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1 LÍNGUA PORTUGUESA E PRODUÇÃO DE TEXTO Profª. Me. Paloma C. de Figueiredo Souza 2 LÍNGUA PORTUGUESA E PRODUÇÃO DE TEXTO PROFª. ME. PALOMA CARLEAN DE FIGUEIREDO SOUZA 3 Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Profa. Esp. Imperatriz da Penha Matos Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luíza Mendes Leite Fernanda Cristine Barbosa Prof. Esp. Guilherme Prado Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Eliza P. Campos © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza- ção escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 4 LÍNGUA PORTUGUESA E PRODUÇÃO DE TEXTO 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2021 5 Mestre em Letras pela Universidade Esta- dual de Montes Claros (UNIMONTES-MG) (2015). Especialista em Tutoria em Educação a Distân- cia pela Faculdade Vale Do Gorutuba, (FAVAG) (2014). Graduada em Letras com ênfase em Português e Inglês pela Universidade Católica Dom Bosco (2005). Possui experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Atua como docente na rede pública do estado de Minas Gerais desde 2007. PALOMA CARLEAN SOUZA Para saber mais sobre a autora desta obra e suas quali- ficações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link : http://lattes.cnpq.br/2022360404034091 Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado. 6 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 7 UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4 SUMÁRIO 1.1 Introdução ...........................................................................................................................................................................................................................................................................................11 1.2 Fala e Escrita ......................................................................................................................................................................................................................................................................................11 1.3 Registro Formal e Registro Informal ................................................................................................................................................................................................................................12 1.4 Variações Linguísticas ...............................................................................................................................................................................................................................................................14 1.4.1 Variação Histórica Ou Diacrônica .........................................................................................................................................................................................................................................14 1.4.2 Variação Linguística Geográfica Ou Diatópica ...............................................................................................................................................................................................................15 1.4.3 Variação Linguística Sociocultural .......................................................................................................................................................................................................................................15 1.4.4 Adequação Linguística ...............................................................................................................................................................................................................................................................16 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................17 2.1 Linguagem Verbal .......................................................................................................................................................................................................................................................................23 2.2 Conceituando Texto ..................................................................................................................................................................................................................................................................24 2.3 Elementos da Comunicação ...............................................................................................................................................................................................................................................25 2.4 Funções da Linguagem .........................................................................................................................................................................................................................................................25 2.4.1 Função Emotiva ou Expressiva ............................................................................................................................................................................................................................................26 2.4.2 Função Conativa ou Apelativa .........................................................................................................................................................................................................................................26 2.4.3 Função Referencial ou Denotativa ..................................................................................................................................................................................................................................27 2.4.4 Função Poética ........................................................................................................................................................................................................................................................................28 2.4.5 Função Metalinguistica .........................................................................................................................................................................................................................................................282.4.6 Função Fática ...........................................................................................................................................................................................................................................................................29 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................30 3.1 Introdução .........................................................................................................................................................................................................................................................................................36 3.2 Tipologia Narrativa (Narração) ............................................................................................................................................................................................................................................37 3.3 Tipologia Descritiva (Descrição) .......................................................................................................................................................................................................................................39 3.4 Tipologia Dissertativa (Argumentativa) ......................................................................................................................................................................................................................40 3.5 Tipologia Injuntiva .......................................................................................................................................................................................................................................................................41 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................43 A LÍNGUA PORTUGUESA COMO INSTRUMENTO DE INTERAÇÃO SOCIAL TEXTO, CONTEXTO E INTENÇÃO COMUNICATIVA TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS DISCURSIVOS 4.1 Introdução ........................................................................................................................................................................................................................................................................................49 4.2 Elementos De Textualidade ................................................................................................................................................................................................................................................49 4.2.1 Intencionalidade ......................................................................................................................................................................................................................................................................49 4.2.2 Aceitabilidade ..........................................................................................................................................................................................................................................................................50 4.2.3 Situacionalidade .....................................................................................................................................................................................................................................................................50 4.2.4 Informatividade .......................................................................................................................................................................................................................................................................50 4.2.5 Intertextualidade .....................................................................................................................................................................................................................................................................51 4.3 Coerência e Coesão ...................................................................................................................................................................................................................................................................53 4.4 Operadores Argumentativos ..............................................................................................................................................................................................................................................56 4.5 Os Valores Das Preposições E Das Conjunções .....................................................................................................................................................................................................56 4.5.1 Preposições .................................................................................................................................................................................................................................................................................56 4.5.2 Conjunções .................................................................................................................................................................................................................................................................................58 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................59 ELEMENTOS LINGUÍSTICOS 8 5.1 Introdução .........................................................................................................................................................................................................................................................................................65 5.2 Denotação e Conotação .........................................................................................................................................................................................................................................................66 5.3 Ambiguidade e Polissemia ...................................................................................................................................................................................................................................................67 5.4 A Pontuação Como Fator de Produção de Sentido ............................................................................................................................................................................................69 5.5 O Uso da Vírgula: uma Questão Importante .............................................................................................................................................................................................................71 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................74 PRÁTICA DE LEITURA E NOÇÕES DE SEMÂNTICA 6.1 Introdução ........................................................................................................................................................................................................................................................................................796.2 Linguagem Acadêmica ..........................................................................................................................................................................................................................................................79 6.3 Principais Gêneros a Serem Produzidos (Resumo e Resenha) ....................................................................................................................................................................81 6.4 Análise De Textos : Seleção Lexical e Efeito De Sentido ..................................................................................................................................................................................83 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................................................................................................................................................................................................86 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO.........................................................................................................................................................................................................................91 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................................................................................................................................................................92 PRODUÇÃO DE TEXTOS UNIDADE 5 UNIDADE 6 9 O N FI R A N O L I C V R O UNIDADE 1 Nesta unidade, serão abordadas as definições de fala e escrita, bem como serão discutidos os conceitos de registro formal e in-formal da língua, variação linguística e a importância da adequa¬ção da linguagem ao contexto de comunicação. UNIDADE 2 Nesta unidade, serão explicitados conceitos importantes como texto , contexto e intenção comunicativa. Além disso, serão apre¬sentados os elementos essências da teoria da comunicação e as funções da linguagem. UNIDADE 3 Nesta unidade, será discutido o conceito de tipologia textual e a importância desse saber para a compreensão e produção de textos. Serão apresentados os tipos textuais mais usados no dia a dia: narração, descrição, injunção e argumentação, acompanhados de exemplos e detalhamento de suas principais características. UNIDADE 4 Esta unidade é dedicada ao estudo dos elementos responsáveis pela textualidade, ou seja, os elementos essenciais que garantem que um texto seja considerado como tal. Será dado destaque à coerência e à coesão por meio dos operadores argumentativos: conjunção e preposição. UNIDADE 5 Esta unidade apresentará os conceitos de denotação e conotação, bem como discutirá os fenômenos linguísticos ambiguidade e polissemia. Ainda com foco na semântica, será dado devido destaque à pontuação como fator de produção de sentido. UNIDADE 6 Nesta unidade, serão abordadas questões referentes à linguagem acadêmica, sobretudo sobre os gêneros textuais resumo e resenha. Com foco na produção autônoma e eficiente de textos, serão analisados exemplos de efeitos de sentidos estabelecidos pelas escolhas lexicais. 10 A LÍNGUA PORTUGUESA COMO INSTRUMENTO DE INTERAÇÃO SOCIAL 11 1.1 INTRODUÇÃO Nesta unidade, introduziremos os conteúdos relacionados à Língua Portugue¬sa, com o objetivo de percebê-la como mais poderoso instrumento de comunica¬ção que a sociedade possui. Abordaremos fala e escrita, estabelecendo as dife¬renças entre esses dois processos e a importância deles para a interação social. Partindo do pressuposto que toda linguagem é uma atividade funcional, regulada e moldada pelas estruturas sociais, nos contextos de uso e interação, discutiremos os níveis de formalidade de acordo com a necessidade de adequação da linguagem ao contexto, ou seja, Norma Padrão (Culta) e Norma Não Padrão (coloquial) da língua. A Língua Portuguesa é, de fato, complexa e não se pode negar que, ao utilizá-la, no nosso dia a dia, estabelecemos relações sociais com nós mesmos e com o mundo. Desse modo, a língua materna nos oferece importante instrumento de interação social, desde a nossa infância, momento em que começamos as nossas primeiras formas de comunicação. Antes de termos contato com a modalidade escrita da língua, porém, temos acesso à oralidade, pois, segundo Marcuschi (2008), apesar de ser pouco valorizada, em detrimento da escrita, a fala constitui o modo de comunicação mais utilizado entre os povos, pois ela está presente na vida humana desde o momento da gestação, quando a mãe conversa com o bebê. Assim que nasce, a criança emite o choro, em seguida, com poucas semanas, começa a balbuciar em resposta aos diálogos que a família realiza ao seu redor. A partir de então, com essa interação natural, a criança, concomitante a expressões faciais e gestos, desenvolverá a fala, meio pelo qual passará a se comunicar. Desse modo, como afirma Marcuschi (2008), a fala é adquirida em contextos espontâneos e informais, contrapondo-se ao processo da aquisição da escrita, que acontecerá mais tarde e, provavelmente, em um ambien¬te escolar- local de prestí-gio social. Embora a fala esteja mais presente no nosso cotidiano, uma vez que falamos muito mais do que escrevemos, a escrita possui um lugar de destaque, pois “seu domínio se tornou um passaporte para a civilização e para o conhecimento.” (MARCUSCHI, 2008, p. 21). Em outras palavras, e concordando com o autor, afir-mamos que a sociedade valoriza mais a escrita por razão desta representar certo status, haja vista que muitos estudos sociais associam a escrita e a alfabetização à saúde, ao progresso e à riqueza. Por outro lado, doença, regresso e pobreza estão associados ao analfabetismo. Segundo Marcuschi (2008), embora os usuários de qualquer língua passem mais parte do tempo falando que escrevendo, essas duas modalidades- fala e escrita- são 1.2 FALA E ESCRITA • A escrita é a representação da fala? • Qual das duas modalidades é mais importante para a interação social? VAMOS PENSAR? 12 Aula de português A linguagem na ponta da língua, tão fácil de falar e de entender. A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas, atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, inerentes às nossas relações sociais diárias ao mesmo tempo em que são complementares. Se observarmos, durante vinte e quatro horas, a rotina de alguém, inclusive a nossa, é possível perceber que utilizamos, diariamente, tanto a fala quanto a escrita, em casa, no trabalho, nas igrejas, na internet e em várias outras esferas de comunicação. Desse modo, tanto oralidade quanto escrita são imprescindíveis para a comunicação e circulação dos saberes na sociedade. Ainda sobre fala e escrita, é preciso ressaltar que uma modalidade não é superior à outra, já que ambas são modos legítimos de representação cognitiva e social. Marcuschi (2008) destaca que é necessário reconhecer a importância de fala e escrita e distinguir os papéis de cada uma a depender do contexto de uso da língua. O autor também esclarece que a escrita não pode ser definida como representação da fala, pois na oralidade, temos alguns fatores que não são possíveis de ser representados na escrita, tais como entonação, gestos. Entenda mais sobre Fala e Escrita assistindo aos vídeos de dois grandes pesqui- sadores, Luiz Antônio Marcuschi e Carlos Alberto Faraco. Acesse os links abaixo e amplie o seu conhecimento: • “Fala e Escrita” está disponível em: https://bit.ly/3csIwce. Acesso em: 12 nov. 2020. • “Oralidade: um processo vivo”: https://bit.ly/3sr1qpl. Acesso em: 12 nov. 2020. BUSQUE POR MAIS 1.3 REGISTRO FORMAL E REGISTRO INFORMAL13 em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a prima. O português são dois; o outro, mistério. Andrade, Carlos Drummond de. Esquecer para Lembrar. R J: Record, 1979 Nesse poema, denominado Aula de Português, Carlos Drummond de Andrade apresenta ao leitor as suas inquietações sobre a Língua Portuguesa. Para ele, há duas línguas, aquela ensinada na escola, que se baseia em regras gramaticais, em certo e errado , normatizada e que, por isso , nos parece estranha; e a outra, que é simples, livre de regras e, portanto, mais fascinante e utilizada com tanta tranquilidade pelos usuários. De fato, o que o poeta nos diz é que há maneiras de se utilizar a língua a depender do contexto. Sem utilizar os termos técnicos, Drummond apresenta as diferenças entre a norma culta da língua (padrão) e a norma coloquial (não padrão). Apesar de a língua apresentar variedades linguísticas, existe uma tradição gramatical, baseada em parâmetros para a escrita ou para situações mais formais de fala, que é denominada Norma-padrão. A norma-padrão, portanto, é um “conjunto de regras, pautadas em autores consagrados, que impõe uma unidade à língua escrita.” (CEREJA; VIANNA; CODENHOTO, 2016, p. 53). Primeiramente, devemos levar em consideração que quando o estudante chega à escola, ele já é falante da língua materna e, certamente, se comunica bem em situações informais e familiares, desse modo, não é necessário que a escola o ensine a falar. O que ocorre, porém, é que como os contextos sociais são diversificados, esse estudante acessará outros modos de falar, que estão relacionados a questões culturais, geográficas e sociais. Diante dessa realidade, é função do professor promover o respeito às diversidades linguísticas, sem perder o foco no objeto de ensino, que é a comunicação eficiente, independente da realidade socio-cultural. Em outras palavras, conhecer e respeitar as variedades linguísticas é de grande importância. Se existe o reconhecimento de outras variedades na língua, o que a escola deve ensinar? É possível ensinar a norma-padrão, incentivar a melhoria na escrita sem cometermos pre- conceito linguístico? VAMOS PENSAR? • Variedade padrão (língua culta formal) variedade linguística baseada no modo de falar e escrever dos grupos sociais de maior prestígio cultural, político e econômico; caracte FIQUE ATENTO 14 • riza-se pelo uso de estruturas frasais mais complexas, pelo vocabulário mais elaborado (mais sofisticado) e pela observância às regras da gramática normativa. • Variedade não padrão (coloquial), variedade mais espontânea, empregada em situa- ções informais do dia a dia e caracterizada pelo emprego de frases de estrutura sim- ples, pela pouca (ou nenhuma) observância às regras da gramática normativa, pelo vocabulário mais comum e pela presença de frases feitas, expressões populares e gírias (AMARAL et al., 2013, p. 165). 1.4 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Embora haja a determinação de uma norma padrão, de convenções do uso da língua, é importante ressaltar que ela é dinâmica e apresenta variações, segundo elementos geográficos, históricas, sociais, entre outros. Desse modo, podemos definir variações linguísticas ou variedades linguísticas como “os diferentes modos de falar uma língua- relacionados à idade do falante, à sua classe social, ao espa¬ço em que ele se encontra e, ainda, aos objetivos e aos usos específicos que ele faz da língua,” (CEREJA; VIANNA; CODENHOTO, 2016, p. 50). Para Bortoni-Ricardo (2004), a variação linguística acontece em qualquer comunidade de fala, urbana ou rural, pois de acordo com os grupos ou situações de comunicação, apresentamos maneiras distintas de falar. Vejamos alguns casos de variação linguística: 1.4.1 Variação histórica ou diacrônica Algumas palavras ou expressões sofrem modificações ou caem em desuso com o passar do tempo, é possível que você já tenha notado em textos mais anti¬gos ou em conversa com pessoas mais idosas. Essa variação na língua, que ocorre através do tempo, é chamada de variação histórica ou diacrônica. Para exemplificar a variação histórica ou diacrônica , vejamos um fragmento do texto “Antigamente”, de Drummond (1966): Esse tipo de variação pode ocorrer também por mudanças na ortografia de algumas palavras, por acordos ortográficos ou simplesmente pelo uso, já que a língua é dinâmica. Observe na imagem abaixo como a palavra farmácia era grafada antigamente. Antigamente as moças chamavam-se “mademoiselles” e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhe pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entremente, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passava a manta e azulava, dando às de Vila-Diogo…. 15 1.4.2 Variação Linguística Geográfica ou Diatópica A variação linguística geográfica ou diatópica está relacionada ao lugar de origem do falante, inclui o uso de determinadas palavras ou expressões regionais, independentemente de outros fatores, como idade e escolarização. Além de mani-festar- se no vocabulário, esse tipo de variação linguística evidencia-se também na pronuncia, ou seja, o modo de falar também varia de acordo com a localização geográfica, daí os sotaques mineiro, carioca, caipira, nordestino, entre outros. Ve-jamos, a seguir, trecho de uma crônica em que o autor emprega várias palavras e expressões próprias de uma determinada região para demonstrar o fenômeno da variação linguística geográfica (regionalismo). 1.4.3 Variação Linguística sociocultural A distribuição de bens materiais e culturais influenciam no modo de dizer dos grupos de falantes, pois indicam o acesso ou privação de aparatos da cultura, por- Fui dar um passeio por Rondônia. Lá pelas tantas, comecei a perceber que não estava entendendo a conversa do povo. Eu, que falo o português do centro- oeste mineiro, achei toada na fala da região. Cheguei numa beira de porto e pus sentido na prosa em redor. Decorei alguma coisa, que divido agora com o leitor. [...] Eis meu relato: O regatão saltou do alvarenga onde estava morcegando e berrou: — Açaí, cajarana, cupuaçu e pupunha! Loção contra carapanã, mucuim, mutuca e pium. Vai levar, patrão? [...] Procurei um taxi, mas desanimei ao ouvir o informante dizer: — Aqui, BK é só para quem está bamburrado. Tu está? E saiu rindo, apontando para mim e falando: — Brabo aqui vai de catrai! [...] Logo que pude, abri buraqueira (fugi) para não ser forçado a fazer uso de uma assistência (ambulância) com destino a um hospício; nem para ser submetido a um bascolejo (revista policial). Claro! Do jeito que fiquei, talvez pensassem que eu estava bordado (maluco) [...]. Logo eu, que sou tão virado (trabalhador)! É uma faceta (epa!) da nossa língua...brasileira ou portuguesa? Wilson Liberato, in jornal O Pergaminho, 21/10/2000 Figura 1: Exemplo de variação diacrônica Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fjK5Lo. Acesso em: 30 dez. 2020. 16 tanto, a variação sociocultural tem a ver com fatores de diversidade. Desse modo, leva- se em consideração o grau de escolaridade, a idade, o gênero e, sobretudo, o nível socioeconômico. Esse tipo de variação linguística não compromete a compreensão entre indivíduos, embora o uso de certas variantes possa gerar algum tipo de discriminação, o que chamamos de preconceito linguístico. É importante ressaltar que, mesmo tendo em vista a necessidade de atingir um padrão linguístico eficiente, sobretudo na escrita, a língua não deverá ser objeto de discriminação ou preconceito. Afinal, mais importante queaprender a norma de prestígio, a norma culta/padrão da língua, é a eficiência na comunicação, em qualquer variedade linguística. 1.4.4 Adequação Linguística Para uma comunicação eficiente, é essencial considerar o interlocutor (com quem eu estou me comunicando) e o contexto de interação, ou seja, é relevante reconhecer se a situação comunicativa demanda maior ou menor formalidade e monitoramento. Assim como é preciso observar qual roupa devemos usar nos nossos compromissos cotidianos, é fundamental adequarmos a linguagem à situação de uso. A essa capacidade de adequar o uso da língua às necessidades impostas pela situação de comunicação chamamos de Adequação Linguística. Como exemplo de monitoramento do uso da língua, pensemos na seguinte situação: Paulo é promotor de justiça, um homem que dedicou boa parte da sua vida a estudar. Em seu trabalho, utiliza uma linguagem formal, culta e objetiva para se comunicar, pois a situação comunicativa exige essa formalidade. Em casa, porém, e entre amigos, Paulo utiliza uma linguagem mais informal, porque o contexto permite. Desse modo, portanto, Paulo possui a competência comunicativa, porque sabe adequar a língua à situação de uso. Cada situação comunicativa indica um tipo de linguagem a ser usada. Não se pode usar biquíni ou bermuda para ir ao fórum, é preciso estar adequado, apre¬sentar bom senso, assim também se dá com a língua. Importa salientar que existe a variação da linguagem, as gírias, mas nem tudo é legítimo e aceitável. O vale-tudo na língua também acarreta confusão. De todo modo é sinal de respeito aceitar os modos de falar e se expressar de cada indivíduo ou grupo, ainda que não esteja adequado à situação de comunicação. Figura 2: Exemplo de inadequação linguística Fonte: Disponível em: https://bit.ly/2NXsGNh. Acesso em: 30 dez. 2020. 17 1. (ENEM). Leia o texto abaixo Cabeludi Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como quem dissesse no Carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó entendia dregências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou: Disilimina esse, Cabeludinho.Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve / que eu não sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro. BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003. No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo das expressões “voltou de ateu”, “disilimina esse” e “eu não sei a ler”. Com essa reflexão, o autor destaca: a) Os desvios linguísticos cometidos pelos personagens do texto. b) A importância de certos fenômenos gramaticais para o conhecimento da língua portuguesa. c) A distinção clara entre a norma culta e as outras variedades linguísticas. d) O relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho durante as suas férias. e) A valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da lin- guagem. 2. (ENEM - Adaptada). Um aspecto da composição estrutural que caracteriza o relato pessoal de A.P.S. como modalidade falada da língua é: a) Predomínio de linguagem informal entrecortada por pausas. b) Vocabulário regional desconhecido em outras variedades do português. c) Realização do plural conforme as regras da tradição gramatical. d) Ausência de elementos promotores de coesão entre os eventos narrados. e) Presença de frases incompreensíveis a um leitor iniciante. 3. (UFMA). Analise a charge abaixo para responder a questão. FIXANDO O CONTEÚDO 18 Considerando a fala dos interlocutores, pode-se concluir que: a) O uso de “excelência” denota desrespeito, pois o depoente não vê o depu-tado como autoridade. b) O efeito humorístico é provocado pela passagem brusca da linguagem formal para a informal. c) O uso da linguagem formal e da informal evidencia a classe social a que perten-cem as personagens. d) A linguagem empregada no texto serve apenas para compor as imagens do deputado e do depoente. e) O pronome “seu” foi usado pelo depoente como sinal de respeito para com o parlamentar ilustre. 4. Na representação escrita da conversa telefônica entre a gerente do banco e o cliente, observa-se que a maneira de falar da gerente foi alterada de repente devido: a) À adequação de sua fala à conversa com um amigo, caracterizada pela infor-malidade. b) À iniciativa do cliente em se apresentar como funcionário do banco. c) Ao fato de ambos terem nascido em Uberlândia (Minas Gerais). d) À intimidade forçada pelo cliente ao fornecer seu nome completo. e) Ao seu interesse profissional em financiar o veículo de Júlio. Gerente: Boa tarde. Em que eu posso ajudá-lo? Cliente: Estou interessado em financiamento para compra de veículo. Gerente: Nós dispomos de várias modalidades de crédito. O senhor é nosso cliente? Cliente: Sou Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco. Gerente: Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversar com calma. BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna. São Paulo: Parábola, 2004. 19 De acordo com o texto, há no Brasil uma variedade de nomes para a Manihot utilissima, nome científico da mandioca. Esse fenômeno revela que: a) Existem variedades regionais para nomear uma mesma espécie de planta. b) Mandioca é nome específico para a espécie existente na região amazô-nica. c) “Pão-de-pobre” é designação específica para a planta da região amazônica. d) Os nomes designam espécies diferentes da planta, conforme a região. e) A planta é nomeada conforme as particularidades que apresenta. 6. (ENADE- Adapatada). Analise a tirinha abaixo: ( ) Considerando a transposição do cartum acima, analise os excertos e marque V para verdadeiro e F para falso: ( ) A concepção de linguagem que a professora revela em sua prática disvincula a llingua de seu funcionamento social e histórico. ( ) No segundo quadrinho, é possível perceber exemplos de variação linguística diatópica, ou seja, regionalismos. ( ) A abordagem da professora, ao se referir a questões de linguagem, demonstra respeito com as variedades llinguísticas da língua portuguesa. ( ) Nessa situação do cartum, a professora poderia ter utilizado os conhecimentos linguísticos de que os alunos dispõem para abordar as diferenças que ocorrem na língua MANDIOCA — mais um presente da Amazônia Aipim, castelinha, macaxeira, maniva, maniveira. As designações da Manihot utilissima podem variar de região, no Brasil, mas uma delas deve ser levada em conta em todo o território nacional: pão-de- pobre — e por motivos óbvios. Rica em fécula, a mandioca — uma planta rústica e nativa da Amazônia disseminada no mundo inteiro, especialmente pelos colonizadores portugueses — é a base de sustento de muitos brasileiros e o único alimento disponível para mais de 600 milhões de pessoas em vários pontos do planeta, e em particular em algumas regiões da África.O melhor do Globo Rural, fev. 2005. (fragmento). 5. (ENEM - Adaptada). 20 de acordo com as regiões, ou seja, explicar variação linguística geográfica. a) V- V- V- V. b) V- F- F- V. c) F- F- F- F. d) F- V- V- F. e) V- V- F- F. 7. Leia o fragmento de texto abaixo. Sírio Possenti defende a tese de que não existe um único “português correto”. Assim sendo, o domínio da língua portuguesa implica, entre outras coisas, saber: a) Descartar as marcas de informalidade do texto. b) Reservar o emprego da norma padrão aos textos de circulação ampla. c) Moldar a norma padrão do português pela linguagem do discurso jornalístico. d) Adequar as formas da língua a diferentes tipos de texto e contexto. e) Desprezar as formas da língua previstas pelas gramáticas e manuais divulgados pela escola. 8. (UEFS). Leia o texto abaixo para responder a questão. Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma de língua em suas atividades escritas? Não deve mais corrigir? Não! Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, não existe ape¬nas um português correto, que valeria para todas as ocasiões: o estilo dos contratos não é o mesmo dos manuais de instrução; o dos juízes do Supremo não é o mesmo dos cordelis¬tas; o dos editoriais dos jornais não é o mesmo dos cadernos de cultura dos mes¬mos jornais. Ou do de seus colunistas. POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua Portuguesa, ano 5, n. 67 A língua sem erros Nossa tradição escolar sempre desprezou a língua viva, falada no dia a dia, como se fosse toda errada, uma forma corrompida de falar “a língua de Camões”. Havia (e há) a crença forte de que é missão da escola “consertar” a língua dos alunos, principalmente dos que frequentam a escola pública. Com isso, abriu-se um abismo profundo entre a língua (e a cultura) própria dos alunos e a língua (e a cultura) própria da escola, uma instituição comprometida com os valores e as ideologias dominantes. Felizmente, nos últimos 20 e poucos anos, essa postura sofreu muitas críticas e cada vez mais se aceita que é preciso levar em conta o saber prévio dos estudantes, sua língua familiar e sua cultura característica, 21 De acordo com a leitura do texto, a língua ensinada na escola: a) Ajuda a diminuir o abismo existente entre a cultura das classes consideradas he- gemônicas e das populares. b) Deve ser banida do ensino contemporâneo, que procura basear-se na cultura e nas experiências de vida do aluno. c) Precisa enriquecer o repertório do aluno, valorizando o seu conhecimento prévio e respeitando a sua cultura de origem. d) Tem como principal finalidade cercear as variações linguísticas que comprome-tem o bom uso da língua portuguesa. e) Torna-se, na contemporaneidade, o grande referencial de aprendizagem do aluno, que deve valorizá-la em detrimento de sua variação linguística de origem. para, a partir daí, ampliar seu repertório linguístico e cultural. Disponível em: https://bit.ly/3wpei1L. Acesso em: 5 nov. 2020 22 TEXTO, CONTEXTO E INTENÇÃO COMUNICATIVA 23 No processo comunicacional, utilizamos a linguagem para nos expressar. Quando o código utilizado é a palavra, seja oral ou escrita, dizemos tratar-se da linguagem verbal. Por meio de palavras, expomos aos outros nossos pensamentos, ideias e nossas interpretações dos fatos, portanto, empregamos a linguagem verbal ao falar com alguém, ao cantarolar uma canção, quando escrevemos e em diver-sas outras formas de comunicação. Observe, por exemplo, o poema de Prado (2015), no qual a autora utilizou- se da linguagem verbal: Por outro lado, quando pretendemos comunicar algo e o fazemos por meio de outros códigos que não sejam palavras, estamos fazendo uso da linguagem não verbal. Essas mensagens também fazem parte dos textos que circulam na socieda¬de e são relevantes para o processo comunicacional. São exemplos de linguagem não verbal imagens, sinais, expressões faciais, gestos, entre outros. Veja alguns tex¬tos compostos apenas por linguagem não verbal: Há também uma grande variedade de textos que utilizam mais de uma lin- guagem, compondo uma linguagem mista. Na charge abaixo, por exemplo, para que ocorra a compreensão da mensagem, é necessário cruzar as duas linguagens, ou seja, relacionar a linguagem verbal (palavras) e a linguagem não verbal (imagem), o que configura uma linguagem mista ou híbrida. 2.1 LINGUAGEM VERBAL Ensinamento Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo: "Coitado, até essa hora no serviço pesado". Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo. PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 2015. Figura 3: Exemplo de linguagem não-verbal Fonte: Disponível em: https://bit.ly/39jw0tE. Acesso em: 30 dez. 2020. 24 Figura 4: Negligência Fonte: Disponível em: https://bit.ly/39rBD98. Acesso em: 30 dez. 2020. Você já se perguntou o que é, de fato, um texto? Diariamente, quantos textos você produz nas modalidades oral e escrita? Um conjunto de palavras é um texto? VAMOS PENSAR? 2.2 CONCEITUANDO TEXTO Seria simplista entendermos a língua apenas como um código que precisa ser decodificado, da mesma forma não se pode restringir um texto a apenas um conjunto de palavras. As atividades de leitura são complexas e o sentido de um texto é construído , pois ele se concretiza na interação entre código, interlocutores e situação de co-municação. Em outras palavras, dizemos que a comunicação ocorre levando-se em consideração vários fatores, desse modo, o texto é um processo , e não um produto. De acordo com Mendonça (2014), o que faz com que uma produção oral ou escrita seja classificada como texto é a “possibilidade de se estabelecer uma coerência global, ou seja, de se (re) construir sentidos a partir de um conjunto de pistas apresentadas”. Seguindo esse viés de pensamento, é necessário pensar no texto como uma construção que envolve elementos linguísticos, mas que só se realiza tendo em vista os interlocutores (emissor, receptor), os propósitos comunicativos, o gênero discursi¬vo, a esfera social de circulação, suporte, etc. Não se pode negar o caráter dialógico e social da linguagem. É muito im-portante a natureza construcionista, sociointeracional e situada da linguagem, pois traz à tona o fato de que ela “não ocorre em um vácuo social e que, portanto, textos orais e escritos não têm sentido em si mesmos.” Os sentidos são construídos pelos interlocutores, situados socialmente, levando-se em consideração os elementos do discurso: quem produz o texto, com que finalidade, quem recebe, qual o lugar social de cada interlocutor, qual momento o texto foi produzido, a partir de quais ideologias. Nessa perspectiva, os significados são contextualizados (BRASIL, 2004). 25 As pessoas sempre comunicam entre si por meio de textos, e não por meio de palavras ou frases isoladas. Toda e qualquer produção de linguagem, em última instância, possui um emissor, aquele que a produz, um receptor (imediato ou não), aquele que a recebe e passa a construir uma compreensão sobre ela, um conteúdo em si, entre outros elementos. Com o intuito de estudar a língua em uso, sem dissocia-la da fala e das situa- ções sociais em que ela ocorre, emerge a teoria da comunicação, proposta pelo linguista Roman Jakobson. Nessa perspectiva, a língua é considerada como um código utilizado pelos sujeitos a fim de se comunicarem por meio de textos. De acordo com Jakobson (2007), para que ocorra a comunicação, são essenciais seis elementos, que serão descritos a seguir: • Emissor ou locutor: é quem produz o texto oral ou escrito; • Receptor ou destinatário: aquele a quem o texto se dirige; • Mensagem: o texto oral ou escrito que foi produzido pelo emissor;• Código: a língua ou os sinais utilizados, que devem ser conhecidos pelos envol-vidos na comunicação. • Canal: meio físico pelo qual a mensagem é veiculada que permite o estabelecimento da comunicação. • Referente: o contexto, o assunto, aquilo a que a mensagem faz referência. Na teoria da comunicação, a depender da proposta ou intento do texto, é possível perceber o foco em um desses seis elementos, por exemplo, se o objetivo de determinado texto é divulgar um produto ou serviço, a ênfase será dada ao receptor do texto, possível consumidor do produto. Portanto, segundo os pressupostos dessa teoria, organizamos a linguagem de tal modo a atender nossa finalidade comunicativa. Atualmente, com o avanço dos estudos da linguagem, a língua é vista de maneira mais É o produto da enunciação- composto por palavras, imagens, ícones ou qualquer outro código- que constitui unidade de sentido. FIQUE ATENTO 2.3 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO Para aprofundar seu conhecimento em contextos textuais e intenção comuni- cativa, sugiro que visitem a Biblioteca Virtual da Única e acessem o livro “Lin- guística Textual e Ensino”. Disponível em: https://bit.ly/3dbB9EU. Acesso em: 20 mar. 2021. BUSQUE POR MAIS 2.4 FUNÇÕES DA LINGUAGEM 26 ampla, como um processo dinâmico de interação social, ou seja, como forma de realizar ações, de atuar sobre o outro por meio da linguagem. Nes¬sa perspectiva, os elementos da linguagem descritos por Jakobson passam a ser mais dinâmicos e a comunicação se realiza dando ênfase ao processo de enunci¬ação. Os elementos emissor e receptor passam a ser chamados de interlocutores. 2.4.1 Função emotiva ou expressiva A ênfase é dada à expressão dos sentimentos, emoções e opiniões do emissor. Há também o reforço ao aspecto subjetivo, pessoal da mensagem. É comum em textos que predomine a função emotiva ou expressiva da linguagem algumas marcas gramaticais: o uso de verbos e pronomes em primeira pessoa ; frases exclamativas; termos e expressões modalizadoras, haja vista que o objetivo desses textos é, como o próprio nome já diz, expressar as emoções. Exemplo de textos em que há o predomínio da função da linguagem emotiva ou expressiva: 2.4.2 Função Conativa ou Apelativa Ocorre em textos em que o objetivo é influenciar o receptor, estimulá-lo, por meio da linguagem, a aderir a uma ideia, mudar de comportamento, adquirir de- terminado produto. Com foco no receptor, geralmente é um texto claro e objetivo que Só Hoje Jota Quest Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito Nem que seja só pra te levar pra casa Depois de um dia normal Olhar teus olhos de promessas fáceis E te beijar a boca de um jeito que te faça rir (Que te faça rir) Hoje eu preciso te abraçar Sentir teu cheiro de roupa limpa Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria Em estar vivo Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia Que eu faço tudo errado sempre, sempre Disponível em: https://bit.ly/3lUYleA. Acesso em: 20 dez. 2020 27 2.4.3 Função Referencial ou Denotativa Os textos nos quais há o predomínio da função Referencial ou Denotativa apresentam como principal objetivo informar, utilizam uma linguagem denotativa, clara e precisa. Pautam-se em dados e colocam em evidência o referente, isto é, o foco é o assunto, a mensagem a ser veiculada. Veja o exemplo abaixo: O texto estabelece também a possibilidade de o Congresso aprovar estado de calamidade quando o país passar por momentos excepcionais como uma pan-demia, situação em que regras fiscais ficariam suspensas e despesas extraordi¬nárias poderiam ser criadas temporariamente. Na quarta-feira, foram registradas 1.910 vítimas fatais do coronavírus, elevan¬do o número total de mortes a 259.271, segundo boletim do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística também anunciou pela manhã retração de 4,1% da economia em 2020. Por ser uma tentativa de alterar a Constituição, a PEC só entra em vigor se for aprovada em dois turnos na Câmara dos Deputados, sem qualquer alteração no texto do Senado. O presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), quer votar a proposta já na próxima semana. Senado aprova PEC com 44 bi para novo auxílio emergencial; proposta segue para Câmara Um dia após o país registrar novo recorde de mortes pela covid-19, o Senado aprovou nesta quinta-feira (04/03) a PEC Emergencial, proposta de alteração da Constituição que cria mecanismos para conter gastos públicos e é um primeiro passo para a volta do auxílio emergencial — benefício para proteger os mais vulneráveis durante a pandemia. Fonte: Disponível em: https://bbc.in/3did7Z8. Acesso em: 18 mar. 2021. visa à persuasão. Em textos que há o predomínio da função da linguagem co-nativa ou apelativa, algumas marcas gramaticais são comuns: verbos e pronomes em 2ª pessoa (ou 3ª pessoa – você), vocativos, imperativos, perguntas ao interlocu-tor etc. Figura 5: Campanha publicitária do Governo de Santa Catarina Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3suVs6L. Acesso em: 30 dez. 2020. 28 2.4.4 Função Poética A função poética é encontrada em textos que o emissor enfatiza a construção, a elaboração da mensagem, por meio de palavras que realcem a sonoridade. Nesses casos, o mais importante é o jogo de palavras, o trabalho com a linguagem. A função poética ocorre tanto em prosa como em verso. Exemplo de função poética: 2.4.5 Função Metalinguistica Com ênfase no código, a função metalinguística está centrada no processo de metalinguagem, que é quando o emissor faz uso de um código para explicar o próprio código.. Por exemplo, quando o produtor de um cinema faz um filme con-tando a própria história do cinema; ou uma crônica discute o processo de pro¬dução do gênero textual crônica; uma palavra é utilizada para definir outra; uma tirinha tece considerações sobre o gênero tirinha, etc. Autopsicografia O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. Pessoa, Fernando. Autopsicografia. São Paulo. 1925 “Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na da folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo: pois para catar feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco.” João Cabral de Mello Neto 29 2.4.6 Função Fática A função fática da linguagem ocorre quando há a finalidade de estabele¬cer ou manter uma comunicação entre os interlocutores, por isso a ênfase é dada ao canal que veicula a mensagem. Desse modo, há função fática nos inícios de diálogos, cumprimentos e saudações e qualquer outra forma de testar a comunicação. Em textos escritos, têm muita importância os recursos gráficos. Veja os exemplos: É importante destacar que as funções da linguagem se mesclam em um mesmo texto. É muito comum, em uma comunicação, aparecer mais de uma fun-ção, porém uma ganhará mais destaque que a outra a depender do propósito comunicativo de quem produz o texto. Diálogos — Tudo bem com você? — Sim. E você? — Tudo bem! — Ah... Até mais tarde. — Até mais tarde. Figura 6: Exemplo de metalinguagem Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3m28575. Acesso em: 30 dez. 2020. Figura 7: Recursos gráficos Fonte: Disponível em: https://bit.ly/2O72IXJ. Acesso em: 30 dez. 2020. Se em um mesmo texto podem aparecer várias funções da linguagem, como vou saber qual a função predominante? É preciso ter em vista, sempre, a finalidade discursiva. Per- gunte-se: • Com que objetivo esse texto foi escrito? Informar, expressarsentimentos, persuadir al- guém, testar o canal de comunicação? • Neste texto, a ênfase é dada a qual elemento da comunicação? Ao emissor, receptor, código, canal ou à mensagem? VAMOS PENSAR? 30 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (ENEM-2020). Nessa campanha publicitária, a imagem da família e o texto verbal unem-se para reforçar a ideia de que: a) a família que adota é mais feliz. b) a adoção tardia é muito positiva. c) as famílias preferem adotar bebês. d) a adoção de adolescentes é mais simples. e) os filhos adotivos são companheiros dos pais 2. Leia o fragmento de texto abaixo: Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica “Desabafo”, a função da linguagem predominante é a emotiva ou ex-pressiva, pois: a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código. b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito. Desabafo [...] Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado. CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento). 31 Vou-me embora p'ra Pasárgada foi o poema de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela primeira vez esse nome Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um pais de delícias, como o de L'invitation au Voyage, de Baudelaire. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desâ¬nimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito em minha vida por mo¬tivo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente este grito estapafúrdio: “Vou-me embora p'ra Pasárgada!” Senti na redondilha a primeira célula de um poema, e ten¬tei realizá-lo, mas fracassei. Alguns anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço como se já estivesse pronto dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo nele, em escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arquiteto, como meu pai desejava, não fiz nenhuma casa, mas reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo de aparências”, uma cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro, e sim a “minha” Pasárgada. BANDEIRA. Minerário de Pasárgada Rio de Janeiro Nova Fronteira, Brasília INL, 1984 Pequeno concerto que virou canção Não, não há por que mentir ou esconder A dor que foi maior do que é capaz meu coração Não vai nunca entender de amor quem nunca soube amar Ah, eu vou voltar pra mim Seguir sozinho assim Até me consumir ou consumir toda essa dor Até sentir de novo o coração capaz de amor c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem. d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais. e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação. 3. Leia a canção de Geraldo Vandré: Na canção de Geraldo Vandré, tem-se a manifestação da função poética da linguagem, que é percebida na elaboração artística e criativa da mensagem. Pela análise do texto, entretanto, percebe-se, também, a presença marcante da função emotiva ou expressiva, por meio da qual o emissor: a) imprime à canção as marcas de sua atitude pessoal, seus sentimentos. b) transmite informações objetivas sobre o tema de que trata a canção. c) busca persuadir o receptor da canção a adotar um certo comportamento. d) procura explicar a própria linguagem que utiliza para construir a canção. e) objetiva verificar ou fortalecer a eficiência da mensagem veiculada. 4. (ENEM- 2020). Leia o texto abaixo para responder a questão. 32 Os processos de interação comunicativa preveem a presença ativa de múltiplos elementos da comunicação, entre os quais se destacam as funções da linguagem. Nesse fragmento, a função da linguagem predominante é: a) emotiva, porque o poeta expõe os sentimentos de angústia que o levaram à Criação poética. b) referencial, porque o texto informa sobre a origem do nome empregado em um famoso poema de Bandeira. c) metalinguística, porque o poeta tece comentários sobre a gênese e o processo de escrita de um de seus poemas. d) poética, porque o texto aborda os elementos estéticos de um dos poemas mais conhecidos de Bandeira. e) apelativa, porque o poeta tenta convencer os leitores sobre sua dificuldade de compor um poema. Texto para as questões 5 e 6 (adaptadas do ENEM) 5. Predomina no texto a função da linguagem: a) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação. b) metalinguística, porque há explicação do significado das expressões. c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação. Canção do vento e da minha vida O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. [...] O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres. O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. 33 d) referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais. e) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto. 6. Na estruturação do texto, destaca-se: a) a construção de oposições semânticas. b) a apresentação de ideias de forma objetiva. c) o emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo. d) a repetição de sons e de construções sintáticas semelhantes. e) a inversão da ordem sintática das palavras. 7. Analise o texto abaixo e identifique qual é a função da linguagem predominante: a) Fática, pois o foco está no receptor do texto. b) Poética, já que a ênfase é dada à elaboração da mensagem. c) Metalinguística, uma linguagem sendo explicada por ela mesma.. d) Conativa, pois pretende persuadir o receptor da mensagem. e) Referencial, pois objetiva informar. 8. Leia a notícia abaixo: Essa notícia, publicada em uma revista de grande circulação, apresenta resultados de uma pesquisa científica realizada por uma universidade brasileira. Nessa situação específica de comunicação, a função referencial da linguagem predomina, porque o autor do texto prioriza: a) as suas opiniões, baseadas em fatos. b) os aspectos objetivos e precisos. Dados preliminares divulgados por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) apontaram o Aquífero Alter do Chão como o maior depósito de água potável do plane¬ta. Com volume estimado em 86 000 quilômetros cúbicos de água doce, a reserva subter¬rânea está localizada sob os estados do Amazonas, Pará e Amapá. “Essa quantidade de água seria suficiente para abastecer a população mundial durante 500 anos”, diz Milton Matta, geólogo da UFPA. Em termos comparativos, Alter do Chão tem quase o dobro do volume de água do Aquífero Guarani (com 45 000 quilômetros cúbicos). Até então, Guarani era a maior reserva subterrânea do mundo, distribuída por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. (Época, N° 623, 26 de Abril, 2010) 34 c) os elementos de persuasão do leitor. d) os elementos estéticos na construção do texto. e) o canal de comunicação. 35 TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS DISCURSIVOS 36 Os textos, sejam orais ou escritos , estão inseridos no nosso cotidiano e fazem parte das nossas ações no trabalho, na convivência familiar, nos relacionamentos virtuais, enfim, em todas as esferas sociais , utilizamos textos para nos comunicar.Eles são veiculados pela oralidade, nas mensagens via internet, nos livros, sites, nos mu¬ros e até os corpos já são considerados suportes de circulação de textos. Desse modo, vivemos imersos em um universo textual, mesmo quando não nos damos conta disso. Em uma sociedade onde a cultura escrita está tão presente, é necessário lançar mão de diferentes competências e habilidades para ler, compreender e produzir textos, já que os tipos e gêneros textuais requerem habilidades comunicati-vas específicas. Assim como é necessário adequar a linguagem ao contexto, ao ler um poema usamos estratégias diferentes de quando vamos ler um manual de ins-truções, ou seja, cada texto que circula na sociedade foi produzido com um objetivo, e veiculado em determinado suporte, segue algumas regras e, portanto, exige uma forma de ser recebido. Nessa perspectiva, o texto é abordado como lugar de interação, em que, dialogicamente, autor e leitor, por meio de texto, se constituem. Com ênfase na produção e recepção de texto, é importante recorrer às considerações teóricas de Marcuschi (2008) sobre a distinção entre tipo e gêneros textuais. Os termos tipo textual e gênero textual diferenciam- se, uma vez que gênero está relacionado à funcionalidade dos textos na sociedade, enquanto tipologia baseia-se em questões de ordem estrutural da língua. Observe, no Quadro 1, a relação entre tipos e gêneros textuais, estabelecida pelo autor. Gênero do discurso é o mesmo que gênero textual- são padrões textuais construídos so- cialmente que se manifestam em textos orais e escritos. FIQUE ATENTO 3.1 INTRODUÇÃO [...] o gênero textual pauta-se, basicamente, na utilida- de da língua como instrumento comunicativo, ou seja, a língua é um veículo de representações, concepções, valores socioculturais e de instrumento de intervenção social; já o tipo, leva em consideração a língua, nu¬ma perspectiva formal e estrutural – de natureza linguística (DURÃES, 2018, p. 34-35). TIPOS TEXTUAIS GÊNEROS TEXTUAIS Construtos teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas. Realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sociocomunicativas. Constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados e não são textos em- píricos. Constituem textos empiricamente realiza- dos cumprindo funções em situações co- municativas. 37 Analisando o quadro acima, é possível verificar que os tipos de texto são definidos predominantemente por suas características linguísticas, por isso, eles são caracterizados por um conjunto de traços que formam uma sequência, e não um texto. Um mesmo texto pode conter narração, descrição e argumentação, o que vai definir a sua tipologia é a predominância da sequência. Pode-se dizer, portanto, que o tipo textual se encaixará nos propósitos comunicativos da mensagem, ele designa um tipo de sequência teoricamente definida pelo teor linguístico da composição (MARCUSCHI, 2008). Os tipos textuais se definem por seus objetivos, finalidade, estrutura, determinados por elementos sintáticos, semânticos, lexicais. Há cinco tipos textuais, sempre presentes nas comunicações cotidianas. Nesta unidade, veremos mais detalhadamente o tipo narrativo (ato de contar história, com personagens, tempo, espaço, narrador); o tipo descritivo (ato de descrever um personagem, local, com adjetivações, qualidades) e argumentativo (ato de expor e defender um ponto de vista, utilizando-se de argumentos, evidências baseadas na razão e no raciocínio.) É importante destacar que os tipos textuais se mesclam, por exemplo, ao es-crever uma carta ao prefeito reclamado da situação das ruas do seu bairro, você irá defender um ponto de vista e para isso irá argumentar, mas no seu texto, prova-velmente, haverá parágrafos que descrevem as condições em que a rua se en-contra e parágrafos que apresentam narrativa. Narrar consiste em contar uma história, seja real ou fictícia, situada em determinados tempo e lugar, envolvendo personagens. A narração realiza-se a partir da perspectiva de um narrador e objetiva responder aos seguintes questionamentos: O que aconteceu? Com quem? Onde? Como? Quando? Por que aconteceu? Geralmente toda narrativa apresenta um enredo, que é a história em si, o conjunto encadeado dos fatos, linear ou não, de acordo com o desejo de quem produz a narrativa. Sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspec- tos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbais. Sua nomeação abrange um conjunto aber- to e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composições e função. Designações teóricas dos tipos: narração, argu- mentação, descrição, injunção e exposição. Exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bi- lhete, aula expositiva, bula de remédio, ba- te-papo virtual, resenha, piada, etc. Quadro 1: Relação entre tipos e gêneros textuais Fonte: Durães (2018, p. 35) Para aprofundar mais sobre essa temática, consulte o livro “Português: Práticas de leitura e escrita”, organizado por Tânia Aiub (2015). Acesse através do link: ht- tps://bit.ly/39qObxr. Acesso em: 20 mar. 2021. BUSQUE POR MAIS 3.2 TIPOLOGIA NARRATIVA (NARRAÇÃO) 38 Todo enredo supõe um conflito. Destaca-se que uma narrativa pode oferecer um enredo linear – quando os fatos estão em ordem cronológica ou um enredo não linear – quando a historia é interrompida por uma volta ao passado e não segue uma ordem cronológica. Narrar, portanto, consiste em construir o conjunto de ações que constitui a história- o enredo- e relacionar essas ações aos personagens- seres que praticam atos ou sofrem os fatos. Chama-se foco narrativo o estudo do posicionamento do narrador perante a narração. Em textos narrados pela perspectiva da primeira pessoa, ou seja, quando o narrador faz parte do enredo, tem-se uma narrador personagem. Por outro lado, nos casos em que o narrador não participa do fato narrado e apenas serve de elo entre a narrativa e o ouvinte /leitor , tem-se o foco narrativo em terceira pessoa e um narrador –observador. Em algumas situações, com o foco narrativo em terceira pessoa, o narrador é denominado onisciente, pois tem acesso ao lado psíquico de seus personagens, prevendo suas ações como se lhes percorresse a mente e a alma. Veja os exemplos que seguem. No texto 1, a narradora relata sobre a sua experiência, portanto é narradora/personagem e o foco narrativo está em primeira pessoa. Segue trecho do relato “Docência: uma experiência de encanto, superação e sucesso”. Já no texto 2, trecho do conto “A Mentira” é possível observar que o narrador não participa das ações, portanto ele é um narrador observador e o foco narrativo está em terceira pessoa. “Nutri o sonho de ser professora desde a infância, nas brincadeiras, a professora só poderia ser eu e mais ninguém. Ao finalizar o Ensino Fundamental, tinha nítida a certeza do que eu queria ser: professora. Meu primeiro desafio foi fazer meus pais acreditarem no meu sonho, pois de família simples e conservadora, a possibilidade de ser uma grande professora não era considerada real. Meu pai acreditava que estudar até a 4ª série era o suficiente pra mim.” Marilene Nunes, professora e coordenadora do curso de Pedagogia da Faculdade Única de Ipatinga “João chegou em casa cansado e disse para a mulher, Maria, que queria tomar um banho, jantar e ir direto para a cama. Maria lembrou a João que naquela noite eles tinham ficado de jantar na casa de Pedro e Luísa. João deu um tapa na testa, disse um palavrão e decla¬rou que de maneira nenhuma, não iria jantar na casa de ninguém. Maria disse que o jantar estava marcado há uma semana e seria uma falta de consideração com Pedro e Luísa, que afinal eram seus amigos, deixar de ir. João reafirmou que não ia. Encarregou Maria de telefonar para Luísa e dar uma desculpa qualquer. Que marcassem o jantar para a noite seguinte. Mariatelefonou para Luísa e disse que João chegara em casa muito abatido, até com um pouco de febre, e que ela achava melhor não tirá-lo de casa naquela noite. Luísa disse que era uma pena, que tinha preparado uma Blanquette de Veau que era uma beleza, mas que tudo bem. Importante é a saúde e é bom não facilitar. Marcaram o jantar para a noite seguinte, se João estivesse melhor.” 39 A descrição é um processo de caracterização que exige sensibilidade e perspicácia, pois, por meio dela se oferece ao interlocutor uma imagem, uma espécie de fotografia do que é descrito. A tipologia textual descritiva consiste em apresentar detalhes, características de uma pessoa, de determinado objeto, de um animal ou até mesmo de uma cena , sem se preocupar com a progressão temporal. Os textos em que predomina a descrição são, geralmente, compostos por muitos adjetivos, já que a finalidade é caracterizar, colocar em destaque os aspectos do objeto descrito. Em textos descritivos, podem aparecer verbos que exprimem ação, mas o foco não é indicar uma progressão temporal, como acontece nos textos narrativos. O ato de descrever pode ser feito de dois modos: de modo objetivo- quando descreve-se o objeto, ação, as pessoas, utilizando uma linguagem comum e em sentido denotativo, ou seja, sentido literal da palavra. Nesse tipo de descrição, os detalhes são apresentados tal qual a realidade: forma, cor, tamanho, peso, cheiro, etc. A descrição feita de modo subjetivo acontece por meio de uma linguagem mais pessoal, produto da impressão que se tem do objeto, ação, ou ser descrito. A descrição subjetiva é também conhecida como impressionista ou psicológica, já que nela se reflete o estado de espírito do autor do texto e o objeto descrito apresenta as impressões pessoais de quem o descreve. Veja, no trecho abaixo, a descrição objetiva que Aluísio Azevedo faz de uma personagem: No trecho abaixo, têm-se um exemplo de descrição subjetiva de uma perso- nagem, haja vista que as impressões do autor sobre a pessoa descrita ficam evidentes. Não vinha em traje de domingo; trazia casaquinho branco, uma saia que lhe deixava ver o pé sem meia num chinelo de polimento com enfeites de marroquim de diversas cores. No seu farto cabelo, crespo e reluzente, puxado sobre a nuca, havia um molho de manjericão e um pedaço de baunilha espetado por um gancho. E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda, pondo à mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador. AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. São Paulo: Editora Scipione, 1995. Não era uma mulher, era uma sílfide, uma visão de poeta, uma criatura divina. Era loura; tinha os olhos azuis, que buscavam o céu ou pareciam viver dele. Os cabelos, desleixadamente penteados, faziam-lhe em volta da cabeça, um como resplendor de santa; santa somente, não mártir, porque o sorriso que lhe desabrochava os lábios era um sorriso de bem-aventurança, como raras vezes há de ter tido a terra. Um vestido ranço, de finíssima cambraia, evolvia-lhe o corpo, cujas formas, aliás, desenhava, pouco para os olhos, mas muito para a imaginação. ASSIS, Machado de. A chinela turca. Rio de Janeiro: Editora Aguilar. 1986 3.3 TIPOLOGIA DESCRITIVA (DESCRIÇÃO) 40 Os dois trechos apresentados acima são exemplos de tipologia descritiva. Vejamos quais as características apresentadas por eles que os fazem ser classifica¬dos como tal. Todos os enunciados são simultâneos, ou seja, tudo acontece ao mesmo tempo. Não há nenhuma transformação de estado e seria possível inverter a posição dos enunciados sem que o entendimento fosse comprometido. A tipologia textual dissertativa configura-se em estruturas em que o autor faz uma exposição de ideias, de pontos de vista, fundamentados em argumentos e raciocínios, por meio dos quais ele procura convencer o leitor acerca de determinado tema. Os textos dissertativos costumam apresentar três partes fundamentais: a introdução (parte do texto em que o autor apresenta, em linhas gerais, o tema que será abordado); o desenvolvimento (a partir da exposição de argumentos, o autor apresenta o seu ponto de vista com a finalidade de defendê-lo) e a conclusão (o autor sintetiza o ponto de vista defendido no desenvolvimento, afirmando seu o posicionamento). A dissertação é utilizada quando o objetivo é defender uma tese, ou seja, uma ideia e, consequentemente convencer o interlocutor sobre algum ponto de vista. Para isso, o produtor do texto dissertativo deve apresentar hipótese e, no fio do discurso, justificar a hipótese utilizando-se de estratégias argumentativas. A tipologia dissertativa pode ter caráter expositivo ou argumentativo a depender do objetivo do produtor do texto. Ele será dissertativo / expositivo quando a ênfase for dada à reflexão e ao raciocínio por meio da apresentação de dados, conceitos que levem ao leitor a informação ou conhecimento pretendido. Já nos textos dissertativos de caráter argumentativo o autor objetiva comprovar o que afirma e utiliza estratégias argumentativas, tais como citações, dados, argumento de autoridade, exemplos e outros. Como já foi dito anteriormente, o texto dissertativo constitui-se em três etapas, cada uma delas com funções bem definidas que, somadas, oferecem ao leitor uma visão de totalidade. Observe com mais detalhes cada uma dessas partes: A introdução é a parte ou momento do texto em que a ideia central, a tese, é apresentada. A ideia principal representa o ponto de partida para a organização textual, é a partir dela que o leitor adere ou não ao texto, por isso, essa etapa exige capacidade de síntese e clareza na exposição da temática. É na introdução que se apresenta ao interlocutor um contato direto com os elementos que encaminharão a argumentação, para que o texto obtenha maior objetividade, rigor e credibilidade. O desenvolvimento é a parte ou momento do texto em que são inseridos e articulados novos argumentos. As informações apresentadas na introdução são analisadas, debatidas em confronto com outras informações do meio a que pertence o tema. É no desenvolvimento que outras vozes são trazidas para reforçar o ponto de vista do autor. Esse movimento argumentativo pode se dar por meio de sustentação, refu- tação ou negociação e os tipos de argumentos utilizados podem ser: argumento de autoridade, argumentos por exemplificação, argumentos de princípios, relação de causa e consequência e outras estratégias argumentativas. A conclusão é a parte ou momento do texto em que será sintetizado o que há de mais relevante no conteúdo desenvolvido. O objetivo é apresentar as considerações 3.4 TIPOLOGIA DISSERTATIVA (ARGUMENTATIVA) 41 finais sobre a temática discutida. Veja o exemplo de um texto dissertativo, “Olhares que buscam o Brasil”, redação do ENEM escrita pela estudante Caroline Lopes dos Santos. Introdução: o autor introduz a discussão e apre- senta seu ponto de vista. Ao despontar como potência econômica do século XXI, o Brasil tem cada vez mais atraído os olhares do mundo, chamando a atenção da mídia, de grandes empresas e de outros países. Contudo, é outro olhar não menos importante que deveria começar a nos sensibili- zar mais: o olhar marginalizado e cheio de esperança daqueles que não têm dinheiro, dos famintos e desempregados ao redor do glo- bo. São pessoas com esse perfil que majoritariamente contribuem para o crescente volume de imigrantes no país, e o que se vê é uma ausência de políticas públicas eficientes para receber e integrar es- sas pessoas à sociedade. Desenvolvimento: o autor desenvol- ve argumentos para justificar seu ponto de vista. Não parece que a solução seja simplesmente deixar que imi-gran- tes pouco qualificados continuem entrando no país de forma ir- regular
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