Buscar

5-Estudos e Reflexões correlatas-Atividade Física na Infância e adolescência

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ATIVIDADE FÍSICA NA INFÂNCIA E 
NA ADOLESCÊNCIA 
Bruno de Oliveira Pinheiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
5 ESTUDOS E REFLEXÕES CORRELATAS 
Diversos fatores interferem diretamente na prática esportiva infanto-juvenil e no 
planejamento dos técnicos. Neste bloco, faremos algumas reflexões sobre talento 
esportivo, os impactos e riscos da especialização precoce em crianças e adolescentes, 
fatores que levam à evasão esportiva e os efeitos da idade relativa em jovens 
esportistas. Essas reflexões nos auxiliarão a compreender esses cenários para que você 
possa futuramente tomar decisões diante dos desafios da profissão. 
 
5.1 Talento Esportivo: reflexões e perspectivas 
Segundo Guenther (2000, p. 20), costuma-se empregar a palavra talento “para 
conceituar pessoas com atributos ou características admiradas e valorizadas pela cultura 
e pelo momento histórico”. 
Considera-se talento esportivo o indivíduo que através de suas condições herdadas e 
adquiridas, possui uma aptidão especial para o desempenho esportivo, acima da 
população em geral (BÖHME, 2002). 
Na literatura utilizam-se os termos detecção, seleção e promoção do talento esportivo. 
Durante esses processos os indivíduos seriam: 
• Identificados como talentos; 
• Submetidos ao treinamento sistemático; 
• Avaliados em cada uma das fases que acompanham a performance esportiva e 
a evolução biológica; 
• Promovidos ao nível esportivo condizente com suas características inatas e/ou 
com o efeito do treinamento a longo prazo. 
Um conjunto de características que podem: 
• Ter mais ou menos importância nas diferentes fases de formação; 
• Evoluir em estágios diferentes para pessoas diferentes; 
• Ser mais ou menos suscetíveis ao treinamento; 
• Que podem adaptar-se ou não em razão de eventos biológicos e psicológicos; 
• Que podem ser compensadas rumo a um resultado ideal. 
 
 
 
3 
 
A formação de um talento esportivo pode ser mensurada de maneira imediatista ou 
através de um processo contínuo. A primeira é conduzida através da elaboração de 
critérios considerando a modalidade esportiva, a performance desejada e a idade 
biológica. A segunda através da observação da performance a longo prazo. 
 
5.1.1 Visão a longo prazo: ambiente 
Bloom (1985) investigou o talento em diversos domínios como a arte, a ciência e o 
esporte. Seu estudo foi realizado com delineamento longitudinal e contou com 86 
homens e 36 mulheres que atingiram a máxima performance até os 35 anos de idade. 
Com relação ao esporte, foram selecionados nadadores olímpicos e campeões de tênis. 
Bloom verificou que nem todos os talentosos foram identificados em idades precoces, 
assim como os que foram identificados em idades precoces também não chegaram à 
alta performance em sua totalidade. Ele infere que realizar o treinamento 
precocemente não é um indício de alta performance no futuro, mas o processo contínuo 
de desenvolvimento é determinante na carreira de um jovem talento. 
• Csikszentmihalyi, Rathunde e Whalen (1997) 
Estes pesquisadores realizaram estudos em escolas de segundo grau durante quatro 
anos para entender melhor quais são as experiências contínuas que levaram aqueles 
jovens a se tornarem talentos. Os autores definiram a natureza do talento como 
desenvolvimentista, ou seja, ao invés de características genéticas imutáveis, são 
processos e desdobramentos que levam muitos anos e podem ser alterados pelas 
experiências que formam talentos. 
• Ericsson, Krampe e Tesch-Römer (1993) 
Estes autores afirmam que as características inatas, identificadas de forma prematura, 
não são determinantes na carreira de um futuro talento, mas alguns fatores como as 
condições do ambiente, o suporte familiar, a motivação do praticante e a pré-disposição 
para a prática, associados à prática deliberada, são fundamentais para a promoção de 
um talento. 
 
 
 
 
 
 
4 
 
5.1.2 A genética 
Por que algumas pessoas possuem maior habilidade motora para determinados 
esportes do que outras? Por que um mesmo treino pode terdiferentes resultados em 
diferentes atletas?. 
Alguns avanços em relação à resposta para essas perguntas já foram feitos. Descobriu-
se que fenótipos como altura, peso, adiposidade, força muscular, velocidade e potência 
aeróbia são dependentes da constituição genética. 
Atualmente, estudos com gêmeos têm demonstrado que um programa de treinamento 
(fenótipo) não depende somente do genótipo e do ambiente, mas também da 
sensibilidade do genótipo ao ambiente (treinamento). 
Segundo Bouchard, Malina e Pérusse (1997), a resposta ao treinamento pode ser alta 
ou baixa e precoce ou tardia. 
 
5.1.3 Critérios do desempenho esportivo 
• Características para o alto desempenho esportivo; 
• Maior número de características possíveis; 
• Nível de desempenho esportivo; 
• Idade biológica; 
• Modalidade esportiva. 
 
5.1.4 Previsão de um alto desempenho esportivo 
A utilização de um perfil como prognóstico de desempenho esportivo é refutada por 
alguns autores: 
• Guenther (2000) 
O pesquisador utilizou estes exemplos para refutar a utilização de um perfil como 
prognóstico de desempenho: 
▪ Einstein começou a falar com 4 anos e aprendeu a ler com 7; 
▪ Newton era atrasado na escola primária; 
▪ Pasteur era considerado medíocre em química quando aluno do Royal 
College. 
 
 
 
 
5 
 
• Maia (1996) 
Seus estudos realizados com atletas de alto nível apresentaram baixa correlação na 
variável estudada longitudinalmente. 
A maioria dos estudos visou à elaboração de um perfil utilizando poucas variáveis. 
Poucos artigos utilizaram análises mais complexas e eficientes, como determinante, 
análise fatorial e correlação canônica. 
 
• Schmidt (1992) 
Um praticante pode apresentar um padrão de capacidades fundamentais necessárias 
para o desempenho eficiente em nível de iniciante, mas isso não indicará, 
necessariamente, que ele terá a mesma eficiência em nível especializado. O praticante 
pode não possuir um padrão necessário para o nível de iniciante, mas pode possuir um 
padrão de capacidades fundamentais que somente seriam utilizadas em nível 
especializado. 
 
• Régnier et al. (1993) 
O fenômeno da compensação é um dos principais responsáveis pela dificuldade de um 
prognóstico futuro. 
 
Fonte: O autor. 
 
 
 
6 
 
5.1.5 Macroestrutura esportiva 
Os sistemas de macroestruturas esportivas são: 
a) Sistemático estatal 
O estado é responsável direto pela monitoração dos atletas de alto nível (Cuba, China, 
Alemanha e antiga URSS). 
b) Sistemático não estatal 
As universidades e as empresas são responsáveis pela estrutura esportiva (Estados 
Unidos e Japão). 
c) Assistemático 
O estado, as empresas, os clubes e a própria família dividem a responsabilidade de 
subsidiar a estrutura esportiva para atletas de alto nível (Brasil). 
d) Bouchard, Malina e Pérusse (1997) 
No início do processo (base da pirâmide), uma grande quantidade de crianças tem a 
oportunidade de participar de atividades esportivas gerais. Os praticantes que 
apresentarem motivação e performance condizentes com os próximos estágios da 
pirâmide, começam a especializar-se em uma modalidade esportiva e dão sequência ao 
processo podendo alcançar o alto nível (pico da pirâmide). 
 
5.1.6 Especialização precoce 
A especialização desportiva precoce é a atividade esportiva que se caracteriza pela alta 
dedicação aos treinamentos, desenvolvida antes da puberdade e caracterizada, 
principalmente, por ter uma finalidade eminentemente competitiva (NETO; VOSER, 
2001). 
Em sua tese doutoral Esporte e Saúde (2001), Vargas Neto faz um apelo às autoridades 
políticas e esportivas no sentido de uma legislação própria que regule e controle, 
basicamente, o número máximo de horas de treinamento de crianças, a intensidade e 
os objetivos deste mesmo treinamento, e a formação e qualidade do ensino da pessoa 
responsável por estas atividades. 
A iniciação desportiva precocecaracteriza-se por cargas de treino muito intensas, que 
promovem rápido desenvolvimento da prestação desportiva nas fases iniciais, mas que 
 
 
 
7 
 
levam a um esgotamento prematuro da capacidade de rendimento, promovendo aquilo 
que se designa por barreiras de desenvolvimento (BRASIL, 2004). 
Werneck (1991) acredita que a especialização no tempo certo é inevitável no esporte de 
alto nível. Porém, afirma que ela deve ocorrer o mais tarde possível e com base em uma 
estrutura de treinamento adequada ao desenvolvimento. Deve ainda levar em 
consideração o desenvolvimento individual que contém um aumento regular da carga 
nos moldes de uma formação básica múltipla e, principalmente, que garanta o 
desdobramento ideal das capacidades coordenativas gerais. 
Do ponto de vista de Ferreira (2001), a competição desportiva não é má nem boa e não 
constitui necessariamente uma experiência a ser imposta à criança. O esporte para 
crianças deverá respeitar o contexto próprio para sua idade, assumindo um papel 
formativo e fora de qualquer manipulação exercida pelos adultos, e ainda deverá 
promover a existência de uma concepção lúdica, respeitando seu desenvolvimento 
físico, mental, ético e social. 
 
5.1.7 Os riscos envolvidos 
Os riscos envolvidos no treinamento precoce incluem: 
A. Riscos físicos: Problemas ósseos, cardíacos, musculares e articulares. 
Se cartilagem, ossos, tendões e ligamentos forem exigidos além de sua capacidade, 
então, podem ocorrer manifestações de desgaste precoce nestas áreas. 
Através da superexigência funcional ocorre uma redução da amplitude da articulação e 
sobrecarga dos respectivos segmentos articulares, o que favorece prematuramente as 
alterações artrósicas, podendo prejudicar o processo de treinamento. 
B. Riscos psicológicos 
Algumas das consequências negativas que são discutidas por estudiosos da área são: 
• Estresse; 
• Nível de ansiedade; 
• Frustrações; 
• “Infância não vivida”. 
 
 
 
 
8 
 
Cargas unilaterais, ou monótonas, e muito intensas, podem levar rapidamente à 
saturação psicológica (Síndrome da Saturação Esportiva). 
O trabalho muscular intenso e excessivo, associado a sobrecarga emocional que a 
competição provoca, pode ocasionar perturbações no desenvolvimento normal da 
criança, principalmente no ritmo do crescimento em altura e no desenvolvimento 
somático, funcional e intelectual. 
A “Síndrome da Saturação Esportiva" é caracterizada, principalmente, por apatia, 
indiferença ou até aversão pela prática esportiva ou pelos fatos a ela relacionados, 
especialmente nos momentos em que deveriam ser praticados (PINI, 1978). 
C. Consequências psicossomáticas 
Dificuldades de aprendizado, memorização e consequente desinteresse pela vida 
escolar são algumas das consequências e riscos psicossomáticos presentes no 
treinamento precoce. 
 
Portanto, afinal como evitar a especialização precoce? A seguir foram elencadas 
algumas recomendações para evitar esse tipo de treinamento danoso ao 
desenvolvimento dos atletas. 
1. Durante cargas elevadas nos treinamentos, aumente os tempos de recuperação; 
2. Priorizar o desenvolvimento da resistência aeróbia ao invés de realizar o 
treinamento da resistência anaeróbia; 
3. Evitar situações nas quais a respiração é suspensa (apneias prolongadas); 
4. No treinamento de força, evitar cargas elevadas que incidam sobre a coluna; 
5. No treinamento de força, aumentar o trabalho de flexibilidade; 
6. Nas tarefas que exigem alta coordenação motora, considerar a limitação do 
processamento de informação nas crianças; 
7. Priorizar os movimentos e as habilidades naturais em lugar dos exercícios 
elaborados; 
8. Dar valor à variedade em lugar de estereótipos de gestos técnicos; 
9. Para melhorar a motivação, valorizar o aspecto lúdico das atividades; e, 
10. Efetuar o treinamento em grupo. 
 
 
 
 
9 
 
Os resultados precoces podem ocorrer devido: 
• Precocidade biológica dos indivíduos; 
• Sensibilidade ao treinamento; 
 
 
5.1.9 Evasão esportiva 
 
O ABANDONO DA PRÁTICA – A QUESTÃO DA EVASÃO ESPORTIVA 
Tabela 5.1 – Características da criança com risco de estresse durante uma 
competição 
Características pessoais Características da situação 
1. Predisposição à ansiedade (uma 
característica de personalidade que 
predispõe a criança a ver a competição e 
a avaliação social como uma ameaça). 
2. Baixa autoestima. 
3. Personalidade perfeccionista. 
4. Baixa expectativa quanto à 
performance da equipe. 
5. Baixa expectativa quanto à 
própria performance. 
6. Preocupação frequente com o insucesso. 
7. Preocupação frequente com a 
expectativa dos adultos e a avaliação 
social dos outros. 
8. Pequeno sentimento de diversão. 
9. Insatisfação com seu desempenho, 
independentemente da vitória ou 
derrota. 
10. Preocupação com a importância 
dada pelos pais quanto à participação 
esportiva. 
11. Ter como foco principal a 
possibilidade de vitória ou derrota, e não 
o desenvolvimento com a atividade. 
 
 
 
 
 
1. Derrota ou vitória – crianças que 
sofrem mais estresse após a derrota 
que após a vitória. 
 
2. Importância do evento – quanto 
maior a importância da competição, 
maior o estado de ansiedade do 
atleta. 
 
3. Tipo de esporte – esportes 
individuais são mais estressantes que 
os esportes coletivos. 
 
Fonte: O autor. 
A criança ou o adolescente que não consegue superar as barreiras de uma vida esportiva 
e abandonam a trajetória nunca estariam preparados para chegar ao alto nível. 
 
 
 
10 
 
O rendimento esportivo é resultado do treinamento especializado que se inicia 
precocemente e está sujeito a uma série de superações. 
Esse fato pode servir de justificativa para aqueles que conseguiram alcançar o alto nível 
(menos de 7% chegam a esse nível). Contudo, tanto para os que se tornaram atletas 
como para os que sucumbiram perante as dificuldades, sobrarão lesões e frustrações. 
 
5.1.10 Principais motivos para o abandono da prática esportiva 
Os principais motivos para o abandono da prática esportiva são: 
• Falta de capacidade; 
• Falta de progresso nos resultados; 
• Pressão nos treinos; 
• Pressão nas competições (técnicos, pais, público); 
• Excesso de treinos e competições; 
• Conflito com o técnico (preferências ou exigências); 
• Lesões; 
• Falta de condições financeiras; 
• Ausência de divertimento (ausência de características lúdicas); 
• Busca de outras atividades. 
 
Segundo Santos (2008): 
Num estudo sobre o Abandono e as suas motivações realizado por Oliveira et 
al. (2007) verificou-se que 42% dos indivíduos abandonavam a natação nos 
escalões mais jovens (juvenis), em júnior 33% e somente 8% em seniores, 
perfazendo uma média de 16 anos de idade para o abandono da modalidade. 
As motivações para esse abandono seriam os resultados negativos, a falta de 
apoio, as lesões, a falta de conciliação dos estudos com o desporto, a rotina 
dos treinos e a falta de integração social. A consecução dos resultados 
desportivos sendo um dos fatores de maior influência para o abandono 
precoce, verifica-se que grande parte dos melhores desempenhos 
desportivos foram atingidos enquanto nadadores infantis. 
Num estudo realizado com jovens em França verificou-se que as causas de 
abandono prematuro da prática da Natação Desportiva (BOULGAKOVA, 1990) 
seriam principalmente a estagnação de resultados, o aparecimento de outros 
interesses, a dificuldade de conciliar o desporto e o estudo, os problemas ou 
a mudança de treinador, a influência dos pares, o excesso e a monotonia dos 
treinos. No mesmo estudo mas com atletas de alto nível os fatores de 
abandono seriam a estagnação, a dificuldade de conciliar o desporto e o 
 
 
 
11 
 
estudo, os problemas ou a mudança de treinador, os maus resultados, o 
excesso e a monotonia dos treinos. 
Num estudo realizado em Portugal sobre as causas das decisões do abandono 
da Prática Desportiva (VASCONCELOS, 2003) nos atletas de elite seriam o 
cansaço do calendário desportivo,o estilo de vida, a falta de meios para ir 
mais longe, a consecução da obtenção dos seus objetivos pessoais, a 
dificuldade de conciliar o desporto e o estudo, os maus resultados. (SANTOS, 
2008, p.1). 
 
5.2 Detecção do Talento Esportivo 
Podemos definir talento esportivo como uma série de atributos que um indivíduo 
apresenta que lhe conferem a condição de se destacar de maneira positiva em 
performance e desempenho na prática de uma determinada modalidade esportiva. 
Condição esta que pode se manifestar a qualquer momento da vida, porém manifesta-
se com maior frequência entre a puberdade e a juventude (MATSUDO, 1996). 
O ideal seria que esta condição de “Talento Esportivo” fosse identificada nos indivíduos 
o mais rápido possível, de preferência durante a puberdade, possibilitando, portanto, 
que este seja desde cedo monitorado e direcionado até a idade adulta, período de vida 
em que se espera atingir o ápice da performance e do desempenho esportivo. Para tanto 
existem diferentes estratégias apresentadas pela literatura que se propõe a identificar 
o “Talento Esportivo” prioritariamente em crianças e adolescentes. Dentre as diferentes 
propostas, destacamos a “Estratégia Z -CELAFISCS” proposta por Matsudo (1996). 
 
5.2.1 Estratégia Z - CELAFISCS 
Esta estratégia está baseada na determinação do perfil de aptidão física do indivíduo, a 
partir das variáveis da aptidão física, antropométricas, metabólicas e neuromotoras, 
bem como o estágio de maturação biológica (sexual), a partir dessas características se 
procede a comparação com os valores médios referentes à população (faixa etária e 
gênero) que o indivíduo se encontra, é então calculado o Índice Z, ( Z = x – X / DP); onde 
Z = unidades de desvio padrão; x = o resultado do indivíduo na respectiva variável da 
aptidão física; X = ao valor normativo (valor médio da população) e DP = Desvio Padrão 
da média da população. Calculando estes valores, quanto mais este indivíduo se afasta 
em unidades de desvio padrão da população à qual este indivíduo pertence, maior será 
a probabilidade deste vir a ser um talento esportivo. (MATSUDO, 1996). 
 
 
 
12 
 
 
5.3 Efeitos da Idade Relativa (EIR) em jovens esportistas 
Segundo Werneck et al. (2017): 
No esporte, o conhecimento dos fatores que influenciam o desempenho e a 
consequente seleção dos atletas pode contribuir de modo significativo para a 
melhoria dos processos de treinamento. Uma das variáveis que tem sido 
bastante estudada é o Efeito da Idade Relativa (EIR), que é uma consequência 
da diferença de idade cronológica entre pessoas envolvidas na mesma 
categoria etária na prática de um determinado esporte (MUSCH; GRONDIN, 
2001 apud WERNECK ET. AL; p.2, 2017). 
Crianças nascidas exatamente antes da data de corte da idade sofrem por serem sempre 
expostas e colocadas em grupos mais velhos do que seus pares que nasceram logo após 
a data de corte. A distribuição dessas idades entre jovens esportistas tem sido 
interpretada como fator de influência nos resultados de crianças na fase de iniciação. 
Estudos demonstram que os Efeitos da Idade Relativa são fenômenos que existem em 
muitos, mas não em todos os esportes de competição. 
A maioria das escolas brasileiras especificam uma idade para o ingresso no primeiro ano. 
Tomando como exemplo um sistema baseado em 1º de janeiro, uma criança nascida 
neste mês terá uma diferença de até 11 meses, se comparada com uma criança nascida 
em dezembro deste mesmo ano, embora ambas estejam no mesmo grupo etário 
(DELORME; RASPAUD, 2009). 
Delorme, Boiché e Raspaud (2010) exemplificam que se crianças e adolescentes forem 
distribuídos em categorias de dois anos, uma criança nascida em janeiro do primeiro 
ano poderá ter até 23 meses de discrepância de uma outra nascida em dezembro do 
segundo ano. Segundo os autores, uma diferença relativa de quase um ano, muito 
comum no sistema escolar de muitos países, e de quase dois anos em categorias 
esportivas, é associada à significativas diferenças no desenvolvimento maturacional das 
crianças, favorecendo variações importantes em termos físicos e cognitivos, com as 
discrepâncias sendo particularmente mais notáveis durante a puberdade. 
Musch e Grondin (2001) relatam que as primeiras discussões que levantaram a 
possibilidade de existir uma relação entre idade relativa e participação esportiva são 
datadas da década de 1980. Na maioria das atividades esportivas, um critério similar 
àquele utilizado nas escolas é aplicado. As crianças são agrupadas pela idade cronológica 
 
 
 
13 
 
em diferentes categorias de prática, com o propósito de fornecer condições de 
desenvolvimento mais apropriadas, competições mais justas e balanceadas entre os 
participantes e igualdade de oportunidades. 
Um número crescente de estudos relacionados aos Efeitos da Idade Relativa (EIR) no 
mundo esportivo tem sido publicado. Na literatura, a presença de EIR é determinada 
testando se existe diferença entre o número esperado de jogadores(as) nascidos por 
mês ou por quartil, que representa um período de 3 meses consecutivos 
(Q1=janeiro/fevereiro/março; Q2=abril/maio/junho; Q3=julho/agosto/setembro e 
Q4=outubro/novembro/dezembro) e o número observado (DELORME; RASPAUD, 
2009). 
Diferentes esportes têm sido investigados. Internacionalmente, em níveis de esporte 
profissional, a maioria das pesquisas, como apontam Delorme e Raspaud (2009), 
relacionam-se ao futebol ou ao hóquei sobre o gelo, mas há também estudos no 
beisebol, no basquetebol, no tênis, no golfe e no futebol americano. Pesquisas também 
foram feitas nas categorias de base e no nível de elite. 
Inúmeros estudos reportam a existência dos Efeitos da Idade Relativa (EIR) em diversas 
das modalidades esportivas pesquisadas, especialmente nos esportes onde altura, peso 
e força são considerados pré-requisitos, demonstrando uma super-representação de 
atletas nascidos nos dois primeiros quartis (Q1 e Q2) e uma sub-representação de 
atletas nascidos no último quartil (Q4). 
Musch e Grondin (2001) concluíram que o Efeito da Idade Relativa (EIR) se infiltra nos 
processos de seleção e distribuição de talentos, porém não é um fenômeno universal. 
Mesmo que a maioria dos estudos revele um significativo EIR, este não foi observado 
sistematicamente em todos os esportes, em todas as faixas etárias ou em ambos os 
gêneros. Delorme, Boiché e Raspaud (2010) inclusive relatam que, em relação aos 
gêneros, o impacto deste fenômeno permanece ainda negligenciado. 
Aliados as datas de corte nos esportes, que parece ser um fator decisivo para a 
existência do fenômeno conhecido como Efeito da Idade Relativa (EIR), essa distribuição 
tendenciosa nas datas de nascimento relatadas nas pesquisas podem ter múltiplos 
fatores associados que podem contribuir para a presença ou ausência deste fenômeno. 
Esses mecanismos, descritos a seguir, foram relatados por Musch e Grondin (2001). 
 
 
 
14 
 
 
5.3.1 Mecanismos determinantes do EIR 
 
1. A competição como uma condição necessária para a existência do EIR 
O princípio geral desse fator é o de que quanto maior a quantidade de jogadores 
potenciais para um dado esporte em uma dada categoria, maior será a competição para 
obter um lugar em uma equipe, o que cria um campo fértil para o surgimento do EIR. 
Essa competição virá da equação do número de jogadores para o número de lugares 
disponíveis, sendo que este número dependerá da popularidade de um dado esporte 
em um dado país. 
Possivelmente por esta razão, no futebol se observa o EIR mundialmente, dada sua 
popularidade e número de praticantes. 
 No Brasil, a maioria dos estudos realizados até hoje sobre o Efeito da Idade Relativa são 
sobre as modalidades de Futebol e Futsal, modalidades com grandes índices de 
participação, e os resultados obtidos em todos os estudos corroboram com a ideia de 
que a maior quantidade de participantes na modalidade favorece o surgimento de umEIR significativo, e foram encontradas evidências de seus efeitos em diversas categorias, 
da base ao alto nível, embora no feminino este efeito não seja tão pronunciado. 
De forma inversa, mas contribuindo de forma significativa no que diz respeito ao nível 
da competição, um interessante estudo conduzido por Laroche et. al. (2010) não 
encontrou EIR em atividades físicas praticadas por lazer na vida adulta decidadãos 
canadenses, foi inclusive encontrada uma super-representação em jogadores de 
voleibol do 3º e 4º quartis, o que pode representar o baixo nível competitivo ou ainda 
uma transferência para esta modalidade, menos popular no país. Musch e Grondin 
(2001) descrevem que em esportes com poucos participantes, supõe-se que a ausência 
observável de EIR se deve ao fato de que todos os interessados na modalidade 
encontram um time para jogar. 
 
2. O Desenvolvimento físico como condição para o surgimento de EIR 
Não há dúvidas de que as capacidades físicas sejam determinantes para o sucesso em 
muitos esportes. O desenvolvimento físico, assim como o desenvolvimento das 
 
 
 
15 
 
habilidades motoras, é relacionado à idade cronológica. Existe uma tendência de atribuir 
o EIR fundamentalmente à maturação, devido à vantagem física dos relativamente mais 
velhos, já que um ou dois anos podem representar uma grande diferença na estatura e 
no peso das crianças envolvidas com o esporte. Além disso, um ano de diferença pode 
proporcionar diferentes resultados em testes de capacidades condicionantes, como 
velocidade, saltos e lançamentos etc. Para o pico de crescimento (peso e altura), vale 
lembrar que as maiores variações ocorrem nos meninos entre 13 e 15 anos de idade e 
um pouco mais cedo entre meninas (MUSCH; GRONDIN, 2001). 
Explicações baseadas exclusivamente no desenvolvimento físico preveem o EIR logo nos 
primeiros anos de participação esportiva. Mas, se a maturação física for a única razão 
para este efeito, então uma redução deste na forma de distribuição das datas de 
nascimento deveria ser observada em anos subsequentes, pois a diferença da idade 
relativa, se comparada com a idade absoluta, gradualmente diminui. Porém, esse 
padrão não se apresenta em todos os estudos (MUSCH; GRONDIN, 2001). 
Delorme e Raspaud (2009) relatam que as vantagens das características físicas dos 
nascidos logo após a data de corte podem, indiscutivelmente, impactar o potencial 
percebido. Estes indivíduos podem ser mais facilmente identificados como talentosos e 
promissores do que seus pares nascidos no final do ano, se beneficiando desta visão 
tendenciosa que facilita seu recrutamento nos processos de seleção e, 
consequentemente, favorece seu acesso às estruturas de alto nível. 
Martin et al. (2004) descrevem que a maturação neurológica pode se manifestar em 
diferentes capacidades tais como a autorregulação da atenção, emoção e outras 
funções como memória, atenção seletiva, certos aspectos da cognição e controle 
inibitório. Associado a isso tudo, Helsen et al. (2005) relatam que em períodos de rápido 
crescimento esquelético e desenvolvimento muscular podem ocorrer significativas 
mudanças na coordenação motora. Essas mudanças e as altas intensidades associadas 
aos treinamentos e, muitas vezes, ao início de uma nova temporada com possíveis 
trocas de categoria, podem resultar em uma incidência maior de prejuízos para os 
jogadores nascidos no último quartil do ano, podendo se tornar um motivo de evasão. 
Considerando todas essas diferenças que podem ocorrer dentro da idade relativa, em 
outro estudo realizado com jogadores de basquetebol, Delorme, Chalabaw e Raspaud 
 
 
 
16 
 
(2009) consideram o EIR um efeito discriminatório nas categorias de base, já que 
penaliza jogadores nascidos longe da data de corte, o que limita suas chances na 
modalidade escolhida. 
Em um estudo realizado com 546 estudantes de dança profissionais, Van Rassum (2006) 
relatou que o EIR depende da característica da tarefa motora. Quando é dado ênfase à 
técnica ou às habilidades motoras em detrimento da importância dos fatores físicos, 
como no caso da dança, não foram encontradas evidências de EIR. 
 
 3. Fatores psicológicos que podem influenciar o Efeito da Idade Relativa (EIR) 
Descrevendo os mecanismos determinantes para a existência do EIR, Musch e Grondin 
(2001) afirmam que, além das diferenças físicas, deve ser levado em consideração as 
variáveis psicológicas, já que a maturação também difere nesse sentido. 
A competência percebida é uma determinante poderosa na participação esportiva. De 
acordo com a Teoria de Competência Motivacional, indivíduos com alta percepção de 
competência física, acadêmica ou social são mais propensos a participar dessas 
respectivas atividades. O Modelo Cognitivo-Afetivo de Estresse também sugere que 
numa situação caracterizada pela instabilidade de demandas (exemplo: necessidade de 
demonstrar habilidade em um contexto competitivo) e recursos (exemplo: falta de 
habilidade), a criança pode perceber sua participação esportiva como algo tão 
estressante que, consequentemente, desiste da atividade (MUSCH; GRONDIN, 2001). 
Delorme e Raspaud (2009) relatam um estudo que demonstra que, considerando o 
gênero feminino, o EIR é positivamente relacionado à autoestima e negativamente ao 
estresse, particularmente durante a adolescência. Meninas nascidas no primeiro quartil 
(Q1) terão melhor autoestima e serão menos estressadas do que suas companheiras 
nascidas no último quartil (Q4), estas últimas podem sofrer um efeito devastador devido 
à baixa autoestima. 
Correlações entre a percepção da competência e a competência atual, com medidas 
feitas por um professor de desempenho esportivo, revelam que a criança se torna mais 
precisa na sua percepção de competência com o avanço da idade. Considerando que 
crianças com boa percepção de sua competência demonstram maior orientação para a 
motivação intrínseca e relatam maior prazer pela prática do que crianças com baixa 
 
 
 
17 
 
percepção de competência, crianças com idade relativa mais avançada tendem a 
continuar sua participação no esporte escolhido mais do que seus pares mais jovens, 
visto que possuem habilidade cognitiva mais desenvolvida, o que pode refletir em níveis 
maiores de autoconfiança e percepção melhor do próprio desempenho, contribuindo 
para uma melhor percepção inicial da própria competência (MUSCH; GRODIN, 2001). 
Tradicionalmente, pesquisas dentro do contexto escolar descrevem a presença de um 
possível “Efeito Pigmaleão” nos resultados obtidos pelos alunos. Esse efeito, também 
conhecido como “Teoria do autopreenchimento”, refere-se a um fenômeno psicológico 
no qual as expectativas de uma pessoa (professores, mentores, pais) podem influenciar 
as ações de outra pessoa (TROUILLOUD; SARRAZIN, 2006). 
Uma falsa definição de uma situação evoca um novo comportamento, que faz a 
concepção falsa anterior se tornar realidade (TROUILLOUD; SARRAZIN, 2006). Essas 
expectativas disparam uma série de interações verbais e não verbais as quais 
inadvertidamente controlam o comportamento de realizações posteriores, podendo ter 
um efeito tanto negativo quanto positivo. As crianças com perfil de idade relativa mais 
avançadasão, muitas vezes, erroneamente percebidas como as mais talentosas de seus 
grupos e o Efeito Pigmaleão pode ampliar e estabilizar essa vantagem, principalmente 
se o comportamento dos pais, técnicos e pares corresponder com as percepções iniciais 
da habilidade da criança (MUSCH; GRODIN, 2001). 
 
4. Experiência como fator de influência na ocorrência de Efeitos da Idade Relativa 
(prática deliberada) 
Em adição aos fatores físicos e psicológicos nas diferenças de idade, há um outro fator 
simples, porém de grande importância, que pode contribuir para o surgimento do EIR: 
o tempo de prática. Esse tempo representa a experiência que alguém possui em uma 
dada atividade. Um ano de vantagemrelativa pode significar até 90% a mais de tempo 
praticando uma atividade e, consequentemente, pode representar um tempo maior de 
treino (MUSCH; GRONDIN, 2001). 
Segundo Delorme, Boiché e Raspaud (2010a), o fato de os nascidos no primeiro quartil 
terem mais chances de serem percebidos como talentosos pode trazer um benefício 
secundário dessa interpretação errônea, representado pela exposição precoce aos 
 
 
 
18 
 
treinamentos de alto nível, à técnicos altamente qualificados e às habilidades 
estratégicas de nível mais elevado. 
Vaeyens, Philippaerts e Malina (2005) relataram, num estudo com futebolistas seniores 
semiprofissionais e amadores da Bélgica, que apesar de haver uma super-representação 
na distribuição de nascidos no primeiro semestre, o segundo semestre também estava 
bem representado, por isso analisaram o número de jogos que cada atleta participou e 
o tempo de jogo de cada um. Os estudos concluíram que os nascidos no primeiro quartil 
(Q1) receberam mais oportunidades de tempo jogando, reforçando o mecanismo de 
maior tempo de prática. Resultados parecidos foram encontrados por Auguste e Lames 
(2011) com jogadores de elite do futebol alemão da categoria sub-17. 
 
5. Evasão associada ao Efeito da Idade Relativa (EIR) 
Poucos estudos foram realizados sobre evasão no esporte. Compreender os fatores 
determinantes desse processo é importante para as entidades esportivas, 
especialmente para as federações que precisam crescer para manter sua existência. No 
Brasil, considerando que as federações sobrevivem por meio do número de filiados que 
pagam por seu licenciamento, é fundamental para essas entidades atrair novos 
membros e desenvolver um forte senso de fidelidade em seus membros. Identificar as 
causas de evasão nas modalidades auxiliaria nesse processo. 
À medida que os relativamente mais velhos vão aumentando sua exposição à níveis mais 
altos de treinamento, devido às causas já discutidas anteriormente, é de se esperar que, 
consequentemente, os atletas nascidos no final do ano se tornem desmotivados. Nesse 
caso, a evasão se torna produto do Efeito da Idade Relativa (DELORME; CHALABAW; 
RASPAUD, 2010). Os estudos de Helsen, Winckel e Williams (2005) com jovens 
futebolistas da Europa, sugeriram que a partir dos 12 anos em diante ocorre maior 
número de evasão por aqueles nascidos no final do ano, correspondendo ao período da 
puberdade. 
Delorme e Raspaud (2009) relatam, num estudo realizado com jogadores de 
basquetebol franceses, que cerca de um terço dos participantes desistiram durante ou 
no final do ano examinado para todas as categorias e para ambos os gêneros. Nos seus 
relatos, para ambos os gêneros, nas idade entre 15 e 17 anos foi observada maior 
 
 
 
19 
 
evasão, notadamente no primeiro ano da categoria. Houve uma importante super-
representação de evasão entre jogadores nascidos no último quartil (Q4). Também 
observaram a incidência da evasão nas categorias nas quais foram observadas maiores 
diferenças de altura (13-14 anos para os meninos e 11-12 anos para as meninas), que 
chegam a ultrapassar mais de 10 cm nos dois gêneros. 
Ainda, segundo esses autores, jogadores relativamente mais jovens estão mais 
suscetíveis à frustração por causa de sua condição limitada ao competir com aqueles 
nascidos no início do ano e, por isso, estão também mais suscetíveis a desistir do esporte 
competitivo. 
Num outro estudo realizado com jogadoras de futebol feminino, conduzido por 
Delorme, Boiché e Raspaud (2010a), também foi encontrada uma distribuição 
tendenciosa nas idades de evasão, com uma super-representação de Q3 e Q4, nas 
categorias entre 10 e 17 anos, correspondendo também ao período da puberdade e 
adolescência. 
Uma questão que surge é se o Efeito da Idade Relativa sobre a evasão é mais importante 
em jogadores que participaram de uma única temporada ou acontece com aqueles que 
já participaram por vários anos. Novos estudos seriam necessários para responder essa 
pergunta. 
Delorme, Boiché e Raspaud (2010a) ponderam que seria lógico imaginar que em 
esportes nos quais os atributos físicos representam uma vantagem, crianças nascidas no 
último quartil seriam menos atraídas à essas modalidades de forma competitiva, pelo 
fato de serem menos maturadas e se encontrarem em uma situação temporária de 
inferioridade, desencadeando um processo de “autorrestrição” ou “autosseleção”, o 
que na prática inibe certos jovens de se envolverem em uma dada atividade esportiva 
ou favorece a evasão precoce dos jogadores nascidos no final do ano, elevando os níveis 
de EIR ainda mais. 
Dessa forma, uma distribuição desigual entre jogadores de categorias superiores pode 
ser apenas parte de um efeito discriminatório de um sistema que valoriza os atributos 
físicos e que inicia seu processo ainda nos primeiros anos de competição. 
Para finalizar, Delorme, Boiché e Raspaud (2010a) descrevem um estudo que revela que 
em psicologia esportiva as oportunidades reduzidas de jogar, assim como a baixa 
 
 
 
20 
 
percepção da competência desportiva, contribuem significativamente para a desistência 
da prática esportiva. 
Vale lembrar que a seleção dos jogadores acontece normalmente em um momento de 
instabilidade das variáveis que compõem o desempenho, principalmente quando é 
considerada a interferência de diferentes velocidades de maturação biológica e sua 
associação com a idade cronológica (CARLI et al., 2009). Isso nos leva a refletir que os 
processos de identificação e detecção de talentos no Brasil são fortemente tendenciosos 
pelos atributos físicos das crianças em detrimento da qualidade de suas habilidades 
técnicas. 
Como reportam Larouche et. al. (2010), considerando a enorme quantidade de dinheiro 
que se gasta com o desenvolvimento atlético, é ainda mais preocupante que potenciais 
talentos estejam sendo perdidos por razões exclusivamente procedimentais. O objetivo 
geral da promoção de talentos deveria ser o desenvolvimento de um desempenho mais 
promissor na vida adulta e não a busca de um sucesso temporário e imediato. Além 
disso, os múltiplos benefícios de uma participação moderada no esporte para aceitação 
social, melhor autopercepção psicológica e para a promoção da saúde são também 
fatores importantes para se considerar, daí surge a necessidade de maior compreensão 
dos Efeitos da Idade Relativa. 
Considerando todo o material visto, é de interesse deste estudo aprofundar as pesquisas 
na modalidade de basquetebol praticada no Estado de São Paulo por todas as categorias 
organizadas pela Federação Paulista de Basquetebol (FPB) no ano de 2011. No feminino, 
a modalidade está dividida nas categorias sub-13, sub-15, sub-17, sub-19 e adulta. No 
masculino, as categorias são sub-12, sub-13, sub-14, sub-15, sub- 16, sub-17, sub-19 e 
adulta série A1 e A2. 
Embora poucos estudos tenham sido realizados nesta modalidade, os resultados 
obtidos sobre o EIR no basquete divergem, não foram encontrados casos de EIR nas 
pesquisas realizadas por Delorme e Raspaud (2009) e Côte et al. (2006), mas foram 
relatados efeitos significativos entre jovens jogadores franceses entre 7 e 18 anos, de 
ambos os sexos, com resultados mais pronunciados durante a puberdade. Nesse estudo 
os autores também relataram que a altura daqueles nascidos nos dois primeiros quartis 
(Q1 e Q2) foram sempre maiores do que os valores encontrados no último quartil (Q4). 
 
 
 
21 
 
Este estudo analisou a data de nascimento de todos os jovens licenciados nas categorias 
de base da Federação de Basquete Francês durante a temporada de 2005-2006. Como 
a modalidade possui atributos físicos valiosos, como a altura, a hipótese era de que seria 
encontrada uma distribuição desigual nas datas de nascimento, com super-
representação dos nascidos no primeiro semestre, fato que se confirmou com as 
pesquisas. Foram encontrados mais casos de EIR na modalidade feminina. 
Um outro estudorealizado por Delorme e Raspaud (2009) ainda confirmou a presença 
dos Efeitos da Idade Relativa na distribuição das datas de nascimentos de atletas que 
desistiram da modalidade, com alta incidência de jogadores do último quartil (Q4) na 
amostra. 
 
REFERÊNCIAS 
AUGUSTE, C; LAMES, M. The relative age effect and success in German elite U-17 soccer 
teams. Bursa: Journal of sports sciences, v. 29, n. 9, p. 983-987, 2011. 
BLOOM, B.S. Developing talent in young people Developing talent in young people 
Developing talent in young people. Nova Iorque: Ballentine, 1985. 
BÖHME, M.T.S. “O treinamento a longo prazo e o processo de detecção, seleção e 
promoção de talentos esportivos”. In: Revista do Colégio Brasileiro de Ciências do 
Esporte, v.21, n.2/3, p.4-10, 2000. 
BOUCHARD, Claude; MALINA, Robert M.; PÉRUSSE, Louis. Genetics of fitness and 
physical performance. Human Kinetics, 1997. 
BRASIL, A.N. “Proposta metodológica para a formação do jovem guarda-redes de 
futebol”. In: EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Ano 10 - N° 69 - Fevereiro 
de 2004. Disponível em: <https://bit.ly/39AF0Yu>. Acesso em abr. 2020. 
CARLI, Gerson Correia et al. “Efeito da idade relativa no futebol”. In: Revista Brasileira 
de Ciência e Movimento, v. 17, n. 3, p. 25-31, 2009. 
CÔTÉ, J.; MACDONALD, D. J.; BAKER, J.; ALBERNETHY, B. “When ‘‘where’’ is more 
important than ‘‘when’’: birthplace and birthdate effects on the achievement of sporting 
expertise”. In: Journal of Sports Sciences, v. 24, n. 10, p. 1065-1073, 2006. 
CSIKSZENTMIHALYI, M; RATHUNDE, K; WHALEN, S. Talented teenagers: The roots of 
success and failure. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. 
 
 
 
22 
 
DELORME, N; RASPAUD, M. The relative age effect in young French basketball players: 
a study on the whole population. Scandinavian journal of medicine & science in sports, 
v. 19, n. 2, p. 235-242, 2009. 
ERICSSON, K. A; KRAMPE, R. T.; TESCH-RÖMER, Cs. “The role of deliberate practice in the 
acquisition of expert performance”. In: Psychological review, v. 100, n. 3, p. 363, 1993. 
FERREIRA, R. Futsal e a Iniciação. Rio de Janeiro: Sprint, 2001. 
GUENTHER, Z. C. Desenvolver capacidades e talentos: um conceito de inclusão. Rio 
de Janeiro: Vozes, 2000. 
HELSEN, W. F.; VAN WINCKEL, J; WILLIAMS, A. M. The relative age effect in youth soccer 
across Europe. Journal of sports sciences, v. 23, n. 6, p. 629-636, 2005. 
LAROCHE, D. B.; CORBETT, R. Risk Management Guide for Community Sport 
Organizations. Vancouver: Legacies Now. 2010. 
MAIA, J. A. R. O prognóstico do desempenho do talento esportivo: Uma análise crítica. 
São Paulo: Rev. paul. educ. fís, p. 179-93, 1996. 
MATSUDO, V. K. R. Prediction of future athletic excellence. In: Bar-Or, O. (ed.). The 
child and adolescent athlete. Oxford: Blackwell Science, 1996. p. 92-109. 
SCHMIDT, R. A. Aprendizagem e performance motora: dos princípios à prática. São 
Paulo: Movimento, 1992. 
MUSCH, J; GRONDIN, S. Unequal competition as an impediment to personal 
development: A review of the relative age effect in sport. Developmental review, v. 21, 
n. 2, p. 147-167, 2001. 
PINI, M. C.; CARAZZATTO, J. G. “Idade de inicio da Atividade Esportiva”. In: Fisiología 
Esportiva. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1978. 
RÉGNIER, G; SALMELA, J; RUSSELL, S. J. ‘Talent detection and development in sport”. In: 
Handbook of research on sport psychology. New York : Macmillan, 1993. 
SANTOS, S. O abandono precoce do desporto pelos jovens e a motivação subjacente 
para continuar. Efdeportes.com, Buenos Aires, ano 13, n. 127, dez. 2008. Disponível em: 
<http://tiny.cc/4fhq8y>. Acesso em: jun. 2019. 
TROUILLOUD, D. et al. “Relation between teachers' early expectations and students' 
later perceived competence in physical education classes: Autonomy-supportive climate 
 
 
 
23 
 
as a moderator”. In: Journal of educational psychology, v. 98, n. 1, p. 75, Edinburgh: 
British Psychological Society, 2006. 
VAEYENS, R; PHILIPPAERTS, R. M.; MALINA, R. M. The relative age effect in soccer: A 
match-related perspective. Journal of sports sciences, v. 23, n. 7, p. 747-756, 2005. 
VARGAS NETO, F. X; DA CUNHA VOSER, R. A Criança o esporte: uma perspectiva lúdica. 
Canoas: Editora da ULBRA, 2001. 
WERNECK, F. W. et al. “Efeito da idade relativa no esporte no Brasil: uma revisão 
sistemática”. In: American Journal of Sports Training, v. 4, p. 1-10, 2017. Disponível em: 
<https://bit.ly/31yzLVF>. Acesso em: jun. 2019.

Mais conteúdos dessa disciplina