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Gestão de uma biblioteca no contexto atual: desafios a serem enfrentados. Universidade: Universidade Federal de Minas Gerais Disciplina: Teoria geral da administração Professor: ivan beck ckagnazaroff Elaborado por: Gabriela Bugatti, Melissa Barroso, Rebecca Moscatelli, Raíssa Belo Horizonte 2023 Com a chegada da Revolução Industrial no século XIX, a sociedade passou por um processo de adaptação decorrente às transformações sofridas pelo desenvolvimento tecnológico, no âmbito de gestão informacional a área de biblioteconomia também precisou acompanhar tais avanços, proporcionando um ambiente que acompanhasse as mudanças sociais, aplicar uma gestão adaptável ao contexto atual e promover a integração da biblioteca com a comunidade local, inciativas fundamentais para atender às necessidades dos usuários. A busca por uma gestão mais flexível e que possibilite a adaptação aos novos meios de comunicação e interação social ainda continua em curso, em contraste ao modelo de administração proposto pelo sociólogo Max Weber, conhecido como Teoria Burocrática da Administração, que tinha como objetivo estudar as organizações, sua estrutura e desenvolvimento histórico-social, utilizando a racionalidade como instrumento para alcançar eficiência gerencial. Para compreender por que esse modelo não é o ideal para a gestão de uma biblioteca atualmente, é necessário definir o conceito de burocracia. Segundo Weber, a burocracia é a estruturação formal da organização, que permite organizar as atividades humanas para alcançar objetivos em comum a longo prazo. Além disso, o conceito de autoridade é importante, sendo definida como autoridade racional-legal, aquela garantida por regras e normas provenientes de um regulamento reconhecido e aceito pelo grupo. Assim, percebe-se que o Modelo Burocrático é baseado no racionalismo, um aspecto essencial para compreender as ações humanas, mas é um sistema padronizado e fundamentado na previsibilidade e estabilidade, sem levar em consideração as alterações no cenário externo, os avanços tecnológicos e as necessidades humanas. Portanto, o modelo de gestão Weberiano possui uma postura altamente técnica e mecanicista que não é aplicável a sociedade contemporânea em um ambiente de biblioteca, na qual as mudanças são cada vez mais frequentes e imprevisíveis, e a relação e interação da organização com o meio interno e externo são importantes para atender às demandas do público. Além disso, esse modelo contribuiu para que a sociedade se tornasse uma estrutura social conduzida por um aparelho hierarquicamente organizado, seguindo regras impessoais e racionais, com o propósito de alcançar a eficiência máxima almejada pela burocracia e pelo capitalismo, "A burocracia desumaniza as pessoas, na medida em que consegue eliminar as emoções dos indivíduos, fazendo com que se tornem seres racionais." (Weber, 1971) Dessa forma, considerando que a biblioteca é uma fonte de conhecimento, cultura e informação, e possui uma função social que abrange desde a prestação de serviços até a integração com a sociedade, é fundamental criar uma estrutura que acompanhe o contexto atual e ofereça soluções para os desafios dessa antiga forma de gestão. Isso nos leva ao conceito de biblioteca híbrida como a chave para enfrentar esses obstáculos. A biblioteca híbrida é caracterizada pela convergência de tecnologias e desenvolvimento econômico, o que permite a integração da instituição com os micro e macro ambientes, atendendo às carências da população e aproximando a relação entre o indivíduo, a biblioteca e a comunidade. Um grande desafio enfrentado pelas bibliotecas na atualidade é incentivar o interesse pela leitura e formar leitores ativos. Isso porque o desenvolvimento da internet possibilitou novos espaços de comunicação e criação no meio virtual, em que os livros impressos passaram a ser lidos na tela de aparelhos móveis, como por exemplo a criação de e-books, transformando a relação do leitor com o objeto livro. Diante dessas mudanças, é primordial que as bibliotecas possibilitem essa abertura para o meio virtual com as novas formas narrativas que estão surgindo por meio das mudanças no suporte de leitura e na própria forma de leitura. Proporcionando assim, uma ampliação da biblioteca sobre seu conteúdo e serviços a partir da criação desses chamados ciberespaço ou redes, que de acordo com Lévy (1999) "o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores." Criando dessa forma, a cibercultura que é definida pelo filósofo como: "conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço". (LÉVY, 1999, p. 17). Portanto, a interação entre os usuários e os bibliotecários é essencial para criação destes conteúdos no ciberespaço, alinhando a aplicação da tecnologia com a comunidade usuária com o objetivo de melhorar o atendimento das demandas do público. Esse novo modelo de gestão enfatiza a flexibilização da infraestrutura, sendo indispensável no mundo globalizado, com o objetivo de favorecer a cidadania por meio da união de pessoas, tecnologia e acesso à informação. Isso contribui para o desenvolvimento social, pois visa a integração entre sociedade e gestão pública, permitindo que as bibliotecas sejam agentes ativos na disseminação do conhecimento, no fortalecimento da cultura e no enriquecimento da comunidade em que estão inseridas. Para enfrentar os desafios atuais da gestão de bibliotecas, é necessário abandonar o modelo burocrático tradicional e adotar uma abordagem mais flexível, adaptável e centrada nas necessidades dos usuários. Além das contribuições de Max Weber, outros autores também forneceram ferramentas valiosas para compreender e analisar os desafios enfrentados na gestão de uma organização, os quais podem ser aplicados para analisar os obstáculos na gestão de bibliotecas, um desses autores é Gareth Morgan, conhecido por suas teorias sobre as metáforas organizacionais. Gareth Morgan, em seu livro "Imagens da Organização", propõe uma abordagem metafórica para compreender as organizações. Ele argumenta que diferentes metáforas podem nos ajudar a entender as complexidades e os desafios enfrentados pela gestão em diversos contextos. Uma metáfora que pode ser aplicada à gestão de bibliotecas no contexto atual é a metáfora da organização como organismo vivo. Nessa perspectiva, a biblioteca é vista como um sistema dinâmico, em constante interação com seu ambiente e adaptando-se às mudanças que ocorrem ao seu redor. Assim como um organismo vivo, a biblioteca precisa ser flexível e capaz de se adaptar para sobreviver e prosperar. A analogia feita ressalta a importância da capacidade de aprendizado e evolução da biblioteca. Ela deve estar aberta a novas tecnologias, às demandas da comunidade e às mudanças nas necessidades dos usuários. A gestão de uma biblioteca na contemporaneidade requer uma postura proativa na busca por inovação e na adoção de práticas que promovam o engajamento dos usuários e a conexão com a sociedade e suas reais necessidades. Outro autor relevante para debater o tema é Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna; Drucker enfatizou a importância da gestão estratégica e da busca pela eficiência e eficácia nas organizações, seus ideais e métodos podem ser aplicados à gestão de uma biblioteca destacando a necessidade de um planejamento estratégico que leve em consideração a importância da criatividade e inovação, gestão por objetivos e autonomia e descentralização. Drucker também ressaltou a importância de compreender e atender às necessidades dos usuários. Na gestão de uma biblioteca, isso implica em oferecer serviços relevantes, acessíveis e alinhados com as demandas da comunidadena qual a instituição está inserida. A adoção de abordagens centradas no usuário, como a personalização dos serviços e o uso de tecnologias interativas pode contribuir para uma gestão eficaz e para o fortalecimento da biblioteca como um agente ativo de transformação na sociedade. Uma das formas de impulsionar a dinâmica gestacional é promovendo a transformação digital. A tecnologia desempenha um papel fundamental na gestão das bibliotecas, proporcionando acesso a recursos digitais, como e-books, bases de dados online e ferramentas interativas. Investir em sistemas de gerenciamento de bibliotecas eficientes e facilitar o acesso a esses recursos por meio de dispositivos móveis contribui para uma gestão mais ágil e adaptada às necessidades dos usuários, além da buscar constantemente o feedback dos usuários. Outro aspecto importante para impulsionar a dinâmica gestacional é fomentar parcerias e colaborações; a falta de fomento voltado para promoção desses espaços acaba tornando a demanda baixa e consequentemente fazendo com que a biblioteca não atinja seu objetivo de transformar e trazer informação para o espaço em que está inserida. Estabelecer parcerias com instituições educacionais, organizações comunitárias e empresas locais permite compartilhar recursos, promover eventos conjuntos e enriquecer a oferta de serviços da biblioteca. Essas colaborações fortalecem a biblioteca como um centro de conhecimento, ampliam seu alcance e promovem a interação com diferentes segmentos da sociedade, possíveis novos usuários. Investir em capacitação e desenvolvimento profissional é essencial para acompanhar as tendências e mudanças na área da biblioteconomia. Os bibliotecários e funcionários devem buscar atualização constante e adquirir habilidades técnicas e gerenciais necessárias na gestão moderna de bibliotecas. Além disso, incentivar a busca por conhecimentos interdisciplinares, como marketing, comunicação e tecnologia da informação, contribui para uma gestão mais dinâmica e adaptável; na faculdade, durante o período de formação do profissional é de suma importância que a grade reflita as necessidades atuais da área e que os contemple. Por fim, para que a eficácia dos serviços oferecidos seja quantificada é fundamental medi-los e avaliá-los. Estabelecer indicadores de desempenho e métricas quantitativas adequadas permite acompanhar o alcance das metas estabelecidas, identificar áreas de melhoria e justificar o pedido de novos investimentos, uma vez que um problema comumente relatado em bibliotecas é a falta de investimento por parte do estado ou da instituição privada. O modelo hoje usado nas bibliotecas, verticalizado, acaba interpelando a comunicação, gerando uma escassez de novas ideias e impedindo de que haja evolução no impacto que a biblioteca tem em seu meio. Diante de esses desafios, podemos citar Maslow, um cientista comportamental, que em uma de suas teorias afirma que o ser humano precisa ter suas necessidades básicas atendidas, sendo uma delas, a autorrealização. Tendo em vista esses desafios no mundo organizacional de uma biblioteca, é visível que a satisfação pessoal no trabalho não está sendo alcançada e que é necessária uma mudança de pensamento e na forma em que as corporações são organizadas. Percebe-se também que as metas só poderão ser atingidas caso os funcionários também possuam seu lugar de fala, caso suas ideias forem ouvidas e validadas. Essa mudança só acontecerá se houver mais participação de todos os participantes da instituição. Tal participação poderá se concretizar quando Empregadores e empregados se juntarem como um só cérebro para estabelecer objetivos para o local de trabalho, indo contra o modelo burocrático de administração. A forma de gerenciamento em que todos participam de forma igualitária das tomadas de decisão é conhecida como administração participativa, para que a mesma ocorra precisa-se de um componente transitivo entre os grupos de uma empresa para que haja uma melhor comunicação e colaboração. Tem-se portanto que os desafios enfrentados por uma biblioteca no contexto atual não são de fácil resolução, considerando que modos de gestão antiquados e inflexíveis estão encrustados nas instituições como um todo; cabe ao bibliotecário, em sua formação e desenvolvimento profissional capacitar-se para que entenda que as nuances dos modos de gestão podem ser a linha divisória entre o centro de informação ser apenas uma instituição que oferece um serviço determinado para o publico ou se a biblioteca cumprira o seu papel social e de fato ira mudar o meio em que está presente. REFERÊNCIAS LÉVY, Pierre. Ciberculura. Tradução Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999. PIVETTA. N. P. CAMPOS. S. A. P. SCHERER. F. L. A influência de burocracia Weberiano na Escola Clássica, Escola de Relações Humanas e Abordagem Comportamental. Revista de Administração IMED. Passo Fundo. 2018. SILVA, R, C.;CALDAS, R, F. Bibliotecas híbridas e o desenvolvimento das sociedades, RDBCI, Campinas,SP, v.20, e22030, 2022.