a mão esquerda para conter a cabeça do
gato de forma gentil e a mão direita para segurar os membros torácicos,
mantendo o dedo indicador entre os membros;
5) O outro assistente deve segurar um membro pélvico com uma mão e,
com a outra, estender o outro membro, realizando o garrote para o clínico,
que realizará a coleta em seguida.Tubo para hemocultura – visando manter a assepsia na coleta;
Tubo sem anticoagulante ou com ativador de coágulo (tubo de tampa
vermelha comum e tubo de tampa amarela com gel separador de soro
SST) – evitar transporte de anticoagulante para esse tubo,
especialmente EDTA, a fim de evitar a contaminação e de reduzir o risco
de quelação e de concentrações séricas falsamente diminuídas de Ca2+
e Mg2+. O potássio presente no anticoagulante EDTA pode elevar
falsamente o valor de potássio da amostra;
Tubo com anticoagulante (citrato de sódio): deve ser preenchido
apenas depois do tubo sem anticoagulante para reduzir os riscos de
contaminação da amostra com tromboplastina residual, que pode ser
liberada durante a lesão induzida pela punção da veia e elevar
falsamente o tempo de coagulação;
Tubo com heparina;
Tubo com EDTA;
Tubo com oxalato-fluoreto.
Tubos para coleta:
 É fundamental que o clínico saiba escolher os tubos apropriados para as
amostras de sangue que serão analisadas. Na tabela abaixo (tabela 1),
estão listados os tubos de coleta mais utilizados na clínica médica, de
acordo com seus usos mais comuns e alguns comentários. Quando for
necessário coletar uma amostra em diferentes tubos, deve-se seguir as
diretrizes universais de ordem de preenchimento dos tubos, na seguinte
ordem: 
1.
2.
3.
4.
5.
6.
101
Imagem: tipos de tubos para coleta de
acordo com sua composição. Amarela:
Gel separador com ativador de
coágulo (sem anti-coagulante), para
Bioquímica e Sorologia. Verde:
Heparina, para Hemograma de aves e
répteis. Cinza: Fluoreto de Sódio, para
Glicose. Roxa: EDTA, para Hemograma.
Vermelha: Ativador de coágulo (sem
anti-coagulante), para Bioquímica e
Sorologia. Azul: Citrato de Sódio, para
TP e TTPA (Coagulação). Preta: Citrato
de Sódio, para Taxa de Sedimentação. 
Tabela - adaptada: tubos comuns utilizados na coleta de sangue 
TIPO COR DA TAMPA TIPO DE AMOSTRA USO COMUM COMENTÁRIOS
SST Amarela. Soro. Perfil bioquímico;
provas sorológicas.
 
Não é apropriado
para determinar se o
nível da medicação é
terapêutico porque o
gel interfere na
recuperação do
fármaco.
Comum Vermelha. Soro. Perfil bioquímico;
provas sorológicas;
teste com
medicamento;
análise de líquido.
Em geral, é
necessário separar o
soro das hemácias a
fim de evitar a
contaminação com
produtos da
degradação dessas
hemácias. Após a
centrifugação, o soro
deve ser transferido
para um tubo limpo
de tampa vermelha.
EDTA Rosa. Plasma ou
sangue total.
Provas hematológicas,
por exemplo,
hemograma, contagem
de plaquetas, contagem
de reticulócitos; 
PCR; 
Teste de Coombs;
Tipagem sanguínea e
reação cruzada; 
Análise de líquido.
 
EDTA não é
recomendado para
algumas espécies de
aves e répteis, como
corvo e tartaruga
terrestre ou marinha.
Não permita que as
amostras para PCR
tenham contato com
formalina ou seu
vapor.
 
102
Citrato
de sódio
Azul-claro. Plasma ou
sangue total.
Coagulograma; por
exemplo: TP, TPP,
D-dímero,
fibrinogênio, PDF.
Para obter resultados
acurados, é necessária
uma razão sangue /
anticoagulante de 1:19. Em
tubo não preenchido por
completo, ocorre efeito de
diluição e, assim, tem-se
tempo de coagulação
falsamente prolongado. Em
tubo preenchido em
excesso, pode haver
diluição do anticoagulante
e formação prematura do
coágulo, com consumo de
fatores de coagulação;
também pode ocasionar
tempo de coagulação
prolongado.
Heparina
de lítio
Verde. Plasma ou
sangue.
Perfil bioquímico
plasmático.
 
Tubo com heparina
sódica tem a mesma
tampa e seu uso deve ser
evitado na determinação
de eletrólitos.
Amostra de escolha para
algumas espécies de aves
ou répteis.
 
 
Frascos
para
hemo
cultura
Tampa de
várias cores;
contém
meio de
cultura de
suporte.
Sangue total em
meio de cultura.
Hemocultura;
cultura de líquido
sinovial.
Antes da venopunção para
hemocultura é necessária
rigorosa assepsia. Usar
tubo/frasco pareados para
cultura aeróbica e
anaeróbica. É mais
provável a detecção de
infecção transmitida pelo
sangue quando se utiliza
maior volume de sangue.
Tubo/frasco para
hemocultura não deve ser
refrigerado.
Oxalato
e
Fluoreto
de sódio
Cinza. Plasma. Teste de tolerância
à glicose.
O fluoreto de sódio
impede a metabolização
de glicose pelas
hemácias (glicólise).
Disponível em: VADEN, Shelly L. et al. Exames laboratoriais e procedimentos diagnósticos em
cães e gatos. 1. ed. São Paulo: Roca, 2013. p. 37, ISBN 978 85 412 0350 0.)
 COLETA DE AMOSTRAS DE URINA
 As mesmas instruções gerais quanto à coleta de sangue devem ser
utilizadas, buscando minimizar ao máximo o estresse do gato. 
Método para coleta de urina: 
 No caso de gatos, a urina, via de regra, deve ser coletada por
cistocentese. O gato deve estar posicionado da forma confortável, sem
estender os membros pélvicos. Nas fotos abaixo estão demonstradas
algumas maneiras de se realizar a coleta de forma amigável.
103
Imagem: gato confortável no colo para coleta por
cistocentese.
Imagem: coleta por cistocentese em posição natural
com mínima contenção. 
 As amostras coletadas por cistocentese são as mais confiáveis para se
avaliar o conteúdo da bexiga, desde que sejam tomados os devidos
cuidados para que na amostra de urina aspirada não haja sangue por
acidente. Caso a agulha de aspiração entre em contato com a parede da
bexiga ou aspire células da mucosa, será possível notar células de transição
no conteúdo da amostra. 
 No momento da coleta, é importante que a aspiração seja interrompida
antes do momento da retirada da agulha para que seja evitada a aspiração
de células epiteliais e de sangue capilar. Tais amostras são as mais
indicadas para a realização de cultura, podendo também ser úteis na
localização de alterações que indiquem danos renais e/ou vesicais,
originados no sistema geniturinário. 
 Em alguns casos, pode ocorrer contaminação da amostra por conteúdo
fecal, quando ocorre mal posicionamento da agulha, de forma que esta
penetre no intestino antes de perfurar a bexiga. Isso pode ser evitado com
coleta guiada por ultrassonografia ou através da imobilização da bexiga
durante o procedimento.
104
Recipientes para coleta:
 Os resultados da urinálise podem ser alterados de acordo com a
escolha do recipiente de coleta. O frasco indicado para armazenamento da
amostra deve ser de plástico opaco, rígido, preferencialmente com tampa
de rosca – de forma a minimizar o risco de vazamento durante o transporte
– e estéril. A opacidade do frasco é importante para os casos de exames
em que serão analisados componentes como bilirrubina, que pode sofrer
interferência fotoquímica. A identificação dos frascos coletores deve ser
realizada na lateral do recipiente para que não se perca a identificação com
a retirada da tampa. 
 Além disso, em relação às análises coletadas por cistocentese, a amostra
também pode ser transportada na própria seringa coletora, desde que
sejam tomados os devidos cuidados com a agulha, por questões de
biosseguridade. 
Transporte e armazenamento da amostra:
 A urina deve ser analisada, preferencialmente, em até 2h após a coleta,
para evitar alterações decorrentes de oxidação, precipitação de minerais,
reações fotolíticas e/ou decorrentes do metabolismo bacteriano. À
temperatura ambiente, a urina libera CO2, o que causa elevação do pH da
amostra, tornando-se mais básica (alcalina). Em ambiente mais alcalino, a
quantidade de cristais pode se alterar, de acordo com a concentração de
minerais e da solubilidade desses cristais na urina. A alcalinidade da urina
também pode gerar resultados falso positivos no teste da fita-reagente (em
particular para proteína) e resultar na lise de eritrócitos, leucócitos e
cilindros. 
 Além disso, com o passar do tempo, pode ocorrer multiplicação das
bactérias contaminantes, principalmente se a amostra não for refrigerada.
A depender do tipo bacteriano presente na amostra, isso pode
desencadear metabolização de cetonas ou glicose e modificar a
concentração de tais substâncias na urina. Diante disso, recomenda-se a
refrigeraçãoda amostra, a fim de preservar sua integridade.
 Existem também alguns conservantes que podem ser utilizados, mas
geralmente estas substâncias influenciam negativamente as análises 
 COLETA DE AMOSTRAS DE FEZES
 O exame de fezes é uma importante ferramenta para avaliar a função e
a integridade intestinal, sendo também parte do perfil laboratorial de rotina
de animais que venham a apresentar sinais clínicos de doenças do trato
gastrointestinal e infecções (virais, bacterianas, protozoárias ou
parasitárias). A validade do exame de fezes, tal qual os demais exames, vai
depender da maneira pela qual a amostra foi coletada e manuseada.
 Quando possível, é indicado que sejam coletadas fezes frescas para
minimizar erros e problemas associados a amostras velhas, além de
eliminar dúvidas acerca da origem e do armazenamento da amostra. 
 Para análise de flotação ou de sedimentação fecal, são necessárias
amostras mais volumosas (2 - 10g) para evitar resultados falso-negativos,
sendo importante a defecação em áreas limpas de forma que a amostra
seja imediatamente coletada e colocada em recipiente limpo e fechado
(frasco com tampa de rosca), assim como adequadamente armazenada. 
 Quando o objetivo for a pesquisa de sangue oculto ou o esfregaço
direto de fezes, as amostras são menores e podem ser coletadas
diretamente do reto com o auxílio de aplicador com extremidade de
algodão levemente umedecido, com alça fecal ou mesmo com a ponta do
dedo revestido por luva através do toque retal. 
 Um método indicado para a identificação de bactérias e protozoários
móveis (exemplo: trofozoítos de Giardia sp.) é a lavagem da ampola retal
com solução salina, em que aplica-se de 6 a 12 mL no reto ou cólon, com o
auxílio de um tubo de borracha vermelha 8F lubrificado ou de uma sonda
uretral (tamanho maior que nº8) adaptada. A solução deve ser infundida e
aspirada várias vezes até que seja obtido uma amostra semelhante a muco,
que seja uma mistura de muco com material fecal (sendo esse último em
menor quantidade). O material obtido pode ser utilizado em esfregaço
direto ou armazenado em tubo de tampa vermelha estéril. Da mesma
forma que os frascos de urina, os de fezes devem ser identificados pela
lateral do recipiente para que a amostra não fique sem identificação ao ser
destampada.
 105
químicas e nenhuma delas é adequada a todas as exigências dos testes.
 O congelamento da amostra pode conservar seus componentes
químicos (exemplo: catecolaminas), mas provoca lise celular.
106
Armazenamento da amostra:
 As análises devem ser realizadas tão rapidamente quanto possível, visto
que as fezes podem sofrer alterações logo que são excretadas.
Microrganismos e células de interesse são rapidamente deteriorados,
dificultando sua identificação. Além disso, a flora bacteriana continua a se
multiplicar, podendo ocasionar um supercrescimento de um tipo específico
de bactéria ou mesmo de fungo.
Manuseio da amostra:
 Absolutamente todas as amostras devem ser tratadas como materiais
infectantes, pois nelas podem ser encontrados diversos microrganismos
potencialmente patogênicos, além de vermes zoonóticos. Portanto, é
estritamente necessária a utilização de luvas e a lavagem das mãos após a
coleta das fezes. Caso o material vá ser coletado em casa, pelo tutor, é
responsabilidade do médico veterinário dar as devidas orientações de
biossegurança.
Erros pré-analíticos
 Muitos são os fatores que podem desencadear erros no resultado dos
exames laboratoriais e, consequentemente, afetar a interpretação das
condições do paciente. Por isso, o clínico deve estar sempre atento quando
o resultado não for compatível com o estado do paciente.
 Tais fatores podem ser classificados como erros pré-analíticos, analíticos
e pós-analíticos. Segundo Andriolo (2018), 60 a 70% dos erros laboratoriais
resultam de fatores pré-analíticos, que envolvem a preparação e a
identificação do paciente, a requisição, a coleta, o transporte, o
armazenamento da amostra e o preparo para análise.
 A causa mais comum de erros pré-analíticos é o manuseio inadequado
da amostra, que gera alterações grosseiras (como hemólise, formação de
coágulos, fibrina e agregados plaquetários) na amostra e, portanto, nos
resultados. Amostras de felinos possuem uma maior facilidade em formar
agregados plaquetários, influenciando a contagem de plaquetas e pode
levar a uma falsa trombocitopenia.
 
107
Erros na coleta, como na escolha do vaso sanguíneo, seringa e agulhas
inapropriadas;
Erros na identificação da amostra, relacionando dados de um paciente
a outro;
Uso do anticoagulante errado;
Contaminação inapropriada na amostra com anticoagulante (que pode
ser evitada seguindo a ordem correta de preenchimento dos tubos,
citada anteriormente);
Proporção errada de anticoagulante em relação à amostra;
Transferência traumática do sangue para os tubos de coleta, resultando
em hemólise;
Armazenamento inadequado da amostra antes da análise;
Excesso de agitação ou de atrito durante o transporte;
Amostra mal homogeneizada ou não homogeneizada para as
mensurações hematológicas.
 Alguns dos erros pré-analíticos mais comuns são:
 O manuseio das amostras exige cuidados específicos que devem ser
mantidos a fim de evitar a deterioração da amostra e de manter sua
qualidade e tais cuidados podem variar a depender da análise que será
realizada. Os laboratórios, em geral, fornecem aos seus clientes os
procedimentos a serem adotados, os quais devem ser rigorosamente
seguidos, para o envio correto. Os erros mais comuns acontecem quando
as pessoas envolvidas no processo de coleta e de transporte não possuem
os conhecimentos e/ou treinamento adequado para realizar tal atividade.
Dessa forma, é importante que todos os envolvidos nessas tarefas sejam
devidamente orientados e treinados para minimizar ao máximo a
ocorrência desses erros.
108
ANOTAÇÕES
 FIV
 O vírus da imunodeficiência felina (FIV) é um retrovírus de fita simples.
Assim como o FeLV (vírus da leucemia felina), o FIV atua produzindo a
transcriptase reversa para catalisar a inserção do RNA viral no genoma do
hospedeiro. A principal forma de transmissão é por meio da mordedura de
um felino infectado, mas também pode ocorrer via transplacentária e pelo
sêmen.
 O FIV é um vírus de distribuição cosmopolita e sua fase primária de
infecção é caracterizada pela presença de febre discreta, neutropenia e
linfadenopatia reativa generalizada. Após essa fase, ocorre um período de
incubação latente, seguido do desenvolvimento de um estágio de
imunodeficiência dos felinos infectados. 
109
Módulo 6 - Doenças
Doenças infecciosas
 É importante ressaltar
que uma coinfecção
com FeLV potencializa
ambas as fases de
infecção pelo FIV e que
existe uma importante
associação entre o vírus
da imunodeficiência
felina e as neoplasias
malignas, que são
causadas pelo efeito
imunossupressor do
vírus. Imagem: ensaio imunoadsorvente ligado a uma enzima (ELISA
 Para o diagnóstico, realiza-se o ensaio imunoadsorvente ligado a uma
enzima (ELISA), porém, pode haver um resultado falso-positivo e, por isso,
pode-se também realizar o RT-PCR para confirmação da infecção. 
 FeLV
 O vírus da leucemia felina (FeLV) é um retrovírus que causa a
imunodeficiência e predispõe o surgimento de doenças neoplásicas em
felinos. O vírus pode ser transmitido pela saliva, pelas secreções nasais, por
meio de relações sexuais, por via transplacentária, pelo leite e por
transfusão sanguínea de um felino infectado, principalmente de
assintomáticos. Felinos machos, não castrados, com acesso à rua e que
possuem doenças imunossupressoras (como o FIV) são mais propensos à
infecção. A exposição ao vírus não é sinônimo de infecção, uma vez que
existe uma série de fatores que influenciam na manutenção da patogenia,
como a idade, a cepa viral, o sistema imunológico do animal, o tempo de
exposição e a carga viral.
 A sintomatologia clínica varia de acordo com a doença que o vírus
desencadeia e comos órgãos atingidos, podendo causar sinais clínicos
inespecíficos, como anorexia, depressão e perda de peso; ou sinais
causados pelo próprio vírus, resultando no desenvolvimento de doenças
degenerativas ou proliferativas, como linfoma e leucemia.
Imagem: ensaio imunoadsorvente ligado a uma enzima (ELISA)
 O tratamento pode ser feito com a administração de interferons, que se
mostram como uma opção promissora. Podem ser administrados agentes
antivirais, como o inibidor da transcriptase reversa azidotimidina (AZT),
porém esses fármacos possuem efeitos colaterais, podendo causar anemia.
110
 Como métodos de diagnóstico, o ELISA é a principal técnica utilizada para
detectar o antígeno viral, podendo ser colhidas amostras de saliva e de
soro, sendo o último o preferencial por gerar menos resultados falsos-
positivos e falsos-negativos. Podem ser realizados exames adicionais, como
hemograma e bioquímico. 
 Os fármacos escolhidos para o tratamento são drogas antivirais, como
zidovudina ou azidotimidina (AZT), os quais estão sendo estudados já que
não conseguem eliminar completamente a viremia e possuem efeitos
tóxicos para o paciente. Em alguns casos, com a administração de
interferon pode ser utilizada a imunoterapia para amenizar os sinais
clínicos. É importante ressaltar que a prevenção por meio da vacinação é
essencial para felinos que têm acesso à rua e para aqueles que possuem
convívio com outros felinos positivos para a FeLV.
Criptococose
 Doenças fúngicas
 A criptococose é uma micose causada pelo fungo Cryptococcus, que
possui formato arredondado a ovoide, parede fina e tecidos circundados
por uma cápsula heteropolissacarídica que confere resistência. 
Imagem: felino apresentando deformidades características da criptococose. 
111
112
Esporotricose
 Nos felinos, a criptococose costuma ser causada pelo Cryptococcus
neoformans. A transmissão provavelmente ocorre pela inalação de células
de levedura ou basidiósporos, que estão adaptados para estarem
dispersos no ar. Após a inalação, esses patógenos têm a capacidade de
adesão à mucosa nasal, causando rinite micótica; e também possuem a
capacidade de se difundirem para os pulmões, causando infecção
pulmonar. Mais raramente, pode ocorrer criptococose secundária a um
ferimento na pele, culminando na disseminação até o sistema nervoso
central. 
 A sintomatologia dessa patologia depende da localização da infecção e
inclui a apresentação de corrimento nasal, coriza, sibilação, espirros,
deformidade e oclusão nasal, rinite e sinusite. 
 Alguns métodos podem ser utilizados para o diagnóstico da enfermidade,
como: cultura fúngica (a partir de tecido infectado), citologia (a partir de
amostras obtidas por lavado, swab nasal, aspirado ou biópsia) e sorologia (a
partir de soro, líquido cérebro espinhal ou vítreo); já em caso de
acometimento ocular, a amostra deve ser obtida a partir do líquido vítreo
ou sub-retiniano. 
 O tratamento da criptococose é baseado na utilização de fármacos como
anfotericina B, cetoconazol, itraconazol, fluconazol e 5-flucitosina, sendo a
escolha da terapia a ser definida somente pelo médico veterinário. Além
disso, em casos de granulomas fúngicos na nasofaringe ou na cavidade
nasal, a retirada cirúrgica pode ser uma boa opção. Quando não há
acometimento do sistema nervoso central e o tratamento é instituído, o
prognóstico é bom.
 A esporotricose é uma micose sistêmica causada pelo fungo Sporothrix
schenckii. Os felinos têm um importante papel epidemiológico na
transmissão dessa doença zoonótica, uma vez que apresentam uma
grande quantidade de células fúngicas nas lesões cutâneas.
 O Sporothrix é um fungo complexo que sobrevive no ambiente,
principalmente na vegetação, em regiões de clima temperado e tropical
úmido. A transmissão ocorre, em sua maioria, através da mordida ou da
arranhadura de um indivíduo infectado.
113
Imagem: felino apresentando a sintomatologia clínica característica da esporotricose 
 Existem três manifestações clínicas da doença em gatos: localizada
cutânea, cutâneo linfática e multifocal disseminada, sendo esta a
disseminação para tecidos e órgãos, principalmente para o fígado e
pulmão. Os felinos desenvolvem nódulos subcutâneos, indolores e que
liberam uma pequena quantidade de secreção. Essas lesões persistem, o
que faz com que a doença persista no animal por meses. O principal sinal
clínico é o aparecimento dos nódulos com alopecia e com crostas, não
comumente havendo ulceração central. A doença pode ocasionalmente se
disseminar e atingir os pulmões do felino, sendo raro o acometimento de
ossos e de órgãos internos. É importante ressaltar que a imunossupressão
aumenta a probabilidade de disseminação da doença. 
 O diagnóstico da esporotricose pode ser feito através do exame físico,
por citologia do aspirado de abscesso e/ou nódulos, por esfregaços por
“imprint” de lesões cutâneas, por cultura fúngica e, ainda, por exame
sorológico. 
 O tratamento é feito com itraconazol, que pode ser administrado sozinho
ou em combinação com a anfotericina B intralesional, uma vez que
apresenta menos efeitos adversos quando comparado ao cetoconazol e ao
iodeto sódico. O prognóstico é bom, porém o tratamento é longo e o
manuseio de felinos infectados deve ser feito com muito cuidado, por
tratar-se de uma zoonose, é necessário instruir o tutor a respeito de todas
as medidas necessárias de prevenção. Além disso, deve-se monitorar as
enzimas hepáticas do felino em tratamento com o itraconazol por meio de
bioquímicas seriadas.
 Peritonite infecciosa felina (PIF)
 A Peritonite Infecciosa Felina é uma patologia que acomete felinos
silvestres e domésticos e é causada por uma mutação do coronavírus
causador da enterite felina. Em gatos, essa patologia é mais frequente em
machos de todas as idades.
 É uma patologia caracterizada pelo acúmulo de líquidos
piogranulomatosos, composto principalmente por macrófagos e por
neutrófilos.
 Esse vírus tem preferência de instalação em células epiteliais da mucosa
do trato respiratório superior e da orofaringe e possui um desenvolvimento
rápido, o que leva o animal acometido ao desenvolvimento patológico e ao
desenvolvimento de sinais clínicos compatíveis em um curto período de
tempo. Entretanto, possui um período de incubação muito variável: em
torno de alguns dias, semanas ou até meses. Sua transmissão ocorre por
inoculação direta, por meio de mordeduras ou lambeduras de animais
infectados, pelo contato direto ou pela via uterina, da mãe para os fetos.
 Alguns fatores podem tornar o animal mais suscetível à infecção por PIF,
entre eles: comprometimento imunológico devido às patologias
secundárias, estresse, susceptibilidade genética, número de indivíduos que
convivem juntos e compartilhamento de alimentadores e bebedouros.
Formas de transmissão
 A transmissão da PIF é dependente do contato de um animal saudável
com um animal infectado ou do contato do saudável com as fezes do
infectado, uma vez que o vírus se aloja no trato gastrointestinal dos felinos
e pode ser liberado nas fezes.
 A transmissão via uterina também pode acontecer na PIF, fazendo com
que filhotes de mães infectadas já nasçam portadores do vírus.
114
115
Imagens: abrigos de felinos são fontes potenciais para a
transmissão do PIF e do Calicivírus.
Sinais clínicos
 Um dos primeiros sinais é
a febre, que culminará na
redução do apetite e no
emagrecimento do animal.
Pode haver também a
coloração amarelada das
mucosas, marcada pela
presença do pigmento da
bilirrubina, circulante em
altas concentrações no 
 sangue do animal, além de disfunções abdominais devido ao acúmulo de
líquidos na cavidade peritoneal e pleural.
 O grau de efusão para essas cavidades permite a diferenciação da PIF em
duas, sendo elas: seca e úmida ou não efusiva e efusiva. Na classificação
seca/não efusiva acontece a replicação viral perivascular local e uma reação
tecidual piogranulomatosa, além de uma efusão moderada para as
cavidades afetadas.É marcada também pela inflamação das meninges
encefálicas, do cérebro e da medula espinhal, causando, assim,
comprometimentos neurológicos. 
 Já na classificação úmida/efusiva, acontece a efusão intensa para as
cavidades pleural e peritoneal de forma mais intensa, há presença de
inflamação das serosas e dos tecidos viscerais de diversos órgãos, o que
pode ocasionar perda e/ou comprometimento do funcionamento dos
órgãos.
 Podem ocorrer ainda a inflamação de vasos sanguíneos, comprometendo
o suprimento sanguíneo tecidual e levando a quadros variáveis de necrose. 
Diagnóstico
 O diagnóstico da PIF ocorre principalmente pela avaliação do histórico do
animal; de seu modo de criação; dos sinais clínicos compatíveis com a
patologia; dos hemogramas e da bioquímica sérica, acompanhado pela 
116
presença de líquido peritoneal com aspecto amarelado e viscoso, que pode
atingir um volume de até um litro. O hemograma do animal terá alterações
características como anemia, leucocitose, linfopenia e trombocitopenia.
 Além disso, o diagnóstico por meio da titulação de anticorpos contra o
coronavírus e a exclusão de doenças que possuem sinais clínicos
semelhantes podem contribuir para a elaboração de um diagnóstico mais
assertivo da PIF.
 Caso o animal venha a óbito, o processo de necropsia poderá ser feito e
será verificado, sobretudo, a presença de um exsudato granular branco-
acinzentado sobre as serosas, e, principalmente, sobre o baço e o fígado;
além do conteúdo fluido, amarelado e viscoso depositado nas cavidades
peritoneal e pleural.
Tratamento e prevenção
 Não existe medicação específica para o tratamento de PIF. Sendo assim,
pode ser realizada uma terapia suporte para auxiliar o sistema imune no
combate e, consequentemente, minimizar as lesões causadas pelo
coronavírus.
 O uso de medicamentos imunossupressores como Prednisolona e
Ciclofosfamida são alternativas para se evitar respostas imunológicas
exageradas que poderiam lesar ainda mais o tecido local. O uso de
fluidoterapia e a remoção de líquidos efusivos também são medidas
praticadas para garantir maior recuperação do animal.
 A vacinação se mostra muito pouco eficiente na indução da resposta
imune nos felinos, principalmente, porque eles já podem estar acometidos
ao receberem a vacina, tornando a prevenção ainda mais importante no
combate a PIF. 
 Entre as principais medidas preventivas estão: evitar dividir utensílios
como bebedouros, caixinhas de areia e comedouros entre gatos da mesma
casa; restringir o acesso do felino à rua e a outros felinos desconhecidos; 
 Calicivírus
 O Calicivírus Felino é um vírus que possui o RNA como material genético,
fazendo com que sua capacidade de mutação seja elevada e criando,
assim, diferentes cepas com graus variados de patogenia. De modo geral, a
patologia advinda da via de infecção oral é menos agressiva do que aquela
por aerossol. Isso se deve ao local onde ocorrem as lesões, que são no
trato respiratório superior e na cavidade oral dos felinos.
 Esse vírus acomete felinos de todas as idades, mas pode ser fatal em
animais adultos devido ao fato de ser altamente virulento, sendo capaz de
levar o animal a uma resposta imune sistêmica muita intensa. Em animais
saudáveis, como o vírus é altamente virulento, sua eliminação demora
cerca de 75 dias a partir do momento da infecção. A patologia advinda
pode se comportar de forma aguda ou crônica no animal, evoluindo caso
aconteça algum comprometimento do sistema imune do animal por algum
fator exógeno ou endógeno.
 A patogênese da doença será dependente do manejo, do tratamento
suporte e específico fornecidos ao animal acometido, do comportamento
do sistema imune diante da infecção e do fato do animal ser vacinado ou
não - de forma que os não vacinados ocupam um papel fundamental na
transmissão e na evolução da patologia, pois servem de reservatório para o
vírus, que poderá infectar animais vacinados, e estes podem ou não
desenvolver os quadros da doença, porém, serão portadores pelo menos
momentaneamente do vírus.
117
oferecer água e ração de
boa qualidade e encorajar
a prática de atividades
físicas para que o sistema
imunológico possa ser
estimulado e venha a
combater de forma mais
efetiva uma possível
infecção. Imagem: comedouros individuais e elevados devem ser preferenciais
para evitar a transmissão de PIF entre felinos
118
Formas de transmissão
 As formas de transmissão do calicivírus são diversas e podem ocorrer
através de fômites, como objetos contaminados, já que o vírus possui a
capacidade de sobrevivência de até 28 dias em superfícies secas, em mesas
de atendimento de clínicas e em contato com água e comida que tiveram
contato com outro animal contaminado pelo vírus. 
 Além disso, o contato de médicos veterinários, tratadores ou cuidadores
com animais contaminados e saudáveis pode favorecer a transmissão do
vírus. Assim, a forma de transmissão entre clínicas é comum, caso não
ocorram os devidos cuidados no processo de higienização de mesas e de
equipamentos e o uso de luvas descartáveis para o manuseio do animal.
 A transmissão por aerossóis é menos importante do que a transmissão
via contato direto entre felinos ou indireto via tutores e médicos
veterinários ou animais contaminados e saudáveis, já que a liberação por
aerossóis não é capaz de atingir grandes distâncias, sendo limitada a um
metro.
 A transmissão ocorre de forma muito acentuada em locais onde há uma
densidade populacional felina elevada, como em abrigos, já que o fluxo de
animais é intenso nesses locais. Isso aumenta a incidência do contato entre
animais infectados com animais saudáveis de forma que, aliado à falta de
cuidados quanto ao manejo dos felinos recém chegados, pode resultar em
alta transmissão entre os felinos habitantes do local.
Sinais clínicos
 Os sinais clínicos apresentados por animais infectados pelo calicivírus
passaram por algumas modificações ao longo do tempo, justamente devido
à capacidade de mutação elevada do vírus, que passou a ser chamado de
calicivírus virulento sistêmico por sua gravidade e amplitude de sinais
apresentados. Entre os principais sinais apresentados estão: secreções
nasais e orais aumentadas e intensas, presença de úlceras orais,
estomatites e pneumonia.
119
 Esses sinais serão acompanhados, na maioria das vezes, por febre alta;
formação de edemas em membros, na musculatura facial e no pulmão que
levará, neste último caso, a uma dificuldade respiratória que pode ser ainda
mais acentuada com a formação de trombos e de uma coagulação
intravascular disseminada e sistêmica causada pela apoptose de células
epiteliais de diversos vasos. Por consequência, há a possibilidade de
ocorrerem quadros de necrose, principalmente em células do fígado,
causando um quadro de acúmulo de bilirrubina, denominado de icterícia,
devido à insuficiência hepática e à falha no processo de síntese proteica.
Além disso, o pâncreas contribuirá para o quadro anoréxico do animal, já
que poderá haver o comprometimento da produção dos hormônios
insulina e glucagon (hormônios relacionados diretamente ao metabolismo
energético celular).
 A queda de pelos na região das orelhas, próximo ao focinho e nos coxins
também é uma manifestação marcante que pode acontecer em casos de
infecção pelo calicivírus.
Diagnóstico
 Alguns dos passos importantes para se chegar a um diagnóstico mais
assertivo é o estudo dos hábitos de criação do animal, a investigação da
existência de outros felinos infectados no mesmo lar ou vizinhanças, e a
descoberta da origem do animal. Esses passos devem ser alinhados a sinais
clínicos compatíveis, sendo possível partir de testes específicos para
detecção do calicivírus.
 Entre os testes utilizados estão o PCR, para observação da presença do
RNA nas amostras coletadas, que podem ser obtidas a partir de esfregaços
na região da orofaringe ou de amostras de sangue com EDTA. Em casos de
uma viremia mais avançada e persistente, o vírus pode ser encontrado nas
fezes.
 Outratécnica utilizada é a imunohistoquímica, baseada no princípio da
utilização de anticorpos específicos contra o antígeno do calicivírus, em que
ocorre a reação antígeno-anticorpo que será demonstrada por meio da
imunofluorescência. Essa técnica permite a averiguação do animal 
120
infectado mesmo que ele ainda esteja em um estágio inicial do contágio e
com baixa taxa de infecção.
 A cultura viral também pode ser feita, mas, devido à sua dificuldade de
manipulação e do pouco sucesso na abordagem, é menos utilizada. Em
animais que vierem a óbito, a necropsia pode ser feita em órgãos mais
acometidos como língua, pulmões e rins; onde serão observadas lesões
típicas, como a necrose de hepatócitos.
Tratamento e prevenção
 Devido à alta capacidade patogênica do calicivírus, o mais recomendado é
evitar ao máximo que o felino contraia o vírus. Para isso, medidas nos lares
como a restrição do acesso do felino à rua e o uso de comedouros e
bebedouros individuais, assim como as boas práticas nas clínicas, como a
execução devida da higienização de mesas e de equipamentos entre
atendimentos com hipoclorito de sódio 5% na diluição 1:3 e o uso de luvas
descartáveis, devem ser seguidos. O isolamento de felinos doentes dos
saudáveis é também uma medida válida para evitar a propagação da
doença.
 A terapia aplicada visa dar suporte para o combate ao vírus e inclui
fluidoterapia para evitar quadros de desidratação; uso de corticoides para
evitar respostas imunológicas exageradas e prejudiciais; e a aplicação de
medicação antiviral de modo a combater o vírus.
 Devido à alta capacidade de mutação desse vírus, a vacinação pode não
ser a medida mais eficiente, já que a utilizada é baseada em cepas antigas e
mais virulentas. Essa diversidade de cepas torna difícil a atualização do
espectro da vacina de maneira que imunize o felino contra todas elas.
Assim, mesmo os animais vacinados estão suscetíveis à infecção conforme
as cepas adquirem capacidade de resistência aumentada devido à
alteração de suas estruturas antigênicas.
 Herpesvírus felino
 O herpesvírus felino é um vírus que possui DNA como material genético e
apresenta altas taxas de mutação. Os ambientes preferenciais deste vírus no
corpo do animal são em regiões com temperatura próxima dos 37°C, sendo
encontrado principalmente em células da mucosa nasal e na córnea, mas,
dependendo do grau de infecção, pode atingir células neurais adjacentes ao
gânglio do ramo trigêmio.
 Um ponto a ser considerado quanto ao herpesvírus felino é sobre a sua
resistência e sobrevivência no organismo hospedeiro, este que será seu
portador por toda a vida em caso de uma infecção prévia, mas que pode ter
manifestações clínicas características em casos de baixa eficiência do sistema
imunológico ou do uso de medicação imunossupressora. 
Formas de transmissão:
 O herpesvírus pode ser transmitido por fômites, ou seja, uma transmissão
indireta por meio do manejo por humanos que tiveram contato com animais
portadores do vírus, por meio do contato com mesas de atendimento em
clínicas onde um felino portador foi consultado, mas que não passou pelas
devidas desinfecções, e, também, por meio de recintos que possam ter sido
o alojamento de algum felino contaminado em um curto espaço de tempo,
tendo em vista que a sobrevivência desse vírus no ambiente é limitada.
121
Além de outros fatores
de controle contra esses
vírus, a vacinação contra
o Herpesvírus felino e
também contra o
Calicivírus são essenciais
e indispensáveis para
evitar patologias mais
graves nos felinos e a sua
propagação para outros
felinos.Imagem: felino sendo vacinado
 No entanto, a transmissão direta por meio de secreções nasais, orais e
oculares de felinos infectados é a forma mais comum de transmissão de
herpesvírus. O animal contaminado apresenta sinais clínicos em um
período de aproximadamente 7 dias, o que persiste por até 14 dias, sendo
este período o mais crítico para a transmissão para felinos saudáveis.
 Animais portadores, mas assintomáticos, transmitirão o vírus apenas em
casos de reativação, determinada por fatores que comprometem o
funcionamento adequado do sistema imune do animal em casos de baixa
imunidade mediada por doenças, fatores nutricionais ou medicamentosos.
A taxa de infecções agravadas em animais jovens, geralmente, é maior do
que em adultos devido à resposta imune mais específica e mais intensa do
sistema imune em casos de reinfecção nos adultos.
Sinais clínicos
 Os sinais clínicos serão mais acentuados durante o período que o vírus
estiver se multiplicando no animal, sendo inexistentes em portadores
assintomáticos, o que compromete o diagnóstico da infecção. Em casos de
reativações virais, os sinais clínicos são mais brandos e menos aparentes.
 Os principais sinais clínicos são de ordem respiratória e ocular, marcados
por secreções nasais e oculares bastante intensas. Após o período de
incubação, os primeiros sinais irão aparecer de acordo com a carga viral
ativa, com a capacidade de reação do sistema imune e também com a
susceptibilidade genética do animal infectado.
 De modo geral, os principais sinais são: espirros profundos e constantes;
lesões no trato respiratório superior com possibilidade de evolução para
um quadro de pneumonia, que pode vir acompanhado de uma infecção
bacteriana secundária; e acúmulo de células inflamatórias e de material
exsudativo nos alvéolos pulmonares, levando ao comprometimento da
respiração. Lesões necrosantes na região da laringe, faringe e cavidade
nasal também podem ser observadas nos felinos, dependendo da
intensidade e duração da infecção viral.
122
123
 Dentre os sinais clínicos oculares observa-se conjuntivite, acompanhada
de edema e inchaço nas mucosas palpebrais, secreção ocular intensa que
pode adquirir, dependendo da gravidade, uma coloração amarronzada, e
hiperemia. Tais fatores podem contribuir para a instalação de uma
infecção bacteriana secundária. 
Diagnóstico
 O diagnóstico da infecção por herpesvírus pode ser confirmado em
conjunto pela observação dos sinais clínicos compatíveis com a patologia,
análise do histórico do animal e da averiguação de possíveis situações em
que o mesmo pode ter sido infectado. O exame citológico é uma opção, e
pode ser obtido a partir de um raspado da córnea do felino, no qual será
observada a presença de leucócitos e células plasmáticas. 
 Pode ser feito também o teste lacrimal de Schirmer, que testará a
composição aquosa da lágrima e irá detectar alterações decorrentes do
herpesvírus. O isolamento a partir de um swab da orofaringe ou da
conjuntiva do animal infectado também pode ser realizado, sendo
acompanhado pela realização de técnicas de imunofluorescência para
verificar a ocorrência de reações antígeno-anticorpo específicas, e
também pela observação de inclusões proteicas na microscopia de
células epiteliais do trato respiratório.
 A técnica de PCR também pode ser utilizada, principalmente em felinos
adultos com lesões crônicas oculares. Durante o período em que o vírus
se encontra latente no organismo, a sua detecção é incapacitada devido à
falta de produção de proteínas virais.
Tratamento e prevenção
 O tratamento contra herpesvírus será duradouro e persistente, e, além
da medicação específica, será acompanhada por uma terapia suporte. Em
geral, as afecções oculares e respiratórias são tratadas utilizando
antibióticos profiláticos, a fim de evitar uma infecção bacteriana
secundária, ou tratar alguma já existente. Antivirais que abrangem
herpesvírus em seu espectro também podem ser utilizados para auxiliar
no combate.
124
 Medicamentos com propriedades imunossupressoras, como no caso de
corticosteroides, também serão utilizados para evitar reações inflamatórias
acentuadas e lesivas ao tecido local, no entanto seu uso e dosagem deve
ser analisado, já que as propriedades imunossupressoras podem
comprometer o combate ao vírus.
 Em caso de acometimento ocular, podem ser utilizados colírios com
propriedades anti inflamatóriase lacrimomiméticas, a fim de se
restabelecer a lubrificação ocular adequada, produção lacrimal e o reflexo
de piscar normal.
 A vacinação é uma medida preventiva extremamente necessária para o
controle de infecções por herpesvírus e deve ser feita em filhotes com
aproximadamente 9 semanas de vida, com reforço anual. Além disso, o uso
de comedouros e bebedouros individuais, a limpeza adequada dos fômites
e equipamentos em clínicas, a prática de limitação da saída do lar pelo
felino e a alimentação e fornecimento de água de qualidade são medidas
auxiliares para evitar a instalação do vírus no organismo.
Doenças dermatológicas
Granuloma eosinofílico felino 
 O granuloma eosinofílico felino é uma enfermidade comumente
encontrada nos gatos caracterizada por um processo inflamatório cutâneo
e/ou da mucosa oral, normalmente relacionado com hipersensibilidade
primária. 
Causas
 A causa do granuloma eosinofílico felino é ainda desconhecida. Porém,
tem‐se a hipótese de ser uma reação alérgica, sendo, nesse caso,
normalmente relacionada com hipersensibilidade primária a uma picada de
pulga, a um alimento ou a atopia. Há também a possibilidade de ocorrência
devido a uma predisposição genética. 
 Estudos mostram que os desencadeadores de eventos primários nessa
doença são o recrutamento de eosinófilos bem como sua desgranulação.
Dessa forma, as lesões decorrem da infiltração e da desgranulação maciça
de eosinófilos. 
Sinais clínicos
 O complexo granuloma eosinofílico felino inclui a úlcera indolente, a placa
eosinofílica e o granuloma linear, mas não foi estabelecido se essas
doenças estão relacionadas. Úlceras indolentes são encontradas no lábio
ou na mucosa oral dos gatos de meia‐idade. Já as placas eosinofílicas
geralmente ocorrem na pele no aspecto medial dos membros pélvicos e do
abdome ventral. O granuloma linear é geralmente encontrado no aspecto
dos membros pélvicos de gatos jovens, mas pode também ocorrer na 
 língua, no palato e na mucosa oral. O envolvimento oral grave de uma
úlcera ou placa eosinofílica normalmente produz disfagia, halitose e/ou
anorexia. Gatos com granulomas eosinofílicos na boca podem ter lesões
cutâneas concomitantes. Além disso, esses animais também podem
apresentar eritema e alopecia. 
125
Imagem: Granuloma Eosinofílico Felino, é
observado um região linear espessada com
alopecia e eritema na região caudal do membro
posterior.
Imagem: granuloma eosinofílico circular no membro
posterior.
Imagem: granulomas múltiplos coalescentes no
palato duro de um gato adulto.
126
Imagem: granulomas coalescentes se desenvolveram
na língua ao longo de várias semanas.
Imagem: pequeno granuloma eosinofÍlico focal na língua
de um gato adulto.
Imagem: granuloma do queixo, é possível observar
animal com a Síndrome do Lábio Gordo, caracterizada
pela tumefação rígida do queixo. DIficilmente essas
lesões incomodam o gato.
Imagem: placa eosinofílica, intensamente pruriginosa,
comum nas doenças alérgicas de felinos.
Diagnóstico
 Normalmente, é baseado no histórico do animal, nos sinais clínicos e na
exclusão de outros diferenciais, como o granuloma bacteriano ou fúngico e
neoplasias. Na citologia, observam‐se eosinófilos, porém, neutrófilos e
bactérias podem predominar no caso de infecção secundária. 
127
 Pode ser feito exame histopatológico da pele com achado de granuloma
nodular a difuso constituído de eosinófilos, histiócitos e células gigantes
multinucleadas com focos de degeneração de colágeno. Como também,
pode ser feito um hemograma com presença de eosinofilia. 
Tratamento 
 
 Lesões cutâneas em gatos com menos de um ano de idade podem se
curar espontaneamente. Altas doses de terapia com corticosteroides
(prednisolona oral) muitas vezes controlam essas lesões. Após a cura
clínica, deve‐se reduzir gradativamente, em dias alternados, a dose oral de
corticosteroides até a menor dose possível. Clorambucil ou ciclosporina
podem ser úteis em casos resistentes. A antibioticoterapia é, por vezes,
benéfica (especialmente nos casos mais discretos). Outros tratamentos que
podem ser eficazes em alguns gatos incluem extirpação cirúrgica,
tratamento a laser e radioterapia. 
 Para casos refratários ao tratamento com prednisolona ou acetato de
metilprednisolona, os glicocorticoides alternativos incluem: Triamcinolona
(dose de indução), 0,8 mg/kg/24h via oral e Dexametasona (dose de
indução), 0,4 mg/kg/24h via oral. Após a cura das lesões, deve- se reduzir
gradativamente, a cada 2 a 3 dias, a dose de triamcinolona ou
dexametasona para a menor dose possível.
Acne felina 
 A Acne Felina, também chamada de acne do queixo ou furunculose do
queixo, é considerada um distúrbio folicular que pode aparecer em forma
de comedões assintomáticos dispersos até furunculose intensa do queixo,
sendo esse um diagnóstico clínico. 
Causas 
 O início rápido de acne no queixo pode ser causado por infecção
bacteriana e dermatofitose, sendo essa última capaz de se desenvolver em
uma população estável de gatos de estimação. 
128
Sinais clínicos 
 Prurido facial é um sinal clínico comum em gatos com muitas doenças.
Dessa forma, ao esfregar repetidamente a face do animal, há uma perda de
pelos e tamponamento de glândulas sebáceas ou comedões. 
No caso de infecção secundária das lesões podem ocorrer pápulas,
pústulas e, raramente, furunculose e celulite. Em casos graves, a pele
atingida pode apresentar edema, espessamento, cisto ou cicatriz. 
Diagnóstico
 Normalmente, baseia‐se no histórico, nos sinais clínicos observados e na
exclusão de outros diferenciais, como demodicose, dermatofitose,
dermatite por Malassezia e complexo granuloma eosinofílico (se 
 edematoso). Raspados de pele e pêlos arrancados devem ser examinados
para a procura de demodicose, de ceratose, de tamponamento e de
dilatação folicular. O diagnóstico envolve citologia da pele para pesquisar
proliferações de bactérias e de leveduras. Não há necessidade de biópsia
cutânea para o diagnóstico ou como parte de avaliação diagnóstica, porém,
pode ser útil em casos refratários. Quando há infecção bacteriana
secundária, pode‐se constatar perifoliculite, foliculite, furunculose e/ou
celulite. 
Tratamento
 Para o tratamento tópico, a lavagem da região facial com xampu
antibacteriano e antifúngico pode ser útil. Além disso, higienização com
água morna associada à terapia antimicrobiana sistêmica com mínimo de
duração de 2 a 3 semanas também pode ser eficaz. Há também a opção de
uso de pomadas tópicas, porém, os felinos podem lamber essa solução,
retirando‐a da face e causando ruptura dos folículos pilosos da derme,
consequentemente, agravando a doença. Ademais, existem relatos de que
alguns gatos respondem bem à ciclosporina. 
 
 Pode‐se lavar a área atingida com peróxido de benzoíla, ácido salicílico
ou xampu contendo etil‐lactato; em intervalos de 1 a 2 dias, até a cura das
lesões. Dentre os medicamentos tópicos alternativos utilizados a cada 1 
dia, ou conforme necessário, incluem: unguento ou creme de mupirocina,
gel de peróxido de benzoíla 2,5%, creme ou loção de tretinoína 0,01 a
0,025%, gel de metronidazol 0,75% e produtos tópicos contendo
clindamicina, eritromicina ou tetraciclina. 
 Já para o tratamento sistêmico, o uso de isotretinoína pode ser eficaz em
casos refratários, sendo administrado 2mg/kg ou 10 mg/gato via oral (VO)
em intervalos de 24 horas até a cura das lesões, que ocorre em
aproximadamente 30 dias. Em seguida, mantém-se a mesma dose a cada 2
a 3 dias para controle das lesões. 
129
Imagem: acne do queixo. Esta é uma apresentação
clássica com comedões e resquícios pretos.
Imagem: acne felina com presença de eritema,
hiperpigmentação e comedões. 
Foi realizada tricotomia no local para melhor
visualização. 
 
Endocrinopatias
ENDOCRINOLOGIA 
 A endocrinologia é o ramo da medicina veterinária que estuda o
funcionamento das glândulas e dos órgãos endócrinos, assim como a ação
dos seus produtos de secreção e dos hormônios nos tecidos e órgãos-alvo,associados às manifestações clínicas observadas em endocrinopatias.
DIABETES MELITO 
 O diabetes melito (DM) se caracteriza pela hiperglicemia a partir da
ausência ou redução da síntese de insulina, da menor receptividade ou
resistência à insulina e da incapacidade da insulina em realizar seus efeitos
metabólicos de forma adequada. 
 Em resumo, para a maioria dos órgãos é necessário que a insulina
(produzida pelas células β do pâncreas) se ligue aos seus receptores na
periferia celular, o que garante o transporte da glicose para o interior das
células por meio das proteínas transportadoras de glicose, em especial o
GLUT4, responsável pela captação de glicose mediada pela insulina. Na
falta de insulina ou ainda na resistência a ela, a glicose não entra nas
células, o que leva à hiperglicemia. 
 O DM tipo 1 é raro em felinos e está associado à ausência de insulina a
partir da destruição imunomediada das células β pancreáticas, ou, ainda, à
insuficiência pancreática exócrina. O DM tipo 2 ocorre de forma
predominante em felinos, está associado a resistência à insulina, à
deposição de amiloide (fibrilas proteicas) nas ilhotas pancreáticas e à
redução das células β. A amilina é o principal componente do amiloide em
gatos diabéticos, sendo armazenado nos grânulos de secreção das células
β e secretado juntamente com a insulina, ou seja, os fatores que estimulam
a secreção de insulina também elevam a secreção de amilina.
130
Imagem: esquema representativo do Diabetes melito
tipo 1
Imagem: esquema representativo do Diabetes melito
tipo 2
 A resistência à insulina ocasiona um aumento crônico na secreção de
insulina e também de amilina (co-secretada com a insulina pelas células β),
que se agrega e é depositada nas ilhotas pancreáticas como amiloide,
destruindo as células por sua ação citotóxica. Em quadros de deposição
progressiva de amiloide, ocorre a degradação progressiva das células das
ilhotas pancreáticas, que causa o DM.
 A gravidade de destruição das ilhotas pancreáticas e da destruição das
células β determinam se o animal possui diabetes melito dependente de
insulina (DMDI) ou não dependente de insulina (DMNDI). Em quadros de
destruição total das ilhotas, o animal possui DMDI, sendo necessário o
tratamento com insulina pelo restante de sua vida. Já em casos de
destruição parcial das ilhotas, pode-se ou não observar diabetes
clinicamente evidente e o tratamento com insulina pode ou não ser
necessário para controle da glicemia. 
131
Imagem: amiloidose pancreática em corte histológico de
pâncreas felino. As setas indicam o infiltrado de
amiloide no tecido pancreático
Imagem: degeneração vacuolar grave de células das
ilhotas.
 As manifestações clássicas do DM são conhecidas como “quatro P”: 
 poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso. Quando se ultrapassa o
limiar de reabsorção renal (cerca de 300 mg/dℓ), a glicose é eliminada na
urina (glicosúria), o que gera uma perda osmótica da água nos rins, ou seja,
uma diurese osmótica que se manifestará como poliúria. Como
consequência da poliúria, o animal apresenta aumento do consumo de
água compensatório, o que é denominada polidipsia compensatória, que
nem sempre é suficiente para reparar a perda urinária, levando o animal a
uma desidratação.
 Além disso, as células do centro da saciedade dependem de insulina
para realização da absorção da glicose, ou seja, na falta de insulina, a
glicose não adentra no interior celular e, por isso, não há inibição do centro
da fome; o que aumenta o apetite e resulta em polifagia. Apesar disso, o
animal possui perda de peso devido à quebra de músculos e de proteínas,
pois o organismo gera substratos para a gliconeogênese a partir destes
componentes. Durante a gliconeogênese são gerados corpos cetônicos
que podem causar náuseas, o que torna o animal inapetente. 
 No entanto, o felino diabético
pode não apresentar os sinais
clássicos mencionados acima,
tendo como principal
manifestação clínica uma
alteração locomotora
decorrente de neuropatia
diabética. Nesses casos, o
animal possui fraqueza nos
membros pélvicos, ataxia ou
postura plantígrada (apoio dos
membros pélvicos pelos
tarsos).
Imagem: postura plantígrada em gato com neuropatia diabética
severa 
 O DM ocorre predominantemente em gatos machos castrados e pode
ser identificado em gatos de qualquer idade, mas a maioria dos casos
diagnosticados ocorrem em gatos acima dos 9 anos de idade.
 O diagnóstico se baseia na identificação dos sinais clínicos, na
hiperglicemia persistente e na glicosúria, sendo necessário diferenciá-lo da
hiperglicemia induzida pelo estresse, um problema comum nos gatos que
pode levar à glicosúria em alguns casos.
 Para isso, o animal pode ser encaminhado para casa, de modo que o
nível de glicose na urina seja avaliado em um ambiente rotineiro e não
estressante, ou pode-se avaliar os níveis de frutosamina sérica e/ou
hemoglobina glicada, que sugere uma hiperglicemia sustentada quando em
altas concentrações no soro, não sendo influenciadas por aumentos
transitórios na concentração sanguínea de glicose. No entanto, alguns
fatores podem influenciar nos resultados encontrados: quadros de
hipoalbuminemia e hipoproteinemia, por exemplo, podem reduzir os níveis
de frutosamina sérica obtidos. Além disso, a meia vida da hemoglobina
glicada está relacionada à duração das hemácias no sangue, o que equivale
a cerca de dois meses em felinos, e, por consequência, um aumento da
hemoglobina glicada indicam uma hiperglicemia durante um a dois meses
anteriores.
132
 Uma medida adicional para auxílio no diagnóstico é a mensuração
plasmática de β-hidroxibutirato, pois cetonomias significativas (altos valores
de β-hidroxibutirato) são comuns em gatos diabéticos e incomuns na
hiperglicemia de estresse, que não é associada à cetose severa. 
 Para tratamento, deve-se utilizar insulina a fim de estimular o uso de
glicose periférica e reduzir a produção de glicose hepática, além de reduzir
a glicotoxicidade às células pancreáticas e prevenir a deposição de
amiloides nas ilhotas pancreáticas. A insulina pode ser administrada por via
intravenosa, intramuscular ou subcutânea e, dentre as variedades
utilizadas, estão a insulina suína lenta (Caninsulin ®), a recombinante PZI
humana (disponível somente nos EUA) e os análogos de insulina de longa
ação (glargina e detemir) que mimetizam a secreção pancreática constante
de insulina entre as refeições.
 O manejo dietético também é de extrema importância para pacientes
diabéticos. Quando possuem o peso ideal, os gatos podem ser alimentados
à vontade (de acordo com a recomendação de ingestão calórica diária
recomendada para o animal), enquanto que, gatos obesos devem possuir
restrição calórica e dietética, recebendo a quantidade adequada de
alimento subdividida ao longo do dia. A realização de exercícios também
estimula o gasto energético e aprimora o controle glicêmico, pois a glicose
é utilizada pela célula da fibra muscular de forma independente da insulina. 
 A atividade física pode ser estimulada por meio de brinquedos (por
exemplo, ratinhos e bolas), assim como pela fisioterapia, que vem se
destacando como terapia alternativa no controle da obesidade. Além disso,
há hipoglicemiantes orais que possuem ação pancreática, estimulando a
secreção de insulina pelas células β (sulfonilureias como a glipizida); e ação
extra pancreática, aumentando a sensibilidade dos tecidos à insulina
(metformina, tiazolidinedionas) ou retardando a absorção intestinal de
glicose pós-prandial (inibidores da α-glicosidase). 
133
HIPERTIREOIDISMO
 O hipertireoidismo é uma doença crônica provocada pela produção e
secreção em excesso dos hormônios triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) pela
glândula tireóide. Essa enfermidade acomete principalmente gatos idosos e
geriátricos, principalmente na faixa etária de 4 a 22 anos de idade, com
média de 12 anos. 
 A alteração é causada principalmente
pelo adenoma benigno da tireoide ou
pela hiperplasia adenomatosa em um ou
ambos os lobos da tireoide,enquanto
que, o carcinoma da tireoide é
relativamente raro.
 Sua fisiopatologia envolve uma
subpopulação de células foliculares que
passam a se multiplicar de forma
autônoma, mantendo seu crescimento e
produção hormonal, ainda que não haja
estimulação pelo TSH hipofisário.
Portanto, as células hiperplásicas
adenomatosas da tireoide possuem um
crescimento autônomo além da
habilidade de funcionar e secretar
hormônios tireóideos autonomamente. 
Imagem: adenoma funcional no lobo tireoidiano
esquerdo de um gato
 Os hormônios tireóideos são responsáveis pela regulação de processos
metabólicos, por isso, um aumento no teor de tais hormônios promove
perda de peso, polifagia, poliúria, polidipsia e fraqueza muscular, sinais
clássicos de hipertireoidismo. Isso ocorre devido à taxa metabólica basal
acelerada e à maior sensibilidade às catecolaminas, ocasionada pelo maior
número de receptores beta adrenérgicos na superfície celular e pelo
aumento de afinidade a esses.
134
 Ademais, devido à interação
com o sistema nervoso central,
maiores níveis de hormônios
tireóideos ocasionam aumento
do direcionamento simpático e
tem como consequência
hiperatividade, deambulação ou
irritabilidade, vocalização,
taquicardia e possível tremor;
outros sinais característicos do
hipertireoidismo. Grande
volume fecal, padrão
respiratório ofegante, vômito,
crescimento rápido das unhas,
alopecia, flexão ventral de
pescoço, sopros sistólicos,
arritmias e insuficiência cardíaca
congestiva também podem ser
observados.
Imagem: A. Gato hipertireoideo apresentando perda de
peso à procura de superfícies frias para se deitar,
mudanças observadas em um estágio mais avançado da
afecção. B Mesmo felino com os níveis de hormônios
tireoidianos normais (estado eutireóideo).
 A perda de peso é o sinal mais
frequentemente detectado no
hipertireoidismo. Geralmente, está
associada à polifagia devido ao
maior gasto energético e consumo
de oxigênio, que causam perda de
massa muscular. 
 Além disso, hormônios tireoidianos apresentam ação diurética e a
poliúria e a polidipsia ocorrem pelo aumento da perfusão renal. A
diarreia, o aumento da massa fecal e os vômitos de intensidade crônica
ou esporádica nos animais acometidos são desencadeadas pela maior
motilidade gastrintestinal e pela ação direta da tiroxina sobre o centro do
vômito.
135
 Há ainda o hipertireoidismo apático, uma forma incomum de
hipertireoidismo que acomete cerca de 10% dos gatos hipertireoideos.
Nesses casos, ao invés de hiperatividade e irritabilidade, observa-se
depressão, letargia, anorexia e perda de peso; além de flexão cervical
ventral do pescoço usualmente responsiva à suplementação de fluido com
potássio e/ou vitamina B1. Apesar disso, esse grupo também apresenta
anormalidades cardíacas como arritmias e insuficiência cardíaca congestiva.
Tabela - Esquema básico dos principais sinais e achados no exame físico em quadros de hipertireoidismo
 
Disponível em: NELSON, R.W.; COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 5. ed. Elsevier, p.2217
 O diagnóstico se baseia na
identificação dos sinais clínicos, na
palpação de nódulo em tireoide e na
constatação de aumento na
concentração dos níveis de T4 sérico.
O aumento de um ou de ambos os
lobos da tireóide é um achado de
grande importância para diagnóstico
da doença, visto que é identificado
em cerca de 80% a 95% dos
acometidos. Há uma série de técnicas
possíveis para a palpação, tais como:
a técnica clássica, a técnica de
Norsworthy e a técnica de duas
mãos. 
Imagem: técnica da palpação da tireoide de
Norsworthy
136
 Valores elevados dos níveis séricos de T4 são indicativos de
hipertireoidismo, especialmente se sinais clínicos forem condizentes. Uma
baixa concentração dos níveis séricos de T4 geralmente descarta o
hipertireoidismo, entretanto, o diagnóstico não deve ser excluído baseado
somente nesse resultado, principalmente quando o gato apresenta sinais
clínicos compatíveis com hipertireoidismo e uma massa palpável
ventralmente no pescoço. É recomendado o acompanhamento do paciente
e a repetição da mensuração sérica dos exames laboratoriais.
 Possíveis alterações encontradas: eritrocitose (ocorre em até 47% dos
gatos hipertireoideos devido ao maior consumo de oxigênio e aumento da
eritropoiese ocasionado pelo estímulo ß adrenérgico sobre a medula
óssea), aumento sérico das enzimas hepáticas alanina aminotransferase,
fosfatase alcalina, Gama Glutamiltransferase (em 90% dos casos); aumento
das concentrações séricas de ureia nitrogenada e creatinina; densidade
específica urinária maior do que 1,035, azotemia e hiperfosfatemia.
 O hipertireoidismo oculto é identificado nos níveis iniciais de
hipertireoidismo e ocorre quando as concentrações séricas de T4 ficam
dentro da metade superior da faixa normal (3,0-5,0 µg/dL; 40-65 nmol/L),
os sinais clínicos são sugestivos e há nódulo palpável na região ventral do
pescoço.
Tabela - Interpretação de concentrações basais séricas de Tiroxina (T4) em gatos com suspeita de hipertireoidismo
Disponível em: NELSON, R.W.; COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 5. ed. Elsevier, p.2222
 Em resultados inconclusivos de T4 total sérico podem ser feitas as
mensurações das concentrações séricas de T4 livre, atual recomendação
de escolha para resultados inconclusivos de hipertireoidismo. No entanto,
apenas a alta concentração de T4 livre não determina o diagnóstico
definitivo, devido à existência de falsos positivos causados pela alta
sensibilidade deste teste, assim, sua concentração sérica deve sempre ser
avaliada em conjunto com a concentração de T4. 
137
 Além disso, devido ao maior custo, geralmente a aferição do T4 livre
sérico é utilizada para gatos com suspeitas de hipertireoidismo e
resultados inconclusivos de T4. Quando a concentração de T4 livre elevada
é associada à concentração de T4 total no limite superior ou elevado, tem-
se o diagnóstico de hipertireoidismo. Já quando as concentrações de T4
livre estão aumentadas e os níveis de T4 total estão baixos ou no limite
inferior, é sugestivo de doença não tireoidiana.
 Outros exames diagnósticos adicionais em casos de resultados
inconclusivos de T4 sérico podem ser realizados. São eles: mensurações
das concentrações séricas de TSH, teste de supressão de T3, imagem da
tireoide por pertecnetato de sódio, ou, ainda, repetição do exame de T4
sérico 3 a 6 meses depois. 
 Para tratamento, podem-se utilizar medicações antitireoidianas,
tireoidectomia, iodo radioativo ou uma dieta restrita em iodo, de forma que
todas as opções citadas são efetivas para terapia. Na tabela abaixo é
possível avaliar as indicações, vantagens e desvantagens das terapias
citadas.
 Nesse tópico, foi possível perceber a importância das alterações
endócrinas para o paciente felino, sendo necessário um conhecimento do
sistema a fim de aprimorar o diagnóstico e o tratamento fornecido ao
animal. Outros possíveis distúrbios endócrinos que podem acometer os
felinos são: Hipotireoidismo, Hiperadrenocorticismo, Hipoadrenocorticismo,
Hiperparatireoidismo, Hipoparatireoidismo e Acromegalia Felina.
Tabela - Indicações, Contraindicações e Desvantagens das Quatro Modalidades
Terapêuticas para Hipertireoidismo em Gatos
Disponível em NELSON, R.W.; COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 5. ed. Elsevier, p.2229
138
139
Doenças cardiovasculares
CARDIOMIOPATIA HIPERTRÓFICA FELINA
 A Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH) é a principal cardiopatia
diagnosticada em felinos e está associada ao desenvolvimento de
insuficiência cardíaca, de tromboembolismo e de morte súbita. É uma
doença miocárdica genética e fenotipicamente heterogênea, isto é,
apresenta uma variedade de manifestações dentre os animais acometidos.
Caracteriza-se pelo aumento da massa ventricular esquerda, tanto pelo
aumento de espessura da parede quanto pelo desarranjo tecidual dos
miócitos e das miofibrilas. 
 Para a maioria dos felinos, a causa da CMH ainda não foi determinada.
No entanto, para a raça Maine Coon a CMH é uma afecção deherança
autossômica dominante e está associada à diminuição da miomesina
(proteína do sarcômero) e à mutação no gene que codifica a proteína C
ligante da miosina (MYBPC3).
 A CMH é uma doença miocárdica primária causada por defeito dos
sarcômeros. A hipertrofia miocárdica secundária também pode ocorrer,
mas, nestes casos, não é considerada CMH. Dentre as causas de hipertrofia
miocárdica secundárias em felinos, destacam-se: hipertensão arterial
sistêmica, hipertireoidismo, estenose aórtica e acromegalia.
 O átrio pode estar aumentado, mas, ainda assim, o volume ventricular
esquerdo encontra-se normal ou reduzido e sua dilatação predispõe a
formação de trombos que, ao serem deslocados, podem causar o
tromboembolismo sistêmico. Alguns animais podem apresentar obstrução
do fluxo de saída do ventrículo esquerdo ocasionando a isquemia
miocárdica e a regurgitação mitral, que eleva o volume e a pressão do átrio
esquerdo e pode causar congestão e edema pulmonar. 
 Os sinais clínicos são variáveis: alguns animais são assintomáticos, outros
podem apresentar sinais moderados a graves de insuficiência cardíaca ou
sinais de doença tromboembólica. A maioria apresenta sopro como 
resultado da insuficiência mitral e/ou obstrução da saída do ventrículo
esquerdo, porém, gatos com sopro não têm necessariamente CMH ou
mesmo doença cardíaca.
 Além disso, raramente os animais observados apresentam manifestações
de edema pulmonar como taquipneia, intolerância ao exercício e dispneia,
ou sinais como tosse, síncope e morte súbita. 
 O ecocardiograma é o melhor
método de diagnóstico para
diferenciação de CMH de outras
cardiomiopatias pois permite a
observação de áreas de hipertrofia
na parede ventricular, no septo
interventricular ou nos músculos
papilares. O modo Doppler
colorido, por exemplo, permite a
visualização de turbulência do
fluxo sanguíneo em quadros de
obstrução na via de saída do
ventrículo esquerdo (VE) causada 
140
 O diagnóstico não pode ser
baseado na radiografia e no
eletrocardiograma, visto que a
radiografia torácica revela
cardiomegalia em casos
moderados e graves de CMH e
o eletrocardiograma evidencia
principalmente as arritmias
supraventriculares e defeitos
de condução intraventricular,
alterações não marcantes para
a CMH. Imagem: radiografia torácica ventrodorsal de gato com
cardiomiopatia hipertrófica.
Imagem: Dopplerfluxometria colorida obtida em
sístole de um gato doméstico de pelo longo com
cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva.
pela hipertrofia septal. Essa turbulência do fluxo sanguíneo pode ser
identificada na via de saída do VE ou na aorta proximal.
141
 A hipertrofia do septo
interventricular e da
parede do ventrículo
esquerdo geralmente é
simétrica, porém, alguns
animais apresentam
somente a hipertrofia
septal assimétrica ou a
hipertrofia da parede livre
e dos músculos papilares.
Imagem: ecocardiográfica de hipertrofia e fusão papilares acentuadas de
um gato com miocardiopatia hipertrófica
 Para exames laboratoriais, pode ser feito o exame de NT-pró-BNP para
diferenciar a insuficiência cardíaca de outras causas respiratórias primárias
de dispneia. Além disso, em casos de CMH moderada a grave é possível
detectar altas concentrações de peptídeo natriurético circulante e de
troponina cardíaca, como também níveis variavelmente elevados de TNFα
em gatos com ICC (insuficiência cardíaca congestiva).
 Para o tratamento, tem-se duas classes de fármacos que podem ser
utilizadas para aprimorar o enchimento ventricular, os betabloqueadores e
os bloqueadores de canais de cálcio: atenolol e diltiazem, respectivamente.
 A furosemida é indicada para controle de edema pulmonar e derrame
pleural e sua dose varia de acordo com o nível de evolução da doença,
enquanto que antiarrítmicos são indicados em casos de arritmias cardíacas.
A terapia antitrombótica pode ser feita por meio de baixas doses de ácido
acetilsalicílico, heparina sódica e heparina de baixo peso molecular
(enoxaparina ou delteparina).
TROMBOEMBOLISMO ARTERIAL SISTÊMICO EM GATOS
 A principal causa do tromboembolismo em gatos é a Cardiomiopatia. Os
trombos são inicialmente formados no antímero esquerdo do coração e,
enquanto alguns permanecem no coração, outros embolizam
principalmente na aorta distal; já em casos mais raros, pode ocorrer em
outros locais. Ademais, doenças inflamatórias sistêmicas, neoplásicas e o
hipertireoidismo também são considerados fatores de risco para o
tromboembolismo sistêmico.
 De acordo com o tamanho do êmbolo, as artérias podem ser acometidas
assim como o fluxo sanguíneo. Além de obstruir o fluxo, os tromboêmbolos
liberam substâncias vasoativas que causam vasoconstrição e
comprometem o fluxo sanguíneo colateral do vaso acometido. Como
consequência, ocorre isquemia tecidual e neuropatia isquêmica de
membros afetados, com degeneração do nervo e acometimento do tecido
muscular associado. 
 
 Taquipneia e dispneia são frequentes em casos de embolização arterial
aguda em resposta à dor ou ao aumento de pressão da veia pulmonar,
favorecendo o desenvolvimento de edema. Embora esses sinais sejam
associados à ICC, também podem ser observados em animais sem uma ICC
definida.
 Os sinais clínicos variam de
acordo com a área embolizada,
extensão e duração do bloqueio
arterial. Hipotermia, baixa
perfusão sistêmica, sinais de dor
e azotemia são comuns, e,
geralmente, não se observa
sinais de doença cardíaca
anterior ao tromboembolismo.
Imagem: postmortem de tromboêmbolo alojado na aorta
distal aberta.
 Usualmente, a função motora
dos membros pélvicos e a
sensibilidade são diminuídas ou
ausentes, sendo comum a
paresia aguda dos membros
pélvicos. Em quadros de
êmbolos pequenos, que se
alojam somente em um
antímero, é possível observar
paresia do membro pélvico
isolado.
Imagem: gato com tromboembolismo na aorta distal. Os
coxins plantares do membro pélvico esquerdo (lado direito
da imagem) estavam mais pálidos e frios em comparação ao
torácico.
142
 Quando há acometimento da artéria axilar ou da porção mais distal da
artéria braquial, detecta-se monoparesia do membro torácico direito com
rara claudicação intermitente. Já quando os tromboêmbolos se apresentam
na circulação arterial pulmonar, mesentérica ou renal, esses podem
determinar a falência desses órgãos e, consequentemente, a morte do
animal. Além disso, convulsões e déficits neurológicos são verificados
quando os êmbolos estão presentes no cérebro.
 Durante o diagnóstico, a radiografia torácica é utilizada para evidenciar
possíveis anormalidades cardiopulmonares associadas à tromboembolia,
enquanto a ecocardiografia aponta a presença do trombo intracardíaco e
determina o tipo de doença miocárdica.
 Hiperglicemia por estresse, acidose metabólica e alterações nos valores
dos eletrólitos (principalmente baixos valores séricos de sódio, cálcio e
potássio e altos valores de fósforo) são comumente encontrados; além de
azotemia devido à embolização da artéria renal e/ou doença renal
preexistente.
 Pode-se observar ainda hipercalemia (secundária ao dano isquêmico),
aumento de alanina aminotransferase e aspartato aminotransferase (dano
e necrose muscular), aumento de lactato desidrogenase e da creatina
quinase (lesão muscular generalizada) e mioglobinúria (lesões
prolongadas). Já o perfil de coagulação, geralmente, é normal.
 Para tratamento, recomenda-se a utilização de analgésicos, de butorfanol,
de buprenorfina, de HCl, de hidromorfona, de oximorfona e de morfina ou
de adesivo de fentanil (associado a outro analgésico devido à demora de
ação). A acepromazina não é recomendada para animais com
tromboembolismo arterial. 
 A heparina sódica e a heparina não fracionada (HBPM) são utilizadas para
limitar a extensão de trombos existentes e para prevenir a formação de
novos, no entanto, não promovem trombólise. Não se recomenda a
administração intramuscular devido ao risco de hemorragia no local de
aplicação, que é menor quando se utiliza HBPM. Para contrabalancear esse
risco pode-se utilizar o

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