Prévia do material em texto
ATIVIDADE FÍSICA NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA Bruno de Oliveira Pinheiro 2 2 ASPECTOS BIOLÓGICOS INFANTO-JUVENIS E FATORES A SEREM CONSIDERADOS NA PRÁTICA ESPORTIVA Conhecer os aspectos biológicos gerais da infância e da adolescência guiam o profissional de Educação Física desde o planejamento de treinos até a execução de um treinamento a longo prazo. Conhecer as características de crescimento e desenvolvimento é a base para o treinamento de sucesso, principalmente no que diz respeito ao esporte infanto-juvenil. Neste bloco, estudaremos os aspectos biológicos do desenvolvimento dos sistemas musculoesquelético e cardiorrespiratório e, como podemos avaliar o crescimento do indivíduo. 2.1 Aspectos biológicos infanto-juvenil: conceitos O desenvolvimento humano ocorre de modo complexo e envolve processos de crescimento e maturação que englobam a multiplicação das células, assim como mudanças no seu funcionamento e sua organização. Essas mudanças decorrem devido fatores biológicos e socioculturais, assim como da interação entre ambos. Na medida em que o ser humano se desenvolve, suas características genéticas interagem com o meio ambiente, e algumas delas são afetadas diretamente por este, ao passo que outras não. O indivíduo é formado como resultado desse processo. Cada indivíduo é único e cada um terá seu processo particular de desenvolvimento, contudo, são conhecidos alguns processos comuns pelos quais todos passam no decorrer da vida, ainda que em velocidade, intensidade e momentos específicos. Crianças e adolescentes apresentam o surto de crescimento em estatura, assim como a maturação sexual, em épocas diferentes (no que se refere à sua idade cronológica) e em ritmos distintos, o que leva à sua classificação como indivíduos que apresentam maturação precoce, normal ou tardia. Adolescentes com a mesma idade cronológica podem encontrar-se em diferentes estágios maturacionais, e esse fato poderá interferir no seu desempenho motor. 3 No processo de formação esportiva as categorias competitivas são determinadas pela idade cronológica, e dentro da mesma categoria encontram-se crianças pertencentes a diferentes fases do desenvolvimento. Daí a importância do conhecimento, por parte do treinador, acerca do processo individual de seus atletas, para não incorrer em erros de planejamento das cargas de treinamento, de sua avaliação do desempenho e da predição de desempenho futuro. Há de se considerar também a dificuldade de representar um indivíduo sem considerar as enormes diferenças entre as regiões do país. Como trabalhar com Treinamento na infância e na adolescência sem conhecer esses processos e sem saber determinar em qual fase de desenvolvimento o jovem atleta se encontra? Até que ponto o treinamento pode interferir no crescimento saudável e harmonioso? É improvável um planejamento adequado do treinamento a longo prazo (TLP) sem considerar essas questões, pois as respostas ao treinamento estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento biológico do jovem. Desde o momento da concepção, inicia-se um processo de multiplicação e divisão celular que denominamos crescimento. O termo “crescimento” refere-se ao aumento do tamanho do corpo, seja em número de células (hiperplasia) ou no tamanho delas (hipertrofia). O crescimento das diversas partes do corpo não acontece de forma linear, mas em diferentes momentos de pico. O crescimento tem uma fase muito intensa nas duas primeiras décadas de vida. Nesse período, o indivíduo desenvolve-se até chegar ao nível máximo de funcionamento dos órgãos e sistemas, o que chamamos de estágio maduro ou maturidade. O processo que leva o indivíduo ao estado de maturidade é a maturação, considerada o conjunto de mudanças biológicas que ocorrem no organismo do indivíduo desde a concepção até o mais alto grau de funcionamento de seus órgãos e sistemas. Portanto, “crescimento” refere-se às mudanças nos aspectos quantitativos e estruturais, enquanto “maturação” refere-se às mudanças nos aspectos qualitativos e funcionais do organismo. Até a segunda e terceira décadas de vida, esses processos promovem o desenvolvimento positivo do ser humano, ou seja, mudanças para uma estrutura maior e melhor funcionamento. 4 Crescimento e maturação atingem seu auge em certo período de vida do ser humano, e após esse período inicia-se um processo de declínio dessas funções, em que as células deixam de ter a mesma capacidade de se multiplicar e os sistemas orgânicos perdem em eficiência. O desenvolvimento humano é um processo que tem início no momento da concepção e termina com a morte. É, portanto, um processo permanente. São mudanças no aspecto qualitativo que acontecem tanto de modo positivo, ou seja, em direção à melhoria do funcionamento do organismo, como de modo negativo, ou seja, com a perda da eficiência. O processo de desenvolvimento implica mudanças sob vários aspectos: físicos, motores, cognitivos e psicossociais. O processo de desenvolvimento engloba o crescimento e a maturação, que ocorrem simultaneamente e são extremamente inter-relacionados, embora não obedeça a mesma intensidade e velocidade de mudanças em todos os indivíduos. A interação desses processos com o meio ambiente, incluindo a prática de atividade física e esporte, forma o indivíduo nos seus aspectos físicos, motores, psicológicos, culturais e sociais. Até mesmo antes do nascimento o indivíduo sofre as influências do meio ambiente. Os cuidados pré-natais e a nutrição da mãe durante a gestação, por exemplo, são fatores decisivos para a saúde do bebê. O fumo, o álcool e o consumo de outras substâncias tóxicas afetam seriamente e podem comprometer definitivamente a vida do indivíduo que está sendo gerado. As características genéticas do indivíduo estão presentes em seu DNA desde a concepção, porém, o meio ambiente pode interferir no seu desenvolvimento. A adolescência é considerada um fenômeno de natureza cultural e social, assim, a faixa etária considerada para esse período de desenvolvimento pode mudar, em virtude da evolução natural da sociedade. Atualmente, considera-se que a adolescência engloba o período etário entre 10 e 19 anos. Já a puberdade é um evento biológico inevitável, que ocorre na vida de todo ser humano, e levá-o à capacidade de se reproduzir. Nesse período, desenvolvem-se os caracteres sexuais primários (órgãos sexuais) e secundários (mamas nas meninas, mudança na voz dos meninos etc.). As estruturas funcionais 5 responsáveis por esse processo são os hormônios sexuais, que passam a ser secretados em maior quantidade. É na puberdade que ocorre o segundo surto de crescimento, o primeiro ocorre no primeiro ano de vida. A adolescência e a puberdade são fenômenos relacionados; a adolescência tem início com as mudanças biológicas relativas à puberdade, porém sofre influências do meio cultural e social em que a pessoa vive. A idade de início da puberdade varia de indivíduo para indivíduo e tem forte influência genética. A idade cronológica refere-se à idade do indivíduo contada em anos, meses e dias, tempo de vida desde o nascimento até um momento considerado. A idade biológica, em contrapartida, corresponde às características de maturação biológica, sob o ponto de vista sexual, dentário ósseo, de massa e de estatura corporal. Uma vez que a puberdade não ocorre para todos na mesma idade cronológica, ela é representada, sob o ponto de vista maturacional, pela idade biológica. Pode haver uma diferença de até três anos, em média, entre a idade biológica e cronológica. Na prática, é possível que haja, dentro de uma mesma categoria esportiva de competição, cuja idade cronológica é de 14 anos, jovens com idade biológica variando de 11 a 17 anos, ou seja, em condições de desempenho muito variadas. 2.2 Crescimento e desenvolvimentodo sistema musculo esquelético 2.2.1 Crescimento em estatura e desenvolvimento do sistema ósseo As primeiras células ósseas aparecem na oitava semana de vida. Os ossos, que surgem em forma de tecido cartilaginoso, aceleram seu processo de crescimento longitudinal e transversal. O crescimento longitudinal dos ossos longos ocorre a partir das placas epifisárias e epífises ósseas (Figura 1), extremidades cartilaginosas que são responsáveis por produzir e sedimentar o tecido ósseo. Quando a cartilagem deixa de ser produzida, o crescimento ósseo termina e ocorre a fusão ou o fechamento das cartilagens de crescimento, com a união entre epífise e diáfise. O término do crescimento em estatura dá-se no momento que as placas de crescimento (epífises ósseas) não apresentam mais 6 tecido cartilaginosos, ou seja, a ossificação está completa. O crescimento ósseo em espessura ocorre paralelamente, com o aumento da densidade óssea. Figura 2.1 – Raio X de membro inferior, destacando as epífises e placas epifisárias (Fonte: O próprio autor). O sistema endócrino está entre os fatores que afetam diretamente o crescimento. Os principais feitos no crescimento são causados pelos hormônios da tireoide, hormônio de crescimento e hormônios sexuais. Os hormônios da tireoide auxiliam a ação de outros hormônios responsáveis pelo crescimento e pela síntese proteica, além de serem muito importantes no desenvolvimento cerebral. O grau de maturação esquelética (estágio de maturação do sistema ósseo) pode ser avaliado por meio do cálculo da idade óssea. Estímulos como atividade física atuam no sistema ósseo como fatores que favorecem a mineralização, aumentando a densidade óssea. Os primeiros dois anos de vida apresentam um desenvolvimento extremamente acelerado, jamais repetido em outro momento da vida e conhecido como o primeiro surto de crescimento. O segundo ocorre na puberdade e é chamado de estirão da puberdade, no qual a velocidade de crescimento em estatura aumenta, mais cedo para as meninas e depois para os meninos. 7 A estatura final do indivíduo é determinada predominantemente pela herança genética. Casos extremos de deficiência no crescimento normal podem ser tratados por médicos especializados. A estatura pode ser afetada negativamente por fatores ambientais, ou seja, é possível que algumas intercorrências durante a fase de crescimento atuem para não permitir que a estatura final determinada geneticamente seja alcançada; por exemplo: doenças, desnutrição, falta de atividade física, condições de sono inadequadas etc. É sabido que o exercício estimula a produção e a liberação do hormônio de crescimento com maior eficiência em crianças do que em adultos. O exercício físico promove maior densidade óssea, porém, sabe-se que nem a prática de exercícios nem outro fator externo podem fazer que o indivíduo cresça em estatura além do que está determinado geneticamente, exceto por meio de cirurgias radicais de alongamento dos ossos. No entanto, é discutido se o excesso de exercício poderia ser prejudicial ao crescimento, antecipando o fechamento das epífises de crescimento quando o estímulo é extremamente intenso. Sabemos que o treinamento excessivo pode trazer diversos problemas. Nas mulheres pode ocorrer a Tríade da Mulher Atleta, com distúrbios alimentares, amenorreia e osteoporose. O distúrbio mais comum é a amenorreia (suspensão da menstruação), causada pela diminuição da produção de estrógeno e progesterona, hormônios femininos que possuem ação direta na formação de tecido ósseo e no aumento da densidade óssea. Foram relatados casos de atletas de diversas modalidades com problemas de osteopenia e osteoporose em idades precoces, bem como aumento da incidência de fraturas por estresse. 2.2.2 Crescimento e desenvolvimento em tecido muscular O crescimento do tecido muscular esquelético se dá com a predominância da hiperplasia no período pré-natal e hipertrofia no pós-natal, que parece ocorrer em razão do aumento do número de núcleos das fibras musculares. As fibras musculares aparecem por volta da trigésima semana de gestação e apresentam, na sua distribuição entre os tipos I e II, um forte componente genético. Ao nascer o bebê conta com cerca de 40% das fibras musculares do tipo I (de contração lenta), 45% de fibras do tipo I subdivididas em IIA e IIB (de contração rápida) e 15% de fibras ainda não diferenciadas, IIC. A partir 8 do primeiro ano de vida a proporção está próxima do adulto, que tem apenas cerca de 5% de fibras IIC. De modo geral, a massa muscular, acompanhada pela força muscular, aumenta com a idade em ambos os sexos, com valores pouco acima para os meninos, no entanto, na puberdade, a produção de testosterona faz com que as curvas se distanciem, com um aumento muito maior nos meninos e uma estabilização precoce nas meninas. Esse aumento da massa muscular gera um aumento da força muscular normal desse período. Vale lembrar que o aumento da massa muscular leva a um aumento de força, mas esse não é necessariamente um fator imprescindível ao aumento da força. É possível aumentar a força por meio de outros mecanismos como a coordenação motora intermuscular e a intramuscular, sem que aumente o número de células musculares. 2.2.2.1 Somatótipo Somatótipo é a configuração morfológica que caracteriza o tipo físico do indivíduo em um dado instante. Quanto ao somatótipo, o indivíduo pode ser classificado nos tipos físicos caracterizados por endomorfo (endomorfia), mesomorfo (mesomorfia) e ectomorfo (ectomorfia). Dentro da antropometria, esse pode ser um instrumento utilizado para classificar pessoas e atletas conforme o tipo de atividade ou função que desempenham em uma determinada modalidade de esportiva. Para análise do somatótipo por meio de medidas antropométricas utilizam-se medidas de estatura, peso corporal, espessuras das dobras cutâneas tricipital, subescapular, supra ilíaca, panturrilha medial, diâmetros, ósseos de fêmur, úmero, circunferências corrigidas de braço e de panturrilha. Dessa maneira, quanto aos componentes de endomorfia, mesomorfia e ectomorfia, cabe destacar: • O componente de endomorfia (gordura), que pode variar desde magreza até excesso relativo de gordura; • O componente de mesomorfia (muscularidade), indicador do desenvolvimento muscular ajustado com determinada estatura. Assim, o componente de mesomorfia é uma expressão da massa magra relativa à estatura; 9 • O componente de ectomorfia (linearidade), indicador da linearidade relativa do corpo. Quanto à estabilidade do somatótipo, durante o processo de crescimento e desenvolvimento, há pequenas diferenças na variação do somatótipo de idade para idade. Particularmente em relação ao período da adolescência, ocorrem muitos questionamentos a respeito da estabilidade do somatótipo. Esses questionamentos residem nas mudanças significativas observadas nas dimensões corporais e na composição corporal de adolescentes, alterando a configuração do corpo de meninos e meninas, ou seja, o somatótipo até a fase adulta pode ser modificado. 2.2.3 Crescimento e desenvolvimento do sistema cardiorrespiratório O crescimento do sistema cardiorrespiratório acompanha o crescimento do corpo de maneira geral. Na puberdade, com o estirão do crescimento, temos também um crescimento significativo do tamanho do coração, que tem nessa fase um aumento de cerca de 50% do seu tamanho e quase dobra de peso acompanhando o aumento da massa corporal. Paralelamente a esse crescimento do músculo cardíaco ocorre um aumento do calibre e do comprimento dos vasos sanguíneos. Esses fatores, em conjunto, são responsáveis por maior eficiência no transporte de oxigênio e nutrientes, que acarreta maior capacidade de esforço. Com maior eficiência do sistema como um todo, o número de batimentos cardíacos diminuiao longo do tempo. A frequência cardíaca diminui cerca de 50% desde o nascimento até a idade adulta. O treinamento também interfere na diminuição da frequência cardíaca. O crescimento dos pulmões também acompanha o crescimento na adolescência. As variáveis relativas ao volume e a capacidade respiratória, em ambos os sexos, estão mais relacionadas ao aumento da estatura do que ao da idade cronológica e são proporcionais ao tamanho corporal, lembrando que na adolescência há uma elevação delas, com valores levemente mais altos para os rapazes. Jovens atletas que treinam modalidades de resistência podem apresentar maior tamanho de coração e pulmões, assim como índices de VO2max e hemoglobina total 10 mais elevados que nos atletas da mesma idade, porém, tanto o consumo de oxigênio quanto o de hemoglobina voltam ao índice normal com o término do treinamento. 2.3 Avaliação do processo de crescimento e desenvolvimento 2.3.1 Avaliação do crescimento Em Educação Física e Esporte, as medidas antropométricas mais comumente utilizadas para avaliar o crescimento são, além da estatura e do peso, o comprimento dos membros inferiores, a altura tronco-cefálica, a envergadura, os perímetros e os diâmetros de úmero e fêmur. Em modalidades especificas, algumas medidas antropométricas são consideradas importantes para um bom desempenho, como na Natação, nessa modalidade são importantes a largura de ombros e quadris, e o comprimento das mãos e dos pés; no Voleibol é observada a estatura, a envergadura e o comprimento de membros inferiores. Outra forma de avaliar o crescimento de maneira direta é a determinação da idade óssea. Exames de raios-x mostram também se ainda há cartilagem de crescimento nas epífises ósseas, e tabelas elaboradas permitem estimar, dessa forma, quantos centímetros o indivíduo crescerá. No período chamado de segunda e terceira infância, dos 2–3 anos aos 10–11 anos de idade, o crescimento passa por um processo de estabilização e, na puberdade, apresenta uma importante aceleração. Esse período de aceleração é conhecido como estirão, pico ou surto de crescimento em estatura. É importante que se acompanhe o crescimento da criança e do jovem, até mesmo por uma questão de saúde. No entanto, quando se trata de jovens atletas, é fundamental que esse acompanhamento seja realizado, pois interfere diretamente em seu desempenho. A OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2007, colocou à disposição, para monitorar o crescimento de crianças e jovens, tabelas e gráficos com curvas representativas dos valores de estatura, peso e IMC, de acordo com o sexo e a idade. Essas tabelas são aceitas no Brasil por especialistas da saúde em razão do cuidado metodológico com que foram construídas, considerando populações de diversos países, e por não possuirmos 11 estudos populacionais referentes a crianças brasileiras. Essas curvas são chamadas de curvas de referência, porque foram elaboradas mediante uma amostra ampla de crianças saudáveis e podem ser utilizadas para a avaliação do estado de crescimento. Os valores referenciais são representados por meio de várias curvas de percentis, que contêm a variabilidade existente na população. O percentil 50 representa a mediana (valor do meio, ou o valor central dentre todos os valores da amostra). O valor de estatura no percentil 50 significa que 50% das crianças em determinada idade estão acima da estatura e 50% estão abaixo dela. O acompanhamento regular do crescimento da criança poderá dar uma ideia de qual será sua estatura final na idade adulta, pois é normal que a criança permaneça sempre dentro da mesma faixa de percentil observada nos anos anteriores, ou seja, se a criança apresentou, em diversas medições anuais, valores de estatura próximos ao percentil 75, significa que 75% das crianças da mesma idade possuem estatura menor que a dela, e que ela tenderá a manter-se dentro desse percentil até o final do crescimento. Mudanças bruscas na curva de percentil deverão ser acompanhadas pelo médico. Conforme já mencionado, é a herança genética que vai determinar a estatura final do indivíduo. A OMS elaborou uma metodologia de pesquisa pela qual é possível estimar as curvas de crescimento de crianças brasileiras. Essas curvas estão representadas em valores de percentis ou em valores padronizados e podem ser acessadas por meio do website da organização. A velocidade de crescimento é determinada por quantos centímetros a criança cresce ao ano. É durante o estirão de crescimento da puberdade que se atinge o PVE (pico de velocidade de estatura). Existe grande associação entre o aumento de liberação do hormônio de crescimento e o PVE. Observando-se regularmente o aumento da estatura, é possível identificar o momento do estirão, quando a velocidade de crescimento aumenta. Meninos chegam a crescer em média 10,3 cm/ano, e meninas, 9 cm/ano nesse período. Tanto em meninos quanto em meninas, por característica da puberdade, aparecem os pelos pubianos, depois se inicia o estirão do crescimento e em seguida surgem os pelos axilares. Meninos atingem o PVE por volta de 14 anos, e meninas, por volta de l2 anos. 12 2.3.2 Avaliação da composição corporal e da massa muscular O professor de Educação Física/técnico esportivo pode acompanhar o desenvolvimento do jovem pelo Índice de Massa Corporal (IMC), no entanto, ao basear-se apenas no valor do IMC (massa corporal (kg)/estatura 2), pode ser induzido ao erro, pois a medida da massa corporal não é suficiente para diferenciar o peso proveniente da massa magra daquele proveniente da gordura corporal. Para a avaliação da massa corporal, ao considerar apenas o valor do peso, assim como no cálculo do IMC, não consideram a composição corporal, ou seja, quanto desse valor total corresponde à massa de gordura e à massa livre de gordura, logo, esse método não deve ser utilizado de modo isolado. Outros métodos procuram precisar separadamente os diversos componentes da composição corporal, como a pesagem hidrostática, a medida da espessura de dobras cutâneas, comparando os valores absolutos ou o somatório de dobras, o percentual de gordura corporal ou a impedância bioelétrica. Algumas dessas medidas, como a pesagem hidrostática e a medida de espessura de dobras cutâneas, exigem equipamentos sofisticados, adequados e aferidos, além de experiência por parte do avaliador. O método de impedância bioelétrica depende de cuidados rigorosos pré- avaliação e apresenta diferenças entre valores calculados quando aparelhos são conectados à extremidade inferior ou superior do corpo. Quando se opta por determinado método de cálculo da composição corporal é importante verificar se ele é adequado à população em relação à idade, ao sexo e às condições de treinamento. O acompanhamento desses parâmetros é essencial, pois sabe-se que o desempenho em algumas capacidades, sobretudo em movimentos que requerem o deslocamento do corpo no espaço, está ligado à quantidade de gordura corporal. Conclusão Conhecer e avaliar os processos de crescimento e desenvolvimento do jovem atleta é fundamental, não apenas para a obter melhores resultados em competições, mas também para prevenir problemas e lesões decorrentes de um planejamento mal 13 elaborado e contribuir para um desenvolvimento saudável do indivíduo para o resto da vida, torne-se ele um atleta de alto rendimento ou não. Dado que o desempenho em diversas capacidades motoras melhora de acordo com a evolução normal do processo de crescimento e de maturação, há dificuldade em avaliar isoladamente os efeitos do treinamento. Portanto, é preciso considerar todos os aspectos de maneira conjunta. É importante compreender que tanto em atletas como em não atletas o processo de maturação ocorre em épocas diferentes, e tem duração e intensidade individuais. Dessa forma,seria interessante que crianças de maturação tardia tivessem a oportunidade de participar dos processos de treinamento, pois, teoricamente, teriam algumas vantagens com relação à forma e ao tamanho do corpo sobre as demais, principalmente em algumas modalidades. Infelizmente, na maioria do clubes que trabalham com treinamento e competição na infância e na adolescência, há uma busca por resultados desde as categorias menores, o que induz os treinadores, às vezes, a selecionarem um jovem de maturação precoce por estar, no momento da seleção, mais adiantado em tamanho e condições de força, em detrimento daquele que é mais tardio e, portanto, vai demorar um pouco mais para alcançar resultados. Os trabalhos de formação de atletas a longo prazo, que são raros, devem se preocupar em manter os jovens no processo de treinamento por mais tempo antes de selecionar indivíduos de maneira precoce e excluir possíveis talentos no futuro. Deve-se considerar, sobretudo, que a criança ou jovem atleta, antes de tudo, é um indivíduo em processo de formação não só física e motora, mas também do seu caráter, personalidade e autoconceito, e merece toda a atenção nesse sentido, com um trabalho competente, digno e ético acima de tudo. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES ARRUDA, M; PORTELLA, D. L. Maturação biológica: uma abordagem para treinamento esportivo em jovens atletas. São Paulo: CREF4, 2018. E-book. BÖHME, M. T. S. Esporte Infanto-Juvenil. São Paulo: Phorte, 2011. DANTE, D. R. J. et. al. Esporte e atividade física na infância e na adolescência: Uma abordagem multidisciplinar. 2ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 2011. E-book. 14 ROWLAND, T. W. Fisiologia do Exercício na Criança. São Paulo: 2008. E-book. SAMULSKI, D; MENZEL, H; PRADO, L. S. (eds.). Treinamento Esportivo. São Paulo: 2013. E-book. SAIBA MAIS OMS: Índice de massa corporal e estatura de crescimento por sexo e idade. Disponível em: < https://bit.ly/2WVSoUq>. Acesso em: abr. 2020.