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1. O Renascimento Cultural diz respeito ao período histórico europeu compreendido entre os séculos XIV e XVII. Nascido na Itália, conforme Guardiani (2018), em seu nome, o movimento carrega a noção de “um novo nascimento”. Sobre o período, é correto afirmar que: E. o Renascimento é um período de transição entre modelos de produção e é comum a crítica ao feudalismo nas obras renascentistas. Principalmente na Península Ibérica, o Renascimento foi freado pela onda Justificativa: reacionária da Contrarreforma Católica, o que fez com que seus impactos fossem mais tímidos do que aqueles vislumbrados na Itália e na França. Segundo Burke (2006), os impactos do Renascimento foram sentidos em todas as esferas da sociedade europeia, desde as artes e a economia até a política e a própria visão de mundo dos homens. Surgido na Itália, a base do Renascimento é o retorno ao ideário clássico (greco- romano), embora não ocorra uma revitalização da fé pagã: a lógica renascentista conviveu lado a lado com o cristianismo. Ainda, conforme Lukács (1935), o Renascimento é um período de transição entre os modelos de produção feudal e capitalista, e é comum a crítica ao feudalismo nas obras literárias renascentistas, uma vez que surge o romance como legítima epopeia da burguesia. 2. Conforme Gancho (2004), as narrativas podem ser analisadas de acordo com os elementos estruturais de sua composição estética. São eles: enredo, tempo, espaço/ambiente, narrador e personagens. Assinale a alternativa válida no que se refere à proposta da autora: A. O espaço é o lugar em que se desempenha a narrativa. Conforme a proposta de Gancho (2004), são cinco os elementos estruturais da Justificativa: narrativa: enredo, tempo, espaço/ambiente, narrador e personagens. Nesse contexto, o espaço é o lugar onde a narrativa é desempenhada. O enredo é constituído pelos fatos de uma história e/ou por fatos psicológicos do personagem/narrador. A personagem é o ser ficcional responsável pelas ações na narrativa, enquanto o narrador é a entidade estética responsável por estruturar a narrativa ao redor de um foco/visão. Por fim, o tempo da narrativa pode obedecer a duas ordens distintas: a cronológica, temporalidade real, medida em dias, meses e anos; e a psicológica, temporalidade individual baseada nas vivências do narrador e/ou da personagem. 3. Sobre os elementos estruturais da obra Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes (2005), é correto afirmar que: C - o espaço da narrativa é circular, uma vez que é marcado pelas saídas e vindas de Dom Quixote e Sancho Pança à cidade de Toledo. A partir da análise dos elementos estruturais da obra Dom Quixote de la Mancha, Justificativa: de Cervantes, é possível que cheguemos a algumas constatações. Entre elas, as de que: o tempo é cronológico e obedece à linearidade do tempo físico; o ambiente é constituído pelas desigualdades e pela miséria do sistema feudal; o espaço é demarcado na região ficcional de Castilla-La Mancha, em que, circularmente, são constantes as idas e vindas de Dom Quixote e Sancho Pança à cidade de Toledo; o narrador é de terceira pessoa, onisciente e onipresente, mas não interpela o leitor e, logo, não é intruso. Por fim, ainda é possível constatar que o enredo é marcado pela explicação curta, ao início da narrativa, em que são apresentados o tempo, o espaço e as personagens; pela rápida complicação, que se dá pelo “enlouquecimento” de Dom Quixote; pelo clímax, quase ao fim da obra, em que Dom Quixote enfrenta o Cavaleiro da Lua Branca para defender sua honra e a honra de Dulcineia; e, ao final, o desfecho se dá com a derrota de Quixote, sua desmoralização, sua convalescença, a recobrada de sua lucidez e sua morte. 4. Acerca da composição estética da personagem principal e das personagens secundárias do romance Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes (2005), assinale a alternativa correta: D - Sancho Pança é caracterizado como realista e ambicioso, logo um inconformado com sua situação social, de servo. A partir da observação da composição estética da personagem principal e das Justificativa: personagens secundárias do romance Dom Quixote de la Mancha, é possível constatar que todas são personagens planas (não complexas), uma vez que a sua caracterização é feita por atributos físicos e poucos atributos psicológicos e sociais. De todo modo, no decorrer da narrativa, podemos compreender Dom Quixote como uma personagem pretensamente redonda, uma vez que sua caracterização evolui com a passagem do enredo. Ainda, é possível ressaltar o fato de que, diferentemente das personagens masculinas, Dulcineia é descrita a partir de uma caricatura da mulher ideal da Idade Média, o que a faz menos complexa em relação a Dom Quixote e Sancho Pança. Por sua vez, estes podem ser vistos como personagens antitéticas: Pança é caracterizado como um inconformado com sua situação social e, por isso, realista e ambicioso; e Quixote é caracterizado como um fidalgo que quase vai à falência por tanto comprar livros e por fantasiar ser um cavaleiro, mas, diferentemente de Sancho Pança, é visto como um louco em vez de um inconformado. 5. O Renascimento é entendido por Lukács (1935) como um período/movimento de transição entre dois modelos de produção, o feudal e o capitalista, e como limiar entre a derrocada da aristocracia e o surgimento da burguesia. Segundo o autor, o Quixote é um prenúncio da modernidade. A partir da visão de que Dom Quixote é o primeiro romance moderno e de que a obra possui prenúncios de modernidade, é possível afirmar que: A - a obra mantém a tradição cristã ao lado do desprestígio ao sistema feudal, o que é afirmado pela crença em demônios e feiticeiros e pelo respeito à figura do padre. Como uma obra de entre-lugar, Dom Quixote situa o tempo e o espaço da Justificativa: narrativa na coexistência entre o sistema antigo, o feudal, em declínio e a manutenção de certas tradições, como a católica, alicerçada principalmente pelo sentimento de respeito da família Quixada (Quijano) ao clérigo, que aconselha Dom Quixote. De todo modo, nesse contexto, a retratação de um ambiente miserável é uma das marcas das críticas ao sistema feudalista, historicamente relacionado à pobreza do povo de Castilla devido aos altíssimos investimentos do Rei Felipe II nas expansões marítimas. Ao dar lugar a prenúncios modernos, a obra de Cervantes inova principalmente pela constituição da obra a partir do gênero romance, o gênero moderno por excelência, que, embora guarde relações com a epopeia clássica, é repaginado para dar voz às coisas e causas da burguesia em ascendência na Europa. O narrador dá enfoque à vida de um fidalgo que abre mão de suas mordomias para ser cavaleiro. Depreende-se daí a imagem de que é loucura abrir mão de posses para viver a liberdade, o que, no entanto, não é uma crítica textualizada pela personagem. De mesmo modo, a narrativa explora um (aparente?) paradoxo: Quixote quer mudar o mundo, mas para isso faz-se cavaleiro; há aí o embate entre a vontade de progresso impelida pela manutenção da tradição. Entretanto, o que se destaca não é a conservação da tradição feudal, mas a racionalização de um futuro utópico, moderno, pautado pela ética que Quixote escolheu para si: “o estreito caminho da cavalaria andante, por cujo exercício desprezo a fazenda, mas não a honra. Tenho satisfeito agravos, castigado insolências, vencido gigantes e atropelado vampiros: sou enamorado, só porque é forçoso que o sejam os cavaleiros andantes e, sendo-o, não pertenço ao número dos viciosos, mas sim ao dos platônicos e continentes. As minhas intenções sempre as dirijo para bons fins, que são fazer bem a todos e mal a ninguém”.