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INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 3 SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 06 15 24 33 42 51 61 70 79 88 97 106 INTRODUÇÃO: O QUE SÃO AS CIÊNCIAS SOCIAIS? OBJETIVOS, METODOLOGIA E IMPORTÂNCIA A ANTROPOLOGIA E SEUS AUTORES A SOCIOLOGIA E SEUS AUTORES A CIÊNCIA POLÍTICA E SEUS AUTORES CONSOLIDAÇÃO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS COMO CAMPO DE PESQUISA E CONHECIMENTO TEMAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO TEMAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: AS FORMAS DE PODER AUTORITÁRIAS E DITATORIAIS TEMA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: AS FORMAS DE PODER DEMOCRÁTICAS E REVOLUCIONÁRIAS TEMAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: O QUE É CULTURA ? TEMAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: SENSO COMUM E IDEOLOGIA TEMAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: A QUESTÃO DA ECONOMIA TEMAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: A QUESTÃO DA HISTÓRIA INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4 SUMÁRIO AULA 13 AULA 14 AULA 15 115 124 134 A ANÁLISE DO BRASIL A PARTIR DAS CIÊNCIAS SOCIAIS INDIVÍDUO E SOCIEDADE: AS MARCAS QUE EXIBIMOS NA NOSSA ATUAÇÃO NA SOCIEDADE OS DESAFIOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 INTRODUÇÃO Caro aluno, seja bem-vindo a nossa disciplina de Introdução à Ciências Sociais e Políticas! Essa disciplina tem como objetivo principal introduzir em sua formação as Ciências Sociais, pois essa é uma ciência muito importante para entendermos o mundo em que vivemos, bem como a nossa atuação profissional e pessoal. Dessa maneira, aguçamos o pensamento crítico conforme conhecemos as metodologias dessa área e seus fundamentais autores que nos auxiliam a compreender um pouco mais da nossa sociedade. As nossas 15 aulas serão suficientes para que você conheça de maneira introdutória o que são as Ciências Sociais, quais são os objetivos dessa ciência, o que é antropologia e os autores mais importantes, bem como a sociologia, a Ciência Política, a história, a economia e as temáticas que as Ciências Sociais refletem. Com as nossas aulas você também terá a oportunidade de compreender qual foi e como foi o processo de consolidação das Ciências Sociais enquanto campo de pesquisa que atua nas mais diversas áreas do conhecimento. Sobre os temas das Ciências Sociais, a divisão social do trabalho, as formas de poder e de governos, sejam elas autoritárias, ditatoriais, revolucionárias ou democráticas, com certeza, irão te auxiliar a compreender mais sobre o funcionamento da nossa sociedade e de questões políticas. Temas atuais como a cultura, senso comum e ideologia também irão te auxiliar no seu processo formativo enquanto profissional, acadêmico, e futuro pesquisador, pois são problemas das Ciências Sociais essenciais em qualquer área do conhecimento. As nossas últimas três aulas foram realizadas para você com objetivo de desvendar os mistérios e as análises sobre a formação histórica, política, cultural e econômica do Brasil. Assim como te abrirá a possibilidade de pensar a atuação dos seres humanos na relação entre indivíduo e sociedade, bem como a importância das Ciência Sociais em nosso mundo, sempre em movimento e transformação. Espero que você goste muito das nossas aulas e que utilize a nossa disciplina em sua formação acadêmica e profissional Agora é com você, boa leitura e boa aula! INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 AULA 1 INTRODUÇÃO: O QUE SÃO AS CIÊNCIAS SOCIAIS? OBJETIVOS, METODOLOGIA E IMPORTÂNCIA Lupa - pessoas Fonte:https://pixabay.com/pt/illustrations/lupa-pessoas-cabe%c3%a7a-rostos-1607208/ Olá, caro estudante! Tudo bem? É muito bom tê-lo aqui conosco e participar contigo deste trajeto tão importante em sua vida! Não tenho dúvidas de que estudar Ciências Sociais será fundamental para sua vida acadêmica. Utilizaremos noções básicas, introdutórias, mas também categorias e conceitos das Ciências Sociais e de suas subáreas: a Antropologia, a Sociologia e a Ciência Política, de forma que você desenvolva os requisitos necessários para sua atuação acadêmica e profissional. Com o passar das nossas aulas e dos seus estudos, você será capaz de entender que as Ciências Sociais são fundamentais para qualquer formação acadêmica, independentemente da área de atuação, pois você estará sempre em contato com https://pixabay.com/pt/illustrations/lupa-pessoas-cabe%c3%a7a-rostos-1607208/ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 pessoas, com a sociedade e estabelecendo relações sociais, políticas, econômicas e culturais. Primeiramente, gostaria de propor para vocês um breve momento de reflexão. Vamos lá! Fonte:https://pixabay.com/pt/vectors/pergunta-quest%c3%b5es-homem-cabe%c3%a7a-2519654/ Gostaria que você refletisse sobre as questões abaixo: Para você, o que é sociedade? Em sua opinião, o que são relações sociais? Qual a relação entre indivíduo e sociedade? O que é cultura? Qual a nossa importância, enquanto indivíduos, e atuação no mundo contemporâneo? Por fim, você sabe o que são as Ciências Sociais? Agora que você refletiu bastante sobre as Ciências Sociais, espero que consiga compreender que nosso objeto de estudo é a sociedade e as formas em que os seres humanos se relacionam no mundo que habitam. https://pixabay.com/pt/vectors/pergunta-quest%c3%b5es-homem-cabe%c3%a7a-2519654/ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 Para tanto, nosso material e nossas aulas possuem o objetivo principal de trazer a você, estudante, as principais noções, categorias, termos e conceitos utilizados nas Ciências Sociais para que você compreenda melhor como a sociedade funciona, assim como as diversidades culturais e políticas dos diversos grupos sociais existentes em nosso planeta. 1.1 O que são as Ciências Sociais? As Ciências Sociais possuem grande importância para a humanidade, mas muitas pessoas não sabem ao certo o que significam e qual sua relevância. Então, vamos a fundo sobre o que são as Ciências Sociais e seu surgimento! As Ciências Sociais estão dentro das Ciências Humanas e também se subdividem em outras áreas: a Antropologia, a Sociologia e a Ciência Política. Cada uma dessas áreas serve para que você consiga compreender e analisar como se organizam as sociedades, assim como investigar eventos históricos, políticos, culturais, crises econômicas, bem como investigar as estruturas e os fenômenos que regem a nossa sociedade e as atuais condições do mundo, de um país, de um Estado, de uma cidade ou de um grupo social. ANOTE ISSO Além disso, o objeto de estudo das ciências sociais mescla indivíduos e comunidades, classes e grupos sociais, gêneros e raças/etnias, religiosidades e ecologia, identidadese diversidade, realidades e imaginários, regiões e nacionalidades. Confronta e agrupa indivíduo e sociedade, natureza e sociedade. Percorre as diversas forças e formas de divisão social, sexual e técnica do trabalho e da produção. Diferencia a parte do todo, o singular do universal, o público do privado, assim como a democracia, da tirania e da revolução. Confronta as guerras de classe, fundamentalismos religiosos, as guerras étnicas, promovendo tanto a destruição como a criação de riquezas entre os indivíduos e as nações (CAVALCANTE; SILVA, 2011, p.03-06). Agora, vamos descobrir como as Ciências Sociais se consolidaram como ciência, ou seja, qual seu surgimento e consolidação no campo científico e dentro das Universidades. Para isso, é preciso que voltemos a nossa atenção para o século XIX, principalmente para as transformações sociais, políticas, econômicas e culturais causadas pela INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 Revolução Industrial e os processos de urbanização, expansão e colonização de países periféricos (que não fossem os grandes centros imperiais da Europa). Caro estudante, te convido a voltarmos um pouquinho na história para relembrar sobre a Revolução Industrial. Nosso objetivo é que você compreenda como os processos de industrialização da sociedade e o contexto histórico, ambos possibilitadores do desenvolvimento social, bem como a necessidade de investigação de pesquisadores sobre as transformações do mundo para uma nova sociedade capitalista. Fonte:https://www.pexels.com/pt-br/foto/foto-da-roda-dentada-dourada-em-fundo-preto-3785935/ A Revolução Industrial foi um marco muito importante para a história da humanidade, sendo que seus desdobramentos e desenvolvimentos afetaram todo o mundo. Ocorreu quando a sociedade européia, especificamente a Inglaterra, mudou seu modo de produção para o capitalismo, para uma sociedade utilizadora de máquinas. Ou seja, o processo passou de manufaturado para faturado, sendo que mais mercadorias passaram a surgir no mercado, bem como preços atrativos. (CAVALCANTE; SILVA, 2011, pp.03-06). Nesse caso é possível afirmar que https://www.pexels.com/pt-br/foto/foto-da-roda-dentada-dourada-em-fundo-preto-3785935/ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 ANOTE ISSO a Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra no século XVIII foi o grande precursor do capitalismo, ou seja, a passagem do capitalismo comercial para o capitalismo industrial. É fascinante, como a revolução industrial mudou a vida das pessoas daquela época e como até hoje seus reflexos continuam transformando o nosso dia a dia com a revolução tecnológica. [...] Escritores consagrados como Adam Smith, Karl Marx, Eric Hobsbawm entre outros exploram a importância da Revolução Industrial e o surgimento do capitalismo moderno (CAVALCANTE; SILVA, 2011, pp.03-06). Como a Revolução Industrial foi responsável por concentrar muitos trabalhadores nas fábricas que recebiam salários, temos como um dos principais resultados o desenvolvimento urbano e o aumento de pessoas nas cidades que também aumentaram. Londres chegou a ter 1 milhão de habitantes no ano de 1800, e o progresso que se desenvolvia, desenvolvia também uma massa de trabalhadores em condições precárias e muito miseráveis. ANOTE ISSO Os artesãos acostumados a controlar o ritmo de seu trabalho, agora tinham de submeter-se à disciplina da fábrica. Passaram a sofrer a concorrência de mulheres e crianças. Na indústria têxtil do algodão, as mulheres formavam mais de metade da massa trabalhadora. Crianças começavam a trabalhar aos seis anos de idade. Não havia garantia contra acidente nem indenização ou pagamento de dias parados neste caso (CAVALCANTE; SILVA, 2011, p.03-06). ISTO ESTÁ NA REDE O trabalho infantil é um problema muito sério e a ser combatido em nossa sociedade. Sobre o assunto, é possível verificarmos o seguinte trecho de uma redação escolar, escrita por um menino de 12 anos, que trabalhava. “Assim que me levanto pela manhã, tenho que descer as escadas até o porão, para começar minha jornada. São mais ou menos cinco e meia da manhã. Aí eu tenho que enfiar as linhas nas agulhas dos teares até às sete horas e só então tomo o café-da-manhã. Depois volto ao trabalho até a hora de ir para a escola. Quando a escola termina, às onze horas, vou para casa e volto para as agulhas até às doze horas. Almoço e volto a trabalhar até pouco antes da uma da tarde. Retorno à escola, onde aprendo muitas coisas úteis. Quando chego em casa, trabalho até escurecer. Aí janto. Depois da janta, trabalho novamente até às dez da noite. Às vezes, quando o trabalho é urgente, fico até às onze da noite no porão. Depois digo aos meus pais boa noite e vou dormir. É assim todos os dias.” Veja a matéria na íntegra no site: https://www.swissinfo.ch/por/trabalho-infantil-na-su%C3%AD%C3%A7a_a-inf%C3%A2ncia-roubada-dos- oper%C3%A1rios--fabriklerkinder-/43508762 https://www.swissinfo.ch/por/trabalho-infantil-na-su%C3%AD%C3%A7a_a-inf%C3%A2ncia-roubada-dos-oper%C3%A1rios--fabriklerkinder-/43508762 https://www.swissinfo.ch/por/trabalho-infantil-na-su%C3%AD%C3%A7a_a-inf%C3%A2ncia-roubada-dos-oper%C3%A1rios--fabriklerkinder-/43508762 INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 Como notamos, portanto, com a revolução industrial, muitas coisas foram modificadas de forma muito rápida, tanto para o mundo do trabalho, como para a política e para questões econômicas e culturais. Isso originou novos comportamentos sociais, novas formas de sociabilidade e de modelos de sociedade. (CAVALCANTE; SILVA, 2011, p.03- 06). Desde então, surgiu o interesse de muitos filósofos e pensadores em analisar e compreender o funcionamento da sociedade e explicar os fenômenos, as contradições e os complexos movimentos da nossa sociedade contemporânea. As Ciências Sociais, então, começou a ter sua existência enquanto uma ciência que possibilitava a formulação de novos conhecimentos, assim como a sistematização de teorias e práticas que já existiam e que explicavam, e para explicar, as transformações em curso da sociedade. Portanto, as Ciências Sociais é uma ciência que possibilita ao profissional contribuir para a análise de fatos e fenômenos históricos, mas também atuais, pois é uma área destinada à análise da sociedade e de seus problemas que entende a causa (a origem) e o desenvolvimento de diversas questões, bem como pode pensar e planejar a melhoria e soluções, já que estuda os fenômenos da sociedade. 1.1.1 Objetivos e importância das Ciências Sociais Caro aluno, agora que você já conhece o principal fundamento das Ciências Sociais: estudar os fenômenos da nossa sociedade, convido você a explorar os objetivos e a importância dessa ciência. Como as Ciências Sociais têm por objetivo e principal importância de ser uma ciência crítica, analítica, interpretativa e que oferece possibilidades de intervenção na realidade social. Elencamos seus principais objetivos: • Reflexão crítica da sociedade; • Reflexão crítica das relações sociais, culturais e políticas; • Analisar a complexidade da sociedade e da vida social; • Analisar a complexidade das culturas e das relações culturais; • Reflexão sobre o conhecimento, a cultura, os processos históricos e políticos; • Possibilitar o exercício da cidadania e da autonomia; • Reflexão sobre as práticas cotidianas e relação com teorias sistematizadas; INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 Caro aluno, agora você consegue compreender, portanto, que o objeto de estudo das Ciências Sociais é muito dinâmico e está sempre em movimento? Pois bem, a partir disso compreendemos que são vários recursos a serem utilizados para a reflexão, bem como inúmeras estratégiasmetodológicas e técnicas para analisar o que se é pesquisado e entendido. É dessa maneira que as Ciências Sociais não é apenas importante para o cientista social ou para o antropólogo, sociólogo e cientista político, mas para todas as áreas do saber, pois é imprescindível que os profissionais, das diversas áreas do conhecimento, se dediquem à compreensão da sociedade em que vivemos e das relações sociais que nós, seres humanos, estabelecemos ao longo de nossas vidas. ANOTE ISSO Portanto, as Ciências Sociais, Configura-se com novos significados, alargando suas fronteiras para outros campos disciplinares, articula-se e desarticula-se com as ciências da natureza e do espírito. Combinam-se diferentes temporalidades e lugares, revelando desenvolvimentos desritmados, descompassados e desiguais. Articulam-se as tradições e a história com os tempos futuros e mediáticos (ROSSO, BANDEIRA, COSTA, 2020, p.238). Dessa forma, podemos frisar que o objeto de estudo das Ciências Sociais abrange os indivíduos, comunidades, grupos sociais, classes, gêneros, raças e etnias, religiosidades e ecologia, as diversidades, as realidades e os imaginários sociais, também as regiões e as nacionalidades. Sendo assim, as Ciências Sociais é uma ciência que “Confronta e agrupa indivíduo e sociedade, natureza e sociedade. Percorre as diversas forças e formas de divisão social, sexual e técnica do trabalho e da produção”, pois “diferencia a parte do todo, o singular do universal, o público do privado, assim como a democracia, da tirania e da revolução” conforme “Confronta as guerras de classe, fundamentalismos religiosos, as guerras étnicas, promovendo tanto a destruição como a criação de riquezas entre os indivíduos e as nações” (ROSSO, BANDEIRA, COSTA, 2020, p.238). INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Como vimos, a pesquisa e a prática de pessoas ligadas com a área das Ciências Sociais é muito importante. Na dissertação de mestrado, intitulada Adoecimento no trabalho, a metamorfose do trabalhador do campo na cidade e os reflexos da reestruturação produtiva em uma fábrica de confecções têxteis no interior do Estado de São Paulo, o pesquisador sociólogo Vitor Luiz Carvalho da Silva (2020) realizou um trabalho de campo, por meio de entrevistas e fundamentações teóricas, com trabalhadores da fábrica têxtil Ares Confecções. Em seu trabalho, o sociólogo aborda questões relacionadas ao mundo do trabalho e à saúde dos trabalhadores. Conheça o trabalho do pesquisador: https://repositorio.unesp.br/bitstream/ handle/11449/202698/silva_vlc_me_mar.pdf?sequence=3&isAllowed=y Fonte: Repositório UNESP:https://repositorio.unesp.br/handle/11449/202698 1.1.1.1 Metodologia das Ciências Sociais Como vimos, as Ciências Sociais é uma ciência que nasceu com o desenrolar da revolução industrial, no século XIX, e que tem como principal objetivo realizar uma reflexão crítica da sociedade, das relações sociais, culturais e políticas, assim como analisar a complexidade da sociedade e da vida social; das culturas e das relações culturais; também sobre o conhecimento, a cultura, os processos históricos e políticos, de forma que possibilita o exercício da cidadania e da autonomia por meio da reflexão e da possibilidade de mudanças de práticas cotidianas fundamentadas em teorias sistematizadas, podendo ser utilizada como instrumento para as diversas áreas do conhecimento. Assim sendo, as Ciências Sociais, por ser uma ciência, é constituída por métodos e metodologias. Convido você, aluno, a compreender um pouquinho mais sobre isso, iniciando nosso trajeto sobre o que é metodologia e depois sobre as metodologias utilizadas nas Ciências Sociais. Entendemos a metodologia científica como uma ciência que estuda os métodos, ou seja, os caminhos necessários para que o pesquisador percorra e que consiga, da melhor forma possível, alcançar seus objetivos propostos, assim como demonstrar/comprovar sua hipótese de pesquisa. Então, a ciência, enquanto acúmulo de conhecimentos sistematizados, precisa possuir métodos, técnicas e metodologias adequadas para se chegar ao resultado final daquilo que se estuda ou que se quer comprovar/demonstrar. https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/202698/silva_vlc_me_mar.pdf?sequence=3&isAllowed=y https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/202698/silva_vlc_me_mar.pdf?sequence=3&isAllowed=y https://repositorio.unesp.br/handle/11449/202698 INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 Nas Ciências Sociais, temos três principais pensadores que articularam métodos diferentes para compreendermos o mundo. A partir desses três pensadores, Karl Marx (1818-1883), Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920), outros pensadores, sociólogos, antropólogos, cientistas sociais e cientistas políticos passaram a desenvolver novas metodologias de estudos e de análise da sociedade. Vamos agora conhecer um pouquinho mais sobre a metodologia de cada um deles: • Karl Marx e o método materialista histórico dialético. O método em Marx compreende uma posição do pesquisador em relação ao seu objeto de estudo, analisando as contradições e as formas de modificação e de transformação da realidade voltada para todos os aspectos: econômicos, culturais e políticos. (PIMENTEL; SILVA, 2019, pp.34-40). • Émile Durkheim e o método sociológico. Já o método sociológico, desenvolvido por Durkheim, é bastante diferente do método de Marx e de Weber, pois o objeto já traz características dadas, que garantem sua objetividade. Para Durkheim, o fato social é fator mais relevante da nossa sociedade, pois o fato social são as “entidades reais, autônomas, passíveis de constatação empírica e não redutíveis a qualquer outra ordem de fatos”, podendo ser “captados de forma cristalizada no modo de pensar, agir e sentir que são regularmente adotados pelos indivíduos em sociedade.”. Dessa maneira, Durkheim compreende que a ciência social deve explicar as coisas, mas não se envolver ou atuar na sociedade, ou seja, ser neutro (REIS, 2016, p.10). • Max Weber e a sociologia compreensiva: Para Weber, as diferentes esferas da vida social são autônomas. A relação entre elas está expressa no agente individual. É através dele que as diferentes esferas entram em contato. Em Weber, o objeto do conhecimento não se impõe à análise, mas é constituído pelo cientista através de procedimentos edificados pelo pesquisador. A partir do caos fenomênico, que é o mundo social, o cientista seleciona aspectos e imputa uma ordem racional estabelecendo as causas e consequências de forma compreensiva e neutra (COHN, 2017). Em síntese, cabe ao pesquisador, independentemente da área, enfrentar as dificuldades de caracterizar sua pesquisa e a melhor metodologia e método a ser aplicado. Mas sendo de grande importância que compreenda as Ciências Sociais e sua importância no mundo. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 AULA 2 A ANTROPOLOGIA E SEUS AUTORES Arte. Trabalhos Manuais Africanos Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/arte-trabalhos-manuais-africano-1219116/ Caro aluno, agora que você já compreendeu o que é as Ciências Sociais, seus objetos de estudo, suas metodologias mais importantes e sua relevância para a sociedade, começaremos a aprofundar sobre as subáreas das Ciências Sociais. Normalmente, cada um de nós nos identificamos com uma área específica e, por muitas vezes, acabamos dividindo todas elas, como se fossem muito distintas umas das outras, mas você verá que a Antropologia, a Sociologia e a Ciência Política perfazem o universo crítico e teórico das Ciências Sociais e que caminham juntas para que consigamos analisar da melhor forma possível o mundo que vivemos e as relações que estabelecemos com outras pessoas.Compreendemos, portanto, a antropologia como o estudo do homem e seu interesse em específico sobre as diversas culturas. Imagine só como foi o processo de chegada https://pixabay.com/pt/photos/arte-trabalhos-manuais-africano-1219116/ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 dos europeus no continente americano: o espanto dos povos nativos. O espanto ocorreu de ambos os lados, chegando a ponto dos espanhóis e portugueses se perguntarem se os habitantes daqui eram realmente seres humanos. Podemos perceber, no entanto, que diferenças culturais não são apenas quando nos deparamos com povos completamente diferentes de nós, mas com diferenças culturais e costumes distintos dos quais estamos acostumados. Isso ocorre no nosso cotidiano, em alguma viagem para outra cidade, outro estado, outro país! Até mesmo em algum bairro que você tenha ido pela primeira vez, ou também quando isso ocorre com questões religiosas; ao conhecer e ter contato com um colega de religião diferente da sua. Ou seja, vivemos diferenças culturais diariamente. Portanto, caro aluno, convido você a adentrar esse universo teórico e científico incrível das Ciências Sociais. Começaremos pela Antropologia e, nas aulas seguintes, abordaremos a Sociologia e também a Ciência Política. 2.1 O que é e o que estuda a Antropologia? Caro estudante, provavelmente você já ouviu falar ou já se interessou em aprender um pouco sobre a Antropologia. Nesta aula, iremos nos aprofundar um pouco sobre os estudos dessa ciência, seus principais conceitos e autores. A primeira coisa é que devemos entender que a Antropologia é uma subárea das Ciências Sociais muito importante para compreendermos o mundo, pois ela é um estudo do homem como ser social, cultural e biológico. A Antropologia é vista, portanto, como uma ciência que trabalha com dicotomias. Veremos que é muito importante entender o contexto em que os autores estão inseridos, as condições sociais de produção do conhecimento e o contexto intelectual. A Antropologia, pode, muitas vezes, ser entendida erroneamente como uma área que estuda apenas os povos primitivos, considerados “atrasados”, enquanto a sociologia seria uma área que estudaria apenas o mundo civilizado, contemporâneo e urbano, e a Ciência Política as formas de governo. A Antropologia surgiu como uma ciência que refletia e se perguntava sobre quem e o que era o homem. Significa, inclusive, a partir da etimologia da palavra de origem grega: Anthropos (homem) e logos (estudo, conhecimento, ciência). Sendo assim, definimos que a busca por conhecimento, por fazer ciência, por descobertas sobre quem é o homem, acabou por ser base fundamental de estudos para a Antropologia, INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 principalmente no contexto da colonização, em que homens brancos e europeus se colocaram em contato com as denominadas sociedade primitivas e passou a colonizá- las, mas também estudá-las. A Antropologia surgiu, portanto, com o interesse de conhecer e saber como eram os homens em seu estado de natureza, para as populações nativas, para a formação tribal e comunitária, e para territórios pouco conhecidos. Para o antropólogo Claude Lévi - Strauss, no artigo “A crise moderna da antropologia” (1962), a Antropologia lança o olhar para a questão da diferença: Enquanto as maneiras de ser ou de agir de certos homens forem problemas para outros homens, haverá lugar para uma reflexão sobre essas diferenças que, de forma sempre renovada, continuarão a ser o domínio da antropologia (LÉVI-STRAUSS, 1962, p.26). Sendo muito importante que entendamos que os conceitos elaborados pela Antropologia são socialmente e historicamente produzidos e que o antropólogo ou o estudante da Antropologia deve aprender a desnaturalizar, sendo possíveis as distintas formas de análise do mundo. Portanto, definimos a antropologia, de maneira simplificada, como uma ciência que tem como principal objeto de estudo o ser humano em todas as suas dimensões, ou seja, essa ciência estuda o ser humano em todas as particularidades da vida social. Os principais focos de estudo e de interesse da Antropologia são: • Estudar o cotidiano de determinado grupo social; • Estudar a cultura, o modo de vida, as festas e tradições; • Estudar a religiosidade, as relações entre o sagrado e o profano; • Estudar os movimentos sociais, os movimentos migratórios, as relações entre campo e cidade, área rural e urbana; • Estudar as diversas formas de comunicação, organização e produções culturais, políticas e sociais. Portanto, podemos afirmar que o campo principal de estudo da Antropologia é a diversidade e os modos distintos de viver em sociedade com o objetivo de buscar respostas para compreendermos o que somos e o que os outros são, pois é uma forma de verificarmos e analisarmos a maneira que os outros são, como vivem, como se sentem. Sendo assim, alargamos os diversos mundos culturais, políticos e sociais que estão colocados na sociedade. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA O trabalho do antropólogo é muito importante para a nossa sociedade. Foram vários os antropólogos que ficaram muito conhecidos e famosos com relevantes trabalhos sobre a sociedade e diversos grupos sociais, bem como sobre a diversidade cultural. Na prática antropológica, a etnografia é essencial, assim como a observação participante e as pesquisas de campo. Nessa lógica de conhecer o outro e realizar pesquisa de campo, muitos antropólogos foram à Ilha Sentinela do Norte, considerado o povo mais isolado do nosso planeta. O objetivo desses estudiosos era o de compreender a forma de vida social daquele povo, assim como a cultura e as relações sociais. Veja mais sobre a Ilha Sentinela do Norte e a importância dos antropólogos: Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/impressionante-saga-dos-sentinelenses-o-povo-que-vive-em-total-isolamento.phtml 2.1.1 As principais escolas antropológicas A Antropologia possui diversos autores que fundaram ou que são oriundos de diversas escolas antropológicas. Nas seleções de imagens abaixo, vocês poderão notar com facilidade cada uma delas. Os primeiros apontamentos que podemos observar, que formam uma literatura etnográfica voltada para a diversidade cultural, remonta os séculos XVI ao século XIX, o período histórico de colonização do Brasil e da América do Sul. Na Imagem 01, é possível observarmos que as principais características etnográficas foram relatos de viagens por meio de cartas, diários e relatórios feitos por missionários, viajantes, comerciantes, exploradores, militares, administradores coloniais para a Coroa. Imagem 01 Fonte: https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/impressionante-saga-dos-sentinelenses-o-povo-que-vive-em-total-isolamento.phtml https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 Logo abaixo, na imagem 02, observamos que durante o século XIX, a escola do Evolucionismo Social entra em cena e começa a sistematizar o conhecimento sobre os chamados povos primitivos por meio do estudo de relatórios, cartas e documentos oficiais. Imagem 02 Fonte:https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia Na imagem 03 veremos um pouco sobre o funcionalismo, uma escola oriunda dos anos 20 do século XX, influenciou muitos antropólogos nos anos seguintes e foi muito importante para a Antropologia. O modelo de trabalho mais utilizado pelos pesquisadores sobre o funcionamento da sociedade era o de monografias sobre a funcionalidade da vida cultural. Imagem 03 Fonte:https://antropologia.fflch.usp.br/antropologiahttps://antropologia.fflch.usp.br/antropologia https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 O importante antropólogo Bronislaw Malinowski foi um importante articulador da antropologia como objeto de estudo que possui métodos, teorias e objetivos próprios da área. Em seu importante trabalho “Os argonautas do pacífico ocidental”, Malinowski desenvolveu um estudo sobre o kula, uma prática de trocas, com caráter intertribal, que as comunidades da Nova Guiné realizavam. Abaixo, na imagem 04, conhecemos sobre o culturalismo norte-americano, mais uma importante escola antropológica desenvolvida nos anos de 1930, que tinha como principal objetivo compreender os padrões culturais e os estilos de cultura. Imagem 04 Fonte: https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia Franz Boas, diferente dos diretores do Museu em que trabalhou, buscava evidenciar a escala evolutiva dos povos, por materiais coletados de viajantes. Boas, acreditava no relativismo, onde um comportamento só pode ser entendido e analisado no contexto cultural que ocorre. Outro elemento importante, que revigora o trabalho de Franz Boas – o trabalho de campo, ou seja, o método etnográfico e a busca por captar o ponto de vista do outro, através de filmagens, diários e fotografias, dessemelhante, dos antropólogos de gabinete, dos antropólogos evolucionistas, que, cujo trabalho, pauta- se, nos relatos e materiais coletados dos viajantes – dando ressonância como um dos (pais) fundadores da antropologia moderna juntamente com a então chamada Escola Cultural Americana. Na imagem 05, observamos questões relativas ao estruturalismo, desenvolvido durante os anos de 1940, fundamentado principalmente nas regras que norteiam e estruturam a sociedade, com principais abordagens acerca da dicotomia natureza x cultura. https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 Imagem 05 Fonte: https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia Claude Lévi-Strauss é um dos mais conhecidos antropólogos da modernidade. Para o antropólogo, os debates acerca dos conceitos de cultura e natureza constituem problema fundamental para o pensamento antropológico, visto que enquanto ciência do homem é preciso se ter claro o que é biologicamente natural ao homem e o que é culturalmente construído. Na imagem 06, observamos alguns elementos sobre a antropologia interpretativa, desenvolvida nos anos 60, que teve como principal representante e pesquisador Clifford Geertz. Imagem 06 Fonte: https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia Geertz, antropólogo insatisfeito com as abordagens positivistas das representações etnográficas e da antropologia, se firmou para construir uma nova metodologia. Marcado pela interdisciplinaridade, Geertz não exprimiu suas reflexões de maneira https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 sistemática e fundou a denominada antropologia hermenêutica ou interpretativa. Para o antropólogo, a antropologia está voltada para a natureza da experiência etnográfica. Na imagem 07, mais recentemente com estudos sobre os modelos das etnográficas e na relação politizada entre observador e observado, a antropologia pós-moderna surge com o objetivo principal de contestar os padrões e os paradigmas das outras escolas antropológicas. Imagem 07 Fonte: https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia James Clifford foi um dos principais representantes dessa escola antropológica que se desenvolve principalmente a partir da multidisciplinaridade: a história, a literatura e a antropologia. Para os antropólogos pós-modernos, a crítica e as descrições culturais que estão presentes na etnografia clássica devem servir para que se avalie a própria forma de fazer etnográfica e a relação entre observador e observado. Portanto, questões sociais, de dominação e políticas são parte do diálogo e do encontro etnográfico e não podem ser deixados de lado. 2.1.2 Cultura e etnocentrismo Na história da constituição da Antropologia enquanto uma área do conhecimento científico, dois conceitos sempre foram centrais para sua epistemologia: Natureza e Cultura. Se passarmos por todas as grandes correntes teóricas que tiveram hegemonia no pensamento antropológico euro-ocidental, encontraremos esses dois conceitos servindo de base para suas legitimações, se excluindo, ou se modificando, porém sempre estando nos centros das discussões entre os teóricos. O conceito não está https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 separado do momento histórico em que é produzido, podemos historicizar esses conceitos de acordo com sua definição e utilização por determinadas correntes do pensamento antropológico. Você pode estar se perguntando os motivos de o conceito de cultura ser tão importante para a antropologia. Como vimos ao longo da nossa aula, o conceito de cultura possibilita uma explicação do mundo e das relações sociais que o fundamentam. Sendo assim, a antropologia se desenvolveu a partir deste conceito chave, na tentativa de interpretar a sociedade, principalmente, por meio dele, de forma que o homem passa a ser mais do que puramente biológico e ligado à raça. Claro que ao estudarmos as diversas escolas antropológicas, concluímos que o conceito de cultura é muito diverso para cada autor e para cada momento da nossa sociedade, de forma que são vinculados aos cursos da sociedade, às suas modificações, transformações e contradições. O conceito de etnocentrismo dialoga muito com o conceito de cultura, sendo também fundamental para o desenvolvimento da antropologia enquanto ciência, pois é quando entramos em contato com o outro, com o diferente que podemos sentir sentimentos de rejeição, de estranhamento, de curiosidade ou de fascínio. Em síntese, Etnocentrismo é uma visão do mundo com a qual tomamos nosso próprio grupo como centro de tudo, e os demais grupos são pensados e sentidos pelos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano – sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades como também facilmente encontrável no dia-a-dia das nossas vidas (ROCHA, 1984, p.07). Ou seja, o etnocentrismo é uma forma de demonstrar a incapacidade de compreensão da cultura do outro a partir de parâmetros que são estranhos para nós. Atualmente, nas pesquisas antropológicas contemporâneas, a questão de superar o etnocentrismo se tornou regra metodológica, pois não é possível realizar uma pesquisa sobre um grupo diferente do qual eu pertenço, caso eu não conseguir compreender o outro e me manter preso aos meus valores, crenças e formas de pensar em que estou acostumado. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 AULA 3 A SOCIOLOGIA E SEUS AUTORES Indivíduos, pessoas, lupa Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/indiv%c3%adduo-pessoas-lupa-exame-5131429/ Caro aluno, já percorremos bastante conteúdos das Ciências Sociais e da Antropologia. Agora, chegou o momento de você refletir sobre a sociologia. Uma ciência, também subárea das CiênciasSociais e que está muito presente no nosso dia a dia. Com certeza você já teve aulas de Sociologia no Ensino Médio e talvez se lembre de algumas delas, bem como dos conteúdos que seus professores trabalharam. De toda forma, nosso objetivo agora é o de aprofundar na teoria dos principais pensadores da https://pixabay.com/pt/illustrations/indiv%c3%adduo-pessoas-lupa-exame-5131429/ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 sociedade que auxiliaram outros pesquisadores, por meio de suas teorias, a refletirem sobre a sociologia, as relações sociais e a sociedade. Como vimos em nossa primeira aula (caso você não se lembre, volte um pouquinho conteúdo, pois é muito importante que você já conheça a metodologia de Karl Marx, Max Weber e Émille Durkheim), as Ciências Sociais é uma ciência bastante ampla que serve para interpretar, compreender e intervir na realidade social. Portanto, a partir de agora, aprofundaremos um pouco mais nas teorias de Auguste Comte, Émille Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Espero que ao final da nossa aula você seja capaz de compreender as diferenças teóricas e conceituais de cada desses três importantes autores e que eles te auxiliem a analisar, a partir da sociologia, o mundo em que vivemos. 3.1 O que é sociologia e quais os objetivos dessa ciência? Primeiramente, gostaria que você refletisse sobre algumas questões importantes da sociologia. • O que é fato social? • O que é dominação? • O que é luta de classes? • Por fim, o que é sociologia? A Sociologia é uma das ciências mais complexas, pois tem como objeto de estudo a sociedade. O sociólogo tem em si a busca de explicações das coisas. Como cada área do conhecimento, que se desenvolve em ciência, tem como objeto de estudo algo bastante específico, por exemplo, questões biológicas e o funcionamento de um órgão vital ou a matemática, a sociologia surgirá com o objetivo de compreender, analisar, interpretar e, se for possível, dependendo do viés teórico, intervir na realidade social de maneira a transformá-las. Por ser uma ciência, é necessário entendermos que a sociologia é expressada através de categorias, termos e conceitos, bem como de fundamentos teóricos e metodológicos. Para tanto, a sociologia tem como objetivo principal explicar a realidade por meio da observação, análise e estudo dos fatos. Portanto, a sociologia não especula sobre as relações sociais e na observação simples dos fatos, entendemos, portanto, que não se faz sociologia nos gabinetes e que os sociólogos não devem possuir juízos de valores. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Objetivos da Sociologia: • Analisar e compreender diferentes culturas e sociedades; • Compreender o funcionamento do Estado, governo, instituições, movimentos sociais, partidários e sindicais, bem como movimentos do campo e questões educacionais; • Pesquisas quantitativas e qualitativas, bem como de campos e teóricas; • Análise da sociedade e de sua formação social, bem como das relações sociais que a envolvem (trabalho, cultura, política, história, economia, arte, literatura). 3.2 Auguste Comte, Émille Durkheim e a Sociologia Caro aluno, agora que você já conhece um pouco o que é a sociologia e os objetivos principais desta ciência, chegou o momento de você compreender as reflexões teóricas que envolvem a sociologia, principalmente o desenvolvimento dessa ciência e suas contribuições para a humanidade. Começaremos com Auguste Comte (1798-1857), conhecido como o pai da sociologia e grande influenciador de Émille Durkheim. Como vimos nas aulas anteriores, conforme a sociedade foi se transformando e desenvolvendo seu modo de produção para o capitalismo, os pensadores passaram a questionar e buscar entender o novo paradigma social, político e cultural da sociedade moderna. Isidore-AugusteMarie-François-Xavier Comte, mais conhecido como Comte, nasceu em 19 de janeiro de 1798, em Montpellier, e faleceu no dia 5 de setembro de 1857, em Paris. O filósofo e líder religioso foi quem nomeou essa ciência como sociologia e foi o primeiro a transformá-la em disciplina científica. Auguste Comte Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 Até o ano de 1839, a sociologia era chamada de Física Social, ano em que Comte passa a chamar essa ciência de sociologia, com o significado de Societas, do latim= sociedade, e logos, do grego= estudo, razão. Conforme os anos foram se passando e as sociedades se transformando em estruturas muito complexas, a sociologia passou a ser a ciência capaz de analisar o que ocorria. Muito bem, agora já temos uma compreensão maior do que é a sociologia e como ela surge: de um momento de transformação para a sociedade capitalista. Como muitos pensadores passaram a tentar analisar essas mudanças, Comte foi muito importante na fundação da sociologia enquanto ciência. Agora já deu para entender um pouco mais, vamos adentrar mais um pouco no pensamento de Émille Dukrheim (que já abordamos um pouquinho na nossa primeira aula). Durkheim foi muito influenciado pelas ideias positivistas de Auguste Comte. Foi, no entanto, o primeiro a teorizar sobre a sociedade. O autor nasceu na França, no dia 15 de abril de 1858 e faleceu em Paris, em 15 de novembro de 1917. Ele é considerado um dos principais fundadores da sociologia moderna, sendo visto como o primeiro sociólogo, pois formulou as primeiras regras da sociologia, pensando também no método sociológico. Émille Durkheim Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 ANOTE ISSO O fato social é uma das principais reflexões de Durkheim. Para o autor, o fato social é uma forma de a sociedade agir, pensar ou sentir. Ou seja, quer dizer que os comportamentos são sociais (BITENCOURT; BEZERRA, 2011). Vamos descobrir um pouquinho mais sobre o fato social e suas principais características: • A generalidade, entendida como algo comum para a maioria em uma sociedade; • A exterioridade, significa que não depende do indivíduo para acontecer; • A coercitividade, ou seja, a pressão que a sociedade exerce sobre o indivíduo. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA O casamento é um exemplo de fato social, pois ele possui uma generalidade, já que muitas pessoas em nossa sociedade pensam em casar. O casamento também é algo externo, ou seja, possui a característica da exterioridade, que Durkheim desenvolve em relação ao fato social, pois há pessoas que não pensam em se casar. No entanto, os casamentos continuam ocorrendo. Ainda assim, a característica da coercitividade é bastante presente, pois há pressões de diversos tipos, em nossa sociedade, para que as pessoas se casem. Anéis de casamento Fonte:https://pixabay.com/pt/photos/an%c3%a9is-de-casamento-an%c3%a9is-de-noivado-3611277/ 3.3 Max Weber e as formas de dominação Ao estudarmos um pouco das reflexões de Durkheim, já conseguimos entender que a sociedade e os fatos sociais são elementos de interesse da sociologia. Agora, espero que vocês compreendam um pouco mais da sociologia e de suas bases fundamentais. https://pixabay.com/pt/photos/an%c3%a9is-de-casamento-an%c3%a9is-de-noivado-3611277/ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 Para isso, iniciaremos um trajeto no pensamento de Marx Weber e veremos que esse autor, também muito importante da sociologia, interpreta a sociedade de outra maneira. Weber foi um importante intelectual, jurista e economista alemão; é considerado também um dos pais e autores mais importantes da sociologia. Ao pensarsobre a sociedade, também a organização capitalista, desenvolveu inúmeros conceitos e uma metodologia específica, a sociologia compreensiva, para explicar o mundo e as relações sociais. Um dos conceitos de grande importância no pensamento sociológico weberiano é o de dominação. Vamos agora aprofundar e entender um pouco mais sobre o que é dominação. Para Weber, dominação é a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas em determinado grupo de pessoas. A dominação pode ser encontrada em diversos hábitos, tanto racionais, quanto inconscientes. A vontade de obedecer, ou seja, de interesse na obediência, faz parte da relação de dominação. É dessa maneira que o autor entende que o quadro de dominação com pessoas deve estar vinculado à obediência do senhor ou senhores, por costume, afeto, ou interesses materiais, ou motivos ideais (racionais referentes a valores). Para Weber (2015), a natureza desses motivos é que determina o grau e o tipo de dominação. Max Weber Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia Todas as dominações procuram despertar e cultivar a crença em sua legitimidade e dependendo da natureza da legitimidade é que diferem o tipo de obediência, além do caráter de três tipos de dominação legítima. https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 Caro aluno, agora que compreendemos o que é dominação para Weber, vamos entender um pouquinho sobre as formas de dominação para esse importante autor. ANOTE ISSO • racional: baseada na crença da legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando de quem está nomeado para exercer a dominação legal. • tradicional: baseada na crença cotidiana na santidade das relações vigentes e na legitimidade daqueles que representam a autoridade. • carismática: baseada na veneração extracotidiana da santidade, do poder heroico e do caráter de uma pessoa exemplar e das ordens reveladas por ela. Nas dominações baseadas em estatutos, é obedecida a ordem impessoal, objetiva e legalmente estatuída, em virtude da legalidade formal. Na dominação tradicional, obedece a pessoa do senhor nomeada pela tradição e vinculada aos hábitos dos costumes. Na dominação carismática, obedece ao líder carismaticamente qualificado em virtude do exemplo ou do heroísmo. Weber diz que esses são tipos ideais e puros, mas que não devem ser encaixados puramente na realidade histórica empírica. Os efeitos também partem disso, portanto, é necessário diferenciar as classes de dominação e suas pretensões para a legitimidade. 3.4 Karl Marx e a luta de classes Caro aluno, agora iniciaremos nossa reflexão acerca da teoria política de Karl Marx. Assim como Comte, Durkheim e Weber, Marx é um pensador muito importante para a sociologia que se colocou no objetivo de compreender a sociedade capitalista e refletir sobre as possibilidades de transformação desse sistema. Karl Marx (1818 – 1883) nasceu em Treves, no reino da Prússia, atual Alemanha. Escreveu muitos livros e foi de grande importância para entendermos a sociedade moderna capitalista. Em sua grande obra, Marx, desenvolveu vários conceitos para explicar como as relações de trabalho ocorrem no capitalismo. O diferencial de Marx e de seu companheiro Engels, foi o de compreender as contradições desse sistema político e econômico e buscar soluções para sua superação, ou seja, transformar a sociedade por sua base, pelos trabalhadores. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 Ao longo da nossa aula notamos que a teoria de todos esses autores estudados, é muito mais ampla e que nossas aulas trazem a introdução de conceitos, termos, categorias e reflexões teóricas desenvolvidas por esses pensadores. Sendo assim, em Comte vimos a formação da sociologia como ciência; em Durkheim entendemos o conceito de fato social; em Weber estudamos sobre as formas de dominação e, agora, em Marx, refletiremos sobre a luta de classes. Vamos começar por dois elementos essenciais: o primeiro é desfazendo uma interpretação equivocada a respeito das classes sociais. Para Marx, e para os marxistas, a classe não é definida pela renda, mas pelo o que ela possui, ou seja, os meios de produção. O exemplo presente em um dos principais textos de Marx e de seu camarada Engels, O Manifesto Comunista, é de que no feudalismo, os senhores feudais eram os donos de produção e no capitalismo, os burgueses possuem os meios de produção, não os operários (classe trabalhadora assalariada). Antes de Marx muitos economistas e estudiosos pensaram também a questão das classes sociais como uma forma de compreensão e de divisão da sociedade. Mas, a inauguração, “a novidade”, trazida por esse autor alemão foi de que a existência das classes sociais está ligada à forma que a sociedade se desenvolve e, conforme o sistema capitalista se desenvolveu e se consolidou, os trabalhadores passaram a ser mais explorados, principalmente com os adventos tecnológicos. Karl Marx Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 ANOTE ISSO Segundo Marx, a sociedade é dividida em classes sociais: os trabalhadores e os patrões (a classe dominada e a classe dominante), e isto é uma relação desigual que gera conflitos e contradições. No capitalismo, a classe dominante é a burguesia (aquela que possui os meios de produção, as fábricas, as indústrias e o controle do Estado e do Governo), os trabalhadores fazem parte da classe dominante, são assim chamados de proletariado (são os operários e os camponeses), diferente dos patrões que possuem os meios de produção, a classe trabalhadora possui apenas a força de trabalho, a vontade e a necessidade de trabalhar. O trabalhador vende a sua força de trabalho para o patrão como se fosse uma mercadoria, no final do mês, recebe um salário (MARTINS, 1994). Portanto, a luta de classes é mais do que uma oposição de ideias de diferentes grupos sociais. É a consequência do capitalismo e da divisão de classe no próprio sistema em que define quem é a burguesia e quem é o operariado (classe trabalhadora assalariada). ISTO ACONTECE NA PRÁTICA A greve é uma das manifestações mais conhecidas e que configura a luta de classes na sociedade capitalista, pois é o reflexo das contradições desse sistema: dos lucros, diferenças de salários, a desigualdade social e miséria para alguns e riqueza para outros. Veja na notícia abaixo um exemplo de greve em São Paulo. Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/greve-dos-professores-atinge-93-das-escolas-municipais-de-sp.ghtml https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/greve-dos-professores-atinge-93-das-escolas-municipais-de-sp.ghtml INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 AULA 4 A CIÊNCIA POLÍTICA E SEUS AUTORES Europa Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/europa-viajar-por-mapa-mundo-1264062/ Caro aluno, chegamos em mais um momento muito importante da nossa disciplina: aprofundar em mais uma subárea das Ciências Sociais, agora, a Ciência Política. Muitas vezes ouvimos dizer que política não se discute, ou temos a visão de que política significa propaganda eleitoral, candidatos, dissimulação por parte de alguns políticos, voto e cidadania. https://pixabay.com/pt/photos/europa-viajar-por-mapa-mundo-1264062/ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 Agora iremos compreender que política é muito mais do que isso e que, inclusive, é uma ciência. Como a Ciência Política está presente no nosso dia a dia muito mais do que imaginamos e não apenas em época eleitoral, uma das definições possíveis de CiênciaPolítica é que ela é o estudo que envolve método, prática, teoria e metodologia da política. Começaremos nossa abordagem com o surgimento dessa ciência e com alguns dos principais autores da Ciência Política com o objetivo de compreendermos o que é a Ciência Política e como ela foi se consolidando como campo de pesquisa, mas, além disso, sobre como, assim como a Antropologia e a Sociologia, ela é muito importante para entendermos o mundo em que vivemos, os sistemas políticos e as relações sociais que a Sociologia e a Antropologia visam analisar. É dessa maneira que, compreendendo as três áreas que envolvem as Ciências Sociais, você estará muito bem preparado para sua formação e também atuação profissional. 4.1 Maquiavel e a arte da política Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, na Itália, no ano de 1469 e faleceu na mesma cidade no ano de 1527. Um homem de seu tempo, com formação bastante ampla, Maquiavel é considerado um dos pensadores mais importantes para o nascimento da Ciência Política. Nicolau Maquiavel Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 Maquiavel foi autor de muitos textos. Dentre eles estão: Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio, Arte da Guerra, a peça Mandrágora, História de Florença, e O Príncipe, um pequeno livro muito famoso e que iremos conhecer um pouquinho! O livro O Príncipe é na verdade um aglomerado de relatórios de trabalho do florentino que demonstram ampla preocupação com o desaparecimento da Igreja e dos Estados com tendências democráticas, além de buscar transformar a sociedade, por meio de uma nova figura, a fim de propor uma união dos Estados. Para tanto, a política do período em que Maquiavel está inserido fortifica o nacionalismo e as monarquias. Devido aos interesses dos senhores, a unificação italiana perdeu espaço, somado ao fato da ausência de um grande líder que desse fim aos estrangeiros que colocavam estados uns contra os outros, em intensa oposição que aumentou e fortificou o nacionalismo e as monarquias. Para tanto, é possível notarmos que a preocupação de Maquiavel é a Independência da Itália e a restauração do Estado forte e da prosperidade (MAQUIAVEL, 2019). Maquiavel é um homem de seu tempo e simpatizante de monarquias e de Repúblicas constitucionais. Compreendeu muito bem a política do contexto a qual esteve inserido e foi o primeiro teórico a elaborar uma teoria do Estado moderno. ANOTE ISSO Nessa teoria é possível notar o caráter historicista e não racionalista. O autor preocupou-se em desenvolver uma teoria de Estado realista, entendendo que o Estado deve ser fundado nas leis ou na força, todavia, a forma coercitiva é mais importante do que a forma legal. Para Maquiavel, o Estado deve ser forte e próspero, pois significa que há um exército competente e disciplinado, fiel ao governante, que deve ser antes temido do que amado, pois deve despertar temor e respeito. (MAQUIAVEL, 2019). Para Ames (2014, p.89), em Maquiavel percebemos que a ação política é igual a ação estratégica, mas isso é incerto e o contingente se defronta com a fortuna: o imprevisível e aleatório que interfere no êxito das ações, isto torna necessário a virtù, que é um complexo de aptidões que permite aos homens impor as coisas ao rumo decidido. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 4.2 Hobbes e o Leviatã Caro aluno, agora que você conheceu um pouco do pensamento e das reflexões políticas de Nicolau Maquiavel, te convido para adentrarmos no campo da ciência política que foi formulado por autores contratualistas. O que isso quer dizer? Bom, esses autores contratualistas compreendem que apenas é possível viver em sociedade, harmoniosamente, se houver um Estado (aquele que organiza racionalmente a sociedade). ANOTE ISSO Os contratualistas compreendem a sociedade como um conjunto de indivíduos isolados que precisam conviver em sociedade; esses indivíduos isolados viviam no estado de natureza, um momento de guerra de todos contra todos, e decidiram abrir mão de suas liberdades e transferir para um poder centralizado que garantirá a vida social, a liberdade, a propriedade e que desenvolve todas as possíveis liberdades. Dessa forma, para os autores contratualistas, esses indivíduos realizam um pacto social e decidem criar uma sociedade que possua um governo, Estado, direitos, propriedades e deveres. Ainda no debate sobre o Estado, temos a obra Leviatã, de Thomas Hobbes, um pensador inglês que viveu entre os anos de 1588 e 1679. Hobbes foi influenciado por Maquiavel para constituir suas reflexões teóricas em relação ao Estado e à sociedade. Além disso, um dos aspectos essenciais em sua obra é que abriu espaço para que o racionalismo e o empirismo convivessem. Thomas Hobbes Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 Hobbes (2003) também um dos autores mais importantes da ciência política, analisou qual a melhor forma de governo em seu país. Compreendeu que o Estado autoritário, para o autor, absorve a liberdade e os direitos individuais, acreditando, portanto, na monarquia absoluta. O Leviatã, livro publicado em 1651, contexto histórico de guerra civil inglesa em que o Estado era muito questionado. Em seu livro, aborda um sistema de ética, psicologia, antropologia, educação, método, economia política e uma forma de jurisprudência analítica. Hobbes compreende que há o pacto social, ou seja, o momento em que os homens, ao desistirem do seu direito natural, submetem-se a um soberano visando apenas a salvação dos indivíduos em sociedade. ANOTE ISSO Portanto, Hobbes (2003) defende o poder absoluto do Estado sob a sociedade. O Estado serve para dar ordem à sociedade e limitar a liberdade individual, como se o Estado fosse um “mal necessário”, mas de forma que qualquer ação contra o Estado seria uma ação injusta, pois, para Hobbes (2003), o Estado deve trazer consigo a força para que os indivíduos obedeçam. E se alguém não obedecer o Estado, o que Hobbes pensaria? O pensador inglês compreende que caso alguém não obedeça, o Estado pode fazer uso da força para que os indivíduos obedeçam, de forma que a força será fundamental e legítima para garantir o pacto social. 4.3 John Locke John Locke, também um pensador contratualista, nasceu em 1632 e faleceu em 1704, no Reino Unido. É considerado o pai do liberalismo político, sendo, portanto, muito importante para nossa aula de Ciência Política. Suas principais reflexões foram colocadas nos livros: “Cartas sobre a tolerância”, “Ensaio sobre o entendimento humano” e os “Dois tratados sobre o Governo Civil”. John Locke Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 Com a sua filosofia, Locke influenciou a Revolução Gloriosa Inglesa e a Revolução Norte-Americana, que proclamou a Independência dos Estados Unidos, a Constituição dos Estados Unidos, assim como muitos pontos da nossa Constituição Federal possuem influências de suas ideias. Esse pensador também foi importante para os filósofos iluministas franceses, principalmente Voltaire e Montesquieu. Agora que você já conhece um pouquinho sobre quem foi John Locke, vamos aprofundar alguns conceitos desse autor. ANOTE ISSO • Estado de Natureza: Para Locke, é a situação em que vivia o homem antes de qualquer organização social, ou seja, antes do Estado existir, antes da sociedade civil; • Para Locke, a existência do indivíduo é anterior à sociedade e ao Estado; • Em sua concepção, no Estadode Natureza os homens eram livres, iguais e independentes. Inclusive eram dotados de razão e desfrutavam da propriedade que designava simultaneamente a vida, a liberdade e os bens como direitos naturais do ser humano; • Para Locke, os homens poderiam viver harmoniosamente nesse estado de natureza, se não houvessem os criminosos, os transgressores, aqueles que não seguem o que determina a razão e são a causa do estado de guerra entre os homens; • Há o perigo também da miséria e da fome, sempre presentes. É a falta de alimentos em certo estágio do estado de natureza que leva o homem a mudar seu procedimento mais solidário levando-o a ser individualista e preocupado com a acumulação. Isto propicia as trocas, a propriedade privada e o aparecimento do dinheiro. Mas também leva às disputas e às lutas, gerando o estado de guerra entre os homens. Devido a todos esses conflitos e problemas, para John Locke, os homens se uniram e estabeleceram livremente entre si o contrato social. Esse momento, que não é determinado com datas, realiza a passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil, único estado onde o homem pode ser efetivamente livre podendo preservar a si mesmo e à sua propriedade. Esse momento é denominado, para o autor, como o contrato social. Vamos aprofundar um pouquinho sobre o que isso significa para o pai do liberalismo. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 ANOTE ISSO Para Locke, o contrato social é um pacto de consentimento em que os homens concordam livremente em fundar a sociedade civil para preservarem e consolidarem ainda mais os direitos que possuem no estado de natureza. • Através deste pacto os indivíduos aceitam limitar sua liberdade, seu poder de fazer justiça com as próprias mãos, em troca da preservação da sua propriedade; • Estabelecido o estado civil o passo seguinte é a escolha pela comunidade de uma determinada forma de governo; • Para Locke, o governo pode ser de um só indivíduo ou de vários, mas o que importa é concentrar para si todo o direito de julgar e de castigar os criminosos de modo a assegurar para toda a comunidade e para cada um de seus membros a segurança, o conforto, a vida, a propriedade, os bens, a liberdade e a paz. 4.4 Jean-Jacques Rousseau Caro aluno, seguiremos na nossa jornada de conhecimento em relação à ciência política e as reflexões de alguns de seus mais importantes teóricos. Agora, iniciaremos nossa jornada para compreendermos um pouco sobre o pensamento iluminista, pois percorremos o pensamento de Maquiavel e sua visão de Estado; Hobbes e o Estado Monárquico; John Locke e o liberalismo. Nossa tarefa mais importante nesse momento é compreender quais as contribuições de Jean-Jacques Rousseu, que viveu entre os anos de 1712 e 1778, para a Ciência Política e para interpretarmos um pouquinho mais da sociedade em que vivemos. Primeiramente, vamos contextualizar o período histórico em que Rousseau escreveu um de seus mais importantes livros: O contrato social. Vocês irão perceber que esse autor não possui uma concepção semelhante com os outros que já estudamos, pois ele defende aspectos como a participação política dos indivíduos explorados e a soberania do povo. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 Jean-Jacques Rousseau Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau Rousseau viveu e escreveu durante o “século das luzes”, um período de destituição das monarquias absolutistas e de ascensão da burguesia. Sua obra reflete justamente o contexto histórico em que esteve inserido, além de ter influenciado a Revolução Francesa e causar muitas controvérsias em relação ao que antes já havia sido publicado por importantes pensadores. Vamos lembrar rapidamente o que foi o iluminismo? Segundo Ersching et al (2018, p.54): O Iluminismo, como movimento intelectual do século XVIII, buscava desenvolver a razão e a criticidade buscando liberdade e justiça, visto que a sociedade da época era hierárquica, sendo o Rei o detentor do poder e a Igreja responsável por influenciar e guiar a sociedade (ERSCHING et al, 2018, p.54). Ao escrever neste período de mudanças significativas para a estrutura da sociedade como um todo: política, cultura e economia, Rousseau “defendia uma sociedade justa, na qual as relações seriam baseadas na liberdade e na justiça”. (ERSCHING et al, 2018, p.54). Sendo assim, Rousseau entende que a soberania do povo é o que garante o Estado. Sua formulação teórica sobre Estado teoriza que esse é um ente administrativo que deve expressar a liberdade do povo e que todas as ações devem reproduzir a liberdade do povo (que é o alicerce do contrato social). https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 Como o povo exerce seu papel? Por meio do que Rousseau chama de vontade geral, que significa que um indivíduo é livre, mesmo quando submetido a uma autoridade política, porque obedece a leis às quais ele próprio deu seu consentimento. É nesse ponto que repousa a questão da autonomia, isto é, o indivíduo é livre, porque obedece a uma vontade que é a sua própria vontade, a qual está abarcada pela lei à qual ele está submetido. Não se trata da submissão a qualquer autoridade, mas à autoridade da lei, considerada legítima. Por essa razão, a liberdade não está igualmente atrelada a qualquer Estado, mas a um Estado legítimo, que é o republicano (CONSANI, 2018, p.99). Portanto, votar é de grande importância para Rousseau, pois demonstra uma questão de autonomia, de liberdade, de vontade própria que está permeada no Estado, não mais monárquico, mas um Estado que pertence a todos e que realiza a manutenção do pacto social; algo que deve envolver uma participação política de quem o criou. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA No site da Câmara dos Deputados do Brasil, é possível verificar uma análise de um cientista político a respeito do voto como importante instrumento para a democracia brasileira. Segundo Oliveira, “O que é importante é o eleitor ver quais são os problemas de política pública que afetam a vida dele, o lugar, as pessoas que estão próximas dele e aquilo que ele acredita ser importante para o país. E, a partir daí, identificar quais os candidatos e, especialmente, quais os partidos. O voto - especialmente, o voto proporcional, o voto na eleição para deputado federal - leva em consideração o partido ou a coligação. Então, é fundamental o eleitor ver não apenas quem é o candidato, mas o partido para o qual ele está dando o voto”. (OLIVEIRA, 2018). Fonte:https://www.camara.leg.br/radio/radioagencia/541329-cientista-politico-destaca-importancia-do-voto-como-instrumento-de-mudanca-politica-e- social/ https://www.camara.leg.br/radio/radioagencia/541329-cientista-politico-destaca-importancia-do-voto-como-instrumento-de-mudanca-politica-e-social/ https://www.camara.leg.br/radio/radioagencia/541329-cientista-politico-destaca-importancia-do-voto-como-instrumento-de-mudanca-politica-e-social/ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 AULA 5 CONSOLIDAÇÃO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS COMO CAMPO DE PESQUISA E CONHECIMENTO Livros, conhecimento Fonte:https://pixabay.com/pt/photos/biblioteca-livros-educa%c3%a7%c3%a3o-869061/ Caro aluno, chegamos a um estágio muito importante das Ciências Sociais e das nossas aulas, pois agora você já conhece muito bem sobre o que são as Ciências Sociais, sua importância e para quais grandes áreas ela se desenvolve: a Antropologia, a Sociologia e a Ciência Política. No decorrer das nossas aulas iremos entender também a relação das Ciências Sociais com outras áreas do conhecimento. Este é um momento muito importante, pois agora iremos nos aprofundarsobre questões bastantes teóricas e sua relação com as Ciências Sociais. Para https://pixabay.com/pt/photos/biblioteca-livros-educa%c3%a7%c3%a3o-869061/ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 compreendermos o debate em torno da consolidação das Ciências Sociais como campo de pesquisa e de conhecimento, é necessário refletirmos sobre o que é ciência, o que é o conhecimento científico e, para isso, utilizaremos diversas abordagens, com autores muito influentes em questões teóricas e científicas desta área de estudo. 5.1. A questão do conhecimento científico Quando pensamos em conhecimento científico, principalmente na área das Ciências Humanas e Sociais, Lucien Goldmann (1913-1970) é um autor de grande importância e que coloca problemas acerca da objetividade nas Ciências Humanas. Goldmann nasceu na Romênia e adentrou na área da filosofia e da sociologia. Muito influenciado por Durkheim, Weber e Gyorgy Lukács, passa a constatar que Durkheim retirou de Marx dois pontos centrais: “a) O estudo científico dos fatos humanos não pode fundar logicamente por si só nenhum juízo de valor” e que “b) O pesquisador deve esforçar-se por chegar à imagem adequada dos fatos, evitando toda deformação provocada por suas simpatias ou por suas antipatias pessoais”. (GOLDMANN, 1978, np). Dessa forma, o autor coloca dois pontos para refletirmos: o primeiro é a pergunta que nos fazemos: Afinal, o que é o conhecimento científico? E, a segunda, a questão é o problema da objetividade nas Ciências Humanas, de forma que pensaremos nas Ciências Sociais. ANOTE ISSO Primeiramente, devemos compreender que o conhecimento científico é na verdade um processo e que é próprio do ser humano. Para tanto, se torna um processo humano, histórico e social e, O processo do conhecimento científico é ele próprio um fato humano, histórico e social; isso implica, ao estudar a vida humana a identidade parcial entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Eis porque o problema da objetividade se coloca diferentemente nas ciências humanas do que na física ou na química.” (GOLDMANN, 1978, np). Dessa maneira, compreendemos que as ciências humanas são a análise da ação, da estrutura e “das aspirações que animam e das alterações que sofre”. (GOLDMANN, 1978, np). INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 Para tanto, a questão da objetividade nas Ciências Humanas e Sociais é uma questão de método e de organização metodológica e teórica, bem como pode ser voltado para a história. Por ser esse um problema que sempre chamou a atenção das Ciências Sociais e de seus cientistas, “poderiam ser as Ciências Sociais objetivas?”, muitos foram os pesquisadores que passaram a responder essa questão. Como o objetivo das Ciências Sociais é o de apreender e analisar a realidade concreta, os pesquisadores acabam enxergando a possibilidade de analisar diferentes aspectos da realidade a ser pesquisada. A importância da objetividade, portanto, está no fato de compreender a relação com o real e a análise do todo, ou de uma parte específica de grande importância e que esteja estritamente relacionada com aquilo que se analisa. Para Goldmann, a objetividade está relacionada com a interpretação de que o comportamento é um fato total (de uma totalidade relativa, claro está; não é senão um elemento da totalidade homens-natureza), as tentativas de separar seus aspectos “material” e “espiritual” não podem ser, no melhor dos casos, senão abstrações provisórias, sempre implicando grande perigo para o conhecimento. É a razão pela qual o investigador sempre deve esforçar-se por encontrar a realidade total e concreta, ainda que saiba não poder alcançá-la a não ser de uma maneira parcial e limitada, e para isso esforçar-se por integrar no estudo dos fatos sociais a história das teorias a respeito desses fatos, assim como por ligar o estudo dos fatos de consciência à sua localização histórica e à sua infra-estrutura econômica e social”. (GOLDMANN, 1978, np). É dessa maneira que o autor passa a interpretar que os maiores e principais problemas colocados para as Ciências Sociais, assim como os valores sociais, os interesses, são muito divergentes. Para ele, estando todo pensamento intimamente ligado à ação, não se tem mais legitimamente o direito de falar de “ciência” da sociedade ou de sociologia; seria, portanto, um processo de conscientização, de consciência que se exprime “no plano da descrição ou da explicação dos fatos humanos”. Para tanto, o autor constata que todo pensamento histórico ou sociológico sofre profundas influências sociais, no mais das vezes, não explícitas para o pesquisador individual, influências que ele nunca poderá eliminar mas que, ao contrário, deverá tornar conscientes e integrá-las na investigação científica para evitar ou para reduzir ao mínimo sua ação deformante (GOLDMANN, 1978, np). INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 5.2 A produção das Ciências Humanas e Sociais Caro aluno, a nossa perspectiva central é de que o pensamento científico e novas teorias sempre surgem em novos tempos e devido às mudanças das sociedades, de paradigmas: sejam elas econômicas, culturais ou políticas. ANOTE ISSO A emergência de novas teorias é geralmente precedida por um período de insegurança profissional pronunciada, pois exige a destruição em larga escala de paradigmas e grandes alterações nos problemas e técnicas da ciência normal (KUHN, 2011, p.95). ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Como exemplo prático do assunto que estamos falando, a questão de Marte aparece como essencial. Marte é um assunto que tem mexido com pesquisadores em todo o mundo e desenvolvido muitas pesquisas científicas, nas mais diversas áreas. Com esse exemplo, é possível observarmos na prática o que Kuhn (2011) compreende sobre a relação entre ciência e a emergência de novas práticas e teorias junto com mudanças de paradigmas. Na reportagem abaixo é possível observar indagações de cientistas e as tentativas de respondê-las, de forma que isso causa transformações em diferentes, múltiplos e variados aspectos da esfera da vida social. Fonte: https://www.cartacapital.com.br/mundo/robo-da-nasa-inicia-trajeto-a-marte-para-buscar-rastros-de-vida/ ANOTE ISSO Portanto, compreendamos os pontos essenciais: As ciências são construções humanas, de tal maneira são também construções sociais e históricas. O resultado é um entendimento sobre os processos científicos; Ciência é a complexa relação entre teorias, dados e paradigmas, e não é neutra, pois define o que pode ou não ser possível; A partir da observação há o que se pode ver; https://www.cartacapital.com.br/mundo/robo-da-nasa-inicia-trajeto-a-marte-para-buscar-rastros-de-vida/ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS PROF. MARÍLIA GABRIELLA BORGES MACHADO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 De forma muito semelhante (ao que ocorre nas revoluções políticas), as revoluções científicas iniciam-se com um sentimento crescente, também seguidamente restrito a uma pequena subdivisão da comunidade científica, de que o paradigma existente deixou de funcionar adequadamente na exploração de um aspecto da natureza, cuja exploração fora anteriormente dirigida pelo paradigma. [...] o sentimento de funcionamento defeituoso, que pode levar à crise, é um pré-requisito para a revolução (KUHN, p.2011, 126). ANOTE ISSO Nesse sentido, a questão do progresso está voltada para o desenvolvimento capitalista e tudo que “conduz ao capitalismo e à industrialização fabril, esta visão da história desqualificava qualquer forma alternativa de organização como retrógrada ou inviável (utópica)”. (FONTANA, 2004, p.159). Compreendendo, portanto, o contexto histórico que o desenvolvimento do pensamento científico e a produção das ciências humanas