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Prof. Claudio Ditticio UNIDADE II Finanças Corporativas – Avaliação de Viabilidade de Projetos O estudo da situação financeira e econômica de uma empresa procura levar em consideração, de maneira geral, três macrossituações: Capacidade de liquidez. Expectativas de rentabilidade. Riscos que oferece aos stakeholders. A análise das condições de liquidez é sempre iniciada com o status e a evolução do caixa e equivalentes de caixa da empresa. Administração de caixa e de valores de curto prazo O DFC é o demonstrativo fundamental para a inspeção dos resultados relacionados com a liquidez em determinado período. Rivaliza, portanto, em importância, com o BP e o DRE. O caixa é a primeira conta demonstrada no BP (Balanço Patrimonial), do lado do ativo (isto é, do conjunto de bens e direitos da empresa) e é constituído por valores expressos monetariamente, imediatamente disponíveis. Outras contas/rubricas são relacionadas com a liquidez, como é o caso das aplicações em bancos na forma de cadernetas de poupança e outras operações, com valores e limites liberados para saque ou resgate. Um dos pontos fundamentais, pois, da avaliação de uma empresa é saber se ela mantém um bom nível de liquidez, necessário para cobrir suas necessidades de curto prazo junto aos clientes, fornecedores, governo, funcionários etc. Uso do DFC (Demonstrativo de Fluxo de Caixa) Os estudos deste tópico cobrem aspectos como: Administração do capital de giro. Administração das disponibilidades. Administração das duplicatas a receber. Administração de estoques. Financiamento do capital de giro. Estratégias de administração de caixa Assim, de forma global, entre as possíveis estratégias de administração de caixa, podem ser mencionadas: Acelerar recebimentos por meio do controle eficiente das duplicatas a receber. Retardar pagamentos, evitando, por exemplo, liquidações antes dos respectivos vencimentos dos compromissos. Aplicar fundos temporariamente ociosos em títulos de alta liquidez. Estratégias de administração de caixa A fórmula que propicia a conversão dos valores futuros é: Valor do dinheiro no tempo Como exemplo, admitamos a expectativa de um recebimento de R$ 1.000,00, após um prazo de um ano, considerando uma taxa de desconto de 10% ao ano. Morante e Jorge (2012, p. 28) esclarecem: Planejar o caixa consiste em estabelecermos, com antecedência, as decisões financeiras que serão tomadas em circunstâncias e condições previamente estabelecidas, com a propriedade de previsão dos recursos que serão utilizados para que os objetivos traçados possam ser atingidos. O planejamento de caixa deve ser feito em três níveis: Estratégico: cobertura de longo prazo, feito a partir do planejamento global da empresa, considerando seus pontos fortes e fracos, interna e externamente. Tático: visa ao curto e ao médio prazos, e é dirigido para áreas específicas da empresa. Operacional: também voltado ao atendimento a curto e médio prazos, com o objetivo de otimizar o uso de recursos para o atendimento às operações regulares/compromissos da empresa. Planejamento de caixa São normas e regras adotadas pela empresa para, por exemplo, enfrentamento da concorrência em seu mercado de atuação, refletidas nas políticas de concessão de prazos ou até preços especiais. Naturalmente, as políticas da empresa necessitam guardar forte relação com os aspectos conjunturais do país, os quais são afetados pela denominadas políticas macroeconômicas (fiscal, monetária, comercial, cambial etc.). Política financeira O ciclo operacional abrange o período, inaugurado com a compra de matéria-prima/insumos (ou de mercadorias para revendas, quando se tratar de atividades mercantis) e que se estende até o recebimento do valor pago pelo cliente com a venda do produto ou serviço. Consideremos que a empresa compra insumos, com o compromisso de pagá-los em 30 dias. A empresa aplica de imediato tais insumos em sua produção, em um processo com duração de 15 dias. Ocorre, após isso, a venda aos clientes, com recebimentos previstos para 30 dias. Esse prazo de 30 dias, para o pagamento de suas compras, faz parte do chamado crédito mercantil, sem o pagamento estabelecimento de juros. Ciclos operacionais e financeiros Compra de matéria-prima Conclusão da fabricação e venda do produto Pagamento ao fornecedor de matéria-prima Recebimento do cliente Ciclo financeiro Figura 8 – Ciclos operacional e financeiro de uma empresa 0 15 30 45 Fonte: Megliorini & Vallim (2009, p. 170). Permite o gerenciamento dos eventuais “descasamentos” entre os fluxos de recebimentos e de pagamentos no curto prazo (durante o ciclo financeiro). Admitamos que uma empresa tenha registrado em sua contabilidade ativos circulantes no total de R$ 2.000,00 e, por outro lado, tem compromissos de R$ 1.500,00 para saldar, nos determinados vencimentos de seus parcelamentos de compras ou mesmo outros compromissos com diferentes stakeholders. Nesse caso, seu CCL é positivo (R$ 2.000,00 menos R$ 1.500,00), revelando a capacidade da empresa em cumprir com seus compromissos assumidos anteriormente em suas operações. CCL (Capital Circulante Líquido) ou CGL (Capital de Giro Líquido) O orçamento permite que se tenha uma visão mais acurada dos instantes em que a empresa poderá contar com mais ou com menos recursos de caixa, o que propicia aos administradores as tomadas de decisões mais adequadas, como as relacionadas com o tratamento de excedentes temporários e a preparação para a obtenção de financiamentos que complementam, quando necessário, os recursos financeiros à disposição da empresa. Orçamento de caixa Fonte: adaptado de: Megliorini e Vallim (2009, p. 174). Maio Junho Julho Agosto Setembro Vendas realizadas 350.000 Vendas projetadas 340.000 360.000 380.000 400.000 Vendas à vista 102.000 108.000 114.000 120.000 Duplicatas 245.000 238.000 252.000 266.000 347.000 346.000 366.000 386.000 Fornecedores 200.000 220.000 250.000 240.000 Salários 50.000 50.000 50.000 50.000 Aluguéis 15.000 15.000 15.000 15.000 Impostos 40.000 60.000 50.000 70.000 Empréstimo bancário 100.000 305.000 345.000 465.000 375.000 42.000 1.000 (99.000) 11.000 50.000 92.000 93.000 (6.000) 50.000 92.000 93.000 (6.000) 5.000 30.000 30.000 30.000 30.000 62.000 63.000 0 0 0 0 36.000 25.000 ORÇAMENTO DE CAIXA (R$) Recebimentos 1 TOTAL DE RECEBIMENTOS Pagamentos 2 TOTAL DE PAGAMENTOS 3 FLUXO LÍQUIDO DE CAIXA (1-2) 4 SALDO INICIAL 5 SALDO FINAL (3 + 4) 6 SALDO MÍNIMO DE CAIXA 7a SALDO EXCEDENTE (5 - 6) 7b VALOR A FINANCIAR (5 - 6) Faz-se com base no ciclo de caixa da empresa e é influenciado pelos prazos de: Pagamento (à vista ou a prazo) da matéria-prima ao respectivo fornecedor. Recebimento (à vista ou a prazo) do cliente que adquiriu o produto ou serviço. Entre os motivos para a manutenção de caixa, mencionamos, por exemplo, a possibilidade de aproveitamento de uma oportunidade de especulação de preços junto a fornecedores ou possibilidade de aquisição de item imobilizado que esteja em promoção por tempo limitado. Os recursos que não necessitem compor a liquidez da empresa, podem ser aplicados nos mercados financeiros trazendo receitas que contribuem para uma maior rentabilidade da empresa, no respectivo período de análise. Controle do saldo de caixa Manutenção de um saldo mínimo de caixa Manutenção de um saldo mínimo de caixa Ponto de custo total mínimo Custo total Custo de oportunidade Custo de conversão Nível de disponibilidade C u s to d e m a n u te n ç ã o d e d is p o n ib il id a d e s Na construção do DFC, vamos admitir a hipótese de se evitar saldos negativos de caixa, contratando-se com o banco a cobertura automática, pagando-lhe a taxa de juros diária de 2% sobre o valor utilizado, com ressarcimento no dia imediatamente posterior.Elaboração do Demonstrativo do Fluxo de Caixa – DFC Fonte: autoria própria Para que possa elaborar o seu DFC, a empresa precisa considerar exclusivamente as transações/eventos que se relacionam com entradas ou saídas de caixa. No exemplo, o evento que não se enquadra nessas possibilidades é o cálculo da depreciação sobre máquinas e equipamentos, que irá afetar os resultados da empresa no período, embora não acarrete alterações em seu caixa (diminuindo-o, por exemplo). Demonstrativo de Fluxo de Caixa (DFC) Fonte: autoria própria Os valores distribuídos ao longo do tempo podem ser nominais ou reais, desde que, nesse último caso, tenham sido descontados para uma época fixa (normalmente no início da linha do tempo), com base em uma determinada taxa de desconto, obedecendo ao critério que contempla a mudança do valor do dinheiro no tempo. O desconto desses valores e sua equivalência para um momento determinado permite a comparação dos valores. Esse diagrama pode ser utilizado tanto em operações ou projetos de investimentos quanto de financiamentos. Construção do diagrama do fluxo de caixa Fonte: autoria própria Calcule o VF (valor futuro), considerando a taxa de desconto de 5% ao ano, de um empréstimo de R$ 1.000,00, feito no momento inicial (0) com remunerações iguais (R$ 400,00) em cada um dos três anos de sua duração e reembolso do principal no final da operação, visto sob a ótica do emprestador/financiador. Escolha a alternativa correta entre as seguintes: a) 2.200,00. b) 1.200,00. c) 2.209,37. d) 953,13. e) 1.953,13. Interatividade Calcule o VF (valor futuro), considerando a taxa de desconto de 5% ao ano, de um empréstimo de R$ 1.000,00, feito no momento inicial (0) com remunerações iguais (R$ 400,00) em cada um dos três anos de sua duração e reembolso do principal no final da operação, visto sob a ótica do emprestador/financiador. Escolha a alternativa correta entre as seguintes: a) 2.200,00. b) 1.200,00. c) 2.209,37. d) 953,13. e) 1.953,13. Resposta Os valores futuros de cada parcela do empréstimo seriam: Resposta Deduzindo-se o valor liberado no momento (0), teremos (380,95 + 362,81 + 1.209,37) – 1.000,00 = 953,13 Além do caixa, devem ser analisados outros valores do ativo e do passivo circulantes como: Contas a receber de clientes. Estoques. Valores a receber de empresas coligadas. Contas a pagar aos fornecedores. As disponibilidades são os recursos que a empresa precisa manter para pagar suas obrigações imediatas e estão alocadas no saldo do caixa (tesouraria e contas correntes bancárias) e nas aplicações financeiras em títulos de alta liquidez. As empresas mantêm disponibilidades pelos seguintes motivos: Realizar transações com outros agentes nos diferentes mercados. Cobertura de situações/riscos eventuais durante o ciclo de operações. Aproveitamento de oportunidades de ganhos extraordinários. Análises de outros valores de curto prazo A empresa atenta para os chamados cinco Cs do crédito: Caráter: desejo e compromisso de efetuar o pagamento da dívida. Condições especiais de atuação da empresa e seus administradores e proprietários/acionistas. Capacidade: possibilidade concreta de realizar os pagamentos da dívida. Capital: recursos aplicados na empresa devedora, seja pelos sócios/acionistas, como por terceiros. Colateral: oferecimento de garantias para o cumprimento dos compromissos pela empresa devedora. Outras informações são importantes, como: Principais clientes. Dependência da empresa no tocante a poucos clientes. Situação financeira dos clientes. Clientes que pagam com pontualidade. Inadimplência da carteira de recebíveis. Análise de contas a receber Políticas comerciais com os clientes Nas indústrias, esses estoques podem ser constituídos por: Matéria-prima, produtos de limpeza, manutenção etc., que serão utilizados na produção/fabricação dos bens. Produtos em elaboração, que agrupam as matérias-primas e demais componentes, que já sendo utilizados na linha de produção e os produtos em determinado estágio do processo. Produtos acabados, compreendendo o que já foi produzido e aguardam a venda/comercialização. Quando se trata de empresas comerciais, os estoques são compostos pelas mercadorias previamente adquiridas para vendas aos clientes. Manutenção e controle de estoques Preço específico: sempre que se consegue especificar o quanto foi pago para cada unidade em estoque, como nos casos de automóveis, imóveis etc. Normalmente, porém, dada, inclusive, a grande movimentação no estoque, é demorada a pesquisa para a identificação do custo específico de cada unidade. PEPS (primeiro a entrar, primeiro a sair): trabalha-se com o custo do lote mais antigo quando da venda da mercadoria, até que as mercadorias sejam esgotadas. Parte-se para o segundo lote mais antigo e, assim, sucessivamente. UEPS (último a entrar, primeiro a sair): trabalha-se com os custos das unidades mais recentes adicionadas ao estoque. O custo dos itens vendidos tende a refletir o custo dos mais recentemente comprados. Média móvel ponderada: média dos custos dos itens componentes do estoque. Trabalha-se com os custos médios, renovados nas movimentações (entradas) do estoque, em substituição aos efetivos. Métodos de mensuração de estoques Com base nas movimentações exemplificadas na tabela abaixo, montamos as fichas de controle de estoque com valoração nos métodos: PEPS (FIFO) – Primeiro que Entra, Primeiro que Sai; MÉDIA MÓVEL. Sabe-se também que o total das vendas líquidas de produtos do período foi R$ 740,00. Métodos de mensuração de estoques Dias Transações Unidades 5 Compra 10 10 Venda 4 15 Venda 5 20 Compra 5 25 Compra 10 O mapa a seguir mostra a mensuração – contabilização – com base no base no método PEPS: Exemplo de mensuração de estoques pelo método PEPS O mapa a seguir mostra a mensuração – contabilização – com base no base no método da média móvel: Exemplo de mensuração de estoques utilizando o método da média móvel Os resultados com mercadorias (RCM), comparando-se os dois métodos (PEPS e média móvel), são mostrados na tabela: Comparativo dos resultados contábeis, com PEPS e média móvel : Uma importante definição associada ao controle de estoques reside no lote econômico de compra, ou seja, da quantidade ótima que minimiza os custos relacionados com compra e estocagem. Podemos calcular o lote econômico de compra, adotando a formulação: Controle e manutenção de estoques Em que: LEC: lote econômico de compra C: consumo de unidades do item em estoque no período P: custo do pedido M: custo-manutenção por unidade do estoque no período É importante que se conheça, o melhor possível, os compromissos da empresa para com terceiros (fornecedores, empregados, governo etc.), tanto no curto quanto no longo prazo, os quais estão registrados nos diferentes subgrupos do passivo, em seu balanço patrimonial. Na conta fornecedores, são registradas as compras a prazo de mercadorias, matérias-primas etc., junto a outras empresas ou prestadores de serviços, sejam nacionais ou estrangeiros. Também a não contabilização da folha de pagamento e dos correspondentes encargos sociais pode alterar, de forma significativa, os níveis de resultado, endividamento e a liquidez da empresa. Acrescentam-se também as responsabilidades com o governo, como os não pagamentos de tributos (impostos, taxas e contribuições). Contas a pagar A partir de agora, trataremos dos custos suportados pela empresa, para a realização de suas operações e investimentos. Abordaremos também a diferença, em termos de lucros em função da existência de custos fixos ao longo de determinado intervalo/período (IVR – Intervalo de Variação Relevante). Os fenômenos de alavancagem (operacional e financeira) também serão vistos, bem como as importantes informaçõestrazidas pelo conhecimento da margem de contribuição e do ponto de equilíbrio dos produtos. Custos e estruturas operacionais Os custos dentro de uma empresa podem ser classificados em variáveis, semifixos e fixos, que influenciarão as decisões sobre os preços do produto. Evidentemente, a empresa deve considerar, além dos custos, outros aspectos importantes, relacionados com: Poder de compra e momento que o cliente deseja ou pode efetuar o pagamento. Características do mercado (notadamente em termos de concorrência) em que a empresa atua. Planejamento das vendas futuras do produto ou serviço. Capacidade de produção e de vendas. Criação de valor para o cliente. Outros. Custos suportados pela empresa Custos fixos são os incorridos pela empresa, independentemente de seu nível de produção. Porém, eles são fixos dentro de determinadas faixas de produção (isto é, de um intervalo de significância e variação). A área ocupada pela empresa é um desses custos, à medida que seu aluguel é fixo até um determinado volume de produção. Se houver, por exemplo, um crescimento da demanda do produto ou serviço, é possível que a empresa necessite ampliar suas instalações, o que demandará um acréscimo no valor do aluguel, que irá perdurar por algum tempo e pode ser aumentado, em ocasiões posteriores e assim por diante. Naturalmente, dependendo de cada caso, também poderá ser possível reduzir os custos fixos, em função de diminuição do volume de produção, o que depender, por exemplo, de vendas ou sobre aluguel de instalações, máquinas etc. Custos fixos suportados pela empresa Fonte: Silva (2012, p. 545). A respeito dos custos fixos que incidem sobre a empresa em suas operações, podemos considerar como correto: a) Eles serão permanentemente imutáveis, em função da existência de uma estrutura única para a empresa. b) Eles somente se alteram – e sempre para baixo – quando for superado o IVR (período de sua validade) e forem necessários novos equipamentos, instalações etc., para suportar aumentos de produção. c) Como existe o IRV (Intervalo de Variação Relevante), eles são considerados como custos semifixos. d) A tendência é dos custos fixos diminuírem quando é atingido o limite do IRV. e) Os custos fixos, após o IRV, podem ser aumentados ou diminuídos. Interatividade A respeito dos custos fixos que incidem sobre a empresa em suas operações, podemos considerar como correto: a) Eles serão permanentemente imutáveis, em função da existência de uma estrutura única para a empresa. b) Eles somente se alteram – e sempre para baixo – quando for superado o IVR (período de sua validade) e forem necessários novos equipamentos, instalações etc., para suportar aumentos de produção. c) Como existe o IRV (Intervalo de Variação Relevante), eles são considerados como custos semifixos. d) A tendência é dos custos fixos diminuírem quando é atingido o limite do IRV. e) Os custos fixos, após o IRV, podem ser aumentados ou diminuídos. Resposta Situação diferente ocorre com os custos variáveis, cujo montante depende do nível de produção da empresa. Se nada for produzido, esses custos serão nulos. Portanto, tais custos variam proporcionalmente com o volume produzido pela empresa. O gráfico da figura abaixo apresenta a evolução dos custos variáveis, ao longo do tempo, à medida que crescem a produção e as vendas da empresa. Custos variáveis suportados pela empresa Os custos totais são formados pela soma dos fixos e variáveis, como no gráfico da figura abaixo Enquadram-se nesse conjunto aqueles custos que contemplam uma parte fixa e outra que pode sofrer mudanças, em cada ocorrência. Um exemplo clássico é o da despesa com água, que costuma trazer uma parcela fixa, relacionada com a taxa de esgoto e outra, variável, em função do volume de água consumido no período. Podemos chamar também esse tipo de custos como semivariáveis. Como indica Silva (2012, p. 547): Se os custos semifixos forem de valores pequenos, sua classificação como fixos não traz grandes distorções. Por outro lado, se os valores forem expressivos, é melhor separar os elementos fixos das variáveis para fazer as apropriações adequadas. Custos semifixos suportados pela empresa Além da classificação em custos fixos, variáveis e semifixos (quanto ao volume de produção e vendas), podemos considerá-los como diretos e indiretos (sob a ótica dos produtos fabricados e negociados pela empresa). Os custos diretos permitem clara e objetiva ligação direta com o produto. Os principais são os materiais diretos e a mão de obra direta. Os custos indiretos são os que não podem ser alocados de forma direta ou objetiva aos produtos ou a algum segmento ou atividade operacional. Se forem atribuídos aos produtos, serviços ou departamentos, serão por critérios de distribuição (rateio, alocação, apropriação etc.). É o caso de materiais consumidos para conservação e manutenção dos equipamentos. Custos diretos e indiretos É representada pela diferença entre as receitas operacionais obtidas pela empresa e seus custos e despesas variáveis. Um exemplo simples a seguir permite que, a partir do DRE (Demonstrativo dos Resultados do Exercício) de uma empresa hipotética, possamos obter a margem de contribuição: Margem de contribuição DRE de uma empresa hipotética R$ (totais) Receitas brutas 200.000,00 (-) Impostos sobre as vendas (20%) 40.000,00 (=) Receitas líquidas 160.000,00 (-) Custos e despesas variáveis 80.000,00 (=) Margem de contribuição 80.000,00 O breakeven point ou ponto de equilíbrio é aquele em que o lucro é zero, isto é, quando a receita total iguala a soma dos custos fixos e variáveis. PxQ = CF + (CVuxQ) P = preço de venda do produto Q = quantidade vendida do produto CF = custo fixo Cvu = custo variável unitário Ponto de equilíbrio Admitamos que a empresa Vitoriosa obtém, ao longo de um período, uma receita total líquida de R$ 40.000,00, pela venda de seu produto (X), a um preço unitário de R$ 8,00. Os custos e as despesas fixas dessa empresa foram de R$ 20.000,00 e os custos unitários para a fabricação de uma unidade do produto atingem R$ 4,00. Nesse caso, o ponto de equilíbrio (medido em quantidades vendidas) será: PEq = custos + despesas fixas = PV unitário (–) despesas variáveis unitárias = custos + despesas fixas Margem de contribuição unitária Ponto de equilíbrio A empresa precisará vender mais do que 5.000 unidades para conseguir chegar a um lucro operacional. O PE pode ser determinado: em quantidade; em valor monetário. É mais viável, quando se trabalha com mais de um produto, conhecer o ponto de equilíbrio em valor monetário de receitas totais da empresa. Uma determinada empresa pode fabricar vários produtos, com diferentes margens de contribuição. Exemplifiquemos, admitindo que a empresa Vitoriosa apresentou, em um determinado período, R$ 75.000,00 de lucro operacional, partindo de um total de receitas líquidas de R$ 700.000,00, no período em análise. Considerando que os custos mais as despesas variáveis correspondem a 65% do total da receita líquida de vendas, o DRE da empresa, nesse período, corresponderá a: Ponto de equilíbrio Itens da DRE R$ AV (%) Receita líquida de vendas 700.000,00 100 (-) Custos variáveis dos produtos comercializados 350.000,00 50 (-) Despesas variáveis das vendas 105.000,00 15 (=) Margem de contribuição (MC) 245.000,00 35 (-) Custos fixos 100.000,00 (-) Despesas fixas 70.000,00 (=) LAJIR (lucro operacional) 75.000,00 Outro indicador de muita importância para a análise financeira de uma empresa é calculado com base nas apurações dos graus de alavancagem de seus valores contábeis, que se subdividem em: Operacional. Financeira. Combinada ou total. Alavancagens A alavancagem operacional é proporcionada pela existência de custos e despesasoperacionais fixos, aqueles que tendem a permanecer constantes mesmo com a oscilação da produção e das vendas, dentro do chamado IVR (Intervalo de Variação Relevante). A empresa Vitoriosa conta, atualmente, com uma capacidade instalada (seus custos fixos) que permite o processamento de até 10.000 quilos de seu produto por ano. Tem sido observado que, em função das variações da demanda dos clientes, a produção e a venda têm oscilado entre 10.000 e 11.000 quilos ao ano. A composição de custos e despesas fixas é tida como ideal dentro desse intervalo e somente será alterada se a demanda for inferior a 10.000 ou superior a 11.000 toneladas por ano. Nesse momento, o preço de venda do seu produto é, em média, R$ 30,00 por tonelada. Sabe-se que os custos e as despesas variáveis somam, em média, R$ 12,00 por quilo do produto. São de R$ 120.000,00 anuais para o atendimento às operações nesse intervalo, os custos e as despesas fixas da Vitoriosa. Alavancagem operacional Para simplificar os cálculos, admitimos que os impostos sobre as vendas são inexistentes, partindo, assim, da receita líquida do período. Verifica-se que a margem de contribuição cresce 10% quando o volume de produção/vendas sobe de 10.000 para 11.000 quilos; mas o lucro operacional (LAJIR) aumenta 30%. Portanto, o lucro operacional apresenta um crescimento mais que proporcional ao da margem de contribuição. Alavancagem operacional Volume de vendas 10.000t 11,000t Receitas líquidas (R$) 300.000,00 330.000,00 Custos e despesas variáveis (120.000) (132.000,00) Margem de contribuição (R$) 180.000,00 198.000,00 Custos e despesas fixas (R$) (120.000,00) (120.000) LAJIR 60.000,00 78.000,00 Grau de alavancagem operacional Em que: Q = quantidade de produção/vendas P = preço de venda unitário V = custos + despesas variáveis, unitários F = custos de despesas fixos MC = margem de contribuição Lajir = lucro antes dos juros e do Imposto de Renda GAO10.000quilos = 10.000(30,00 – 12,00) 10.000(30,00 – 12,00) – 120.000 GAO10.000quilos = 180.000 60.000 = 3 GAO10.000quilos = 11.000(30,00-12,00) 11.000(30,00-12,00)-120.000 GAO10.000quilos = 78.000 = 3 60.000 variação percentual lucro operacional variação percentual da margem de contribuição GAO = A alavancagem financeira é propiciada pelo impacto das despesas financeiras relativas aos juros incidentes sobre a utilização/variação de capital de terceiros, em adendo ao próprio. Depende da tomada de decisões para a expansão do nível de atividades da empresa, a partir de determinada estrutura de capital, alterando a relação quanto ao uso do capital próprio. É diferente do efeito gerado pela alavancagem operacional. Alavancagem financeira A fórmula mais utilizada para o cálculo do GAF (Grau de Alavancagem Financeira) é: Deduzidas do lucro operacional as despesas financeiras líquidas (despesas menos receitas), teremos o LAIR (lucro após as despesas financeiras, mas antes do Imposto de Renda). Deduzindo-se desse último o Imposto de Renda sobre os resultados positivos do período, teremos o lucro líquido (final) do período, que é retido ou distribuído aos acionistas, conforme a política de dividendos da empresa. Grau de alavancagem financeira Grau de alavancagem financeira Para um volume de 10.000t, o GAF será 1,33 Para um volume de 11.000t, o GAF será 1,24 Volume de vendas 10.000t 11,000t LAJIR 60.000,00 78.000,00 Custos e despesas de juros (15.000) (15.000,00) LAIR 45.000,00 63.000,00 O LAJIR (lucro antes das despesas financeiras e do Imposto de Renda), para um determinado volume de vendas da empresa, é de R$ 100.000,00. Se as despesas financeiras líquidas forem R$ 25.000,00, qual é o GAF (Grau de Alavancagem Operacional)? a) 1,33. b) 4,00. c) 0,75. d) 0,25. e) 1,00. Interatividade O LAJIR (lucro antes das despesas financeiras e do Imposto de Renda), para um determinado volume de vendas da empresa, é de R$ 100.000,00. Se as despesas financeiras líquidas forem R$ 25.000,00, qual é o GAF (Grau de Alavancagem Operacional)? a) 1,33. b) 4,00. c) 0,75. d) 0,25. e) 1,00. Resposta A alavancagem combinada (ou total) reflete o impacto conjunto das alavancagens operacional e financeira, medindo os efeitos tanto dos custos e das despesas fixas quanto das despesas financeiras com juros, sobre o lucro líquido, em relação às alterações no volume de produção e vendas. Utilizando o caso da empresa Vitoriosa, teremos: Alavancagem combinada ou total GATnível Q = Margem de contribuição Lair GATnível Q = GAOnível Q (GAFnível Q ) GAT10.000ton = 180.000 45.000 = 4,0 GAT10.000ton = 3,0 (1,333) = 4,0 ou ou O grau de alavancagem é diretamente proporcional aos riscos das operações e dos investimentos realizados pela empresa. A crise financeira, verificada em 2008/2009, afetando grandes empresas e bancos e instituições financeiras, notadamente nos Estados Unidos da América, mas também em vários outros países, como no Brasil, mostra as dificuldades acarretadas por situações de excesso de alavancagem nas operações das empresas. Alavancagens x riscos Com o aumento do nível de produção e de vendas, até o atingimento do intervalo de variação relevante, há uma alteração do grau de alavancagem financeira, indicando menor risco financeiro. Admitamos que a estrutura de capital da empresa somente será modificada quando ocorrer a aquisição de novas máquinas para suportar a ampliação de sua capacidade de produção. Consideremos também que a aquisição de novas máquinas foi financiada com mais um empréstimo – junto a terceiros – com outra alíquota, que pode representar um custo fixo total maior ou menor que a situação anterior. Alavancagens x riscos Existem vários métodos desenvolvidos para a realização desses cálculos, com destaque, para os que o fazem, descontando o valor presente, os valores de um determinado fluxo de caixa. Os investimentos e os financiamentos são tratados como projetos, diferentemente do que ocorre com os procedimentos usuais da empresa. Costumam ser tidos como projetos também os lançamentos de empreendimentos e até de empresas. Abordaremos métodos que levam em conta a diferenciação do valor do dinheiro no tempo, do que os que fazem uma quantificação direta, sem essa correção. Um processo é uma atividade continuada, padronizada, com entradas, instrumentos e procedimentos que conduzem as saídas de interesse das várias unidades internas e relacionadas aos stakeholders. Avaliação de projetos de investimentos Os projetos podem ser classificados como: Projetos independentes. Projetos mutuamente excludentes – quando a execução de um deles faz com que o outro seja abandonado. Projetos contingentes. Em geral, as empresas não dispõem de recursos suficientes para implementar todos os projetos considerados viáveis. Por isso, vários métodos permitem classificar os projetos a fim de auxiliar o processo decisório, sendo mais conhecidos: payback, Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR). Métodos de análise de investimentos Por sua simplicidade, são métodos adotados na prática das empresas e, muitas vezes, como uma primeira aproximação dos resultados. O payback (ou prazo de retorno) busca encontrar o tempo necessário (anos, meses e dias) para que um investimento seja igualado aos valores futuros e, assim, a empresa possa recuperar o investimento inicial. Em geral, é fixado um prazo limite, que serve como referência para julgamento da atratividade do projeto. Payback descontado Ocorrência no tempo Entradas ou saídas de caixa R$ Fluxo de caixa acumulado 0 (inicial) Investimento -100.000,00 -100.000,00 1 Resgate 60.000,00 -40.000,00 2 Resgate 60.000,00 20.000,00 3 Resgate final 50.000,00 70.000,00 Dividindo o fluxo de caixa do segundo ano por 360 (dias), período em que se dá a reversão do saldo negativopara positivo, chega-se à entrada diária (R$ 60.000,00 / 360 = R$ 166,67). Dividindo o fluxo de caixa acumulado até o final do ano 1, pelas entradas diárias, obtém-se o quociente que representa o número de dias restantes (R$ 40.000,00 / R$ 166,67 = 240 dias), do mês 2. O payback desse fluxo será de 1 ano e 8 meses. Dessa forma, se desconsiderarmos o valor do dinheiro no tempo e tratarmos os valores futuros pela sua expressão nominal, o tempo de recuperação do investimento durante o ano 2, a partir da realização do investimento. Todavia, de forma mais realista e correta, se descontarmos os valores futuros, trazendo-os à data em que foi feito o investimento, esse retorno também acontecerá durante o ano 2, mas já próximo do seu encerramento. Payback descontado Para que o investimento seja aceito e realizado pela empresa, o período de payback atingido precisa estar de acordo com as metas e as políticas da empresa para o tratamento desse tipo de projeto, estabelecido no seu plano estratégico e em outros internos. Como indica Assaf Neto (2012), os limites de tempo definidos pela empresa são também diretamente relacionados com a conjuntura econômica, notadamente no que tange à liquidez monetária. Nada obstante, sua praticabilidade e dada a maior subjetividade de seus parâmetros, procura-se recorrer a métodos mais completos e sofisticados para a tomada de decisões visando à realização do investimento pretendido. Payback descontado Ademais, esse método considera os fluxos de caixa que ocorrem durante o período de sua medição, ignorando os que lhes são prévios ou posteriores. Também os fluxos de caixa não seguem sempre o padrão regular demonstrado anteriormente, isto é, com ocorrências de valores dentro de uma mesma periodicidade e com igual montante. Payback descontado Comparativamente ao exemplo anterior, podemos ter um fluxo de caixa alternativo que conduz ao mesmo resultado, em termos do instante em que se atinge o montante do investimento, mas revela que grande parte desse montante será atingido em tempo proporcionalmente maior ou menor. Isso, afinal, pode ocorrer mesmo nos casos de descontos de valores futuros e não apenas na alternativa que não leva em conta o valor do dinheiro no tempo. Há também a considerar o fato de que em projeto que demande um tempo mais longo para a recuperação do investimento, podemos ter, após esse momento, fluxos bastante satisfatórios para a empresa. Payback descontado O payback (ou prazo de retorno) busca encontrar o tempo necessário (anos, meses e dias) para que um investimento seja igualado aos valores futuros e, assim, a empresa possa recuperar o investimento inicial. Ele pode levar em conta os valores futuros, descontando-se, ou não, os valores do dinheiro no tempo. Considere o seguinte fluxo de caixa de um projeto e calcule o seu payback descontado, à taxa de 10% ao ano. Interatividade Ocorrência no tempo (anos) Entradas ou saídas de caixa R$ Fluxo de caixa acumulado 0 (inicial) Investimento -100.000,00 -100.000,00 1 Resgate 60.000,00 -40.000,00 2 Resgate 60.000,00 20.000,00 3 Resgate final 50.000,00 70.000,00 Está correta a alternativa: a) Entre 2 e 3 anos. b) 2 anos. c) Menos de 1 ano. d) Mais de 2 anos. e) Entre 1 e 2 anos. Interatividade Ocorrência no tempo (anos) Entradas ou saídas de caixa R$ Fluxo de caixa acumulado 0 (inicial) Investimento -100.000,00 -100.000,00 1 Resgate 60.000,00 -40.000,00 2 Resgate 60.000,00 20.000,00 3 Resgate final 50.000,00 70.000,00 Está correta a alternativa: a) Entre 2 e 3 anos. b) 2 anos. c) Menos de 1 ano. d) Mais de 2 anos. e) Entre 1 e 2 anos. Resposta O payback descontado ocorrerá no ano 2. O cálculo detalhado será: 1 ano, 11 meses e 4 dias. A alternativa correta é: E O payback, com os descontos dos valores futuros para os valores presentes, conduz a: Resposta Ocorrência no tempo Entradas ou saídas de caixa R$ (descontado ao valor presente) Fluxo de caixa acumulado 0 (inicial) Investimento -100.000,00 -100.000,00 1 Resgate 54.545,00 -45.550,00 2 Resgate 49.586,78 4.036,78 3 Resgate final 37.593,98 41.630,76 ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. MORANTE, Antonio S.; JORGE, Fauzi T. Administração Financeira – Decisões de Curto Prazo – Decisões de Longo Prazo – Indicadores de desempenho. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 28. SILVA, José Pereira da Silva. Análise financeira das empresas. 11. ed. São Paulo: Atlas. 2012, p. 547. Referências ATÉ A PRÓXIMA!
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