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UNIDADE 03 1. Compra e venda Segundo Gonçalves (2012), o contrato de compra e venda é o mais importante dos contratos. Além disso, ele é a origem de quase todo o Direito das Obrigações e do Direito Comercial. Pereira (2017) aponta que, desde a Roma Antiga, já se praticava a compra e venda, antes mesmo que se tivessem cunhado as primeiras moedas. Utilizava-se, então, a pesagem em público de uma porção de metal como pagamento, um demonstrativo de que o romano já sabia distinguir a emptio venditio da permuta em espécie. Através dessa distinção, a venda caracterizou-se por ser um contrato translativo imediato da propriedade por operação instantânea. Contrato, então, meramente obrigatório, não operava a transmissão do domínio, limitando-se a transferir a posse. A sua consequência – aquisição da propriedade – não nascia do contrato, porém de um daqueles atos que, na sistemática romana, eram hábeis a gerá-la (GONÇALVES, 2012). 1.1 Conceito Denomina como compra e venda o contrato bilateral através do qual uma das partes – o vendedor – obriga-se a transferir o domínio de uma coisa à outra pessoa – o comprador -, através da contraprestação de certo preço em dinheiro (ESPÍNOLA, 2002). Conforme o artigo 481 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”. 1.2 Características O contrato de compra e venda pode ter como objeto bens de toda natureza, sejam eles corpóreos, compreendendo móveis e imóveis, ou incorpóreos. Conforme estabelece a doutrina, o contrato de compra e venda é bilateral perfeito, consensual, oneroso e comutativo. Deve ser bilateral, uma vez que gera obrigações recíprocas: para o comprador, a de pagar o preço em dinheiro; e para o vendedor, a de transferir o domínio de certa coisa. Consequentemente, é também oneroso, pois ambos os contratantes obtêm proveito. Em regra, deve ser também consensual, porque se aperfeiçoa com o acordo de vontades, independente da entrega da coisa. Por fim, deve ser também comutativo, porque de imediato se apresenta como certo o conteúdo das prestações recíprocas. 2. Elementos do contrato de compra e venda O contrato de compra e venda, pela sua própria natureza, exige como elementos integrantes: a coisa, o preço e o consentimento. Esta é a modalidade de contrato mais utilizada no comércio jurídico e na convivência social. Portanto, a lei procura facilitar a sua celebração, simplificando-a. 2.1 Consentimento O consentimento pressupõe a capacidade das partes para vender e comprar, devendo ainda ser livre e espontâneo, sob pena de anulabilidade. Será anulável, se houver erro sobre o objeto principal da declaração, ou sobre suas qualidades essenciais, conforme determina o artigo 139 do Código Civil (BRASIL, 2002). Quando o erro recai sobre o objeto, tem-se a venda de algo diferente do que o contratante tinha em mente. Por exemplo, o indivíduo se propõe a alugar uma casa no bairro X, e o contratante entende tratar-se de uma casa no bairro Y. Já com relação às qualidades essenciais, trata-se dos casos em que o consentimento é baseado na suposição da existência de determinadas características do objeto como, por exemplo, na compra uma cópia de um quadro, pensando ser o original. Vale ressaltar ainda que o Código Civil impõe algumas restrições quanto à aquisição de bens por tutores, curadores, testamenteiros e outras pessoas encarregadas de zelar pelo interesse dos vendedores, conforme estabelece o artigo 497 (BRASIL, 2002): “Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública: I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração; II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados. Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito.” 2.2 Preço O preço é o segundo elemento essencial. Sem a sua fixação a venda é nula. O artigo 486 do Código Civil permite que se deixe “a fixação do preço à taxa do mercado ou de bolsa em certo e determinado lugar” (BRASIL, 2002). Existem ainda várias outras formas de determinação futura do preço, que podem ser escolhidas pelo contraente: o preço de custo, o preço em vigor no dia da expedição, a melhor oferta, o preço do costume, etc. O que não é admitido é a indeterminação absoluta: não se aceita, por exemplo, dizer que a parte “pagará o que quiser”, deixando ao arbítrio do comprador a determinação de um valor. Nesse sentido, tem-se o artigo 489 do Código Civil, que determina que é nulo o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço (BRASIL, 2002). No entanto, podem as partes convencionar que o preço será fixado conforme arbítrio de terceiro. Nesse sentido, segundo o Código Civil (BRASIL, 2002): “Art. 485. A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa”. O preço deve ainda ser pago em dinheiro, como prescreve o artigo 481 do Código Civil; ou ser redutível a dinheiro, por exemplo, o pagamento por meio de título de crédito. O preço deve ser também sério e real, correspondente ao valor da coisa e, não, vil ou fictício. Por exemplo, a venda de um apartamento a R$1,00 não constitui contrato de compra e venda, mas, sim, doação. 2.3 A coisa O artigo 481 do Código Civil faz referência a “certa coisa” como objeto da prestação do contrato de compra e venda (BRASIL, 2002). Já no Código de Defesa ao Consumidor, no artigo 3º, o termo ‘coisa’ foi substituído por ‘produto’ no caso de compra e venda decorrente de relação de consumo (BRASIL, 1990). Podem figurar como objeto de contrato de compra e venda as coisas atuais e futuras, corpóreas e incorpóreas, conforme estabelece o artigo 483 do Código Civil (BRASIL, 2002). Sendo possível até mesmo a venda de coisa inexistente, desde que se tenha a existência potencial da coisa, como no caso de uma safra futura, por exemplo. Além disso, o objeto da compra deve ser determinado ou determinável, admitindo-se a venda de coisa incerta, indicada pelo menos gênero e quantidade, que será determinada pela escolha; bem como venda alternativa, cuja indeterminação cessa com a concentração, conforme os artigos 243 e 252 do Código Civil. Nesse sentido, tem-se que a coisa pode ser específica, quando o objeto que se vende é precisamente determinado; ou genérica, quando é feita alusão ao gênero das coisas ou à sua quantidade, sem especificá-las. Por fim, a coisa deve ainda estar disponível, isto é, não estar fora do comércio, considerando-se nesta situação as coisas insuscetíveis de apropriação e as legalmente inalienáveis (GONÇALVES, 2012). 2.4 Efeitos O contrato, no Direito brasileiro, não possui efeitos translativos, ou seja, o vendedor apenas promete transferir a posse e a propriedade ao adquirente. Dessa forma o contrato gera obrigações, mas não produz o efeito de transferir a propriedade. Tem-se então dois negócios jurídicos, a compra e venda, e o acordo de transmissão mediante a tradição ou a outorga da escritura pública, que se encontram entrelaçados. Quem vende um imóvel por escritura pública, conforme aponta Couto e Silva (2010, não necessitará de outro ato ou de outra declaração de vontade para que possa ser realizado o registro. Na vontade de vender, está a vontade de adimplir, de transmitir, que, por si só́, é suficiente para permitir o registroimobiliário. Além disso, os contratos de compra e venda possuem efeitos secundários. Primeiramente, se tem a questão da responsabilidade pelos riscos. Conforme estabelece o artigo 492 do Código Civil, até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador. Sobre a tradição, acrescenta o artigo 493 do Código Civil (BRASIL, 2002) que “a tradição da coisa vendida, na falta de estipulação expressa, dar-se-á no lugar onde ela se encontrava, ao tempo da venda”. Tendo em vista o exposto, percebe-se o caráter supletivo da norma, que privilegia o acordado entre as partes, devendo ser aplicado somente caso as partes não tenham acordado. Vale ressaltar ainda que, no que tange às despesas, salvo cláusula em contrário, elas ficarão em escritura, o seu registro estará a cargo do comprador e as despesas relacionadas à tradição relacionadas ao vendedor, conforme preceitua ao artigo 490 do Código Civil. Já no que tange pagamentos, conforme estabelece o artigo 491 do Código Civil, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço, desde que não seja venda à crédito. No caso de venda a crédito, o vendedor somente poderá sobrestar a entrega no caso de insolvência do comprador, até obter dele caução de que pagará no tempo ajustado, conforme o artigo 495 do Código Civil (BRASIL, 2002). Os principais efeitos da compra e venda são: gerar obrigações recíprocas para os contratantes, sendo para o vendedor a de transferir o domínio da coisa certa e para o comprador, a de pagar certo preço em dinheiro; acarretar a responsabilidade do vendedor pelos vícios redibitórios e pela evicção. 3. Pactos acessórios O Código Civil de 1916 já disciplinava algumas cláusulas especiais que as partes podem adicionar à compra e venda: a retrovenda, a venda a contento, o pacto de preferência, o pacto de melhor comprador e o pacto comissório. Já o Código de 2002 trouxe algumas inovações, representadas pela venda sujeita à prova, venda com reserva e domínio e a venda sobre documentos. Essas cláusulas especiais são chamadas de pactos acessórios. 3.1 Retrovenda A retrovenda é a cláusula aplicável somente no caso de bens imóveis, por meio da qual o vendedor reserva-se no direito de, no prazo decadencial de 03 anos, reaver o imóvel. Conforme o Código Civil (BRASIL, 2002): “Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias.” Ressalta-se que, quando o vendedor readquire esse imóvel vendido, ele só terá direito de receber o valor pago pelo comprador, acrescido das despesas. Além disso, o vendedor pode ceder esse direito de retrato a terceiros. Caso o comprador revenda esse imóvel, durante o prazo de três anos decadenciais e sem a autorização do titular do direito de retrato, este poderá agir contra o terceiro, desde que a cláusula de retrovenda esteja averbada junto à matrícula do imóvel, conforme determina o artigo 508 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Art. 508. Se a duas ou mais pessoas couber o direito de retrato sobre o mesmo imóvel, e só uma o exercer, poderá o comprador intimar as outras para nele acordarem, prevalecendo o pacto em favor de quem haja efetuado o depósito, contanto que seja integral”. Além disso, se houver mais de um titular do direito de retrato e apenas exercer seu direito, o comprador pode chamar os outros titulares para anuir com o contrato. Conforme aponta Alves (1987, p. 180), é importante ressaltar ainda que “no sistema jurídico brasileiro, o direito de retrato pode ser empenhado, arrestado, penhorado e executado (adjudicado ou remido), e dado em pagamento”. 3.2 Venda sujeita à prova e sujeita ao contentamento do comprador A venda sujeita ao contentamento do comprador constitui pacto adjeto a contratos de compra e venda relativos, em geral, a gêneros alimentícios, bebidas finas e roupas sob medida. Nesse sentido, conforme o artigo 509 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Art. 509. A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado”. A venda não se reputará perfeita enquanto o adquirente não manifestar seu agrado. Desse modo, a tradição da coisa não transfere o domínio, limitando-se a transmitir a posse direta, visto que efetuada a venda sob condição suspensiva, conforme artigo 511 do Código Civil (BRASIL, 2002). Nas palavras de Gonçalves (2012, p. 251): O aperfeiçoamento do negócio depende exclusivamente do arbítrio, isto é, do gosto do comprador, não podendo o vendedor alegar que a recusa é fruto de capricho. Não pode este pretender discutir a manifestação de desagrado, nem requerer a realização de exame pericial ou postular em juízo, visto que a venda a contento é uma estipulação que favorece o comprador, subordinando o aperfeiçoamento do negócio à sua opinião pessoal e gosto. Não está em jogo a qualidade ou utilidade objetiva da coisa. Sendo assim, caso o comprador não se manifeste, aceitando a oferta, como requerido pela lei, o vendedor terá direito de intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente para que o faça em prazo improrrogável, conforme o artigo 512 do Código Civil (BRASIL, 2002). Importante ressaltar ainda que a manifestação da vontade do comprador não pode ser tácita. 3.3 Pacto de melhor comprador O pacto de melhor comprador existia desde o Código Civil de 1916. Desde essa época, se acreditava que tais cláusulas esepciais tinham pouca utilidade e que raramente eram encontradas nos contratos de compra e venda. Algumas delas tornaram-se obsoletas em razão da crescente utilização do compromisso de compra e venda nos negócios imobiliários e do surgimento do fenômeno inflacionário. Sendo assim, o Código Civil de 2002 não trouxe em sua redação o pacto de melhor comprador, nem como o pacto comissório. O pacto de melhor comprador constitui cláusula em que se estipula que a venda de bem imóvel ficará desfeita se, dentro de certo prazo, não superior a um ano, apresentar-se outro comprador, oferecendo maiores vantagens. A não existência da cláusula no Código Civil de 2002, se dá em função da pouca utilização que esta tinha, uma vez que dificilmente se encontrará comprador disposto a concordar a ver rescindido o negócio apenas porque aparece alguém disposto a oferecer um preço maior. 3.4 Preferência A preempção ou preferência é o pacto, adjeto à compra e venda, pelo qual o comprador de uma coisa, móvel ou imóvel, se obriga a oferecê-la ao vendedor, na hipótese de pretender futuramente vendê-la ou dá-la em pagamento, conforme o artigo 513 do Código Civil (BRASIL, 2002). Segundo Espíndola (2002), o direito atribuído ao vendedor de se substituir ao terceiro nos mesmos termos e condições em que este iria adquirir a coisa. A preferência se assemelha, assim, à retrovenda. A principal diferença entre as duas é o fato que, na preferência, o vendedor da coisa imóvel pode se reservar o direito de recobrá-la, independente da vontade do comprador, não se podendo falar em preferência por inexistir terceiro ou estranho com que se dispute a primazia. A preferência pode também versar sobre coisa móvel. Um exemplo clássico é a preferência do condomínio na aquisição de parte indivisa, segundo o artigo 504 do Código Civil (BRASIL, 2002); e a do inquilino quanto ao imóvel locado posto à venda (BRASIL, 1991). Estas são preferências legais, ou seja, que se encontram tipificadas no sistema jurídico brasileiro. Tem-se ainda as preferências convencionais, que são àquelas convencionadas pelas partes, que são reguladas do artigo 513 ao 520 do Código Civil. Conforme disposto no artigo 513, o prazo para o exercício da preempção, ou preferência, pode ser convencionado, não sendo superior a cento e oitenta dias no caso de coisamóvel e dois anos, se for imóvel (BRASIL, 2002). Vale ressaltar ainda que o pacto de preempção depende da existência de cláusula expressa, não se admitindo preferência tácita. Caberá perdas e danos, caso o comprador desrespeita a avença, não dando ciência ao vendendo do preço e das vantagens que lhe ofereceram pela coisa, respondendo solidariamente o adquirente que tiver procedido de má-fé, conforme o artigo 518 do Código Civil (BRASIL, 2002). Além disso, nos casos de expropriação, assim dispõe o artigo 519 sobre o tema: Artigo 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa. 3.5 Reserva de domínio Nos casos de reserva de domínio, caso seja a venda de coisa móvel, em que o vendedor tem a própria cosia vendida como garantia do recebimento do preço, somente a posse é transferida ao adquirente. Nesses casos, a propriedade permanece com o alienante e só passa àquele após o recebimento integral do preço. Nesse sentido, conforme o artigo 521 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Artigo 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago”. No caso do contrato com cláusula de reserva de domínio, não se tem a necessidade de um acordo adicional para que se altere a propriedade do bem, esta resolve-se automaticamente com o pagamento integral do preço, conforme o artigo 523 do Código Civil (BRASIL, 2002). Segundo Eduardo Espíndola (2002, p. 117), o “contrato de compra e venda dependente de uma condição suspensiva aquele em que o vendedor reserva para si o domínio da coisa vendida até o momento em que se verifique o pagamento da última prestação do preço”. É importante ressaltar que a cláusula de reserva de domínio deverá ser estipulada por escrito e, para que a cláusula seja válida contra terceiros, esta deverá ser registrada no domicílio do comprador, conforme o artigo 522 do Código Civil (BRASIL, 2002). Elementos que caracterizam a compra e venda com reserva de domínio: a compra e venda a crédito; compra e venda que recaia sobre objeto individuado, infungível; entrega do objeto individuado pelo vendedor ao comprador; pagamento do preço convencionado nas condições estipuladas, comumente em prestações; obrigação do vendedor de transferir o domínio ao comprador tão logo se complete o pagamento do preço. Na prática, a retrovenda é muitas vezes utilizada para fins ilícitos, para esconder negócios usurários, como tripla nulidade, simulação, objeto ilícito e pacto comissório real. UNIDADE 04 1. Troca ou permuta Entre as tribos primitiva, obtinha-se o que se queria, oferecendo a outrem aquilo que ele desejava. Acredita-se, desse modo, ter sido este o primeiro contrato surgido nos tempos primitivos. De acordo com Gonçalves (2012), o contrato de troca ou permuta perdeu, no entanto, sua importância historicamente com o surgimento da moeda, quando as coisas deixaram de ser permutadas por outras e passaram a ser trocadas por dinheiro, surgindo, assim, o contrato de compra e venda, que teve rápida ascensão e se tornou responsável pelo desenvolvimento das nações. 1.1 Conceito Troca ou permuta são palavras sinônimas que significam o contrato no qual as partes se obrigam a prestar uma coisa por outra, sem o uso do dinheiro (BEVILÁQUA, 1959). Nas palavras de Monteiro (2012, p. 129): “qualquer coisa ou objeto in commercium é suscetível de troca: moveis por móveis, móveis por imóveis, imóveis por imóveis, coisa por coisa, coisa por direito, direito por direito. Tudo o que pode ser vendido pode ser trocado”. 1.2 Características Como ocorre com a compra e venda, a troca é um negócio jurídico bilateral e oneroso. Tendo caráter apenas obrigacional, uma vez que gera para os permutantes a obrigação de transferir, um para o outro, a propriedade de determinada coisa. É também consensual, pois somente se aperfeiçoa com o acordo de vontades, independente da tradição, não podendo assim ser classificado como real. Além disso é um contrato comutativo: as prestações são certas e permitem às partes antever as vantagens e desvantagens que dele podem advir. 1.3 Elementos Conforme estabelece o Código Civil, em seu artigo 533, ao contrato de permuta ou troca, se aplicarão as mesmas disposições referentes à compra e venda (BRASIL, 2002). Os elementos serão semelhantes ao contrato de compra e venda, excetuado o preço, como já discutido. Sendo assim, tem-se como elementos integrantes o consentimento e a coisa. O consentimento pressupõe a capacidade das partes para contratar, devendo ainda ser livre e espontâneo, sob pena de anulabilidade. Será anulável ainda, se houver erro sobre o objeto principal da declaração ou sobre suas qualidades essenciais, conforme determina o artigo 139 do Código Civil (BRASIL, 2002). O artigo 481 do Código Civil faz referência a “certa coisa” como objeto da prestação do contrato de compra e venda. Já no Código de Defesa do Consumido, no artigo 3º, o termo “coisa” foi substituído por ‘produto’ no caso de compra e venda decorrente de relação de consumo (BRASIL, 1990). Além disso, o objeto da compra deve ser determinado ou determinável, admitindo-se a venda de coisa incerta, indicando pelo menos gênero e quantidade que serão determinados pela escolha, bem como venda alternativa, cuja indeterminação cessa com a concentração. Nesse sentido, tem-se que a coisa pode ser específica, quando o objeto que se vende é precisamente determinado; ou genérica quando é feita alusão ao gênero das coisas ou à sua quantidade, sem especificá-las. 1.4 Formação A primeira fase na formação de um contrato de troca ou permuta, da mesma forma que ocorre em todos os contratos, são as negociações preliminares. Nesta fase, as declarações de vontade das partes não são definitivas, ainda estão sujeitas a alterações, seguida da proposta. Por fim, tem-se a última fase da formação dos contratos, que é a aceitação, que, em sua forma pura e simples, é um ato de adesão, é “dizer sim”. Com a aceitação, se tem a formação de um contrato. 1.5 Efeitos e extinção Os principais efeitos da troca ou permuta são gerar obrigações recíprocas para os contratantes, gerando para os permutantes a obrigação de transferir, um para o outro, a propriedade de determinada coisa. Além disso, assim como nos contratos de compra e venda, se tem efeitos secundários, como no caso da responsabilidade por riscos envolvendo o objeto do contrato até o momento da tradição, e no que tange as despesas envolvendo a troca de propriedade. Já no caso da extinção, como os negócios jurídicos em geral, também seguem um ciclo vital: nascem do acordo de vontades, produzem os efeitos que lhes são próprios e extinguem-se (GONÇALVES, 2012). Seguindo o curso normal, o contrato se extingue pelo cumprimento, adimplemento, implemento, pagamento, solvência ou advento do termo final. No caso do contrato de troca ou permuta, a extinção se dá pela tradição da coisa permutada, que conclui o contrato. Porém, podem surgir situações em que o curso natural se altera, sendo o contrato extinto antes de sua conclusão, como é o caso da nulidade e anulabilidade. 1.6 Características especiais Quando comparado ao contrato de compra e venda, aplicam-se quase todas as modificações, exceto em dois casos, conforme determina o artigo 533 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Art. 533. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com as seguintes modificações: I – salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca; II – é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante.” Devemos observar com atenção a primeira parte do artigo: no caso da troca de propriedade, cada um dos contratantes irá pagar pela metade das despesas com o instrumentode troca, como poderia ocorrer no caso da alteração do registro de um imóvel pelos permutantes. 2. Doação O artigo 538 do Código Civil define como doação o contato em que uma pessoa, por liberdade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para outra. 2.1 Características A doação é contrato, em regra, gratuito, unilateral e formal ou solene. É um contrato gratuito, pois constitui uma liberalidade, não sendo imposto qualquer ônus ou encargo ao beneficiário, podendo vir a ser, no entanto, oneroso, se houver tal imposição. É ainda unilateral, porque cria obrigação para somente uma das partes. É formal, porque se aperfeiçoa com o acordo de vontades entre doador e donatário e a observância da forma escrita, independentemente da entrega da coisa. Mas a doação manual (de bens móveis de pequeno valor) é de natureza real, porque o seu aperfeiçoamento depende incontinenti da tradição destes, conforme o artigo 541 do Código Civil. 2.2 Elementos Os principais elementos da doação são: natureza contratual; intenção de fazer uma liberalidade (animus donandi); transferência de bens para o patrimônio do donatário e a aceitação deste. Conforme a concepção contratualista, tem-se como elemento necessário a capacidade ativa, requerida nos contratos em geral. Todavia, apresenta-se algumas especificidades. Conforme determina o artigo 544 do Código Civil, os ascendentes e descendentes não precisam da anuência dos demais, nem do cônjuge para doar a um descendente, importando adiantamento de legítima doação de pai a filho ou de um cônjuge a outro. Já se tratando de marido e mulher, estes podem fazer doações recíprocas, sendo podem inócuas no regime de comunhão universal (BRASIL, 2002). Em relação à capacidade passiva, ou seja, para receber a doação, conforme o Código Civil, entende-se que tem capacidade passiva todos aqueles que podem praticar os atos da vida civil, sejam pessoas naturais ou jurídicas de direito privado, excetuando o nascituro em função do caráter do contrato em questão. Além disso, pelo mesmo motivo aceita-se doação para absolutamente incapazes e prole eventual de determinado casal (BRASIL, 2002) Com relação a liberalidade, este é elemento essencial, porque tem o significado de ação desinteressada, característico de um contrato de doação. O indivíduo deve dar a outrem, sem estar obrigado, parte do patrimônio, ou seja, conferir uma vantagem patrimonial a outro, sem estar obrigado. Por fim, tem-se o último elemento: a transferência de bens ou vantagens. Aqui é importante salientar que a vantagem tem que ser de origem patrimonial, devendo ocorrer ainda um aumento de patrimônio à custa de outro. 2.3 Formação O contrato de doação segue o curso natural de formação dos contratos, com a negociação, proposta e aceitação. No entanto, cabem aqui algumas observações. A aceitação é indispensável para o aperfeiçoamento da doação e pode ser expressa, tácita, presumida ou ficta. Em geral, vem expressa no próprio instrumento, mas não é imprescindível que seja manifestada simultaneamente à doação, podendo ocorrer posteriormente. Pode ainda ser tácita quando revelada pelo comportamento do donatário. Esta modalidade ocorre quando o donatário não declara expressamente que aceita o imóvel que lhe foi doado, mas, por exemplo, recolhe a sisa devida, demonstrando, com isso, a sua adesão ao ato do doador; ou, embora não declare aceitar a doação de um veículo, passa a usá-lo e providencia a regularização da documentação, em seu nome. A aceitação pode ainda ser presumida pela lei nos seguintes casos: quando o doador fixa prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade, conforme o artigo 549 do Código Civil (BRASIL, 2002), atuando nesse caso como manifestação de vontade; quando doação é feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa e o casamento se realiza. A celebração gera a presunção de aceitação, não podendo ser arguida a sua falta, conforme o artigo 543 do Código Civil (BRASIL, 2002). No caso de doação ao incapaz, tem-se a aceitação ficta. Nesse caso, dispensa-se a aceitação, “desde que se trate de doação pura, se o donatário for absolutamente incapaz”, conforme o artigo 543 do Código Civil (BRASIL, 2002). 2.4 Espécies Existem diversos tipos de doação, dentre elas: a) Pura e simples: quando o doador não impõe nenhuma restrição ou encargo ao beneficiário. b) Onerosa ou modal: quando se impõe uma incumbência ao donatário, por exemplo, o doador se compromete a doar um terreno desde que o donatário construa ali uma escola. Neste caso, enquanto não se verificar a condição, o donatário não adquirirá o direito. c) Remuneratória: ccaso em que se tem a remuneração de serviços prestados, cujo pagamento não pode ser exigido pelo donatário. Conforme estabelece o artigo 540 do Código Civil, caso o valor pago exceda o dos serviços prestados, “não se perde o caráter de liberalidade”, isto é, de doação pura (BRASIL, 2002). d) Mista: decorre de benefício originado de contrato oneroso, no qual se tem a inserção de liberalidade em alguma modalidade diversa de contrato (exemplo: venda por preço vil). e) Em contemplação do merecimento do donatário: ocorre quando e menciona expressamente o motivo da liberalidade (ex. prêmio, bolsa de estudos, etc.) f) Feita ao nascituro: conforme preceitua o artigo 542 do Código Civil, esta espécie valerá sendo aceita pelo seu representante legal (BRASIL, 2002). g) Em forma de subvenção periódica: trata-se de uma pensão como favor pessoal ao donatário. Porém, conforme estabelece o artigo 545 do Código Civil, a doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este dispuser de outra coisa, mas não poderá ultrapassar a vida do donatário (BRASIL, 2002). h) Em contemplação de casamento futuro: como é possível concluir pelo nome, ocorre em função de núpcias próximas do donatário, com certa e determinada pessoa. Vale ressaltar que, conforme determina artigo 546 do Código Civil, só ficará sem efeito se o casamento não se realizar (BRASIL, 2002) i) Entre cônjuges: o artigo 544 do Código Civil estabelece que a doação de um cônjuge para outro importa adiantamento do que lhes cabe de herança (BRASIL, 2002). j) Em comum a mais de uma pessoa: quando é feita por várias pessoas e, conforme determina o artigo 551 do Código Civil, entende-se distribuída entre elas por igual (BRASIL, 2002). k) De ascendentes a descendentes: da mesma forma que com os cônjuges, conforme determina o artigo 544 do Código Civil, importa em adiantamento de herança (BRASIL, 2002). l) Inoficiosa: é a doação que excede o limites que o doador no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento, sendo nula a parte que excede, conforme artigo 549 do Código Civil (BRASIL, 2002). m) Com cláusula de retorno ou reversão: o artigo 547 do Código Civil determina que o doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário (BRASIL, 2002). n) Manual: doação verba de bens móveis de pequeno valor (BRASIL, 2002) 2.5 Efeitos e extinção Como qualquer contrato, o contrato de doação pode contaminar-se de todos os vícios do negócio jurídico, como erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores, sendo desfeita por ação anulatória, conforme determina o artigo 171 do Código Civil (BRASIL, 200). Pode também ser declarada nula como os demais contratos, se o agente for absolutamente incapaz, o objeto ilícito, impossível ou indeterminável, ou não for observada a forma prescrita no artigo 541 e no parágrafo único do artigo. 166 do Código Civil (BRASIL, 2002). O mesmo se dá (se ocorrerem vícios que lhe são peculiares ou exclusivos, como nas hipóteses de inoficiosidade, conforme o artigo 549 do Código Civil (BRASIL,2002), de compreensão de todos os bens, de ser feita pelo cônjuge adúltero ao seu cúmplice ou entre cônjuges, casados no regime da separação legal (GONÇALVES, 2012). Além disso, vale ressaltar que, conforme determina o artigo 555 do Código Civil, a doação pode serrevogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo (BRASIL, 2002). Nesse sentido: “Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações: I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II - se cometeu contra ele ofensa física; III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava. Art. 558. Pode ocorrer também a revogação quando o ofendido, nos casos do artigo anterior, for o cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão do doador.” 3. Locação De acordo com Gomes (2009), o conceito do contrato de locação surgiu com os romanos, que criaram inicialmente três tipos: o contrato de locação de coisas, locação de serviços e empreitada. Sob sua influência, muitos códigos no século XX mantiveram essa unidade conceitual. No sistema jurídico brasileiro, conforme exposto no Código Civil de 2002, o contrato de locação de serviços virou o contrato de trabalho; o contrato de prestação de serviços aplica-se somente para construções; e manteve-se o contrato de locação. 3.1 Conceito Conforme preceitua o artigo 565 do Código Civil, no contrato de locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição. As partes denominam-se locador, senhorio ou arrendador; e locatário, inquilino ou arrendatário (BRASIL, 2002). 3.2 Características É um contrato bilateral e sinalagmático por envolver prestações recíprocas e gerar obrigações para ambas as partes. É também um contrato oneroso, uma vez que a obrigação de uma das partes tem como equivalente a prestação da outra parte. É também consensual, tendo em vista que somente se aperfeiçoa com o acordo de vontades, não tendo, no entanto, caráter personalíssimo. É também não solene e comutativo, pois não envolve riscos e tem forma livre. Por fim, é de trato sucessivo ou execução continuada, porque se prolonga no tempo, as prestações são periódicas e não se extingue com o pagamento. 3.3 Elementos Os elementos do contrato de locação são os seguintes: Objeto O objeto pode ser coisa móvel ou imóvel. Tratando-se de bem móvel, este deve ser infungível. Caso seja fungível, será um contrato de mútuo, aceitando-se, no entanto, a locação de coisa móvel fungível, quando o seu uso tenha sido cedido por certo prazo e aluguel (ex. adornos de festa). Uma coisa pode ser alugada por inteiro ou em frações. Pode ser também dada em locação coisas comuns a diversas pessoas, desde que os condôminos resolvam aluga-la por deliberação da maioria, conforme o artigo 1.323 do Código Civil (BRASIL, 2002). Preço O preço é o segundo elemento essencial e, sem sua fixação, passa a ser um contrato de comodato e não locação. O preço será fixado pelas partes, mediante arbitramento administrativo ou judicial, ou ainda imposto por ato governamental, como no caso de táxis e prédios urbanos. O preço geralmente e fixado em dinheiro, a ser pago periodicamente, com contrato de execução prologada ou sucessiva. Todavia, nada impede que seja pago de uma só vez, por todo o período de locação. O preço deve ser também sério e real, correspondente ao valor da coisa e não ínfimo ou irrisório, o que descaracterizaria o contrato. Conforme determina o artigo 327 do Código Civil, no silêncio do contrato, a obrigação locatícia é quesível, efetuando-se o pagamento do aluguel e dos encargos da locação no domicilio do locatário (BRASIL, 2002). Consentimento Pressupõe a capacidade das partes para contratar, devendo ainda ser livre e espontâneo, sob pena de anulabilidade. Será anulável, ainda, se houver vício sobre o objeto principal da declaração ou sobre suas qualidades essenciais, conforme determina o artigo 139 do Código Civil. O consentimento pode ser tácito ou expresso; e o locatário tem de ser pessoa estranha à coisa locada. Não existe no Código Civil qualquer limite temporal para os contratos de locação. No entanto, conforme determina o artigo 571 do Código Civil, havendo prazo estipulado à duração do contrato, antes do vencimento, não poderá o locador reaver a coisa alugada, senão ressarcindo ao locatário as perdas e danos resultantes, nem o locatário devolvê-la ao locador, senão pagando, proporcionalmente, a multa prevista no contrato (BRASIL, 2002). 3.4 Formação Como ocorre na maioria dos contratos, o contrato de locação tem início com as negociações preliminares. Nesta fase, as declarações de vontade das partes não são definitivas, ainda estão sujeitas a alterações, seguida da proposta. Por fim, tem-se a última fase da formação dos contratos, que é a aceitação. Deste momento em diante, uma das partes se obrigará a ceder à outra parte a coisa acordada. 3.5 Espécies Dentre as diversas espécies de contrato de locação, devemos ressaltar algumas mais usuais. A primeira delas é o contrato de locação por prazo determinado ou indeterminado. No caso dos contratos de locação por prazo determinado, conforme determina o artigo 573 do Código Civil, cessa-se de pleno direito findo o prazo estipulado, constituindo-se em posse injusta, o locatário que não devolve a coisa ao término do contrato, conforme os artigos 1.216 a 1.220 do Código Civil (BRASIL, 2002). Já a locação por prazo indeterminado, exige prévia notificação do locatário e, sendo este notificado, conforme determina o artigo 575 do Código Civil, não restituir a coisa, pagará, enquanto a tiver em seu poder, o aluguel que o locador arbitrar, e responderá pelo dano que ela venha a sofrer, embora proveniente de caso fortuito (BRASIL, 2002). Além disso, tem-se a locação de móveis ou imóveis. Entre os imóveis, estes podem ser locação residencial, de temporada, empresarial ou ainda rural, a ser definido de acordo com a finalidade do contrato de locação. 3.6 Efeitos e extinção O contrato de locação, bem como todo os outros, geram obrigações para os contratantes. Nesse sentido, o artigo 569 do Código Civil (BRASIL, 2002) determina que: Já para o locador, o artigo 566 (BRASIL, 2002) estipula que: “Art. 569. O locatário é obrigado: I - a servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou presumidos, conforme a natureza dela e as circunstâncias, bem como tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse; II - a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o costume do lugar; III - a levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, que se pretendam fundadas em direito; IV - a restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, salvas as deteriorações naturais ao uso regular.” Já para o locador, o artigo 566 (BRASIL, 2002) estipula que: “Art. 566. O locador é obrigado: I - a entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças, em estado de servir ao uso a que se destina, e a mantê-la nesse estado, pelo tempo do contrato, salvo cláusula expressa em contrário; II - a garantir-lhe, durante o tempo do contrato, o uso pacífico da coisa.” É importante ressaltar ainda que, conforme determinado pelo artigo 577 do Código Civil, morrendo o locador ou o locatário, transfere-se aos seus herdeiros a locação por tempo determinado. O contrato de locação, sendo uma espécie de contrato, se terá extinto por vício, sendo este nulo ou anulável, ou pelo término do contrato, que pode ser por prazo determinado ou indeterminado, com já explicitado (BRASIL, 2002). 4. Mandato A denominação mandato deriva de manu datum, pois, na Roma Antiga, as partes se davam as mãos, simbolizando a aceitação do encargo e da promessa de fidelidade no cumprimento de sucumbência (GONÇALVES, 2012) . Já nos dias de hoje, o vocábulo mandato é utilizado para designar o poder conferido pelo mandante, dando origem a uma espécie de contrato. 4.1 Conceito Conforme determina o artigo 653 do Código Civil, opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses, sendo a procuração o seu principal instrumento. Nesse sentido,a pessoa que confere os poderes chama-se mandante e é o representado e a que os aceita diz-se mandatário e é representante daquela (BRASIL, 2002). 4.2 Características e elementos O contrato de mandato é personalíssimo, consensual, não solene, gratuito e unilateral. É um contrato personalíssimo, ou intuitu personae, porque se baseia na confiança, na presunção de lealdade e probidade do mandatário, podendo ser revogado ou renunciado quando aquela cessar e extinguindo-se pela morte de qualquer das partes. Celebra-se o contrato de mandato, em consideração a pessoa do mandatário, com base na relação de confiança. É ainda consensual, porque se aperfeiçoa pelo acordo de vontade entre as partes, não sendo necessária a entrega do objeto, como ocorre nos contratos reais. Além disso, é não solene, uma vez que é admitido na sua forma tácita e o verbal. Em sua grande maioria, trata-se de um contrato gratuito, pois o artigo 658 do Código Civil (BRASIL, 2002) diz presumir-se a gratuidade: “Art. 658. O mandato presume-se gratuito quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa”. Pode ser, no entanto, oneroso, no caso dos advogados. Por fim, trata-se de contrato unilateral, uma vez que cria obrigações somente para uma das partes, para o mandatário. É importante salientar que, conforme determina o artigo 654 do Código Civil, todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante. Vale ressaltar, no entanto, que conforme determina o artigo 666 do Código Civil, o maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser mandatário, mas o mandate não tem ação contra ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores (BRASIL, 2002). 4.3 Formação A formação do contrato de mandato, conforme determina o artigo 657 do Código Civil, deverá seguir o modelo exigido por lei para o ato a ser praticado, não se admitindo, assim, mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito. Dessa forma, a formação do contrato estará vinculada ao tipo de mandato a ser realizado. No caso das procurações simples, por exemplo, estas devem ser feitas por escrito, com a assinatura do mandante. 4.4 Espécies Conforme determina o artigo 656 do Código Civil, o mandato pode ser tácito, verbal ou escrito. O mais comum é o mandato escrito, tendo como instrumento a procuração, e os requisitos da procuração encontram-se no artigo 654 do Código Civil, que determina que o instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos. Sobre o tema ainda determina o artigo 657 do Código Civil, que a outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser praticado. Não se admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito (BRASIL, 2002). 4.5 Efeitos e extinção Como efeito, tem-se a criação de obrigações, neste caso, somente para uma das partes. Conforme determina o artigo 667 do Código Civil, o mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente (BRASIL, 2002). Além disso, deve ainda o mandatário dar contas de sua gerencia ao mandante (artigo 668), e concluir o negócio já começado (artigo 674) (BRASIL, 2002). A extinção do mandato é regulada pelo artigo 682 (BRASIL, 2002) que determina que cessa o mandato nos casos: I - pela revogação ou pela renúncia; II - pela morte ou interdição de uma das partes; III - pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer; IV - pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio. O artigo 541 do Código Civil determina que é possível contrato verbal no caso de doação de pequeno valor. No entanto, como saber o que tem pequeno valor? O Enunciado 622 do artigo 541 determinou que para a análise, deverá ser considerado o patrimônio do doador como um todo (BRASIL, 2002).
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