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Apostila psicologia de desenvolvimento 1

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Texto - 1
Unidade I: Introdução a Psicologia de Desenvolvimento 
Tema: Psicologia de desenvolvimento
Tópicos: História da psicologia de desenvolvimento:
- Perspectiva Histórica e Sociológica da infância 
- Surgimento da psicologia de desenvolvimento
- Conceito, objecto de estudo, Métodos em psicologia de desenvolvimento e ética da pesquisa
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1. História da psicologia de desenvolvimento 
1.1. Perspectiva Histórica e Sociológica da infância e nascimento da psicologia de desenvolvimento.
As ciências sociais e humanas levaram muito tempo para se focalizarem na criança e na infância pois, o conceito de infância não existia antes do século XVI. As crianças eram vistas como adultos pequenos, isto é, a vida era relativamente igual para todas as idades, ou seja, não havia mitos estágios de desenvolvimento e os que existiam não eram claramente demarcados.
Neste período, não se distinguiam tipos de actividades, divertimentos e até o trabalho entre as crianças e adultos.
As crianças com mais de 7 anos eram tratadas como pequenos adultos, vestiam-se como eles, faziam os mesmos trabalhos e ingressavam na vida sexual muito cedo. Por exemplo, a idade exigida para o consentimento de relações sexuais ficava abaixo de dez anos.
Foi durante o século XVII que se começou a pensar que a natureza das crianças é diferente do adulto e surge a primeira concepção real sobre a infância, a partir da observação de sinais de dependência das crianças muito pequenas. O adulto passou, então, pouco a pouco a preocupar-se com a criança, como ser dependente e fraco. Só ultrapassava esta fase da vida quem saísse da dependência e a palavra infância passou a designar a primeira idade de vida: a idade da necessidade e proteção. Assim, pode-se afirmar que foi na idade média que as “idades da vida” começaram a ter importância.
Durante a idade média existiam seis etapas da vida: as primeiras três que correspondem à primeira idade (do nascimento até aos 7 anos), segunda idade (dos 7 anos aos 14 anos) e a terceira idade (dos 14 aos 21 anos), eram etapas não valorizadas pela sociedade. Somente a partir da quarta idade considerada como sendo a idade da juventude (dos 21 aos 45 anos), as pessoas começavam a ser reconhecidas socialmente. Ainda existiam a quinta idade (senectude), em que a pessoa não era considerada velha mais tinha passado a juventude e a sexta idade (a velhice) dos 60 anos em diante até a morte. Essas etapas alimentavam a ideia de que a vida era dividida em fases.
Portanto, até o século XVII a ciência desconhecia a infância pois, não havia lugar para as crianças na sociedade. Foi a partir das ideias de proteção, amparo e dependência que surge o conceito de infância. As crianças vistas apenas como seres biológicos necessitavam de grandes cuidados e também de uma rígida disciplina, a fim de transformá-las em adultos socialmente aceites.
No século XVIII surge uma nova forma de estudar o Desenvolvimento infantil a partir da constatação das faixas etárias. Portanto, podemos considerar que a infância foi socialmente inventada a partir desse século, em que houve a fundação de um estatuto para essa faixa etária.
No século XIX a criança viu-se integrada na noção de desenvolvimento, a qual passou a mostrá-la como um ser cujo o crescimento acontece numa sucessão de fases intelectuais e emocionais.
Surge também o interesse em estudar a adolescência, a fase adulta e a velhice dando assim, autonomia a Psicologia do desenvolvimento. Outro aspecto relevante na história da psicologia do desenvolvimento ocorre no século XX por muitos considerado o século dos Direitos Humanos, em que são designados os direitos das crianças.
2. Psicologia do desenvolvimento
2.1. Conceito
É uma área de conhecimento da psicologia que estuda o Desenvolvimento do ser humano em todos os seus aspectos físico, intelectual, afetivo-emocional e social, desde o nascimento até a idade adulta, isto é, a idade em que todos estes aspectos atingem o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade.
2.2 Objecto de estudo
O objecto de estudo da psicologia de desenvolvimento é o próprio individuo em permanente evolução, analisando as várias etapas da vida (infância, adolescência, fase adulta, velhice) e do desenvolvimento dos processos biológicos e psicológicos nas relações de interação do indivíduo com o meio.
2.3. Métodos de pesquisa
As teorias de desenvolvimento humano que teremos a oportunidade de estudar mais adiante surgem de pesquisas, isto é, usam um método cientifico para serem validadas. Papalia (2006) define o método cientifico como sendo um processo que caracteriza a investigação cientifica em qualquer área pois, permite chegara a conclusões consistentes sobre o desenvolvimento humano. As etapas do método cientifico são: 
I. Identificação de um problema a ser estudado, baseando-se numa teoria ou numa pesquisa anterior;
II. Formulário de hipóteses que serão testados pela pesquisa;
III. Recolha de dados;
IV. Divulgação dos resultados de modo que os outros pesquisadores possas verificar e repetir os resultados bem como usá-los como base e aprender com eles.
No início de qualquer investigação a que ter em conta duas questões fundamentais:
1. Como os participantes serão escolhidos – método de amostragem;
2. Como os dados serão recolhidos.
Essas questões dependem de que questões a pesquisa pretende responder e todas as questões são importantes para o modelo ou planos de pesquisa.
Amostragem
Antes de iniciar a pesquisa temos que determinar quem vais entrar na pesquisa. Portanto temos dois conceitos dentro da amostragem: população e amostra. População refere-se a um grupo ao qual pretendemos aplicar os resultados. Geralmente, os pesquisadores preferem usar uma amostra (grupo menor de participantes escolhidos para representar toda a população em um estudo) pois, estudar uma população inteira requer tempo e recursos.
A amostra deve representar a população a qual se pretende estudar ou seja, ela deve apresentar características relevantes nas mesmas proporções que na população inteira caso contrário, os resultados não poderão ser generalizados à população como um todo. 
2.3.1. Métodos de recolha de dados 
Os métodos de recolha de dados incluem relatos pessoais (verbais) dos participantes em estudo, testes e outras medidas comportamentais e observação.
Actualmente usam-se mais relatos pessoais e observação aliadas as medidas mais objectivas.
Tabela de comparação das características dos principais métodos de recolha de dados 
	Tipo de método 
	Principais características
	Vantagens
	Desvantagens
	Relato pessoal: diário, entrevista ou questionário 
	Participantes respondem sobre algum aspecto de sua vida, atitudes ou opiniões de uma pessoa.
	Pode fornecer informações diretas sobre a vida, atitudes ou opiniões de pessoas.
	Participante não pode recordar das informações com precisão, ou pode distorcer as respostas de um modo socialmente desejável; o modo de fazer uma pergunta ou que faz pode influenciar a resposta.
	Medidas comportamentais
	Testam -se capacidades, habilidades, conhecimento, competências ou repostas físicas dos participantes.
Pessoas são observadas em seu ambiente normal, sem tentativa de manipular o comportamento.
	Fornece informações objectivas e mensuráveis; evita distorções subjetivas.
	Não pode medir atitudes ou outro fenômenos não -comportamentais; resultados podem ser influenciados por fatores alheios.
	Observação naturalística
	Pessoas são observadas em seu ambiente normal, sem tentativa de manipular o comportamento.
	Fornece boa descrição do comportamento;
Não submete as pessoas a ambientes artificiais que podem distorcer o comportamento.
	Falta de controle; tendenciosidade do observador.
	Observação laboratorial 
	Participantes são observados no laboratório sem tentativa de manipular o comportamento.
	Fornece boas condições; maior controle do que na observação naturalística pois, todos os participantes ao observados sob as mesmas condições.
	Tendenciosidade do observador;situação controlada pode ser artificial.
Fonte: Papalia (2006:85)
2.3.2. Modelos básicos da pesquisa 
Modelo de pesquisa refere-se a um plano que conduz a investigação cientifica:
· Que perguntas serão respondidas;
· Como os participantes serão selecionados;
· Como os dados serão recolhidos e interpretados;
· Como conclusões validas podem ser tiradas.
Existem quatro modelos básicos utilizados na pesquisa de desenvolvimento, são eles: estudos de caso, estudos etnográficos, estudos correlacionais e os experimentos conforme a tabela abaixo:
	Tipo de método 
	Principais características
	Vantagens
	Desvantagens
	Estudos de caso
	Estudo de um único individuo em profundidade.
	Flexibilidade; fornece um quadro detalhado do comportamento e desenvolvimento de uma pessoa; pode gerar hipóteses.
	Podem não se generalizar aos outros;
Conclusões não diretamente testáveis; não é capas de estabelecer causa e efeito.
	Estudos etnográficos
	Estudo aprofundado sobre uma cultura ou subcultura.
	Pode ajudar a superar tendenciosidade de base cultural na teoria e pesquisa; pode testar a universalidade de fenômenos do desenvolvimento.
	Sujeito a tendenciosidade do observador.
	Estudos correlacionais
	Procura descobrir relação positiva ou negativa entre variáveis.
	Permite a previsão de uma variável com base em outra; pode surgir hipóteses sobre relações casuais. 
	Não é capaz de estabelecer causa e efeito.
	Experimentos
	Procedimento controlado em que um experimentador manipula a variável independente para determinar seu efeito sobre a variável dependente; pode ser conduzido em laboratório ou em campo.
	Estabelece relações de causa e efeito; procedimento altamente controlado que pode ser repetido por outro investigador. Grau de controle é maior no experimento laboratorial.
	Resultados, especialmente quando derivados de experimentos laboratoriais, podem não se generalizar a situações fora do laboratório.
2.3.3. Modelos de pesquisa sobre o desenvolvimento 
Modelos de pesquisa mais usadas para estudar o desenvolvimento humano são os estudos longitudinais e transversais. Os estudos longitudinais correspondem a i=um modelo de estudo em que se recolhem dados sobre as mesmas pessoas duramente um período de tempo para avaliar pessoas de idades diferentes de modo a perceber as diferenças e semelhanças entre elas. Temos também os estudos sequenciais que combinam as técnicas transversais e longitudinais e os estudos microgenéticos que permitem observar diretamente as mudanças, expondo os participantes, de forma repetida, a estímulos durante um curto espaço de tempo. Verifique a tabela abaixo:
	Tipo de estudo
	Procedimento
	Vantagens
	Desvantagens
	Longitudinal
	Coletam -se dados entre a mesma pessoa ou pessoas durante um período de tempo.
	Pode indicar mudança relacionada com a idade ou continuidade; evita confusão com efeitos da coorte.
	Demorado, caro; problemas de desgaste, tendenciosidade da amostra e efeitos da repetição dos testes; resultados podem ser validos somente para coorte testada.
	Transversal
	Coletam-se dados sobre pessoas de diferentes idades aos mesmo tempo.
	Pode indicar semelhanças e diferenças entre grupos etários; rápido, econômico; sem problema de desgaste ou repetição do teste.
	Não pode estabelecer efeitos de idade; mascara diferenças individuais; pode ser confundido com efeitos de coortes (fases)
Fonte: (Papalia (2006:93)
2.4. Ética da pesquisa
Durante as pesquisas os pesquisadores devem guiar-se por três princípios fundamentais:
1. Beneficência: maximizar possíveis benefícios aos participantes e minimizar possíveis danos;
2. Respeitar a autonomia dos participantes e proteger os que são incapazes de fazer o seu próprio julgamento;
3. Justiça: fazer inclusão de grupos diversos mantendo a sensibilidade a qualquer impacto especial que a situação de pesquisa possa ter sobre eles.
Direito e consentimento informado
Existe consentimento informado quando os participantes concordam voluntariamente em participar de um estudo, têm competência para dar o consentimento, estão conscientes dos riscos, bem como dos possíveis benefícios, e não estão a ser explorados.
Referências bibliográficas
ARIÈS.P. (1981). História social da criança e da família. Rio de Janeiro: editora Guanabara.
BOCK. A.M.B. FURTADO.O.&TEXEIRA.M.L.T.(2002). Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13ª ed. São Paulo: saraiva
DAVIDOFF.L.L. (2001). Introdução a psicologia. 3ª ed. São Paulo: Pearson Markron Books.
MONTEIRO.M&SANTOS.M.R.(2000). Psicologia. 2ª parte. Porto editora.
PAPALIA.D.E. OLDS.W.S&FILDMAN.R.D. (2006) Desenvolvimento Humano. 8ª ed. São Paulo: Artmed.
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Dra. Roda Nhavoto

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