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Material Teoria Geral dos Contratos 1 e 2

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UNIDADE 01
O contrato é a mais importante fonte de obrigação, devido às
suas múltiplas formas e inúmeras repercussões no mundo
jurídico.
1. Conceito e natureza jurídica do
contrato
O contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral.
Ele depende para a sua formação da participação de pelo menos
duas partes e do mútuo consenso entre elas. O negócio jurídico
unilateral é aquele que se aperfeiçoa com a manifestação de
apenas uma vontade, como, por exemplo, um testamento. Já os
negócios bilaterais, como os contratos, são aqueles que se
aperfeiçoam com o encontro de, pelo menos, duas vontades.
Segundo Pereira (2017), o fundamento ético do contrato é a
vontade humana, desde que atue na conformidade da ordem
jurídica. O seu habitat é a ordem geral; e o seu efeito, a
criação de obrigações. Para o autor, o contrato seria um acordo
de vontades, na conformidade da lei, com a finalidade de
resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir
direitos. Logo, sempre que o negócio jurídico resultar de um
mútuo consenso, estaremos diante de um contrato,
restringindo-a ao Direito das obrigações, estendendo-se a
outros ramos do Direito privado (por exemplo, o contrato de
casamento), e o Direito público (por exemplo, contratos
firmados pela Administração Pública).
Os contatos também podem ser divididos em unilaterais e
bilaterais. Porém, essas classificações não se confundem com
a sua natureza jurídica. O contrato unilateral é aquele que
gera obrigações para apenas um adas partes; enquanto
o contrato bilateral gera obrigações para ambas as partes.
Podemos entender essa distinção, por exemplo, através do
contrato de doação. Trata-se de um negócio jurídico bilateral.
Todavia, em relação à classificação quanto às obrigações
geradas, trata-se de um contrato unilateral, na medida em que
só há obrigações para o doador, enquanto, ao donatário cabe
aceitar a doação, o que não passa de um ônus/encargo.
1.1 Elementos do contrato
De acordo com Gonçalves (2012), para que um negócio jurídico
produza efeitos, possibilitando a aquisição, modificação ou
extinção de direitos, deve preencher certos requisitos ou
elementos, apresentados como de sua validade. Se os possui,
é válido, e dele decorrem os mencionados efeitos almejados
pelo agente. Se, porém, falta-lhe um desses requisitos, o
negócio é inválido, não produz o efeito jurídico em questão
e é nulo ou anulável.
Em relação aos contratos, os elementos que os tornam válidos
são de dois tipos: a) de ordem geral, que são aqueles comuns
a todos os atos e negócios jurídicos, ou seja, capacidade do
agente, o objeto ilícito, possível e determinado ou
determinável e a forma prescrita ou não defesa em lei, de acordo
com o artigo 104 do Código Civil (BRASIL, 2002); e b) de ordem
especial, específico dos contratos, que são o consentimento
recíproco ou acordo de vontades.
Tais elementos podem ainda ser divididos em três grupos:
subjetivos, objetivos e formais. Segundo Diniz (1996),
os subjetivos consistem na manifestação de duas ou mais
vontades e capacidade genérica dos contratantes, na aptidão
específica para contratar e no consentimento.
A capacidade pode ser genérica, negocial ou especial. Se
faltar capacidade genérica e for absolutamente incapaz,
trata-se de ato nulo, segundo o artigo 166 do Código Civil
(BRASIL, 2002). Por outro lado, se se tratar de relativamente
incapaz, trata-se de ato anulável, segundo o artigo 171 do
Código Civil (BRASIL, 2002). No caso da capacidade negocial,
na ausência desta, e caso vá contra o interesse público,
trata-se de ato nulo. Em contrapartida, se ferir interesse
privado, é anulável. Além da capacidade geral, existem casos
em que a lei exige também a capacidade especial para contratar,
como ocorre, por exemplo, na doação e na transação. Nesses
casos, tem que o impedimento não e refere propriamente à
capacidade geral, mas à falta de legitimação ou à existência
de algum outro impedimento para a realização de certos
negócios.
Em relação ao requisito de consentimento, este deve ser livre
e espontâneo, sob pena de ter a sua validade afetada pelos
vícios ou defeitos do negócio jurídico: erro, dolo, coação,
estado de perigo, lesão e fraude.
Os requisitos objetivos referem-se ao objeto do contrato,
que, segundo o artigo 104 do Código Civil (BRASIL, 2002), deve
ser lícito, possível e determinado ou determinável. Logo, o
objeto do contrato não pode contrariar a lei, nem os princípios
gerais do Direito. Se o contrato é ilícito, a consequência
é a nulidade. Além disso, o objeto do contrato precisa ser
realizável no campo material ou físico. No entanto, essa
impossibilidade pode se apresentar de diversas formas:
• Impossibilidade relativa: impossível
apenas para a pessoa do devedor e não para os demais.
• Impossibilidade absoluta: impossível
para todos. Se o contrato tiver as seguintes impossibilidades,
originária, total e absoluta, ele é inexistente.
• Se a impossibilidade for superveniente
ou parcial, tem-se a resolução da obrigação.
• Se a impossibilidade for relativa e
originária, tem-se a nulidade do contrato.
Se é relativa superveniente, tem-se a resolução.
O objeto do contrato deve ser
ainda determinado ou determinável. Vale ressaltar que ela
pode ser relativa, pois, se a indeterminação for temporária,
é possível realizar o contrato, como, por exemplo, nos casos
de obrigação de dar coisa incerta.
O terceiro requisito de validade do negócio jurídico é a forma,
que é o meio de revelação da vontade. Esta deve ser prescrita
ou não defesa em lei. De acordo com Amaral (2017), há dois
sistemas no que tange à forma como requisito de validade do
negócio jurídico: a) o consensualismo, que sustenta a
liberdade da forma; e b) o formalismo, que defende a forma
obrigatória. No Direito brasileiro, a forma é, em regra, livre.
As partes podem celebrar o contrato por escrito, público ou
particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei,
para dar maior segurança e seriedade ao negócio, exija a forma
escrita (GONÇALVES, 2012), conforme estabelecido pelo artigo
107 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Vale ressaltar, no entanto, que conforme estabelece o artigo 166
do Código Civil (BRASIL, 2002), são nulos os negócios jurídicos
que não se revestir na forma prescrita em lei, ou for preterida
alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua
validade. Em alguns casos, a lei reclama ainda a publicidade,
mediante o sistema de Registros Públicos, de acordo com o artigo
221 do Código Civil (BRASIL, 2002).
1.2 Formação dos contratos
A primeira fase na formação dos contratos são as negociações
preliminares. Nesta fase, as declarações de vontade das partes
não são definitivas, ainda estão sujeitas a alterações. A seguir,
se tem a proposta, que, conforme estabelece o artigo 427 do Código
Civil (BRASIL, 2002), ela obriga o proponente, se o contrário
não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das
circunstâncias do caso. Quanto a obrigatoriedade da proposta,
ainda estabelece o artigo 428 (BRASIL, 2002):
“Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita.
Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou
por meio de comunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo
suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta
dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da
outra parte a retratação do proponente.”
Nota-se que o critério adotado pelo Código Civil é temporal. A
proposta pode ser feita entre presentes, se o destinatário pode
respondê-la de imediato; e entre ausentes, se é necessário prazo.
Ou seja, no caso da proposta entre presentes sem prazo a aceitação
deve ser imediata, se o destinatário não aceitar, o proponente se
desobriga. Já na proposta entre presentes com prazo será até término
do prazo fixado. Na proposta entre ausentes com prazo, se terá até
o término do prazo.Surgem, então, algumas questões, como, por exemplo, no caso do
destinatário da proposta declarar a vontade dentro do prazo, mas
o proponente apenas receber isso depois de passado o prazo. O Código
Civil adota a teoria da recepção para fins de formação (existência)
do contrato, conforme exposto nos artigos 428 e 434 (BRASIL, 2002).
Para que a proposta seja obrigatória, que o contrato exista, não
basta que tenha sido expedida no prazo, mas que tenha chegado dentro
do prazo. No entanto, no que tange a eficácia do contrato, o Código
Civil adota a teoria da expedição: tendo o contrato chegado dentro
do prazo, os efeitos deste são retroativos, começam a valer desde
o momento da expedição.
A última fase da formação dos contratos é a aceitação, que em sua
forma pura e simples é um ato de adesão, é “dizer sim”. Com a aceitação,
se tem a formação de um contrato.
2. Principologia
O Direito Contratual rege-se por diversos princípios, alguns
clássicos e outros modernos. Dentre eles, os mais importantes
são: da autonomia da vontade, da supremacia da ordem pública,
do consensualismo, da relatividade dos efeitos, da
obrigatoriedade, da revisão ou onerosidade excessiva e da boa-fé.
2.1 Obrigatoriedade contratual
O princípio em epígrafe, também denominado princípio da
intangibilidade dos contratos, representa a força vinculante
das convenções. Por isso, também é chamado de princípio da
força vinculante dos contratos.
Segundo Pereira (2017), pelo princípio da autonomia de
vontades ninguém é obrigado a contratar. A ordem jurídica
concede a cada um a liberdade de contratar e definir os termos
e objeto da avença. Os que o fizerem, porém, sendo o contrato
válido e eficaz, devem cumpri-lo, não podendo se forrarem às
suas consequências, a não ser com a anuência do outro
contraente. Como foram as partes que escolheram os temos do
ajuste e a ele se vincularam, não cabe ao juiz preocupar-se
com a severidade das cláusulas aceitas, que não podem ser
atacadas sob a invocação dos princípios de equidade.
O princípio da força obrigatória do contrato significa, em
essência, a irreversibilidade da palavra empenhada.
O referido princípio tem por fundamento a necessidade de
segurança nos negócios jurídicos e
a intangibilidade ou imutabilidade do contrato, também
conhecida como pacta sunt servanda. A intangibilidade do
contrato decorre da ideia de que, entre as partes, acordo de
vontade faz-se lei, não podendo ser alterado nem mesmo pelo
juiz. As partes contratantes não podem, unilateralmente,
alterar o conteúdo do contrato. A alteração de conteúdo do
contrato pressupõe um novo acordo de vontade, ou seja,
demandaria um aditivo contratual. Tem-se como limitação a esse
princípio os casos de os casos de escusa por caso fortuito
ou força maior, conforme disposto no artigo 393 do Código Civil
(BRASIL, 2002).
2.2 Autonomia da vontade
Tradicionalmente, desde o Direito Romano, as pessoas são livres
para contratar. Esse princípio teve seu apogeu após a Revolução
Francesa, ao estabelecer que uma obrigação originária de um
contrato se impõe aos contratantes com a mesma força que uma
obrigação legal. Esse princípio sustenta que os indivíduos, nas
relações entre particulares, teriam liberdade de estabelecer as
regras a serem seguidas. As regras das relações entre
particulares seriam postas pelos próprios indivíduos e não pelo
Estado.
Nesse quadro, diferenciam-se os contratos
típicos e atípicos. Contratos típico são aqueles que possuem
expressa previsão legal, como o contrato de compra e venda. Assim,
quando indivíduos celebram um contrato típico, estaria ele
somente seguindo as disposições normativas. Nos contratos
atípicos, a autonomia a vontade se faz ainda mais presente, uma
vez que as partes têm o poder de criação, uma vez que são aqueles
sem previsão no Código Civil (GONÇALVES, 2012).
2.3 Consensualismo
De acordo com o princípio do consensualismo, basta, para
aperfeiçoamento do contrato, o acordo de vontades,
contrapondo-se ao formalismo e ao simbolismo que vigoravam em
tempos primitivos. Segundo Gonçalves (2012), ele decorre da
moderna concepção de que o contrato resulta do consenso, do acordo
de vontades, independente da entrega da coisa. Um exemplo disso
é o contrato de compra e venda: quando pura, torna-se perfeita
e obrigatória, desde que as partes acordem no objeto e no preço,
conforme o artigo 482 do Código Civil (BRASIL, 2002). O contrato
já estará perfeito e acabado desde o momento em que o vendedor
aceitar o preço oferecido pela coisa, independentemente da
entrega desta.
2.4 Boa fé
Conforme disposto no artigo 422 do Código Civil (BRASIL, 2002):
“os contratantes são obrigados a guardar assim, na conclusão
do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade
e boa-fé”. De acordo com Aguiar Júnior (2003), a regra da
boa-fé é cláusula geral para a aplicação do direito
obrigacional, que permite a solução do caso levando em
consideração fatores metajurídicos e princípios jurídicos
gerais. O princípio da boa-fé se biparte em boa-fé subjetiva,
também chamada de concepção psicológica da boa-fé, e a boa-fé
objetiva, também denominada de concepção ética da boa-fé
(GONÇALVES, 2012).
Boa-fé subjetiva diz respeito a substâncias psicológicas
internas do agente. Geralmente, tal estado deriva da
ignorância do sujeito a respeito de determinada situação, por
isso, o legislador cuida de ampará-lo, distinguindo do a gente
de má-fé. Já a boa-fé objetiva, é um princípio geral que
estabelece um roteiro a ser seguido nos negócios jurídicos,
através de normas de condutas que devem ser seguidas pelas
partes. A boa-fé objetiva, relaciona-se com a lealdade,
honestidade e probidade com a qual a pessoa mantém em seu
comportamento. Ainda que exista esta divisão, o ordenamento
jurídico brasileiro, em seu Código Civil e Código de Defesa
do Consumidor aplica somente a boa-fé objetiva. Veja a seguir
algumas das funções da boa-fé:
Integração
Incide no conteúdo do contrato, auxiliando na resolução de
dúvidas e lacunas, buscando atender às legítimas expectativas
dos contratantes. Os negócios jurídicos devem ser interpretados
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Dessa
forma, a boa-fé presume deveres instrumentais e deveres de
proteção. Deveres instrumentais são a é legítima a expectativa
de que duas partes colaborem umas com a outra para garantir os
fins reconhecíveis desse contrato. Os deveres de proteção se
relacionam com outros interesses que o contrato eventualmente
pode colocar em risco, porém, não aqueles que efetivamente
motivaram a contratação. Os limites de tais deveres se encontram
na razoabilidade, e são frequentemente definidos pela
jurisprudência.
Função de modificação superveniente
Alterações negociais podem ser efetuadas derivando do princípio
da boa-fé. Dessa forma, parte-se do pressuposto de que um dos
contratantes toma um comportamento que gera na outra parte uma
expectativa legítima de alteração da obrigação contratual. O
comportamento reiterado gera expectativa legítima ao longo do
cumprimento do contrato, gerando obrigação ou proibição do
exercício de um direito. Dessa forma, a modificação da relação
contratual pode ser surgimento de uma obrigação/dever ou
proibição ao exercício de um direito.
2.5 Supremacia da Ordem Pública
Apesar dos contratos serem regidos pela liberdade contratual e
pela autonomia da vontade, essa autonomia não é de todo absoluta.
A liberdade contratual encontra limitação na ideia de ordem
pública, entendendo-se que o interesse da sociedade deve
prevalecer quando colide com o interesse individual.
De acordo com Rodrigues (2016, p. 16): “ideia de ordem pública
é constituída por aquele conjunto de interesses jurídicos e
morais que incube à sociedade preservar. Por conseguinte, os
princípios de ordem pública não podem ser alterados por convenção
entre os particulares”. A ordem pública é ainda uma cláusula geral
exposta na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro
(BRASIL, 1942), regra de Direito Internacional Privado que
retifica a eficácia de qualquer declaração de vontadeofensiva
da ordem pública. Ele é determinado ainda pelo artigo 2.035 do
Código Civil que determina (BRASIL, 2002): “nenhuma convenção
prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como
os estabelecidos por este Código, para assegurar a função social
da propriedade e dos contratos”. Logo, a noção de ordem pública
e o respeito aos bons costumes constituem freios e limites à
liberdade contratual.
2.6 Relatividade dos efeitos
A força relativa dos contratos, apesar de não ser instituto
expressamente previsto pelo Código Civil, é um princípio
consagrado. Segundo o mencionado princípio, os contratos
estabelecem obrigações apenas entre as partes (contratantes),
não gerando obrigações para terceiros. No entanto, no que
concerne os direitos gerados pelos contratos, é possível que eles
sejam atribuídos a terceiros, como ocorre no caso de
beneficiários do seguro. Vale ressaltar que, assim como as
obrigações são limitadas às partes, a responsabilidade também
é. Segundo o artigo 439 do Código Civil (BRASIL, 2002):
“Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por
perdas e danos, quando este o não executar. Parágrafo único. Tal
responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente,
dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime
do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus
bens.”
Se justifica a existência dessa limitação dos efeitos do contrato
com base em dois pontos: a liberdade contratual e a eficiência,
pois se restringem os efeitos onerosos às partes do contrato.
2.7 Revisão
Quando as partes contraentes assinam um contrato, diversas são
as incertezas quanto ao futuro. Existem fatores imprevisíveis
que podem vir a alterar o equilíbrio contratual, sendo assim,
o Código Civil, quanto à certos riscos, permite a revisão do
contrato (BRASIL, 2002): “Art. 317. Quando, por motivos
imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor
da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz
corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto
possível, o valor real da prestação”. Já o artigo 6 do Código
de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990), determina que: “São
direitos básicos do consumidor: (...) V - a modificação das
cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes
que as tornem excessivamente onerosas (...)”. Veja a seguir
alguns dos requisitos que configuram as alterações capazes de
ensejar a revisão:
Tempo de risco
O risco que permite a resolução ou revisão deve ocorrer após
a celebração do contrato, e seus efeitos devem ser sentidos antes
do cumprimento total das obrigações.
Excessiva onerosidade
O risco deve ser tal que torne o cumprimento do contrato
excessivamente oneroso para uma das partes com vantagem para a
outra; ou aumente ou diminua consideravelmente o valor de uma
das prestações. Portanto, é necessária que haja a mencionada
onerosidade para o devedor e a consequente vantagem para o credor.
Acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis
A tendência é limitar os riscos abrangidos pelos artigos 317
e 478 do Código Civil, com base em um critério de escusabilidade.
A questão é que deveria a parte ter se precavido contra o risco
em questão, ou seja, deve ser medida a sofisticação da parte e
o grau de probabilidade do acontecimento. Nesse sentido, fatos
de ocorrência mais remota seriam escusáveis, assim como a
inexperiência dos contratantes.
3. Interpretação dos contratos
Toda manifestação de vontade necessita de interpretação para
que se saiba o seu significado e alcance. O contrato origina-se
de ato volitivo e por isso requer sempre uma interpretação.
Nem sempre o contrato traduz a exata vontade das partes. Muitas
vezes a redação mostra-se obscura e ambígua, malgrado o
cuidado quanto à clareza e precisão demonstrado pela pessoa
encarregada dessa tarefa, em virtude da complexidade do
negócio e das dificuldades próprias do vernáculo.
As regras de interpretação são regras referentes ao conteúdo
do contrato, definindo o sentido de algo já escrito ou dito.
Nesse sentido, o artigo 47 do Código de Defesa do Consumidor
determina que (BRASIL, 1990): “As cláusulas contratuais serão
interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”. Já
o artigo 423 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Quando houver
no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias,
dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao
aderente”.
4. Classificação
Os contratos se agrupam em diversas categorias, suscetíveis
de subordinação a regras peculiares. Desse modo, os contratos
classificam-se em diversas modalidades, subordinando-se a
regras próprias ou afins, conforme as categorias em que se
agrupam.
Os contratos podem ser divididos:
a) Quantos aos seus efeitos: em unilaterais, bilaterais e
plurilaterais; gratuitos e onerosos. Contratos unilaterais
são os contratos que criam obrigações unicamente para uma das
partes, enquanto os bilaterais são contratos que geram
obrigações para ambos os contratantes. Plurilaterais, são os
contratos que contêm mais de duas partes.
b) Quanto às vantagens patrimoniais: gratuitos ou onerosos.
Gratuitos são aqueles em que apenas uma parte aufere benefício
ou vantagem, enquanto os onerosos são aqueles em que ambos
os contraentes obtêm proveito.
c) Quanto a formação: podem ser paritários, de adesão e
contratos-tipo. Contratos paritários são aqueles do tipo
tradicional em que as partes discutem livremente as condições,
porque se encontram em situação de igualdade. No contrato de
adesão, não se tem esta liberdade, devido a preponderância
da vontade e um dos contratantes, podendo a outra parte apenas
aderir. E no caso do contrato-tipo, as cláusulas não são
impostas por uma parte à outra, mas apenas pré-redigidas.
d) Quanto ao momento de sua execução: instantânea, diferida
e de trato sucessivo ou em prestações. Contratos de execução
instantânea são aqueles que tem uma execução única, que se
consumam em um só ato. Os de execução diferida são os que devem
ser cumpridos também em um só ato, mas em momento futuro. Já
os de trato sucessivo, são os que cumprem por meio de atos
reiterados.
e) Quanto ao agente: em personalíssimos ou intuito personae
e impessoais. Personalíssimos são os contratos celebrado em
atenção às qualidades pessoais de um dos contraentes, por essa
razão, o obrigado não pode fazer-se substituir. Os impessoais
são aqueles cuja prestação pode ser cumprida,
indiferentemente, pelo obrigado ou por terceiro.
f) Quanto ao modo porque existem: em principais, acessórios
ou adjetos e derivados ou subcontratos. Contrato principal
é aquele que tem existência própria, e não dependem de qualquer
outro. Os acessórios, por outro lado, são os que tem sua
existência subordinada à do contrato principal.
g) Quanto à forma: em solenes ou formais e não solenes ou de
forma livre; consensuais e reais. Solenes são os contratos
que devem obedecer a forma prescrita em lei para se aperfeiçoar.
Os não solenes são os de forma livre, onde basta o consentimento
para a sua formação.
h) Quanto ao objeto: em preliminares ou definitivos. Os
contratos preliminares são aqueles que tem por objeto a
celebração de um contrato definitivo.
i) Quanto à designação: em nominados e inominados, típicos
e atípicos, mistos. Contratos nominados são aqueles que têm
designação própria, como o contrato de compra e venda,
empreitada, etc. Os inominados, são então aqueles que não têm
nominação própria. Já os típicos, são aqueles regulados pela
lei, que tem nela o seu perfil traçado. Os mistos, por outro
lado, resultam da combinação de um contrato típico, com
cláusulas criadas pela vontade dos contratantes.
O enunciado número 21 das Jornadas de Direito Civil do CJF se
refere à “revisão do princípio da relatividade de efeitos”, onde
se tenta relativizar, então o princípio da força relativa dos
contratos, preconizando que ele seria incompatível com a
consagrada função social dos contratos. Dessa forma, poderiam
os contratosobrigarem terceiros ou os terceiros responder pelo
descumprimento dos contratos. Nesse sentido, tem-se o “caso Zeca
Pagodinho”, envolvendo a AMBEV e a Schincariol, no qual a decisão
demonstrou a possibilidade de geração de efeitos para terceiros.
Em termos gerais, foi entendido que a AMBEV contribuiu,
deliberadamente, para o descumprimento do contrato pelo cantor
com a Schincariol, sendo, assim, responsabilizada por suas ações
nesse sentido.
UNIDADE 02
1. Eficácia
A eficácia dos contratos parte diretamente das leis; logo,
transforma-os em fonte mediata ou primária das obrigações.
É a lei que disciplina os efeitos dos contratos; que obriga
o declarante a pagar a recompensa prometida e impõe ao autor
do ato ilícito o dever de ressarcir o prejuízo causado.
De acordo com Pereira (2017), o fundamento ético do contrato
é a vontade humana, desde que atue na conformidade da ordem
jurídica. Seu habitat é a ordem legal. Seu efeito, a criação
de direitos e de obrigações. O contrato é, segundo Gonçalves
(2012, p. 26), “um acordo de vontades, na conformidade da lei,
e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir,
conservar, modificar ou extinguir direitos.
1.1 Em relação aos sujeitos
Um dos principais efeitos dos contratos é a produção de
obrigações entre as partes, e só para as partes. Devido a
relatividade, somente as pessoas que estipularam o contrato
se obrigam. Afirma-se, então, que o contrato é uma “lei entre
as partes”.
Nos contratos unilaterais, tem-se a criação de obrigações
unicamente para uma das partes, como no caso de doação pura,
por exemplo. Segundo Gomes (2019, p. 77), o contrato é
“unilateral se, no momento em que se forma, origina obrigação,
tão somente, para uma das partes”. Já nos contratos bilaterais,
ambas as partes contraem obrigações e ao menos alguns dos
deveres recíprocos de prestação estão vinculados entre si,
de modo que a prestação de um representa, de acordo com a
vontade de ambas as partes, a contraprestação, a compensação
pela outra (LARENZ, 1958). Por sim, no caso dos plurilaterais,
como efeito, tem-se a criação da obrigação para mais de duas
partes, tendo as partes um objetivo, um fim, em comum.
1.2. Aos terceiros
Ainda que, na maioria dos casos, os contratos somente gerem
obrigações entre as partes, existem exceções em que os contratos
atingem terceiros com seus efeitos. Tem-se efeitos em relações
à terceiros, ou também as chamadas estipulações em favor de
terceiros nos contratos celebrados entre duas pessoas,
denominadas estipulante e promitente. Neles convenciona-se que
a vantagem resultante do ajuste reverterá em benefício de
terceira pessoa, alheia à formação do vínculo contratual
(RODRIGUES, 2016). Neste vínculo, figuram três personagens: o
estipulante, o promitente e beneficiário, decorrendo o vínculo
obrigacional da manifestação de vontade apenas do estipulante
e do promitente, podendo, no entanto, o beneficiário recusar a
estipulação a seu favor.
Conforme o artigo 435 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Art. 436.
O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento
da obrigação”. E no Parágrafo único: “Ao terceiro, em favor de
quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la,
ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se
a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438”.
Sendo assim, tem-se que o contrato se torna exigível tanto pelo
estipulante quanto pelo beneficiário. Vale ressaltar, ainda, que
estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro
designado no contrato, independentemente da sua anuência e da
do outro contratante, conforme estabelece o artigo 438 do Código
Civil. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por
disposição de última vontade.
1.3 Ao objeto em relação aos contratos bilaterais perfeitos e imperfeitos
O contrato bilateral é aquele que gera obrigação para ambos os
contratantes, sendo assim as obrigações são recíprocas. Conforme
conceitua Larenz (1958), o contrato bilateral é aquele que ambas
as partes contraem obrigações e ao menos alguns dos deveres
recíprocos de prestação estão vinculados entre si, de modo que
a prestação de um representa, de acordo com a vontade de ambas
as partes, a contraprestação, a compensação pela outra.
O contrato bilateral imperfeito é uma categoria
intermediária. Contrato bilateral imperfeito é denominado o
unilateral que, por circunstância acidental, ocorrida no
curso da execução, gera alguma obrigação para o contratante
que não se comprometera. Pode ocorrer com o depósito e com
o comodato quando, por exemplo, surgir para o depositante e
o comodante, no decorrer da execução, a obrigação de indenizar
certas despesas realizadas pelo comodatário e pelo
depositário. . Conforma aponta Gonçalves (2012, p. 98):
“Contratos unilaterais porque aquelas contraprestações não
nascem com a avença, mas de fato eventual, posterior à sua
formação, não sendo, assim, consequência necessária de sua
celebração”.
1.4 Direito de retenção
O direito de retenção aplica-se principalmente aos contratos de
locação. Conforme o artigo 571 do Código Civil (BRASIL, 2002),
o locatário gozará do direito de retenção, enquanto não for
ressarcido. Esta foi uma inovação então introduzida, uma vez que
tal benefício só era antes previsto, nas locações, para assegurar
a indenização das benfeitorias necessárias e úteis feitas com
consentimento expresso do locador.
Vale ressaltar ainda que o direito de retenção pode ser verificado
nos casos em de contrato com cláusula de reserva de domínio.
Nestes casos, se tem a venda de coisa móvel, em que o vendedor
tem a própria cosia vendida como garantia do recebimento do preço,
somente a posse é transferida ao adquirente. A propriedade
permanece com o alienante e só passa àquele após o recebimento
integral do preço. De acordo com o artigo 521 do Código Civil
(BRASIL, 2002): “Artigo 521. Na venda de coisa móvel, pode o
vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja
integralmente pago. ”.
1.5 Exceção do contrato não cumprido
A exceção do contrato não cumprido pode ser considerada como
regra dispositiva, ou seja, aplicada aos contratos se as partes
não tiverem decidido de forma diversa. Conforme o artigo 476 do
Código Civil, nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes,
antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da
do outro (BRASIL, 2002).
Para entender melhor esse instituto, partiremos de um
exemplo. Partes A e B tem obrigações a cumprir,
independentes uma da outra. A não cumpre suas obrigações,
porém, mesmo diante do inadimplemento de A, B deve ser
obrigado a cumprir sua obrigação. A, mesmo não tendo
cumprido o que deveria, teria as pretensões de cumprimento
por parte de B e também de indenização. Assim, tendo em
vista a situação imaginária acima, entende-se que a exceção
de contrato não cumprido serviria para quebrar a mencionada
independência das obrigações. Voltando ao caso anterior, de
A e B, com a presença dessa exceção, A perderia suas
pretensões de cumprimento por parte de B e também de
indenização. Em suma, B pode então resistir à pretensão de A
de que a sua obrigação se cumpra (pretensão de cumprimento)
ou de pagamento de indenização ou multa (pretensão
indenizatória).
No entanto, para que se tenha a exceção do contrato não cumprido
se tem dois requisitos: a) a outra parte deve ter inadimplido
primeiro; b) e somente pode ser solicitado enquanto não for
"purgada a mora”. Após ser purgada a mora pelo devedor, a outra
parte, que levantou a exceção, não pode mais resistir ao
cumprimento de sua própria obrigação.
1.6 Vícios ocultos
Vícios ocultos ou vícios redibitórios são vícios que atingem
a coisa, objeto de um contrato civil, desvalorizando-a ou
tornando-a imprópria para o seu uso. O Direito brasileiro
atribui um dever geral de qualidade ao contratante
obrigado à entrega de um bem ou à prestação de um
serviço. O bem ou serviço deve possuir as características
que são razoáveis esperar dele, tendo em vista as
circunstâncias e os fins a que o contrato se destina.O dever de qualidade em questão tem fundamento na boa-fé́.
Além disso, é tema de algumas disposições legais, como as
dos vícios redibitórios – artigos 441 a 446 do Código
Civil (BRASIL, 2002) -; e as dos vícios de qualidade e
quantidade – artigos 18 a 27 do Código de Defesa do
Consumidor (BRASIL, 1990).
Os vícios redibitórios são regras dispositivas, que se
aplicam a coisas, conforme o artigo 441 do Código Civil
(BRASIL, 2002): “Art. 441. A coisa recebida em virtude de
contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou
defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é
destinada, ou lhe diminuam o valor”. Portanto, tem-se que
a parte pode rejeitar a coisa recebida caso esta possua
vícios ou defeitos ocultos que a tornem impropria para
uso a que é destinada ou lhe diminuam o valor. Mas se
tratando de vícios ou defeitos ocultos, estes podem
demorar um determinado tempo a aparecer. Nesse sentido,
os artigos 445 e 446, do Código Civil (BRASIL, 2002),
trazem os prazos para o exercício do direito:
“Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no
preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel,
contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da
alienação, reduzido à metade.
§ 1o - Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o
prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo
de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os
imóveis.
§ 2o - Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos
serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais,
aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras
disciplinando a matéria.
Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na
constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve
denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu
descobrimento, sob pena de decadência.”
Vale ressaltar ainda que, para a caracterização dos vícios
redibitórios se tem alguns requisitos, não se trata de
qualquer defeito ou falha existente no bem móvel ou imóvel.
Alguns dos requisitos para a caracterização dos vícios
redibitórios são:
 que a coisa tenha sido recebida em virtude de contrato
comutativo ou de doação onerosa, ou remuneratória;
 que os defeitos sejam ocultos, ou seja, não sejam facilmente
verificáveis;
 Que os defeitos existam no momento da celebração do contrato
e que perdurem até o momento da reclamação;
 que os defeitos sejam desconhecidos pelo adquirente;
 que os defeitos sejam graves.
1.7 Evicção
Todo alienante é obrigado não só a entregar ao adquirente a
coisa alienada, como também a garantir-lhe o uso e gozo. Sendo
assim, dá-se a evicção quando o adquirente vem a perder total
ou parcialmente a coisa por decisão fundada em motivo jurídico
anterior (GONÇALVES, 2012). Evicção vem do latim evincere,
que significa perder ou ser vencido. Evicção é a perda da coisa,
objeto de um contrato, diante de uma decisão judicial ou ato
administrativo de apreensão que a atribui a um terceiro. Na
visão clássica, evicção era a perda por sentença judicial,
atualmente prescinde de sentença, pode ser uma decisão
judicial que não seja sentença.
São partes na evicção o alienante, que é aquele que transmitiu
a coisa com o vício da evicção; o adquirente, evicto ou
evencido, que é quem adquire e perde a coisa; e o
terceiro, evictor ou evencente, que tem a decisão judicial
ou apreensão administrativa em seu favor. No caso da evicção,
tem-se que o alienante transmite o bem para o adquirente, por
exemplo em um contrato de compra e venda, depois o terceiro
pleiteia o bem do adquirente, como por meio de uma ação
reivindicatória, e posteriormente se tem o denunciar da lide
pelo alienante.
A evicção pode ser total ou parcial. No caso da evicção total,
conforme estabelece o artigo 450 do Código Civil, o adquirente
pode pleitear do alienante o preço que pagou pela coisa
(levando em conta o momento em que ela se perdeu); indenização
pelos frutos que tiver sido obrigado a restituir ao terceiro;
despesas contratuais e perdas e danos; custas judiciais e
honorários advocatícios; e benfeitorias necessárias e uteis
não abandonadas pelo terceiro, segundo o artigo 45 do Código
Civil. Já no caso de evicção parcial, conforme exposto no
artigo 455 do Código Civil, caso seja considerável, o
adquirente pode optar entre a rescisão do contrato ou
indenização pela parte perdida. Se for parcial, mas não
considerável, cabe apenas indenização pela parte perdida
(BRASIL, 2002).
1.8 Arras
Arras ou sinal, é a entrega de dinheiro ou de outro bem
móvel, com garantia de firmar um negócio e fazer com que
o contrato seja cumprido, é então a utilização de bens
móveis para garantir a celebração do negócio. Pode-se
dizer que a cláusula ou contrato de arras é uma variação
da cláusula penal, com função análoga, conforme os
artigos 417 a 420, do Código Civil (BRASIL, 2002). A
diferença é que, ao contrário da multa, as arras são
prestadas antes da ocorrência do inadimplemento. As arras
e a cláusula penal, no entanto, têm uma função análoga,
que é criar uma penalidade para o caso de inadimplemento,
podendo as arras servir como um pré-contrato, como uma
garantia de celebração do segundo contrato, o principal.
As arras podem ser de dois
tipos, confirmatórias ou penitenciais. Nas confirmatórias
é possível insistir no cumprimento do contrato ou pedir
indenização suplementar acrescida das arras, conforme
determina o artigo 419 do Código Civil (BRASIL, 2002). Já
nas penitenciais ,a função das arras é indenizatória por
si só́, e por isso, não haverá́ possibilidade de pedir
indenização suplementar. Alguns efeitos das arras são:
 se houver inadimplência por parte do indivíduo que deu as
arras, as mesmas não serão devolvidas;
 Se quem gerar o inadimplemento for aquele que receber
as arras, ele deverá devolver as mesmas, além de pagar
o equivalente.
2. Extinção
Os contratos, como negócios jurídicos em geral, têm também
um ciclo vital: nascem do acordo de vontades, produzem os
efeitos que lhes são próprios e extinguem-se (GONÇALVES, 2012).
De acordo com Theodoro Júnior (2019, p. 100), “ao contrário
dos direitos reais, que tendem à perpetuidade, os direitos
obrigacionais gerados pelo contrato caracterizam-se pela
temporalidade. Não há contrato eterno”.
Seguindo o curso normal, o contrato se extingue pelo
cumprimento, adimplemento, implemento, pagamento, solvência
ou advento do termo final. No entanto, podem ocorrer fatos
diversos que levam também à extinção do contrato. As causas
podem ser anteriores ou contemporâneas à formação do contrato,
como é o caso da nulidade e anulabilidade, ou os casos nos
quais a dissolução do contrato se dá em função de causas
posteriores à sua criação, como é o caso da rescisão, resolução
e resilição.
2.1 Nulidade
A nulidade pode ser relativa ou absoluta. No caso de nulidade
absoluta, esta decorre da ausência do elemento essencial ao ato,
com transgressão a preceito de ordem pública, impedindo que o
contrato produza efeitos desde a sua formação. Tratando-se de
vício originário, verificado na fase genérica da obrigação, e
sendo caso de ineficácia em sentido amplo - ato nulo é ineficaz
(GONÇALVES, 2012). Segundo Aguiar Júnior (2003), o
pronunciamento da nulidade pode ser requerido em juízo a qualquer
tempo, por qualquer interessado, podendo ser declarada de ofício
pelo juiz ou por promoção do Ministério Público, conforme o artigo
168 do Código Civil (BRASIL, 2002).
2.2 Anulabilidade
A anulabilidade advém da imperfeição da vontade, seja porque
foi emanada de um relativamente incapaz não assistido ou
porque contém algum dos vícios de consentimento, como dolo,
erro, coação, etc. Conforme o artigo 171 do Código Civil
(BRASIL, 2002):
“Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável
o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo,lesão ou fraude contra credores.”
A anulabilidade, de forma diversa à nulidade, não pode ser arguida
por ambas as partes, nem declarada de ofício pelo juiz. Tem
legitimidade para pleitear a ação somente o contraente em cujo
interesse foi estabelecida a regra, conforme o artigo 171 do
Código Civil. De acordo com Roppo (2009), tratando-se apenas de
proteger o interesse do incapaz, do lesado, do enganado ou do
ameaçado, só a estes cabe decidir se podem ou não a anulação.
2.3 Morte
A morte de um dos contratantes só acarreta a dissolução
dos contratos personalíssimos, aqueles que não poderão ser
executados por outra pessoa, ou seja, aquele em consideração do
qual foi ajustado. Vale ressaltar, no entanto, que subsistem as
prestações cumpridas, pois seu efeito opera-se ex-nunc. Como
exemplo, é possível citar o contrato de prestação de serviços,
que acaba com a morte de qualquer uma das partes, conforme
estabelece o artigo 607 do Código Civil (BRASIL, 2002).
2.4 Rescisão
O termo rescisão é frequentemente utilizado como sinônimo de
resolução e de resilição. No entanto, se tem a rescisão somente
na dissolução de alguns contratos, como aqueles em que ocorre
lesão ou que foram celebrados em estado de perigo. De acordo com
Messineo (1986), dois são os casos em que se admite a rescisão:
quando o contrato é celebrado em estado de perigo e em condições
iníquas, ou quando acarreta uma lesão sofrida por uma das partes,
determinada por uma situação de necessidade que a impulsionou
a conclui-la.
O Código Civil, caracteriza lesão como um vício de consentimento,
que torna anulável o negócio jurídico, conforme o artigo 178.
Já o estado de perigo, se caracteriza quando a avença é celebrada
em condições desfavoráveis a um dos contratantes que assume uma
obrigação excessivamente onerosa em situação de extrema
necessidade, segundo o artigo 156, sendo este também anulável,
conforme o artigo 178. Dessa forma, tem-se que em ambas as
situações o negócio jurídico será anulável, tendo-se assim a
rescisão do contrato (BRASIL, 2002).
2.5 Resolução
De acordo com Gomes (2019), resolução é um remédio concedido à
parte para romper o vínculo contratual mediante ação judicial.
A obrigação visa a realização de um determinado fim. Nem sempre,
no entanto, os contraentes conseguem cumprir a prestação avençada,
em razão de situações supervenientes, que impedem ou prejudicam
a sua execução. Nesse contexto, a extinção do contrato mediante
resolução tem como causa a inexecução ou o não cumprimento por
um dos contratantes (GONÇALVES, 2012).
A resolução pode ser por inexecução voluntária ou por onerosidade
excessiva. A resolução por inexecução voluntária, como o próprio
nome demonstra, se dá pela opção do contratante de não cumprir
com o contrato, gerando prejuízo ao outro. Sendo assim, conforme
determina o artigo 475 do Código Civil (BRASIL. 2002): “a parte
lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato
se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer
dos casos, indenização por perdas e danos”.
Roppo (2009) ressalta que é necessário que o não cumprimento
invocado por quem pede a resolução seja razoavelmente sério
e grave, e prejudique, de modo objetivamente considerável o
seu interesse. Por exemplo, se uma parte sempre manifestou
tolerância por uma certa margem de atraso, ou de pagamento
de valor inexato, pouco inferior ao convencionado, isto pode
ser relevante para excluir a possibilidade de resolução do
contrato por falta de cumprimento legal.
Conforme determina o artigo 476 do Código Civil, nos contratos
bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua
obrigação, pode exigir o implemento da do outro. Aquele que
não satisfez a sua própria obrigação, não pode exigir o
implemento da do outro quando as prestações forem simultâneas.
Tem-se ainda a resolução por onerosidade excessiva. Embora
o princípio da pacta sunt servanda ou da intangibilidade do
contrato seja fundamental para a segurança dos negócios e
fundamental para qualquer organização social, os negócios
jurídicos podem sofrer as consequências de modificações
posteriores das circunstâncias, com quebra insuportável da
equivalência. Tal constatação deu origem ao princípio da
revisão contratual ou da onerosidade excessiva (GONÇALVES,
2012).
A resolução por onerosidade excessiva pode ser usada por ambas
as partes, tanto pelo credor quanto pelo devedor, sendo
semelhante ao caso fortuito ou de forca maior, no qual um evento
futuro e incerto acarreta a exoneração do cumprimento da
obrigação. A resolução dos contratos por onerosidade
excessiva está exposta no artigo 478 do Código Civil, que
determina (BRASIL, 2002):
“Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a
prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com
extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução
do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data
da citação.”
Presentes os pressupostos do artigo 478, poderá a parte lesada
pleitear a resolução do contrato. Todavia, conforme exposto
no artigo 479, poderá a parte contrária, considerando o
contrato vantajoso, reestabelecer o equilíbrio contratual,
oferecendo-se para modificar equitativamente as condições
(BRASIL, 2002). Alguns requistios para que se configure a
resolução por onerosidade excessiva são:
1. vigência do contrato comutativo de execução diferida ou
de trato sucessivo;
2. ocorrência de fato extraordinário e imprevisível;
3. considerável alteração da situação de fato existente no
momento da execução, em confronto com a que existia por
ocasião da celebração;
4. nexo causal, entre o evento superveniente e a consequente
excessiva onerosidade.
2.6 Resilição
Resilição não deriva de inadimplemento contratual, mas
unicamente da manifestação de vontade, que pode ser bilateral
ou unilateral. Resilir, vem do latim, que significa,
etimologicamente, “voltar atrás”, podendo ser a resilição
bilateral ou unilateral. No caso de resilição bilateral, se
tem o distrato, que é o acordo de vontades que tem por objetivo
pôr fim a um contrato anteriormente celebrado, podendo
qualquer contrato cessar pelo distrato. Conforme estabelece
o artigo 472 do Código Civil, o distrato se faz na forma exigida
para o contrato, ou seja, ele deve obedecer à mesma forma do
contrato a ser desfeito quando este tiver forma especial, mas
não quando esta for livre (BRASIL, 2002).
Já a resilição unilateral, somente é possível em alguns
contratos, pois, pelo princípio do pacta sunt servanda, os
contratos deverão ser cumpridos e, sendo assim, se tem a
impossibilidade de um contraente romper o vínculo contratual
por sua exclusiva vontade.
A resilição unilateral é possível de ser exercida: a) nos
contratos por tempo indeterminado; b) nos contratos de
execução continuada ou periódica; c) nos contratos em geral
cuja execução não tenha começado; d) nos contratos benéficos;
e e) nos contratos de atividades.
Sobre o a resilição unilateral, o artigo 473 do Código Civil
estabelece que:
“Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa
ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra
parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes
houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a
denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo
compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.”
Os contratos de soja verde são aqueles feitos antes da soja
ser plantada. A soja obteve, certo ano, grande valorização.
Um agricultor decidiu pleitear a revisão do contrato, pela
onerosidade das parcelas, segundo o artigo 317 do Código Civil.
Há várias decisões do STJ sobre o caso, decidindo em favor
dos compradores da soja e mantendo o contrato, dada a
sofisticação das partes envolvidas e a previsibilidade de
oscilações comuns a este tipo de atividade.

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