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Ana Luiza Cecheto dos Anjos Clínica médica de pequenos animais – p2 Doenças do trato urinário inferior dos felinos (dtuif) A DTUIF já foi chamada de cistite intersticial, cistite idiopática felina, doença idiopática do trato urinário inferior (DITUI), síndrome urológica felina (SUF), mas DTUIF é o termo mais atual e correto e engloba todas as doenças que acometam a vesícula urinária, uretra dos felinos. A DTUIF possui etiologia multifatorial, complexa e muitas vezes indeterminada. Como fatores intrínsecos temos a condição corporal, animais com excesso de peso e sedentários tendem a apresentar a doença. Geralmente machos castrados apresentam maior risco, e é comum em animais com idade entre 2 a 6 anos. Outros fatores (extrínsecos ou ambientais) temos o estilo de vida, o confinamento (criação indoor) geralmente diminui o exercício, bem como a ingestão de água. O estresse e um fator importante, pode ser por motivos diversos, como conflito com outros gatos, visitas desconhecidas, mudança brusca de dieta, mudança de rotina, obras na habitação, mudanças climáticas, viagens, etc. a dieta seca é um fator que predispõe pela baixa disponibilidade de água, fornecendo apenas 10% enquanto que os alimentos úmidos fornecem 72% de água. Fatores desencadeantes são o baixo consumo de água, a indisponibilidade ou falta de limpeza das caixas sanitárias, baixa atividade física, culminam no volume de urina reduzido e baixa frequência de micção. As principais causas identificáveis são os plugs ou tampões uretrais (seriam os cristais, mucos - correspondem a 22% dos casos), urólitos (10%), infecção bacteriana do trato urinário (2%), neoplasias (carcinomas de células de transição – 3%) defeitos anatômicos (divertículo da vesícula urinária, persistência do úraco, uretra mal posicionada – 6%) mas a maioria dos casos correspondem a causa idiopática, cerca de 60%. Identificar a etiologia da DTUIF é importante para determinar o tratamento. São duas categorias clínicas: DTUIF não obstrutiva: ocorre quando não há obstrução da uretra, mas ainda assim o animal possui dor ou dificuldade ao urinar. Corresponde a maioria dos casos totais de DTUIF e normalmente são recidivantes. Deve identificar a causa, quando não for identificada, tratamos como cistite intersticial felina. Cistite intersticial felina: é moderna tendo seus primeiros relatos próximo a 2007, é denominada de síndrome de pandora. A possível patogenia seria que os gatos que apresentam essa patologia apresentam menor síntese de aminoglicosídeos e mucina. Num gato normal, que tenha quantidade normal de aminoglicosídeos e mucina, esses componentes inibem a aderências bacteriana e protege o uroepitélio dos constituintes nocivos da urina. Então o animal que tem DUITF tem menor síntese desses componentes e o contato da urina com o uroepitélio é maior, gerando lesão no epitélio vesical, liberando mediadores químicos da inflamação, dilatando vasos sanguíneos, aumentando a permeabilidade vascular levando a edema, contração da musculatura lisa vesical e aumento e degranulação de mastócitos que liberam histamina, heparina e citocinas que levam a hemorragias, dor. Os principais sinais clínicos da cistite intersticial felina são periúria (local anormal de urinar), polaquiúria (frequência excessiva para urinar), estrangúria (esforço excessivo para urinar), disúria (dor para urinar), hematúria, lambedura da genitália, isolamento. Na urinálise pode haver hematúria, proteinúria (inflamação), cristalúria, em geral a urina é estéril, mas pode haver bacteriúria, piúria, neutrófilos na urina. No exame de imagem geralmente observa-se espessamento da parede vesical, sugerindo inflamação (não necessariamente infecção!) importante para diagnóstico diferencial de pólipos, urólitos, divertículos e neoplasias. A maioria dos casos é autolimitante e resolve de 5 a 10 dias com ou sem tratamento. No entanto o tratamento é indicado porque a DTUIF causa dor e estresse ao animal, autotraumatismo e alterações comportamentais. É uma enfermidade sem cura, mas é possível reduzir a frequência e a gravidade das crises. Os três principais pilares do tratamento são: redução do estresse, alteração da dieta e estímulo a hidratação, suporte terapêutico. Para reduzir o estresse seria a orientação do tutor para enriquecimento ambiental, estimular atividades físicas, etc. e animal for estressado demais pode entrar com amitriplina. Ademais, pode-se alterar a ração seca para a pastosa se o gato aceitar, incentivar o gato a beber água através de fontes, recipiente amplo e raso. DTUIF obstrutiva: a diferença é que aqui o animal não urina, porque está obstruído. As principais causas são plugs e tampões uretrais (formam-se principalmente em machos cuja uretra é mais longa e estreita) , urólitos relacionados a cistite, estenose uretral, neoplasias luminais e extraluminais, espasmos musculares. plug uretral Animal com obstrução uretral apresenta anúria ou oligúria, o que leva a azotemia pós renal, acidose metabólica porque não excreta hidrogênio, hipercalemia (geralmente a causa de morte), hiperfosfatemia pela falta de depuração renal e hipocalcemia devido a hiperfosfatemia. Os sinais clínicos dependem do tempo da obstrução, de 6 a 24 horas animal apresenta estranguria e disúria ou incapacidade de urinar, vocalização, lambedura frequente da genitália e ansiedade. De 36 a 48 horas animal apresenta sintomas de azotemia pós renal, como anorexia, vômitos, desidratação, depressão, hipotermia, acidose e hiperventilação. No exame físico a bexiga encontra-se volumosa, distendida de difícil ou impossível compressão, o pênis pode estar parcialmente exposto e congesto. No hemograma o hematócrito e proteína total plasmática estarão aumentados (pela desidratação), aumento de creatinina e ureia pela azotemia, não está depurando nada, aumento de potássio e fósforo, diminuição de cálcio e acidose metabólica se for feito hemogasometria. No exame de imagem é possível ver a obstrução. O objetivo do tratamento seria restaurar a patência uretral (desobstrução), hidratar e consequentemente corrigir o equilíbrio iônico e ácido básico, prevenir a formação de novas obstruções, fazendo tratamento igual de gatos com DTUIF sem obstrução. Como formas de desobstrução uretral temos a massagem da uretra distal e suave compressão vesical para eliminação da obstrução (cuidado para não romper bexiga), ou colocar um cateter uretral rígido e realizo retrohidropulsão com solução salina estéril a 0,9% para dissolver ou fragmentar o material que está obstruindo a uretra e para desloca-lo para o interior bexiga, ou ainda cistocentese para diminuir a pressão vesical seguida de intervenção cirúrgica, se for absolutamente necessário. Nas duas últimas formas é necessário que se faça com o animal sedado. A DTUIF obstrutiva pode evoluir para uma doença renal crônica, secundária à pielonefrite ascendente, principalmente quando há muitas recidivas. Pode complicar também para uma atonia de detrusor, comum em felinos obstruídos por mais de 24 horas, ocorre por distensão excessiva da bexiga, trata com compressão manual da bexiga de 4 a 6 vezes ao dia e usa sonda de espera por 24 a 72 horas, isso é reversível se feito o tratamento corretamente. A cirurgia é indicada quando há estenose uretral, episódios obstrutivos múltiplos, obstrução que não foi aliviada por meios não cirúrgicos. Urólitos A urina é uma solução complexa de solutos orgânicos e inorgânicos, com a hipersaturação da urina com solutos pode ocorrer formação de urólitos, que são precipitados macroscópicos, cristais que são precipitados microscópicos (minerais), e sedimentos que são precipitados microscópicos (mineral e orgânico). Formação dos urólitos: existem várias teorias, mas a mais aceita seria a teoria da supersaturação ou teoria da cristalização, em que o aumento da cristalização e da precipitação com pH urinário favorável, ocasionaria a agregação dos minerais formando os urólitos. A teoria da deficiência deinibidores, ocorreria quando há falta de inibidores de cristalização e agregação (como o citrato, pirofosfato e glicosaminoglicanos), isso faz com que haja agregação mineral espontânea e a formação do urólito. Como exemplo temos o urólito de oxalato de cálcio que é formato nessa maneira. A teoria da matriz orgânica consiste em matriz orgânica como mucoproteina, debris celulares, bactérias, coágulos e corpos estranhos formam um núcleo sobre o qual ocorre a precipitação de cristais em alta concentração, gerando o urólito. Uma vez formado, para continuar crescendo, o urólito depende da retenção de solutos na urina, fazendo supersaturação urinária que faz com que diminua o fluxo urinário, agregando as partículas no urólito já formado. O urólito pode ser formado por um só tipo mineral ou por mais de um tipo de minerais dispostos em uma camada apenas ou em sobreposição de camadas. Os urólitos podem estar localizados nos rins e são chamados de nefrólitos, na bexiga e dai são chamados de urocistólitos, Quanto a forma podem ser classificados como lisos, espiculados, piramidais, laminados e facetados, mas isso não tem muita importância. Quanto a constituição podem ser classificados como fosfato de amônio e magnésio (estruvita); oxalato de cálcio; uratos de amônia; cistina; sílica; fosfato de cálcio; Quanto a composição química, podem ser simples quando mais de 70% de sua estrutura é composta por apenas um tipo de mineral em uma camada identificável. O misto tem praticamente uma camada identificável, com mais de um componente, mas nenhum ultrapassa 70%. O composto tem a presença de camadas justapostas de diferentes composições, com pelo menos 70% de um mesmo mineral numa camada, e outro mineral em outra camada (um urólito é recoberto por outro urólito). Camadas dos urólitos compostos: formados por núcleo, pedra, parede e superfície. O núcleo é onde o crescimento iniciou. A pedra é a maior área do urólito. O melhor jeito de analisar um urólito é analisar por camadas para determinar a composição predominante. Urólito de estruvita: é formado em urina alcalina, ocorre mais em fêmeas e é formado pela nutrição, com dietas ricas em magnésio e fósforo. Outro fator em cães seria infecção bacteriana por bactérias produtoras de urease. Essas bactérias produzem urease que hidrolisa a uréia em amônio e bicarbonato, que alcalinizam a urina e lesam glicosaminoglicanos, que permite a aderência das bactérias na parede vesical. Oxalato de cálcio: forma em urina ácida, maior predisposição em machos. Tem alguns fatores que predispõe o urólito de oxalato de cálcio, como a hipercalciúria por maior absorção intestinal de cálcio (dietas ricas em cálcio e vitamina D), hipercalciúria por perda renal (reabsorção tubular deficiente), dietas acidificantes de urina (suplementação com vitamina C, dieta para estruvita), hiperoxalúria (oxalato é o produto final do ácido ascórbico) Urólito de urato: a deficiência genética no metabolismo do ácido úrico do dálmata predispõe essa raça a ocorrência de urólito de urato. A baixa conversão hepática de ácido úrico em alantoína pelo hepatócito resulta em aumento da excreção urinária de ácido úrico. Também pode ser ocasionado por excesso de proteína na dieta, que aumenta a excreção de amônia e ácido úrico, pH da urina fica mais ácido. Urólito de cistina: mais comum de se formar em urina ácida, ainda não foi descrito em gatos. É mais comum em machos da raça Dachshund, bulldog inglês. Sinais clínicos: os ureterólitos ou nefrólitos causam hematúria e dor lombar ou abdominal, os uretrolitos causam escúria (retenção de urina) e pode até levar a ruptura de bexiga. Os urocistólitos causam disúria (micção dolorosa), hematúria, polaciúria, estrangúria, e pode haver urina com odor fétido se houver infecção bacteriana (produção de urease), e ainda pode ser que os urólitos sejam palpáveis em topografia visceral (grandes urólitos e com bexiga vazia). Concluir o diagnóstico não é um desafio, o desafio aqui é predizer a composição do urólito enquanto ele ainda esta em meio interno. Para tentar predizer a composição do urólito considerar idade, sexo, raça, estar atento na anamnese (sinais clínicos, dieta, fatores predisponentes), exame físico (verificar se há dor, hematúria, escúria.), pedir exames complementares que possam ajudar. Fazer urina tipo 1 (urinálise sem cultura) é importante, de acordo com o pH podemos saber qual a mais provável formação do cálculo. A urina alcalina sugere urólitos de estruvita, urina com pH ácido sugere urólitos de oxalato ou cistina. Existe exame de sedimentoscopia, se houver infecção (piúria, hematúria, bateríuria junto com pH alcalino), sugere cálculo de estruvita. A urocultura ajuda para avaliar infecção do trato urinário, como dito anteriormente se houver bactérias urease positiva sugere urólito de estruvita. Na suspeita de urólito de oxalato de cálcio dosar o cálcio sérico que pode estar aumentado. Na suspeita de urólito de urato de amônio dosar ácidos biliares e avaliar função hepática. O exame de imagem é fundamental para avaliarmos onde se encontra o urólito, o tipo, o tamanho, a densidade, o formato. O raio x simples apenas identifica urólito de oxalato de cálcio e estruvita. Com raio x contrastado identificamos urólitos de urato e cistina. No exame ultrassonográfico não há distinção entre urólitos. Avalia as características da estrutura anatômica envolvida. Para concluir o diagnóstico etiológico do urólito deve ser feita análise qualitativa/quantitativa. Para urólitos compostos deve avaliar o núcleo separadamente das camadas exteriores uma vez que a composição pode indicar a causa inicial da urolitíase. Tratamento: deve-se tratar apenas os sintomáticos e monitorar os assintomáticos. Os cálculos sintomáticos de oxalato de cálcio devem ser removidos cirurgicamente, se for de estruvita faz dissolução medicamentosa. Os cálculos que estiverem na uretra pode ser feita a desobstrução por retrohidropropulsão até a bexiga seguida de cistotomia e remoção do urólito, ou se não der certo pode fazer uretrostomia mas devo evitar ao máximo. Independente da composição do urólito, diluímos a urina aumentando a ingestão de água porque isso reduz a saturação. Quando há ITU (infecção do trato urinário) tratar durante todo período de dissolução do cálculo. Promover a diurese, fornecer dietas calculolíticas e preventiva, com baixo fósforo e magnésio e proteína, dietas com predomínio de ânions (Cl, P, S) sobre cátions (Ca, Mg e K). se for oxalato de cálcio não dissolve, tem que remover cirurgicamente. Depois tem que fazer prevenção para evitar recidiva, fornencendo dieta com consumo moderado de cálcio e fósforo, evitar dietas com excesso de proteína e sódio, suplementar vitamina b6 e citrato de potássio. Se for de urato também é cirúrgico, mas deve tratar a hepatopatia que provavelmente é a etiologia do cálculo. Para evitar recidiva fazer dieta com restrição proteica, alcalinizar a urina, diminuir ácido úrico em caso de cães da raça dálmata. Infecção do trato urinário (ITU) É a invasão e multiplicação de microorganismos no epitélio das várias regiões do sistema urinário como uretra, vesícula urinária, ureteres, próstata, pelve renal e néfrons. Quando a inflamação ou infecção ocorre na bexiga, chamamos de cistite, quando é nos rins, pielonefrite, quando é na uretra, uretrite, e quando é nos ureteres, ureterite. Quando falamos de ITU estamos nos referindo principalmente a cistite e pielonefrite. É mais frequente em cães do que em gatos. Em 95% dos casos a infecção pela ITU é ascendente, e em apenas 5% é via hematógena. Principal agente causador de ITU é bactéria, mas pode ocorrer por fungo, por exemplo. No sistema urinário existem mecanismos de defesa que protegem-no de invasão de microorganismos, e alterações nos mecanismos de defesa e a presença de fatores de virulência bacteriana, permitem a ascensão de patógenos no trato urinário e a sua multiplicação. Geralmente essas bactériasvem da microbiota intestinal ou da flora cutânea. Alguns fatores de defesa alterada fazem com que o animal seja predisposto a apresentar itu, por exemplo vulva infantil, ureter ectópico, persistência do uraco, fistula uretro-retal. Outras doenças levam a predisposição também, como a diabetes, hiperadrenocorticismo, doença renal, que façam com que o animal urine mais frequentemente e isso pode facilitar a colonização de bactérias no aparelho urinário. Os principais agentes causadores são E. coli (40%) staphylococcus, Streptococcus, proteus. Pode ocorrer infecções polimicrobianas, mas é raro. As bactérias possuem fatores de virulência que determinam o sucesso da infecção, algumas possuem fimbrias para se fixar, outras são produtoras de urease, etc. Existem três tipos de cistite: a subclínica, a esporádica e a recorrente. A subclínica é caracterizada pela presença da bactéria na urina mas com ausência de sintomatologia. A esporádica geralmente não causa alterações estruturais, metabólicas ou funcionais do trato urinário, causa alterações reversíveis nos mecanismos de defesa, e geram cerca de 3 episodios por ano. Geralmente trata-se com cerca de 7 dias de antibiótico. A recorrente leva aos mesmos sinais da esporádica (polaciúria, disúria, hematúria), mas aqui o animal apresenta mais episódios durante o ano, não é facilmente eliminada com um único curso de tratamento e geralmente ocorre alterações estruturais, metabólicas ou funcionais. Geralmente é aquele animal que apresenta outro agravo. Pode resultar de infecção persistente, reincidente, reinfecção ou super infecção. Se esse animal chegar a desenvolver uma pielonefrite, os sinais são mais graves, animal vai apresentar febre entre outros sinais mais sistêmicos. Para diagnosticar tanto a cistite quando a pielonefrite devemos nos atentar a anamnese, saber se são episódios recorrente, no exame físico fazer a palpação se for possível, posso fazer exame de imagem para avaliar principalmente a bexiga e os rins, se houver pielonefrite vai ser possível ver irregularidade e dilatação da pelve renal. O ideal é fazer cultura, e urina tipo 1, o melhor método de colheita seria a cistocentese para esses casos.. o tratamento vai mudar de acordo com o tempo de tratamento e quais antibióticos usar, mas os principais seriam ampicilina, amoxicilina, enrofloxacina, tetraciclina, cloranfenicol, cefalexina, nitrofurantoína, sufa com trimetropim. O ideal é que se faça teste de sensibilidade (antibiograma). Na cistite esporádica tratamento de 7 a 10 dias, evitar doxiciclina e metronidazol. A cistite recorrente deve ser tratada por 6 a 8 semanas, basear a escolha do antibiótico na cultura e antibiograma. O antibiótico não pode ter potencial tóxico, evitar sulfa e cloranfenicol (mielotóxico). Enfermidades da cavidade nasal Principal sinal da cavidade canal é a secreção nasal, podendo ser relacionada a doenças do trato respiratório inferior grave ou doenças sistêmicas (principalmente sanguinolenta – como a hipertensão causa). A secreção serosa pode ser normal mas se estiver em excesso pode indicar infecção viral ou inicio de secreção mucopurulenta. A secreção mucopurulenta se forma principalmente porque a cavidade nasal está úmida e quente pela secreção serosa excessiva, e esse é um ambiente propicio para bactérias oportunistas. Ainda pode envolver infecções virais, infecções fúngicas, neoplasias e corpos estranhos, isso tudo ainda pode ter associado com hemorragia. Ainda pode ser em decorrência de doenças orais como já vimos, e rinites. A secreção hemorrágica (epistaxe) é o sangue puro saindo da cavidade nasal, geralmente pensamos em trauma agudo ou neoplasia, mas também pode estar relacionado a trombocitopatias (babesiose, erliquiose), coagulopatias, hipertensão sistêmica. Temos que avaliar o curso da secreção nasal, sendo agudo ou crônica, unilateral ou bilateral. Para avaliar se é bilateral temos o teste com lâmina de vidro, em que aproximamos a lâmina de cada uma das narinas do paciente e avaliamos se há secreção. Com isso podemos descartar algumas possibilidades, como corpo estranho e neoplasias que geralmente vão causar secreção unilateral, enquanto que doenças sistêmicas e infecciosas seriam mais provável de ser bilateral. Avaliação da cabeça e da cavidade oral são importantes, além de avaliar o trato respiratório inferior. Lembrando que podemos ter evolução (uma secreção unilateral evolui para bilateral) e também regressão, em que temos secreção bilateral que involui para unilateral. Os espirros são uma liberação explosiva de ar vindo dos pulmões. O esporádico é normal, mas o persistente devemos estar atento a corpo estranho, infecção do trato respiratório superior (gatos), produtos irritativos, pneumonyssoides caninum. Atentar sempre ao histórico e evolução desses episódios. O espirro reverso é uma inspiração ruidosa e forçada causada por irritação nasofaríngea, corpo estranho dorsal ao palato mole, comum em raças pequenas e com episódios paroxísticos. O estridor é aquele ronco áspero, agudo e audível, associado com a respiração (síncrono), causado por obstruções nasais ou doença faríngea. O espirro crônico é quando há um animal que espirra o tempo todo, o dia inteiro. Um espirro paroxístico são crises isoladas de espirro (espirra um atrás do outro por um curto período de tempo). Ambos são anormais. Infecção por herpesvirus/calicivirus felino: acomete o trato respiratório superior de felinos, e é muito comum na rotina, o que causa a infecção nasal é o herpesvírus tipo 1 ou rinotraqueíte viral, é um herpesvirus que o animal vai ter pra sempre e quando cai a imunidade o animal volta a manifestar sintomas. A transmissão ocorre por contato direto, por meio de secreções e lambeduras. Também pode ocorrer por fômites (transmissão indireta). Tem alta prevalência em gatis uma vez que os animais vivem juntos e dividem alimento, água, caixas de areia. Causa secreção nasal serosa e podendo ficar mucopurulenta, febre, espirros, anorexia que leva a desidratação, alguns animais podem ter alterações oculares (em caso de herpesvírus pelo tropismo pelas células do olho), e ulcerações orais. Diagnóstico é principalmente por histórico e sinais clínicos, pode ser feito imunofluorescência, PCR, citologia com cultura bacteriana, mas geralmente não é pedido. Geralmente a doença é autolimitante, mas pode ser que necessite um tratamento de suporte se o caso estiver agravado. Fluidoterapia para desidratação, suporte nutricional para combater a anorexia, pode fazer vaporização naqueles animais que tiverem excesso de secreção. Pode entrar com fenilefrina 0,25% 1 gota SID intranasal por 3 dias. Pode entrar ainda com uma antibioticoterapia para evitar que haja uma infecção bacteriana oportunista secundária, no caso de animais debilitados e imunossuprimidos. Posso usar amoxicilina com clavulanato, ampicilina ou azitromicina (não é bom usar como profilaxia porque é muito potente). Posso usar Lisina na alimentação (500mg/gato bid). Pode prevenir com vacinação com vírus modificado (8-10 semanas de vida, segunda dose 12-24 semanas). Reforço anual para gatos com acesso a rua e reforço de 3 em 3 anos para gatos criados indoor. Neoplasias nasais: temos principalmente o carcinoma de células escamosas em gatos e o tumor venéreo transmissível nos cães. A idade pode ser variada porque o TVT pode acometer animais bem jovens. Geralmente há secreção nasal mucopurulenta podendo evoluir para hemorrágica e pode ser uni ou bilateral. Geralmente causa estridor pela obstrução das vias aéreas, ainda espirros e invasão e deformação do nariz. Diagnostico é baseado em sinais clínicos, histórico, exames complementares, atentando de que CCE acomete mais animais de pele clara, TVT acomete animais que tiveram contato sexual recente, etc. como exames complementares podemos começar com citologia por imprint, paaf, e ainda pode fazer histopatológico para confirmação. O tratamento para o tvt é quimioterapia, para cce pode ser feito criocirurgiaou cirurgia extirpativa mas é muito complicado dependendo da extensão das lesões. Aspergilose nasal: causada por aspergillus fumigatus, que é um patógeno oportunista que habita a cavidade nasal de cães quando esses estiverem imunossuprimidos, mas a exposição excessiva ao aspergillus causa imunossupressão. Causa destruição e necrose da mucosa nasal, além de osteomielite do seio frontal. É mais comum em áreas frias e úmidas. É mais comum em animais machos e jovens, mesocefálicos e dolicocefálicos e é raro em gatos. Causa secreção nasal mucopurulenta com hemorragia e pode ser uni ou bilateral (geralmente bilateral). Causa espirros, sensibilidade a palpação, despigmentação e ulceração da narina e alterações em TRI. Diagnostico baseado na anamnese, sinais clínicos, exames complementares pode ser feito radiografia podendo visualizar zonas líticas associada a radioluscência da porção nasal, o seio frontal é o mais acometido. Pode fazer ainda rinoscopia, podendo visualizar erosão dos turbinados nasais e placas fúngicas, coleta de amostras para citologia e cultura. Pode usar tomografia computadorizada, observando destruição dos turbinados nasais. Todos esses procedimentos devem ser feitos com os pacientes anestesiados. Pode ainda fazer cultura fúngica mas é difícil de conseguir um resultado fiel, é melhor confiar nos exames de imagem que são mais fidedignos. Ainda pode fazer titulação de anticorpos que é uma avaliação indireta e quando há um resultado positivo, quer dizer que houve uma resposta imune ao agente. Tem sensibilidade de 67%, o que consideramos uma boa sensibilidade. O melhor tratamento que dispomos é tópico, com clotrimazol 1% em infusão contínua por 1 hora. Entretanto necessita anestesia, usa sonda de foley e esponjas na orofaringe. Insere sonda urinária em meato dorsal e é interessante colocar outra sonda foley, dessa vez no nariz. Deixa animal 15 minutos em decúbito dorsal e injeta 30ml de clotrimazol, a sonda de foley vai drenar o excesso quando encher a cavidade nasal. Depois lateraliza o animal e deixa mais 15 minutos. Em seguida lateraliza para o outro lado e deixa mais 15 minutos. Finalmente você volta para decúbito dorsal e deixa mais 15 minutos. Em cada tempo você aplica 30ml de clotrimazol. Depois disso tudo você deixa o animal em decúbito esternal para drenar o excesso (focinho para baixo). Repetir o tratamento em 2 semanas se os sinais persistirem, mas geralmente uma vez só resolve. Existe risco de pneumonia aspirativa nesse tratamento e também meningoencefalite se for introduzido muito fundo. Criptococose nasal: infecção fúngica mais comum dos gatos, é causada por cryptococcus neoforms e a infecção ocorre pela inalação do fungo. Geralmente vai trazer sinais clínicos em animais imunossuprimidos. Como sinais temos secreção nasal serosa a mucopurulenta, podendo haver hemorragia e podendo ser uni ou bilateral. Pode causar espirros e ainda pode haver lesões granulomatosas nas narinas, causando deformidade facial. Além disso causa outros sinais inespecíficos como febre, linfoadenomegalia, convulsão, ataxia. O diagnóstico é feito principalmente pelo histórico e sinais clínicos e pode ser feitos exames complementares, como radiografias da cavidade nasal em que vemos aumento da densidade dos tecidos, além de lise no osso nasal. Na citologia ou histopatologia da secreção nasal ou punção aspirativa pode ser encontrado o fungo. Pode haver outros sinais no hemograma, como anemia arregenerativa e monocitose, pode pedir cultura fúngica mas tem que interpretar com cuidado porque um resultado positivo não necessariamente indica que o animal está doente, assim como pode ocorrer um falso negativo. Pode fazer ainda o teste de aglutinação antigênica, que tem alta sensibilidade e especificidade. O tratamento é feito com itraconazol (5mg/kg bid por 60 dias), ou com cetoconazol (10mg/kg) bid/sid, anfotericina B (0,25mg/kg iv 3x na semana ou 0,5mg/kg subcutâneo na mesma frequência) as injetáveis quando houver infecção sistêmica grave. faz acompanhamento quinzenal ou mensal dependendo do animal e avalia a melhora clínica e os efeitos colaterais. Rinite alérgica: consiste na hipersensibilidade a antígenos no ar ou ainda na alimentação. É comum em cães e gatos atópicos. Causa espirros agudos ou crônicos que pioram em condições específicas. Gera secreção nasal serosa podendo evoluir para mucopurulenta. O tratamento consiste na retirada do alérgeno, ainda pode ser administrado anti-histamínico (cetirizina 2mg/kg sid 3 a 4 dias cão e 1mg/kg sid 3 a 4 dias gato) ou ainda glicocorticoide (prednisona 0,25mg/kg bid) necessita desmame. Doença laríngea: comum animal se apresentar dispneico mas a frequência respiratória é normal. Se tiver dispneia inspiratória e expiratória vou pensar em neoplasia laríngea que estará obstruindo a passagem do ar. Estresse ou exercício pioram o quadro porque causa aumento da pressão negativa na laringe e isso faz com que os tecidos moles sejam tracionados em direção a luz da laringe, que gera uma inflamação e edema que dificulta ainda mais a passagem de ar. É possível que haja estridor pela turbulência de ar na passagem laríngea. Pode haver alteração de voz que é específica para doença laríngea mas é de difícil percepção. Síndrome do braquicefálico: é um conjunto de fatores causados por alterações anatômicas comuns em raças braquicefálicas, como narinas estenóticas, alongamento de palato mole, hipoplasia de traqueia e eversão dos sáculos laríngeos faz com que o animal tenha que se esforçar muito mais para respirar. Normalmente as raças mais acometidas são bulldog inglês, bulldog francês, pug, Boston terrier. Ainda gatos de face curta como os himalaios, persas. O animal vai apresentar dispneia, sons respiratórios estranhos (roncos), cianose e síncope. Diagnostico é por histórico e sinais clínicos além de exames complementares como laringoscopia, mas necessita que o animal esteja anestesiado e permite a visualização da laringe. O tratamento consiste na melhora da passagem de ar pela laringe, sendo feito apenas em animais com condições mais graves, que apresentem sinais de cianose e síncope. Indicamos prednisona 0,5 mg/kg BID até a melhora dos sinais clínicos e necessita desmame. Em casos emergenciais deve ser suplementado o o2, fazer controle do peso e observar as alterações gastrointestinais. Paralisia laríngea: ocorre que a aritenóide não faz movimento de abdução durante a inspiração, ocorrendo que as vezes ela inclusive faz o momento contrário e a passagem de ar ficar obstruída. Ocorre por traumas cervicais e torácicos anteriores, doenças imunomediadas, neoplasias, miastenia gravis e idiopática (mais comum). Dispneia que piora com exercício, estridor, mudança na voz, cianose e síncope são sinais clínicos, além disso é mais comum em cães adultos de grande porte. Pode fazer laringoscopia no animal anestesiado e vai ser possível visualizar movimento das cartilagens aritenóides na inspiração e na expiração. Enfermidades traqueais Geralmente as enfermidades traqueais trazem sinais como tosse, seja por irritação traqueal, seja por inflamações, por compressão (coleiras muito apertadas), as tosses podem ser improdutivas ou produtivas, produtivas quando há presença de muco, exsudato ou sangue (hemoptise). A tosse alta, áspera a paroxística indica problema na traqueia ou nos brônquios. Pode ser feito lavado traqueal para detectar alguma enfermidade traqueal, para isso é necessário que o animal esteja sedado (não requer anestesia), fazer assepsia e tricotomia local e insere um cateter longo até a carina 4° espaço intercostal. Animal deve ficar em estação ou sentado. A cabeça estendida em direção ao teto e aí pelo cateter inserimos 3,5ml de solução fisiológica estéril de 4 a 6 vezes de repetição. Traqueobronquite infecciosa canina: é a tosse dos canis e geralmente tem mais de um agente envolvido na infecção. A doença é transmitida pelo contato direto com secreções do trato respiratório (tosses, espirros,narinas, fômites). É altamente contagiosa, por isso a alta densidade populacional (canis) favorece a propagação da doença. É autolimitante, devendo sumir em aproximadamente 2 semanas e raramente é severa ou fatal. Mas pode causar problemas para animais muito novos que não tenham a imunidade adequada. O principal sinal clínico é a tosse, que pode ter variável curso e duração, normalmente é mais exacerbada durante o exercício ainda mais pela presença da coleira, pode haver secreção nasal de conteúdo variável, e no exame físico ao palpar a traquéia temos o reflexo da tosse, alguns animais podem vir com histórico de vômito pela compressão abdominal causada pela tosse. Uma informação importante é saber se esse animal teve contato com outros animais, passeios, adotados em canis, etc. geralmente não se pede exame complementar, fecha o diagnóstico com anamnese e sinal clínico. Como é uma doença auto limitante não precisa se preocupar tanto com o tratamento. Nos animais que tem tosse improdutiva e ficam mais debilitados podemos usar supressores de tosse, como butorfanol, codeína, dextrometorfan, associados ou não com broncodilatadores. Se tiver tosse produtiva não administra antitussígeno porque o corpo está cumprindo o papel de expelir. Antibióticos não são recomendados a não ser que haja envolvimento do pulmão ou sistêmico, dai pode usar amoxicilina com clavulanato, enrofloxacina, cloranfenicol, azitromicina. Pode fazer nebulização se o proprietário tiver condições. Como método preventivo devemos orientar o proprietário a fazer vacinação do seu animal (v8 ou v10), diminuir a exposição do animal porque o vírus persiste por até 3 meses. Colapso de traqueia: consiste no estreitamento do lúmen traqueal, podendo ser na traqueia extratorácica ou intratorácica. Geralmente ocorre pela fragilidade dos anéis cartilaginosos. Se houver comprometimento dos brônquios chamamos de traqueobroncomalácia. A patogênese é incerta, mas pode haver um fator genético que influencie principalmente pela deficiência de glicoproteína e glicosaminoglicanos, também o fator inflamação e capacidade de gerar secreção. Geralmente se apresenta em animais adultos ou idosos de raças pequenas e gera uma tosse paroxística aguda,/crônica, parecido com um grasnar de ganso, que piora com exercício ou excitação. Gera angústia respiratória e sinais sistêmicos são incomuns. Diagnostico é feito peito histórico e exame físico, podendo ser feitos exames complementares. No exame físico podemos palpar a traqueia cervical, podendo haver o estímulo de tosse. Mas se não houver não significa que não há colapso, porque porque estar na porção mais torácica. Quando é na cervical geralmente o esforço é inspiratório e quando é torácico o esforço é mais expiratório. Alguns casos podemos ouvir estridores pulmonares quando auscultar. Pode fazer radiografia., fluoroscopia induzindo a tosse para uma melhor avaliação e ainda a broncoscopia, que é uma avaliação mais sensível mas deve ser feita com animal anestesiado, com esse é possível determinar o grau da doença. O tratamento clínico consiste em perda de peso, evitar uso de coleiras, oxigenioterapia nos animais cianóticos. Pode usar antitussígenos mas não de forma contínua, diminuindo dose frequência com o tempo. Só usar nas crises. Os broncodilatadores podem ser usados nos casos que há associação com bronquite crônica. Ainda é possível utilizar corticoide (prednisona bid 5 dias) necessitando de desmame farmacológico. Pode ser feito tratamento cirúrgico em pacientes graves ou que não respondem ao tratamento. Trauma traqueal: comumente relacionada a ruptura, geralmente por mordedura ou iatrogênica. Se apresenta como um enfisema subcutâneo no pescoço, sinais de dispneia por pneumotórax e estenose da traqueia. Na radiografia vemos enfisema peritraqueal generalizado, com alargamento focal no local da ruptura. Pode fazer broncoscopia em que vemos descontinuidade da traqueia. Clinicamente só podemos controlar a dor e controlar o enfisema, dor com aines e analgésicos, o enfisema podemos fazer aspirado com agulha e bandagem compressiva. O único jeito de corrigir definitivamente é com cirurgia. Doenças dos brônquios e pulmão Bronquite crônica canina: é resultado de um processo inflamatório crônico, causado por infecção, alergia, toxinas ou irritativos inalados, principalmente para cães que os proprietários são fumantes. Causa hipersecreção que obstrui as vias aéreas inferiores. Os mediadores inflamatórios promovem maior sensibilidade da via aérea. Isso gera uma tosse de longo prazo. Gera tosse alta e ruidosa e gera dúvida e pode ser confundido com colapso de traqueia. Apesar de haver produção de secreção não significa que haverá tosse produtiva. Geralmente as tosses ficam piores pela manhã ou após exercício, gera sensibilidade traqueal e não há sinais sistêmicos. Diagnostico pode ser feito com anamnese e sinais clínicos além de que pode ser feito lavado broncoalveolar, podendo ver inflamação neutrofílica. Quando houver grande presença de eosinófilos podemos dizer que a causa da bronquite é alérgica. Além disso vai ser possível visualizar grande quantidade de muco. Outro exame que podemos solicitar é a broncoscopia, que vai ser possível ver grande quantidade de muco, hiperemia das mucosas, colapso durante a expiração e bronquiectasia. Não existe tratamento definitivo, apenas controle das manifestações clínicas. Se a causa for alérgica, devemos retirar os irritantes (fumaças, perfumes, limpeza de carpetes e tapetes), retirar causas de estresse. Pode fazer nebulização de 3 a 4 vezes ao dia se for um dia que o animal estiver atacado. Outra indicação seria a perda de peso, pois a obesidade piora o quadro. Para casos mais graves podemos utilizar anti-inflamatórios esteroidais (prednisona 0,5-1mg/kg BID 5 dias – necessário desmame). Pode usar broncodilatadores para reduzir sinais clínicos (aminofilina 11mg/kg bid até melhora clínica). Pode usar antitussígenos mas não é recomendado, justamente porque é importante que se elimine o muco e se eu uso antitussígeno não há como eliminar o muco e ele acaba ficando parado e ressecando o trato. Antibióticos não entram no protocolo normal mas se houver infecção no lavado bronquiolar deve usar enrofloxacina (2,5-5mg/kg TID por 14 dias) Bronquite felina: causada por asma felina ou bronquite idiopática. Diferente do cão, podemos classificar a evolução da doença. O primeiro estágio seria a asma brônquica em que ocorre obstrução reversível causada por broncoconstrição e hipertrofia do musculo liso, com hipersecreção de muco e inflamação eosinofilica mas geralmente é um achado acidental. A segunda fase é a bronquite aguda, em que ocorre inflamação reversível menor que 3 meses com hipersecreção de muco e inflamação neutrofílica ou macrofágica. A próxima fase é a bronquite crônica, em que a inflamação supera os 3 meses e já é irreversível porque faz fibrose. Ocorre hipersecreção de muco, inflamação neutrofílica e presença de bactérias, geralmente possui asma brônquica concomitante. Chama atenção aqui porque há enfisema concomitante, pela destruição bronquiolar. Os sinais clínicos mais comuns são a dispneia principalmente expiratória, ortopneia, cansaço fácil, e esses sinais aparecem em gatos de qualquer idade. Outro sinal seria a tosse que as vezes é confundido com os sinais prodrômicos do vômito. Podemos ainda constatar sibilos e cianose (se ver cianose tem que correr ao veterinário porque é uma emergência). Muitas vezes já pelo histórico e sinais clínicos já iniciamos o tratamento, mas as vezes podemos pedir radiografia, que podemos ver padrão bronquial, pulmão hiperinflado, atelectasia do lobo pulmonar médio direito. Existem casos em que as radiografias se encontram normais. Ainda posso pedir um lavado bloncoalveolar em animais que estiverem estáveis o suficiente, podemos ver presença excessiva de muco quase fechando o diagnóstico só com isso, mas devemos fazer uma avaliação citológica para ver o tipo de populaçãocelular presente, sendo geralmente eosinofílica, mas se houver acometimento de infecções secundárias vemos macrófagos e neutrófilos (fase mais crônica da doença). No hemograma pode ter eosinofilia, mas não devemos levar isso como regra. O tratamento emergencial (paciente que estiver com ortopneia, cianose) devemos fazer estabilização rápida do paciente. Podemos aplicar terbutalina subcutânea 0,01mg/kg. Ainda succinato de prednisolona 10mg/kg intramuscular ou intravenosa em animais que estiverem mais comprometidos, com muita dispneia. (discutível) Colocar o animal numa gaiola de oxigênio 2-5L /min mas cuidado com o risco de aquecimento que pode piorar o quadro. Se não conseguir usar o broncodilatador subcutâneo pode fazer nebulização com albuterol que também é um broncodilatador mas necessita de aparelho específico de nebulização (100ug por inalação). Assim que animal estiver estável partimos para os exames complementares para fechar o diagnóstico e iniciar tratamento domiciliar, que consiste primeiramente em manejo ambiental, retirar possíveis focos irritativos ou alérgenos, limpeza de tapetes e carpetes. Os anti inflamatórios esteroidais fornecem alivio das manifestações clinicas, com prednisolona (0,5-1mg/kg BID 7 dias e desmame 0,5mg/kg q 48h) e propionato de fluticasona (220ug bid) associado a prednisolona ou broncodilatador. Se animal por exemplo for diabético e fizer uso de insulina, podemos sugerir a inalação por bombinha de asma adaptada (2x ao dia). Os broncodilatadores diminuem a dose dos corticoides. Pode usar teofilina 4mg/kg vo bid, aminofilina 5mg/kg vo bid ou terbutalina 0,3-0,6mg/gato vo bid. Os antibióticos normalmente não fazem parte do tratamento mas se for constatado infecção secundária podemos usar doxicilina. Pneumonia bacteriana: normalmente ocorre por uma associação de bactérias (bordetella bronchiseptica, Streptococcus, staphylococcus, escherichia coli, pasteurella, etc). é mais comum em cães, animal apresenta tosses discretas, esporádicas, produtivas. Animal pode apresentar secreção nasal mucopurulenta e bilateral (é a porta de entrada das bactérias). Dispneia (intolerância ao exercício), e ainda sinais sistêmicos como letargia, anorexia, febre e emagrecimento. Diagnostico é pelo histórico, exame físico e exames complementares ajudam muito nesse caso, notamos crepitação na ausculta pulmonar, mais evidentes nas regiões mais ventrais e craniais (geralmente causados pela entrada de bactérias pelas vias aéreas e cavidade oral), e quando é mais evidente nos lobos caudais ou difuso provavelmente a chegada das bactérias foi via hematógena. É possível vermos sibilos expiratórios na ausculta. Na radiografia é normal vermos um padrão intersticial nas fases mais iniciais da infecção, e quando houver um padrão alveolar constatamos uma fase um pouco mais avançada da doença. Devemos avaliar se há doenças primárias ou até sistêmicas que seja compatível com essa infecção. Ainda pode solicitar hemograma sendo possível em alguns casos ver leucocitose por neutrofilia com desvio a esquerda e monocitose. O tratamento ideal é que se faça cultura e antibiograma e dai se baseie o tratamento, mas nem sempre é possível então entramos com antibiótico de amplo espectro, geralmente amoxicilina com clavulanato de potássio 20-25mg/kg tid 14 dias. Cefalexina 20-40mg bid/tid 14 dias, enrofloxacina 5mg/kg bid 14 dias. Considerar uso intravenoso em suspeita de sepse. Sempre orientar o proprietário que o ideal é fazer lavado bronquial e cultura para fazer antibiograma, mas nem sempre vão aceitar. Pneumonia viral: geralmente ocasionada por traqueobronquite infecciosa (tosse dos canis), levando a uma infecção bacteriana secundária. Também pela cinomose pode ocorrer infecção bacteriana secundária, ainda mais porque se prolifera em épocas frias e secas. O histórico e sinais clínicos geralmente deixam bem claro a infecção do animal, geralmente vai ser um animal não vacinado em condições sanitárias ruins, apresentando os sinais clínicos de infecção respiratória. Mas ainda podemos solicitar hemograma, teste rápido de cinomose. (?) o tratamento depende se houver infecção bacteriana ou não (secreção mucopurulenta), entramos com os mesmos antibióticos da infecção bacteriana. No caso de cinomose podemos fazer vacinação terapêutica mas não existe comprovação de que funcione. Pneumonia fúngica: blastomicose é mais comum no cão e Histoplasmose mais comum no gato. Leva a tosse e dispneia, com desenvolvimento lento e progressivo e ocasionando sinais sistêmicos, febre, perda de peso, linfadenopatia, evoluindo para uma infecção bacteriana secundária porque ocasiona imunossupressão. Pneumonia aspirativa: acomete cães e gatos de qualquer idade, geralmente associados com uma doença base (vômito ou regurgitação) cursando com sinais respiratórios agudos. Animal apresenta dispneia grave, tosse aguda, crepitações e sibilos (cranioventral), sinais sistêmicos dependem da doença base. Na radiografia podemos ver padrão broncoalveolar e consolidação e padrão intersticial em casos crônicos. O lavado broncoalveolar raramente vai ser feito, apenas para descartar outras doenças. A broncoscopia serve para remover material sólido ou succionar o material líquido, mas deve ser feita com animal anestesiado, mas não é comum também. Normalmente usa antibiótico de maneira profilática (amoxicilina com clavulanato 20- 25mg/kg tid 7-14 dias) o tratamento principal seria identificar e tratar a doença base, fazendo acompanhamento radiográfico. Pneumonia eosinofílica: mais comum em gatos e geralmente secundário a bronquite. Animais vem com histórico de tosse progressiva, dispneia e intolerância ao exercício, crepitações e sibilo, sinais sistêmicos são incomuns. Tratamento é basicamente fieto com corticosteroides (prednisona 1-2mg/kg bid) e quimioterapia se o animal apresentar granulomatose (ciclofosfamida) Parasitas pulmonares: o principal é o aelurostrongylus abstrusus e é mais comum em gatos, tem como hospedeiros intermediários caramujos e lesmas, que podem ser ingeridos diretamente pelo gato ou ainda podem passar por um outro hospedeiro (aves e pequenos mamíferos) para depois serem ingeridos pelos gatos. Parasita fica no parênquima pulmonar e leva a uma resposta inflamatória que leva aos sinais clínicos. Para tratamento usa fembendazole 25-50mg/kg sid 14 dias ou ivermectina 400ug/kg subcutâneo mas não é tão eficaz. Pode usar broncodilatador e glicocorticoides se houve bronquite felina associada. Afecções do espaço pleural, mediastino e diafragma A pleura é a túnica serosa que reveste a superfície torácica e pulmonar, dividida em pleura visceral e parietal. Efusão pleural: acúmulo de líquido no espaço pleural com comprometimento da expansão pulmonar, animal apresenta intolerância ao exercício, taquipneia, abafamento dos sons respiratórios. Pode ser classificado como transudato puro, transudato modificado e exsudato asséptico, exsudato séptico, efusão quilosa ou efusão hemorrágica. O transudato puro é o mais comum e é um líquido com baixa concentração de proteínas, baixa contagem de células nucleadas ocorre pela diminuição da pressão plasmática oncótica, geralmente por hipoalbuminemia. Pneumotórax: acúmulo de ar no espaço pleural, fazendo com que não haja mais pressão negativa na mesma. A forma mais comum é que ocorra pneumotórax traumática por lesão na parede torácica mas pode ocorrer um pneumotórax espontâneo, levando a ruptura pulmonar por vesículas, cistos que pressionem o pulmão ou infecções das vias aéreas. Toracocentese: procedimento clínico para remover líquido pleural, ou ainda ar da cavidade pleural e fazer colheita e amostra de efusão pleural. Animal deve estar em decúbito lateral ou esternal, puncionamos entre 7° espaço intercostal e 2/3 entre a articulação costocondral e a coluna, preferencialmente tendo uma avaliação radiográfica prévia ou guiado por ultrassom. Necessita de anestesia local ou sedação principalmente para animais não cooperativos.
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