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Diacronia Interna e Externa da Língua Portuguesa aula 5 e 6

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Diacronia Interna e Externa da Língua Portuguesa aula 5 e 6 
 
AULA 5 
O PORTUGUÊS MODERNO 
Nesta aula veremos os últimos cinco séculos de história da língua portuguesa. Em relação à 
diacronia interna, a língua passou por muitas alterações nesses últimos quinhentos anos. 
Elas explicam as confusões ortográficas atuais entre <c> e <s>, entre <s> e <z>, entre <x> e 
<ch>, alguns ditongos e monotongos, o “s chiado do carioca” etc. Em relação à diacronia 
externa, vamos iniciar nossa jornada no Reino de Portugal, passando pela perda das 
colônias do Império Português, pela Independência do Brasil e terminaremos nos dias de 
hoje, focando em parte do mundo lusófono (Portugal, África e Ásia), o Brasil será o foco da 
próxima Aula. 
 
Começamos no século XVI, época em que a Europa passava por grandes transformações: 
invenção da imprensa, com consequente difusão da cultura e publicação de livros, 
gramáticas e dicionários; o Renascimento Cultural, com a produção dos maiores autores da 
história: Shakespeare, Cervantes, Dante Alighieri, Leonardo Da Vinci, Luís de Camões; a 
Reforma Protestante, com a consequente divisão da Igreja Católica e a posterior 
Contrarreforma; várias nações se lançando ao mar, com a consequente descoberta da 
América e sua colonização, entre muitos outros eventos. Vejamos, detalhadamente, cada 
um desses eventos. 
 
Não apenas Portugal, mas toda a Europa passava por grandes transformações nessa 
época. Era o fim da Idade Média, os mouros já haviam sido expulsos da península e os 
reinos europeus começavam a se formar. Nessa época, a maior invenção até então, a 
imprensa, por Guttemberg, permitiu uma maior divulgação de ideias. Até então, os textos 
circulavam por meio de livros manuscritos. Eram todos copiados a mão e os exemplares 
eram raros e escassos. Com a imprensa de tipos móveis, os livros passaram a ter grandes 
edições com numerosas cópias, o que barateou a produção e o consumo. O primeiro livro 
publicado por Gutemberg foi a Bíblia. 
 
Se a Idade Média representou a “Idade das Trevas”, em que o conhecimento era escasso, 
restrito ao clero e circulava pouco entre as pessoas comuns, teremos a partir do século XVI 
grande difusão de conhecimento. Com o Renascimento Cultural, os intelectuais da Europa 
voltam-se à Antiguidade Clássica, estudando a cultura greco-romana. Esse caldo cultural 
deu aos estudos linguísticos grande impulso nessa época. Foram publicados os primeiros 
dicionário de latim-português, de português, as primeiras gramáticas da língua portuguesa e 
de outras línguas. 
 
O Império Português, iniciado século antes, em 1415 com a conquista de Ceuta, norte da 
África, é considerado por alguns historiadores como uma continuação da guerra da 
reconquista contra os mouros, já que começou justamente com a conquista de um território 
dos muçulmanos. O expansionismo português continuou por séculos, não apenas graças a 
Vasco da Gama, o herói dos Lusíadas, mas também a muitos outros navegadores. Ainda no 
século XV, Gil Eanes foi um desses navegadores que, após o aperfeiçoamento das 
caravelas, ultrapassou pela primeira vez o Cabo Bojador, no Marrocos, local mencionado no 
poema de Fernando Pessoa que você lerá mais adiante. Anos depois, os navegadores 
ultrapassaram a linha do Equador rumo ao sul. Diogo Cão foi o primeiro a fazer contato com 
o Reino do Congo, na África. Bartolomeu Dias foi o primeiro a cruzar o Cabo da Boa 
Esperança. 
 
Como Cristóvão Colombo descobriu a América em 1492, em nome do Reino da Espanha, 
Portugal se empenhou na assinatura do Tratado de Tordesilhas, que dividiu o mundo entre 
portugueses e espanhóis. Seis anos depois, Vasco da Gama chegou às Índias, inaugurando 
uma nova rota comercial entre Índia e Europa. Poucos anos depois, os portugueses já 
haviam dominado o Oceano Índico. Foi nomeado um vice-rei português na Índia, uma capital 
portuguesa no Oriente, Goa, na Índia. Daí navegadores como Fernão de Magalhães 
passaram a explorar a Oceania, conquistando as Ilhas Molucas. Até hoje se fala português 
em Timor Leste, um dos países mais jovens do mundo, localizado em parte de uma Ilha que 
outrora pertenceu à Indonésia. 
 
Figura 12. Vasco da Gama na Índia. 
 
 
 
Em 1542, os portugueses chegaram ao Japão e ajudaram a fundar a cidade de Nagazaki. O 
contato entre japoneses e portugueses foi muito forte. Foram publicadas em Portugal as 
primeiras gramáticas da língua japonesa. Palavras japonesas que entraram em português 
foram samurai, gueixa, haraquiri, biombo, entre outras que você vai aprender na aula 
escrita. Da mesma forma, muitas foram as palavras portuguesas que entraram em japonês: 
arukooru (álcool), kirishitan (cristão), shaban (sabão), são apenas algumas delas. Nessa 
época, os chineses permitiram que os portugueses se instalassem em Macau. Esta, por 
sinal, foi a última colônia portuguesa perdida, que deu fim ao Império Português em 1999, 
com a devolução de Macau à China. Os portugueses criaram então uma rota comercial 
triangular entre China, Japão e Europa. Com colônias na China e no Japão, os portugueses 
estabeleceram, no final do século XVI, o primeiro império global da história. 
 
Na literatura, o período literário dessa época é o Classicismo, em Portugal e no restante da 
Europa, e o Quinhentismo, no Brasil. Em Portugal, em 1572, inspirado em toda a 
grandiosidade do Império Português que vivenciava, Camões publica sua obra máxima: Os 
Lusíadas, poema épico com 8.816 versos decassílabos. Inspirado nas epopeias gregas e 
romanas, como A Ilíada, A Odisseia, Eneida, o autor mistura fatos reais com ficção. 
Camões narra o périplo africano, isto é, a circum-navegação pela África, saindo de Portugal 
rumo às Índias. Vasco da Gama é o grande herói do poema épico. Os deuses gregos se 
envolvem diretamente, mas o cristianismo é apresentado como a religião verdadeira. 
 
Figura 13. Império Português entre 1415 e 1543. 
 
 
 
Um poeta moderno, do século XX, embora não tivesse vivenciado pessoalmente a 
grandiosidade desse império, também se inspirou nessa história para escrever muitos 
versos. O poema “Mar Portuguez”, de Fernando Pessoa, mostra um sentimento de 
valorização das experiências passadas, mesmo que traumatizantes, como a perda de vidas 
durante as travessias marítimas, engrandecendo, com isso, o Império Português. 
 
Ó mar salgado, quanto do teu sal 
 
São lágrimas de Portugal! 
 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
 
Quantos filhos em vão rezaram! 
 
Quantas noivas ficaram por casar 
 
Para que fosses nosso, ó mar! 
 
 
 
Valeu a pena? Tudo vale a pena 
 
Se a alma não é pequena. 
 
Quem quer passar além do Bojador 
 
Tem que passar além da dor. 
 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
 
Mas nele é que espelhou o céu. 
 
Após o período áureo das expansões marítimas portuguesas nos séculos XV e XVI, a 
história portuguesa entrou em um período conturbado, começando pela derrota portuguesa 
em 1580, na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos. Portugal se envolveu em uma guerra 
entre sultões pelo trono do Marrocos. O rei D. Sebastião, sem herdeiros, foi morto na guerra, 
junto com os dois sultões, e alta parte da corte portuguesa. Portugal se empobreceu 
pagando pela libertação dos poucos prisioneiros de guerra. Sem herdeiro ao trono, entrou 
numa crise dinástica, em que acabou unido à Espanha, em um único reino, entre 1580 a 
1640, período conhecido como União Ibérica. 
 
Em 1640, houve a restauração do Reino de Portugal por meio de muitas guerras e 
derramamento de sangue. Algumas décadas depois, com a descoberta do ouro no Brasil e o 
início do ciclo do ouro nas Minas Gerais, tornou o rei D. João V um dos mais ricos da 
Europa. Em 1755, um forte terremoto destruiu parte de Lisboa. Marquês de Pombal, então 
Primeiro-Ministro, iniciou uma reconstrução e modernização da cidade, nos moldes 
europeus. 
 
No início do século XIX, as guerras napoleônicas trouxeram outros problemas para os 
portugueses. Em 1808, o rei, toda sua família e a nobreza fugiram para o Brasil, 
abandonando o povo português à própriasorte. Em 1820, os portugueses decidiram por 
uma nova constituição. Deputados eleitos em todos os territórios dominados pelos 
portugueses criaram as Cortes Constituintes e intimaram o rei a retornar a Portugal. Ele 
retornou, mas deixou seu filho D. Pedro I governando o Brasil. A Corte, em 1822, intimou D. 
Pedro I a deixar o Brasil e a estudar em Portugal. No dia conhecido como “dia do fico”, D. 
Pedro decidiu ficar no Brasil. No dia 7 de setembro de 1822, ao receber nova intimação de 
Lisboa, D. Pedro I rasga o documento em público e declara independência de Portugal. 
Tempos depois, aceita pagar a indenização de 2 milhões de libras a Portugal, a 
Independência é reconhecida e o Brasil e Portugal se separam politicamente. 
 
Os anos seguintes, em Portugal, foram marcados por disputas de poder entre membros da 
família real. A monarquia começou a ruir ao fim em 1908, com a morte do rei e seu herdeiro 
que gerou nova escalada de violência e crise política. Em 1910 foi declarada a República, 
que não resolveu muitos problemas. Esse período conturbado de apenas dezesseis anos 
(1910-1926) teve nove presidentes e 45 governos. 
 
Portugal mergulhou em uma ditadura por mais de 50 anos. Salazar, que governou de 1928 a 
1968, é o mais conhecido nome desse período nebuloso, em havia um partido único (União 
Nacional), censura e proibição das greves. O país se declarou neutro durante a Segunda 
Guerra Mundial, embora houvesse tendências fascistas em Salazar. Com o fim da guerra e 
a crescente crítica às colônias, o país se envolveu em outros conflitos. A Índia lutava pela 
independência do governo britânico, mas Portugal se recusava a devolver seus domínios 
nesse território. Na África, conflitos estouraram em Angola, Moçambique e outras colônias, o 
que gerou uma guerra com milhares de mortos e empobrecimento de Portugal. 
 
Em 1974 aconteceu a Revolução dos Cravos, em que pacifistas colocavam cravos nas 
armas dos militares. O crescente descontentamento do povo com as guerras anticoloniais 
africanas levou ao fim da ditadura e ao início da redemocratização. Nos anos 70, os países 
africanos, de língua portuguesa, foram, um a um, declarando sua independência. Em 1999, 
com a devolução de Macau à China, chegou o fim do Império Português. 
 
Portugal entra no século XXI unido à União Europeia e, lentamente, se recuperando de 
conturbados períodos históricos. O país continua culturalmente ligado às ex-colônias na 
África, Ásia, e América, devido à língua em comum que nos legou. 
 
Em relação à diacronia interna, devemos observar que no século XVI, um dos fenômenos de 
mudança da língua foi a ditongação de vogais que anteriormente haviam sido ditongos. 
Existe um movimento pendular de ditongo a monotongo e a ditongo novamente, e assim 
sucessivamente. A palavra “ouro”, por exemplo, é pronunciada pela maioria dos falantes 
como [o]ro, e por uma minoria como [ow]ro. A primeira é pronúncia padrão, a segunda pode 
ser regional, estigmatizada ou fruto de hipercorreção. Havia um ditongo em latim clássico na 
palavra ouro “aurum”, que no latim vulgar virou “orum”, para no século XVII transformar-se 
novamente em “ouro”, e modernamente se monotongar em [o]ro. Ainda no século XVII 
ocorreu a mudança de pronúncia das palavras com <ch>, pronunciadas à época como 
<tch>. Nasceram daí, todas as confusões de ortografia entre <x> e <ch>, que a partir do 
século XVII passaram a ter o mesmo som. 
 
No século XVIII, ocorreu um fenômeno fonético chamado palatalização. O “s” em finais de 
sílabas, antes sibiliantes, passaram a ser chiados, ou seja, a língua passou a recuar no céu 
da boca, encostando no céu da boca (palato), daí o nome do fenômeno. A nova pronúncia 
espalhou-se por Portugal e depois para partes do Brasil, enquanto outras partes do país 
continuaram, até hoje, na pronúncia antiga. Daí, um dos traços mais característicos que 
diferencia o sotaque do paulista e do carioca é o “s” em final de sílaba. 
 
No século XIX, houve alçamentos vocálicos de ditongos em Portugal, e não no 
Brasil, o distanciou mais as duas formas do idioma. Ao longo do século XX, outras 
alterações foram ocorrendo de forma que o português do Brasil e o de Portugal, hoje, se 
diferenciam, embora possamos nos compreender. 
 
O século XXI trouxe muitas inovações, principalmente, no campo lexical. Com os novos 
conceitos vieram novas palavras, de diversas línguas: burca, talibã, tsunami, smartphone, 
drone, rede social etc. Na sintaxe, vemos também novos padrões que vão se consolidando 
de acordo com as escolhas gramaticais nos textos jornalísticos, tanto na TV quanto na 
internet e na imprensa escrita. Daqui a muitos anos, com o distanciamento temporal, será 
mais fácil visualizar todas as mudanças linguísticas que ocorreram no início deste século. 
Até o fim do século XXI, muitas mudanças na fonologia, morfologia e sintaxe acontecerão, 
pois as mudanças linguísticas não param. 
 
OBSERVAÇÃO 
Para aprofundar esses cinco séculos, você deve seguir para o estudo da aula escrita e do 
vídeo sobre diacronia interna e externa de 1500 até os dias de hoje. Veremos a diacronia 
interna e externa durante os últimos cinco séculos. Analisaremos alguns textos como um 
trecho de Os Lusíadas, de Camões, e um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha. 
Veremos ainda a consolidação da sintaxe portuguesa, que já se mostrava próxima do que é 
hoje, com a leitura de um trecho de um sermão de Padre Antônio Vieira. 
 
Ao final, perceberemos, ainda, um pouco sobre as alterações da ortografia no século XIX e 
as reformas ortográficas pelas quais a língua passou no Brasil e em Portugal. Finalmente, 
em relação ao léxico, veremos algumas das muitas palavras francesas e inglesas que 
entraram na nossa língua nos dois últimos séculos. No século XIX, tivemos grande aporte 
lexical francês, mas no século XX, com a supremacia dos Estados Unidos, um número 
expressivo de palavras inglesas entraram e continuam entrando, ainda, neste século, 
principalmente no campo semântico da tecnologia. 
 
Sintetizando 
O QUE APRENDEMOS NESTA ESTAÇÃO? 
 
 
 
» Aprendemos que a língua portuguesa foi levada a outras partes do mundo, trocando com 
diversos povos o vocabulário; 
 
» Conhecemos a Era das Gramáticas, fase do século XVI, em que as primeiras gramáticas 
da língua foram publicadas; 
 
» Vimos que Camões, o maior poeta da língua portuguesa, serviu de marco para a 
nomeação de uma nova fase da língua; 
 
» Foi no século XX que a ortografia da língua se solidificou, criando-se um padrão e, no 
século XXI, com a última reforma, Brasil e Portugal passaram a seguir a mesma ortografia. 
 
AULA 6 
O PORTUGUÊS DO BRASIL 
Nesta aula, observaremos como a nossa língua evoluiu deste lado do Atlântico. 
Imediatamente, após o Descobrimento, os portugueses não se interessaram em colonizar 
o Brasil, pois não encontraram metais preciosos. A descoberta do pau-brasil, como 
colorante de tecidos, mudou essa realidade e trouxe os colonizadores, a fundação das 
primeiras cidades e a presença da religião católica e da língua portuguesa. Nos anos 
subsequentes, a descoberta de outras riquezas como ouro, prata, pedras preciosas, e o 
uso do solo para o cultivo de cana-de-açúcar levaram à colonização e expansão do 
território. 
 
Neste local, onde hoje é o Brasil, muitas línguas eram faladas, calcula-se, hoje, mais de 
mil línguas diferentes, de diversos troncos, das quais hoje restam pouco mais de 
duzentas. Os índios se dividiam em muitas etnias, algumas com línguas incompreensíveis 
entre si, outras com línguas próximas e inteligíveis, outras com variações de línguas que 
poderiam ser classificadas como dialetos da mesma língua. 
 
Uma dessas línguas, chamada por alguns de tupi clássico, era a língua mais falada na 
costa do Brasil, e chegou a ser estudada na Europa por muitos aventureiros que já 
chegavam aqui dominando o idioma, mesmo sem contato prévio com os índios. O fato de 
que eles se comunicavam, prova que a gramática de José de Anchieta da língua tupi de 
fato descrevia uma línguareal, e não uma língua inventada como defendem muitos 
acadêmicos nos cursos de Letras. Do contato entre portugueses e índios, muitas palavras 
entraram em nossa língua, além de palavras portuguesas entrarem nas línguas 
indígenas. 
 
Hoje, são muitas as palavras de origem indígena presentes no português do Brasil e até 
mesmo em outras línguas, como a palavra francesa “boá” que significa sucuri, e veio do 
tupi “mboy” cobra, ou a palavra inglesa “manioc” para mandioca, também do tupi 
“manioka”. No Brasil, vemos, sobretudo, a herança tupi na toponímia. 
 
Dos 26 estados brasileiros, metade tem nome de origem indígena. São de origem tupi os 
nomes: Acre (touca usada pelos índios mundurucus, que também são tupis), Amapá 
(terra que acaba), Ceará (canto da jandaia), Maranhão (rio que se assemelha ao mar, 
nome indígena do rio Amazonas), Pará (mar), Paraíba (mar ruim), Pernambuco (rio largo 
que arrebenta), Piauí (rio dos piaus – tipo de peixe), Sergipe (rio dos siris), Tocantins 
(bico de tucano). Veio do guarani o nome Paraná (rio largo) e do ianomâmi veio Roraima 
(serra verde). São muitos os nomes de cidades, ruas, bairros, empresas, ao longo do 
país, que guardam a memória dos povos indígenas que habitaram este país antes da 
chegada dos europeus. 
 
Apesar do todo o vocabulário que nos legaram, não se pode afirmar que houve 
contribuição indígena na fonologia, morfologia ou sintaxe. Os contatos linguísticos foram 
feitos sempre de baixo para cima, ou seja, um povo dominado dificilmente modifica a 
língua do dominador na fonologia ou sintaxe, a influência fica restrita ao léxico. 
 
Para se aprofundar nas línguas indígenas brasileiras, assista ao vídeo a seguir “Línguas 
Indígenas no Brasil”. 
 
As línguas indígenas no Brasil 
 
 
Inicialmente, os portugueses tentaram escravizar os índios, mas para eles a escravidão 
era estranha e desconhecida, não havia essa prática entre eles, já que os prisioneiros de 
guerra eram mortos e devorados. Também não conheciam o sistema capitalista de 
trabalho para o acúmulo de bens, só trabalhavam para conseguir o alimento necessário. 
Além disso, conheciam muito bem a floresta e, ao fugirem, desapareciam por completo. 
 
Os africanos, ao contrário, já conheciam a escravidão. Era uma prática comum em sua 
sociedade, e, quando guerreavam entre si, muitos prisioneiros de guerra eram vendidos 
como escravos pelos próprios africanos. Não eram “caçados” por homens brancos como 
pensa o senso comum. Os africanos não conheciam as florestas brasileiras e, se 
fugissem, eram facilmente pegos. Isso consolidou a escravidão africana, e milhares de 
homens, mulheres e crianças vieram, contra a vontade, trabalhar como escravos. Eram 
muitas etnias de línguas distintas, traziam suas religiões e visões de mundo muito 
diferentes da dos portugueses. Para seu azar, os jesuítas defendiam os índios, mas não 
faziam o mesmo com os africanos. A igreja Católica acreditava que os negros não tinham 
alma, e devido a isso os africanos sofreram toda sorte de barbaridade, torturas e maus 
tratos em nosso país. 
 
Figura 14. Navio Negreiro, Rugendas. 
 
 
 
Em relação às contribuições linguísticas no português, tanto do Brasil quanto da Europa, 
há muitos estudos e não muito consenso entre especialistas. Sabe-se, contudo, que não 
se pode afirmar com segurança que qualquer alteração fonética ocorrida tenha sido 
motivada por influência africana. Todas elas se explicam por mecanismos internos de 
evolução linguística que já existiam do latim para o galego-português e daí para o 
português. 
 
É muito presente, no senso comum, mencionar a etimologia de algumas palavras 
diretamente na língua de origem, se for europeia, assim, dizem que hot-dog veio do 
inglês, chance do francês e aficionado do espanhol. Ninguém diz que essas palavras 
vieram de “línguas europeias” ou então do “europeu”, já que essa língua nem existe. É 
comum ouvirmos, apesar disso, professores de língua portuguesa se referindo à 
etimologia de algumas palavras como simplesmente “africana” ou “indígena”. Como um 
profissional da língua, de depois de receber a bagagem diacrônica dessas aulas, você 
não deverá seguir o mesmo caminho. Sempre que puder, refira-se às línguas específicas 
da etimologia: quimbundo, quicongo, iorubá, tupi, ianomâmi. 
 
No vídeo, a seguir, você vai conhecer um pouco das diversas línguas africanas, como 
nasceram e se dividiram, além de aprender alguns aspectos de duas línguas em especial: 
o quimbundo e o iorubá. A primeira, angolana, do grupo banto, é uma língua ainda falada 
em Angola e muito importante. Antes do descobrimento do Brasil já havia legado a 
Portugal a palavra “moleque”. Muitas palavras ainda usadas, hoje em dia, vieram do 
quimbundo, como marimbondo, caçula, carimbo, camundongo, cochilar, xingar, entre 
outras. Já o iorubá é uma língua falada, atualmente, no Benim e países vizinhos. É do 
grupo ioruboide, aparentada com o quicongo por um antepassado muito distante, já que 
não é língua banta. O iorubá legou ao português palavras de uso nas religiões 
afro-brasileiras e na culinária: dendê, acarajé, orixá, Xangô. 
 
Línguas africanas no Brasil 
 
 
Ao longo desta aula veremos a diacronia interna e externa no Brasil, o aporte lexical das 
línguas indígenas e africanas e as alterações ocorridas na língua que a deixaram 
diferente da versão falada em Portugal. 
 
Para aprofundamento do conteúdo desta aula, leia o capítulo 6 do livro da disciplina. 
Sintetizando 
O QUE APRENDEMOS NESTA ESTAÇÃO? 
 
» Aprendemos que a língua portuguesa evoluiu de forma distinta em Portugal e no Brasil; 
 
» Conhecemos palavras herdadas dos índios e dos africanos; 
 
» Vimos que Camões, o maior poeta da língua portuguesa, serviu de marco para a 
nomeação de uma nova fase da língua; 
 
» Aprendemos sobre a diacronia interna e externa do português do Brasil. 
 
- Vimos os últimos 500 anos de história da língua, e como ela se dividiu em duas 
variantes compreensíveis entre si: o português do Brasil e o português europeu. 
 
- Conhecemos a contribuição dos índios e dos africanos no vocabulário português, além 
da contribuição de povos europeus diversos, como ingleses e franceses. 
 
- Aprendemos sobre as transformações fonológicas que aconteceram ao mesmo tempo 
nos dois países, e as que aconteceram em apenas um.

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