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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/323970912 LIVRO Avaliação da aprendizagem a pluralidade de práticas e suas implicações na educação Book · April 2018 CITATION 1 READS 11,596 3 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: VII Congresso Internacional em Avaliação Educacional View project Lucas Melgaço da Silva Universidade Federal do Ceará 32 PUBLICATIONS 34 CITATIONS SEE PROFILE Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Universidade Federal do Ceará 24 PUBLICATIONS 60 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Lucas Melgaço da Silva on 06 April 2018. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/323970912_LIVRO_Avaliacao_da_aprendizagem_a_pluralidade_de_praticas_e_suas_implicacoes_na_educacao?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/323970912_LIVRO_Avaliacao_da_aprendizagem_a_pluralidade_de_praticas_e_suas_implicacoes_na_educacao?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/VII-Congresso-Internacional-em-Avaliacao-Educacional?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Lucas-Da-Silva-7?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Lucas-Da-Silva-7?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade-Federal-do-Ceara?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Lucas-Da-Silva-7?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Maria-Ciasca?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Maria-Ciasca?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade-Federal-do-Ceara?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Maria-Ciasca?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Lucas-Da-Silva-7?enrichId=rgreq-01509a1e4d6f181335ac2992f57c7769-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMzk3MDkxMjtBUzo2MTI0MzAzMTcwOTY5NjBAMTUyMzAyNjE3NDA0MQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Avaliação da Aprendizagem a pluralidade de práticas e suas implicações na educação COLEÇÃO PRÁTICAS EDUCATIVAS Comitê Editorial Lia Machado Fiuza Fialho | Editora-Chefe José Albio Moreira Sales José Gerardo Vasconcelos ConsElho Editorial Antonio Germano Magalhães Junior | UECE António José Mendes Rodrigues | FMHU/Lisboa Cellina Rodrigues Muniz | UFRN Charliton José dos Santos Machado | UFPB Elizeu Clementino de Souza | UNEB Emanoel Luiz Roque Soares | UFRB Ercília Maria Braga de Olinda | UFC Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento | UNIT Isabel Maria Sabino de Farias | UECE Jean Mac Cole Tavares Santos | UERN José Rogério Santana | UFC Maria Lúcia da Silva Nunes | UFPB Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Júnior | UECE Robson Carlos da Silva | UESPI Rui Martinho Rodrigues | UFC Samara Mendes Araújo Silva | UESPI UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ rEitor José Jackson Coelho Sampaio ViCE-rEitor Hidelbrando dos Santos Soares EDITORA DA UECE CoordEnação Editorial Erasmo Miessa Ruiz ConsElho Editorial Antônio Luciano Pontes Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes Emanuel Angelo da Rocha Fragoso Francisco Horacio da Silva Frota Francisco Josênio Camelo Parente Gisafran Nazareno Mota Jucá José Ferreira Nunes Liduina Farias Almeida da Costa Lucili Grangeiro Cortez Luiz Cruz Lima Manfredo Ramos Marcelo Gurgel Carlos da Silva Marcony Silva Cunha Maria do Socorro Ferreira Osterne Maria Salete Bessa Jorge Silvia Maria Nóbrega-Therrien ConsElho ConsultiVo Antonio Torres Montenegro | UFPE Eliane P. Zamith Brito | FGV Homero Santiago | USP Ieda Maria Alves | USP Manuel Domingos Neto | UFF Maria do Socorro Silva de Aragão | UFC Maria Lírida Callou de Araújo e Mendonça | UNIFOR Pierre Salama | Universidade de Paris VIII Romeu Gomes | FIOCRUZ Túlio Batista Franco |UFF O r g a n i z a d o r e s Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Lucas Melgaço da Silva Karlane Holanda Araújo Avaliação da aprendizagem: a pluralidade de práticas e suas implicações na educação ADOLFO IGNACIO CALDERÓN ADRIANA EUFRÁSIO BRAGA ALBANO OLIVEIRA NUNES ANA PAULA DE MEDEIROS RIBEIRO ANTÔNIA EDIVANEIDE DE SOUSA GONZAGA ARTEMÍZIA RIBEIRO LIMA COSTA ASSIS LEÃO DA SILVA CAETANO ROBERTO SOUSA DE FREITAS CRISTIANO DORNELAS DE ANDRADE DENISE GROSSO DA FONSECA DENIZE DE MELO SILVA DINÁ ESTER BATISTA DO NASCIMENTO EUGENIO EDUARDO PIMENTEL MOREIRA EVELINE VALÉRIO ALVES FRANCISCO MOREIRA OTAVIANO JÁDERSON CAVALCANTE DA SILVA JEFFERSON FALCÃO SALES JOCYANA CAVALCANTE DA SILVA JÚLIO WILSON RIBEIRO KARLANE HOLANDA ARAÚJO KÉTILLA MARIA VASCONCELOS PRADO LUCAS MELGAÇO DA SILVA MARCOS ANTONIO MARTINS LIMA MARIA IRACEMA PINHO DE SOUSA MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA NÁGILA RABELO DE LIMA NICOLINO TROMPIERI FILHO OLÍVIA COELHO DA SILVA PAULO SÉRGIO BESSA SALGADO RAFAEL BRITTO DE SOUZA RAIMUNDO HÉLIO LEITE RITA DE FÁTIMA MUNIZ SANDRA MARIA COÊLHO DE OLIVEIRA SHEILA MARIA MUNIZ SILVANA MENDES SABINO SOARES SONIA MARIA DE SOUSA FABRICIO NEIVA TANIA VICENTE VIANA VICENTE MOLINA NETO WILMA DOS SANTOS FERREIRA 1a EDIÇÃO FORTALEZA | CE 2017 aValiação da aprEndizagEm: a pluralidadE dE prátiCas E suas impliCaçõEs na EduCação © 2017 Copyright by Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca, Lucas Melgaço da Silva e Karlane Holanda Araújo (OrganizadOres) impressO nO Brasil / Printed in Brazil efetuadO depósitO legal na BiBliOteca naciOnal TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Editora da Universidade Estadual do Ceará – EdUECE Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus do Itaperi – Reitoria – Fortaleza – Ceará CEP: 60714-903 – Tel.: (85) 3101-9893 – Fax: (85) 3101-9893 Internet: www.uece.br/eduece – E-mail: eduece@uece.br dadOs internaciOnais de catalOgaçãO na puBlicaçãO (cip) BiBliOtecária: Regina Célia Paiva da Silva crB – 1051 cOOrdenaçãO editOrial Erasmo Miessa Ruiz prOjetO gráficO e capa Carlos Alberto Alexandre Dantas carlosalberto.adantas@gmail.com revisãO de textO e nOrmalizaçãO BiBliOgráfica Felipe Aragão de Freitas Carneiro felipearagaofc@hotmail.com A 945 Avaliação da aprendizagem: a pluralidade de práticase suas implicações na educação / Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca, Lucas Melgaço da Silva, Karlane Holanda Araújo (orgs.). – Fortaleza: EdUECE, 2017. 380p.: il.14cmx21cm Inclui gráficos e tabelas ISBN: 978-85-7826-553-3 1. Avaliação Educacional. 2. Educação Inclusiva – Políti- ca Governamental – Avaliação – Brasil. 3. Educação e Estado – Brasil. 4. Professores – Formação – Brasil. 5. Ensino Médio – Brasil. 6. Ensino Superior – Brasil. 7. Silva, Lucas Melgaço da. 8. Ciasca, Maria Isabel Filgueiras Lima. 9. Araújo, Karlane Holanda. I. Título. CDD. 379.154 Sumário APRESENTAÇÃO: AVALIAÇÃO PARA A GARANTIA DO DIREITO À APRENDIZAGEM | 9 Adolfo Ignacio Calderón UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ | 23 Lucas Melgaço da Silva Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Karlane Holanda Araújo MODELOS DE AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA | 43 Assis Leão da Silva Wilma dos Santos Ferreira Cristiano Dornelas de Andrade PROPOSTAS PARA A MELHORIA DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS NO ENSINO MÉDIO NA VISÃO DOCENTE | 62 Sandra Maria Coêlho de Oliveira Eugenio Eduardo Pimentel Moreira AVALIAÇÃO EM DEBATE: O CASO DO ENSINO MÉDIO GAÚCHO | 80 Denise Grosso da Fonseca Vicente Molina Neto DAS AVALIAÇÕES DA APRENDIZAGEM AO ENEM: A CONSTRUÇÃO DE COMPETÊNCIAS MATEMÁTICAS DO ENSINO MÉDIO ATRAVÉS DA INTERDISCIPLINARIDADE | 100 Caetano Roberto Sousa de Freitas Tania Vicente Viana PRÁTICAS AVALIATIVAS EXCLUDENTES E ENSINO MÉDIO: A SELETIVIDADE EDUCACIONAL INSTITUCIONALIZADA | 117 Paulo Sérgio Bessa Salgado Tania Vicente Viana AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA EM ARRAIAS-TO | 137 Sonia Maria de Sousa Fabricio Neiva AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: PERCEPÇÕES DOS LICENCIANDOS DE PEDAGOGIA DE UMA INSTITUIÇÃO PRIVADA | 154 Artemízia Ribeiro Lima Costa Albano Oliveira Nunes Adriana Eufrásio Braga A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA CONCEPÇÃO DOS PROFESSORES DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA DO IFPB – CAJAZEIRAS | 173 Antônia Edivaneide de Sousa Gonzaga Raimundo Hélio Leite SIGNIFICADOS E SENTIDOS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA EM AMBIENTE EDUCACIONAL NA CONCEPÇÃO DE PROFESSORES | 191 Jáderson Cavalcante da Silva Jocyana Cavalcante da Silva Nicolino Trompieri Filho A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO E TREINO DE HABILIDADES SOCIAIS PARA A FORMAÇÃO DOCENTE | 210 Rafael Britto de Souza Nicolino Trompieri Filho CURRÍCULO NA ALFABETIZAÇÃO: O CONTEXTO DA MATRIZ DE REFERÊNCIA DA AVALIAÇÃO NACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO (ANA) | 223 Nágila Rabelo de Lima Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Jáderson Cavalcante da Silva O OLHAR PEDAGÓGICO SOBRE OS RESULTADOS DO SPAECE-ALFA REFERENTES À COMPETÊNCIA LEITORA | 242 Olívia Coelho da Silva Ana Paula de Medeiros Ribeiro Diná Ester Batista do Nascimento A COMPETÊNCIA LEITORA EM DESENVOLVIMENTO: CONCEPÇÕES, PRÁTICAS E AVALIAÇÃO | 256 Silvana Mendes Sabino Soares Ana Paula de Medeiros Ribeiro AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL | 275 Eveline Valério Alves Ana Paula de Medeiros Ribeiro A AVALIAÇÃO COMO QUESITO MOTIVADOR E INCLUSIVO NO ENSINO SUPERIOR | 288 Francisco Moreira Otaviano Denize de Melo Silva Marcos Antonio Martins Lima AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: UMA IMPORTANTE FERRAMENTA PARA A TOMADA DE DECISÃO | 305 Kétilla Maria Vasconcelos Prado Adriana Eufrásio Braga AUTISTAS NO ENSINO REGULAR: AVALIAÇÃO, INCLUSÃO E VULNERABILIDADE | 324 Jefferson Falcão Sales Tania Vicente Viana TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE: ABORDAGENS SOBRE A INCLUSÃO E A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL DE CRIANÇAS COM TDAH | 341 Sheila Maria Muniz Rita de Fátima Muniz Tania Vicente Viana AVALIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM ASSÍNCRONA: UMA ANÁLISE INTER-RELACIONAL E TRANSDISCIPLINAR A PARTIR DO MAPEAMENTO COGNITIVO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA | 356 Maria Iracema Pinho de Sousa Júlio Wilson Ribeiro 9 APRESENTAÇÃO: AVALIAÇÃO PARA A GARANTIA DO DIREITO À APRENDIZAGEM ADOLFO IGNACIO CALDERÓN Pós-doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra (UC), doutor, mestre e gradua- do em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Professor titu- lar do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC/Campinas. Bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Líder do Grupo de Avaliação, Políticas e Sistemas Educacionais (Grapse), cadastrado no CNPq. Membro titular do Conselho Científico da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave). Assessor e/ou con- sultor científico de agências de fomento à pesquisa, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o CNPq, e de fundações de amparo à pesquisa, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular (Funadesp), entre outras. E-mail: <adolfo.ignacio@puc-campinas.edu.br>. 10 ADOLFO IGNACIO CALDERÓN “Há aqueles que não podem imaginar o mundo sem pássaros; Há aqueles que não podem ima- ginar o mundo sem água; Ao que me refere, sou incapaz de imaginar um mundo sem livros.” (Jorge Luis Borges) Em tempos em que muitos acreditavam que os livros deixa- riam de existir, eles se renovam e assumem novos formatos, con- vivendo livros eletrônicos com os tradicionais, revelando que, em um mundo cada vez mais globalizado, parafraseando Jorge Luis Borges, ainda é difícil imaginar um mundo sem livros. Em tempos de consagração dos artigos científicos como meio privilegiado de divulgação dos avanços da produção do conhecimento, no qual se relega a um segundo plano a produ- ção de livros, assiste-se, de forma aparentemente paradoxal, aos esforços de três pesquisadores vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará (UFC) – a doutora Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca e os doutorandos Lucas Melgaço da Silva e Kar- lane Holanda Araújo –, que, de forma primorosa, organizaram a coletânea Avaliação da aprendizagem: a pluralidade de prá- ticas e suas implicações na educação, orquestrando harmo- nicamente as contribuições de 38 autores, que apresentaram seus pontos de vista sobre um amplo leque temático dentro do campo da avaliação educacional, a partir de resultados de pesquisas financiadas, em sua grande maioria, por agências de fomento1. 1 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 11 APRESENTAÇÃO: AVALIAÇÃO PARA A GARANTIA DO DIREITO À APRENDIZAGEM São várias as reflexões que a finalização da leitura desta densa obra, composta por 20 capítulos e quase 400 páginas, possibilitou-me, as quais compartilho com os leitores ao longo destas páginas. A primeira delas diz respeito à minha pequenez dian- te da imensidão do conhecimento, principalmente ao ver a diversidade de temas no campo da avaliação da educação abordados nesta coletânea, a mesma que revela as múltiplas preocupações teóricas de pesquisadores vinculados a diversas instituições de ensino2, todas elas direcionadas, a meu modo de ver, para a garantia do direito à aprendizagem. Ler esta obra me fez lembrar imediatamente das con- tribuições teóricas de Clarilza Prado de Sousa em seu artigo “Dimensões da avaliação educacional” (SOUSA, 2000, p. 101), no qual, retomando os trabalhos de Maria Amélia Azevedo Goldberg, destaca que a avaliação educacional tem sido defini- da como um “casaco de diversas cores”, que se utiliza confor- me o local e a ocasião, isto é, que “[...] a avaliação tem muitas dimensões e que, dependendo dos seus propósitos, cada esco- lha define os métodos [e] a definição dos métodos que melhor possam atender ao tipo de decisão a ser tomada”. Embora no título desta coletânea conste como chama- da principal “avaliação da aprendizagem”, sua leiturarevela como estão entrelaçadas e profundamente imbricadas três grandes modalidades de avaliação – avaliação da aprendiza- gem, avaliação institucional e avaliação de sistemas –, tornan- Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular (Funadesp) e Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). 2 Universidade Federal do Ceará (UFC), Instituto Federal de Educação, Ci- ência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Universidade Federal de Per- nambuco (UFPE), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Tocantins (UFT), Faculdade do Vale do Jaguari- be (FVJ), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) e Universidade Federal do Cariri (UFCA). 12 ADOLFO IGNACIO CALDERÓN do-se cada vez mais difícil abordar a questão da avaliação da aprendizagem de forma desvinculada de outras modalidades. A segunda reflexão diz respeito à ratificação de que a avaliação é essencialmente “[...] polissêmica e carregada de valores, que põe em questão os significados dos fenômenos” (DIAS SOBRINHO, 2008, p. 194). Nesse sentido, os diversos capítulos, distantes de apresentarem certa homogeneização epistemológica, evidenciam diversas formas de compreender a avaliação, revelando o conflito paradigmático e muitas vezes dicotômico existente entre duas grandes abordagens, que as- sumem diversas denominações, dependendo dos autores e do campo do saber: abordagens objetivistas e subjetivistas (DIAS SOBRINHO, 2004; FRANCO, 1990), abordagens empírico-ra- cionalistas e abordagens críticas ou sociocríticas (FERNAN- DES, 2010), abordagens dentro do paradigma do consenso e abordagens dentro do paradigma do conflito (SANDER, 1984), abordagens no pilar da regulação ou no pilar da emancipa- ção (SANTOS, 1997), ou ainda abordagens desumanizadoras e abordagens humanizadoras (FREIRE, 2011). Dentro desse ambiente teoricamente polarizado, faço minhas as teses de Fernandes (2010, p. 18), que defende o discernimento pragmático como atitude do avaliador diante de “[...] certo caos teórico que se vive no domínio da avalia- ção e certa tendência que, inevitavelmente, vai persistindo, para a subordinação dos avaliadores às clássicas ortodoxias ontológicas, epistemológicas e metodológicas”. Nessa óptica, entende-se por discernimento pragmático o “[...] processo de distinguir, de separar, diferentes abordagens avaliativas para precisamente as poder reagrupar e integrar e para as poder utilizar adequadamente quando a avaliação está no terreno” (FERNANDES, 2010, p. 18). Para Fernandes (2010), o discer- nimento pragmático exige tomadas de posição mais elabora- das, mais sofisticadas e sustentadas nos recursos teóricos e 13 APRESENTAÇÃO: AVALIAÇÃO PARA A GARANTIA DO DIREITO À APRENDIZAGEM práticos disponíveis, enquadrando-se na perspectiva de que toda ação avaliativa deve ser útil “[...] e tem que contribuir para ajudar a resolver problemas e, consequentemente, para criar bem-estar nas pessoas, nas instituições e na sociedade em geral” (FERNANDES, 2010, p. 18). Essa visão pode ser englobada em um movimento te- órico que defende abordagens mais ecléticas no âmbito da avaliação, como aquela apontada por Worthen, Sanders e Fitzpatrick (2004, p. 260), que, distante de se preocupar em identificar qual abordagem é a melhor, parte do princípio de que todas as abordagens são úteis, “[...] escolhendo e combi- nando conceitos das abordagens da avaliação para adaptá-los à situação em pauta, usando partes das várias abordagens quando parecem apropriadas”. Nesse sentido, a presente obra me fez refletir sobre o desafio existente entre pesquisadores e profissionais da avaliação educacional na construção e na adoção de aborda- gens que superem a dicotomização e o maniqueísmo teórico no campo da avaliação educacional, ficando evidente apren- der com o legado de pioneiros da avaliação educacional, como Heraldo MarelimVianna, “[...] um dos autores brasileiros que mais se dedicaram ao tema da avaliação educacional, quando esse ainda era muito incipiente no país” (NOVAES, 2014, p. 7), que afirmou: Acreditamos que um avaliador se constrói ao longo de sua experiência profissional, que, no nosso caso particular, contribuiu para que não tivéssemos uma visão maniqueísta de aceitação irrestrita ao positivismo e rejeição incondicio- nal às alternativas que o condenam: pós-posi- tivismo, teoria crítica e construtivismos, que conflitam entre si, ainda que se unam na sua oposição ao empirismo. A partir das nossas vi- vências pessoais, quantitativo e qualitativo, ob- 14 ADOLFO IGNACIO CALDERÓN jetivismo e subjetivismo, deixaram de ser polos opostos, irreconciliáveis, que não podem coe- xistir, mas posicionamentos que se completam no exercício da avaliação educacional, onde não devem existir Ormuz e Arimã, mas um pensa- mento suficientemente flexível para adequar as várias metodologias à diversidade das situações. (VIANNA, 2014, p. 102-103). Uma terceira e última reflexão destaca que se, por um lado, a avaliação é um campo polissêmico, por outro, parafra- seando Dias Sobrinho (2008, p. 194), a avaliação “não deve ser dispersiva”, isto é, “não pode perder o seu foco principal, para também não perder sua eficácia social e pedagógica”. Embora esse raciocínio mostre-se coerente e possa revelar-se consen- sual, certamente o dissenso emerge no momento de definir o foco principal da avaliação educacional – neste caso, a avalia- ção da aprendizagem e sua relação indissociável com a ava- liação de sistemas e a avaliação institucional –, seus sentidos, razões e objetivos. Se de abordar esse tópico tão sensível se trata, como é o caso do foco principal da avaliação educacional, alinho-me aos autores que, influenciados pelos avanços dos direitos huma- nos em âmbito planetário, defendem a avaliação como uma es- tratégia que tem como fim último garantir a todos os cidadãos o direito à aprendizagem ao longo da vida. Isto posto, dentro de uma perspectiva da chamada cidadania planetária defendida por Morin (2000), que contextualizo na noção comteana de con- sensus universalis, no sentido da comunhão de ideias existen- tes em uma determinada comunidade ( SANDER, 1984) – nes- te caso, uma comunidade planetária (do gênero humano) –, ganha centralidade a Declaração mundial sobre educação para todos: satisfação das necessidades básicas de aprendiza- gem (UNESCO, 1998), aprovada em 1990 em Jomtien, Tailân- dia, que se tornou um marco para a implantação de políticas 15 APRESENTAÇÃO: AVALIAÇÃO PARA A GARANTIA DO DIREITO À APRENDIZAGEM educacionais para a retomada de esquecidas funções da escola e para a definição do papel da avaliação educacional. Distante de leituras críticas que consideram que as po- líticas educacionais elaboradas a partir da referida Declara- ção “[...] selaram o destino da escola pública brasileira e seu declínio” (LIBÂNEO, 2012, p. 15-16), ao concebê-la como “[...] a escola do acolhimento social, da integração social, voltada aos pobres e dedicada, primordialmente, a missões sociais de assistência e apoio às crianças”, em decorrência da redefini- ção de “[...] funções da escola assentada nas políticas educa- tivas do Banco Mundial”, defendo uma visão mais otimista, na qual a referida Declaração colocou o direito à aprendiza- gem na agenda mundial, sinalizando formas concretas para garantir um direito do qual se encontram excluídos milhões de seres humanos: o direito à educação. Nessa óptica, o direito à aprendizagem ganha concretude ao destacar a necessidade de construir: [...] tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a ex- pressão oral, o cálculo, a solução de problemas), quanto os conteúdos básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes), necessários para que os seres huma- nos possam sobreviver, desenvolver plenamen- te suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamentedo desenvolvi- mento, melhorar a qualidade de vida, tomar de- cisões fundamentadas e continuar aprendendo. (UNESCO, 1998, p. 1). A meu modo de ver, a Declaração é assertiva ao des- tacar a necessidade de focalizar instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas) e conteúdos básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores 16 ADOLFO IGNACIO CALDERÓN e atitudes), que, mesmo que seus críticos mais contundentes não queiram reconhecer, são fundamentais inclusive para fa- zer a chamada leitura de mundo, defendida pelo patrono da educação brasileira, Paulo Freire (2011), e o desenvolvimento do pensamento crítico. A Declaração inova ao estabelecer como foco não mais a mensuração do acesso ao direito da educação por meio de matrículas, dando destaque à efetiva aprendizagem dos alu- nos. Dessa forma, em 1990 é lançado o desafio planetário de construir, nos diversos países do mundo, toda uma estrutura educacional que concretamente contribua para garantir o di- reito à aprendizagem por meio da: 1) definição clara dos co- nhecimentos e habilidades que os alunos devem desenvolver; 2) definição de níveis desejáveis de desempenho; 3) obtenção de “[...] informações e/ou pesquisas confiáveis sobre as neces- sidades básicas de aprendizagem da população”; 4) construção de “[...] sistemas de avaliação de desempenho” para monito- rar e verificar se o direito à educação está sendo concretizado para todos os cidadãos (UNESCO, 1998, p. 4). Ao estabelecer como desafios, em termos de políticas educacionais, “[...] universalizar o acesso à educação e promo- ver a equidade” e “[...] concentrar a atenção na aprendizagem” (UNESCO, 1998, p. 4), a Declaração resgata a função última na escola que já tinha sido defendida por diversos autores em décadas passadas, mas que, segundo minha concepção, acaba- ram caindo no ostracismo, devido à influência das abordagens teórico-críticas no campo das ciências da educação na década de 1980. Nesse sentido, ressalto e abraço as ideias divulgadas, na década de 1960, por Robert L. Ebel, em sua obra Filosofia da medida educacional, cujo eco ganha pertinência e significa- do mais do que nunca: Não duvidemos nunca do poder da educação para o aperfeiçoamento humano. Mas não come- 17 APRESENTAÇÃO: AVALIAÇÃO PARA A GARANTIA DO DIREITO À APRENDIZAGEM tamos o erro também de supor que as escolas podem e devem incumbir-se da solução de todos os problemas do mundo: de guerra ou de opres- são, de pobreza ou de exploração, de inflação ou de desemprego, de ansiedade ou de desespero, de subdesenvolvimento ou de superpopulação. Se as escolas colocarem nos ombros os encargos do mundo, tenderão a negligenciar as tarefas es- pecíficas do treinamento, instrução e educação, que constituem sua responsabilidade especial. A tarefa de auxiliar a aprendizagem é suficiente- mente provocadora e suficientemente importan- te para ocupar o tempo de todas as escolas para consumir-lhes toda a energia e recursos. (EBEL, 1968, p. 23). Com essa abordagem, retoma-se a tarefa principal da escola, que é auxiliar na aprendizagem, bem como se revela um convite a romper preconceitos em relação a duas tarefas insubstituíveis do trabalho docente: treinamento e instrução. E educar? É uma terceira tarefa que sem dúvida alguma a família divide com a escola, dentro de certos limites. No tocante a essa abordagem, acredito que as teses de- fendidas por Ribeiro (2013, p. 76), à luz do pensamento de diver- sos autores, como Crahay e Dubet, ganham força e demarcam o devido lugar da avaliação educacional, ao considerar que: [...] a avaliação externa de sistemas de ensino para verificar o desempenho de todos os alunos, inclusive daqueles de menor nível socioeconômi- co, pode ser um dos pilares da consecução da justiça na escola quando possibilita uma inter- venção pedagógica que reafirma os necessários vínculos entre o currículo, o ensino e a aprendi- zagem. Depreende-se ainda que a igualdade de base somente poderá fundamentar uma política educacional quando se define quais são as ha- bilidades e competências que os alunos devem 18 ADOLFO IGNACIO CALDERÓN dominar nas distintas etapas da escolaridade da educação básica. Essa visão fundamenta a importância e a necessidade de uma Base Nacional Curricular Comum, na medida em que “[...] um currículo voltado à justiça na escola é dotado de certas características: possui objetivos de aprendizagem claros e é ca- paz de denotar o encadeamento desses objetivos” (RIBEIRO, 2013, p. 76). É desde essa perspectiva que a presente coletânea per- mite visualizar o quanto se tem avançado em termos positivos no campo das políticas públicas voltadas para a avaliação da aprendizagem e o monitoramento da aprendizagem. Entretanto, é evidente que, por si só, todas as estruturas de avaliação exis- tentes, muitas delas bem explicitadas no capítulo 1 desta obra, no âmbito do estado do Ceará, não têm a capacidade de inter- ferir diretamente na melhoria da aprendizagem, uma vez que dizem respeito a ferramentas que somente poderão ser eficazes se forem realmente utilizadas. Existem muitos desafios, dentro deles o efetivo uso dos resultados no cotidiano escolar. Como já tenho mencionado em outros espaços, a avaliação dos siste- mas educativos pode potencialmente contribuir na melhoria da qualidade da educação, na medida em que os docentes, gestores escolares, gestores de políticas públicas e autoridades públicas, cada um em seu nível de atuação, apropriem-se dos resultados para tomarem iniciativas concretas que propiciem a melhoria da aprendizagem, aprimorando estratégias didático-pedagógi- cas e culturas organizacionais e fornecendo e/ou melhorando os insumos necessários para atingir os objetivos educacionais. É essa articulação nos usos adequados dos resultados das ava- liações externas que representa um dos grandes desafios que ficam pendentes para a garantia do direito à aprendizagem. Dentro desse contexto teórico, convido os leitores a adentrarem nos meandros do campo da avaliação da apren- 19 APRESENTAÇÃO: AVALIAÇÃO PARA A GARANTIA DO DIREITO À APRENDIZAGEM dizagem expostos nesta coletânea, a partir de um roteiro que estruturei para facilitar a leitura. Agrupei os 20 capítulos desta obra em cinco eixos temá- ticos estruturantes, os mesmos que abordam assuntos atuais que desafiam o campo da avaliação das políticas públicas e do cotidiano escolar: 1) avaliação, alfabetização e competên- cia leitora; 2) avaliação, modelos e ferramentas; 3) avaliação, formação de professores e educação superior; 4) avaliação no ensino médio; e 5) avaliação e inclusão. No primeiro eixo temático estruturante, “avaliação, alfabetização e competência leitora”, destacam-se cinco tra- balhos que abordam assuntos estreitamente relacionados: as avaliações externas, dentro de uma perspectiva comparada, aplicadas no Ceará na área de alfabetização; o currículo e as matrizes de referência da Avaliação Nacional da Alfabetiza- ção (ANA); o olhar pedagógico das avaliações externas refe- rentes à competência leitora; e os diversos aspectos do desen- volvimento de competências leitoras (concepções e práticas). No segundo eixo temático, “avaliação, modelos e fer- ramentas”, incluem-se dois estudos, por meio dos quais são discutidos os modelos de avaliação educacional e as práticas avaliativas na educação básica nas políticas educacionais bra- sileira, destacando-se as implicações das avaliações na tomada de decisões no ambiente educacional. No terceiro eixo, “avaliação, formação de professores e educação superior”, enquadram-se sete estudos que abordam temas como as percepções do campo da avaliação por parte de estudantes que participam de processos formativos nos âmbitos da formação inicial e formação continuada, em cur- sos de Pedagogia, licenciatura e especialização; os aspectos teóricos da avaliação da aprendizagem na educação superior eda construção de métodos de avaliação inclusiva; a avaliação 20 ADOLFO IGNACIO CALDERÓN e o treino de habilidades sociais para a formação docente; e a avaliação e os ambientes virtuais de aprendizagem. O quarto eixo temático, “avaliação no ensino médio”, por meio de quatro trabalhos, aborda temáticas que se encontram em pauta no âmbito das políticas públicas em nível nacional. Assim, entre outros assuntos, enfoca-se, desde uma perspecti- va crítica, a seletividade educacional e as práticas avaliativas excludentes no ensino médio; a partir de uma perspectiva pro- positiva, destacam-se propostas para a melhoria das práticas avaliativas na visão docente; também se analisa a matriz de referência do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no que se refere às competências matemáticas por meio da interdisci- plinaridade; e discute-se o modo como os professores de Edu- cação Física percebem e praticam a avaliação a partir da pers- pectiva emancipatória presente nas orientações curriculares. O quinto e último eixo temático, “avaliação e inclusão”, engloba dois textos que contemplam realidades de alunos que apresentam necessidades que exigem um olhar compreensivo e inclusivo nas unidades escolares. O primeiro deles aborda a questão dos discentes autistas no ensino regular, e o segundo se debruça sobre os educandos com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade. Finalizo esta obra fazendo votos para que as ideias nela expressas caiam em solo fértil. Como as sementes da flor dente-de-leão, as ideias são levadas aos lugares mais dis- tantes e improváveis, ainda mais em tempos de globalização. Só existe a certeza do esforço dos organizadores desta obra e seus autores em disponibilizar à comunidade educacional re- sultados de pesquisas que muitas vezes ficam enclausuradas nas universidades, ou em alguns casos de difícil interpretação quando veiculados nos artigos científicos. Eis, entre outros, o mérito desta obra, quebrar os muros da universidade, fazendo que ela cumpra sua responsabilida- 21 APRESENTAÇÃO: AVALIAÇÃO PARA A GARANTIA DO DIREITO À APRENDIZAGEM de social, ao estender os conhecimentos produzidos em disser- tações e teses a um público mais amplo do que aquele restrito às comunidades e associações científicas na área da Educação. Campinas, 12 de outubro de 2017, Dia da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Dr. Adolfo Ignacio Calderón Professor titular do Programa de Pós-Graduação em Edu- cação da PUC/Campinas. Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq. Referências DIAS SOBRINHO, J. Avaliação educativa: produção de senti- dos com valor de formação. Avaliação, Campinas, v. 13, n. 1, p. 193-207, 2008. DIAS SOBRINHO, J. Avaliação ética e política em função da educação como direito público ou como mercadoria? Educa- ção & Sociedade, Campinas, v. 25, n. 88, p. 703-725, 2004. EBEL, R. L. Uma filosofia da medida educacional. 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São Paulo: Gente, 2004. 23 LUCAS MELGAÇO DA SILVA Doutorando e mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC), linha de avaliação educacional, eixo de avaliação do ensino-aprendizagem, especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica pela Faculdade Kurios (FAK) e graduado em Pedagogia pela UFC. Atu- almente é professor efetivo do sistema municipal de ensino de Maracanaú, atuando como técnico educacional na Diretoria de Avaliação e Monitoramento da Secretaria de Educação. Pesquisa assun- tos relacionados principalmente à Avaliação Educacional, Formação de Professores, Tecnologias na Educação, Educação Infantil, Alfabetização e Letramento, Política e Gestão da Educação. E-mail: <lucasmelgaco@alu.ufc.br>. MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestra em Educação, Arte e His- tória da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mackenzie) e graduada em Pedagogia pela UFC, com habilitação em Administração Escolar. Atualmente é professora associada da UFC. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Estrutura, Política, Gestão, Avaliação de Ensi- no-Aprendizagem, Avaliação Institucional, História da Educação Brasileira, Filgueiras Lima (educa- dor e poeta) e Educação Infantil. E-mail: <isabelfil@uol.com.br>. KARLANE HOLANDA ARAÚJO Doutoranda e mestra em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC), linha de avaliação educacional, eixo avaliação do ensino-aprendizagem, especialista em Gestão e Avaliação da Educação Pública, em Educação Especial e Metodologia do Ensino Fundamental e Médio pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e graduada em Ciências Sociais pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e em Pedagogia pelo Instituto de Educação e Tecnologias (Inet). Participa do Gru- po de Pesquisa Educação e Psicanálise da Universidade Ibirapuera (Unib) e do Grupo de Pesquisa Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a Infância (Lepsi) da Uni- versidade de São Paulo (USP), com registro no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Professora assistente no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Atua como conselheira pedagógica da Organização Não Governamental Arte de Viver. E-mail: <karlaneufc@gmail.com>. UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ LUCAS MELGAÇO DA SILVA • MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA • KARLANE HOLANDA ARAÚJO 24 Introdução Os processos avaliativos que permeiam o ambiente esco- lar possibilitam ao professor e a todo o sistema educacional a visualização da realidade em que se encontram seus alunos. Essa visualização se dá por meio da obtenção de dados esta- tísticos e pedagógicos que permitem, dentre diversos aspectos, mudanças de práticas docentes e reorientações de políticas públicas para o ensino. Durante o período de um ano, muitos estados e municí- pios passam por vários momentos de avaliação em larga escala na área de alfabetização, gerando sobrecargasem alunos, pro- fessores e gestores educacionais. Alguns, como no estado do Ceará, chegam a participar de seis desses momentos. Nesse universo, diversos instrumentos avaliativos são aplicados nas escolas no decorrer do ano letivo. Em especial, alguns desses instrumentos são direcionados à mensuração do nível de escrita e leitura dos discentes que compõem o ciclo de alfabetização, o qual pode ser compreendido do 1º ao 3º ano do ensino fundamental. Focaremos a atenção deste estudo nas avaliações exter- nas aplicadas no Ceará e iniciaremos nossa discussão mediante o seguinte questionamento: as avaliações em larga escala, na área de alfabetização, aplicadas atualmente no Ceará, têm as mesmas características e estruturas passíveis de apoiarem o acompanhamento sistemático e contínuo dos processos de en- sino-aprendizagem dos alunos? UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ 25 Para tanto, objetivamos descrever, de forma sucinta, as características gerais de cada sistemática avaliativa e fazer um estudo comparativo entre as mesmas, identificando a possibi- lidade ou (in)existência de diálogo entre elas no acompanha- mento sistemático das aprendizagens dos educandos. Pode-se inferir que as avaliações externas, se têm as mesmas propostas, talvez possam ser unificadas, de modo a viabilizar o acompanhamento da aprendizagem do estudante de uma série à outra. Caso contrário, podem ser reduzidas vi- sando à diminuição dos custos operacionais de suas aplica- ções, além de minimizar os efeitos de sobrecargas emocionais em alunos, professores e gestores educacionais. Este estudo é um recorte de uma dissertação de mestra- do desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará (SILVA, 2016). Trata-se de uma aproximação ao tema referente ao fenômeno das avaliações externas no ciclo de alfabetização, em que bus- camos unir tais temas na consecução de sistemáticas que ca- minham paralelamente, lançando luz sobre suas similitudes e diferenças. Breve histórico da avaliação em larga escala no Brasil No Brasil, as pesquisas sobre avaliação, segundo Libâneo (2012), despontaram no ano de 1930, porém o início das experi- ências de avaliação do rendimento escolar em larga escala foi marcado pelo desenvolvimento do Programa de Expansão e Me- lhoria da Educação no Meio Rural no Nordeste do país (Eduru- ral/NE), datado do início da década de 1980 (GATTI, 1993). Esse programa abalizou estudo envolvendo coleta e aná- lise de dados quantitativos e qualitativos que incluíam os tes- tes de rendimento escolar para o acompanhamento de 603 es- LUCAS MELGAÇO DA SILVA • MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA • KARLANE HOLANDA ARAÚJO 26 colas rurais, com 807 professores e cerca de 7.000 alunos de 2ª e 4ª séries (3º e 5º anos atualmente) e suas respectivas famílias (THERRIEN, 1987). Para Sousa (2005, p. 9), citando Gatti, Vianna e Davis (1991), o programa foi: [...] planejado para ser desenvolvido no período 1980-1985, em 250 municípios dos estados da região Nordeste do Brasil, tinha como objetivos centrais a ampliação do acesso à escola, da po- pulação em idade escolar; a maior eficiência dos processos de escolarização; e melhor qualidade da educação, a ser traduzida, entre outros in- dicadores, em melhoria do rendimento escolar dos alunos atendidos pelo programa. Esses objetivos vinculam-se aos discursos sobre a de- mocratização do acesso à educação no Brasil, visto no âmago dos movimentos sociais dos anos de 1970 e 1980, materializan- do-se com a promulgação da Constituição Nacional de 1988 e firmado por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996. Com isso, a educação, direito de todos e dever do Estado e da família (BRASIL, 1988), passa a considerar o ensino es- colar como propulsor da aquisição de conhecimentos necessá- rios ao exercício da cidadania e da qualificação para o trabalho. O artigo 206 da vigente constituição e o artigo 3º da LDBEN elencam, dentre outros princípios, a garantia de pa- drão de qualidade. Assim, para que o disposto seja cumprido, a própria LDBEN afirma, em seu artigo 9º, inciso VI, que a União se responsabilizará por “[...] assegurar o processo na- cional de avaliação do rendimento escolar no ensino funda- mental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino”. UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ 27 Nesse cenário, desde a garantia do direito à educação pela Constituição de 1988, passando pelo fortalecimento desse ideal pela LDBEN de 1996, observamos diversas transforma- ções no tratamento dos processos educativos promovidos pelas pesquisas científicas e pela intensificação da cultura avaliati- va, em especial a de larga escala, para a melhoria da qualida- de educacional por meio da promoção e da reestruturação de políticas públicas. Dentre tantas experiências em avaliação em larga es- cala realizadas desde o Edurural, o Ministério da Educação, juntamente com diversas instituições de pesquisa educacional, implementou o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) no ano de 1990, o qual contou com uma amostra do rendimento escolar de estudantes de instituições públicas que ofertavam as 1ª, 3ª, 5ª e 7ª (2º, 4º, 6º e 8º anos atualmente) séries do ensino fundamental. Foram muitas as mudanças acontecidas no Saeb no transcurso dos anos, as maiores ocorreram em 2005, quando esse sistema foi reestruturado pela Portaria Ministerial nº 931, de 21 de março de 2005, passando a ser composto por duas avaliações: Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), conheci- da como “Prova Brasil”. Em 2013, a Avaliação Nacional da Alfa- betização (ANA), prevista no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), também passou a compor o referido sistema. Por intermédio da experiência do Edurural, perpas- sando pela vigente LDBEN e pela criação do Saeb, estados e municípios do Brasil têm envidado esforços na promoção de políticas avaliativas para aferição do rendimento escolar atra- vés dos seus próprios sistemas, mesmo que a União tenha instituído exames, índices e indicadores com alcance nacional (LIBÂNEO, 2012). LUCAS MELGAÇO DA SILVA • MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA • KARLANE HOLANDA ARAÚJO 28 Dos estados da federação, o Ceará é um dos que possuem forte influência no cenário nacional, visto que seu desenvolvi- mento de estudos e programas se relaciona com práticas ava- liativas voltadas para a promoção da educação, especificamente para a erradicação do analfabetismo infantil. Um exemplo de política avaliativa desenvolvida nesse estado é o Sistema Per- manente de Avaliação da Educação Básica do Cea rá (Spaece), criado em 1992. A aplicação das avaliações desse sistema abran- ge os alunos das escolas públicas das redes estaduais e munici- pais, desde as etapas de alfabetização até o ensino médio. Avaliações em larga escala aplicadas no Ceará no ciclo de alfabetização O termo “avaliação”, como sabemos, relaciona-se à veri- ficação da qualidade de um determinado objeto para posterior julgamento valorativo, seguido de tomada de decisão. Assim, no cenário escolar, no decorrer do período letivo, são concebi- das pelos docentes distintas condições e tipos de instrumentos avaliativos para aferição dos resultados dos níveis de aprendi- zagens dos educandos, pontuando-se os objetivos anteriormen- te definidos e aqueles que já foram concretizados. Tomando por base a sala de aula, esses instrumentos variam entre provas, portfólios, trabalhos em grupo, pesqui- sas, apresentações orais, peças teatrais, entre outros. Assim, ao visualizar os objetivos da avaliação, tal como o sujeito a ser avaliado, é possível eleger os instrumentos adequadamentepertinentes ao processo. No âmbito escolar brasileiro, observamos diversas ava- liações, em diferentes níveis (federal, estadual, municipal), que objetivam acompanhar o desenvolvimento educacional das crianças nas séries iniciais do ensino fundamental. Especifi- camente, elas aspiram aferir, por meio do instrumento prova, UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ 29 o nível dos alunos em relação à efetivação do processo de alfa- betização em Língua Portuguesa e Matemática. Nessas provas, definem-se como base de construções matrizes de referência, elaboradas de acordo com os aspectos globais do conhecimen- to, os quais as crianças precisam ter adquirido no decorrer do ciclo de alfabetização. Além disso, suas organizações estruturais e pedagógicas consideram diversos fatores, internos, externos e, algumas ve- zes, intrínsecos à escola e ao aluno, intervenientes nos resulta- dos obtidos. Nesse sentido, faremos uma breve descrição des- sas sistemáticas aplicadas no Ceará no ciclo de alfabetização, a fim de adquirirmos informações para posteriores análises e comparações entre as mesmas. Provinha do Paic: 2o e 3o anos do ensino fundamental A Provinha Paic surgiu em decorrência da implantação do Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic). Esse ins- trumento faz parte de um dos eixos do programa: o de avalia- ção. Ela possui como objetivo avaliar, de forma diagnóstica, as aprendizagens dos alunos que compõem o 2º ano e que serão os beneficiados pelas ações do Paic durante todo o ano letivo. Em virtude da criação do Programa Mais Paic, o 3º ano tam- bém passou a realizar essa avaliação. Por se tratar de uma avaliação diagnóstica, essa prova busca proporcionar aos professores, gestores escolares, secre- taria de educação e demais interessados indicadores de níveis de alfabetização em que se encontram as crianças. Esses indi- cadores servirão de base para a condução do trabalho docente, de modo a promover a regulação da aprendizagem, como pro- põem as ideias de Perrenoud (1998). De posse dos resultados da aplicação da avaliação diag- nóstica do Paic, ao início do período letivo, os envolvidos no LUCAS MELGAÇO DA SILVA • MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA • KARLANE HOLANDA ARAÚJO 30 processo educacional planejam e realizam ações tendo como foco a mudança qualitativa desses resultados ao longo do ano. Spaece-Alfa: 2o ano do ensino fundamental O Sistema Permanente de Avaliação da Educação Bási- ca do Ceará (Spaece) é uma avaliação externa e censitária apli- cada anualmente aos 2º (Spaece-Alfa), 5º e 9º anos do ensino fundamental e às 1ª, 2ª e 3ª séries do ensino médio das escolas públicas estaduais e municipais do Ceará. As demais séries são avaliadas de forma amostral1. Devido aos baixos níveis de alfabetização no estado e por ocasião da criação do Paic: Em 2007 [...], a Secretaria de Educação realizou uma avaliação da capacidade de leitura dos alu- nos da rede pública do 2º ano do Ensino Fun- damental por meio do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará – Al- fabetização (Spaece-Alfa). De caráter universal, a prova proporcionou uma linha de base para avaliação do Paic ao longo dos anos. (CEARÁ, 2012, p. 30). As provas elaboradas em decorrência dessa avaliação são estruturadas por meio de matriz de referência, porém as habilidades englobam apenas conhecimentos acerca da Lín- gua Portuguesa relacionados à leitura e à escrita. Os resulta- dos dessa avaliação são organizados em escalas, que são utili- zadas para verificar em qual dos cinco níveis de alfabetização as crianças se encontram. 1 A partir de 2013, as turmas de 2ª e 3ª séries do ensino médio também pas- saram a ser avaliadas de forma amostral. UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ 31 Provinha Brasil: 2o ano do ensino fundamental2 A Provinha Brasil, instituída por meio da Portaria Nor- mativa nº 10, de 24 de abril de 2007, estruturada pelo Insti- tuto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e implementada desde 2008, é uma avaliação promovida pelo Governo Federal em parceria com os gover- nos das demais esferas administrativas e algumas instituições educacionais. Ela possui caráter diagnóstico e é aplicada em âmbito nacional nas turmas de 2º ano do ensino fundamental das escolas públicas duas vezes ao ano: uma de entrada, ao iní- cio do período letivo, e uma de saída, ao final do período letivo. A fundamentação para avaliar esse período escolar baseia-se na proposta do Plano de Metas – Todos pela Educação, que considera forçoso “alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos de idade, aferindo os resultados por exame periódico específico” (BRASIL, 2007). Essa prova propõe averiguar o desenvolvimento dos co- nhecimentos referentes à Língua Portuguesa e à Matemática dos alunos que, por no mínimo um ano, foram submetidos ao processo de alfabetização, sendo essa segunda área incluída apenas a partir de 2011. O intuito dessa inclusão, de acordo com a proposta da avaliação, foi garantir a ampliação do diag- nóstico dos conhecimentos básicos que todos precisam adqui- rir ao final desse ciclo de estudos. ANA: 3o ano do ensino fundamental A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) é uma sis- temática de caráter externo, universal e censitário. Tem como 2 Desde o segundo semestre de 2016, o Ministério da Educação suspendeu o envio dessa avaliação aos municípios, com a prerrogativa de mudança nas matrizes de referência ante a construção da Base Comum Curricular. LUCAS MELGAÇO DA SILVA • MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA • KARLANE HOLANDA ARAÚJO 32 objetivo diagnosticar o domínio das habilidades dos discentes das escolas públicas municipais ao final do 3º ano do ensino fundamental – final do ciclo de alfabetização – em Língua Por- tuguesa e Matemática. A ANA integra as ações desenvolvidas no âmbito do Pnaic, criado pela Portaria nº 867, de 4 de julho de 2012, que propõe, em seu artigo 1º, “[...] alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental, aferindo os resultados por exame periódico es- pecífico [...]”. Para assegurar a promoção da efetividade dos objetivos, mediante a obtenção dos dados resultantes de sua aplicação, os instrumentos avaliativos da ANA são construídos com base em matrizes de referência, uma de Língua Portuguesa, que abrange conhecimentos acerca dos processos de alfabetização em leitura e escrita, e uma de Matemática, que envolve conhe- cimentos concernentes a números e álgebra; geometria; gran- dezas e medidas; e tratamento da informação. Atualmente a ANA integra o Saeb, junto à Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e à Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), ou “Prova Brasil”, como é comumente conhecida. Metodologia O trabalho, de natureza qualitativa com cunho descri- tivo, foi feito por intermédio de pesquisa bibliográfica e docu- mental ante a comparação de cinco categorias, a saber: matriz de referência; elaboração do instrumento avaliativo; aplicação do instrumento avaliativo; divulgação dos resultados; o que é feito a partir dos resultados. Consoante Rossman e Rallis (1998 apud CRESWELL, 2007, p. 186), na pesquisa qualitativa o pesquisador pode “[...] UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ 33 desenvolver um nível de detalhes sobre a pessoa ou sobre o local e estar altamente envolvido nas experiências reais dos participantes”, podendo utilizar um ou mais meios investiga- tivos. É relevante ressaltar que essa natureza de pesquisa é: [...] fundamentalmente interpretativa. Isso sig- nifica que o pesquisador faz uma interpretação dos dados. Isso inclui o desenvolvimento de des- crição de uma pessoa ou de um cenário, análise de dados para identificar temas ou categoriase, finalmente, fazer uma interpretação ou tirar conclusões sobre seu significado, pessoal e teo- ricamente, mencionando as lições aprendidas e oferecendo mais perguntas a serem feitas. (ROSSMAN; RALLIS, 1998; WOLCOTT, 1994 apud CRESWELL, 2007, p. 186). A pesquisa descritiva, de acordo com Rudio (2014), pre- ocupa-se em descobrir e observar acontecimentos, podendo aparecer em forma de pesquisa documental, estudo de caso, dentre outras feições. Segundo o autor, “[...] estudando o fenô- meno, a pesquisa descritiva deseja conhecer a sua natureza, sua composição, processos que o constituem ou nele se reali- zam” (RUDIO, 2014, p. 71-72). O estudo bibliográfico, para Oliveira (2007, p. 69), vale-se de “[...] estudo direto em fontes científicas”. Possui ainda como principal objetivo “[...] colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 183). Quanto à pesquisa documental, consoante Marconi e Lakatos (2003), caracteriza-se pelo fato de as fontes da cole- ta de informações restringirem-se a documentos, escritos ou não, estabelecendo a ideia de fontes primárias. Neste estudo, essa técnica concretizou-se no levantamento de informações e análises de documentos em sites oficiais acerca das avaliações descritas. Desse modo, como principais meios de obtenção dos LUCAS MELGAÇO DA SILVA • MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA • KARLANE HOLANDA ARAÚJO 34 dados, recorremos a publicações de leis, portarias e orienta- ções sobre todas as sistemáticas, beneficiando a percepção do processo de maturidade, bem como de enriquecimento de conceitos, grupos, conhecimentos, comportamentos, mentali- dades e práticas (CELLARD, 2008). Com os resultados auferidos por meio da pesquisa docu- mental e da observação, utilizamos estudos comparativos, que, no caso da descrição, como a apresentada neste trabalho, se- gundo Marconi e Lakatos (2003, p. 107-108), “[...] pode averiguar a analogia entre ou analisar os elementos de uma estrutura”. Logo, interpretando as ideias das autoras, utilizamos esse méto- do com o objetivo de verificar similitudes e diferenças entre as características das sistemáticas avaliativas. No tocante ao escla- recimento dos elementos, o método comparativo intenta, até de- terminado mote, “[...] apontar vínculos causais entre os fatores presentes e ausentes” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 108). Resultados Na sequência, apresentaremos os resultados obtidos ante os objetivos anteriormente estabelecidos e a categorização definida como critério de coleta de dados. Matriz de referência Identificamos que a definição ou a construção da matriz fica a cargo de entes externos àqueles a serem avaliados. No que concerne às disciplinas, percebemos que as sistemáticas possuem Matemática e Língua Portuguesa em sua estrutura, com exceção do Spaece-Alfa, que possui apenas Língua Por- tuguesa. Quanto aos eixos abordados nessas disciplinas, ve- rificamos total semelhança de uma avaliação para outra. Na comparação das habilidades pontuadas em cada matriz, apenas UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ 35 a Provinha Paic e o Spaece-Alfa possuem o mesmo quantitativo, podendo ser percebida a discrepância em relação à Provinha Brasil, que aponta apenas dez para Língua Portuguesa. Elaboração do instrumento avaliativo Observamos que a elaboração de todas as sistemáticas avaliativas ora apresentadas é de responsabilidade de órgãos externos ao contexto avaliado, pertinentes ao Governo Federal e Estadual. Esses órgãos são responsáveis por conduzir todo o processo de criação das avaliações, desde a elaboração das matrizes de referência à construção dos itens que comporão os testes avaliativos. Quanto à teoria utilizada para a elaboração, predomina a Teoria de Resposta ao Item (TRI)3; dependendo da avaliação, é possível encontrar ainda itens discursivos e de múltipla escolha. A quantidade total de itens em cada prova varia de acordo com a instância (federal e estadual), a área do conhecimento (Língua Portuguesa e Matemática) e o ano ava- liado (1º, 2º e 3º ano). Aplicação do instrumento avaliativo Em sua maioria, por se caracterizarem como avaliações externas, assim como na elaboração, a aplicação dessas pro- vas é realizada por órgãos externos ao contexto avaliado. São equipes contratadas pelas instâncias administrativas de cada avaliação, com ressalva para a Provinha Brasil, que é aplicada pelo próprio professor da turma, a critério do sistema muni- cipal de ensino. 3 A TRI é uma teoria baseada em cálculos estatísticos, sendo utilizada na maioria das avaliações em larga escala existentes no Brasil, desde a cons- trução do item que compõe o instrumento avaliativo até o modo de divulga- ção dos resultados. LUCAS MELGAÇO DA SILVA • MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA • KARLANE HOLANDA ARAÚJO 36 A aplicação da maioria das avaliações ocorre no quarto semestre do ano letivo, o que não abre margem para a con- clusão e a publicação dos resultados ainda no período letivo vigente. Em alguns casos, a visualização dos resultados é ainda mais conflitante, uma vez que só são recebidos pelos interessa- dos – instituição de ensino, gestores, professores e alunos – no decorrer do ano seguinte, tempo em que os educandos já estão em séries mais avançadas, não sendo possível realizar inter- venções mais efetivas no processo de ensino-aprendizagem. É o caso do Spaece-Alfa, que lança seus resultados entre o final do primeiro e início do segundo semestre do ano seguinte ao de realização da prova; como caso ainda mais extremo, pode- mos mencionar a ANA, que tem divulgado os resultados ape- nas em meados do segundo semestre do ano seguinte ao de aplicação da prova. No caso da Provinha Brasil, essa visuali- zação dependerá exclusivamente da Secretaria Municipal de Educação, visto que toda a organização fica a critério desta após o recebimento dos cadernos de prova. Na Provinha Paic, a organização é semelhante à da Pro- vinha Brasil, porém é disponibilizada pela instituição elabora- dora, no caso, a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc/CE), uma plataforma para sistematização dos resultados com data para início e término dos trabalhos. Quanto à correção, a que nos chamou mais a atenção foi a Provinha Brasil, que, mesmo tendo características de ins- trumento externo, possui como corretor da turma avaliada o próprio professor. Divulgação dos resultados A divulgação dos resultados de cada sistemática é feita de forma variada. Algumas se fundamentam na TRI, disponi- bilizando os resultados em escalas de proficiências, construí- UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ 37 das com base na alocação dos alunos em diferentes níveis de conhecimentos, os quais devem ser adquiridos no decorrer do ciclo de alfabetização. Outras utilizam a Teoria Clássica dos Testes, baseando-se apenas na média do somatório de acertos e notas de cada sujeito. Dependendo da abrangência e da instância administrati- va, a publicação desses resultados é feita por sistemas de ensi- no, seja ele federal, estadual ou municipal, por unidade escolar, por turma e por discente, em sites oficiais ou plataformas espe- cíficas para tal fim. O acesso, em alguns casos, é disponibiliza- do apenas para os sistemas de ensino ou responsáveis diretos pela instituição educativa, não existindo publicação. Em outros casos, o acesso aos resultados é disponibilizado para toda a so- ciedade, seja para retorno das ações desenvolvidas por meio de políticas públicas, seja para realização de pesquisa por parte da comunidade científica, seja para atribuição de premiações específicas, seja simplesmente para consultas. Nos casos em que não há publicação, a tabulação dos da- dos da avaliação e a visualização dos resultados são realizadas em plataformas sistematizadas com acesso restrito.O que é feito a partir dos resultados O quadro a seguir faz referência à efetivação das propos- tas avaliativas para com o retorno à sociedade ante as ações de melhoria da qualidade educacional. LUCAS MELGAÇO DA SILVA • MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA • KARLANE HOLANDA ARAÚJO 38 Quadro 1 – Panorama dos objetivos do uso dos resultados das avaliações da alfabetização Avaliação O que é feito por meio dos resultados? ANA Promoção e reestruturação de políticas públicas para alfabetização. Provinha Brasil Ações de planejamento e replanejamento da prática de ensino por parte do professor. Spaece-Alfa Promoção e reestruturação de políticas públicas para alfabetização. Premiação de escolas com melhores resultados. Apoio às escolas com piores resultados. Repasse do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para os municípios. Provinha Paic Ações de planejamento e replanejamento da prática de ensino por parte do professor. Fonte: Elaboração própria (2017). Mesmo que sejam apontadas ações de reestruturação e criação de políticas para a melhoria da educação, isso, de modo geral, é genérico e imperceptível de forma concreta. Considerações finais O acompanhamento e a visualização sistemática do de- senvolvimento da alfabetização e do letramento durante os três primeiros anos do ensino fundamental são procedimen- tos, sem dúvidas, imprescindíveis à prática pedagógica do pro- fessor, tendo como objetivo final a efetivação da aprendizagem do educando. Diante do estudo realizado, pudemos perceber que, no Brasil, esse acompanhamento segue uma trajetória de fortale- cimento por meio da inclusão de sistemáticas avaliativas em larga escala no meio educacional. UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ 39 Se, por um lado, evidenciamos que a inclusão desse tipo de avaliação se tornou necessária para visualizar a real situ- ação de como se encontra o nível de aprendizado dos alunos, sem a influência de agentes internos ao processo educativo, por outro, consoante o estudo ora exposto, percebemos que a lógica segundo a qual isso vem ocorrendo perpassa por essa necessidade, deixando de ser um instrumento de auxílio ao professor para ser um mero instrumento de controle e regula- ção (CATANI; OLIVEIRA; DOURADO, 2002 apud LIBÂNEO, 2012), o que reduz os momentos destinados aos reais exercí- cios de diagnósticos de aprendizagem, corroborando, portan- to, a ineficiência das reflexões das práticas pedagógicas dos professores. Nesta pesquisa, de acordo com a descrição das avaliações e dos resultados obtidos e com a sua comparação, pudemos identificar a existência de variados e distintos instrumentos e momentos avaliativos no ciclo de alfabetização, todavia, em alguns casos, sem delineamento claro e concreto dos objetivos pretendidos, bem como das ações desencadeadas após a visua- lização dos resultados adquiridos no decorrer e ao final desse processo. Isso pode ser observado já na organização estrutural dessas avaliações. A existência de aplicações de instrumentos avaliativos no ciclo de alfabetização torna evidente que essas avaliações deveriam possuir como objetivo principal de suas propostas o diálogo entre si, de modo a proporcionar tanto aos sistemas educacionais como aos gestores, professores e alunos o acompa- nhamento sistemático do desenvolvimento escolar dos sujeitos submetidos aos testes, o que contribuiria para a produção de diagnósticos de aprendizagem que não fossem tardios e para a reflexão efetiva das práticas pedagógicas do professorado. Outrossim, o grande quantitativo de instrumentos para avaliar o mesmo processo, porém sem conexão evidente LUCAS MELGAÇO DA SILVA • MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA • KARLANE HOLANDA ARAÚJO 40 entre si, colabora para o aumento da sobrecarga em todos os setores responsáveis pela execução dos trabalhos oriundos dessas avaliações, afetando notadamente professores e edu- candos, de sorte a comprometer diretamente a qualidade da ação educativa. Além de todas essas percepções, como proposição acerca desses instrumentos, podemos aferir que a unificação destes, já que suas execuções permeiam iguais ambientes, pode gerar redução de gastos de recursos públicos financeiros destinados à implementação dessas avaliações. Considerando-se a fragilidade observada nas estruturas das avaliações aqui discutidas, torna-se necessário o aprofun- damento de pesquisas como estas, que venham a relacionar os objetivos elencados por essas sistemáticas, com a consecução do uso de seus resultados para o acompanhamento pedagógi- co das ações docentes e para a real melhoria do ensino e da aprendizagem dos alunos do ciclo de alfabetização. Referências BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Fe- derativa do Brasil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 out. 1988. BRASIL. Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007. Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com os Municípios, o Distrito Federal e os Estados. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 abr. 2007a. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabele- ce as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 21 dez. 1996. UM ESTUDO SOBRE AS CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA ALFABETIZAÇÃO APLICADAS NO CEARÁ 41 BRASIL. Portaria Ministerial nº 10, de 24 de abril de 2007. Institui a Avaliação de Alfabetização “Provinha Brasil”, a ser estruturada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educação Anísio Teixeira – Inep. Diário Oficial [da] Repúbli- ca Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 26 abr. 2007b. BRASIL. Portaria nº 867, de 4 de julho de 2012. Institui o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e as ações do Pacto e define suas diretrizes gerais. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 jul. 2012. BRASIL. Portaria nº 931, de 21 de março de 2005. Institui o Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb, que será composto por dois processos de avaliação: a Avaliação Nacional da Educação Básica – Aneb e a Avaliação Nacional do Rendi- mento Escolar – Anresc. Diário Oficial [da] República Federa- tiva do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 22 mar. 2005. CEARÁ. Regime de colaboração para a garantia do direito à aprendizagem: o Programa Alfabetização na Idade Certa (Paic) no Ceará. Fortaleza: Seduc, 2012. CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológi- cos. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 295-316. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. 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Colaborador do Grupo de Pesquisa Laboratório de Pesquisa em Políticas Públicas, Educação e Sociedade (Lappes). A ênfase de suas investigações é a política educacional e suas interfaces com a avaliação na educação superior, edu- cação profissional e educação básica, focalizando aspectos relacionados às políticas de avaliação. Também pesquisa a respeito do amplo e variado aspecto semântico e aplicativo da avaliação nos âmbitos da aprendizagem, do ensino, do ensino-aprendizagem, da escola, do sistema educacional, entre outros. E-mail: <assis.leao@vitoria.ifpe.edu.br>. WILMA DOS SANTOS FERREIRA Mestra em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especialista em Ensino da Língua Portuguesa pela Universidade de Pernambuco (UPE) e em Gestão do Trabalho Pedagógi- co pelo Centro Universitário Internacional (Uninter) e graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caruaru (Fafica). Realiza estudos sobre Avaliação da Educação. Tem experiência profissional em coordenação e supervisão escolar, tutoria, orientação e regência em sala de aula. E-mail: <wilmadsferreira@gmail.com>. CRISTIANO DORNELAS DE ANDRADE Mestrando em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especialista em Litera- turas de Expressão Portuguesa pelas Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão (Faintvisa) e graduado em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional (Uninter), em Filosofia pela Uni- versidade Estadual do Ceará (UECE) e em Teologia pelo Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidio- cese de Olinda e Recife (IFTAOR). Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Avaliação e Política Educacional (Gpape). Linhas de pesquisa: política educacional; políticas de avaliação da educação superior. Técnico em Assuntos Educacionais do Centro Acadêmico de Vitória (CAV) da UFPE. Profes- sor e coordenador da Comissão Própria de Avaliação (CPA) da Faculdade Escritor Osman da Costa Lins (Facol). E-mail: <cristianodornelas@hotmail.com>. MODELOS DE AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA ASSIS LEÃO DA SILVA • WILMA DOS SANTOS FERREIRA • CRISTIANO DORNELAS DE ANDRADE 44 Introdução O capítulo em questão tem como objetivo analisar as carac- terísticas dos modelos de avaliação, referenciais das principais práticas avaliativas, apropriados pelas políticas de avaliação no cenário educacional brasileiro voltadas à educação básica. Para a realização desta análise, propôs-se utilizar como ferra- menta teórico-analítica a taxonomia dos modelos de avaliação desenvolvida pelo norte-americano Ernest House, teórico do campo da avaliação que se destacou por sua problematização e teorização da dimensão política da avaliação. A análise foi delimitada às políticas de avaliação desenvolvidas pelo Estado brasileiro na atualidade. Compreende-se que a apropriação desses pressupostos teóricos pode induzir reflexões e problematizações entre os pes- quisadores do campo da avaliação educacional e entre aqueles que, de algum modo, estão inseridos no contexto dessas práticas avaliativas na educação básica, pois a ausência de familiaridade com a teorização da avaliação pode vir a fragilizar a consecução e o entendimento – lógica – a respeito de tais práticas. Apropriando-se de Sordi e Lüdke (2009), pode-se afirmar que tanto a formação inicial quanto a formação continuada cons- tituem-se como incipientes para aproximar os sujeitos envolvi- dos com as práticas avaliativas dos pressupostos teóricos e meto- dológicos da avaliação, sobretudo na formação docente. Portanto, faz-se necessário “[...] elevar [a avaliação] à condição estratégica nos processos de formação” (SORDI; LÜDKE, 2009, p. 317). MODELOS DE AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA 45 Por essa razão, a avaliação materializa-se com ambigui- dades nas políticas educacionais, uma vez que, como destacam Freitas e Ovando (2013), a ausência de rigor metodológico e as dificuldades de natureza política na recepção, apropriação e envolvimento da comunidade escolar e acadêmica nas práticas avaliativas tornam a avaliação um instrumento bastante cri- ticado, desvirtuado e pouco compreendido na implementação das políticas educacionais. Nos últimos vinte anos1, a partir da reforma da educação, a exemplo do dispositivo legal da Lei nº 9.394/1996, a avaliação adquiriu visibilidade nas políticas educacionais pelo fato de pas- sar explicitamente a subsidiar a regulação da educação (SILVA, 2015). No campo educacional brasileiro, disseminaram-se diver- sos modelos de avaliação que lograram êxito em distintas polí- ticas de avaliação na educação básica. Entretanto, Gatti (2014), ao analisar os traços gerais dos contextos em que, por exem- plo, as avaliações externas de desempenho escolar assentaram suas bases no país, observa que a utilização desses modelos não representou avanço considerável em direção a uma teorização consistente a respeito dessas práticas avaliativas. Essa incipiente teorização vem retroalimentando des- vios no desenvolvimento dessas práticas avaliativas, como, a título de ilustração, em relação aos usos descontextualizados dos testes estandardizados na educação básica, fragilizando os processos de regulação da educação, como destaca Horta Neto (2014, p. 172): [...] os testes têm sido utilizados basicamente como instrumento para definir desempenhos escolares das escolas, com reflexos sobre o tra- balho que elas e seus profissionais realizam, na medida em que o foco das ações tem sido buscar melhorar o desempenho nos testes. 1 Anos 1990 e primeira década do século XXI. ASSIS LEÃO DA SILVA • WILMA DOS SANTOS FERREIRA • CRISTIANO DORNELAS DE ANDRADE 46 A ênfase das práticas avaliativas materializadas nos tes- tes estandardizados na educação básica tende a focalizar a ava- liação nos desempenhos das aprendizagens em detrimento do fomento aos processos de organização colaborativa e a proble- matizar a qualidade nas unidades educacionais. Um dos pos- síveis aspectos contribuintes desse fenômeno encontra-se na ausência de familiaridade com a natureza – objetivos e finali- dades – e com a configuração metodológica (planejamento, ins- trumentos, juízo de valor e tomada de decisão) dos modelos de avaliação empregados atualmente nas políticas educacionais. Apesar do exposto, reconhece-se que o desenvolvimen- to teórico-conceitual da avaliação, nessas práticas avaliativas e nas políticas educacionais, está estritamente associado à ma- neira como ocorreram e ocorrem a formação, a consolidação e as disputas no campo da avaliação e remete, direta ou indire- tamente, a distintos contextos históricos, sociais e acadêmicos no cenário nacional. O capítulo, além desta Introdução, está estruturado em outras três seções, compondo, portanto, um total de quatro partes. Na segunda, traz a apresentação e a análise dos prin- cipais modelos destacados na taxonomia de House (2000). Na terceira, destaca e analisa as principais práticas avaliativas na educação básica nas políticas educacionais brasileiras. Na úl- tima, por fim, elenca as considerações finais. Taxonomia dos principais modelos de avaliação Segundo House (2000),
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